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1 Expansão marítima e descobrimentos portugueses Aula 01 1C História Como era a Europa na época da expansão marítima? A Europa no século XV Quando a esquadra de Cabral zarpou do Porto da Praia do Restelo, no rio Tejo, na segunda-feira, dia 9 de março de 1500, Lisboa era ainda uma cidade de porte médio para os padrões europeus da época, com pouco mais de 50 mil habitantes, espremidos em 270 ruas e 89 becos. As condições sanitárias eram precárias e as pestes constantes. A expectativa de vida era de 35 anos. A Europa possuía apenas 20% da população mundial, que era de apro- ximadamente 300 milhões de pessoas, mas, no fim do século XV, já era de quase 10 milhões a circulação de livros no seu território. Vivia-se a febre das inovações técnicas. Novas formas de produzir coisas impulsionam no- vas procuras por mercados. O “Mar Oceano” era o desafio a ser superado. As distantes praças das Índias, donde provinham pelas mãos dos árabes, genoveses e venezianos, ouro, sal, tecidos, pimenta, gengibre, incenso, bronze, desafiavam a imaginação e a cobiça. Por aquele mar haveria, com certeza, uma forma de atingir os portos e as riquezas das Índias. Como se deu este desenvolvimento? Ao longo dos séculos XI, XII e XIII, ocorreu na Europa uma retomada considerável das atividades comerciais. Multiplicaram-se as feiras e ressurgiram as cidades, a moeda e a produção de manufaturas. Todo o território europeu foi cortado por rotas comerciais, e uma nova classe social, a burguesia, passou a acumular riquezas e ampliar a influência perante os governantes. Em contrapartida, a estrutura feudal existente na Europa Ocidental não estava preparada para essas mudanças, e o preço que se pagou foi caro. O crescimento da população provocou um inchaço das cidades, e as condi- ções sanitárias, que já não eram apropriadas, tornaram-se insuportáveis. O crescimento das áreas de plantio diminuiu as áreas de pasta- gens, e a redução do adubo orgânico – além da destruição das matas ciliares – provocou um acentuado empobrecimento dos solos. Autoria desconhecida. Vista panorâmica de Lisboa: palácio e estaleiro (detalhe). Século XVI. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. M ar ilu d e So uz a Rotas comerciais 2 Extensivo Terceirão Em pouco tempo, a oferta de alimentos ficou comprometida; a exploração exagerada das minas para a cunhagem das moedas – para a obtenção de produtos vindos das Índias – levou ao esgotamento destas minas e ao colapso da economia; a superex- ploração dos trabalhadores pelos senhores feudais desencadeou revoltas por toda parte. Assim: • o inchaço das cidades facilitou a propagação das doenças, como a peste bubônica, transmitida pela pulga do rato, velho conhecido das lixeiras e depósitos de comida; • as rotas comerciais e os contatos de comercian- tes de vários pontos ajudaram a disseminar as doenças. Pelo menos 1/3 da população europeia morreu ao longo do século XIV; • o esgotamento dos solos provocou a fome; a superexploração dos servos e a fome desenca- dearam revoltas que ajudaram a desorganizar de vez a produção; as rotas comerciais ficaram perigosas; a dramática situação se generalizava. O século XIV foi o século da crise. Como os europeus buscaram superar a crise em que se encontravam? Os comerciantes italianos, fugindo dos perigos das rotas terrestres, procuraram a todo custo manter seus compro- missos comerciais, principalmente com a região de Flandres, no norte da Europa. Passaram a utilizar rotas marítimas que, embora mais longas, eram mais seguras naquele momento. Tais rotas passavam por Sevilha, Lisboa e Porto. Esse contato estimulou o comércio em Portugal e também a cobiça dos portugueses por descobrirem um caminho que permi- tisse a eles o controle sobre os produtos que os italianos comercializavam. Ao longo do século XIV, os comerciantes portugueses favoreceram-se do contato com os italianos e de seus produtos, mas ainda era pouco. Os recursos que acumularam enquanto viam italianos preocupados com a Europa iriam financiar o salto de Portugal rumo ao Oriente. Os portugueses enxergavam como saída para a crise europeia a expansão para além donde os italianos haviam conseguido chegar. Não mais o Mediterrâneo ou a nave- gação de cabotagem, arrastando-se de porto em porto europeu, mas o Mar Oceano. Ir direto às Índias. O caminho para a concretização desse intento era longo. Seriam necessários esforços, condições e recursos que nem todos poderiam reunir. Quem seria o primeiro a conseguir? Por que Portugal foi o primeiro país a ter sucesso na expansão marítima? A posição geográfica do território português foi fundamental: próximo da África, no caminho das rotas italianas, de frente para o oceano Atlântico. Não era daquela época que os portugueses tinham no mar não apenas um vizinho, mas um parceiro econômico. Seus navios, assim como os italianos, faziam o comércio para o norte e, de porto em porto, os portugueses chegavam até as geladas praças de Novgorod, na Rússia. O investimento na construção de navios capazes de realizar longas viagens e suportar os tormentos do alto- -mar, bem como o desenvolvimento de instrumentos de orientação, foi outro diferencial português. Já no século XIV, com o incentivo do rei D. João I e sob o comando de seu filho, o infante D. Henrique, desenvolveu-se em Sagres, sul de Portugal, um centro náutico que ficou conhecido como Escola de Sagres. BRUEGEL, Pieter. Triunfo da Morte. 1562. Século XVI. 1 óleo sobre tela, color.; 117 x 162 cm. Museu do Prado, Espanha. O século XIV conheceu o triunfo da morte. Construção de uma caravela (século XV) Autoria desconhecida. Construção de uma caravela no estaleiro Ribeira das Naus. 1 gravura. Século XV. Lisboa, Portugal. Aula 01 3História 1C Os recursos para a expansão vieram da burguesia e do rei. Para isso, colaborou intensamente o fato de Portugal ter sido o primeiro país a conhecer um governo poli- ticamente centralizado na Europa Ocidental. Um rei forte com uma administração real sob o seu co- mando era a garantia de maior ar- recadação e, em face disso, maior capacidade de investimentos. Some-se a isso, enfim, o fato de os “concorrentes” portugueses esta- rem em meio a outros problemas, além da crise do século XIV. Ingleses e franceses lutavam entre si, e os espanhóis ainda se debatiam com a presença dos mouros. Para os portugueses, nada a impedir. Tudo apontava para o mar. Portugueses e a conquista do Atlântico As conquistas portuguesas co- meçaram por Ceuta, em 1415, e con- tinuaram ao longo de 83 anos, com a exploração e conquista das ilhas e regiões litorâneas da costa africana, ricas em madeira, ouro, marfim, peles e escravos. Nesses locais, os portugueses instalaram entrepostos comerciais denominados feitorias. Depois de ultrapassar o Cabo Bojador e superar as calmarias do Golfo da Guiné, os navios portugueses, capitaneados por Bartolomeu Dias, encontram o “fim da África”, o Cabo da Boa Esperança, como o batizou o rei D. João II. Era o ano de 1488. M ar ilu d e So uz a M ar ilu d e So uz a A tomada de Ceuta M ar ilu d e So uz a Dez anos depois, o jovem rei D. Manuel preparou a expedição que realizaria o sonho dos lusitanos. Mandou construir e equipar três navios que partiram do Tejo, com um navio de equipamentos atrás, preparados para a longa viagem. Enfrentando ataques de piratas árabes, uma conspiração da própria tripulação e o desconhecimento das águas do Índico, além das calmarias e da distância, após quase um ano, o capitão da esquadra, Vasco da Gama, chegava finalmente a Calicute. Em seu diário, Vasco da Gama escreveu: E ao domingo [dia 20/05/1498], fomos juntos a umas montanhas as quais mais altas os homens nunca viram, que estão sobre a cidade de Calicute. E chegamo-nos tanto a elas até que o piloto (...) nos disse que aquela era a terra que nós desejávamos de ir. 4 Extensivo Terceirão No seu diário de bordo, Vasco da Gama registrou sinais segurosda existência de terras a oeste da sua rota, mas a emergência e a importância da viagem não o desviaram. O retorno de Vasco da Gama a Portugal, após o descobrimento do caminho marítimo para as Índias, foi bastante acidentado. Saindo de Calicute em 5 de outu- É pouco provável que o desvio da esquadra de Cabral tenha sido casual, embora não haja nenhum elemento material que comprove a intenção de o chefe da esquadra lusitana rea- lizar tal desvio. De qualquer forma, as informa- ções prestadas por Vasco da Gama, apontando para sinais de terra a oeste da rota por ele re- alizada, os relatos de navegadores espanhóis, como Alonso de Ojeda e Vicente Pinzón, afir- mando terem tocado o solo americano antes de 1500, e mesmo a total falta de surpresa demonstrada na carta de Pero Vaz de Caminha ao descrever os primeiros sinais de terra apon- tam para a ideia do desvio intencional. Chegada No dia 22 de abril, 44 dias após o início da viagem, os navegadores avistaram terra. Era o Monte Pascoal, como foi denominado. Confirmavam-se suspeitas e certezas: havia terras neste lado do Atlântico. E seriam portuguesas! bro de 1498, somente no dia 20 de março conseguiu retornar ao Atlântico e tão somente em agosto a Lisboa. O rei D. Manuel, logo que soube das notícias das descobertas feitas por Vasco da Gama, tratou de orga- nizar nova esquadra, para garantir o monopólio do comércio das especiarias. Assim, em poucos meses, uma esquadra de 13 navios e aproximadamente 1 200 homens estava pronta para zarpar. Para o comando da frota, o rei escolheu um jovem nobre de 32 anos chamado Pedro Álvares Cabral. Sem experiência marítima anterior, Cabral não se abalou. Com ele, seguiram os mais viajados navegadores, como, por exemplo, os vete- ranos Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho (que comandara um dos navios da esquadra de Vasco da Gama). A esquadra partiu no dia 9 de março de 1500, seguin- do a rota de Vasco da Gama. No entanto, na altura das Ilhas Canárias, os navios afastaram-se da costa em direção ao oeste. Depois de percorrer a costa em busca de um “porto seguro”, travar contato com os amerín- dios, colher as primeiras impressões do lugar e rezar uma missa tomando posse da terra, Cabral expediu um dos navios da esquadra para dar a boa nova ao rei e partiu, no dia 2 de maio, com o resto da tripulação para completar o “roteiro oficial” da viagem: as Índias e suas riquezas. Monte Pascoal – Bahia M ar ilu d e So uz a Descoberta do Brasil para os portugueses É lógico que, antes de os europeus aqui chega- rem, não existia Brasil, mas uma terra onde viviam centenas de nações divididas em grandes troncos étnicos e com culturas bastante distintas da dos “descobridores”. Para o interesse do nosso trabalho, porém, é a História do Brasil, a partir deste encontro entre ameríndios e europeus, que será contada. Aula 01 5História 1C Assimilação 01.01. (UEA – AM) – Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! (Fernando Pessoa. Mar português. Mensagem, 1970.) Mensagem foi o único livro que o poeta português Fernando Pessoa publicou em vida. Ele pensou, a princípio, dar-lhe o título de Portugal, considerando que os poemas tratavam da história do esplendor e da decadên- cia do antigo reino. A estrofe transcrita exprime com lirismo e tristeza a) o orgulho do poeta em ser descen- dente de ilustres navegadores e a consciência portuguesa de ter criado o mundo moderno. b) os motivos da decadência abrupta de Portugal, devido aos gastos com a fabricação de caravelas e à perda de homens nos naufrágios. c) a resignação cristã que caracterizou a expansão marítima portuguesa, carente de qualquer interesse comer- cial ou político. d) as dificuldades inerentes às navega- ções marítimas da Idade Moderna e as suas consequências para a população portuguesa. e) a perda do domínio dos mares pelo governo português e a redução do número de habitantes do reino com as conquistas no além-mar. 01.02. (UFT – TO) – Na carta de Pero Vaz de Caminha, afirma-se que a terra “em tal maneira é graciosa que, que- rendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo.” Essa carta ficou três séculos depositada em um arquivo em Portugal. Apenas em 1817 foi publicada por historiadores interessados, no contexto da indepen- dência, em contar a história brasileira e que por isso endossaram aquela descri- ção do lugar que veio a se tornar o Brasil. Testes No século XX, contudo, foi lida como uma fonte para entender o imaginário dos navegantes sobre a América e não como uma descrição fidedigna da terra a que os portugueses chegaram. Considerando o trecho da referida carta e as informações disponibilizadas é CORRETO afirmar que: a) as interpretações que os historiadores produzem das fontes documentais aprimoram-se e aproximam-se mais da verdade com o passar do tempo. b) os historiadores apenas descrevem aquilo que as fontes dizem dos aconte- cimentos, sendo assim produtores de uma verdade última sobre o passado. c) os historiadores, ao produzir um conhecimento universal e atemporal, não são impactados pelas questões sociais do tempo histórico em que escrevem. d) as interpretações que os historiadores fazem das fontes documentais mudam de acordo com as questões colocadas pelo momento histórico em que as produzem. 01.03. Observe a imagem. A imagem acima apresenta o Tratado de Tordesilhas, que foi assinado em 1494 e estabeleceu a) uma linha imaginária traçada a 100 léguas a oeste de Cabo Verde, em que as terras a leste pertenceriam aos espanhóis e as terras a Oeste, aos portugueses. b) uma divisão entre Portugal e Espanha, a partir de 370 léguas a oeste de Cabo verde, em que as terras a leste ficariam com Portugal e as terras a Oeste, com a Espanha. c) uma separação entre França e Inglaterra, das terras do continente americano, sendo as terras ao norte pertencentes aos ingleses e as terras ao sul, à França. d) um acordo diplomático, assinado no século 18 entre os países Ibéricos, pela disputa das terras descobertas com a Expansão Marítima e Comercial Europeia. 01.04. (UFRGS) – Leia o segmento abaixo, do escritor indígena Ailton Krenak. Os fatos e a história recente dos últimos 500 anos têm indicado que o tempo desse encontro entre as nossas culturas é um tempo que acontece e se repete todo dia. Não houve um encontro entre as culturas dos povos do Ocidente e a cultura do continente americano numa data e num tem- po demarcado que pudéssemos chamar de 1500 ou de 1800. Estamos convivendo com esse contato desde sempre. KRENAK, Ailton. O eterno retorno do encontro. In: NOVAES, Adauto (org.). A outra margem do Ocidente. São Paulo: Funarte, Companhia das Letras, 1999. p. 25. Considerando a história indígena no Brasil, a principal ideia contida no segmento é 6 Extensivo Terceirão a) negação da conquista europeia na América, em 1500. b) ausência de transformação social nas sociedades ame- ríndias. c) exclusão dos povos americanos da história ocidental. d) estagnação social do continente sul-americano após a chegada dos europeus. e) continuidade histórica do contato cultural entre ociden- tais e indígenas. Aperfeiçoamento 01.05. O mundo convulsionado e agonizante que se desestruturou a partir do século XIV foi o que se lançou à procura de novos mercados, deixando-se enredar por um misto de atração e pânico do desconhecido, ora te- cendo considerações positivas (edênicas), ora negativas (demoníacas) sobre as terras que se iam desvendando ante seus olhos. (Laura de Mello e Souza, O diabo e a Terra de Santa Cruz. Adaptado) A partir das afirmações da historiadora, é correto inserir a expansão marítima no contexto de a) retrocesso tecnológico, devido às superstições da Idade Média, que impediam o processo criativo. b) aceitação da diversidade cultural, incluindo o politeísmo dos indígenas, graçasà Reforma Protestante. c) abandono da mentalidade clássica, marcada pelo fanatis- mo, em função da hegemonia da burguesia. d) transição dos valores religiosos medievais para a Moder- nidade, em meio às novidades técnicas. e) intenso racionalismo, por influência dos filósofos iluminis- tas, que desencadeou a revolução científica. 01.06. 01.06. (PUCPR) – Leia o texto a seguir. A primeira missa no Brasil é um momento emblemático do início da colonização portuguesa na América, celebrada poucos dias após a chegada e desembarque dos portugueses na costa brasileira, imortalizada pela narrativa na Carta de Pero Vaz de Caminha e no óleo sobre tela de Victor Meirelles. A ocupação de fato demorou um pouco mais a acontecer, dentre as razões para seu início, temos a) o aumento do comércio de especiarias com o Oriente, levando à maior necessidade de mercados consumidores. b) a descoberta de metais preciosos na colônia portuguesa, acelerando o interesse da metrópole na exploração de sua colônia. c) a probabilidade da tomada das terras por corsários ingleses que vinham atrás do contrabando de escravos indígenas para outras colônias. d) a necessidade de tomar posse e defender suas terras para evitar a vinda de exploradores sem o conhecimento da coroa portuguesa. e) a construção das feitorias para armazenar pau-brasil e carre- gar navios, promovendo a migração de um grande contin- gente de portugueses para povoar e cuidar das novas vilas. 01.07. (PUCCAMP – SP) – A chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil foi narrada na carta de Pero Vaz de Ca- minha, à qual se seguiram as seguintes expressões culturais nos primeiros momentos de nossa história: a) Formação de academias literárias e propagação de um ideário nacionalista. b) Maturação de um autêntico sistema literário e formação de grêmios republicanos. c) Correspondência de viajantes e documentação das riquezas naturais. d) Abertura dos portos às nações amigas e consolidação da imprensa. e) Catequese promovida pelos jesuítas e consolidação dos ideais emancipacionistas. 01.08. (UNESP – SP) – A afirmação de que os primeiros traços da presença europeia na América foram “o prelúdio da ocidentalização” e “uma das primeiras etapas da globaliza- ção” é correta porque a conquista do continente americano representou a) a definição da superioridade militar e religiosa do Ocidente cristão e o início da perseguição sistemática a judeus e muçulmanos. b) a demonstração da teoria de Cristóvão Colombo sobre a esfericidade da Terra e o fracasso dos novos instrumentos de navegação. c) o encerramento das relações comerciais da Europa com o Oriente e o imediato declínio da venda das especiarias produzidas na Índia. d) o encontro e o choque entre culturas e o gradual desloca- mento do eixo do comércio mundial para o Oceano Atlântico. e) o avanço da monetarização da economia e o lançamento de projetos de regulação e controle centralizado do co- mércio internacional. 01.09. (PUCCAMP – SP) – Do Brasil descoberto espera- vam os portugueses a fortuna fácil de uma nova Índia. Mas o pau-brasil, única riqueza brasileira de simples extração antes da “corrida do ouro” do início do século XVIII, nunca se pôde comparar aos preciosos produtos Aula 01 7História 1C do Oriente. (...) O Brasil dos primeiros tempos foi o objeto dessa avidez colonial. A literatura que lhe corres- ponde é, por isso, de natureza parcialmente superlativa. Seu protótipo é a carta célebre de Pero Vaz de Caminha, o primeiro a enaltecer a maravilhosa fertilidade do solo. (MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides − Breve história da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 3-4) Comprova-se a formulação geral do texto dado, no que diz respeito aos nossos primeiros tempos, o seguinte segmento de um documento da nossa história: a) O estado de inocência substituindo o estado de graça que pode ser uma atitude de espírito. O contrapeso da originalidade nativa. b) Pretendemos também focalizar a linha divisória que nos põe do lado oposto dos demais estrangeiros. c) Contra as histórias do homem, que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César. d) Nem separatismo nem bairrismo. Precisamos de uma articulação inter-regional. Elogio do mucambo. e) Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. 01.10. (MACK – SP) – “(...) Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs o nome – o Monte Pascoal, e à terra – a Terra de Vera Cruz.” CAMINHA, Pero Vaz de. “Carta. In: Freitas a el -rei D. Manuel”.In FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. Lisboa: Plátano, 1986. V. II, p. 99-100. O texto acima é parte da carta do escrivão, Pero Vaz de Cami- nha, tripulante a bordo da armada de Pedro Álvarez Cabral, ao rei português D. Manuel, narrando o descobrimento do Brasil. Essa expedição marítima pode ser entendida no contexto socioeconômico da época, como uma a) tentativa de obtenção de novas terras, no continente euro- peu, para ceder aos nobres portugueses, empobrecidos pelo declínio do feudalismo, verificado durante todo o século XIV. b) consolidação do poder da Igreja junto às Monarquias ibéri- cas, interessada tanto em reprimir o avanço mulçumano no Mediterrâneo, quanto em cristianizar os indígenas do Novo Continente. c) busca por ouro e prata no litoral americano, para suprir a escassez de metais preciosos na Europa, o que prejudicava a continuidade do comércio com o Oriente. d) conquista do litoral brasileiro e sua ocupação, garantindo que a coroa portuguesa tomasse posse dos territórios a ela concedidos, pelo Tratado de Tordesilhas, em 1494. e) tomada oficial das terras garantidas a Portugal, pelo acordo de Tordesilhas, e o controle exclusivo português da rota atlântica, dando-lhes acesso ao lucrativo comércio de especiarias Aprofundamento 01.11. (UNESP – SP) – O dia em que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz [...] era a 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz em que Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e por esta cau- sa pôs nome à terra que se encontrava descoberta de Santa Cruz e por este nome foi conhecida muitos anos. Porém, como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que tinha em os desta terra, trabalhou que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado de cor abrasada e vermelha com que tingem panos [...]. (Frei Vicente do Salvador, 1z27. Apud Laura de Mello e Souza. O Diabo e a Terra de Santa Cruz, 1986. Adaptado.) O texto revela que a) a Igreja católica defendeu a prática do extrativismo durante o processo de conquista e colonização do Brasil. b) um esforço amplo de salvação dos povos nativos do Brasil orientou as ações dos mercadores portugueses. c) os nomes atribuídos pelos colonizadores às terras do Novo Mundo sempre respeitaram motivações e princípios religiosos. d) o objetivo primordial da colonização portuguesa do Brasil foi impedir o avanço do protestantismo nas terras do Novo Mundo. e) uma visão mística da colonização acompanhou a explora- ção dos recursos naturais existentes nas terras conquistadas. 01.12. (PUCRS) – Considere as afirmações sobre a viagem de Pedro Álvares Cabral, que aportou no litoral brasileiro em abril de 1500, dando origem ao “descobrimento do Brasil”. I. A expedição foi um empreendimento estatal comandado e controlado pela Coroa Portuguesa, sem que houvesse participação de investimentos privados na sua montagem e execução. II. A viagem de Cabral contou com o apoio da Igreja Católica, que desejavaexpandir o cristianismo para além da Europa; ademais, o reconhecimento oficial da Igreja conferia legiti- midade às novas conquistas. III. A escolha do comandante da esquadra portuguesa teve como principais critérios a competência e a experiência profissional de Cabral, sinalizando o rompimento do Es- tado português com os privilégios aristocráticos na sua burocracia. IV. A expedição tinha como objetivo final estabelecer rotas comerciais de especiarias com o Oriente; a “descoberta do Brasil”, porém, estava entre os resultados possíveis, devido ao interesse português em controlar a navegação no Atlântico Sul. Estão corretas apenas as afirmativas a) I e II. c) I, II e III. e) II, III e IV. b) II e IV. d) I, III e IV. 8 Extensivo Terceirão 01.13. (FUVEST – SP) – Deve-se notar que a ênfase dada à faceta cruzadística da expansão portuguesa não implica, de modo algum, que os interesses comerciais estives- sem dela ausentes – como tampouco o haviam estado das cruzadas do Levante, em boa parte manejadas e financiadas pela burguesia das repúblicas marítimas da Itália. Tão mesclados andavam os desejos de dilatar o território cristão com as aspirações por lucro mercantil que, na sua oração de obediência ao pontífice romano, D. João II não hesitava em mencionar entre os serviços prestados por Portugal à cristandade o trato do ouro da Mina, “comércio tão santo, tão seguro e tão ativo” que o nome do Salvador, “nunca antes nem de ouvir dizer conhecido”, ressoava agora nas plagas africanas… Luiz Felipe Thomaz, “D. Manuel, a Índia e o Brasil”. Revista de História (USP), 161, 2o. Semestre de 2009, p.16-17. (Adaptado). Com base na afirmação do autor, pode-se dizer que a expan- são portuguesa dos séculos XV e XVI foi um empreendimento a) puramente religioso, bem diferente das cruzadas dos sé- culos anteriores, já que essas eram, na realidade, grandes empresas comerciais financiadas pela burguesia italiana; b) ao mesmo tempo religioso e comercial, já que era comum, à época, a concepção de que a expansão da cristandade servia à expansão econômica e vice-versa; c) por meio do qual os desejos por expansão territorial portuguesa, dilatação da fé cristã e conquista de novos mercados para a economia europeia mostrar-se-iam incompatíveis; d) militar, assim como as cruzadas dos séculos anteriores, e no qual objetivos econômicos e religiosos surgiriam como complemento apenas ocasional; e) que visava, exclusivamente, lucrar com o comércio in- tercontinental, a despeito de, oficialmente, autoridades políticas e religiosas afirmarem que seu único objetivo era a expansão da fé cristã. 01.14. (FATEC – SP) – Sobre as Grandes Navegações Portugue- sas e seus desdobramentos históricos, é correto afirmar que a) esse contexto é fruto do processo revolucionário coman- dando pelo presidente Antônio Salazar, que, posterior- mente, utilizou as terras descobertas no além-mar para exilar seus opositores políticos. b) Portugal, interessado nas especiarias orientais, cujo co- mércio era controlado pelos mercadores italianos e árabes, procurou novas rotas para atingir as Índias e eliminar esses intermediários. c) a fragmentação política do reino, consequência da Revolução de Avis, ocorrida em 1385, atrasou em pelo menos dois séculos o desenvolvimento das condições necessárias para a realização das primeiras viagens. d) Portugal foi o último reino europeu a se lançar na aventura das viagens marítimas, devido, principalmente, a uma grande crise econômica, o que impediu o desenvolvimen- to da tecnologia necessária para as travessias oceânicas. e) os portugueses, impulsionados pela concorrência da economia da Inglaterra, optaram por tomar posse da sua colônia americana, o Brasil, e iniciar a produção do algodão que iria abastecer os mercados internacionais no século XVI. 01.15. (MACK – SP) – Durante o século XV, a Europa experi- mentou o início de uma expansão marítima, que é um marco no início da europeização do mundo. Entre os motivos que levaram os portugueses a buscarem a Expansão Marítima, podemos apontar a) a queda de Constantinopla para o império turco otomano, em 1453, levando os países católicos a buscarem um novo caminho que os conduzisse à Terra Santa. b) o crescimento da circulação monetária e a consequente estabilização dos preços, na época, permitindo o acúmulo do que passou a ser investido nas empreitadas marítimas. c) o fortalecimento do poder dos monarcas europeus, que passaram a governar em caráter absolutista e centraliza- ram todas as decisões do Estado em suas mãos. d) a consolidação do sistema de manufaturas controladas pelas grandes corporações de ofício, que passaram a financiar a Expansão Marítima em busca de novos mer- cados consumidores. e) a necessidade da expansão comercial, que aumentaria os poderes do rei, manteria os privilégios da nobreza e elevaria os lucros da burguesia, pois o controle comercial do Mediterrâneo pertencia aos italianos. 01.16. (UNESP – SP) – Que significa o advento do século XVI? [...] Se essa passagem de século tem hoje um sentido para nós, um sentido que talvez não tinha nos séculos anteriores, é porque vemos que aí é que sur- gem as primícias da globalização. E essa globalização é mais que um processo de expansão de origem ibérica, mesmo se o papel da península foi dominante. [...] Em 1500, ainda estamos bem longe de uma economia mundial. No limiar do século XVI, a globalização cor- responde ao fato de setores do mundo que se ignoravam ou não se frequentavam diretamente serem postos em contato uns com os outros. (Serge Gruzinski. A passagem do século: 1480-1520, 1999.) O texto a) defende a ideia de que a expansão marítima dos séculos XV e XVI tenha provocado a globalização, pois tal expan- são eliminou as fronteiras nacionais. b) rejeita a ideia de que a expansão marítima dos séculos XV e XVI tenha provocado a globalização, pois muitos povos do mundo se desconheciam. c) identifica a expansão marítima dos séculos XV e XVI com o atual contexto de globalização, destacando, em ambos, a completa internacionalização da economia. d) compara a expansão marítima dos séculos XV e XVI com o atual contexto de globalização, demonstrando o papel central, em ambos, dos países ibéricos. e) relaciona a expansão marítima dos séculos XV e XVI com o atual contexto de globalização, ressalvando, porém, que são processos históricos distintos. Aula 01 9História 1C 01.17. (UDESC) – Analise o texto abaixo: Las tres caravelas (...) Um navegante atrevido Saiu de Palos um dia Vinha com três caravelas A Pinta, a Nina e a Santa Maria Em terras americanas Saltou feliz certo dia Vinha com três caravelas A Pinta, a Nina e a Santa Maria Muita coisa sucedeu Daquele tempo pra cá O Brasil aconteceu É o maior, que é que há? (...) Viva Cristóvão Colombo Que para nossa alegria Veio com três caravelas A Pinta, a Nina e a Santa Maria (Algueró Jr. Moreau. Tradução: João de Barro) Analise as proposições sobre essa canção popular, gravada por Caetano Veloso e Gilberto Gil no disco Tropicália ou Panis et Circensis (1968). I. A letra faz referência a episódios históricos conhecidos como o “descobrimento da América” pelos europeus, por meio da viagem empreendida pelo almirante Cristóvão Co- lombo, partindo da costa da Espanha pelo Oceano Atlântico, e atingindo as ilhas do Caribe, no dia 12 de outubro de 1492. II. Os cantores da Tropicália utilizam a canção com ironia em relação ao discurso ufanista dos militares brasileiros durante a ditadura. Para eles, o Brasil estava submisso aos interesses econômicos dos Estados Unidos, como havia sido em relação às monarquias ibéricas no período colonial. III. O autor da letra, ao afirmar que o navegador “saltou feliz certo dia” nas terras americanas, identifica-se com os nativos, que consideram esse episódio o início de uma era de paz e prosperidade, pois Colombo veio “para nossa alegria”. Assinale a alternativa correta. a) Somente asafirmativas II e III são verdadeiras. b) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras. c) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. d) Somente a afirmativa I é verdadeira. e) Todas as afirmativas são verdadeiras. 01.18. (UFSC) – E então estiraram-se de costas na alcati- fa, a dormir sem procurarem maneiras de encobrir suas vergonhas as quais não eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. [...] Deduzo que é gente bestial e de pouco saber, e por isso tão esquiva. Mas apesar de tudo isso andam bem curados, e muito limpos. E naquilo ainda mais me convenço que são como aves, ou alimárias montesi- nas. [...] Parece-me gente de tal inocência que, se nós enten- dêssemos a vossa fala e eles a nossa, seriam logo cris- tãos, visto que não têm nem entendem crença algu- ma, segundo as aparências. [...] Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. [...] E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, se- gundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. [...] Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgan- do. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou bu- zina e começaram a saltar e dançar um pedaço. [...] O melhor fruto que se pode tirar desta terra me parece ser salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente de que Vossa Alteza deve lançar nesta terra. PERO Vaz de Caminha. Carta à D. Manuel (excertos). In: Enciclopédia Itaú Cultural de arte e cultura brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http:// enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7833/pero-vaz-de-caminha>. Acesso em: 30 jun. 2017. Sobre a carta de Pero Vaz de Caminha e o contexto da expan- são ultramarina portuguesa, é correto afirmar que: 01) na carta, é possível identificar choque e estranhamen- to entre as diferentes culturas, assim como perceber a iniciativa portuguesa de tomar posse da terra. 02) apesar dos rituais católicos descritos na carta, a Igreja Católica não apoiava a iniciativa das navegações por- tuguesas porque contrariava princípios da instituição sobre as explorações do mundo. 04) no relato do autor, há referências aos habitantes como seres que, na sua visão, seriam selvagens. 08) a mais conhecida das cartas relacionadas à expedição de Pedro Álvares Cabral é a de Pero Vaz de Caminha, que relata a estada da tripulação durante o tempo em que esteve aportada nas terras encontradas. 16) movida pelo grande interesse sobre as terras desco- bertas, parte da tripulação daquela expedição não seguiu viagem, garantindo assim a posse do lugar ao reino português. 32) fica evidente, pela descrição do autor, o respeito da Coroa portuguesa em relação às crenças e aos costu- mes dos habitantes da terra. 10 Extensivo Terceirão Desafio 01.19. (UEM – PR) – Assinale o que for correto sobre a expansão marítima europeia no início da Idade Moderna. 01) A descoberta de uma natureza exuberante e de po- pulações desconhecidas em terras americanas con- tribuiu para a criação do mito do “bom selvagem”. 02) A expansão marítima ampliou o intercâmbio cultural e principiou a construção de um mercado mundial que envolveu a Europa, a América, a Ásia e a África. 04) A Igreja, por meio da emissão de bulas papais, proibiu a submissão e a conversão forçada dos povos indígenas nas terras descobertas por portugueses e espanhóis. 08) O astrolábio, a bússola magnética e o quadrante (este determinando a altura das estrelas) foram ins- trumentos fundamentais para o aprimoramento das viagens marítimas daquele período. 16) As grandes descobertas contribuíram para enfra- quecer os Estados Nacionais europeus e elevar a nobreza como principal grupo econômico. 01.20. (UEPG – PR) – Diferente da versão romantizada que mostra uma chegada pacífica dos europeus ao Brasil no século XVI, a colonização portuguesa se deu a partir do uso sistemático da violência e do extermínio dos ha- bitantes originais da terra (os indígenas). A exploração e o povoamento da colônia só foi possível após a sobreposição bélica dos europeus sobre os nativos. A respeito da colonização brasileira no século XVI, assinale o que for correto. 01) No século XVI, as mulheres tiveram destacada atuação na vida social e política colonial. Não são raros os casos de mulheres que administraram engenhos de açúcar e ocuparam cargos nas câmaras coloniais. Esse quadro muda gradualmente nos dois últimos séculos coloniais. 02) É possível afirmar que a ocupação efetiva da colônia pelos portugueses se deu a partir de 1530. Antes disso, ocorrem algumas expedições, nomeiam-se algumas localidades litorâneas e se constroem pou- cas feitorias. Somente com a produção do açúcar no litoral nordestino é que, de fato, os portugueses trazem contingentes humanos e montam uma es- trutura produtiva na colônia. Gabarito 02.01. b 02.02. d 02.03. b 02.04. e 02.05. d 02.06. d 02.07. c 02.08. d 02.09. e 02.10. e 02.11. e 02.12. b 02.13. b 02.14. b 02.15. e 02.16. e 02.17. c 02.18. 13 (01 + 04 + 08) 02.19. 11 (01 + 02 + 08) 02.20. 30 (02 + 04 + 08 + 16) 01.20. Razões para o pioneirismo português na expansão marítima. 1. Posição geográfica favorável. 2. Paz interna, estabilidade política. 3. Formação/reunião de navegadores, matemáticos, geógrafos e astrônomos. 4. Tradição marítima: experiência com atividade pesqueira. 5. Pioneirismo na formação do Estado Nacional Moderno. 04) Martin Afonso de Souza fundou as vilas de Piratinin- ga e São Vicente (ambas no litoral de São Paulo) e ali desenvolveu o plantio de cana-de-açúcar, cultura com a qual os portugueses tomaram contato duran- te as Cruzadas medievais. 08) A atividade açucareira no século XVI teve seu auge no litoral nordestino. Naquela região, os engenhos reais con- tavam com centenas de escravos (predominantemente africanos) e produziam em larga escala, uma vez que o principal objetivo era abastecer os mercados europeus. 16) Na medida em que já existiam habitantes no terri- tório brasileiro antes da chegada dos europeus é, no mínimo, questionável, o uso do termo “descobri- mento do Brasil” pelos portugueses. O que houve, de fato, foi um processo de dominação dos euro- peus sobre os nativos americanos. 01.21. (UFSC) – “A expansão marítima teve ligações com os questionamentos e as ino- vações que acompanharam o Renascimento e, politica- mente, com a formação do Estado moderno na Europa. Assim, é impossível analisá-la sem mencionar as mudanças econômicas, a intensificação das atividades comerciais, o fascínio pelas especiarias, a luta da burguesia para conso- lidar sua riqueza”. REZENDE, Antonio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos da História: História Geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2001. p. 158. Sobre a expansão marítima e comercial europeia: Explique duas razões para o pioneirismo do reino português. Gravura do séc. XVI, de Theodore de Bry. p. 157-158. 11História 1C 1B1C História Aula 02 Brasil: os primeiros anos Período Pré-Colonial Período que compreende os trinta primeiros anos após o “descobrimento”, ou seja, o período entre 1500 e 1530. A preocupação portuguesa com as terras brasileiras revelou-se pelo envio de duas expedições exploradoras, comandadas por Gaspar de Lemos e Gonçalo Coelho. O resultado das expedições não ia além das primeiras impressões: vastas terras, papa- gaios, índios e pau-brasil, o qual a Coroa portuguesa tratou logo de declarar monopólio real. Quanto ao resto... Madeira cor de brasa O pau-brasil atraiuos franceses, que passaram a frequentar o litoral e a negociar com os indígenas. Tomando conhecimento disso, o governo português enviou duas expedições guarda-costas, comandadas por Cristóvão Jacques, entre 1516 e 1528. A presença das expedições não parece ter intimidado e muito menos diminuído a presença dos contrabandistas franceses. O descaso português poderia pôr a perder a Colônia. Mapa do Brasil, a Terra dos Papagaios, feito por Cantino (1502) MAPA de Cantino (O planisfério Cantino – completado por um cartógrafo português desconhecido em 1502). 1502. 1 manuscrito sobre pergaminho, 105 cm x 220 cm. Biblioteca Universitária de Modena, Itália. (Detalhe). O início da colonização Os lucros do comércio com as Índias, em face da concorrência dos países que entravam no comércio marítimo – França, Inglaterra e Holanda –, começava a declinar. Os enormes custos para manter as praças por- tuguesas, além da diminuição dos preços dos produtos na Europa, inviabilizavam a presença portuguesa na Embora não alcançasse o valor das especiarias das Índias, o pau-brasil, do qual se extraía uma tintura usada em linhos, sedas e algodões, era aparentemen- te a única riqueza do Brasil. O rei concedeu a alguns comerciantes o direito de exploração. As comunida- des indígenas foram usadas no corte e transporte do pau-brasil. Em troca, recebiam quinquilharias e ma- chadinhas, prática que ficou conhecida pelo nome de escambo. A madeira foi explorada até meados do século XIX, ao longo de toda a faixa litorânea entre o Rio Grande do Norte e o Espírito Santo. Praticamente todos os tecidos produzidos em Flandres e na Ingla- terra recebiam a tintura extraída do pau-brasil. O pau-brasil foi a primeira riqueza explorada pelos portugueses nas terras brasileiras. THÉVET, André. Corte da madeira pau-brasil. 1557. John Carter Brown Library, Estados Unidos. 12 Extensivo Terceirão Capitanias Hereditárias TEIXEIRA, Luis. Litoral Brasileiro com as Capitanias Hereditárias. 1574. Códice Quinhentista da Biblioteca da Ajuda, Portugal. Capitanias hereditárias Mas tudo isso era pouco. O litoral era grande e os re- cursos da Coroa portuguesa, insuficientes. A solução era “privatizar” a colonização. Aproveitando uma ideia que havia tido sucesso nas ilhas portuguesas do Atlântico, o rei de Portugal resolveu dividir a administração das terras da Colônia entre nobres portugueses dispostos a arcar com os riscos, em troca da possibilidade de usufruir das riquezas e das rendas que aqui viessem gerar. Assim, o território foi dividido em 15 lotes que deram origem a 14 capitanias. Doze portugueses se habilitaram para a empreitada e tornaram-se donatários. região. Era preciso buscar nova fonte de lucros. Nas ter- ras espanholas da América, começavam a surgir notícias de descoberta de ouro, que também poderia existir nas terras brasileiras. A questão agora passava a ser: como colonizar? O Estado absolutista português não dispunha de capital suficiente para dar conta de tarefa tão grandiosa, prin- cipalmente considerando a extensão do litoral a ser de- fendido e povoado, nem possuía população suficiente para ocupar toda a terra. Quem constituiria a mão de obra da nova economia? Ocupação efetiva Mesmo sem soluções muito claras, o governo português enviou para o Brasil, em 1530, a primeira expedição colonizadora, chefiada por Martim Afonso de Sousa. Eram cinco navios e cerca de 400 homens, além de animais, plantas e peças para montar um engenho. Martin Afonso fez o que pôde para dar conta de sua função: percorreu pra- ticamente todo o litoral; enfrentou navios france- ses; recuperou uma feitoria (abrigos para guardar pau- -brasil) tomada por estrangeiros; montou um forte no litoral onde hoje é o Rio de Janeiro; organizou uma ex- pedição para o interior, na região Sudeste; fundou duas vilas – São Vicente e Santo André – e um engenho, o do Governador. Na Vila de São Vicente, organizou a primei- ra Câmara Municipal. • A Carta de Doação concedia ao donatário uma propriedade de 10 léguas da terra ao longo da costa, isenta de qualquer tributo, exceto o dízimo. Ao donatário, pertenciam também engenhos, moendas de água e salinas da capitania. Apesar desses “privilégios”, não se pode afirmar que o donatário tornava-se “dono” da capitania. • O Foral estabelecia que a renda dos produtos da terra pertencia ao donatário, enquanto os produtos do subsolo, mato e mar pertenciam à Coroa. O donatário podia fundar vilas, escravizar e vender índios, doar sesmarias (lotes de terras aos colonos, como forma de incentivo para trazê-los para cá, cabendo a eles a obri- gação de cultivá-los) e, por fim, deveria respeitar os monopólios, pagar dízimos e quintos sobre as rendas auferidas. Regras da colonização As condições em que foram firmados os acordos do rei com os donatários estavam expressas na Carta de Doação e no Foral: Martim Afonso e o início da colonização RODRIGUES, José Washt. Martim Afonso. 1 óleo sobre tela. Museu Paulista, São Paulo. N ils on M ul le r. 20 08 . D ig ita l. Apesar da “proteção” da Igreja, a escravização indígena foi uma constante no Período Colonial. Aula 02 13História 1C E deram certo as capitanias? Apesar de tamanha legislação e formalismos, o sistema não se adequou bem por aqui. O desenvolvimento das ca- pitanias foi desigual, destacando-se somente São Vicente – cujo donatário era Martim Afonso de Sousa – e Pernam- buco, administrada por Duarte Coelho. A excessiva descen- tralização, resultado das longas distâncias, inviabilizou a atividade de muitos donatários nas capitanias, acometidas por intempéries, ataques de índios ou ainda por conturba- ções provocadas pelos próprios colonos. TEIXEIRA, Luis. Mapa (capitania) de São Vicente. Ca. 1586. Biblioteca da Ajuda, Portugal. Capitania de São Vicente Capitania de Pernambuco TEIXEIRA, Luis. Mapa (capitania) de Recife, Pernambuco (Terras de engenho). Ca. 1582-1585. Biblioteca da Ajuda, Portugal. O governo português via-se agora diante de um pro- blema mais grave: viabilizar de vez a colonização e dar apoio às centenas de portugueses já instalados no Brasil. Governos-Gerais A descentralização administrativa foi a principal ra- zão do insucesso da maioria das capitanias, muito em- bora, para o bem ou para o mal, a colonização tenha sido iniciada e o perigo francês contido. Para otimizar a ad- ministração colonial, corrigindo os erros de percurso, o governo português criou, em 1548, por meio de um Re- gimento Real, os Governos-Gerais, com o claro objetivo de centralizar a administração e auxiliar os donatários. O Governador-Geral, indicado pelo rei, contava com o auxílio de: • um ouvidor-mor, responsável pela aplicação da jus- tiça em toda a Colônia; • um provedor-mor, encarregado pela cobrança dos impostos e provimento de cargos; • um capitão-mor, que cuidava da defesa da Colônia. O primeiro Governador-Geral foi Tomé de Sousa (1549 - 1553), que trouxe mais de mil colonos e os pri- meiros jesuítas, chefiados por Manuel da Nóbrega. Tomé de Sousa incentivou a agricultura e a criação do gado bovino. Também construiu a primeira capital do Brasil: Salvador. Percorreu todas as capitanias, buscando pôr em prática o objetivo principal da sua presença na colônia: auxiliar as capitanias. Chegada de Tomé de Sousa à baía de Todos-os-Santos, em 29 de março de 1549 Anônimo. Chegada de Tomé de Sousa à Bahia. s.d. 1 gravura. Biblioteca Municipal, São Paulo. O segundo Governador-Geral foi Duarte da Costa (1553-1557). Com ele, vieram José de Anchieta e outros jesuítas. Com Manuel da Nóbrega, Anchieta fundou, no Planalto de Piratininga, um colégio para a catequese, que deu origem à cidade de São Paulo. 14 Extensivo Terceirão Para substituir Mem de Sá, foi nomeado Luís de Vasconcelos, que nem chegou ao Brasil, pois sua esquadra foi destroçada por corsários franceses. A Coroa portuguesa aproveitou-se da situação e resolveu mexer na estrutura administrativa:dividiu o território da Colônia em Norte e Sul, entregando os governos a Luís de Brito e Antônio Salema, respectivamente. A experiência durou apenas de 1572 a 1578. De 1578 a 1580, governou a Colônia Lourenço da Veiga. Em 1580, o Brasil passou para o domínio espanhol. O mais importante Governador-Geral desse período foi Mem de Sá, entre 1558 e 1572. No seu período, consolidou-se a presença portu- guesa e expandiu-se a produção açucareira e a criação de gado. Resolveu o problema da mão de obra com o início do tráfico negreiro. Expulsou franceses da Baía de Guanabara e de- teve ameaças indígenas, pela violência e pela intensificação da catequese. Várias vilas foram fundadas, e nelas passaram a funcionar as Câ- maras Municipais, chefiadas pelos proprietá- rios rurais – conhecidos como homens bons. Assim, completava-se a primeira etapa da colonização, com a sedimentação de uma estrutura administrativa colo- nial. A Coroa portuguesa não tinha mais olhos para as Índias. O Brasil era o futuro de Portugal. Testes Assimilação 02.01. Com a chegada de Pedro Álvares Cabral, em 1500, teve início um processo de invasão das terras indígenas e de implantação do sistema colonial. Os portugueses que vieram para o Brasil tinham como objetivo claro a exploração econômica do nosso território e de seu povo. Constituíam a economia colonial do Brasil a) cana-de-açúcar, algodão e café. b) pau-brasil, cana-de-açúcar e café. c) café, borracha da Amazônia e cana-de-açúcar. d) pau-brasil, cana-de-açúcar e mineração. e) pau-brasil, cana-de-açúcar e produção de tecidos indus- trializados. 02.02. (PUCCAMP – SP) – As características dos primeiros núcleos de ocupação no Brasil, dos quais emergiam os mencionados grupos sociais nascentes, revelam o tipo de colonização empreendida por Portugal e predominante na América Latina, denominado pela historiografia de: a) colonização estatal. b) colonialismo religioso. c) colonização de exploração. d) neocolonialismo. e) colonização de povoamento. 02.03. (ESPM – SP) – Em 1549 o rei D. João III decidiu, sem abolir o sistema de capitanias hereditárias, instituir um novo regime. Acompanhado por quatrocentos soldados, seiscentos degredados, seis jesuítas e muitos mecânicos, partiu de Lisboa o primeiro governador-geral, Tomé de Sou- za, que aportou à baía de Todos-os-Santos em fins de março de 1549. Com o governador chegaram também o ouvidor-ge- ral, Pero Borges e o provedor-mor, Antônio Caridoso de Barros. (Capistrano de Abreu. Capítulos de História Colonial) O ouvidor-geral e o provedor-mor desempenhavam, respec- tivamente, funções de: a) defesa – administração civil; b) justiça – fazenda; c) fazenda – defesa; d) administração militar – justiça; e) administração da capital – vereança. 02.04. (UNAERP – SP) – Em 1534, o governo português con- cluiu que a única forma de ocupação do Brasil seria através da colonização. Era necessário colonizar, simultaneamente, todo o extenso território brasileiro. Essa colonização dirigida pelo governo português se deu através da: DEBRET, Jean-Baptiste. Um Jantar Brasileiro. 1827. 1 aquarela sobre papel, color.; 15,9 cm x 21,9 cm. Museu Castro Maya, Rio de Janeiro. “Homem bom” Aula 02 15História 1C a) criação da Companhia Geral do Comércio do Estado do Brasil. b) criação do sistema de governo-geral e câmaras muni- cipais. c) criação das capitanias hereditárias. d) montagem do sistema colonial. e) criação e distribuição das sesmarias. Aperfeiçoamento 02.05. “O primeiro passo no sentido de viabilizar a empresa açucareira e, portanto, a colonização no Brasil foi a adoção do sistema de capitanias hereditárias, já uti- lizado por Portugal nas ilhas do Atlântico. Tratava-se da adoção de largas faixas de terra aos capitães-donatários, regulamentada pelas cartas de doação e forais.” Vicentino, Claudio. História geral e do Brasil. volume único. – São Paulo: Scipione, 2005. p. 161. Sobre a adoção das Capitanias Hereditárias afirma-se que representou a) uma tentativa bem sucedida da Coroa Portuguesa em administrar sua colônia da América. b) uma alternativa adotada pelo governo português que originou a grande propriedade no Brasil. c) um fracasso, já que todas as capitanias não se desenvol- veram, causando prejuízo à Coroa Portuguesa. d) um estímulo para extração de metais preciosos na Amé- rica portuguesa desde o início do século 16. 02.06. (MACK – SP) – As diversas etapas político-adminis- trativas do Período Colonial brasileiro são marcadas a) pelo prestígio das Câmaras Municipais, em que se ma- nifestava o poder político dos grandes proprietários de terras locais. b) pela seleção dos altos cargos da hierarquia administrativa e eclesiástica entre os naturais da Colônia. c) pela progressiva autonomia da Colônia, principalmente após a elevação a Vice-Reinado em 1720. d) pelo incentivo à ocupação de terras no interior no país e pela catequese dos povos indígenas pelos jesuítas. e) pela superposição do poder dos representantes eclesiás- ticos sobre o poder dos donatários, evidenciando o forte caráter religioso da nossa colonização. 02.07. (FAMERP – SP) – A Bahia é cidade d’El-Rei, e a corte do Brasil; nela residem os Srs. Bispo, Governador, Ouvidor-Geral, com outros oficiais e justiça de Sua Majestade; [...]. É terra farta de mantimentos, carnes de vaca, porco, galinha, ovelhas, e outras criações; tem 36 engenhos, neles se faz o melhor açúcar de toda a costa; [...] terá a cidade com seu termo passante de três mil vizinhos Portugueses, oito mil Índios cristãos, e três ou quatro mil escravos da Guiné. (Fernão Cardim. Tratados da terra e gente do Brasil, 1997.) O padre Fernão Cardim foi testemunha da colonização portuguesa do Brasil de 1583 a 1601. O excerto faz uma descrição de Salvador, sede do Governo-Geral, referindo-se, entre outros aspectos, à a) incorporação pelos colonizadores dos padrões culturais indígenas. b) ligação da atividade produtiva local com o comércio internacional. c) miscigenação crescente dos grupos étnicos presentes na cidade. d) existência luxuosa da nobreza portuguesa na capital da colônia. e) dependência da população em relação à importação de produtos de sobrevivência. 02.08. Em 1530, o governo português decide iniciar o processo de colonização das terras encontradas pela expedição de Pedro Álvares Cabral 30 anos antes, motivado, entre outras coisas, pela: a) descoberta de ouro na região das Minas Gerais pelos bandeirantes paulistas. b) ameaça de perda das terras para os ingleses, que esta- beleciam bases colonizadoras em várias partes do litoral americano. c) crise do comércio português com as Índias Orientais, ocasionada pela concorrência dos comerciantes de outras nacionalidades. d) falência das manufaturas têxteis lusitanas, incapazes de concorrer com os produtos ingleses após a assinatura do Tratado de Methuen. e) extinção do extrativismo do pau-brasil, em decorrência das dificuldades dos comerciantes portugueses em esta- belecer relações de troca com os indígenas. 02.09. (UFF – RJ) – A “Carta de Pero Vaz de Caminha”, escrita em 1500, é considerada como um dos documentos funda- dores da Terra Brasilis e reflete, em seu texto, valores gerais da cultura renascentista, dentre os quais destaca-se: a) a visão do índio como pertencente ao universo não religio- so, tendo em conta sua antropofagia; b) a informação sobre os preconceitos desenvolvidos pelo renascimento no que tange à impossibilidade de se formar nos trópicos uma civilização católica e moderna; c) a identificação do Novo Mundo como uma área de insucesso devido à elevada temperatura que nada deixaria produzir; d) a observação da natureza e do homem do Novo Mundo como resultado da experiência da nova visão de homem, característica do século XV; e) a consideração da natureza e do homem como inferiores ao que foi projetado por Deus na Gênese. 02.10. (UNESP – SP) - Leia o texto para responder à questão. [Os tupinambás]têm muita graça quando falam [...]; mas faltam-lhe três letras das do ABC, que são F, L, R grande ou dobrado, coisa muito para se notar; porque, se não têm F, é porque não têm fé em nenhuma coisa 16 Extensivo Terceirão que adoram; nem os nascidos entre os cristãos e dou- trinados pelos padres da Companhia têm fé em Deus Nosso Senhor, nem têm verdade, nem lealdade a ne- nhuma pessoa que lhes faça bem. E se não têm L na sua pronunciação, é porque não têm lei alguma que guar- dar, nem preceitos para se governarem; e cada um faz lei a seu modo, e ao som da sua vontade; sem haver entre eles leis com que se governem, nem têm leis uns com os outros. E se não têm esta letra R na sua pronunciação, é porque não têm rei que os reja, e a quem obedeçam, nem obedecem a ninguém, nem ao pai o filho, nem o filho ao pai, e cada um vive ao som da sua vontade [...]. (Gabriel Soares de Souza. Tratado descritivo do Brasil em 1587, 1987.) Os comentários de Gabriel Soares de Souza expõem a) a dificuldade dos colonizadores de reconhecer as pecu- liaridades das sociedades nativas. b) o desejo que os nativos sentiam de receber orientações políticas e religiosas dos colonizadores. c) a inferioridade da cultura e dos valores dos portugueses em relação aos dos tupinambás. d) a ausência de grupos sedentários nas Américas e a missão civilizadora dos portugueses. e) o interesse e a disposição dos europeus de aceitar as características culturais dos tupinambás. Aprofundamento 02.11. São aspectos que marcaram o Sistema de Capitanias Hereditárias, EXCETO: a) O sistema de Capitanias Hereditárias revelou-se um fracas- so. Alguns donatários nem vieram ao Brasil, e poucas pros- peraram como ocorreu com Pernambuco e São Vicente. b) O rei regulamentava a doação das Capitanias, os privilé- gios e deveres de cada donatário por meio da Carta de Doação, editada junto com o Foral. c) Seria montado com recursos públicos e não tinha a preocu- pação de garantir a soberania portuguesa sobre o território. d) O território pertencente a Portugal, de acordo com o Trata- do de Tordesilhas, foi dividido em 15 lotes perpendiculares à costa, com áreas desiguais. e) Os donatários tinham a responsabilidade de arrecadar os principais tributos destinados à Coroa, entre eles 20% sobre os lucros obtidos com o pau-brasil. 02.12. (IFBA) – De 1500 a 1822, o Brasil foi uma das colônias portuguesas. Umas das primeiras tentativas de colonização do território foi a implantação das Capitanias Hereditárias, sobre as quais se pode afirmar que: a) todas as Capitanias fracassaram devido às poucas verbas oferecidas pela Coroa Portuguesa. b) as Capitanias Hereditárias não obtiveram sucesso econô- mico devido às rebeliões indígenas que reivindicaram a posse da terra. c) as Capitanias de Pernambuco e de São Vicente tiveram êxito, porque os seus respectivos Capitães Donatários não aceitaram as condições impostas pela Coroa Portuguesa. d) o gigantismo territorial, poucos recursos financeiros e altos tributos a serem pagos à Coroa Portuguesa foram alguns dos motivos que contribuíram para que as Capitanias Hereditárias não prosperassem. e) a Carta Foral e a Carta de Doação davam amplos poderes aos Capitães Donatários, sendo este um dos motivos que fizeram com que as Capitanias não tivessem o sucesso econômico esperado pela Coroa Portuguesa. 02.13. (IFBA) – No processo de colonização, os capitães donatários tinham alguns direitos oferecidos pela coroa por- tuguesa: podiam escravizar e vender até 24 índios por ano, direito sobre a morte de escravos, gentios e homens livres de menor qualidade. Podiam, em alguns casos, deportar (degre- do) colonos sem apelação ao rei. O senhor donatário, como grande proprietário de terras (latifundiário), podia também ceder pedaços de terra para outros colonos desenvolverem plantações e podiam ainda deter o comando militar e o direito de alistar colonos e formar milícias. Com base no texto, assinale a alternativa correta. a) Esse texto revela que o Rei em nada mandava na adminis- tração colonial portuguesa. Os verdadeiros governantes eram os capitães donatários. b) Os capitães donatários eram homens da pequena fidal- guia portuguesa ou mesmo da nascente burguesia. Eram homens ávidos por lucros e por subir na vida. Por isso o sistema de capitania hereditária falhou, afinal eles não se preocuparam com o sistema como um todo, mas com seu próprio enriquecimento, deixando de lado as tarefas de representantes da coroa. c) Os capitães donatários tinham tarefas voltadas para a segurança interna (contra os indígenas não submetidos) e externa da colônia (contra invasores europeus); mo- nopolizavam o controle da terra, o que produzia uma distribuição de acesso à terra desigual; e eram os respon- sáveis pela organização da produção das matérias-primas brasileiras, voltadas para a exportação. d) As violências acima descritas inviabilizaram a continui- dade das capitanias, já que as pessoas não queriam se subordinar a indivíduos com tamanho poder. e) O fato de poderem conceder terras para outros sesmei- ros gerou uma política de acesso à terra que beneficiou portugueses pobres que habitavam o Brasil. 02.14. (UDESC) – Analise as proposições sobre a adminis- tração colonial na América portuguesa, e assinale (V) para verdadeira e (F) para falsa. ( ) Com o objetivo de diminuir as dificuldades na adminis- tração das capitanias, D. João III implantou, na América portuguesa, um Governo-Geral que deveria ser capaz de restabelecer a autoridade da Corte portuguesa nos domínios coloniais, centralizar as decisões e a política colonial. ( ) A Capitania de São Vicente foi escolhida pela Coroa Portuguesa para ser a sede do Governo, pois estava lo- calizada em um ponto estratégico do território colonial português. Foi nesta Capitania que se implementaram Aula 02 17História 1C as novas políticas administrativas da Coroa com a ins- talação do Governo-Geral. ( ) Tomé de Souza foi o responsável por instalar o primeiro Governo- Geral. Trouxe com ele soldados, colonos, bu- rocratas, jesuítas, e deu início à construção da primeira capital do Brasil: Rio de Janeiro. ( ) A criação e instalação do Governo-Geral na América portuguesa foi uma alternativa encontrada pela Coroa Portuguesa para organizar e ocupar a colônia, que en- frentava dificuldades, dentre elas os constantes confli- tos com os indígenas e os resultados insatisfatórios de algumas capitanias. Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo: a) ( ) V – F – F – V c) ( ) V – V – F – F e) ( ) F – V – V – F b) ( ) V – F – V – F d) ( ) F – V – F – V 02.15. (UNESP – SP) – Na colônia, a justiça era exercida por toda uma gama de funcionários a serviço do rei. A violência, a coerção e a arbitrariedade foram suas principais características. [...] Nas regiões em que a presença da Coroa era mais distante, os grandes pro- prietários de terras exerciam considerável autoridade administrativa e judicial. No sertão, os potentados impunham seus interesses à população livre. (Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação, 2008.) Ao analisar o aparato judiciário no Brasil Colonial, o texto a) identifica a isonomia e a impessoalidade na administração da justiça e seu embasamento no direito romano. b) explicita a burocratização do sistema jurídico nacional e reconhece sua eficácia no controle interno. c) indica o descompasso entre as determinações da Coroa portuguesa e os interesses pessoais dos governadores-gerais. d) distingue o sistema oficial da dinâmica local e atesta o prevalecimento de ações autoritárias em ambas. e) diferencia as funções do Poder Judiciário e do Poder Executivo e caracteriza a ação autônoma e independente de ambos. 02.16. (PUCSP) – “ Entre todos os moradores e povoadores uns fazem engenhos de açúcar porque são poderosos para isso, outroscanaviais, outros algodoais, outros mantimen- tos, que é a principal e mais necessária cousa para a terra, outros usam de pescar, que também é muito necessário para a terra, outros usam de navios que andam buscando mantimentos e tratando pela terra conforme ao regimento que tenho posto, outros são mestres de engenhos, outros mestres de açúcares, carpinteiros, ferreiros, oleiros e ofi- ciais de fôrmas e sinos para os açúcares e outros oficiais que ando trabalhando e gastando o meu por adquirir para a terra, e os mando buscar em Portugal, na Galiza e nas Canárias às minhas custas, além de alguns que os que vêm fazer os engenhos trazem, e aqui moram e povoam, uns solteiros e outros casados, e outros que cada dia caso e trabalho por casar na terra.” Gonsalves de Mello e Albuquerque. Cartas de Duarte Coelho a El Rei. Recife: Funda- ção Joaquim Nabuco, 1997, p. 114. A carta, enviada pelo donatário de Pernambuco ao rei de Portugal em 1549, mostra que os a) colonos exerciam diversas atividades produtivas no Brasil colonial, o que gerava a presença de muitos trabalhadores livres sob a ordem escravocrata. b) escravos desempenhavam todas as atividades produtivas no Brasil colonial, o que permitia aos colonos portugueses o desfrute do ócio e o enriquecimento rápido. c) senhores de engenho controlavam todas as relações de trabalho e de produção no Brasil colonial, o que impedia que a Corte portuguesa lucrasse efetivamente com a empresa colonizadora. d) nobres portugueses eram os donatários das principais capitanias no Brasil colonial, o que limitava a ascensão social dos escravos alforriados. 02.17. (UEPG – PR) – As capitanias hereditárias foram ins- taladas no Brasil em 1534. Lotes que mediam entre 150 e 600 quilômetros de terras e que iam do litoral brasileiro até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, as capitanias corresponderam às primeiras divisões administrativas na colônia e marcaram o modelo de colonização lusitano ao longo do século XVI. A respeito desse tema, assinale o que for correto. 01) O donatário, ou seja, aquele que recebia a posse da terra das mãos do rei de Portugal, tinha a obrigação de torná-la produtiva. Cabia ao donatário a doação de terras (sesmarias), a fundação de vilas e a organização da defesa territorial da capitania. 02) O meridiano de Tordesilhas, linha imaginária que cortava a América de norte a sul, tinha como função delimitar os espaços continentais vinculados à coloni- zação ibérica, inglesa e francesa sobre esse território. 04) Cartas de doação eram os documentos cartográficos que indicavam o tamanho e os limites das capitanias de acordo com a concessão real aos donatários. 08) Qualquer súdito português que demonstrasse inte- resse em vir para a colônia poderia receber a conces- são de uma capitania. Isso explica o fato de fidalgos, pequenos comerciantes e até mesmo trabalhadores despossuídos terem se tornado donatários no Brasil do século XVI. 02.18. (UEM – PR) – A partir de 1534, a Coroa Portuguesa adotou o sistema de capitanias hereditárias ou de donata- rias para viabilizar a colonização do Brasil. Sobre a divisão do território colonial brasileiro em capitanias, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01) O sistema de capitanias hereditárias se caracterizava pela doação de extensas faixas de terra a capitães- -donatários, regulamentada pelas Cartas de Doação e Forais. 02) O donatário deveria colonizar a capitania, fundar vilas e proteger a terra e seus colonos contra os ataques de nativos e de estrangeiros. 04) Os forais estabeleciam os direitos e os deveres dos do- natários em relação à exploração da terra, que recebiam não como proprietários, mas como administradores. 18 Extensivo Terceirão 08) As capitanias hereditárias que mais prosperaram foram a de Santana, localizada ao sul do território brasileiro, e a do Mara- nhão, situada na parte setentrio- nal da colônia. 16) O sistema de capitanias hereditá- rias foi adotado primeiramente na América Portuguesa e só depois implantado por Portugal em suas colônias das ilhas do Atlântico. Desafio 02.19. (FUVEST – SP) – A socie- dade colonial brasileira “herdou concepções clássicas e medie- vais de organização e hierarquia, mas acrescentou-lhe sistemas de graduação que se originaram da diferenciação das ocupações, raça, cor e condição social. (...) as dis- tinções essenciais entre fidalgos e plebeus tenderam a nivelar-se, pois o mar de indígenas que cer- cava os colonizadores portugueses tornava todo europeu, de fato, um gentil-homem em potencial. A disponibilidade de índios como escravos ou trabalhadores possi- bilitava aos imigrantes concretizar seus sonhos de nobreza. (...) Com índios, podia desfrutar de uma vida verdadeiramente nobre. O gentio transformou-se em um substituto do campesinato, um novo estado, que permitiu uma reorganização de categorias tradicionais. Contu- do, o fato de serem aborígines e, mais tarde, os africanos, diferentes étnica, religiosa e fenotipicamente dos europeus, criou oportunidades para novas distinções e hierarquia baseadas na cultura e na cor.” Stuart B. Schawartz, Segredos internos. A partir do texto, pode-se concluir que: a) a diferenciação clássica e medieval entre clero, nobreza e campesinato, existente na Europa, foi transferida para o Brasil por intermédio de Portugal e se constituiu no elemento fundamental da sociedade brasileira colonial. b) a presença de índios e negros na sociedade brasileira levou ao surgimento de instituições como a escravidão, completamente desconhecida da sociedade europeia nos séculos XV e XVI. c) os índios do Brasil, por serem em pequena quantidade e terem sido facilmente dominados, não tiveram nenhum tipo de influência sobre a constituição da sociedade colonial. d) a diferenciação de raças, culturas e condições social entre brancos e índios, brancos e negros tendeu a diluir a distinção clássica e medieval entre fidalgos e plebeus europeus na sociedade. e) a existência de uma realidade diferente do Brasil, como a escravidão em larga escala de negros, não alterou em nenhum aspecto as concepções medievais dos portugueses durante os séculos XVI e XVII. 02.20. (UNICAMP – SP) – O termo ‘feitor’ foi utilizado em Portugal e no Brasil colonial para designar diversas ocupações. Na época da expansão maríti- ma portuguesa, as feitorias espalhadas pela costa africana e, depois, pelas Índias e pelo Brasil tinham feitores na direção dos entrepostos com função mercantil, militar, diplomática. No Brasil, porém, o sistema de feitorias teve menor significado do que nas outras conquistas, ficando o termo ‘feitor’ muito associado à administração de empresas agrícolas. Adaptado de Ronaldo Vainfas (org.), Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2000, p. 222. a) Indique características do sistema de feitorias empreendido por Portugal. b) Qual a produção agrícola predominante no Brasil entre os séculos XVI e XVII? Quais as funções desempenhadas pelo feitor nessas empresas agrícolas? Gabarito 02.01. d 02.02. c 02.03. b 02.04. c 02.05. b 02.06. a 02.07. b 02.08. c 02.09. d 02.10. a 02.11. c 02.12. d 02.13. c 02.14. a 02.15. d 02.16. a 02.17. 05 (01 + 04) 02.18. 07 (01 + 02 + 04) 02.19. d 02.20. a) Uma observação atenta ao texto fornece dados ao aluno sobre as características do sistema de feitorias por dois caminhos: primeiramente, a questão da localização geográfica – espalhadas no litoral, como entrepostos portugueses localizados na costa africana, no Oriente e no Brasil. As outras característi- cas referiam-se às funções das feitorias: elas eram decisivas no período da expansão marítima portuguesa por seu papel na administração mercantil (fun- ção comercial, de troca de produtos), militar (bases para as embarcações portuguesas) e diplomática (presença do modelo expansionista português). b) No Brasil, os feitores associaram-se à administração de empresas agrícolas, nasquais a cana-de-açúcar era o principal produto e exerciam diversas funções, mas todas elas restritas à tarefa de administração do engenho. Eles eram os responsáveis pela organização da produção, do trabalho, como o castigo e punição de escravos, pela caça ao escravo fugido pela defesa em geral da unidade produtiva. 19História 1C 1B1C História Aula 03 Economia açucareira Sentido da colonização O único objetivo dos portugueses na colonização das terras brasileiras era acumular riquezas, concreti- zando os fins mercantilistas desejados pela burguesia e pela monarquia de Portugal, os quais foram viabili- zados por uma política protecionista e pela adoção de mecanismos que garantissem uma balança comercial favorável. Os papéis exercidos pela Colônia, portanto, eram fornecer gêneros e matérias-primas para a Me- trópole e absorver parte da produção metropolitana. Em uma política que exigia obtenção de uma balança comercial favorável. Alguém deveria ter uma balança comercial desfavorável! Essa relação de dominação foi expressa pelo Pacto Colonial, por meio do qual a Colônia se obrigava a ven- der somente para a Metrópole e comprar unicamente dela. Dessa forma, Portugal poderia pagar o que imagi- nasse e cobrar o que achasse conveniente. Matéria-prima Colônia Exclusivo Comercial Metrópole Manufaturados Pacto Colonial • O açúcar era adaptável às condições climáticas e territoriais do Brasil. • Já era produzido por Portugal desde antes dos descobrimentos nas suas ilhas do Atlântico. • Associação entre Portugal e Holanda, que finan- ciou os altos custos de instalação, além de con- tribuir no transporte, refino e comercialização do produto na Europa. • Era uma especiaria largamente procurada na Eu- ropa, onde era vendida com consideráveis lucros. DEBRET, Jean-Baptiste. Engenho Manual que faz caldo de cana. 1822. 1 aquarela sobre papel, color.; 17,6 cm x 24,5 cm. Museu Castro Maya, Rio de Janeiro Moenda de açúcar Estrutura da produção açucareira De um modo geral, houve certa uniformidade na estru- tura de produção do açúcar, que pode ser assim resumida: Nossas terras, portanto, exerceram, durante o Período Colonial, esta função: serem exploradas. Deveria a Colônia prover a Metrópole de recur- sos e auxiliá-la a acumular capitais. As opções de produção, mão de obra, estrutura da terra deveram-se a essa condição inicial de Colônia de exploração. Solução açucareira A opção pelo açúcar como produto-chave para o desenvolvimento da Colônia – ou pelo menos de parte dela – deveu-se fundamentalmente a quatro aspectos: • Latifúndio: muito lucro exigia produção em larga escala. Como havia muita terra, por que não apro- veitá-la? Além disso, a grande extensão de terras também visava a controlar a produção, evitando o investimento em produtos que não interessavam a Portugal. • Monocultura: se era o açúcar a especiaria dese- jada na Europa e, portanto, o produto que faria da Colônia um investimento lucrativo, por que produzir outra coisa? Além disso, a produção de açúcar em larga escala impedia a diversificação econômica, ampliando a dependência dos colo- nos dos produtos portugueses. 20 Extensivo Terceirão A estrutura da produção descrita denominou-se plantation e destinou-se a complementar a economia portuguesa. Colônia Metrópole Consumo latifúndio m on oc ult ura trabalho escra vo Mundo do açúcar O engenho, expressão inicialmente referente ao ma- quinário necessário para a produção do açúcar, acabou por designar todo o complexo que se tornou o coração da Colônia nos seus dois primeiros séculos de existência. Funcionava como os nossos atuais centros, concentran- do população e atividades econômicas e sociais. Os engenhos localizavam-se geralmente próximos aos rios, para aproveitar a força motriz das águas e tam- bém para facilitar o escoamento da produção. RUGENDAS, Johann Moritz. Moinho de açúcar. Século XIX. 1 litografia, color.; 19,9 cm x 28,2 cm. Casa litográfica: Engelmann, Paris. Viagem Pitoresca através do Brasil. Engenho Três outros prédios completavam a paisagem edifi- cada: a casa-grande, morada do senhor e familiares; a senzala, cabanas enfileiradas como um grande galpão onde, em cada unidade, habitava uma família ou grupo de homens ou mulheres, e a capela, que funcionava como ponto de encontro para as abundantes festivi- dades existentes na época. Também faziam parte do engenho o curral, o canavial e a reserva florestal que fornecia lenha para as caldeiras. 1. Casa-grande 2. Senzala 3. Casa de engenho (moenda) 4. Capela 5. Casas de empregados 6. Canavial (partidos de livres cana) 7. Curral 8. Reserva florestal 9. Roças de subsistência (alimentos) 10. Rio 6 1 2 7 3 8 24km 6 66 8 4 5 8 9 10 9 9 21 km • Mão de obra compulsória: a intenção de maxi- mizar os lucros e limitar o número de proprietários foi a razão para utilização da mão de obra escra- va. Foram escravizados os ameríndios e trazidos os negros africanos, que acabaram por compor a mão de obra predominante na economia açuca- reira. Além da exploração da força de trabalho, os portugueses lucravam com o tráfico dos negros para o Brasil. O negro chegava ao Brasil, depois de adquirido na África, pela prática do escambo com os chefes dos grupos tribais: em troca de quinqui- lharias, negros capturados de outras tribos eram entregues aos brancos. Os traficantes também, muitas vezes, incendiavam aldeias africanas, apri- sionando tantos negros quanto pudessem. Trazi- da em navios denominados de tumbeiros, cerca de 40% da “carga” perecia. Mesmo assim, os lucros com esse “negócio” eram muito vantajosos. Fabrico do açúcar A produção do açúcar era um complexo que se ini- ciava com a limpeza e preparação da cana para a mo- agem. As moendas funcionavam vinte horas por dia, parando apenas para a limpeza. Muitos escravos tra- balhavam dois turnos, em um ritmo que muitas vezes durava de oito a nove meses. A garapa resultante da moagem era fervida, dando origem ao melaço, que era depositado em formas de cerâmicas para evapo- rar e clarificar. As formas cheias iam para as casas de purgar, nas quais se deixava o líquido endu- recer por duas semanas. Durante 40 dias, fazia- -se o branqueamento do açúcar, por meio de constantes lavagens. Finalmente, procedia- -se à última secagem, quebrando o açúcar em pequenos torrões, ao encaixotamento e envio para Portugal. Existiam também engenhos – chamados trapi- ches – cuja tração era feita por animais. D iv an zi r P ad ilh a. 2 00 1. D ig ita l. N ils on M ul le r. 20 08 . D ig ita l. Outra função exercida pelos senhores de enge- nho era controlar as Câmaras Municipais, responsá- veis pelo exercício do poder local, com atribuições que iam da cobrança de impostos até a construção de estradas. Aula 03 21História 1C No final do século XVI, estima-se em cerca de 500 mil arrobas (cada arroba equivale a 15 quilos) a quantidade de açúcar produzida na Colônia. Apesar da expressão monocultura do açúcar, é evi- dente que outras atividades foram desenvolvidas no engenho, dando sustentação à produção açucareira: • Pecuária: o gado serviu como fonte de ali- mento, vestuário e força motriz. • Algodão: base da produção das roupas dos es- cravos. • Mandioca: alimento essencial para a subsistên- cia do engenho, particularmente dos escravos. • Fumo e Aguardente: produtos de baixo va- lor de produção, funcionaram como “moeda” no tráfico negreiro. Sociedade açucareira A sociedade açucareira era rural, estratificada e patriarcal. No alto da pirâmide, encontrava-se o senhor de engenho e sua família; logo abaixo, os funcionários graduados, os clérigos, os mercadores, os lavradores e trabalhadores livres. Por último, os escravos, que consti- tuíam a maior parte da população. Os negros escravos eram “os pés e as mãos do senhor de engenho”. Vida no engenho A vida das lavouras, produzir e vender o açúcar, ocupava a maior parte do tempo do senhorde engenho. Além disso, a aquisição dos escravos, a manutenção da família e as responsabilidades sociais – casamentos, velórios, festas religiosas – tornavam o dia a dia de um proprietário rural bastante atribulado. Havia nos engenhos uma considerável gama de homens livres, como os lavradores que, sem recursos suficientes para produzir açúcar ou mesmo adquirir propriedades, alugavam terras e produziam cana para ser processada por determinado engenho. Também podemos citar pedreiros, carpinteiros e especialistas na produção do açúcar, que chegavam a consumir até 25% da receita do engenho. Por fim, existiam comerciantes, traficantes de escravos, funcionários da Coroa e religiosos que, somados aos mestiços, forros, mendigos e prostitutas, dão uma ideia mais precisa dos homens livres que compunham o universo da sociedade açucareira. A situação do escravo era muito difícil. Alimen- tava-se pouco e exercia jornadas de trabalho ex- tenuantes. A senzala era infecta, escura e úmida. Não havia mobiliário e os negros dormiam em palhas ou diretamente no chão de terra batida. As vestimentas constituíam-se de verdadeiros far- rapos. As revoltas, fugas e suicídios eram muito frequentes. Existiu um ciclo açucareiro? A economia do açúcar, iniciada em meados do século XVI, nunca deixou de existir. Assim, não se pode falar em um começo, meio e fim da produção açucareira, mas, sim, delinear um período em que esse produto foi a mais importante fonte de lucro para a Metrópole, ou seja, do século XVI até a segunda metade do século XVII, quando, com a expulsão dos holandeses, o comércio do açúcar nordestino come- çou a declinar no mercado europeu. A partir de então, houve uma estagnação na região e, com a descoberta das jazidas de ouro nas Minas Gerais, deslocou-se o polo econômico e político para o Centro-Sul. Era o declínio de uma “doce” era. N ils on M ul le r. 20 08 . D ig ita l. 22 Extensivo Terceirão Assimilação 03.01. (UTFPR) – Se as especiarias dominaram o comércio marítimo português durante o século XV, um século depois esse papel foi ocupado, no Brasil, pela produção açucareira, que abrangia a lavoura de cana propriamente dita e a fabricação do açúcar nos engenhos. Muitos historiadores denominam essa economia de plantation, expressão emprestada dos ingleses para indicar as lavouras tropicais. Assinale a alternativa que apresenta os três elementos nos quais esse tipo de produção se fundamentava. a) Latifúndio, monocultura e mão de obra escrava. b) Latifúndio, policultura e mão de obra escrava. c) Latifúndio, monocultura e mão de obra livre. d) Minifúndio, monocultura e mão de obra escrava. e) Minifúndio, policultura e mão de obra livre. 03.02. Observe a figura abaixo e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a relação comercial praticada entre a Metrópole portuguesa e a sua colônia brasileira. Gêneros Tropicais Matérias-Primas Monopólio Manufaturados Colônia Mertrópole a) Acordo Monopolista. c) Acordo Real. e) Pacto Geral. b) Pacto Colonial. d) Pacto Continental. 03.03. (UDESC) – A exploração do trabalho é uma caracterís- tica marcante do processo colonizador no Brasil. Nos primeiros 30 anos, os interesses da coroa voltavam-se, principalmente, à extração do pau-brasil, produto existente em quase todo o litoral brasileiro. E a extração era feita com o objetivo evidente de abastecer o mercado europeu. Assinale a alternativa que explicita o principal recurso utilizado para a aquisição dessa matéria prima. a) Exploração do trabalho indígena. b) Exploração escravocrata de negros trazidos de diferentes regiões da África. c) Pagamento da corveia, conforme os códigos que funda- mentavam as relações de servidão. d) Aquisição de maquinários adquiridos da Inglaterra durante a primeira fase da Revolução industrial. e) Nomeação dos criollos que vendiam o pau-brasil por preços abaixo do mercado europeu. 03.04. (UNEMAT – MT) – Uma das características do período brasileiro se refere ao denominado “exclusivo” colonial. Sobre o tema, assinale a alternativa correta. a) Apesar do controle exercido pela metrópole portuguesa, a colônia brasileira estava liberada para comercializar com outras nações. b) As concepções que regulavam as normas do “exclusivo” colonial foram criadas segundo os preceitos da revolução industrial. c) A regra básica, que regia o “exclusivo” colonial, era permitir que navios estrangeiros transportassem produtos da co- lônia brasileira desde que pagassem os devidos impostos. d) Um dos princípios básicos, que regiam as relações comer- ciais definidas pelo “exclusivo”, era obter maior lucro possível com a revenda dos produtos da colônia e, ao mesmo tempo, lucrar com a venda de produtos da metrópole, sem concorrência na Colônia. e) O “exclusivo” colonial funcionou de maneira eficaz e, com isto, pode evitar todas as formas de desvio, inclusive o con- trabando, reflexo da capacidade de Portugal monopolizar seu comércio colonial. Aperfeiçoamento 03.05. (PUCCAMP – SP) – Do Brasil descoberto esperavam os portugueses a fortuna fácil de uma nova Índia. Mas o pau-brasil, única riqueza brasileira de simples extração antes da “corrida do ouro” do início do século XVIII, nunca se pôde comparar aos preciosos produtos do Oriente. (...) O Brasil dos primeiros tempos foi o objeto dessa avidez colonial. A literatura que lhe corresponde é, por isso, de natureza parcialmente superlativa. Seu protótipo é a carta célebre de Pero Vaz de Caminha, o primeiro a enaltecer a maravilhosa fertilidade do solo. (MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides − Breve história da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 3-4) A colonização portuguesa, no século XVI, se valeu de algu- mas estratégias para usufruir dos produtos economicamente rentáveis no território brasileiro, e de medidas para viabilizar a ocupação e administração do mesmo. São exemplos dessas estratégias e dessas medidas, respectivamente, a) a prática do escambo com os indígenas e a instituição de vice-reinos, comarcas, vilas e freguesias. b) a implementação do sistema de plantation no interior e a construção, por ordem da Coroa, de extensas fortalezas e fortes. c) a imposição de um vultoso pedágio aos navios corsários de distintas procedências e a instalação de capitanias hereditárias. d) a introdução da cultura da cana-de-açúcar com uso de trabalho compulsório e a instituição de um governo geral. e) o comércio da produção das missões jesuíticas e a fundação da Companhia das Índias Ocidentais. Testes Aula 03 23História 1C 03.06. (ESPM – SP) – A primeira vez que se mencionou o açúcar e a intenção de implantar uma produção desse gênero no Brasil foi em 1516, quando o rei D. Manuel ordenou que se distribuíssem machados, enxadas e de- mais ferramentas às pessoas que fossem povoar o Brasil e que se procurasse um homem prático e capaz de ali dar princípio a um engenho de açúcar. Os primeiros engenhos começaram a funcionar em Pernambuco no ano de 1535, sob a direção de Duarte Coelho. A partir daí os registros não parariam de cres- cer: quatro estabelecimentos em 1550; trinta em 1570, e 140 no fim do século XVI. A produção de cana alas- trava-se não só numericamente como espacialmente, chegando à Paraíba, ao Rio Grande do Norte, à Bahia e até mesmo ao Pará. Mas foi em Pernambuco e na Bahia, sobretudo na região do recôncavo baiano, que a economia açucareira de fato prosperou. Tiveram início, então, os anos dourados do Brasil da cana, a produção alcançando 350 mil arrobas no final do século XVI. (Lilia M. Schwarcz. Brasil: uma Biografia) A partir do texto e considerando a economia açucareira e a civilização do açúcar, é correto assinalar: a) a cana de açúcar era um produto autóctone, ou seja, nativo do Brasil e gradativamente foi caindo no gosto dos portu- gueses e dos europeus, a partir do século XVI; b) a produção e comercialização do açúcar ocorreramsob a influência do livre-cambismo em que se baseou o empre- endimento colonial português; c) a metrópole estabeleceu o monopólio real, porém a co- mercialização do açúcar passou para os porões dos navios holandeses, que acabaram por assumir parte substancial do tráfego entre Brasil e Europa; d) os portugueses mantiveram um rigoroso monopólio sobre o processo de produção e refinação do açúcar, só permi- tindo a participação de estrangeiros na comercialização do produto; e) para implantação da indústria canavieira no Brasil, o projeto colonizador luso precisava contar com mão de obra com- pulsória e abundante, dada a extensão do território e por isso sempre privilegiou a utilização dos nativos, cuja captura proporcionava grandes lucros para a coroa. 03.07. (UEL – PR) – Em relação à sociedade colonial brasileira, é correto dizer que: a) a estrutura agrária baseada na pequena propriedade da terra impedia a estratificação. b) o conjunto das camadas sociais caracteriza-se por expres- siva mobilidade social. c) a escravidão foi um principio básico da estratificação social, tendo-se pouca mobilidade social. d) o casamento entre pessoas de nacionalidades diferentes era proibido para preservar o poder lusitano na estratifi- cação social. e) o desenvolvimento da economia agrícola possibilitou o aumento das atividades urbanas e a formação de restritas camadas sociais. 03.08. (FUVEST – SP) – É assim extremamente simples a estrutura social da colônia no primeiro século e meio de colonização. Reduz-se em suma a duas classes: de um lado os proprietários rurais, a classe abastada dos senhores de engenho e fazenda; doutro, a massa da população espúria dos trabalhadores do campo, es- cravos e semilivres. Da simplicidade da infraestrutura econômica – a terra, única força produtiva, absorvida pela grande exploração agrícola – deriva a da estrutura social: a reduzida classe de proprietários e a grande massa, explorada oprimida. Há naturalmente no seio desta massa gradações, que assinalamos. Mas, elas não são contudo bastante profundas para se caracterizarem em situações radicalmente distintas. Caio Prado Jr. Evolução política do Brasil. 20ª Ed. São Paulo: Brasilense, p. 28-29, 1993. Neste trecho, o autor observa que, na sociedade colonial, a) só havia duas classes conhecidas, e que nada é sabido sobre indivíduos que porventura fizessem parte de outras. b) Havia muitas classes diferentes, mas só duas estavam diretamente ligadas a critérios econômicos. c) Todos os membros das classes existentes queriam se transformar em proprietários rurais, exceto os pequenos trabalhadores livres, semilivres ou escravos. d) Diversas classes radicalmente distintas umas das outras compunham um cenário complexo, marcado por conflitos sociais. e) a população se organizava em duas classes, cujas grada- ções internas não alteravam a simplicidade da estrutura social. 03.09. (UFPR) – História do Brasil, nos três primeiros séculos, está intimamente ligada à da expansão comercial e colonial europeia na época Moderna. Parte integrante do Império ul- tramarino português, o Brasil colônia refletiu, em todo o largo período de formação colonial, os problemas e os mecanismos de conjunto que agitavam a política imperial lusitana. Julgue os itens abaixo: ( ) A colonização por meio da agricultura tropical aparece como solução através da qual se tornou possível valori- zar economicamente as terras descobertas. ( ) Sociedade colonial brasileira foi estruturada no latifún- dio, na escravidão e na monocultura. ( ) Objetivando a implantação da cultura canavieira e a pro- dução de açúcar para o mercado europeu, iniciam-se no Brasil as cessões territoriais. ( ) O monopólio comercial das colônias pela Metrópole define o sistema colonial porque é através dele que as colônias preenchem sua função histórica. ( ) A colonização agrícola do Brasil não se inicia dentro da estrutura monopolista do sistema colonial. 03.10. (UCS – RS) – Considere as seguintes afirmativas sobre o Período Colonial brasileiro. I. Os núcleos de povoamento, depois transformados em cidades, desde a expedição de Martim Afonso de Souza, em 1531, tornaram-se valiosos instrumentos do sistema administrativo brasileiro. 24 Extensivo Terceirão II. Três características básicas se complementaram na explora- ção colonial do Brasil: economia voltada para o mercado externo, latifúndio e escravidão. III. A exploração econômica preferida pelos portugueses no Brasil foi a produção manufatureira, em função da abun- dância de matéria-prima. Das proposições acima, a) apenas I está correta. b) apenas II está correta. c) apenas I e II estão corretas. d) apenas II e III estão corretas. e) I, II e III estão corretas. Aprofundamento 03.11. (MACK – SP) – “ A grande lavoura açucareira na colônia brasileira ini- ciou-se com o uso extensivo da mão de obra indígena (...) Do ponto de vista dos portugueses, no período de escravidão indígena, o sistema de relações de trabalho era algo que fora pormenorizadamente elaborado. Tal período foi também aquele em que o contato entre os europeus e o gentio começou a criar categorias e defini- ções sociais e raciais que caracterizaram continuamente a experiência colonial.” (Schwartz, Stuart B. Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 2005, p. 57) Sobre o trabalho escravo durante o período colonial é correto afirmar que a) o uso da mão de obra indígena estendeu-se durante todo o período colonial. No primeiro momento, durante a extração do pau-brasil, os portugueses utilizavam o escambo. No segundo momento, a partir da produção canavieira, foi organizada a escravidão dos povos indígenas. b) desde o primeiro contato com os portugueses, os indígenas foram submetidos ao trabalho escravo. Seja na extração do pau-brasil seja na grande lavoura canavieira, o sistema escravista baseado na mão de obra nativa predominou diante de outras formas de trabalho. c) a partir da necessidade de mão de obra para a produção canavieira, os povos indígenas foram submetidos à escra- vidão. Porém, a partir da chegada dos primeiros grupos de africanos, a escravidão indígena foi paulatinamente abandonada até chegar ao fim em meados do século XVII. d) a escravidão indígena foi implantada durante o chamado Período Pré-colonial e tinha como objetivo usar o máximo de mão de obra para a extração do pau-brasil. Com a implantação da grande lavoura e a chegada dos africanos, a escravidão indígena perdeu força e foi abandonada no século XVIII. e) após utilizar o trabalho indígena com o escambo, os portugueses recorrem à sua escravização. Isso se deve à necessidade portuguesa de mão de obra para a grande lavoura e à indisposição indígena para o trabalho aos mol- des europeus. No século XVII, é substituída definitivamente pela escravidão africana. 03.12. (UFPR) – “Estado centralizado e sistema colonial conjugam-se para acelerar a acumulação de capital pela burguesia mercantil europeia.” NOVAIS, F, Brasil nos quadros do Antigo Sistema Colonial. In: Brasil em Perspectiva. A respeito do sistema mercantilista e do sistema colonial, é correto afirmar que: ( ) monopólio, balança comercial favorável e protecionismo constituíam as principais características do sistema mer- cantilista; ( ) a produção do açúcar brasileiro conseguiu se expandir graças à rede de distribuição do produto, organizada pela Holanda; ( ) a inserção do Brasil no sistema mercantilista permitiu que fossem estabelecidas diversas indústrias na Colônia; ( ) os engenhos de açúcar no Brasil também produziam ob- jetos e alimentos para o consumo próprio, garantindo au- tossustentação com referência a alguns produtos básicos; ( ) na vigência do sistema colonial, a descoberta do ouro nas Minas Gerais gerou modificações na economia brasileira,tornando-se o ouro seu principal produto no século XVIII. 03.13. (MACK – SP) – No Brasil do séculoXVI, a sociedade tinha, no engenho, o centro de sua organização. Assinale a alternativa que NÃO atesta a importância do enge- nho no período colonial. a) A grande propriedade era monocultora e também escravo- crata, voltada para o mercado externo, sendo a montagem da estrutura de produção açucareira, um empreendimento de alto custo. b) Os senhores de engenhos, por serem proprietários de terras e escravos, detinham o poder político e controlavam as Câmaras Municipais, sendo denominados de “homens bons”, estendendo tal poder para o interior de sua família. c) Alguns engenhos funcionavam como unidades de pro- dução autossuficientes, pois além de oficinas para reparos de suas instalações, produziam alimentos necessários à sobrevivência de seus moradores. d) No engenho também havia alguns tipos de trabalhadores assalariados, como o feitor, o mestre de açúcar, o capelão ou padre, que se sujeitavam ao poder e à influência do grande proprietário de terras. e) Os grandes engenhos contavam com toda a infraestrutura não apenas para atender às necessidades básicas de sobre- vivência, mas voltadas à atividade intelectual que tornava o engenho centro de discussões comerciais. 03.14. (PUCCAMP – SP) – Mais do que resultante de acasos e similares, como aconteceu a muitos países, o Brasil é produto de uma obra. Em sua primeira parte, feita à medida e semelhança do colonizador. Depois, Aula 03 25História 1C conduzida pela classe dominante dele herdeira, no melhor e sobretudo no pior da herança. O sistema aí nascente projetou-se na história como um processo sem interrupção, sem sequer solavancos. Escravocrata por tanto tempo, fez a abolição mais conveniente à classe dominante, não aos ex-escravizados. A Repú- blica trouxe recusas superficiais ao Império, ficando a expansão republicana do poder e dos direitos reduzida, no máximo, a farsas, a começar do método fraudador das “eleições a bico de pena”. FREITAS, Jânio de. Folha de S. Paulo, 30/04/2017. Sobre a obra colonizadora, a que o texto de Jânio de Freitas se refere, é correto afirmar que a a) opção pela implantação da economia açucareira, com base na grande propriedade rural e no trabalho escravo, articula-se com o mecanismo de dominação colonial e com a política mercantilista. b) colonização se estabelece dentro dos padrões de po- voamento e expansão religiosa, resultou da expansão marítima dos países da Europa e se constituiu numa sociedade de europeus sem miscigenação. c) exploração econômica da colônia, com base na produção de açúcar, pretendeu impor a reserva de mercado metro- politano por meio de um sistema de livre comércio que atingia todas as riquezas coloniais. d) escolha pela produção açucareira na colônia objetivava demarcar os direitos de exploração dos países ibéricos na América, tendo como elemento propulsor o desenvolvi- mento da expansão comercial e marítima. e) existência, na colônia recém descoberta, de uma estrutura produtiva já instalada pela população nativa foi capaz de viabilizar uma efetiva exploração econômica segundo os padrões da política mercantilista. 03.15. (UEM – PR) – Sobre o processo de colonização do Brasil por Portugal, assinale o que for correto. 01) A colonização oficial portuguesa ocorreu a partir de 1530, com a expedição comandada por Martin Afonso de Souza, cujos objetivos, dentre outros, era percorrer o litoral em busca de ouro e de prata e organizar nú- cleos de povoamento e de defesa do território. 02 Em 1534, o rei D. João III instalou o modelo adminis- trativo provincial, sistema que perdurou até a inde- pendência do Brasil. 04) A agricultura, na Colônia, era realizada com base na grande propriedade, na monocultura da cana-de- -açúcar e na utilização do trabalho escravo. 08) A Carta Régia de 1570 proibiu a Companhia de Jesus de instalar reduções jesuíticas na região sul do Brasil. 16) A partir de meados do século XVI, Portugal se consor- ciou com a Holanda para a venda do açúcar produzido na Colônia. Enquanto Portugal ficava responsável pela produção e pelo transporte do produto bruto até Lis- boa, a Holanda ficava responsável pelo refino do pro- duto e pela distribuição para toda a Europa. 03.16. (UEM – PR) – Sobre a sociedade que se construiu em torno da produção de açúcar na América portuguesa, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01) O termo engenho se referia ao local em que se pro- duzia o açúcar, com suas moendas, fornalhas e casas de purgar, bem como às demais instalações e constru- ções que o cercavam, como as moradias, a casa gran- de e a senzala, a Igreja e os canaviais. 02) Na sociedade açucareira havia grande dinamismo e mobilidade social. Essa mobilidade permitia a ascen- são social dos escravos, que decorria da importância de seus conhecimentos sobre o processo produtivo, pois as funções que desempenhavam requeriam sóli- dos conhecimentos técnicos. 04) Além dos trapiches, engenhos movidos por tração animal e com uma capacidade produtiva menor, havia também os engenhos reais, movidos por rodas d’água e com uma maior capacidade produtiva. 08) Essa sociedade foi classificada como patriarcal, pois era centrada no poder do patriarca, que era ao mesmo tempo dono da terra, autoridade local e senhor dos destinos dos seus dependentes (empregados, paren- tes, agregados e escravos). 16) De forma distinta de outras regiões da América por- tuguesa, na sociedade que se organizou em torno da produção de açúcar nunca foram utilizados escravos nativos, isto é, os índios. 03.17. (UEPG – PR) – A partir da chegada dos portugueses, em 1500, teve início o período de colonização do Brasil. Ao longo do século XVI, ocorreu o processo de formação de uma sociedade e de um modelo econômico bastante característicos e que acabou por lançar as bases do que viria ser a realidade socioeconômica brasileira após a indepen- dência, em 1822. A respeito do primeiro século colonial, assinale o que for correto. 01) A senzala era a principal construção dos engenhos do século XVI. Ela abrigava o proprietário da ter- ra, sua família, seus agregados e empregados mais importantes. Era o centro administrativo e social do latifúndio. 02) Um dos principais traços da sociedade colonial do século XVI foi a segregação étnica. Ao contrário da miscigenação que ocorreu a partir do século XIX, nesse primeiro momento praticamente não houve mistura racial entre brancos, negros e índios. 04) A alta lucratividade propiciada pela comercialização de escravos africanos trazidos para o Brasil potencia- lizou a atividade do tráfico negreiro já no século XVI. 08) A mobilidade social era praticamente nula. A posse do latifúndio tornava o seu proprietário detentor ab- soluto de poder, levando ao clientelismo e a hierar- quização acentuada da sociedade. 16) Do ponto de vista religioso, apesar do predomínio católico, a sociedade colonial do século XVI foi mar- cada pela forte presença de grupos ligados às religi- ões protestantes como o calvinismo e o luteranismo. 26 Extensivo Terceirão 03.18. (UEPG – PR) – A sociedade colonial brasileira tem sido, em algumas décadas, objeto de estudo de historiadores, sociólogos e antropólogos renomados. Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior figuram entre os intelec- tuais que se preocuparam com o estudo desse tema. A respeito da sociedade colonial brasileira, assinale o que for correto. 01) Apesar de presente desde o princípio da colonização portuguesa, a Igreja Católica pouco interferiu na forma- ção da sociedade colonial brasileira. A participação da Igreja nos séculos coloniais ficou restrita às celebrações religiosas e ao âmbito do conforto espiritual dos fiéis. 02) Na casa-grande, sede das grandes fazendas e enge- nhos, viviam as famílias dos senhores das terras. A es- trutura familiar era patriarcal e, geralmente, numerosa. Em torno do senhor costumavam gravitar seus filhos(legítimos e ilegítimos), parentes próximos e agregados. 04) Enquanto no nordeste açucareiro predominou uma so- ciedade rural e com pouca mobilidade social, na região da mineração, floresceu uma sociedade caracterizada por um alto grau de urbanização e por uma maior pos- sibilidade de ascensão social. 08) A miscigenação foi um dos traços fundamentais na formação da sociedade colonial brasileira. O perfil mes- tiço dessa sociedade – personificado, por exemplo, no caboclo (indígena + europeu) e no mulato (africano + europeu) – compôs a base social brasileira entre os sé- culos XVI e XVIII. Desafio (UNESP – SP) – Leia o texto para responder à(s) questão(ões) a seguir. O texto é comum às questões 03.19 e 03.20. Em 1500, fazia oito anos que havia presença europeia no Caribe: uma primeira tentativa de colonização que ninguém na época podia imaginar que seria o prelúdio da conquista e da ocidentalização de todo um conti- nente e até, na realidade, uma das primeiras etapas da globalização. A aventura das ilhas foi exemplar para toda a América, espanhola, inglesa ou portuguesa, pois ali se desenvol- veu um roteiro que se reproduziu em várias outras re- giões do continente americano: caos e esbanjamento, incompetência e desperdício, indiferença, massacres e epidemias. A experiência serviu pelo menos de lição à coroa espanhola, que tentou praticar no resto de suas possessões americanas uma política mais racional de dominação e de exploração dos vencidos: a instalação de uma Igreja poderosa, dominadora e próxima dos autóctones, assim como a instalação de uma rede ad- ministrativa densa e o envio de funcionários zelosos, que evitaram a repetição da catástrofe antilhana. (Serge Gruzinski. A passagem do século: 1480-1520: as origens da globalização, 1999. Adaptado.) 03.19. “A instalação de uma Igreja poderosa, dominadora e próxima dos autóctones” contribuiu para a dominação espa- nhola e portuguesa da América, uma vez que os religiosos a) mediaram os conflitos entre grupos indígenas rivais e asse- guraram o estabelecimento de relações amistosas destes com os colonizadores. b) aceitaram a imposição de tributos às comunidades indíge- nas, mas impediram a utilização de nativos na agricultura e na mineração. c) toleraram as religiosidades dos povos nativos e assim conseguiram convencê-los a colaborar com o avanço da colonização. d) rejeitaram os regimes de trabalho compulsório, mas esti- mularam o emprego de mão de obra indígena em obras públicas. e) desenvolveram missões de cristianização dos nativos e facilitaram o emprego de mão de obra indígena na em- presa colonial. 03.20. Os problemas ocorridos na colonização das ilhas do Caribe podem ser considerados “exemplares para toda a América”, pois geraram a) a identificação de uma grande oportunidade, para nativos e europeus, de conviver com outros povos e desenvolver a tolerância e o respeito a valores morais e culturais diferentes. b) o temor, nos indígenas, diante da ambição europeia e a percepção, pelos europeus, da dificuldade de estruturar o empreendimento colonial e manter o controle de terras e povos tão distantes. c) o início de um longo conflito entre os europeus e as popu- lações nativas, que provocou perdas humanas e financeiras nos dois lados, inviabilizando a exploração comercial da América. d) a formação de uma elite colonial que recusava submeter- -se às ordens das coroas europeias e dispunha de plena autonomia na produção e comercialização das mercadorias. e) o reconhecimento, pelos europeus, da necessidade de instalação de feitorias no litoral para a segurança dos viajantes e a aceitação, pelos nativos, da hegemonia dos conquistadores. Gabarito 03.01. a 03.02. b 03.03. a 03.04. d 03.05. d 03.06. c 03.07. c 03.08. e 03.09. V, V, V, V, F 03.10. c 03.11. a 03.12. V, V, F, V, V 03.13. e 03.14. a 03.15. 21 (01 + 04 + 16) 03.16. 13 (01 + 04 + 08) 03.17. 12 (04 + 08) 03.18. 14 (02 + 04 + 08) 03.19. e 03.20. b 27 1B1C História 1C História Aula 04 Presença estrangeira no Período Colonial Disputa pelas novas terras O “descobrimento” de novas terras e riquezas (o pau- -brasil) estimulou a cobiça de várias nações europeias que iniciavam as suas aventuras marítimas. As terras do Brasil foram alvo de inúmeras expedições, as quais obje- tivavam o contrabando de madeira, o saque das feitorias e povoamentos ou a conquista de territórios por meio do estabelecimento de colônias. O “descobrimento” de novas terras e riquezas (o pau- -brasil) estimulou a cobiça de várias nações europeias que iniciavam as suas aventuras marítimas. As terras do Brasil foram alvo de inúmeras expedições, as quais obje- tivavam o contrabando de madeira, o saque das feitorias e povoamentos ou a conquista de territórios por meio do estabelecimento de colônias. A cobiça de estrangeiros em relação ao Brasil Os principais “visitantes” do território brasileiro nesse período foram franceses, ingleses e holandeses. O início da colonização brasileira deve muito a esses ataques, pois havia a necessidade de os portugueses defenderem o território e o pau-brasil dos corsários e piratas. A presença francesa foi a mais constante em nosso lito- ral, entre os séculos XVI e XVIII. A presença inglesa foi mais intensa no século XVI, mas restringiu-se a atos de pirataria. As invasões inglesas limitaram-se a ataques a portos brasileiros e ao apresamento de cargas de açúcar. Destacaram-se os piratas Thomas Cavendish e James Lancaster, responsáveis pelos saques dos portos de Santos e Recife, respectivamente. As invasões estrangeiras mais importantes, conside- rando a área conquistada e o tempo de permanência, foram as holandesas. Invasões francesas No início do século XVI, os interesses portugueses re- sidiam nas Índias e nas especiarias, porém havia sempre a esperança de se encontrarem metais e pedras precio- sas no Brasil. Por isso, diante das notícias da presença de navios franceses no litoral das “novas terras”, o governo português organizou expedições guarda-costas, lidera- das por Cristóvão Jacques, e as enviou ao Brasil. Os franceses desafiaram abertamente os domínios portugueses estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas. Francisco I, rei da França entre 1515 e 1547, criticava a divisão do mundo entre portugueses e espanhóis, afirmando: O sol brilha para todos e desconheço a cláusula do testamento de Adão que dividiu o mundo entre portugueses e espanhóis. D. João III tentou até mesmo “entrar para a família” do rei da França, oferecendo a mão de sua irmã em casamento, mas não houve acordo. A posse da terra seria decidida na luta. Durante dois séculos, portu- gueses e franceses disputaram as terras, as riquezas e a aliança com os índios em busca da supremacia sobre o Brasil. O bom relacionamento com os indígenas era funda- mental nesses primeiros tempos. (...) Os índios realiza- vam comércio de madeira e outras drogas com os euro- peus, fornecendo-lhes mão de obra. Eram, também, os únicos capazes de fornecer alimento para os soldados e gentes da Europa que aqui aportavam, principalmente a “farinha de pau” (era a farinha de mandioca, também chamada nos escritos da época de “pão da terra”). Além disso, só eles podiam dar o conhecimento das terras e os homens necessários às diversas guerras e escaramu- ças travadas entre os colonizadores e as tribos hostis, e entre colonizadores de diversas nações. PUNTONI, Pedro. Guerras do Brasil: 1504 - 1654. São Paulo: Brasiliense, 1992. p. 26. Coleção Tudo é História. Mas não foram só interesses econômicos e expansio- nistas que justificaram a presença francesa no litoral brasi- leiro. Entre 1555 e 1567, os franceses fundaram, na Baía da Guanabara, uma colônia chamada de França Antártica e um forte denominado Coligny. Um dos principais motivos da fundação dessa colônia – levada a cabo por Nicolau Durand de Villegaignon – era o de acomodar calvinistas franceses (chamados de huguenotes). N ils onM ül le r. 20 08 . D ig ita l. 28 Extensivo Terceirão França Antártica (1555 – 1567) M ar ilu d e So uz a Villegaignon conseguiu estabelecer uma aliança com os tupinambás, chefiados por Cunhambebe, que entendia a união com os franceses como uma forma de se fortalecer contra as tribos inimigas. Conhecidos pelos portugueses como tamoios, esses índios foram de grande importância para a concretização do projeto de Villegaignon, auxiliando na defesa e fornecendo alimen- tos e mão de obra para os franceses. Somente a partir de 1560 os portugueses come- çaram a se mobilizar para expulsar os invasores da Baía de Guanabara. Aproveitando-se de uma série de desentendimentos entre os franceses – principalmen- te em face do espírito irascível de Villegaignon – o Governador-Geral Mem de Sá liderou um ataque que provocou a rendição dos franceses. Quando as tropas portuguesas partiram, o Forte Coligny foi reocupado. Mem de Sá organizou outra expedição e, com o auxílio de seu sobrinho, Estácio de Sá (que fundou, ao lado do morro do Pão de Açúcar, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro), de Cristóvão de Barros e com o apoio dos índios temiminós, os portu- gueses impuseram uma derrota definitiva aos franceses e aos seus aliados, os tamoios, em 1567. Apesar de expulsos do Rio de Janeiro, os franceses continuavam a incomodar os portugueses por todo o Norte e Nordeste, onde comerciavam produtos da terra (madeira e drogas) com o apoio de várias tribos indígenas. No Maranhão, uma expedição liderada por Daniel de La Touche – com o consentimento da regente da França (Maria de Médici), interessada na fundação de uma Fran- ça Equinocial – fundou o Forte de São Luís, originando a cidade que hoje é a capital do Estado. As invasões francesas (séculos XVI a XVIII) M ar ilu d e So uz a A presença francesa na região punha em risco os interesses portugueses de consolidação do território Norte e Nordeste. Em face disso, o governo português não poupou esforços até a completa expulsão dos fran- ceses do Maranhão, executada por Alexandre Moura e Jerônimo de Albuquerque. Os franceses ainda atacaram a costa do Rio de Janeiro, em 1710 e 1711. Aproveitando-se de um conflito diplomático que provocou o rompimento das relações entre Portugal e França, o rei Luís XIV utilizou-se de corsários para saquear o Rio de Ja- neiro. Em 1710, invadiu a cidade brasileira o corsário Jean François Duclerc que, no entanto, não obteve êxito, sendo preso e depois assassinado. No ano seguinte, outra expedição comandada por Duguay Trouin atacou e saqueou o Rio de Janeiro. O Gover- nador-Geral teve de pagar 610 mil cruzados, cem caixas de açúcar e duzentos bois para que o corsário francês deixasse o Brasil. Invasões holandesas Compreender as invasões holandesas ao Brasil, em 1624 e 1630, exige conhecer alguns aspectos a respeito da política europeia: Aula 04 29História 1C • Em 1580, Portugal e Brasil passaram ao domínio espanhol, em face de uma questão sucessória. Essa situação perdurou até 1640 e ficou conheci- da como União Ibérica. • Em 1581, a Holanda iniciou uma longa luta de libertação do domínio espanhol. Em represá- lia, o rei Filipe II determinou o fechamento de todos os portos do seu império aos barcos ho- landeses. • Não esqueça que os holandeses eram sócios do lucrativo comércio do açúcar. Com a atitude es- panhola, tal negócio ficaria inviabilizado. Distribuição do açúcar brasileiro (séc. XVI – XVII) M ar ilu d e So uz a Diante dessa situação, os comerciantes holandeses decidiram invadir o Nordeste açucareiro. Em 1621, foi criada a Companhia das Índias Ocidentais, que ficou responsável pelos planos e organização das expedições ao território brasileiro. Além do Nordeste brasileiro, os holandeses da WIC – Companhia das Índias Ocidentais – ocuparam pontos importantes do litoral africano, apoderan- do-se das praças de tráfico de negros controladas pelos portugueses. Assim, a política comercial ho- landesa tomava para si os dois produtos de maior rentabilidade para os portugueses e espanhóis: o açúcar e os escravos. O primeiro objetivo do ataque holandês foi a Bahia, sede da Colônia, em 1624. No entanto, a resistência dos colonos e o auxílio de uma poderosa frota luso- -espanhola inviabilizaram os planos de conquista e, em 1625, os holandeses deixaram as terras brasileiras. Os dirigentes da Companhia das Índias Ocidentais não desistiram de tentar retomar o controle do comércio açucareiro. Em 1630, atacaram Pernambuco, o coração da produção do açúcar. Matias de Albuquerque – que já havia liderado a resistência da Bahia – organizou a de- fesa contra os holandeses no interior e tentou isolá-los no litoral. Entre Olinda e Recife, Matias de Albuquerque fundou o Arraial do Bom Jesus, ponto de apoio para a luta de guerrilhas que iniciou. Por quase sete anos, o Arraial ofereceu grande resistência aos invasores, impedindo que consolidas- sem suas posições. Porém, o auxílio de um senhor de engenho, Domingos Fernandes Calabar, foi decisivo para a “virada” holandesa. Profundo conhecedor da região, Calabar guiou as tropas holandesas, que con- seguiram assim desbaratar o esquema defensivo de Matias de Albuquerque. O Arraial do Bom Jesus ainda resistiu por três meses, mas também caiu. Dessa vez, os holandeses estavam dispostos a ficar por muito tempo. O curioso é que, durante a retirada das tropas de Matias de Albuquerque – que consegue escapar para a Europa –, Calabar foi feito prisioneiro. Julgado traidor, foi enforcado e esquartejado. Domínio holandês no Brasil Vencida a resistência, os holandeses estenderam seus domínios territoriais até o Maranhão. Além disso, apoderaram-se das principais fontes de fornecimento de escravos para o Brasil, na costa africana, passando a controlar as duas principais atividades coloniais portu- guesas: açúcar e tráfico. Um dos principais responsáveis pela consolidação do domínio holandês foi Maurício de Nassau. Encarregado da administração das terras conquistadas, Nassau N ils on M ül le r. 20 08 . D ig ita l. adotou uma política favorável aos que se submetessem aos seus interesses. Concedeu empréstimos aos fazendei- ros, realizou obras de infraestrutura, como drenagem de pântanos, construção de pontes, palácios e até do primeiro observatório astronômico. Maurício de Nassau e sua obra 30 Extensivo Terceirão Nassau incentivou as artes e as ciências, patrocinan- do a vinda de médicos, como Piso, de botânicos, como Marcgrave, e de pintores, como Franz Post e Albert Eckhout. O governador holandês assumiu uma postura religiosa bastante tolerante e criou a Câmara dos Esca- binos, espécie de Câmara Municipal com representação paritária entre brasileiros e holandeses. A administração exemplar de Maurício de Nassau alimentou a ideia de que a presença holandesa era “melhor” que a portuguesa e que foi uma “pena” os holandeses não terem ficado em definitivo. Se é fato que a presença de Nassau representou uma série de modifi- Expulsão dos holandeses A nova postura da Holanda gerou uma série de reações dos senhores de engenho, reacendendo a insatisfação e o ressentimento contra os invasores e desencadeando um movimento de expulsão que contou com o apoio da popu- lação. Os líderes desse movimento, conhecido como Insurreição Pernambucana, foram o fazendeiro João Fernandes Vieira, o chefe militar André Vidal de Negreiros, o negro Henrique Dias e o índio Filipe Camarão. Foram nove anos de lutas, iniciadas com a Batalha do Monte das Tabocas. Em 1648, ocorreu a Primeira Batalha dos Guararapes. Os holandeses foram derrotados e cercados em Recife. No ano seguinte, tentando romper o cerco, os holandeses foram derrotados na Segunda Batalha dos Guararapes. MEIRELLES, Victor. Batalha de Guararapes. 1879. 1 óleo sobre tela, color.; Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Batalhas dos Guararapes Em 1652, Holanda e Inglaterra iniciaram uma guerra pela possedo comércio marítimo, tornando complicada a situação dos holandeses perante os pernambucanos, que passaram a contar com auxílio inglês. Em 1654, os holan- deses se renderam, na Campina do Taborda. As negociações de paz só terminariam em 1661, com a assinatura da Paz de Haia. A ausência da Holanda foi também muito importante. Deixando o Brasil, os holandeses passaram a produzir açúcar nas Antilhas. A concorrência com o produto brasileiro provocou um aumento da oferta de açúcar na Europa e, consequentemente, uma diminuição do valor de venda do produto. A primazia brasileira acabava e a economia açucareira do Nordeste começava o seu declínio. A presença portuguesa também se ampliou com a atuação do Conselho Ultramarino, criado em 1642. A ascensão da Inglaterra à posição de “senhora dos mares” implicou o aumento da sua influência econômica sobre Portugal e, consequentemente, sobre o Brasil. M us eu N ac io na l d e Be la s A rt es , R io d e Ja ne iro cações, isso não implica que a administração holandesa fosse diferente, pois o objetivo da Companhia das Índias Ocidentais era o mesmo da Coroa portuguesa, ou seja, lucro por meio da exploração. Aliás, Nassau foi demitido em 1644 por ter se oposto às novas determinações da Companhia de aumentar os impostos e cobrar os empréstimos dos senhores de engenho. Em seu lugar, assumiu uma regência de três comerciantes, que revo- garam todas as concessões feitas por Nassau. Acabava o “namoro” e começava a velha e dura realidade: a pre- sença estrangeira visava a ganhar e não a dividir com os brasileiros. Aula 04 31História 1C Assimilação 04.01. (UECE) – Sobre a presença de europeus, durante os séculos XVI, XVII e XVIII, no território que hoje pertence ao Brasil, é correto afirmar que a) se restringiu aos portugueses que, desde o Tratado de Tordesilhas, eram os únicos com direito sobre esta terra plenamente reconhecido pelas demais nações europeias. b) diferentemente de outras regiões da América, nenhu- ma das cidades do Brasil sofreu ataques de piratas ou corsários de origem europeia. c) devido ao Tratado de Tordesilhas, apenas portugueses e espanhóis estiveram pelas terras brasileiras durante os séculos de nossa colonização. d) além dos portugueses, em diversas regiões do atual território brasileiro, nos primeiros séculos da colônia, houve presenças de espanhóis, franceses e holandeses. 04.02. O governo de Felipe I à frente do reino português (1581-1598) marcou o início da União Ibérica, período em que os dois reinos ibéricos foram governados pelo mesmo soberano, após a guerra de sucessão portuguesa. Este mesmo monarca, chamado Felipe II, na Espanha, originou a dinastia filipina. Em relação ao Brasil, a chegada do rei espanhol ao trono português teve como consequência a) a elevação do Brasil a vice-reino, tal qual os demais vice-reinos que a coroa espanhola possuía na América. b) a ocupação do litoral brasileiro da região Sudeste, no Rio de Janeiro e em São Paulo, por espanhóis. c) a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido à Por- tugal e à Espanha, o que apressou a independência da colônia. d) a ocupação do litoral nordeste do Brasil pelos holan- deses, que pretendiam retomar o comércio do açúcar. 04.03. (ESPM – SP) – A expansão da agroindústria açu- careira atingiu proporções assombrosas. O negócio da produção e comercialização do açúcar formava uma complexa rede de interesses que atraiu ataques estrangeiros. Em 1624 membros do exército da Com- panhia das Índias Ocidentais atacaram e ocuparam a sede do governo-geral em Salvador, e lá ficaram durante quase um ano. Em 1630, o ataque a Recife iniciou uma longa guerra de ocupação e reconquista, na qual todos os recursos materiais e humanos da colônia foram mobilizados para expulsar os invasores. Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. História do Brasil. O texto deve ser relacionado com: a) invasões francesas; b) ataques de corsários ingleses; c) confrontos com espanhóis; d) invasões holandesas; e) ataques de corsários franceses. 04.04. (ESPCEX – SP) – Durante o período conhecido por União Ibérica, ocorreu o Embargo Espanhol ao comércio das colônias portuguesas com os holandeses. Isto motivou a Holanda a atacar o Nordeste brasileiro com a finalidade de romper o embargo e reativar as rotas comerciais entre o Brasil e a Europa. É fato relacionado à primeira investida dos holandeses no Brasil, ocorrida em 08 de maio de 1624, a (o)(s) a) conquista de Porto Calvo por Matias de Albuquerque. b) ocupação de Salvador. c) governo de Maurício de Nassau. d) fundação do Arraial do Bom Jesus. e) Batalhas de Guararapes. Aperfeiçoamento 04.05. (ACAFE – SC) – “É verdade que antes da união das monarquias ibéricas, em 1580,ao manter uma boa relação com os portugueses, os flamengos fre- quentavam os portos brasileiros e a cidade de Lisboa carregando açúcar em suas urcas, levando-o a refinar em Flandres e distribuindo-o por via terrestre e flu- vial por toda a Europa central. De sua embarcação tão características, ficou a lembrança na toponímia carioca, através do morro que evoca a sua forma.” PRIORI, Mary del. Histórias da gente brasileira: volume 1: colônia. São Paulo: Editora LeYa, 2016. Página 69. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o período colonial da história do Brasil é correto afirmar, exceto: a) Durante a União Ibérica, holandeses e espanhóis for- maram a Companhia das Índias Ocidentais e dividiram os lucros da comercialização do açúcar produzido no Brasil e levado para a Europa. b) Com a União Ibérica acirraram-se os conflitos entre a Espanha e a Holanda. Com a proibição espanhola da parceria comercial entre holandeses e produtores de açúcar no Brasil, os flamengos invadiram o nordeste. c) Maurício de Nassau, administrador holandês em Per- nambuco, promoveu reformas urbanas e manteve uma boa relação com os senhores de engenho. d) A revolta conhecida como Insurreição Pernambucana acabou determinando a saída dos holandeses do nor- deste brasileiro e teve como consequência uma crise na empresa açucareira brasileira. Testes 32 Extensivo Terceirão 04.06. (UECE) – Atente ao seguinte enunciado: “Em seu governo, Maurício de Nassau incentivou a produção de açúcar, que havia decaído durante a conquista, com a concessão de financiamentos; também estimulou a agri- cultura de subsistência, sobretudo da mandioca, para que não faltassem alimentos aos mais pobres. Homem culto e amante das artes, seu governo foi um período de tolerância religiosa entre católicos e protestantes. Seu retorno à Euro- pa e sua substituição por um ‘triunvirato’ – que alterou suas práticas administrativas – fez surgir reações e insurreições por parte dos senhores de engenho”. O enunciado se refere ao período histórico marcado a) pela implantação do Governo-Geral, em 1548, como forma de resolver o fracasso administrativo das Capi- tanias Hereditárias e garantir a posse e a pacificação da Colônia. b) pelo domínio francês no Maranhão, no qual o governo do Conde Nassau trouxe grandes avanços à cultura canavieira daquela região e o desenvolvimento da cidade de São Luís. c) pelo domínio francês no Rio de Janeiro, que teve na figura de Maurício de Nassau seu grande nome, res- ponsável por desenvolver a economia e a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. d) pelo domínio holandês no Nordeste do Brasil, que se estendeu desde a Bahia até o Maranhão e que teve na administração de Nassau seu período de maior desenvolvimento. 04.07. (FUVEST – SP) – Eu por vezes tenho dito a V. A. aquilo que me parecia acerca dos negócios da França, e isto por ver por conjecturas e aparências grandes aquilo que podia suceder dos pontos mais aparen- tes, que consigo traziam muito prejuízo ao estado e aumento dos senhorios de V. A. E tudo se encerrava em vós, Senhor, trabalhardes com modos honestos de fazer que esta gente não houvesse de entrarnem possuir coisa de vossas navegações, pelo grandíssimo dano que daí se podia seguir. Serafim Leite. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, 1954. O trecho acima foi extraído de uma carta dirigida pelo padre jesuíta Diogo de Gouveia ao Rei de Portugal D. João III, escrita em Paris, em 17/02/1538. Seu conteúdo mostra a) a persistência dos ataques franceses contra a América, que Portugal vinha tentando colonizar de modo efetivo desde a adoção do sistema de capitanias hereditárias. b) os primórdios da aliança que logo se estabeleceria entre as Coroas de Portugal e da França e que visava a comba- ter as pretensões expansionistas da Espanha na América. c) a preocupação dos jesuítas portugueses com a expan- são de jesuítas franceses, que, no Brasil, vinham exer- cendo grande influência sobre as populações nativas. d) o projeto de expansão territorial português na Europa, o qual, na época da carta, visava à dominação de territórios franceses tanto na Europa quanto na América. e) a manifestação de um conflito entre a recém-criada or- dem jesuíta e a Coroa portuguesa em torno do combate à pirataria francesa. 04.08. (UFPR) – No final do século XVII, Portugal e Brasil tiveram que enfrentar dificuldades econômicas. Por quê? a) Porque os engenhos de açúcar foram ocupados pelos espanhóis. b) Porque Portugal e Brasil estavam unidos à Espanha e a Espanha era inimiga da Inglaterra. c) Porque o açúcar das Antilhas começou a fazer concor- rência ao açúcar do Brasil. d) Porque os holandeses haviam destruído as plantações de cana-de-açúcar. e) Porque fracassou o sistema de capitanias hereditárias. 04.09. (FUVEST – SP) – Foram respectivamente, fatores importantes na ocupação holandesa no Nordeste do Brasil e na sua posterior expulsão: a) O envolvimento da Holanda no tráfico de escravos e os desentendimentos entre Maurício de Nassau com a Companhia das Índias Ocidentais. b) A participação da Holanda na economia do açúcar e endividamento dos senhores de engenho com a Companhia das Índias Ocidentais . c) O interesse da Holanda na economia do ouro e a re- sistência e não aceitação do domínio estrangeiro pela população. d) A tentativa da Holanda de monopolizar o comércio colonial e o fim da dominação espanhola em Portugal. e) A exclusão da Holanda da economia açucareira e a mudança de interesses da Companhia das índias Ocidentais. 04.10. (ESPM – SP) – A colonização levou à explora- ção do trabalho indígena e foi responsável por muita dizimação. É ainda na conta da colonização que se deve pôr o recrudescimento das guerras indígenas, que, se já existiam internamente, eram agora provo- cadas também pelos colonos, os quais faziam aliados na mesma velocidade com que criavam inimigos. Havia nesse contexto índios aldeados e aliados dos portugueses, e índios inimigos. Uma das atribuições dos índios aldeados era tomar parte nas guerras promovidas pelos portugueses contra índios hostis e servir como povos estratégi- cos para impedir a entrada de estrangeiros. Os índios aldeados e aliados foram mobilizados para expulsar os franceses de Villegagnon, o qual, por sua vez se uniu a índios amigos que apoiaram a incursão francesa na baía da Guanabara. (Lilia Moritz Schwarcz. Brasil uma Biografia) A respeito do texto é correto assinalar que: a) os indígenas aldeados e aliados dos portugueses, na guerra contra os franceses de Villegagnon, eram os Tupinambás; Aula 04 33História 1C b) os indígenas aldeados e aliados dos portugueses, na guerra contra os franceses de Villegagnon, eram os Araucanos; c) os indígenas que apoiaram os franceses de Villegagnon foram os Tapuias; d) os indígenas que apoiaram os franceses de Villegagnon foram os Tupinambás; e) os indígenas que apoiaram os franceses de Villegagnon foram os Charruas. Aprofundamento 04.11. (UPF – RS) – “As invasões holandesas que ocorreram no século XVII foram o maior conflito político-militar da Colônia brasileira. Embora con- centradas no Nordeste, elas não se resumiram a um simples episódio regional. Ao contrário, fizeram parte do quadro das relações internacionais entre os países europeus, revelando a dimensão da luta pelo controle do açúcar e das fontes de suprimento de escravos” (Boris Fausto, História do Brasil, 1996, p. 84) Sobre o tema destacado no texto acima, é correto afirmar que a) Domingos Fernandes Calabar foi o personagem prin- cipal das forças luso-brasileiras, lutando heroicamente até o final ao lado de Portugal, que lhe deu o título de príncipe. b) a ocupação das zonas de produção açucareira na Amé- rica portuguesa e o controle do suprimento de escravos teve como principal interessada a maior companhia de comércio da época, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, financiada com capitais do Estado e de financistas particulares. c) o despotismo de Maurício de Nassau em Pernambuco levou a sociedade local a se levantar contra o período de pobreza imposto por ele, em 1630. d) o projeto holandês de colônias de povoamento, similar ao dos Estados Unidos, poderia ter estimulado um desenvolvimento autônomo à colônia brasileira, com base na industrialização. e) as Batalhas de Guararapes (1648 e 1649) marcaram a tomada de Recife pelo exército luso-brasileiro, forma- do majoritariamente por índios tapuias que, com sua técnica de guerra avançada, foram decisivos para a derrota dos holandeses. 04.12. (PUCCAMP – SP) – Os holandeses, durante o go- verno de Maurício de Nassau, lançaram mão de algumas es- tratégias ao se relacionarem com os colonos luso-brasileiros durante o período em que dominaram parte do Nordeste brasileiro, no século XVII. Dentre essas estratégias, incluem-se a) a busca do controle do tráfico negreiro a partir de um entreposto na África do Sul, a expropriação dos engenhos de açúcar mais produtivos e a difusão do calvinismo aos colonos luso-brasileiros. b) o estímulo à imigração holandesa para o nordeste brasilei- ro, a limpeza étnica da porção urbana da região ocupada e a expansão da cultura canavieira para o Suriname. c) o controle das rotas comerciais no Atlântico, a implan- tação do trabalho livre em sua área de influência, e a formação de uma colônia judaica na região do Maranhão. d) o estabelecimento de redes de comércio com os produtores de uma vasta região da costa nordestina, certa tolerância religiosa e a manutenção das relações escravistas. e) a formação de um exército antilusitano de alforriados em Recife, o estabelecimento de alianças com os espanhóis e a concessão de créditos aos colonos protestantes. 04.13. (UERJ) – A partir do século XVI várias potências europeias invadiram a América Portuguesa; entre elas destacamos a Invasão Francesa no Rio de Janeiro entre 1555 - 1567. O objetivo da França era: a) O interesse no comércio açucareiro, organização e mon- tagem de engenhos e intensificação do tráfico negreiro. b) A disputa pelo comércio colonial, isto é, a exploração do pau-brasil e a criação da França Antártica. c) A aceitação dos indígenas à dominação francesa e o conflito entre colonos e jesuítas pelo domínio e controle da mão de obra indígena. 04.14. (FGV – SP) – Com relação ao domínio holandês no nordeste brasileiro, pode-se afirmar que: a) Os limites das suas conquistas foram restritos a Pernambu- co, então a capitania que mais produzia açúcar na colônia. b) O governo de Nassau, de acordo com a Companhia das Índias Ocidentais, procurou, com os produtores locais, incrementar ainda mais a produção de açúcar. c) A partir de suas bases no Nordeste, os Holandeses amplia- ram o raio de dominação chegando em 1645, a conquistar a Amazônia peruana. d) Oriundo de uma Holanda dividida pelas guerras de religião, o protestante Nassau fez de seu governo, em Pernambuco, um regime teocrático de protestantismo radical. e) Nas regiões em que dominaram, os holandeses transfor- maram a economia numa atividade igualmente lucrativapara Portugal e Espanha. 04.15. (PUC – RS) – As invasões holandesas no Brasil, no século XVII, estavam relacionadas à necessidade de os Países Baixos manterem e ampliarem sua hegemonia no comércio do açúcar na Europa, que havia sido interrompido a) pela política de monopólio comercial da Coroa Portu- guesa, reafirmada em represália à mobilização antico- lonial dos grandes proprietários de terra. b) pelos interesses ingleses que dominavam o comércio entre o Brasil e Portugal. c) pela política pombalina, que objetivava desenvolver o beneficiamento do açúcar na própria colônia, com apoio dos ingleses. 34 Extensivo Terceirão d) pelos interesses comerciais dos franceses, que estavam presentes no Maranhão, em relação ao açúcar. e) pela Guerra de Independência dos Países Baixos contra a Espanha, e seus consequentes reflexos na colônia portuguesa, devido à União Ibérica. 04.16. (FGV – SP) – Leia o excerto de uma peça teatral, de 1973. Nassau Como Governador-Geral do Pernambuco, a minha maior preocupação é fazer felizes os seus moradores. Mesmo porque eles são mais da metade da população do Brasil, e esta região, com a concentração dos seus quase 350 engenhos de açúcar, domina a produção mundial de açúcar. Além do mais, nessa disputa en- tre a Holanda, Portugal e Espanha, quero provar que a colonização holandesa é a mais benéfica. Minha intenção é fazê-los felizes… sejam portugueses, ho- landeses ou os da terra, ricos ou pobres, protestantes ou católicos romanos e até mesmo judeus. Senhores, a Companhia das Índias Ocidentais, que financiou a campanha das Américas, fecha agora o balanço dos últimos quinze anos com um saldo de- vedor aos seus acionistas da ordem de dezoito mi- lhões de florins. Moradores Viva! Já ganhou! (...) Viva ele! Viva! Chico Buarque de Holanda e Ruy Guerra. Calabar: o elogio da traição, 1976. Adaptado. Sobre o fato histórico ao qual a obra teatral faz referência, é correto afirmar que a) as bases religiosas da colonização holandesa no nordeste brasileiro produziram uma organização administrativa que privilegiava a elite luso-brasileira, ao oferecer financiamento com juros subsidiados e parcelas importantes do poder político aos grandes proprietários católicos. b) a grande distância entre as promessas de tolerância religiosa e a realidade presente no cotidiano dos mo- radores da capitania de Pernambuco deu-se porque os dirigentes da companhia holandesa impuseram o calvinismo como religião oficial e perseguiram as demais religiões. c) a presença da Companhia das Índias Ocidentais no nordeste da América portuguesa trouxe benefícios aos proprietários luso-brasileiros, como o financiamento da produção, mas reproduziu a lógica do colonialismo, ao concentrar a riqueza no setor mercantil e não no produtivo. d) a felicidade prometida pelos invasores holandeses não pôde ser efetivada em função da lógica diplomática presente na relação entre Portugal e Holanda, pois se tratava de nações inimigas desde o século XV, em virtude da disputa pelo comércio oriental. e) as promessas dos invasores holandeses se confirmaram, e a elite ligada à produção açucareira e ao comércio colonial foi amplamente beneficiada, principalmente pelo livre comércio, o que explica a resistência desses setores sociais ao interesse português em retomar a região invadida pela Holanda. 04.17. (UEM – PR) – Desde o início da colonização, a Améri- ca portuguesa foi alvo de invasões de outros povos europeus. Dentre tais invasões, a mais significativa é, provavelmente, a invasão holandesa no atual Nordeste do Brasil, na primeira metade do século XVII. A respeito dessa invasão, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01) Em seu auge, o domínio holandês estendeu-se, apro- ximadamente, desde o litoral do atual Estado do Ma- ranhão até o território que, em nossos dias, correspon- de ao Estado de Sergipe. 02) A expulsão dos holandeses do Nordeste resultou da ação militar comandada pelo governador geral Mem de Sá, o segundo governador geral do Brasil. 04) Durante o período em que permaneceram no Nor- deste, os holandeses mudaram completamente as es- truturas econômico-sociais da região, com destaque para a introdução do trabalho livre nas fazendas e o estímulo à diversificação agrícola. 08) A pecuária e a produção das drogas do sertão foram as duas principais atividades desenvolvidas pelos ho- landeses no Nordeste. 16) A invasão holandesa vincula-se ao processo de sepa- ração dos Países Baixos do domínio espanhol, bem como a questões relativas à União Ibérica (1580-1640). 04.18. (UEM – PR) – A respeito da dominação colonial praticada na América portuguesa, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01) Nos primeiros anos da colonização, os portugueses organizaram expedições de reconhecimento do ter- ritório e as chamadas expedições guarda-costas, que almejavam defender a região colonial de ataques ini- migos e de outras nações interessadas em explorar e colonizar a terra. 02) Em 1555, os franceses invadiram o território colonial e fundaram a França Antártica, uma colônia criada na região do atual Rio de Janeiro. Os portugueses conse- guiram expulsar os franceses, em 1560, sob a lideran- ça de Mem de Sá. 04) Mesmo com a introdução da cana-de-açúcar e do tráfico de africanos escravizados, a exploração do pau- -brasil se manteve lucrativa até o século XIX. 08) O interesse da metrópole portuguesa por suas posses- sões coloniais no Brasil ocorreu no momento em que o comércio de especiarias com as Índias entrava em uma fase áurea e próspera, o que gerou uma situação financeira confortável para Portugal. 16) No início dos anos de 1640, Portugal criou o Conselho Ultramarino, um órgão que objetivou fiscalizar e uni- formizar a administração das colônias portuguesas no ultramar. Aula 04 35História 1C Desafio 04.19. (UEPG – PR) – A chegada dos portugueses ao Brasil, oficialmente datada de 1500, marcou o início do processo de colonização lusitana em nosso território. Sobre a colonização no século XVI, assinale o que for correto. 01) Os textos produzidos pelos cronistas no início da co- lonização apresentam os nativos aqui encontrados pelos portugueses como seres bárbaros que neces- sitavam ser salvos por meio da cristianização. 02) A França Antártica, como foi chamada a ocupação francesa na baía de Guanabara, se caracterizou pela formação de uma sociedade protestante que rece- beu inúmeros europeus fugitivos da perseguição católica durante a Contrarreforma. 04) Por mais que a escravidão negra tenha sido predo- minante ao final dos três séculos coloniais (XVI/XVII/ XVIII), no primeiro deles ela foi praticamente nula. Ao longo do século XVI, a utilização indígena como mão de obra escrava foi hegemônica em todo território colonial. 08) O sistema de Capitanias Hereditárias, já conhecido e utilizado pelos portugueses em outras regiões, foi adotado em território brasileiro logo no início da colonização. A produção agrícola garantiu o suces- so das Capitanias e sua manutenção durante quase todo o período colonial. 16) Por sua posição geográfica estratégica, o Rio de Ja- neiro foi escolhido como primeira capital da colônia, abrigando a estrutura da administração portuguesa no Brasil até a independência do país, em 1822. 04.20. (UFU – MG) – Após a leitura do trecho a seguir, faça o que se pede. A denominação “invasões” holande- sas projeta, com anacronismo extremo, um sentimento nacional para o passado e inventa uma soberania brasileira herdeira de uma soberania portuguesa. Na prática, mostra o que viemos a nos tornar, jamais o que éramos no século XVII. KARNAL, Leandro. “O testamento de Adão”. In: “História Viva - Grandes Temas (Mar português)”. Edição especial temática, nº. 14, 2006. p. 85. a) O que foram as chamadas “invasões” holandesas no con- texto da América portuguesa do século XVII? b) Explique, “com suas palavras”, por que a denominação “invasões” holandesasé anacrônica. c) Se “invasões” é um termo que parece inadequado para fazer referência ao acontecimento histórico mencionado no texto, quais alternativas menos anacrônicas poderiam ser utilizadas para se referir ao mesmo episódio? (cite pelo menos duas). Gabarito 04.01. d 04.02. d 04.03. d 04.04. b 04.05. a 04.06. d 04.07. a 04.08. c 04.09. b 04.10. d 04.11. b 04.12. d 04.13. b 04.14. b 04.15. e 04.16. c 04.17. 17 (01 + 16) 04.18. 19 (01 + 02 + 16) 04.19. 03 (01 + 02) 04.20. a) Invasões holandesas é o nome nor- malmente dado, na historiografia brasileira, ao projeto de ocupação da região Nordeste do Brasil pela Com- panhia Holandesa das Índias Ociden- tais durante o século XVII. b) O termo “invasões holandesas” é ana- crônico por pressupor um sentimen- to nacionalista para um momento histórico em que o Brasil ainda era uma colônia portuguesa, ou seja, não se pode falar em brasilidade ainda no século XVII. c) Poderiam ser utilizados os seguintes termos: “ocupação holandesa”, “colo- nização holandesa” ou mesmo “incor- poração dos domínios portugueses pelos holandeses”. Anotações 36 Extensivo Terceirão