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FACULDADE DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL ÁREA DE GEOTECNIA DISCIPLINA: FUNDAÇÕES TÓPICOS - PARTE I Roger Augusto Rodrigues APRESENTAÇÃO Este documento foi elaborado com o objetivo de reunir os diversos tópicos que compõem a disciplina de Fundações (2129 EC), restringindo-se a um guia do conteúdo a ser abordado no curso. Portanto, o documento não serve como “Notas de Aula” e não substitui a bibliografia indicada pelo docente no Programa da Disciplina. O documento deve ser útil para otimizar o tempo e aumentar o rendimento de todos em classe. Portanto, é imprescindível que cada aluno tenha o seu próprio material, de preferência impresso, para uso contínuo em sala de aula. Outras informações acerca deste documento e de outros complementares a este serão comunicadas oportunamente. Roger Augusto Rodrigues *** SUMÁRIO TEMAS Pág. TIPOS DE FUNDAÇÕES 01 INVESTIGAÇÃO DO SOLO 13 CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES DIRETAS 19 RECALQUES EM FUNDAÇÕES DIRETAS 35 TENSÃO ADMISSÍVEL EM FUNDAÇÕES DIRETAS 50 DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES EM SAPATAS 56 1 TIPOS DE FUNDAÇÕES 2 Fluxograma dos tipos de Fundações FUNDAÇÕES DIRETAS Fundações por Sapatas Fundações por Tubulões Sapata isolada Sapata corrida Sapata associada Tubulão a céu aberto Tubulão pneumático FUNDAÇÕES POR ESTACAS Estacas cravadas Estacas escavadas Estacas pré- moldadas Estacas metálicas Estacas de madeira Estacas broca Estaca Strauss Estacas escavadas a seco Estaca escavada com lama bentonítica Estacas barretes FUNDAÇÕES POR ESTACAS Outros tipos de estacas Estacas apiloadas Estacas Franki Estacas Raiz Estacas hélice contínua Estacas ômega Estacas mega 3 1. Fundações por Sapatas - Constituem uma espécie base de concreto armado. - O terreno é escavado para concretar essa base que tem a função de transmitir ao maciço uma tensão inferior à tensão atuante na seção transversal do pilar. - Existem sapatas isoladas, corridas e associadas. - As sapatas mais comuns têm área de 3 a 10 m 2 . - As sapatas de pilares de divisa são excêntricas, o que exige a inclusão de uma viga alavanca vinculada a um pilar central próximo, para se obter o equilíbrio. 2. Fundações por Tubulões 2.1. Tubulão a céu aberto - O tubulão a céu aberto pode ser escavado manualmente, utilizando um sarilho, ou mecanicamente, com um trado, restando apenas o alargamento da base como operação manual. - O tubulão a céu aberto geralmente é escavado sem revestimento, Por isso é indicado ao caso de solo coesivo, para que não ocorra desmoronamento durante a sua escavação. - O diâmetro mínimo do fuste é de 0,70 m para escavação manual e até 0,50 m para escavação mecânica. A profundidade máxima é limitada pelo NA. - Pela simplicidade de execução, menor custo e adequabilidade ao perfil do subsolo, a fundação por tubulões a céu aberto é a mais empregada nos edifícios residenciais do interior de São Paulo (Cintra et al., 2003). 2.2. Tubulão pneumático - Com utilização de ar comprimido, a escavação abaixo do N.A. é feita manualmente e a seco, em até 30 m de profundidade. - O fuste tem revestimento metálico ou de concreto moldado in loco. - Na superfície, o fuste é coberto por uma campânula, que abriga o sarilho. A campânula é provida de dois cachimbos: uma para saída do solo escavado e outro para a concretagem. - As condições de trabalho sob ar comprimido são difíceis. Quanto maior a pressão, menor o período de trabalho de cada operário. - Para iniciar um novo período, o operário deve passar por uma pressurização lenta, na campânula, até equilibrar com a pressão do fuste. No término, a despressurização é que deve ser lenta. Descuidos nessas etapas podem provocar embolia. 4 3. Fundações por Estacas - As estacas geralmente são empregadas em grupo por pilar, exigindo a concretagem de um bloco de capeamento, que faz a transição do pilar para o grupo de estacas. - Três grandes famílias de estacas podem ser caracterizadas: as cravadas, as escavadas, e as estacas de outros tipos, que não se enquadram nas cravadas nem nas escavadas. 3.1. Estacas Cravadas - Podem ser de concreto, aço ou madeira (ver ANEXO-A) - São pré-fabricadas, em diferentes bitolas, e transportadas para o canteiro de obras, onde são cravadas por um equipamento denominado bate-estacas. - Através de um martelo, caindo de uma altura fixa, aplicam-se golpes na cabeça da estaca para a sua cravação no terreno. - O peso do martelo deve ser pelo menos igual ao peso da estaca e a altura de queda tal que não resulte uma energia excessiva, o que causaria a quebra da estaca. - A cabeça da estaca é protegida por um capacete, para amortecer o impacto do martelo na estaca. Na sua parte superior é colocada madeira dura (cepo) e na parte inferior madeira mole (coxim). - A estaca é cravada até atingir a néga, que normalmente é especificada de 10 a 20 mm para 10 golpes, para uma determinada energia de cravação (altura de queda vezes o peso do martelo). - Caso a néga resulte superior ao valor especificado, deve-se prosseguir a cravação. Estacas Pré-moldada de Concreto - Têm seção quadrada ou circular, podendo ser vazada ou cheia. O concreto empregado pode ser vibrado, centrifugado ou protendido. - Cada fábrica de estacas pré-moldadas de concreto produz a sua tabela de carga de catálogo, em função das bitolas fabricadas e resistência do concreto utilizado. - Para colocar em posição de cravação no bate-estaca, a estaca pré-moldada de concreto deve ser içada por apoios localizados a 1/3 do seu comprimento, de modo a não quebrar a estaca nesse procedimento. Estacas de Aço - São de perfis laminados, tubos metálicos e trilhos. - Têm uma cravação mais fácil, com baixo nível de vibração. - Podem ser cravadas em terrenos resistentes, sem o risco de provocar levantamento de estacas vizinhas e sem risco de quebra. 5 Estacas de Madeira - No Brasil, o eucalipto é a madeira mais empregada. - Tem duração praticamente ilimitada quando mantida permanentemente submersa. Entretanto, quando submetida à variação de nível d’água, apodrece por ação de fungos que se desenvolvem no ambiente água-ar. 3.2. Estacas Escavadas - São aquelas que envolvem um processo de perfuração do terreno, com conseqüente retirada do solo, e posterior concretagem in loco (ver ANEXO-B). - Não há vibração ou ruído durante sua execução. - Ao término da perfuração faz-se a introdução da armadura, quando necessária, cobrindo o trecho superior da estaca solicitado à flexão. Estacas Broca - São de comprimento e diâmetro pequenos, com baixa carga de catálogo, para o caso de obras de pequeno porte. - Executadas com trado manual ou mecanizado. Estacas Escavadas a Seco - Semelhante às brocas, mas o trado é maior, obtendo-se estacas mais longas e com diâmetros maiores, com cargas de catálogo mais elevadas. - Sem revestimento, limitada pela profundidade do NA. Estaca Strauss - Utilizam-se tubos de revestimento (camisas) que vão sendo introduzidos à medida que o furo vai avançando. Através de um tripé, introduz-se uma sonda ou piteira, por dentro do revestimento, para se realizar a perfuração. - No processo executivo, adiciona-se água no furo para facilitar a perfuração e, por isso, o canteiro fica enlameado. Durante a concretagem, com um guincho, saca-se cada camisa e com o outro apiloa-se o concreto. Estaca Escavada com Lama Bentonítica (Estacão) - É uma estaca de grande diâmetro e alta carga de catálogo. Por isso, não é empregada em grupo, apenas uma por pilar. - Não há revestimento, mas uma lama bentonítica é utilizada paragarantir a estabilidade do furo durante a escavação, que pode ultrapassar o NA e atingir grandes profundidades (40 m ou mais). 6 - A bentonita é misturada com água no próprio canteiro e armazenada em reservatórios metálicos. - O equipamento de execução tem uma haste com uma caçamba perfuratriz na sua extremidade inferior, acionada hidraulicamente por uma mesa rotativa. Cheia a caçamba, ela é suspensa e esvaziada, ao redor da máquina. - O furo fica cheio de lama bentonítica durante todo o processo de avanço da perfuração. Em conseqüência, o canteiro de obras fica bastante enlameado. - A concretagem é submersa, por meio de um tubo de 18 cm de diâmetro, introduzido até 40 cm da base da estaca. Para que não ocorra a mistura da lama com o concreto, que é lançado da superfície coloca-se uma bola plástica no início, a qual é pressionada pelo concreto no interior do tubo, garantido a ausência do contato do concreto com a lama dentro do tubo. Estacas Barretes - As estacas barretes são semelhantes aos estacões, mas apresentam seção transversal retangular alongada, de grandes dimensões. - Justapostas várias delas, temos uma parede diafragma, utilizada, sobretudo, em divisas de terreno como muro de contenção e fundação ao mesmo tempo. 3.3. Outros Tipos de Estacas - Nesse grupo, temos as estacas que não podem ser consideradas como cravadas nem como escavadas (ver ANEXO-C). Estacas Apiloadas - Também chamadas de estacas pilão ou soquetão, o furo é obtido por apiloamento do solo, por meio de um pilão ou soquete, com peso da ordem de 3 kN, caindo em queda livre. - Utiliza-se um tripé simples e não há revestimento. - De pequeno diâmetro e baixa carga de catálogo, são as estacas predominantes nas obras de pequeno porte em solos colapsíveis, que inviabilizam as fundações por sapatas. - O apiloamento do solo provoca a sua densificação, melhorando o seu comportamento, à semelhança das estacas cravadas, mas o elemento estrutural de fundação não é pré-fabricado, e sim moldado in loco. Estacas Franki - Usa-se um equipamento pesado, com uma torre e um tubo de 14 m de comprimento ou mais. 7 - No interior do tubo, junto à extremidade inferior, é formada uma “bucha” de areia, pedra e cimento. Um soquete, com peso de 10 a 46 kN, caindo em queda livre por dentro desse tubo apiloa a bucha, arrastando consigo o tubo para baixo, até se atingir a profundidade desejada. - Também se faz a medida da néga de cravação do tubo. - Esse processo constitui um fechamento artificial da ponta do tubo, o que permite a execução desse tipo de estaca abaixo do NA. - Atingida a profundidade final, prende-se o tubo à torre para a expulsão da bucha e realização do alargamento da base através apiloamento de pequenas e sucessivas quantidades de concreto com slump zero (quase seco). - Terminado o alargamento da base, instala-se a armadura no trecho superior, e inicia-se a concretagem do fuste em volumes sucessivos, simultaneamente à retirada do tubo. - Ruídos e vibrações são elevados na cravação do tubo, à semelhança das estacas cravadas de concreto pré-moldado. - O solo não é retirado e é melhorado pela cravação do tubo, mas o elemento estrutural de fundação é moldado in loco. A seguir apresenta-se uma tabela de volume da base alargada de estacas Franki em função do diâmetro do tubo. Diâmetro do Tubo (cm) Volume da Base (m 3 ) 35 0,18 40 0,27 45 0,36 52 0,45 60 0,60 Estaca Raiz - São esbeltas e bem armadas ao longo de todo o seu comprimento (cargas de catálogo são altas, relativamente aos seus diâmetros nominais). - Em vez de concreto, é utilizada uma nata de cimento e pedrisco, injetada sobre pressão de 0,2 MPa (mas podendo chegar até 10 MPa), o que gera uma superfície irregular ao longo do fuste da estaca, aumentando o atrito estaca-solo. - Foi desenvolvida para reforço de fundação e, por isso, o equipamento utilizado para sua execução tem altura de aproximadamente 2 m, para operar no interior das edificações. - O solo é escavado por meio de uma perfuratriz rotativa e/ou percussiva, com a utilização tubos de revestimento instalados à medida que a perfuração avança. O tubo inferior tem uma coroa diamantada (ou de vídea) na sua extremidade, o que permite cortar rocha e até concreto. 8 - No processo executivo, introduz-se água com grande consumo, a qual retorna à superfície carreando os detritos oriundos da perfuração. - Os tubos de revestimento são retirados com a aplicação de “golpes de pressão” de ar comprimido. Estacas Hélice Contínua - Possui um trado contínuo com uma haste central com diâmetro de 10 a 12,5 cm e comprimento de 18 a 32 m que é acionado hidraulicamente por uma mesa rotativa, que aplica um torque apropriado para a perfuração do terreno. - Atingida a profundidade desejada, uma bomba injeta concreto para dentro da haste, por meio de um mangote flexível, ao mesmo tempo em que o trado vai sendo levantado, sem rotacionar, juntamente com o material escavado contido nas lâminas. - O furo não fica aberto, à espera da concretagem, como nas escavadas. Além disso, a pressão de injeção do concreto provoca certo deslocamento do solo ao redor do fuste, melhorando as suas propriedades. - Após a concretagem, introduz-se a armadura na estaca por gravidade ou com o auxílio de um vibrador, operação essa que apresenta certo grau de dificuldade. - Todas as etapas de execução são monitoradas, registrando-se: a profundidade da ponta do trado em relação ao nível do terreno; a velocidade de rotação do trado; o torque; a pressão de injeção e o volume de concreto. - Essa estaca tem alta produtividade (4.000 a 5.000 m/mês por equipamento) e apresenta a vantagem de não provocar vibração nas obras vizinhas. - O comprimento mais usual das estacas é de 20 a 24 m. Estacas Ômega - Equipamento semelhante ao da hélice contínua, efetuando os mesmos tipos de monitoramento, apenas com a ferramenta de corte do solo diferente. - A ferramenta de corte é um parafuso tronco-cônico, provido de filetes ou hélices apropriadas para penetrar como um parafuso de ponta cônica e, logo em seguida, empurrar para baixo e para os lados o solo. O passo da hélice, na estaca ômega, é menor no início da estaca (para facilitar a penetração) e maior no final. Desse modo, o solo não é retirado e sim empurrado lateralmente, comprimindo o terreno, o que melhora as suas propriedades. 9 Estacas Mega - São muito empregadas como reforço de fundação. - As estacas mega são constituídas por elementos pré-moldados de concreto, às vezes metálicos, prensados no terreno através de uma reação e um macaco hidráulico. Referências Bibliográficas Aoki, N. e Cintra, J.C.A. (2009). Notas de Aula: Tipos de Fundações e Métodos de Execução. Departamento de Geotecnia, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (SGS/EESC/USP). 10 ANEXO-A CARGA DE CATÁLOGO DE ESTACAS Estacas Cravadas: Pré-moldadas de Concreto Estaca Dimensão (cm) Carga de Catálogo (kN) Pré-moldada vibrada (quadrada) c = 6,0 a 9,0 MPa 20 x 20 25 x 25 30 x 30 35 x 35 250 400 550 800 Pré-moldada vibrada (circular) c = 9,0 a 11,0 MPa 22 29 33 300 500 700 Pré-moldada protendida (circular) c = 10,0 a 14,0 MPa 20 25 33 250 500 700 Pré-moldada centrifugada (circular) c = 9,0 a 11,0 MPa 20 23 26 33 38 42 50 60 70 250 300 400 600 750 900 1.300 1.700 2.300 Estacas Cravadas: Aço Estaca Tipo/Dimensão Carga de Catálogo (kN) Trilho usado a = 80,0 MPa TR 25 TR 32 TR 37 TR 45 TR 50 2 TR 32 2 TR 37 3 TR 32 3 TR 37 200 250 300 350 400 500 600 750 900 Perfis I e H a = 80,0 MPa (correto: descontar 1,5 mmpara corrosão e aplicar a = 120,0 MPa) H 6” I 8” I 10” I 12” 2 I 10” 2 I 12” 400 300 400 600 800 1.200 Estacas Cravadas: Madeira Estaca Tipo/Dimensão Carga de Catálogo (kN) m = 4,0 MPa 20 25 30 35 40 150 200 300 400 500 11 ANEXO-B CARGA DE CATÁLOGO DE ESTACAS Estacas Escavadas Estaca Dimensão (cm) Carga de Catálogo (kN) Broca c = 3,0 MPa 20 25 100 150 Strauss c = 4,0 MPa 25 32 38 42 45 200 300 450 550 650 Escavada com trado espiral (a seco) c = 4,0 MPa 25 30 35 40 45 50 200 300 400 500 650 800 Estaca escavada com lama bentonítica (estação) c = 4,0 MPa 60 80 100 120 140 160 180 200 1.100 2.000 3.000 4.500 6.000 8.000 10.000 12.500 Estaca Barrete (estaca diafragma) c = 4,0 MPa 40 x 250 50 x 250 60 x 250 80 x 250 100 x 250 120 x 250 4.000 5.000 6.000 8.000 10.000 12.000 12 ANEXO-C CARGA DE CATÁLOGO DE ESTACAS Outros Tipos de Estacas Estaca Dimensão (cm) Carga de Catálogo (kN) Apiloada c = 4,0 MPa 20 25 100 200 Franki c = 6,0 MPa 35 40 45 52 60 600 750 950 1.300 1.700 Raiz c = 8,0 a 22,0 MPa 10 12 15 20 25 31 100-150 100-250 150-350 250-600 400-800 600-1.050 Hélice Contínua c = 4,0 a 5,0 MPa 27,5 35 40 50 60 70 80 90 100 250-300 400-500 500-650 800-1.000 1.100-1.400 1.550-1.900 2.000-2.500 2.550-3.200 3.150-3.900 13 INVESTIGAÇÃO DO SOLO 14 1. INVESTIGAÇÃO DO SOLO Os procedimentos mais comuns para investigar o solo, para finalidade de fundações, são a abertura de poços de inspeção e a realização de ensaios de campo, como o SPT e o CPT. 1.2. PROCEDIMENTOS 1.2.1. Poço de inspeção NBR 9604 – Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras deformadas e indeformadas. - Permite identificar todas as camadas, retirar amostras deformadas e indeformadas. - Não podem ser abertos abaixo do nível d’água ou em solos puramente arenosos. 1.2.2. Sondagem à Percussão ou Sondagem de Simples Reconhecimento – SPT (Standard Penetration Test) - NBR 6484 – Execução de Sondagens de Simples Reconhecimento dos Solos. - NBR 7250 – Identificação e descrição de amostras de solos obtidos em sondagens de simples reconhecimento dos solos. - NBR 8036 – Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios. Essa sondagem é realizada por meio de três etapas: I – perfuração. II – ensaio penetrométrico (penetração dinâmica). III – amostragem. - As etapas I e II são alternadas enquanto a II e III são executadas simultaneamente, em cada metro da sondagem. A perfuração é feita com trado até encontrar o NA e com sistema de circulação de água abaixo do NA. - A amostragem é obtida com a cravação de um amostrador padronizado, em 45 cm de cada metro. Com essas amostras, pode-se inferir as camadas de solo (tipo e espessura) presentes ao longo do furo de sondagem. - No ensaio penetrométrico faz-se a contagem do número de golpes para cravar cada 15 cm do amostrador, por meio de um peso de 65 kg, caindo de uma altura de 75 cm. 15 - Inicialmente perfura-se 1,0 m e depois, a cada metro, tem-se 0,45 m para amostragem e ensaio penetrométrico, seguidos de 0,55 m de perfuração. No primeiro metro não é feita nem a amostragem nem o ensaio penetrométrico. 0 (m) -1,0 -2,0 -3,0 0,45 0,55 0,45 0,55 I II + III I II + III I Fig. 1. Esquema do SPT. - Para cada metro de sondagem, exceto o primeiro, obtém-se uma amostra (deformada) e três “leituras” no ensaio penetrométrico (N1, N2 e N3). - A partir desses valores, define-se o índice de resistência à penetração como sendo a soma do número de golpes dos últimos 30 cm de penetração (despreza-se a primeira “leitura” que foi afetada pela etapa de perfuração): N1 = 3 N2 = 5 N3 = 6 N = N2 + N3 N = 11 golpes/30 cm 15 cm 15 cm 15 cm z z + 1 Fig. 2. Número de golpes do SPT. - Simbologia do índice de resistência à penetração: N = SPT = NSPT - Outro objetivo do ensaio é a determinação do nível d’água. No boletim de sondagem deve constar a data da determinação do nível d’água (problema de solos colapsíveis). - Importante: deve-se exigir sempre a execução de sondagens para se projetar uma fundação. 16 Exemplos de sondagens com medidas de NSPT: Argila siltosa porosa (solo evoluído) Argila siltosa (saprolito) Rocha (basalto) 0 5 10 15 20 D e p th ( m ) 25 30 GWL 0 20 4010 30 Colluvial and Lateritic Silty Sandy Clay Saprolitic Clayey Sandy Silt Residual from Diabase 0 5 10 15 20 D e p th ( m ) GWL 0 2010 30 Soil Profile N(SPT) Loose clayey fine sand Loose to dense clayey fine sand Stiff clay * * with concretions 5 15 25 35 Soil Profile N(SPT) 5 15 25 35 0 5 10 15 20 D e p th ( m ) 0 2010 30 Soil Profile N(SPT) 5 15 25 35 GWL 40 0 5 10 D e p th ( m ) 0 2010 30 Soil Profile N(SPT) 5 15 25 35 40 Argila siltosa porosa (solo evoluído) Rocha (basalto) Silte argiloso (saprolito) SP-03 SP-02 0 5 10 15 D e p th ( m ) 20 0 10 20 Soil Profile 30 N(SPT) 5 3515 25 Clayey fine sand (colluvium) Stone line GWL (dry season) Clayey fine to medium sand (Residual soil from sandstone) Average Minimum Maximum Areia fina siltosa, não plástica (fofa a medianamente compacta) Arenito da formação Tacaratu Areia fina siltosa, com plasticidade (fofa a medianamente compacta) (compacta a muito compacta) SPT-T1 (Fev/02) SPT-T1b (Out/02) SPT-T2b (Out/02) SPT-T3b (Out/02) 0 5 D e p th ( m ) 0 Soil Profile N(SPT) 20 4010 30 50 1 2 3 4 6 60 70 Areia fina com pouca areia média, amarela (pouco a muito compacta) SPT (solo inundado) SPT (solo com umidade de campo) 0 5 D e p th ( m ) 0 Soil Profile N(SPT) 20 4010 30 50 1 2 3 4 6 60 70 7 8 * * subcamada com pouco pedregulho e eventualmente módulos de argila * * * * Argila pouco siltosa dura Siltito e calcário muito compacto marrom e cinza claro * * * * * * * * 8 15 15,45 16 14,45 13 14 12 10 11 9 33 16 33 17 20 14 4 4 MATERIAL ** loose clayey fine sand 5 8,00 7 6 3 4 2 0 1 Depth [m] 1 1 2 2 2 2 1 SPT loose to medium dense clayey fine sand stiff clay ** with concretions Fig. 3. Sondagem SPT de Pereira Barreto-SP. Argila siltosa porosa (solo evoluído) Argila siltosa (saprolito) Rocha (basalto) 0 5 10 15 20 D e p th ( m ) 25 30 GWL 0 20 4010 30 Colluvial and Lateritic Silty Sandy Clay Saprolitic Clayey Sandy Silt Residual from Diabase 0 5 10 15 20 D e p th ( m ) GWL 0 2010 30 Soil Profile N(SPT) Loose clayey fine sand Loose to dense clayey fine sand Stiff clay * * with concretions 5 15 25 35 Soil Profile N(SPT) 5 15 25 35 0 5 10 15 20 D e p th ( m ) 0 2010 30 Soil Profile N(SPT) 5 15 25 35 GWL 40 0 5 10 D e p th ( m ) 0 2010 30 Soil Profile N(SPT) 5 15 25 35 40 Argila siltosa porosa (solo evoluído) Rocha (basalto) Silte argiloso (saprolito) SP-03 SP-02 0 5 10 15 D e p th ( m ) 20 0 10 20 Soil Profile 30 N(SPT) 5 3515 25 Clayey fine sand (colluvium) Stone line GWL (dry season) Clayey fine to medium sand (Residual soil from sandstone) Average Minimum Maximum Areia fina siltosa, não plástica (fofa a medianamente compacta) Arenito da formação Tacaratu Areia fina siltosa, com plasticidade (fofa a medianamente compacta) (compacta a muito compacta) SPT-T1 (Fev/02) SPT-T1b (Out/02) SPT-T2b (Out/02) SPT-T3b (Out/02) 0 5 D e p th ( m ) 0 Soil Profile N(SPT) 20 401030 50 1 2 3 4 6 60 70 Areia fina com pouca areia média, amarela (pouco a muito compacta) SPT (solo inundado) SPT (solo com umidade de campo) 0 5 D e p th ( m ) 0 Soil Profile N(SPT) 20 4010 30 50 1 2 3 4 6 60 70 7 8 * * subcamada com pouco pedregulho e eventualmente módulos de argila * * * * Argila pouco siltosa dura Siltito e calcário muito compacto marrom e cinza claro * * * * * * * * Argila siltosa porosa (solo evoluído) Argila siltosa (saprolito) Rocha (basalto) 0 5 10 15 20 D e p th ( m ) 25 30 GWL 0 20 4010 30 Colluvial and Lateritic Silty Sandy Clay Saprolitic Clayey Sandy Silt Residual from Diabase 0 5 10 15 20 D e p th ( m ) GWL 0 2010 30 Soil Profile N(SPT) Loose clayey fine sand Loose to dense clayey fine sand Stiff clay * * with concretions 5 15 25 35 Soil Profile N(SPT) 5 15 25 35 0 5 10 15 20 D e p th ( m ) 0 2010 30 Soil Profile N(SPT) 5 15 25 35 GWL 40 0 5 10 D e p th ( m ) 0 2010 30 Soil Profile N(SPT) 5 15 25 35 40 Argila siltosa porosa (solo evoluído) Rocha (basalto) Silte argiloso (saprolito) SP-03 SP-02 0 5 10 15 D e p th ( m ) 20 0 10 20 Soil Profile 30 N(SPT) 5 3515 25 Clayey fine sand (colluvium) Stone line GWL (dry season) Clayey fine to medium sand (Residual soil from sandstone) Average Minimum Maximum Areia fina siltosa, não plástica (fofa a medianamente compacta) Arenito da formação Tacaratu Areia fina siltosa, com plasticidade (fofa a medianamente compacta) (compacta a muito compacta) SPT-T1 (Fev/02) SPT-T1b (Out/02) SPT-T2b (Out/02) SPT-T3b (Out/02) 0 5 D e p th ( m ) 0 Soil Profile N(SPT) 20 4010 30 50 1 2 3 4 6 60 70 Areia fina com pouca areia média, amarela (pouco a muito compacta) SPT (solo inundado) SPT (solo com umidade de campo) 0 5 D e p th ( m ) 0 Soil Profile N(SPT) 20 4010 30 50 1 2 3 4 6 60 70 7 8 * * subcamada com pouco pedregulho e eventualmente módulos de argila * * * * Argila pouco siltosa dura Siltito e calcário muito compacto marrom e cinza claro * * * * * * * * Fig. 4. Sondagem SPT de São Carlos-SP e Campinas-SP. 17 1.2.3. Ensaio de Penetração Estática ou Ensaio de Cone – CPT (Cone Penetration Test) - NBR 12069 – Ensaio de penetração de cone in situ (CPT). - Consiste na penetração estática ou prensagem de uma espécie de “miniatura de estaca”, com a obtenção das parcelas de resistência de ponta (qc) e por atrito lateral (fc). - No equipamento mais antigo, chamado cone holandês, havia uma estrutura de reação, ancorada no terreno, com um sistema de aplicação de carga para se obter a prensagem manual da haste metálica. A cada 20 cm de profundidade, primeiramente o dispositivo faz penetrar apenas o cone, em 4 cm, registrando o valor da força (F1), que dividida pela área da ponta (10 cm 2 ) resulta em qc. Depois, por outros 4 cm, faz a penetração do cone mais a luva, registrando- se a força total (F2), que subtraída de F1 e dividida pela área da superfície lateral da luva (150 cm 2 ), resulta em fc, o atrito lateral local. Por último, o conjunto todo é prensado por mais 12 cm, completando-se o ciclo, e obtendo a força total (F3), que inclui a resistência de ponta e o atrito lateral total de todo o trecho enterrado. Esses procedimentos são repetidos, com a inclusão de novas hastes de 1 m de comprimento, até a cota final de ensaio, obtendo-se uma medida das duas parcelas de resistência, a cada 20 cm de profundidade. - O equipamento mais moderno para o ensaio de cone utiliza um sistema hidráulico para aplicação da carga e o conjunto é montado sobre um caminhão do tipo utilitário. Além disso, conta-se com o cone elétrico, no qual células de carga permitem a medida contínua de fc e qc diretamente na ponteira, cujos valores são registrados por sistemas automáticos de aquisição de dados. - A razão entre os valores de fc e qc, em cada profundidade, denominada relação de atrito (Rf), é utilizada para inferir o tipo de solo, uma vez que o CPT não faz amostragem. Por exemplo, valores de Rf de 1% indicam areia e de 6% argila. - Um aperfeiçoamento desse ensaio é o piezocone, ou CPTU, que inclui a monitoração das pressões neutras atuantes no processo de penetração. 18 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 0 2 4 P ro fu n d id a d e ( m ) Razão de Atrito Rf (%) 0 5 1 0 1 5 Resistência de Ponta qc (MPa) Fig. 5. Ensaio de cone realizado na FE da UNESP de Bauru. 19 CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES DIRETAS 20 1. Introdução Considere uma sapata com largura B, assente à profundidade h em relação à superfície do terreno (Fig. 1). Fig. 1. Sapata de concreto armado embutida no solo. Ao aumentar progressivamente a carga P aplicada à sapata e, consequentemente, a tensão σ transmitida ao solo, será atingida a tensão de ruptura σr, ou seja, a capacidade de carga do sistema sapata-solo. 2. Formulação Teórica de Terzaghi (1943) Definição de dois modos de ruptura do maciço de solo (Fig. 2): - ruptura geral: curva C1. - ruptura local: curva C2. Fig. 2. Curvas tensão x recalque. 21 Hipóteses da formulação: a) A sapata é corrida, (L > B), L/B > 5 a 10 (problema bidimensional). b) Profundidade de assentamento é inferior à largura da sapata (h < B). c) O maciço de solo sob a base da sapata é compacto ou rijo (ruptura geral). Definição da superfície potencial de ruptura (Fig. 3). Fig. 3. Superfície potencial de ruptura. Forças atuantes na cunha de solo I abaixo da sapata (Fig. 4) (*) Fig. 4. Cunha de solo sob a base da sapata. tgBtgc B E p r 4 2 22 - Solo sem peso e sapata à superfície: (c ≠ 0, h = 0 e = 0) cr Nc - Solo não coesivo e sem peso: (c = 0, h ≠ 0 e = 0) qr Nq - Solo não coesivo e sapata à superfície: (c = 0, h = 0 e ≠ 0) NBr 2 1 2.1. Superposição de Efeitos (sapata corrida) NBNqNc qcr 2 1 Em que, Nc, Nq e N são fatores de capacidade de carga referentes à coesão, à sobrecarga e ao peso do solo, respectivamente. Fig. 5. Fatores de capacidade de carga. 23 2.2. Ruptura Local Para solos fofos ou moles (curva C2, Fig. 2). A ruptura não ocorre de acordo com o esquema da Fig. 3. São utilizados valores reduzidos dos parâmetros de resistência ao cisalhamento: cc 3 2 ' tgtg 3 2 ' * Embora a notação seja a mesma, não confundir com os valores de coesão efetiva e de ângulo de atrito efetivo. ' 2 1 '''' NBNqNc qcr Os valores de Nc’, Nq’e N’ podem ser obtidos diretamente do ângulo de atrito (em vez de ’) por meio das curvas tracejadas da Fig. 5. 2.3. Sapatas Quadradas e Circulares Sapata circular com diâmetro B em solo compacto ou rijo: NBNqNc qcr 2 6,02,1 Sapata quadrada de lado B em solo compacto ou rijo: NBNqNc qcr 2 8,02,1 ou, SNBSNqSNc qqccr 2 1 Em que, Sc, Sq e S são fatores de forma da sapata. Se o solo é fofo ou mole, tem-se a equação semelhante para ruptura local: SNBSNqSNc qqccr ' 2 1 ''' 24 3. Proposta de Vesic (1975) Definição de três modos de ruptura do maciço de solo (Fig. 6): Fig. 6. Modos de Ruptura de Vesic (1975). Vesic (1975) sugere que na equação geral de Terzaghi: SNBSNqSNc qqccr 2 1 sejam utilizados o fator de capacidade de carga N de Caquot-Kérisel (1953) e os fatores de forma de De Beer (1967). tgNN q 12 Portanto, Nc, Nq e N podem ser tabelados em função do ângulo () de atrito interno do solo. 25 Tabela 1 – Fatores de capacidade de carga (Vesic, 1975) ( o ) Nc Nq N Nq/Nc tg 0 5,14 1,00 0,00 0,20 0,00 15,38 1,09 0,07 0,20 0,02 2 5,63 1,20 0,15 0,21 0,03 3 5,90 1,31 0,24 0,22 0,05 4 6,19 1,43 0,34 0,23 0,07 5 6,49 1,57 0,45 0,24 0,09 6 6,81 1,72 0,57 0,25 0,11 7 7,16 1,88 0,71 0,26 0,12 8 7,53 2,06 0,86 0,27 0,14 9 7,92 2,25 1,03 0,28 0,16 10 8,35 2,47 1,22 0,30 0,18 11 8,80 2,71 1,44 0,31 0,19 12 9,28 2,97 1,69 0,32 0,21 13 9,81 3,26 1,97 0,33 0,23 14 10,37 3,59 2,29 0,35 0,25 15 10,98 3,94 2,65 0,36 0,27 16 11,63 4,34 3,06 0,37 0,29 17 12,34 4,77 3,53 0,39 0,31 18 13,10 5,26 4,07 0,40 0,32 19 13,93 5,80 4,68 0,42 0,34 20 14,83 6,40 5,39 0,43 0,36 21 15,82 7,07 6,20 0,45 0,38 22 16,88 7,82 7,13 0,46 0,40 23 18,05 8,66 8,20 0,48 0,42 24 19,32 9,60 9,44 0,50 0,45 25 20,72 10,66 10,88 0,51 0,47 26 22,25 11,85 12,54 0,53 0,49 27 23,94 13,20 14,47 0,55 0,51 28 25,80 14,72 16,72 0,57 0,53 29 27,86 16,44 19,34 0,59 0,55 30 30,14 18,40 22,40 0,61 0,58 31 32,67 20,63 25,99 0,63 0,60 32 35,49 23,18 30,22 0,65 0,62 33 38,64 26,09 35,19 0,68 0,65 34 42,16 29,44 41,06 0,70 0,67 35 46,12 33,30 48,03 0,72 0,70 36 50,59 37,75 56,31 0,75 0,73 37 55,63 42,92 66,19 0,77 0,75 38 61,35 48,93 78,03 0,80 0,78 39 67,87 55,56 92,25 0,82 0,81 40 75,31 64,20 109,41 0,85 0,84 41 83,86 73,90 130,22 0,88 0,87 42 93,71 85,38 155,55 0,91 0,90 43 105,11 99,02 186,54 0,94 0,93 44 118,37 115,31 224,64 0,97 0,97 45 133,88 134,88 271,76 1,01 1,00 46 152,10 158,51 330,35 1,04 1,04 47 173,64 187,21 403,67 1,08 1,07 48 199,26 222,31 496,01 1,12 1,11 49 229,93 265,51 613,16 1,15 1,15 50 266,89 319,07 762,89 1,20 1,19 26 Tabela 2 – Fatores de forma (De Beer, 1967 apud Vesic, 1975) Sapata Sc Sq S Corrida 1,00 1,00 1,00 Retangular 1 + (B/L) (Nq/Nc) 1 + (B/L) tg 1 – 0,4 (B/L) Circular ou Quadrada 1 + (Nq/Nc) 1 + tg 0,60 * No caso do puncionamento utiliza-se a redução para 2/3 nos valores de coesão e de tangente do ângulo de atrito propostos por Terzaghi, mas com os fatores de capacidade de Vesic. Para ruptura local, na ausência de uma definição clara na literatura, calcula-se o valor médio de capacidade de carga para as condições de ruptura geral e de puncionamento. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Â n g u lo d e A tr it o , Coesão, c (kPa) III Ruptura Geral II Ruptura Local I Puncionamento Fig. 7. Modos de ruptura para solos com c e (efetivos) 27 4. Método de Skempton (1951) Para argilas saturadas na condição não-drenada ( = u = 0). Neste caso particular (Nq = 1 e N = 0), a expressão de capacidade de carga de Terzaghi simplifica-se para: qSNc ccr Em que, c = cu (coesão não-drenada da argila). Para sapatas corridas (Sc = 1), Nc é dado pela Fig. 8 (linha cheia) em função de h/B, o embutimento relativo da sapata no solo. Para sapatas retangulares de dimensões B e L, utiliza-se o fator Nc de sapata corrida e calcula-se o fator de forma: L B Sc 2,01 As sapatas quadradas ou circulares podem ser tratadas como um caso particular de sapata retangular com B = L, em que Sc = 1,2. Como alternativa, pode-se obter o valor de Nc já corrigido pelo fator de forma diretamente da Fig. 8 (linha tracejada). Fig. 8. Fator de capacidade de carga de Skepmton (1951). 28 ANEXO Parâmetros de Resistência e Peso Específico Para estimativa da coesão não drenada (cu), a relação empírica com o índice de resistência a penetração (NSPT) do SPT de Godoy (1996) pode ser usada: SPTu Nc 01,0 (MPa) Para a estimativa do ângulo de atrito interno (), Godoy (1983) menciona a seguinte relação empírica com o índice de resistência a penetração (NSPT) do SPT. SPT o N 4,028 enquanto Teixeira (1996) utiliza: o SPTN 1520 * os parâmetros empíricos de resistência ao cisalhamento c e obtidos a partir dessas equações são válidos apenas para “solos convencionais” Para o peso específico do solo (), se não houver resultados de ensaios de laboratório, podem ser adotados os valores aproximados das Tabelas 3 e 4, em função da consistência da argila e da compacidade da areia, respectivamente. Os estados de consistência de solos finos e de compacidade de solos grossos, por sua vez, são dados em função do índice de resistência à penetração (NSPT) do SPT, de acordo com a NBR 7250/82. Tabela 3. Peso específico de solos argilosos (Godoy, 1972). NSPT (golpes) Consistência Peso Específico, (kN/m3) ≤ 2 Muito mole 13 3 – 5 Mole 15 6 – 10 Média 17 11 – 19 Rija 19 ≥ 20 Dura 21 Tabela 4. Peso específico de solos arenosos (Godoy, 1972). NSPT (golpes) Compacidade Peso Específico, (kN/m3) Areia seca Úmida Saturada < 5 5 – 8 Fofa Pouco compacta 16 18 19 9 – 18 Medianamente compacta 17 19 20 19 – 40 > 40 Compacta Muito compacta 18 20 21 29 Ex.1) Determine a capacidade de carga do sistema sapata-solo aplicando a proposta de Terzaghi, considerando o valor NSPT médio no bulbo de tensões, conforme indicado na figura. Ex.2) Determine a capacidade de carga do sistema sapata-solo aplicando a proposta de Terzaghi. Mesma sapata, cota de apoio e N.A. a -1 m do Ex.1, mas com valor médio de NSPT = 5 no bulbo de tensões (areia pouco compacta). Ex.3) Determine a capacidade de carga do sistema sapata-solo aplicando a proposta de Vesic. Considere ruptura geral. Argila rija NSPT = 15 0 -1 N.T. N.A. B = L = 3 m 0 -1,5 N.T. N.A. B = 2 m L = 3 m Areia c = 0 kPa = 35o = 20 kN/m3 30 Ex.4) Determine a capacidade de carga do sistema sapata-solo aplicando o método de Vesic para duas sapatas idênticas embutidas em areia argilosa sob duas condições distintas de compacidade do solo: indeformado (fofo) e compactado. Compare os resultados. Dados: sapata corrida, B = 1,8 m e h = 1,5 m. Os dados de caracterização da areia argilosa, os índices físicos e os parâmetros de resistência do solo nas duas condições de compacidade seguem abaixo: Argila (%) 14,0 Silte (%) 5,8 Areia (%) 80,2 Limite de liquidez, wL (%) 15,5 Limite de plasticidade, wP (%) - Massa específica seca máxima, dmax (g/cm 3 ) 1,950 Teor de umidade ótimo, wop (%) 10,6 Indeformado (fofo) (coletadas a 1,5m de prof.) Compacto (GC de 95% e w de -3%) Massa específica, (g/cm 3 ) 1,590 1,994 Massa específica seca, d (g/cm 3 ) 1,507 1,853 Teor de umidade, w (%) 5,5 7,6 Índice de vazios, e - 0,757 0,430 Porosidade, n (%) 43,1 30,0 Grau de saturação, Sr (%) 19,3 46,9 Massa específica dos sólidos, s (g/cm 3 ) 2,649 2,649 0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 τ (k P a ) σ - ua (kPa) 0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 τ (k P a ) σ - ua (kPa) Indeformado: coesão, c = 3 kPa ângulo de atrito, = 30 o Compactado: coesão, c = 42 kPa ângulo de atrito, = 33,3o Fonte: Fagundes (2014) Dissertação de Mestrado FEB/UNESP (solos não saturados, s = 50 kPa) 31 Ex.5) Seja uma sapata corrida a executar em terreno constituído de camada de argila ( = 0o), sobreposta à camada de areia. Calcule a capacidade de carga do sistema sapata-solo pelo método de Terzaghi, considerando ruptura geral. Adote os seguintes casos na resolução do problema: 1º caso: o N.A. está abaixo da base da sapata a uma profundidade maior ou igual a 2B. 2º caso: o N.A. está dentro da área de influência do bulbo de pressão, 2B. * Neste caso, o da parcela da base é um valor intermediário de do solo e ’. ba basolo ' Admita, a = 1,6 m e b = 2,4 m 3º caso: o N.A. está na cota da base do elemento. 4º caso: o N.A. está no nível do terreno (N.T.). Considere sat = = 16 kN/m 3 . Argila média c = 30 kPa = 16 kN/m3 Areia compacta c =0 = 35o = 20 kN/m3 sat = 21 kN/m 3 B = 2 m N.T. h = 1,5 m 32 Ex.6) Determine a capacidade de carga do sistema sapata-solo através da proposta de Skempton, considerando o perfil a seguir. Ex.7) Determine a capacidade de carga do sistema sapata-solo, considerando uma sapata quadrada de lado de 2,0 m apoiada na cota -2,5 m, usando Skempton no perfil geotécnico a seguir. Areia c = 0 = 35º = 20 kN/m3 Argila sedimentar de consistência média cu = 30 kPa = 0 sat = 17 kN/m 3 B = 2 m (quadrada) N.T. h = 1,5 m Aterro = 15 kN/m3 sat = 17 kN/m 3 Argila Rc = 280 kPa sat = 18 kN/m 3 Areia = 30º sat = 18 kN/m 3 N.T. N.A. 0,8 0,2 1,0 (m) 33 Ex.8) Usando o método de Vesic, estimar a capacidade de carga do elemento de fundação por sapata ilustrado abaixo, com as seguintes condições de solo e valores médios no bulbo de tensões: a) argila rija com NSPT = 15 b) areia compacta com NSPT = 30 c) areia argilosa com = 25o e c = 50 kPa (valores efetivos) Ex.9) Usando o método de Vesic, estimar a capacidade de carga do elemento de fundação por sapata do Ex. 8, com as seguintes condições de solo e valores médios no bulbo de tensões: a) argila mole com NSPT = 4 b) areia pouco compacta com NSPT = 6 c) areia argilosa com = 20o e c = 10 kPa (valores efetivos) Ex.10) Usando o método de Vesic, estimar a capacidade de carga do elemento de fundação por sapata do Ex. 8, com as seguintes condições de solo e valores médios no bulbo de tensões: a) argila média com NSPT = 8 b) areia medianamente compacta com NSPT = 12 c) argila arenosa com = 20o e c = 40 kPa (valores efetivos) Ex.11) A figura abaixo mostra uma sapata corrida. Usando os fatores de capacidade de carga de Terzaghi, determine a capacidade de carga do sistema sapata-solo. Considere ruptura geral de Terzaghi. Dados: γ = 18,08 kN/m 3 , c = 30 kPa, υ = 28 o , h = 1,07 m, B = 1,22 m. h B NT 0 -1 N.T. N.A. B = 2 m L = 3 m 34 Ex.12) Repita o Ex.11 com os seguintes dados: γ = 17,5 kN/m 3 , c = 14 kPa, υ = 20 o , h = 1 m, B = 1,2 m. Considere ruptura local de Terzaghi. Ex.13) Repita o Ex.11 com os seguintes dados: γ = 17,7 kN/m 3 , cu = 120 kPa, υ = 0 o , h = 0,6 m, B = 0,8 m. Ex.14) Repita o Ex.11 usando o método de Vesic. Ex.15) Repita o Ex.12 usando o método de Vesic. Ex.16) Repita o Ex.13 usando o método de Vesic. Ex.17) A Figura abaixo mostra uma sapata quadrada. Determine a capacidade de carga que o sistema sapata-solo pode suportar. Considere ruptura geral por cisalhamento por Vesic. Dados: γ = 16,5 kN/m 3 , γsat = 18,55 kN/m 3 , c = 0 kPa, υ = 35 o , h = 1,2 m, h* = 0,6 m, B = 1,5 m. h B NT NAh* 35 RECALQUES EM FUNDAÇÕES DIRETAS 36 1. Introdução Define-se recalque de uma sapata como sendo o deslocamento vertical, para baixo, da base da sapata em relação ao indeformável. Esse deslocamento é resultado da deformação do solo. ia Em que, é o recalque total; a é o recalque por adensamento; i é o recalque imediato. Podem ser classificados em recalque total ou absoluto () e recalque diferencial ou relativo () entre duas sapatas, além da distorção angular ou recalque diferencial específico ( / l), onde l é a distância entre duas sapatas. Em decorrência dos recalques, o edifício pode sofrer movimentos verticais (translação) acompanhados ou não de inclinação (rotação). l13 1 P1 P2 P3 2 3 12 13 23 l12 l23 Fig. 1. Recalques em sapatas. As mesmas definições servem para tubulões. Neste caso, ao recalque da base, deve-se acrescentar a compressão elástica do fuste para obter o recalque da cabeça do tubulão. 1.1. Tolerância a Recalques - Distorção Angular / l = 1:300 – trincas em paredes de edifícios (estado limite de utilização). / l = 1:150 – danos estruturais em vigas e colunas de edifícios (estado limite último). - Recalques totais limites Areias: max = 25 mm; max = 40 mm (sapatas isoladas) Argilas: max = 40 mm; max = 65 mm (sapatas isoladas) Nota: Esses valores são apenas de referência e não se aplicam a casos de edifícios altos com vãos grandes e estruturas especiais que não toleram grandes recalques. 37 2. Recalques por Adensamento 2.1. Revisão: log ' e 1 1 Cc Cr 'ad = 'i 'f log ' e 1 1 Cc Cr 'ad 'f 'i Solo normalmente adensado Solo pré-adensado Solo em adensamento - Existem métodos específicos para acelerar recalques - A curva obtida em laboratório auxilia na previsão dos recalques in situ, uma vez que o solo encontra-se parcialmente adensado log ' e ei 1 1 Cc Cr 'ad Trecho de recompressão Trecho de compressão virgem (reta virgem) * vários estágios de carregamento *apenas um estágio de carregamento log tempo, t d es lo ca m en to ( m m ) I II III i f o c a e HC H ' ' log 1 ad f c i ad r o a CC e H H ' ' log ' ' log 1 Fig. 2. Curvas de compressão edométrica e recalque no tempo. Trecho I: compressão inicial (pré- carregamento). Trecho II: adensamento primário durante o qual o excesso de pressão neutra é gradualmente transferido para a tensão efetiva por causa da expulsão da água dos poros. Trecho III: compressão secundária que ocorre após a completa dissipação da pressão neutra, quando alguma deformação ocorre devido ao reajuste plástico ou viscoplástico da estrutura do solo. 38 Modelo de Terzaghi (a) t = 0 u = uo ’=’1 (b) t = to ui = uo + ’=’1 e = 0 (c) t > to uo < u(t) < uo + ’1 < ’(t) < ’1 + e > 0 (d) t > ∞ u = uo ’= ’1 + ’2 e > 0 Fig. 3. Representação do processo de adensamento. Equação Diferencial Fundamental da Teoria do Adensamento de Terzaghi 2 2 z u c t u v Esta equação indica a variação da pressão neutra ao longo da profundidade, através do tempo. A variação da pressão neutra é a indicação da própria variação das deformações. 39 3. Recalques Imediatos em Argila Considere uma sapata de largura ou diâmetro B apoiada numa camada argilosa semi-infinita, homogênea, com módulo de deformabilidade Es constante com a profundidade (caso típico das argilas sobreadensadas). Se é a tensão média na superfície de contato da base da sapata com o topo da camada de argila, o recalque imediato i é dado pela seguinte expressão baseada na teoria da elasticidade: I E B s i 21 Em que, é o coeficiente de Poisson do solo; I é o fator de influência que depende da forma e rigidez da sapata. Considerando um corpo de prova cilíndrico de material elástico, submetido a um estado de compressão triaxial, o coeficiente de Poisson é definido pela relação entre a deformação radial (r) de expansão e a deformação vertical (z) de compressão: z r Tabela 1. Fator de influência I. Flexível Rígida Forma Centro Canto Médio Circular 1,00 0,64 0,85 0,79 Quadrada 1,12 0,56 0,95 0,99 L/B = 1,5 1,36 0,67 1,15 2 1,52 0,76 1,30 3 1,78 0,88 1,52 5 2,10 1,05 1,83 10 2,53 1,26 2,25 100 4,00 2,00 3,70 3.1. Camada Finita Para camadas argilosas compressíveis de espessura finita sobreposta a um material que pode ser considerado rígido ou indeformável (rocha, por exemplo). s i E B 10 40 Os valores de 0 e 1 são apresentados na Fig. 4 em curvas da relação L/B e em função, respectivamente, de h/B e H/B. Fig. 4. Fatores 0 e 1 para cálculo de recalque imediatode sapata em camada de argila finita. 4. Recalques Imediatos em Areia Em areias o módulo de deformabilidade não é constante com a profundidade. Portanto, deve-se subdividir a camada considerando o valor médio de Es para cada subcamada. Deve-se introduzir um fator de majoração de 1,21 para corrigir os fatores 0 e 1, desenvolvidos para = 0,5 (argilas saturadas). s i E B 1021,1 O fator 1,21 ó obtido da relação: 21,1 5,01 3,01 2 2 Em que, 0,3 é o coeficiente de Poisson adotado para a areia. 41 4.1. Método de Schmertmann (1970) Dado um carregamento uniforme , atuando na superfície de um semi-espaço elástico, isotrópico e homogêneo, com módulo de elasticidade Es, a deformação vertical z à profundidade z, sob o centro do carregamento, pode ser expressa por: z s z I E Em que Iz é o fator de influência na deformação vertical (Fig. 5). 0 0,2 0,4 0,6 I z B/2 B 2B 0 P ro fu n d id ad e z Fig. 5. Fator de influência na deformação vertical (Schmertmann, 1970). a) Embutimento da sapata * 5,011 q C 0,5 Em que, q é a tensão vertical efetiva à cota de apoio da fundação (sobrecarga); * é a tensão líquida aplicada pela sapata (* = – q). b) Efeito do tempo 1,0 log2,012 t C Em que, t = tempo (em anos). c) Formulação O recalque de sapatas em areia é dado pela integração das deformações: 42 0z zi dz = B s z i dz E I2 0 * Substituindo a integral por um somatório de recalques de n camadas consideradas homogêneas, na profundidade de 0 a 2B e incluindo os efeitos do embutimento e do tempo, tem-se: is z n i i z E I CC 1 21 * Em que, Iz é o fator de influência na deformação à meia altura da i-ésima camada; Es é o módulo de deformabilidade da i-ésima camada; z é a espessura da i-ésima camada. O valor médio de Iz em cada camada pode ser facilmente obtido por semelhança de triângulos ou pelas equações: B z I z 2,1 para z ≤ B / 2 B z I z 24,0 para B / 2 ≤ z ≤ 2.B Em que, z é a profundidade contada a partir da base da sapata. d) Módulo de Deformabilidade cs qE 2 Em que, qc é a resistência de ponta do ensaio de cone. SPT c N q K Em função do tipo de solo, o autor propõe valores de K apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Valores de K (Schmertmann, 1970). Tipo de Solo K (MPa) Siltes e siltes arenosos 0,20 Areias finas a médias e areias pouco siltosas 0,35 Areias grossas e areias pouco pedregulhosas 0,50 Pedregulhos arenosos e pedregulhos 0,60 43 e) Roteiro de Cálculo 1. Calcular os valores de q, *, C1 e C2. 2. A partir da base da sapata, desenhar o triângulo para o fator de influência. 3. No intervalo de 0 a 2B abaixo da sapata, dividir o perfil qc (ou NSPT) num número conveniente de camadas, cada uma com Es constante (uma divisão que passe por B/2 é recomendável). 4. Preparar uma tabela com seis colunas: (1) número da camada, (2) z, (3) Iz, (4) qc (ou NSPT), (5) Es e (6) Iz.z / Es. 5. Encontrar o somatório dos valores da última coluna e multiplicá-lo por C1, C2 e * (aconselha-se o uso das unidades em MPa para q, * e Es e em mm para z, resultando o recalque final em mm. 4.2. Método de Schmertmann (1978) Em 1978, Schmertmann aperfeiçoou o método incluindo os casos de sapata corrida (deformação plana) e de sapata quadrada (assimetria). Por isso, dois novos diagramas para a distribuição do fator de influência na deformação são propostos. O valor máximo de Iz ocorre em profundidades diferentes (z = B/2 para sapata quadrada e z = B para sapata corrida) e deixa de ser constante e igual a 0,6, passando a ser calculado por: v zI * 1,05,0 max Em que v é a tensão vertical efetiva na profundidade correspondente a Iz max. Portanto, o valor de Iz max aumenta com a tensão líquida aplicada pela sapata. Para a relação */v aumentando de 1 para 10, por exemplo, o valor de Iz max passa de 0,60 para 0,82. Também se observa que o diagrama vai até 4B para sapata corrida (L/B > 10) e que na profundidade z = 0, correspondente à base da sapata, o valor de Iz não é nulo, mas igual a 0,1 para sapata quadrada e 0,2 para sapata corrida. Assim o diagrama deixa de ser triangular. 44 0 0,2 0,4 0,6 I z B 2B 4B 0 P ro fu n d id ad e z B/2 3B 0,1 0,3 0,5 L/B = 1 L/ B > 10 Fig. 6. Fator de influência na deformação vertical (Schmertmann, 1978). O valor médio de Iz em cada camada pode ser obtido por semelhança de triângulos ou pelas equações na variável z (profundidade contada a partir da base da sapata): Sapata quadrada: B z II zz 1,021,0 max para z ≤ B / 2 B z II zz 2 3 2 max para B / 2 ≤ z ≤ 2.B Sapata corrida: B z II zz 2,02,0 max para z ≤ B B z II zz 4 3 1 max para B ≤ z ≤ 4.B Em relação ao Módulo de Deformabilidade são sugeridas novas correlações: cs qE 5,2 para sapatas quadradas ou circulares (L/B = 1) cs qE 5,3 para sapatas corridas (L/B ≥ 10) Em que, qc é a resistência de ponta do ensaio de cone. v zI * 1,05,0 max 45 5. Prova de Carga em Placa NBR 6489/84 Consiste na instalação de uma placa rígida de aço, com diâmetro de 0,80 m, na mesma cota de projeto das sapatas, e aplicação de carga, em estágios, até o dobro da provável tensão admissível, com medida de recalques, sendo aplicável para solos uniformes em profundidade. 5.1. Argila Obtido o recalque p numa placa circular de diâmetro Bp, o recalque imediato s de uma sapata de diâmetro Bs numa determinada tensão , será: p s ps B B Para sapatas retangulares ou de formas irregulares, pode-se considerar a sapata circular de área equivalente. 5.2. Areia Exemplo de equação da literatura: 2 30,070,0 p s ps B B com B em metros Nota: No entanto, ainda não há uma equação geral aplicável à extrapolação de recalque de uma placa de tamanho padrão para o recalque de uma sapata (protótipo) em areia. 5.3. Módulo de Deformabilidade É possível estimar o módulo de deformabilidade por meio da prova de carga sobre placa. Coeficiente de reação do solo: sk (MPa/m) que aplicado à fórmula da Teoria da Elasticidade I E B s i 21 com B = 0,80 m (diâmetro da placa), I = 0,79 (placa circular rígida) e v = 0,35 (valor médio para qualquer solo), resulta: ss kE 55,0 (MPa) O fator 0,55 (em metros) pode ser modificado para cada caso, em função do coeficiente de Poisson do solo. 46 ANEXO Módulo de Deformabilidade Não dispondo de ensaios de laboratório nem de provas de carga em placa, a estimativa do módulo de deformabilidade do solo pode ser feita utilizando a seguinte correlação com o índice de resistência a penetração (NSPT): SPTs NKE (MPa) Em que, e K são coeficientes empíricos dados nas Tabelas 3 e 4, em função do tipo de solo. Tabela 3. Coeficiente (Teixeira e Godoy, 1996). Solo Areia 3 Silte 5 Argila 7 Tabela 4. Coeficiente K (Teixeira e Godoy, 1996). Solo K (MPa) Areia com pedregulhos 1,10 Areia 0,90 Areia siltosa 0,70 Areia argilosa 0,55 Silte arenoso 0,45 Silte 0,35 Argila arenosa 0,30 Silte argiloso 0,25 Argila siltosa 0,20 Coeficiente de Poisson Na Tabela 5 Teixeira e Godoy (1996) apresentam valores típicos para o coeficiente de Poisson do solo. Tabela 5. Coeficiente v (Teixeira e Godoy, 1996). Solo Areia pouco compacta 0,2 Areia compacta 0,4 Silte 0,3 – 0,5 Argila saturada 0,4 – 0,5 Argila não saturada 0,1 – 0,3 47 Ex.1) Os pilares P1 e P2 são os mais carregados de uma obra. Verifiquese os recalques por adensamento acarretarão algum tipo de problema à edificação. As tensões propagadas no centro da camada de argila são 75 e 45 kPa, respectivamente, para os pilares P1 e P2. A tabela abaixo mostra as principais características do perfil geotécnico. Argila4,5 m 6,0 m Areia argilosa 2,5 m N. A. 1,5 m P1 P2 Características dos solos. Solo (kN/m 3 ) Sr (%) e Areia (%) Silte (%) Argila (%) Cc Cr ’ad (kPa) Areia argilosa 16,5 37 0,82 68 12 20 0,35 0,05 45 Argila 17,2 98 1,52 0 4 96 0,45 0,08 108 Legenda: é o peso específico, Sr é o grau de saturação, e é o índice de vazios, Cc é o índice de compressão, Cr é o índice de recompressão do solo e ’ad é a tensão de pré-adensamento dos solos. Ex.2) Calcule o recalque imediato médio, no centro e no canto de uma sapata retangular, de 10 m x 40 m, aplicando uma tensão de 50 kPa numa camada semi-infinita de argila homogênea saturada com módulo de deformabilidade de 30 MPa. Ex.3) Calcule o recalque imediato da sapata do Ex.2, supostamente apoiada a 3 m da superfície de terreno, considerando que a camada de argila se estende somente até a cota -28 m, onde se encontra a base rígida. 48 Ex.4) Considere o Ex.3, mas substitua a camada argilosa por três camadas, com diferentes valores para o módulo de deformabilidade, de acordo com a Fig. abaixo. Ex.5) Reproduzindo o caso real de Schmertmann (1970), calcule o recalque após 5 anos de uma sapata de 2,6 m por 23,0 m, apoiada a 2,0 m da superfície do terreno, aplicando uma tensão de 182 kPa. Trata-se de areia média, compacta, com peso específico de 16 kN/m 3 (saturado de 20 kN/m 3 ); o N.A. encontra-se a 2,05 m de profundidade. Os valores de qc a partir da profundidade de 2,0 m são apresentados na Fig. Abaixo. 5 qc (MPa) C o ta (m ) 10 15 20 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 -9 -10 -11 -12 -13 -14 -15 -16 10 m 3 m 10 m 5 m camada 1 10 m camada 2 camada 3 E1 = 20 MPa E2 = 30 MPa E3 = 40 MPa 49 Ex.6) Refazer o Ex.5, considerando sapata corrida com a solução de Schmertmann (1978). Ex.7) Dada a curva tensão x recalque obtida em prova de carga sobre placa de 0,80 m de diâmetro, em solo argiloso, estimar o recalque de uma sapata quadrada com 2,50 m de lado a ser instalada na mesma cota e em local próximo à placa de ensaio, aplicando uma tensão de 80 kPa. 0 5 10 15 20 0 50 100 150 200 R e c a lq u e ( m m ) Tensão (kPa) Ex.8) Obter o módulo de deformabilidade do solo a partir da prova de carga sobre placa do Ex.7. Ex.9) Calcule pelo método de Schmertmann o recalque após 1 ano de uma sapata quadrada de 3,0 m apoiada a 1,5 m da superfície de terreno, cuja carga do pilar é 1440 kN. Trata-se de uma areia argilosa com peso específico de 16 kN/m 3 . O N.A. encontra-se a 5,5 m de profundidade. 5 qc (MPa) C o ta (m ) 10 15 0 -1 -2 -3 -4 -5 -6 -7 -8 -9 -10 50 TENSÃO ADMISSÍVEL EM FUNDAÇÕES DIRETAS 51 TENSÃO ADMISSÍVEL NBR 6122/96 - Tensão aplicada ao solo que provoca apenas recalques que a construção pode suportar. 1. Métodos Teóricos FS = 3 (fator de segurança global) 3 r a (ruptura) 5,1 max a (recalque) 2. Prova de Carga FS = 2 (fator de segurança global) 2 r a (ruptura) 5,1 max a (recalque) Critério de Boston São considerados dois valores de recalques (10 mm e 25 mm) e as correspondentes tensões (10 e 25) na curva tensão x recalque. A tensão admissível é dada pelo menor dos dois seguintes valores: 10 2 25 3. Métodos Empíricos 3.1. Correlações q NSPT a 50 (MPa) (sapatas) 30 SPT a N (MPa) (tubulões) Em que, NSPT é o valor médio no bulbo de tensões (duas vezes a largura da base do elemento estrutural de fundação). 3.2. Tabela de Tensões Básicas A NBR 6122/96 apresenta a Tabela 1, mas adverte que os valores fixados servem de orientação inicial e que seu uso deve ser restrito a cargas não superiores a 1.000 kN por pilar e que soluções melhores devem utilizar critérios específicos para cada situação. a 52 Tabela 1. Tensões Básicas Classe Descrição o (MPa) 1 Rocha sã, maciça, sem laminação ou sinal de decomposição 3,0 2 Rochas laminadas, com pequenas fissuras, estratificadas 1,5 3 Rochas alteradas ou em decomposição * 4 Solos granulares concrecionados, conglomerados 1,0 5 Solos pedregulhosos compactos a muito compactos 0,6 6 Solos pedregulhosos fofos 0,3 7 Areias muito compactadas (NSPT > 40) 0,5 8 Areias compactas (19 ≤ NSPT ≤ 40) 0,4 9 Areias medianamente compactas (9 ≤ NSPT ≤ 18) 0,2 10 Argilas duras (NSPT > 19) 0,3 11 Argilas rijas (11 ≤ NSPT ≤ 19) 0,2 12 Argilas médias (6 ≤ NSPT ≤ 10) 0,1 13 Siltes duros (muito compactos) 0,3 14 Siltes rijos (compactos) 0,2 15 Siltes médios (medianamente compactos) 0,1 * levar em consideração a natureza da rocha matriz e o grau de decomposição ou alteração Os valores dessa tabela devem ser alterados em função das dimensões e da profundidade do elemento estrutural de fundação: Solos granulares: 2 8 5,1 1' Boo (B ≤ 10 m) Nota: adotar a equação acima quando abaixo da cota de apoio do elemento de fundação até uma profundidade de duas vezes a base encontram-se solos das Classes 4 a 9. Para bases maiores que 10 m, ’o = 2,5o Solos argilosos: S oo 10 ' (S ≥ 10 m2) Nota: para solos das Classes 10 a 15 as tensões da Tabela 1 devem ser aplicadas a um elemento estrutural de fundação não maior que 10 m2. Para áreas carregadas maiores devem-se reduzir os valores da Tabela 1 de acordo com a equação acima. 53 Ex.1) Determinar a tensão admissível para fundações por sapatas quadradas de 4,2 m de largura, considerando a curva tensão x recalque do Ex.7 das Notas de Aula – Recalques em Fundações Diretas. 0 5 10 15 20 0 50 100 150 200 R e c a lq u e ( m m ) Tensão (kPa) Ex.2) Determinar a tensão admissível pelo critério de Boston da curva tensão x recalque abaixo obtida em prova de carga sobre placa. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 0 50 100 150 200 R e c a lq u e ( m m ) Tensão (kPa) 54 Ex.3) Determinar a tensão admissível do sistema sapata-solo pelos Métodos Teóricos que envolvem o Critério de Ruptura e o Critério de Recalque, conforme indicado abaixo: 3 r a (ruptura) 5,1 max a (recalque) FS = 3 (fator de segurança global) - Utilizar a proposta de Vesic (1975) para análise do Critério de Ruptura e a Teoria da Elasticidade mediante a propagação de tensões 2:1 para análise do Critério de Recalque. - O recalque máximo (max) é 50 mm. Dados: Areia argilosa pouco compacta Pesos específicos: = 16 kN/m 3 e sat = 19 kN/m 3 . Parâmetros de resistência: c = 6 kPa e = 32,5º Módulo de deformabilidade: Es = 5 MPa Areia siltosa pouco compacta Peso específico: sat = 18 kN/m 3 . Parâmetros de resistência: c = 0 kPa e = 26º Módulo de deformabilidade: Es = 4,5 MPa Argila Rija Peso específico: sat = 19 kN/m 3 . Parâmetros de resistência: cu = 50 kPa e = 0º Perfil: 0,0 -1,0 Areia argilosa pouco compacta B = L = 2,0 mN.A.-1,5 -2,0 -5,0 Areia siltosa pouco compacta Argila rija SPT 7 5 5 6 12 11 15 55 Ex.4) Determinar a tensão admissível do sistema sapata-solo para sapatas quadradas apoiadas a 1 m de profundidade em relação à superfície do terreno segundo os métodos empíricos pela correlação q NSPT a 50 . 12 17 12 11 8 9 10 11 13 SPT N.A. 0,0 Areia fina pouco siltosa Areia média pouco argilosa B = 2 m -7,0 -10,0 B = 2,5 m Ex.5) Do sistema sapata-solo do Ex. 4, determinar a tensão admissível segundo os métodos empíricos por meio da Tabela de Tensões Básicas da NBR 6122/96.56 DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES EM SAPATAS 57 1. Sapatas Isoladas EstruturasGeotecnia solosa ABSLBA sap kNNP a P LBA 10,1 xlL 2 xbB 2 blBL a) CG da sapata deve coincidir com o CC do pilar. b) B, L ≥ 0,80 m (edifícios) B, L ≥ 0,60 m (residências, sobrados) c) 5,2 B L 0,3 B L d) Escolher L e B de modo a obter balanços iguais. 1.1. Pilar de Seção Retangular a P LBA 10,1 blBL 1.2. Pilar de Seção Quadrada aa P B P LBA 10,110,1 2 b l x 2,5 cm 2,5 cm x L B b l x 2,5 cm 2,5 cm x L B (dependendo da armadura) 58 1.3. Pilar Especial Considerar um pilar retangular equivalente. Para isso, determina-se o CG do Pilar. 2 ,5 b 2 b 2 l 2 l 2 L B 2,5 GC = CC 59 2. Sapatas Associadas Quando os pilares estão próximos e há superposição das sapatas. 121 2 d PP P x 221 2 d PP P y Faz-se coincidir o CC com o CG da sapata. a PP LBA 2110,1 PLANTA P 1 P 2 L = = = = B P 1 + P 2 5c m (M AG RO ) x SECÃO TRANSVERSAL d1 y d 2 VIGA DE RIGIDEZ (V.R.) PERSPECTIVA 60 3. Sapatas em Pilares de Divisa Adota-se para a sapata de divisa a relação L = 2B (fator econômico) PPR 1 d e PP 1 Como R1 depende de e e d, e estes são incógnitas, o problema é indeterminado. Roteiro de Cálculo: 1) Adotar L = 2B e P = 0, ou seja, R1 = P1 Então: aa P B P BBA 2 10,110,1 2 11 1 111 2) Com o valor de B1, fixado, calcula-se: 2 11 bBe d e PP 1 3) Obtido P, calcula-se R1 e a área A1 a R A 1 1 4) 1 1 1111 B A LBLA Verificação: 5,2 1 1 B L 5) 2 22 P PR 6) a R A 2 2 Utiliza-se o critério de balanços iguais 61 divisa V. E . P2 VISTA LATERAL L B 1,50 b 2 e d P1 V.E. (MAGRO) PLANTA CORTE AA P1 R2R1 = P1 P P2 de ESQUEMA DE CÁLCULO A A 62 4. Verificação da viabilidade para uso de sapatas %70 T S A A (uso de sapatas) %70 T S A A (inviável) Em que, AS : área das sapatas AT : área total a S P A 10,1 TaT S A P A A 10,1 P : carga total dos pilares 63 Ex.1) Dimensionar as sapatas para os pilares: a = 300 kPa a) Pilar (20 x 20) cm : P = 2300 kN b) Pilar (25 x 50) cm : P = 3500 kN c) Pilar : P = 4000 kN Ex.2) Dimensionar a(s) sapata(s) para os pilares: 1 ,0 m 2,5 m P1 (20 x 20) cm 3200 kN P2 (30 x 15) cm 4500 kN a = 300 kPa Ex.3) Dimensionar a(s) sapata(s) para os pilares: 2 ,0 m 4,5 m P1 (15 x 30) cm 3000 kN P2 (30 x 15) cm 3500 kN a = 300 kPa divisa 2,5 cm 2510 4 0 1 0 (cm) 64 Ex.4) Dimensionar a(s) sapata(s) para os pilares: P1 (130 x 20) cm 1300 kN P2 (100 x 20) cm 1500 kN a = 300 kPa divisa 0 ,7 5 m 2,50 m 2,5 cm Ex.5) Dimensionar a(s) sapata(s) para os pilares: P1 (30 x 100) cm 2400 kN P2 (50 x 50) cm 2000 kN a = 300 kPa divisa 2,60 m 2,5 cm 65 Ex.6) Dimensionar a(s) sapata(s) para os pilares: 6,0 m 1 ,0 m P1 (20 x 50) cm 1000 kN P2 (30 x 50) cm 1200 kN a = 300 kPa divisa 2,5 cm divisa 2,5 cm
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