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Universidade Federal da Grande Dourados MEMORIAL DESCRITIVO DO DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA DE CLIMATIZAÇÃO RESIDENCIAL (ABNT NBR 16655-3) Matheus Henrique Cavalheiro Garros Outubro/2020 Sumário 1. Introdução ............................................................................................................. 3 2. Modelagem do problema ...................................................................................... 3 2.1 Definição das condições ambientais externas e internas .............................................. 4 2.2 Definição dos coeficientes de transferência de calor .................................................... 7 2.3 Estimativa da vazão de infiltração/renovação e da carga térmica de renovação ........... 8 2.4 Transferência de calor em superfícies opacas .............................................................. 9 2.5 Transferência de calor por superfícies transparentes ................................................. 10 2.6 Estimativa do calor dissipado devido a geração interna no ambiente ......................... 10 3. Dimensionamento final ....................................................................................... 11 Referências: .............................................................................................................. 12 3 1. Introdução Este memorial tem por objetivo descrever os procedimentos aplicados para o dimensionamento de um sistema de climatização residencial, aplicado a um quarto. Para os cálculos e resultados apresentados nesse memorial, considera-se: • Horário de referência: 16:00h; • Apenas a carga de refrigeração (dado o clima da região). As Normas de referência utilizadas foram a ABNT NBR 16655-3: Instalação de sistemas residenciais de ar-condicionado — Split e compacto Parte 3: Método de cálculo da carga térmica residencial [1] e ABNT NBR 16401-1: Instalações de ar condicionado — Sistemas centrais e unitários Parte 1: Projetos das instalações [2], que descrevem o procedimento a ser adotado afim de realizar os cálculos bem como fornecem alguns dados de referência a serem utilizados. As etapas de cálculo estão listadas abaixo. a) Condições ambientais da região onde está o local a ser dimensionado; b) Condições internas do ambiente climatizado; c) Definição dos coeficientes de transferência de calor nas superfícies opacas do ambiente (resistências térmicas); d) Estimativa da taxa de infiltração de ar externo para cálculo da carga térmica de renovação; e) Encontrar as diferenças de temperatura para as cargas de refrigeração (CLTD) para cálculo de transferência de calor por superfícies opacas; f) Determinação das características da edificação que afetam o ganho de calor por insolação, como a orientação, localização, sombreamento externo para encontrar os fatores de ganho por insolação e fatores de carga de refrigeração afim de determinar a taxa de transferência de calor por superfícies transparentes; g) Estimativa do calor dissipado devido a geração interna no ambiente (luzes, equipamentos, pessoas, etc). 2. Modelagem do problema O cômodo considerado para os cálculos foi um quarto interno de uma casa, com dimensões, considerações, e orientação como ilustrado na Fig. 1. 4 Figura 1 – Modelo representativo do recinto Fonte: Autor 2.1 Definição das condições ambientais externas e internas A cidade de referência escolhida foi Dourados – MS, afim de se utilizar um caso real para comparação entre o equipamento utilizado no recinto e o equipamento mais adequado de acordo com o projeto realizado. Como a cidade de Dourados – MS não está definida nas normas citadas previamente, foi realizada uma análise para verificar a viabilidade da utilização dos dados da cidade de Campo Grande, ou os dados de referência da norma. Da tabela abaixo, para a cidade de Campo Grande, pode-se retirar os seguintes dados de TBS = 34,8 °C e TBUc = 22,8 °C para o período de verão, com uma frequência anual de apenas 1% (adequado para instalações residenciais segundo a ABNT NBT 16401-1). 5 Figura 2 – Tabela de condições ambientais para a cidade de Campo Grande Fonte: ABNT NBR 16401-1 Para as referências fornecidas pela norma, se têm que a referência 2 possui TBS = 35 °C, TBUc = 25°C e uma umidade relativa de 45,4%, como mostrado na figura a baixo. Figura 3 – Dados de referência para projeto Fonte: ABNT NBR 16655-3 A partir de dados fornecidos pelo Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de MS [3] (CEMTEC), foi possível obter as temperaturas máximas para os 2 meses mais quentes durante o ano de 2019 (janeiro e dezembro): 6 Tabela 1 – Temperaturas máximas em 2019 em Dourados – MS Janeiro Dezembro Tmáx (°C) 36,2 35,4 Fonte: CEMTEC A altitude da cidade de Dourados é de 430 m [4], portanto, se nota que os dados fornecidos pela referência 2, embora tenham temperaturas semelhantes de máxima no verão em relação a Campo Grande e Dourados, tornam-se um tanto imprecisos. Portanto, devido a semelhança da altitude , das temperaturas máximas e devido à proximidade geográfica, as temperaturas de bulbo seco e úmido fornecidos para a cidade de Campo Grande foram os escolhidos como dados de projeto para as condições externas, e a partir disso, os outros dados foram calculados para a altitude da cidade (430 m). Para o ar do ambiente condicionado, foram adotados os dados de referência para conforto térmico fornecidos pela norma, com uma temperatura de 24 °C e 50% de umidade relativa, o restante dos dados, assim como anteriormente, foi ajustado para altitude da cidade de Dourados. Figura 4 – Condições para o recinto condicionado Fonte: ABNT NBR 16655-3 Assim, as condições de projeto do sistema ficam definidas como: 7 Tabela 2 – Condições ambientais escolhidas como dados de projeto Condição Externa Interna TBS (°C) 34,8 24 Ur (%) 36,2 50 Umidade absoluta (kg água/kg ar seco) 0,0133 0,0098 Entalpia (kJ/kg) 69,1 49,1 2.2 Definição dos coeficientes de transferência de calor Para o quarto analisado, existem três paredes que tem contato apenas com o ar interno da residência, uma parede que possui contato com o ar externo e uma janela de vidro protegida por uma cortina. Assim, segundo as tabelas fornecidas pela norma ABNT NBR 16655-3 e pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações [4] da UFSC, foi possível realizar o cálculo das resistências térmicas para as superfícies opacas. Figura 5 – Coeficientes de transmissão de calor através de superfícies opacas Fonte: ABNT NBR 16655-3 8 Figura 6 – Resistências térmicas para diversos materiais construtivos Fonte: LABEE Tabela 3 – Resistências térmicas das superfícies Descrição Característica Resistividade (m2.K/W) Parede externa Filme de ar externo + pintura + reboco + tijolo cerâmico + reboco + pintura + filme de ar interno 0,266 Parede interna Filme de ar interno + reboco + pintura + tijolo cerâmico + reboco + pintura + filme de ar interno 0,343 Janela Filme de ar externo + vidro + cortina + filme de ar interno 0,181 Telhado + laje Filme de ar externo + telha + espaço de ar + laje + ar interno 0,436 2.3 Estimativa da vazão de infiltração/renovação e da carga térmica de renovação A norma ABNT NBR 16655-3 define que esse valor deve ser no mínimo de 3,6 m3/h para cada metro quadrado do recinto. Afim de se ter uma boa estimativa, se 9 usará o valor de 7,2 m3/h para o ar de renovação. Desse modo, considerando a massa específica do ar a 35°C igual a 1,1455 kg/m3 e seguindo as equações 1, 2, 3, 4 e 5 indicadas pela norma, é possível obter os resultados abaixo. Tabela 4 – Dados calculados para o ar de infiltração/renovação Renovação de ar(m3/[h.m2]) Vazão da renovação em volume (m3/h) Vazão da renovação em massa (kg/s) 7,2 54 0,0172 Calor total renovação (W) Calor latente renovação (W) Calor sensível renovação (W) 343,65 150,35 193,30 2.4 Transferência de calor em superfícies opacas A norma indica alguns valores de referência para as diferenças de temperatura para a carga de refrigeração (CLTD) na tabela 7, e informa que em caso de falta de informações, esse valor pode ser adotado para os cálculos. Como a temperatura de bulbo seco da referência é de 35°C, é plausível a utilização dos valores que lá constam. Devido ao teto do recinto escolhido estar inclinado na direção sul, o CLTD escolhido foi para essa condição. Para as paredes internas, aplicou-se a correção estipulada na norma pela equação 6, onde a temperatura média TBSaem foi estipulada como 28,9 °C, uma temperatura média comum em dias mais quentes durante o verão. Para a taxa de transferência de calor utilizou-se a equação 7. Tabela 5 – Transferência de calor por superfícies opacas Descrição Área (m2) Resistividade (m2.K/W) CLTD (°C) CLTDr (°C) Transferência de calor por superfícies internas e externas (W) Parede sul 4,50 0,27 18,00 18,00 304,51 Parede norte 7,50 0,34 10,00 10,90 238,34 Parede leste 6,25 0,34 19,00 19,90 362,61 10 Parede oeste 6,25 0,34 15,00 15,90 289,72 Janela (vidro) 1,80 0,18 7,95 7,95 79,06 Teto 7,50 0,44 18,00 18,00 309,63 TOTAL 1583,88 2.5 Transferência de calor por superfícies transparentes Para o fator de ganho por insolação a cidade utilizada como referência foi BRASÍLIA devido análise dos dados de radiação terem mostrado resultados semelhantes aos da norma segundo análise dos dados da CEMTEC (aprox. 600~800 W/m2). Como a única janela está na direção sul, o fator de carga de resfriamento foi escolhido apenas para essa direção. Para o coeficiente de sombreamento considerou- se a cortina (Fig. 1) para o valor correto. Os dados estão disponíveis na norma nas tabelas 8, 9 e 10. Com esses dados foi possível aplicar a equação 8 afim de descobrir a transferência de calor por superfícies transparentes. Tabela 6 – Transferência de calor por superfícies transparentes Fator de ganho por insolação (W/m2) Fator de carga de resfriamento às 16h Coeficiente de sombreamento (simples + cortina) Transferência de calor por superfícies transparentes (W) 163 0,35 0,55 56,48 2.6 Estimativa do calor dissipado devido a geração interna no ambiente Para a carga térmica de pessoas, equipamentos e iluminação, considerando 1 pessoa, 1 computador ligado em uso extremo e 1 lâmpada ligada devido a utilização de cortinas na janela, foram usadas as tabelas 11, 12 (16655-3) e a tabela C.3 (16401-1), além da equação 11. Assim, os valores finais de dissipação de calor devido as pessoas, a iluminação e ao computador, estão dispostos abaixo: Tabela 7 – Dissipação de calor devido a geração interna Calor total pessoas (W) Calor latente pessoas (W) Calor sensível pessoas (W) Calor total iluminação (W) Calor total computadores (W) 150,00 75,00 75,00 75,00 75 11 3. Dimensionamento final Segundo a seção 5 da norma 16655-3, os valores de calor sensível e latente devem ser somados, afim de obter o valor final necessário para a escolha do equipamento. A norma salienta que o resultado obtido pela metodologia proposta não deve levar em conta nenhum tipo de fator de segurança ou escolha com folga, afim de evitar superdimensionamentos e gastos excessivos de energia elétrica. A tabela abaixo mostra os resultados finais: Tabela 8 – Resultados Descrição Calor sensível Calor latente Calor total Transmissão de superfícies opacas (W) 1583,88 0,00 1583,88 Transmissão de superfícies transparentes (W) 56,48 0,00 56,48 Renovação de ar (W) 193,30 150,35 343,65 Pessoas (W) 75,00 75,00 150,00 Iluminação (W) 75,00 0,00 75,00 Computador (W) 75,00 0,00 75,00 Total (W) 2058,65 225,35 2284,01 Total (BTU/h) 7024,41 768,94 7793,35 Área de piso 7,50 7,50 7,50 Relação W/m2 274,49 30,05 304,53 Relação m2/tr 12,81 117,04 11,55 Equipamento recomendado em BTU/h - - 7500,00 O ar condicionado utilizado atualmente no quarto em questão tem uma potência de 12.000 BTU/h, portanto, está muito superdimensionado. Ainda mais quando é levado em consideração alguns fatores extras, como sua utilização que ocorre majoritariamente a noite, onde as temperaturas externas são mais baixas e não existe o fator de insolação na parede sul. Desse modo percebe-se a importância do correto dimensionamento dos equipamentos de climatização afim de evitar esse tipo de inconvenientes. 12 Referências: [1] - ABNT NBR 16655-3. Instalação de sistemas de ar condicionado – Split e compacto Parte 3: Método de cálculo da carga térmica residencial. Associação Brasileira de Normas técnicas (2019), 2ª Ed. [2] - ABNT NBR 16401-1. Instalação de sistemas de ar condicionado – Sistemas centrais e unitários Parte 1: Projetos das instalações (2008), 1ª Ed. [3] - Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de MS. Banco de Dados meteorológicos. Disponível em: https://www.cemtec.ms.gov.br/boletins-meteorologicos/. [4] - Cálculo da carga térmica. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5153919/mod_resource/content/1/TABELAS%20PARA%20C %C3%81LCULO%20DE%20CARGA%20T%C3%89RMICA.pdf. Ferramentas de Engenharia. Calculadora de paramentos psicométricos. Disponível em: https://www.herramientasingenieria.com/onlinecalc/spa/psicrometricos/psicrometricos.html. https://www.cemtec.ms.gov.br/boletins-meteorologicos/ https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5153919/mod_resource/content/1/TABELAS%20PARA%20C%C3%81LCULO%20DE%20CARGA%20T%C3%89RMICA.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5153919/mod_resource/content/1/TABELAS%20PARA%20C%C3%81LCULO%20DE%20CARGA%20T%C3%89RMICA.pdf https://www.herramientasingenieria.com/onlinecalc/spa/psicrometricos/psicrometricos.html
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