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1 Figuras de Linguagem II 09 Aula 3B Português Figuras de construção Os casos enfocados aqui são de seu conhecimento, acredite. Você usa estas figuras em seus textos; vive em contato com elas nos textos que lê; enfim, está cercado por essas manobras sintáticas e semânticas. Mais do que saber a nomenclatura que segue, importa saber aplicar tais manobras nos seus textos. Silepse – Concordância ideológica Esta é uma figura que produz uma concordância especial. Nas frases com silepse, a concordância de verbo ou nome não se dá com termo algum visível na frase, mas com um elemento exterior a ela, daí se dizer que seja um caso de concordância ideológica (com a ideia, mas não com uma palavra da frase) a) Silepse de gênero O seu cônjuge finalmente se manifestou. Ela é pessoa de coragem.. Substantivo masculino Pronome feminino [porque se tratava da esposa] b) Silepse de pessoa Os alunos entraremos com recursos após a prova.. Substantivo Verbo na 1a. pessoa do plural [porque o enunciador se coloca entre os alunos] c) Silepse de número O pessoal não aceitou a proposta. Exigem novas discussões. Substantivo no singular Verbo no plural [porque o enunciador relaciona ‘pessoal’ a um conjunto de pessoas] Elipse – Omissão de termo ou expressão O enunciado não se prejudica nesta figura; a omissão ocorre como fator de economia e expressividade. Em seu olhar, tantas interrogações. Eduardo é são-paulino; o avô, santista. Carioca gosta de praia; paulistano, de shopping. Nos dois últimos casos, a omissão se refere a um termo que já havia sido mencionado antes. Trata-se de uma elipse especial: zeugma. Hipérbato – Inversão Quebra da ordem direta da frase. Atende a necessidades de estilo, muitas ve- zes sendo necessária por causa da métrica de versos ou da fluência do enunciado. Poesia, letras de música, letras de hinos, por exemplo, apresentam o hipérbato com frequência. Deus ao mar o perigo e o abismo deu (Deus deu o perigo e o abismo ao mar) Sucesso na vida espero conse- guir, sem dúvida. (Espero conseguir sucesso na vida, sem dúvida) Assonância – Reiteração de fonemas vocálicos “Sou Ana, da cama Da cana, fulana, bacana Sou Ana de Amsterdam” (Chico Buarque de Hollanda) Aliteração – reiteração de fo- nemas consonantais “Toda gente homenageia Januária na janela Até o mar faz maré cheia Pra chegar mais perto dela” (Chico Buarque de Hollanda) Onomatopeia – reprodução na escrita de sons ou ruídos A primeira faz tchum A segunda faz tcham E tcham, tcham, tcham, tcham. (Propaganda sobre lâmina de barbear) Pleonasmo – Reiteração de uma ideia pelo uso de uma palavra ou expressão motivadoras do reforço. Inicialmente, não se trata de pro- blema ou ‘erro’, mas de um recurso de expressão. 2 Extensivo Terceirão Esta é uma tristeza que cala muito triste em minha alma. Vi com meus próprios olhos, peguei com minhas próprias mãos. Os chamados pleonasmos viciosos correspondem a certas expressões que parecem redundantes, mas também dependem de certos contextos para que realmente sejam consideradas errôneas. • subir para cima • sair para fora • voltar para trás Problemas comuns no pleonasmo como erro são frases como “Daremos um panorama geral da situação de violência no país” “Com a aprovação unânime de todos, o projeto foi acolhido” “Os principais protagonistas da lamentável cena ficaram impunes” Figuras de pensamento Antítese – oposição entre duas ou mais ideias Ideias que se opõem semanticamente se aproximam a fim de criar um efeito expressivo. “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia. [nasce x não dura] Depois da Luz, se segue a noite escura. [dia x noite escura] Em tristes sombras morre a formosura [Luz x tristes sombras] Em contínuas tristezas, a alegria”. [tristezas x alegria] (Gregório de Matos) Quando a aproximação dos opostos produz um sentido absurdo, por- que as ideias expressam sentidos naturalmente inconciliáveis, temos um paradoxo. Amor é fogo que arde sem se ver [arde x sem se ver] É ferida que dói e não se sente [dói x não se sente] É um contentamento descontente [descontentamento descontente] É dor que desatina sem doer [dor (que) desatina x sem doer] (Camões) No oxímoro, teríamos um subtipo de paradoxo pela aproximação de termos colocados lado a lado criando o sentido absurdo. Triste alegria do palhaço Claro enigma Caos ordenado Eufemismo – atenuação de uma ideia naturalmente desagra- dável Ele faltou com a verdade seguidas vezes. Você subtraiu muitas coisas de minha casa. Devolva-as. Gradação – intensificação cres- cente ou decrescente de uma ideia por meio de uma enumeração Depois que bebe, aconte- ce assim: um sorriso discreto, uma risada marota, uma gar- galhada histérica, um desvario total... [crescente] O show, com o barulho in- cessante da batucada; o fim da festa, com o cansaço silencio- so da missão cumprida; a so- lidão, com a batida pesada do coração. [decrescente] Hipérbole – intensificação exa- gerada em um enunciado Ela quase morre de tanto gritar pelo filho que está no quintal. Pedi um milhão de vezes que você ficasse. Ironia – uso de um enunciado que representa exatamente o oposto da- quilo que se lê na superfície da frase Você sabe se maquiar muito bem. [para quem não o faz] Ônibus vazios, dentro do horário, sem assaltos, com passagens baratas. Isso é um modelo de transporte públi- co. [para uma situação em que as pessoas sofram com o trans- porte público] Aula 09 3Português 3B Testes Assimilação Instrução: Texto para a questão 09.01. Soneto da hora final Será assim, amiga: um certo dia Estando nós a contemplar o poente Sentiremos no rosto, de repente O beijo leve de uma aragem fria. Tu me olharás silenciosamente E eu te olharei também, com nostalgia E partiremos, tontos de poesia Para a porta de treva aberta em frente. Ao transpor as fronteiras do Segredo Eu, calmo, te direi: – Não tenhas medo E tu, tranquila, me dirás: – Sê forte. E como dois antigos namorados Noturnamente tristes e enlaçados Nós entraremos nos jardins da morte. MORAES, Vinícius de. Livro de Sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 09.01. (UERJ) – No título Soneto da hora final, para re- velar o tema do poema, recorre-se à figura de linguagem denominada: a) eufemismo b) metonímia c) hipérbole d) ironia 09.02. (MACK – SP) – No trecho de Dom Casmurro desta- cado abaixo, qual figura de linguagem podemos encontrar? A notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efei- to, acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido ouvi-lo. a) Hipérbole, uma vez que no discurso há um evidente exagero, pautado num estilo demasiadamente enfático. b) Ironia, pois o trecho destacado contradiz o que se afirma no início do período. c) Catacrese, já que a palavra coração está empregada conotativamente. d) Onomatopeia, pois há referência ao som que o coração faz ao bater. e) Eufemismo, porque evidentemente o trecho destacado suaviza a emoção sentida pelo narrador. 09.03. (UNESP – SP) – Em “Copérnico era, sem dúvida, um revolucionário conservador”, a expressão sublinhada constitui um exemplo de a) eufemismo. b) pleonasmo. c) hipérbole. d) metonímia. e) paradoxo. Instrução: Leia o soneto “Aquela triste e leda madrugada”, do escritor português Luís de Camões (1525? – 1580), para responder à questão 09.04. Aquela triste e leda madrugada, cheia toda de mágoa e de piedade, enquanto houver no mundo saudade quero que seja sempre celebrada. Ela só, quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade, viu apartar-se de uma outra vontade, que nunca poderá ver-se apartada. Ela só viu as lágrimas em fio que, de uns e de outros olhos derivadas, se acrescentaram em grande e largo rio. Ela viu as palavras magoadas que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso às almas condenadas. (Sonetos, 2001.) 09.04. (UNIFESP) – A imagem das lágrimas a formarem um “largo rio” (3ª. estrofe) produz um efeito expressivo que se classificacomo a) paradoxo. b) pleonasmo. c) personificação. d) hipérbole. e) eufemismo. 4 Extensivo Terceirão Aperfeiçoamento Instrução: Leia o trecho do livro Bem-vindo ao deserto do real!, de Slavoj Žižek, para responder à questão 09.05. Numa antiga anedota que circulava na hoje falecida República Democrática Alemã, um ope- rário alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda correspondência será lida pe- los censores, ele combina com os amigos: “Vamos combinar um código: se uma carta estiver escrita em tinta azul, o que ela diz é verdade; se esti- ver escrita em tinta vermelha, tudo é mentira.” Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em tinta azul: “Tudo aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é abundante, os apartamentos são grandes e bem aquecidos, os cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas garotas, sempre prontas para um programa – o único senão é que não se consegue encontrar tinta vermelha.” Neste caso, a estrutura é mais refina- da do que indicam as aparências: apesar de não ter como usar o código combinado para indicar que tudo o que está dito é mentira, mesmo as- sim ele consegue passar a mensagem. Como? Pela introdução da referência ao código, como um de seus elementos, na própria mensagem codificada. (Bem-vindo ao deserto do real!, 2003.) 09.05. (UNESP – SP) – A “introdução da referência ao código, como um de seus elementos, na própria mensagem codifi- cada” constitui um exemplo de a) eufemismo. b) metalinguagem. c) intertextualidade. d) hipérbole. e) pleonasmo. 09.06. (UNESP – SP) – O pleonasmo (do grego pleonasmós, que quer di- zer abundância, excesso, amplificação) é uma repe- tição de unidades linguísticas idênticas do ponto de vista semântico, o que implica que a repetição é tau- tológica (redundante). No entanto, ela é uma exten- são do enunciado com vistas a intensificar o sentido. (José Luiz Fiorin. Figuras de retórica, 2014. Adaptado.) Verifica-se a ocorrência de pleonasmo em: a) “fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia os nomes dos peixes que ela dizia”. b) “eu avançava no batelão velho; remava cansado, com um resto de sono”. c) “ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas tímida”. d) “A princípio a olhei com espanto, quase desgosto”. e) “Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus”. 09.07. (EBMSP – BA) – A onda a onda anda aonde anda a onda? a onda ainda ainda onda ainda anda aonde? aonde? a onda a onda BANDEIRA, Manoel. A onda. A Estrela da Tarde, 1960. Disponível em: <https:// pensador.uol.com.br>. Acesso em: 16 ago. 2016. Objetivando imitar o movimento da onda, por meio de uma fluidez sonora, Manoel Bandeira utiliza-se de um recurso estilístico denominado a) pleonasmo poético, enfatizando, a partir da redundância, a potência do fluxo fluvial ou marinho que se move no ambiente aquático. b) assonância, valendo-se da repetição da mesma vogal tônica com a intenção de provocar um efeito de estilo associado à força das ondas. c) eco, por meio da seleção de termos com terminação idêntica, para sugerir um percurso impreciso do volume de água que segue seu destino. d) onomatopeia, mediante o uso de vocábulos, procurando imitar o rumor produzido pelo deslocamento da massa líquida de inestimável valor para a continuidade da vida na Terra. e) paronomásia, na medida em que, buscando sugerir o movimento recorrente da vaga, traz um jogo de palavras que se assemelham na pronúncia, mas são diferentes do ponto de vista semântico, em função de um efeito poético. 09.08. (PUC – SP) – O romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, faz significativo uso da linguagem figurada, o que dá ao texto uma fina dimensão estética. Assim, indique a alternativa em que o fragmento não está corretamente classificado, de acordo com a figura que nele ocorre. a) Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. – Metáfora. b) E estando a recordá-lo, ouço um ranger de porta, um farfalhar de saias... – Onomatopeia. c) Quincas Borba não só estava louco, mas sabia que estava louco, e esse resto de consciência, como uma frouxa lamparina no meio das trevas, complicava muito o horror da situação. – Eufemismo. d) Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma coisa que morrer. – Antítese. Aula 09 5Português 3B Instrução: Texto para a questão 09.09. Acrobata da Dor Gargalha, ri, num riso de tormenta, como um palhaço, que desengonçado, nervoso, ri, num riso absurdo, inflado de uma ironia e de uma dor violenta. Da gargalhada atroz, sanguinolenta, agita os guizos, e convulsionado salta, 1gavroche, salta clown, varado pelo 2estertor dessa agonia lenta... Pedem-se bis e um bis não se despreza! Vamos! retesa os músculos, retesa nessas macabras piruetas d’aço... E embora caias sobre o chão, 3fremente, afogado em teu sangue 4estuoso e quente, ri! Coração, tristíssimo palhaço. (Cruz e Sousa) 09.09. (ESPM – SP) – Assinale a alternativa em que a indi- cação entre parênteses não está de acordo com o verso: a) “Gargalha, ri, num riso de tormenta,” (pleonasmo vicioso) b) “salta, gavroche, salta clown, varado” (assonância) c) “Da gargalhada atroz, sanguinolenta,” (sinestesia) d) “nessas macabras piruetas d’aço...” (metáfora) e) “afogado em teu sangue estuoso e quente,” (aliteração) Glossário 1gavroche: garotos de Paris, figuradamente artista. 2estertor: respiração anormal própria de moribundos. 3fremente: vibrante, agitado, violento. 4estuoso: que ferve, ardente, febril. Instrução: texto para a questão 09.10. O nome de Emir quase nunca era mencio- nado nas horas das refeições ou nas conver- sas animadas por baforadas de narguilé, goles de 1áraque e lances de gamão. 2Os filhos de Emilie éramos proibidos de participar dessas reuniões que varavam a noite e terminavam no pátio da fonte, aclarado por uma luz azulada. Era um momento em que os assuntos, já pe- neirados, esgotados e fartos de serem repeti- dos, 3davam lugar a 4confidências e 5lamúrias, 6abafadas às vezes pela linguagem dos pássaros, e entremeadas por exclamações e vozes que pronunciavam o nome de Deus. Era como se a manhã – 7como uma intrusa que silencia as vozes calorosas da noite – 8dispersasse o am- biente festivo, 9arrefecendo os gestos dos mais exaltados, chamando-os ao ofício 10que se ini- cia com a aurora. 11Mas, em algumas reuniões de sextas-feiras, o 12prenúncio da manhã não os dispersava. Eu acordava com berros dila- cerantes, gemidos terríveis, ruídos de trote e 13uma algazarra de alimárias que 14assistiam à agonia dos carneiros que possuíam nomes e 15eram alimentados pelas mãos de Emilie. HATOUM, Milton. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, pp. 50 e 51. 09.10. (UDESC) – Assinale a alternativa correta em rela- ção à obra Relato de um certo Oriente, Milton Hatoum, e ao texto. a) O uso do sinal gráfico da crase é opcional em “abafadas às vezes” (referência 6), assim como em “davam lugar a confidências” (referência 3). b) Em “Os filhos de Emilie éramos proibidos de participar dessas reuniões” (referência 2) há a figura de linguagem chamada silepse de pessoa. c) As palavras “áraque” (referência 1), “confidências” (referên- cia 4), “lamúrias” (referência 5) e “prenúncio” (referência 12) são acentuadas por serem paroxítonas terminadas em ditongo. d) Infere-se da leitura da obra, que o nome de Emir, filho mais novo de Emilie, quase nunca era mencionado nos encontros familiares porque há muito abandonara a família, causando mágoa. e) Infere-se da leitura da obra, que os empregados, princi- palmente as mulheres, eram tratados com muita regalia, pois participavam de todos os encontros e de todas as atividades festivas da família de Emilie. 6 Extensivo Terceirão Aprofundamento 09.11. (EEAR – SP) – Leia: I. O Rio Doce entrou em agonia, após o desastreque poluiu suas águas com lama. II. Suas águas, claras, estão agora escuras, de mãos irresponsáveis que a sujaram. Nas frases há, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem: a) Eufemismo – Prosopopeia. b) Prosopopeia – Antítese. c) Antítese – Prosopopeia. d) Eufemismo – Antítese. 09.12. (UNIFESP) – Leia o soneto de Cruz e Sousa. Silêncios Largos Silêncios interpretativos, Adoçados por funda nostalgia, Balada de consolo e simpatia Que os sentimentos meus torna cativos; Harmonia de doces lenitivos, Sombra, segredo, lágrima, harmonia Da alma serena, da alma fugidia Nos seus vagos espasmos sugestivos. Ó Silêncios! Ó cândidos desmaios, Vácuos fecundos de celestes raios De sonhos, no mais límpido cortejo... Eu vos sinto os mistérios insondáveis Como de estranhos anjos inefáveis O glorioso esplendor de um grande beijo! (Cruz e Sousa. Broquéis, Faróis, Últimos Sonetos, 2008.) A análise do soneto revela como tema e recursos poéticos, respectivamente: a) a aura de mistério e de transcendentalidade suaviza o sofrimento do eu lírico; rimas alternadas e sinestesias se evidenciam nos versos de redondilha maior. b) o esforço de superação do sofrimento coexiste com o esgotamento das forças do eu lírico; assonâncias e metonímias reforçam os contrastes das rimas alternadas em versos livres. c) a religiosidade como forma de superação do sofrimento humano; metáforas e antíteses reforçam o negativismo da desagregação existencial nos versos livres. d) a apresentação da condição existencial do eu lírico, mar- cada pelo sofrimento, em uma abordagem transcendente; assonâncias e aliterações reforçam a sonoridade nos versos decassílabos. e) o apelo à subjetividade e à espiritualidade denota a conci- liação entre o eu lírico e o mundo; metáforas e sinestesias reforçam o sentido de transcendentalidade nos versos de doze sílabas. Instrução: Utilize o texto abaixo para responder à questão 09.13. Sempre desconfiei Sempre desconfiei de narrativas de sonhos. Se já nos é difícil recordar o que vimos despertos e de olhos bem abertos, imagine-se o que não será das coisas que vimos dormindo e de olhos fecha- dos... Com esse pouco que nos resta, fazemos re- constituições suspeitamente lógicas e pomos en- redo, sem querer, nas ocasionais variações de um calidoscópio. Me lembro de que, quando menino, minha gente acusava-me de inventar os sonhos. O que me deixava indignado. Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão. Por outro lado, o que mais espantoso há nos sonhos é que não nos espantamos de nada. So- nhas, por exemplo, que estás a conversar com o tio Juca. De repente, te lembras de que ele já mor- reu. E daí? A conversa continua. Com toda a naturalidade. Já imaginaste que bom se pudesses manter essa imperturbável serenidade na vida propriamente dita? (Mario Quintana, A vaca e o hipogrifo. São Paulo: Globo,1995) 09.13. (INSPER – SP) – Em “Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão”, o autor recorre a uma figura de construção, que está corretamente explicada em a) silepse, por haver uma concordância verbal ideológica. b) elipse, por haver a omissão do objeto direto. c) anacoluto, por haver uma ruptura na estrutura sintática da frase. d) pleonasmo, por haver uma redundância proposital em “ambas as partes”. e) hipérbato, por haver uma inversão da ordem natural e direta dos termos da oração. Aula 09 7Português 3B Instrução: Texto para a questão 09.14. Ao 1valimento que tem o mentir Mau ofício é mentir, mas proveitoso... Tanta mentira, tanta utilidade Traz consigo o mentir nesta cidade Como o diz o mais triste mentiroso. Eu, como um ignorante e um baboso, Me pus a verdadeiro, por vaidade; Todo o meu 2cabedal meti em verdade E saí do negócio 3perdidoso. Perdi o principal, que eram verdades, Perdi os interesses de estimar-me, Perdi-me a mim em tanta 4soledade; Deram os meus amigos em deixar-me, 5Cobrei ódios e inimizades... Eu me meto a mentir e a aproveitar-me. GREGÓRIO DE MATOS PIRES, M. L. G. (org.). Poetas do período barroco. Lisboa: Comunicação, 1985. Instrução: Texto para a questão 09.15. Capítulo CVII Bilhete “Não houve nada, mas ele suspeita alguma cousa; está muito sério e não fala; agora saiu. Sorriu uma vez somente, para Nhonhô, depois de o fitar mui- to tempo, carrancudo. Não me tratou mal nem bem. Não sei o que vai acontecer; Deus queira que isto passe. Muita cautela, por ora, muita cau- tela.” Capítulo CVIII Que se não entende Eis aí o drama, eis aí a ponta da orelha trágica de Shakespeare. Esse retalhinho de papel, garatujado em partes, machucado das mãos, era um docu- mento de análise, que eu não farei neste capítulo, nem no outro, nem talvez em todo o resto do li- vro. Poderia eu tirar ao leitor o gosto de notar por si mesmo a frieza, a perspicácia e o ânimo dessas poucas linhas traçadas à pressa; e por trás delas a tempestade de outro cérebro, a raiva dissimulada, o desespero que se constrange e medita, porque tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas? ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. 09.15. (FUVEST – SP) – Ao comentar o bilhete de Virgília, o narrador se vale, principalmente, do seguinte recurso retórico: a) Hipérbato: transposição ou inversão da ordem natural das palavras de uma oração, para efeito estilístico. b) Hipérbole: ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística. c) Preterição: figura pela qual se finge não querer falar de coisas sobre as quais se está, todavia, falando. d) Sinédoque: figura que consiste em tomar a parte pelo todo, o todo pela parte; o gênero pela espécie, a espécie pelo gênero; o singular pelo plural, o plural pelo singular etc. e) Eufemismo: palavra, locução ou acepção mais agradá- vel, empregada em lugar de outra menos agradável ou grosseira. Instrução: Leia o poema de camilo pessanha para responder à questão 09.16. INTERROGAÇÃO Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo; E apesar disso, crês? nunca pensei num lar Onde fosses feliz, e eu feliz contigo. Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. E nunca te escrevi nenhuns versos românticos. Nem depois de acordar te procurei no leito, Glossário 1valimento: validade 2cabedal: conhecimento 3perdidoso: prejudicado 4soledade: solidão 5cobrar: receber 09.14. (UERJ) – A primeira estrofe do poema apresenta in- versões da ordem direta das orações. Esse recurso expressivo, chamado hipérbato, é frequente na estética barroca. Reescreva os versos 2 e 3 da primeira estrofe na ordem direta, desfazendo o hipérbato. Em seguida, explique o efeito do hipérbato para a camada sonora dessa estrofe. 8 Extensivo Terceirão Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos. Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo A tua cor sadia, o teu sorriso terno... Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso Que me penetra bem, como este sol de Inverno. Passo contigo a tarde e sempre sem receio Da luz crepuscular, que enerva, que provoca. Eu não demoro o olhar na curva do teu seio Nem me lembrei jamais de te beijar na boca. Eu não sei se é amor. Será talvez começo. Eu não sei que mudança a minha alma pressente... Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, Que adoecia talvez de te saber doente. (PESSANHA, Camilo. Clepsidra. São Paulo: Núcleo, 1989.) 09.16. (FATEC – SP) – O escritor português Camilo Pessanha faz parte da escola literária denominada Simbolismo. Assinale a alternativa que possui uma característica desse movimento artístico presente no poema. a) Elipse, pois o autor omite todos os pronomes pessoais a fim de criar musicalidade. b) Bucolismo, pois o amor faz grande reverência à natureza ao evocar a sua sonoridade. c) Aliteração, pois o autor explora a repetição harmônica e ritmada de sons consonantais. d) Determinismo, pois o meio em que vive a pessoa amada determina o ritmo de sua vida. e) Ornamentação exagerada, pois hávocabulário ritmado com exclusividade de rimas ricas. Instrução: texto para a questão 09.17. Este material publicitário foi criado com o propósito de sensibilizar as pessoas e de despertar nelas uma atitude de conscientização no que refere à violência contra a criança. Disponível em: https://temporalcerebral.com.br/melhores-campanhas-publicita- rias-2017-1/. Adaptado. Acesso em: 11 ago. 2018. 09.17. (UPF – RS) – As figuras de linguagem e de pensamen- to são recursos ou estratégias que podem ser aplicados ao texto. Tendo por base a campanha publicitária apresentada e os enunciados “Cintos são para serem vestidos, não temidos” e “Não há desculpas para os maus-tratos contra as crianças”, é correto o que se afirma em: a) A referência aos “maus-tratos contra as crianças” e a utili- zação de uma cinta para associar essa ideia à de um cão feroz constitui uma prosopopeia, ou personificação, que consiste na atribuição de características humanas a seres irracionais ou coisas inanimadas. b) A oposição entre os verbos “vestir” (“vestidos”) e “temer” (“temidos”) constitui um paradoxo, que coloca em circu- lação ideias contrárias entre si. c) O uso da palavra “desculpa” caracteriza uma ironia, pois está expressando uma ideia diferente ou contrária àquela originalmente posta, uma vez que a campanha não faz referência à ação de desculpar-se ou de ser perdoado. d) A utilização da imagem do cão constitui uma comparação, eis que compara elementos diferentes que apresentam uma característica em comum: o cão e a violência contra as crianças. e) O uso da expressão “maus-tratos” pode ser considerado um eufemismo, pois, dada a natureza forte da publici- dade, essa escolha suaviza um discurso mais chocante, que poderia ter palavras como “agressões” ou “violência”. 09.18. (FUVEST – SP) – Leia os textos. – Eu acho que nós, bois, – Dançador diz, com baba – assim como os cachorros, as pedras, as árvores, somos pessoas soltas, com beiradas, co- meço e fim. O homem, não: o homem pode se ajuntar com as coisas, se encostar nelas, crescer, mudar de forma e de jeito… O homem tem partes mágicas… São as mãos… Eu sei… João Guimarães Rosa, “Conversa de bois”. Sagarana. Um boi vê os homens Tão delicados (mais que um arbusto) e correm e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente falta-lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno, como também parecem não enxergar o que é visível e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes e no rasto da tristeza chegam à crueldade. (...) Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os homens”. Claro enigma. Aula 09 9Português 3B a) Em ambos os textos, o assombro de quem vê decorre das avaliações contrastantes sobre quem é visto. Justifique essa afirmação com base em cada um dos textos. b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem-se de uma mesma figura de linguagem. Explicite essa figura e justifique sua resposta. Desafio 09.19. (FGV – SP) – Leia o texto. (...) expirei às duas horas da tarde de uma sex- ta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemi- tério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia – peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a nature- za parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado”. Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. a) Identifique uma expressão do texto por meio da qual o narrador manifesta sua ironia. Justifique. b) Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Reescreva esse trecho, fazendo as modificações necessá- rias, de acordo com as seguintes instruções: - substitua “vós” por “vocês”; - mantenha os verbos no mesmo modo e tempo; - substitua as palavras sublinhadas por sinônimos ade- quados ao contexto. 09.20. (PUC – RJ) – Texto 1 O exílio, uma experiência da modernidade A história da humanidade poderia escrever-se a partir das estórias do exílio porque desde o início o homem tem vivido em permanente opressão e fuga: fuga de si mesmo e dos outros. Também tem realizado grandes ações, grandes construções: conquista de terras remotas, fundação de cidades, guia de grandes migrações, descobrimento de continentes, exploração de mares, governo de po- vos. Todas essas obras “magníficas” em sua gran- de maioria foram feitas graças ao labor dos refu- giados, asilados, prisioneiros de guerra, escravos, todos vítimas da opressão e expulsão. O pensa- mento estético, acadêmico e científico da moder- na cultura ocidental, também tem-se alimentado de fontes estrangeiras, pense-se em tantos pen- sadores e cientistas degredados e suas valiosas contribuições ao pensamento moderno: Marcuse, Beckett, Nabokov, James Joyce, Adorno, Hannah Arendt, Walter Benjamin, Pound, Einstein, entre outros. Desse ponto de vista, a expulsão e o exílio acabaram sendo condições prévias para o desen- volvimento social e humano. O internacionalis- mo intelectual e cultural, de grandes convulsões sociais, em que as ideias passavam de uma cultura para outra, gerou uma arte essencialmente cos- mopolita que se alimentou das tradicionais via- gens literárias e expatriações de muitos escritores 10 Extensivo Terceirão e artistas, ou foi causada pelas grandes convulsões históricas que forçaram ao exílio muitos escritores, ocasionando que uma parte tão grande da arte mo- derna tenha sido produzida por escritores “sem lar”, afastados de sua cultura nacional, sua tradição, seu idioma nativo. Daí que a palavra “moderno” tenha tantas conotações de desarraigamento, desorientação, ironia, alienação, fratura, sentimentos e emoções que fazem com que a arte moderna provoque em nós uma perturbação tão profunda quanto a admiração que nos inspira. Porém, na escala do século XX, o exílio não é compreensível nem do ponto de vista estético, nem do ponto vista humanista. O exílio é – segundo Edward Said (2003) – irremediavelmente secular e insuportavelmente histórico, é produzido por seres humanos para outros seres humanos, é uma condição criada para negar a dignidade e a identidade das pessoas. Nesse sentido o exílio não pode ser posto a serviço do humanismo. A marca do trauma do exílio fica refletida na perda da identidade, na dor, na fratura e no estranhamento. Por isso, Czeslaw Milosz (1993) afirma que o exílio é a situação existencial do homem moderno. Na mo- dernidade, o homem ainda não superou a desdita de permanecer em permanente desterro. As conquistas de qualquer desterrado são constantemente carcomi- das pelo sentimento de estranhamento, de perda. Na realidade, todo exilado é um náufrago que luta por sobreviver num território estranho onde o desespero, a aniquilação e o silêncio se fazem presentes.Existem muitas estórias e histórias que apresentam o exílio como uma condição heroica, gloriosa ou romântica, e esquecem, porém, a dor da orfandade oculta em seu interior. No âmago de sua solidão, o exilado sente, no silêncio de seu ser, o verdadeiro destino da existên- cia humana. A literatura sobre o exílio objetiva uma angústia e uma condição que a maioria das pessoas raramente experimenta em primeira mão; “mas pen- sar que o exílio é benéfico para essa literatura é ba- nalizar suas mutilações, as perdas que inflige aos que as sofrem [...]. Para autores como James Joyce, Ezra Pound, Samuel Beckett ou Paul Bowles, o exílio su- gere valores mais sedutores, vinculados a estados da consciência, capazes de confirmar qualidades do in- divíduo cuja pureza só seria possível a partir de uma conquista solitária de um espaço próprio. Nietzsche, Joseph Conrad, T.S. Eliot, Nabokov, ou Theodor W. Adorno, porém, pertencem a outra tradição de auto- res que vê o exílio como absoluta orfandade, fratura, trauma, solidão e silêncio. Nessa condição não existe nada glorioso, nem romântico: o exílio é nossa mal- dição, nossa vocação existencial e nossa natureza; é a representação de uma lei fundamental – a da impos- sibilidade de comunicação entre quem quer que seja. Texto adaptado de MONTAÑÉS, Amanda Pérez. Vozes do exílio e suas mani- festações nas narrativas de Julio Cortázar e Marta Traba. Tese de Doutorado. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. p. 15-16. https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/89324/231627. pdf?sequence=1. Acesso em 29/04/2016. Texto 2 Retificação As palmeiras derrubaram para no lugar construírem uma autoestrada O sabiá ganhou um festival nos idos de 68 mas está sendo rapidamente exterminado ou anda preso em alguma gaiola O exílio de minha terra deixou de ser uma canção PORTUGAL, Claudius Hermann et al. Folha de rosto. Rio de Janeiro: Folha de Rosto, 1989, p. 9. a) “Czeslaw Milosz (1993) afirma que o exílio é a situação existencial do homem moderno. Na modernidade, o homem ainda não superou a desdita de permanecer em permanente desterro.” (Texto 1) Explique o sentimento de exílio que está incutido na visão e percepção do eu lírico no texto 2. b) Uma oração empregada na ordem direta apresenta a seguinte estrutura: sujeito – verbo – complementos – adjuntos. Observe os dois primeiros versos do texto 2 e verifique que a organização de uma das orações causa intencionalmente certo estranhamento ao leitor. Explique em que consiste esse estranhamento. Aula 09 11Português 3B 09.01. a 09.02. a 09.03. e 09.04. d 09.05. b 09.06. c 09.07. e 09.08. c 09.09. a 09.10. b 09.11. b 09.12. d 09.13. a 09.14. Uma das respostas: O mentir traz consigo tanta mentira, tanta utilidade nesta cidade. O mentir nesta cidade traz consigo tanta mentira, tanta utilidade. O hipérbato produz a rima. 09.15. c 09.16. c 09.17. e 09.18. a) Tanto o excerto de “Conversa de bois” como o de “Um boi vê os homens” transcrevem reflexões dos animais sobre a condição humana. No primeiro, o boi Dançador constata a supremacia do Homem sobre os irracionais pelo fato de ser provido de mãos: “O homem tem partes mágicas… São as mãos”. Já no segun- do, as reflexões recaem sobre a natureza íntima do ser humano, desprovida de atributos essenciais que possam torná-lo mais sensível ao mundo que o rodeia:” Certamente falta-lhes/não sei que atributo essencial”, “não escutam/ nem o canto do ar nem os segredos do feno”. b) O conto de Rosa e o poema de Drummond, por apresentarem conceitos elaborados por seres irracionais, valem-se da proso- popeia ou personificação, figura de linguagem pela qual o autor atribui características humanas a seres inanimados ou a animais. 09.19. a) Uma expressão irônica de Brás Cubas é “bom e fiel amigo”, uma vez que tal pessoa, responsável por um discurso à beira do cai- xão, na verdade era um herdeiro dele, tendo recebido vinte apó- lices do defunto. b) A reescrita do texto, segundo as instruções, é: “Vocês, que o co- nheceram, meus senhores, vocês podem dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irrecuperável de um dos mais belos temperamentos que têm honrado a humanidade”. A partir da substituição de “vós” por “vocês”, a concordância dos verbos com tal sujeito deve ser alterada para 3ª pessoa do sin- gular: “conheceram” e “podem”; um sinônimo para “irreparável” é “irrecuperável”; um sinônimo para “caracteres” é “temperamentos”. 09.20. a) Em Retificação, o eu lírico não reconhece mais os indicativos da própria pátria, a qual passou por mudanças com a moderniza- ção. Essa mudança despertou nele o incômodo e a sensação de desterro, e ele não se conforma com isso. b) Escritos em ordem direta, os versos formariam o seguinte perí- odo: Derrubaram as palmeiras / para no lugar construírem uma autoestrada. O estranhamento ao leitor é causado pela anteposição do ob- jeto direto (palmeira) em relação ao verbo (derrubar), uma vez que o sujeito de tal verbo é indeterminado, portanto está con- jugado na 3ª pessoa do plural. Vale notar que a construção que causa estranhamento no leitor apresenta razão de ser: ela reflete o estranhamento do próprio eu lírico frente à sua terra. Gabarito 12 Extensivo Terceirão Português 3BAula 10 Coesão I Imagine que cada aluno em sua sala disponha de, digamos, 400 peças de blocos de montar do tipo Lego. Os modelos e as cores disponíveis são os mesmos para cada aluno, que deve criar uma composição qualquer em determinado tempo. Além da inevitável variação de formas e figuras, você certamente notaria que alguns modelos te- riam mais destaque, porque melhores na sua cons- tituição; outros já não teriam tal destaque, porque apresentariam combinações menos expressivas. Quer dizer: todos os alunos disporiam das mes- mas peças, mas o resultado de sua combinação seria o mais variado possível. Assim também costuma acontecer na nossa relação com a língua e os enunciados que criamos para nos expressarmos diante do mundo. Como já vimos anteriormente, a Sintaxe é a área da língua que estuda, descreve e interpreta as combi- nações possíveis em um idioma e os efeitos de sentido decorrentes dessas combinações. Quando se fala em coesão, estamos focando um conjunto de instrumentos para estabelecer relações ob- jetivas, precisas e expressivas no interior dos enunciados que produzimos. “Meu texto não tem coesão” Embora essa frase seja comum quando alunos pro- duzam ou recebam suas redações corrigidas, a verdade é que seria muito difícil um texto “não ter coesão”, por- que isso implicaria não se estabelecer relação alguma de forma clara ou precisa entre as frases. A não ser que pensássemos em um texto completamente caótico na construção das frases, sem sentido algum estabelecido, realmente todo texto apresenta algum grau de coesão. O que ocorre é que a coesão pode ser (ou estar) falha em vários momentos ou, o que seria o ideal, ela pode funcionar de maneira bem ajustada, equilibrada às intenções de quem se pronuncia, garantindo assim expressividade ao enunciado. Então, como melhorar a coesão em meu texto? Os instrumentos de coesão primeiramente têm a ver com a forma, pois são responsáveis pela ligação entre as partes do enunciado e, por extensão, as do texto. Assim, a coesão também atua sobre a progressão do conjunto. A equação é simples: Coesão = relação entre peças + progressão do conjunto Como construímos os enunciados para comunicar algo que faça sentido a quem nos ouve ou lê, cada escolha na forma terá um impacto na arquitetura do significado do todo. Por isso, podemos afirmar que a construção dos sentidos passa também pelo modo como as coisas são ditas ou escritas. Num texto, não interessa apenas o que dizer, mas também como dizer, e isso tem a ver com os fatores de coesão que podemos acionar em nossos textos. “Quem se liga a quem” Um olhar atento a esse tipo de operação nos aju- dará aentender de maneira mais profunda e precisa a teia de relações envolvendo palavras ou expressões dentro de um texto. Eis aí a primeira marca de coe- são a estruturar os elementos componentes de um enunciado. Reconhecer os passos que definem essa teia de relações nos ajudará a ler e a entender melhor, acredite. Concordância A sintaxe de concordância entre um termo e o seu núcleo é a relação sintática mais óbvia que reconhece- mos na coesão. Aula 10 13Português 3B Quando dizemos que “A concorda com B ”, seja em número (singular/plural) ou gênero (masculino/feminino), estamos reconhecendo, na verdade, uma relação de profunda coesão entre A e B. Esse é o princípio básico, por exemplo, que orienta a identificação de um sujeito na frase. A expectativa de dias melhores nos alimenta cons- tantemente. núcleo singular verbo no singular Compramos [ livros e revistas ] usados. Aqui, o adjetivo “usados ” faz referência a livros e revistas. Trata-se do tipo de concordância mais natural quando um adjetivo tem como núcleo um substantivo masculino e outro feminino. Compramos livros e [revistas] usadas. Neste caso mais específico, o adjetivo “usadas” está em coesão apenas com o substantivo “revistas”, fazendo- -nos entender que os livros eram novos. Como você percebeu, a sintaxe de concordância, aqui, implica diferença clara de sentido entre os enunciados. Ordem das palavras Por este fator de coesão, é bastante natural que se evidencie no início da frase o termo considerado refe- rência no enunciado. Quando se quebra a ordem típica das frases na lín- gua portuguesa, há a chamada ordem indireta, marcada por inversões e anteposições no interior do enunciado. • O Brasil foi desclassificado pela Alemanha em 8 de julho de 2014. (destaque para o paciente da ação verbal) • Pela Alemanha o Brasil foi desclassificado em 8 de julho de 2014. (destaque para o agente da ação verbal) • Em 8 de julho de 2014, o Brasil foi desclassificado pela Alemanha. (destaque para a informação tempo- ral sobre o fato ocorrido) Além desses efeitos, a ordem pode causar diferenças contundentes quanto ao sentido de muitas construções, conforme sejam mudadas as posições de determinados termos da frase. música popular de rádio (trata-se de uma música com apelo popular veicula- da em qualquer tipo de rádio) música de rádio popular (trata-se de um tipo qualquer de música veiculada em rádio de apelo popular) Fazemos melhor nosso trabalho. Fazemos nosso melhor trabalho. Como se pode perceber, a ordenação imprimiu dife- rentes sentidos a cada enunciado: em um, o realce se dá ao modo de fazer, incrementando a maneira de agir; no outro, destaca-se o trabalho em si. Esperamos que você comece a aguçar um “olhar clínico” para os fatos da língua, principalmente quando a ordenação dos elementos gerar efeitos que não são esperados e causem enunciados de duplo sentido – am- bíguos –, por vezes resultando em absurdos. Atenção! Ordem das palavras e ambiguidade Veja a pequena nota, extraída de um importante jornal de circulação nacional, no final de 2011: Ex-professor da USP tenta roubar bolsa com caco de vidro. Um leitor atento rapidamente notaria o problema deste enunciado. Afinal, o caco de vidro foi o instrumen- to usado pelo ex-professor na tentativa de assalto ou o caco de vidro estava na bolsa? Reparou como a disposição das palavras na frase gerou o problema? A ambiguidade do enunciado, ou o duplo sentido, pode muitas vezes atrapalhar as intenções de quem comunica. Este é um exemplo de como o duplo sentido decorreu da má disposição dos termos no enunciado. Resumindo: a ideia era tenta roubar + com caco de vidro, mas a disposição dá a entender bolsa + caco de vidro. Ambiguidade O fenômeno da ambiguidade, o duplo sentido, é comum nas línguas naturais. Um dos fatores essen- ciais para a produção de frases ambíguas é a manei- ra como as palavras são dispostas nas frases. Via de regra, o efeito desse tipo de ambiguidade é negati- vo, pois cria efeitos inesperados que comprometem a intenção do enunciador. 14 Extensivo Terceirão Elipse Também é um fator de economia na frase. Recurso muito comum e recorrente no texto, consiste no apagamento de um termo ou expressão facilmente identificáveis pelo contexto. Primeiros dias, para falar a verdade, (EU) não senti sua falta; (POIS) (FOI) bom ficar com os amigos na roda do bar. (Dalton Trevisan) Testes Assimilação 10.01. Leia o poema a seguir. LEMINSKI, P. Toda Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 144. Em relação ao poema, considere as afirmativas a seguir. I. O termo “impressão” tem duplo sentido no texto. II. Há uma supressão do termo “corpo”, no poema, em de- corrência da concisão. III. O desenho da fonte escolhida para o verbo reforça a ideia de dinamicidade. IV. A forma da fonte empregada no final do poema desfaz a carga erótica do início. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 10.02. (ESPM – SP) – Em uma das frases ocorre uma ambi- guidade ou duplo sentido. Identifique-a: a) Ex-presidente recorreu ao Comitê da ONU acusando o juiz de violar seus direitos. b) Sem placa orientadora, taxistas evitam corredor de ônibus, mesmo após liberação pela Prefeitura. c) “Pokémon Go” leva jogadores à caça em cemitérios e igrejas no Brasil. d) Líderes governamentais com tensões e saias-justas na mala vão à China para o G20. e) O ministro do STF afirmou que os integrantes do Mi- nistério Público Federal devem “calçar as sandálias da humildade”. 10.03. (ESPCEX – SP) – “Mas essas são consequências aparentemente colate- rais, porque a população manifesta muito mais pra- zer no massacre contra o preso produzido dentro dos presídios.” Há um trecho, dentro do período destacado acima, que provoca ambiguidade. Marque-o: a) aparentemente colaterais b) produzido dentro dos presídios c) contra o preso d) manifesta mais prazer e) no massacre Instrução: Texto para a questão 10.04. Eram tempos menos duros aqueles vividos na casa de Tia Vicentina, em Madureira, subúrbio do Rio, onde Paulinho da Viola podia traçar, sem cerimônia, um prato de feijoada - comilança que deu até samba, “No Pagode do Vavá”. Mas como não é dado a saudades (lembre-se: é o passado que vive nele, não o contrário), Paulinho aceitou de bom grado a sugestão para que o jantar ocor- resse em um dos mais requintados italianos do Rio. A escolha pela alta gastronomia tem seu pre- ço. Assim que o sambista chega à mesa redonda ao lado da porta da cozinha, forma-se um círculo de garçons, com o maître à frente. [...] Paulinho conta que cresceu comendo o trivial. Seu pai viveu 88 anos à base de arroz, feijão, bife e batata frita. De vez em quando, feijoada. Massa, também. “Mas nada muito sofisticado.” Com exceção de algumas dores de coluna, aos 70 anos, goza de plena saúde. O músico credita sua boa forma ao estilo de vida, como se sabe, não dado a exageros e grandes ansiedades. T. Cardoso, Valor, 28/06/2013. Adaptado. 10.04. (FGV – RJ) – Tendo em vista o contexto, pode ser lida em duplo sentido a palavra sublinhada na seguinte frase do texto: a) “Mas como não é dado a saudades”. b) “Paulinho aceitou de bom grado a sugestão”. c) “A escolha pela alta gastronomia tem seu preço”. d) “forma-se um círculo de garçons, com o maître à frente”. e) “O músico credita sua boa forma ao estilo de vida”. Aula 10 15Português 3B Aperfeiçoamento 10.05. (UNICAMP – SP) – Na década de 1950, quando iniciava seu governo, Juscelino Kubitschek prometeu “50 anos em 5”. Na campanha do atual governo o slogan ficou assim: “O Brasil voltou, 20 anos em dois”. A ‘tradução’ não ti- nha como dar certo; era como comparar vinho com água. E mais:havia uma vírgula no meio do cami- nho. Na propaganda, apenas uma vírgula impede que a leitura, ao invés de ser positiva e associada ao progressismo de Juscelino, se transforme numa men- sagem de retrocesso: o Brasil de fato ‘voltou’ muito nesses últimos dois anos; para trás. (Adaptado de Lilia Schwarcz, Havia uma vírgula no meio do caminho. Nexo Jornal, 21/05/2018.) Considerando o gênero propaganda institucional e o paralelo histórico traçado pela autora, é correto afirmar que o slogan do atual governo fracassou porque a) o uso da vírgula provocou uma leitura negativa do trecho que alude ao slogan da década de 1950. b) a mensagem projetada pelo slogan anterior era mais clara, direta, e não exigia o uso da vírgula. c) a alusão ao slogan anterior afasta o público jovem e provoca a perda de seu poder persuasivo. d) o duplo sentido do verbo “voltar” gerou uma mensagem que se afasta daquela projetada pelo slogan anterior. Instrução: A questão 10.06 refere-se ao texto a seguir: Proibido para menores de 50 anos. Nos últimos meses, em meio ao debate sobre as reformas na Pre- vidência, um ponto acabou despertando a atenção. Afinal, existem empregos para quem tem mais de 50 anos? Pendurar as chuteiras nem sempre é fácil. Às vezes, pode significar uma quebra tão grande na roti- na que afeta até mesmo o emocional. Foi a partir de uma experiência familiar nesta linha que o paulista- no Mórris Litvak criou a startup MaturiJobs. Trata-se de uma agência virtual de empregos, especializada em profissionais com mais de 50 anos. (Revista Isto é Dinheiro. Mercado de Trabalho. Maio/2017. p. 6.) 10.06. (ITA – SP) – “Às vezes, pode significar uma quebra tão grande na rotina que afeta até mesmo o emocional”. As expressões em destaque, respectivamente, têm os valores semânticos de a) ambiguidade e conformidade. b) eventualidade e gradação. c) causa e consequência. d) dúvida e exclusão. e) temporalidade e finalidade. 10.07. As frases abaixo apresentam ambiguidade, ou dupla leitura, exceto uma. Assinale-a: a) Paternidade: o desafio para os pais que cuidam dos filhos sozinhos. b) Ciências sem Fronteiras: verbas para estudantes atrasadas. c) Dilma afirma que Petrobras é maior que seus problemas. d) Mesmo sem revogar dogmas, Papa vira alvo dos con- servadores. e) Deputado fala da reunião no Canal 2. Instrução: A questão 10.08 Focaliza uma passagem da comédia O juiz de paz da roça, do escritor Martins Pena (1815-1848). JUIZ (assentando-se): Sr. Escrivão, leia o outro re- querimento. ESCRIVÃO (lendo): Diz Francisco Antônio, natural de Portugal, porém brasileiro, que tendo ele casado com Rosa de Jesus, trouxe esta por dote uma égua. “Ora, acontecendo ter a égua de minha mulher um filho, o meu vizinho José da Silva diz que é dele, só porque o dito filho da égua de minha mulher saiu malhado como o seu cavalo. Ora, como os filhos pertencem às mães, e a prova disto é que a minha escrava Maria tem um filho que é meu, peço a V. Sa. mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da égua que é de minha mulher”. JUIZ: É verdade que o senhor tem o filho da égua preso? JOSÉ DA SILVA: É verdade; porém o filho me per- tence, pois é meu, que é do cavalo. JUIZ: Terá a bondade de entregar o filho a seu dono, pois é aqui da mulher do senhor. JOSÉ DA SILVA: Mas, Sr. Juiz... JUIZ: Nem mais nem meios mais; entregue o filho, senão, cadeia. (Martins Pena. Comédias (1833-1844), 2007.) 10.08. (UNIFESP) – O efeito cômico produzido pela leitura do requerimento decorre, principalmente, do seguinte fenômeno ou procedimento linguístico: a) paródia. b) intertextualidade. c) ambiguidade. d) paráfrase. e) sinonímia. 16 Extensivo Terceirão Instrução: Texto para as questões 10.09. e 10.10. O amigo da casa A própria menina se prende muito a 1ele, que ain- da lhe trouxe a última boneca, embora agora ela se ponha mocinha: encolhe-se na poltrona da sala sob a luz do abajur e lê a revista de quadrinhos. 2Ele é alemão como o dono da casa. Tem apar- tamento no hotel da praia e joga tênis no clube, saltando com energia para dentro do campo, a ra- quete na mão. Assiste às partidas girando no copo de uísque os cubos de gelo. É o amigo da casa. Depois do jantar, passeia com a mãe da menina pelo caminho de pedra do jardim: as duas cabe- ças – a loira e a preta de cabelos aparados – vão e vêm, a dele já com entradas da calva. 3Ele chupa o cachimbo de fumo cheiroso, que o moço de bor- do vai deixar no escritório. O dono da casa é Seu Feldmann. 4Dirige o seu pequeno automóvel e é muito delicado. Cumpri- menta sempre todos os vizinhos, até mesmo os mais canalhas como Seu Deca, fiscal da Alfânde- ga. Seu Feldmann cumprimenta. Bate com a cabeça. Compra marcos a bordo e no banco para a 5sua viagem regular à Alemanha. Viaja em companhia do comandante do cargueiro, em camarote espe- cial. Então respira o ar marítimo no alto do con- vés, os braços muito brancos e descarnados, na camisa leve de mangas curtas. A fortuna de origem é da mulher: as velhas casas no centro da cidade, os antigos armazéns, 6o sí- tio da serra, de onde ela desce aos domingos em companhia 7do 8outro, que é o amigo da casa, e da menina. 9Saem os dois à noite e 10ele para o seu próprio automóvel sob os coqueiros na praia. 11Decerto brigaram mais uma vez, porque ela volta para casa de olhos vermelhos, enrolando 12nos dedos o lencinho bordado. Recolhe-se a seu quarto (ela e seu Feldmann dormem em quartos separados). Trila o apito do guarda. 13Os faróis do automóvel na rua pincelam de luz as paredes, tiram reflexo do espelho. 14Ela permanece insone: o vidro de sua janela é um retângulo de luz na noite. (Moreira Campos. In Obra Completa – contos II. 1969. p. 120-122. Original- mente publicado na obra O puxador de terço. Texto adaptado.) 10.09. (UECE) – Atente ao que se diz sobre algumas ocor- rências do texto e assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso. ( ) O pronome “outro”, como todo vocábulo da língua por- tuguesa, pode substantivar-se. Foi o que aconteceu com o pronome “outro” da referência 8. ( ) A expressão “(d)o outro” (ref. 7) é ambígua. Ela signi- fica “outra pessoa”. Em alguns estados brasileiros, en- tretanto, ela é usada também para fazer referência ao homem (o outro) e/ou à mulher (a outra) que protago- nizam uma relação extraconjugal. Trabalhar essa ambi- guidade no texto em estudo foi uma ideia feliz. ( ) Em “sua viagem regular à Alemanha” (ref. 5), o adjetivo “regular” foi empregado no sentido de ”aquilo que se dá em conformidade com a lei, com as regras, com a praxe”. ( ) No enunciado: “Decerto brigaram mais uma vez, por- que ela volta para casa de olhos vermelhos, enrolando nos dedos o lencinho bordado” (ref. 11), a conjunção “porque” empresta à oração que é iniciada por ela o va- lor semântico de explicação. ( ) A informação de que a mulher enrolava “nos dedos o lencinho bordado” (ref. 12) não é gratuita no conto. Ao contrário, tem uma função: mostrar o estado da mu- lher, seu nervosismo, sua angústia. Está correta, de cima para baixo, a seguinte a) F – V – F – V – F. b) F – F – V – F – V. c) V – V – F – V – V. d) V – F – V – F – F. 10.10. (UECE) – O título de um texto é um ingrediente im- portante para o processo da leitura. Um bom título deve ter a força de atrair o leitor, de causar-lhe algum estranhamento. Pode dar pistas sobre o conteúdo do texto, mas não deve ser muito explícito. A ambiguidade também é um ingrediente que pode ter efeito positivo num título. Atente à análise do título do texto. I. O título do conto (Texto) deve surpreender o leitor, que tem arquivada na memória linguística a expressão “o amigo” sempre relacionada ao homem e, raramente, a um animal irracional (como o cachorro), portanto a um ser vivo. O estranhamento causado pelo título pode ser um incentivo à leitura. II. Ao intitular o conto de “O amigo da casa”, o enunciador empregouuma estrutura metonímica. A metonímia é uma “figura de retórica que consiste no uso de uma palavra fora de seu contexto semântico normal por ter uma significação de relação objetiva, de contiguidade, material ou conceitual, com o conteúdo ou referente ocasionalmente pensado” (Houaiss). III. A outra qualidade do título consiste em ser ambíguo: o vocábulo “amigo”, além de significar aquele “que ama, que demonstra afeto, amizade”, pode significar, no uso informal da língua, “amante, amásio”. Essa ambiguidade poderá despertar a curiosidade do leitor e levá-lo à leitura. Está correto o que se diz em a) I e II apenas. b) II e III apenas. c) I e III apenas. d) I, II e III. Aula 10 17Português 3B Aprofundamento Instrução: leia o texto abaixo e responda à questão 10.11. Onde há maior engajamento das pessoas no tra- balho? Para responder essa pergunta, a consultoria Marcus Buckingham Company fez uma pesquisa em 13 países, entrevistando cerca de mil pessoas de várias empresas em cada um. Os Estados Unidos e a China estão empatados em primeiro lugar (com de engajamento total cada), o que não chega a ser uma surpresa diante da potência de suas economias. Mas aí começam as novidades: em segundo lugar está a Índia, com e em terceiro, o Brasil, com de engaja- mento, acima de países como a Inglaterra, o Cana- dá, a Alemanha, a Itália e a França. Solicitou-se aos entrevistados hierarquizar oito afirmações básicas, como “no trabalho, sei claramente o que esperam de mim” ou “serei reconhecido se fizer um bom traba- lho”. Para os autores, a diferença de engajamento em cada país seria explicada de acordo com o grau de confiança que o entrevistado teria sobre a utilização de suas capacidades pessoais no trabalho. Mas há nuances: no Brasil, assim como na França, Canadá e Argentina, a afirmação “meus colegas me apoiam” recebeu também grande destaque, enquanto na In- glaterra e na Índia se valoriza mais o fato de ter cole- gas que compartilhem os mesmos valores. (Adaptado de: NOGUEIRA, P. E. A preguiça é mito? Época Negócios. ago. 2015. n.102. p. 21.) 10.11. (UEL – PR) – Acerca dos recursos linguísticos subli- nhados no texto, assinale a alternativa correta. a) A expressão “cerca de” pode ser substituída por “acerca de” sem prejuízo do sentido original. b) A expressão “em cada um” impede ambiguidade em torno das empresas nas quais as pessoas foram entrevistadas. c) O conectivo “Mas” serve para contrapor “surpresa” e “novidades”. d) O termo “aí” refere-se à “potência de suas economias”. e) O conectivo “enquanto” pode ser substituído por “ao passo que” sem prejuízo do sentido original. 10.12. (EBMSP – BA) – ESTILO DE VIDA. Disponível em: <http://www.molotovpropaganda.com.br/wp- -content>. Acesso em: 9 jul. 2016. A campanha institucional sugere ações cotidianas que me- lhoram a qualidade de vida das pessoas. Na estruturação do texto, identifica-se o uso a) dos dois-pontos, com o objetivo de introduzir uma expli- cação para que o locutário saiba qual o principal objetivo da publicidade em foco. b) do modo imperativo, para convencer o leitor a, sempre que necessário, utilizar os serviços da instituição respon- sável pela divulgação da conduta indicada. c) de um recurso linguístico e gráfico para destacar o benefí- cio da intensidade de certas características humanas, caso já se adote o estilo de vida sinalizado pelo interlocutor. d) da forma verbal “Seja”, que introduz atributos próprios do gênero feminino, e cujo sujeito implícito também aparece relacionado com a figura que ilustra a peça publicitária. e) da ambiguidade gerada por “Cultive”, que, nesse contexto, possibilita que a ação expressa se efetue tanto no sentido conotativo quanto no denotativo. 10.13. (UFPR – Adaptado) – O texto a seguir contém um trecho da entrevista dada por Wilson Ferreira Jr., presidente da Eletrobras, para a Revista Isto É Dinheiro (ano 20, nº 1123). Numere os itens, relacionando as respostas com as respectivas perguntas. 1) As ações da Eletrobras dobraram de valor desde que você assumiu. O que o Wilson tem de diferente dos outros executivos? 2) O que mais contribuiu para o resultado? 3) Como a empresa deve se posicionar nos próximos 10 anos? ( ) Isso vai depender se ela será uma empresa capitalizada ou não. Gosto de olhar até o fim do ano, quando te- remos quase concluído o processo de reestruturação. Faltam mais 1.500 pessoas ingressarem nos PDVs. A segunda coisa importante é concluirmos as obras que havíamos começado. ( ) Vontade de realizar. A companhia estava em uma situ- ação delicada, mas tinha saída. Temos um bom plano e somos apoiados pelo governo. Isso é muito impor- tante no caso de uma estatal que tem um conjunto de limitações, às vezes até políticas. ( ) A melhora operacional. Éramos uma companhia que tinha custos reais, de pessoal, material, serviços e ou- tros maiores que os custos regulatórios. Quando isso acontece, o acionista paga a diferença. Começamos com 55% de custo a mais e, ao fim do último trimestre, chegamos a 11% a mais. Assinale a alternativa que apresenta a numeração correta, de cima para baixo. a) 2 – 3 – 1. b) 1 – 3 – 2. c) 3 – 1 – 2. d) 2 – 1 – 3. e) 3 – 2 – 1. 18 Extensivo Terceirão 10.14. (UFPR) – Considere o seguinte conjunto de informações: - Os buracos negros são objetos fascinantes. - Nos buracos negros, a matéria está em densidade extremamente alta. - A gravidade dos buracos negros é muito intensa. Considere as seguintes possibilidades de união dessas infor- mações num único período: 1. Os buracos negros são objetos fascinantes com gravidade muito intensa, nos quais a matéria está em densidade extremamente alta. 2. A matéria está em densidade extremamente alta nos buracos negros, onde são objetos fascinantes com gra- vidade muito intensa. 3. A gravidade dos buracos negros, objetos fascinantes cuja matéria está em densidade extremamente alta, é muito intensa. Está/Estão de acordo com a norma padrão da escrita: a) 1 apenas. b) 2 apenas. c) 1 e 3 apenas. d) 2 e 3 apenas. e) 1, 2 e 3. 10.15. (UFPR – Adaptado) – O texto a seguir contém trechos de uma entrevista dada pelo astronauta Scott Kelly para a Revista Galileu. Numere os itens, relacionando as respostas com as respectivas perguntas. 1. Antes de se aposentar, em 2016, aos 52 anos, você passou 520 dias no espaço. Como se sente a respeito de sua carreira? 2. Em Endurance você conta que, no início da exploração espacial, os astronautas eram escolhidos pela habilidade de pilotar espaçonaves, mas hoje há qualidades mais valorizadas. Qual seria “a coisa certa” para a primeira tripulação em Marte? 3. Há problemas em aberto com relação aos voos espaciais que precisamos resolver antes de embarcarmos em jornadas interplanetárias. Quais são os fundamentais? 4. Esse interesse renovado pela Lua deu início a conversas entre a Nasa, a Roscosmos e outras agências visando a construção de uma “EEI” na órbita da Lua na década de 2020. Como seria estar a bordo de uma estação dessas? ( ) Você não poderia voltar tão rápido em caso de uma emergência. Além disso, os atrasos de comunicação não seriam tão longos, então ainda seria possível manter uma conversa pelo telefone. A estação poderia ser rea- bastecida com suprimentos, mas seria mais complicado. Ir até a Lua não é como ir até a órbita terrestre baixa. ( ) Pessoas que sejam capazes de trabalhar bem juntas, como um time, que sejam tecnicamente competentes, confiáveis. Pessoas que tenham muitas outras habilida- des além de pilotar. ( ) O que vai nos impedir de ir a Marte ou desacelerar nos- sa potencial jornada é o financiamento para isso. Será caro, vamos precisar de pessoas no governo que reco- nheçam o valor da ciência, da pesquisa e da descober- ta. E creio que este seja o maior desafio que temos: não a ciência dos foguetes, mas a ciência política. ( ) Privilegiado por ter voado ao espaço, por ter tidoa opor- tunidade de fazer isso quatro vezes. Tive uma experiência bem diversificada, como piloto em uma missão de reparo do telescópio espacial Hubble e, mais tarde, ao voar como comandante do ônibus espacial até a estação. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de cima para baixo. a) 1 – 3 – 2 – 4. b) 4 – 3 – 2 – 1. c) 3 – 2 – 1 – 4. d) 1 – 4 – 3 – 2. e) 4 – 2 – 3 – 1. Instrução: A questão 10.16 refere-se ao texto “Dizer o que se pensa não é sempre uma qualidade” Dizer o que se pensa não é sempre uma qualidade Suzana Herculano-Houzel 1Donald Trump fala o que muitos pensam e não têm coragem de dizer, 2segundo seus eleitores. Cheguei aos EUA em 2016 com Obama na Casa Branca e 3assisti 4boquiaberta, poucos meses de- pois, a uma parcela significativa da nação eleger uma figura no mínimo controversa. Trump pare- cia imune aos próprios atentados contra os valores americanos. A razão, louvada por tantos de seus eleitores? “Ele fala o que muitos pensam e não têm coragem de dizer.” 5E 6ainda faz escola. Já ouvi o mesmo argumento de vários que apoiam presidenciáveis brasileiros. 7Como se dizer o que se pensa fosse, de fato, sem- pre algo louvável. Mas não é. Pensar besteira todo mundo faz, de chegar na mure- ta do mirante e ponderar que “é 8só passar a perna por cima e me jogar” ou olhar para o vizinho e pen- sar que “se eu o empurrasse, ele teria morte certa”. 9Evocar associações comuns, como mureta e suicí- dio, é apenas natural para o cérebro, consequência inevitável do seu aprendizado por repetição. 10Da mesma forma, 11num 12ambiente em que ra- cismo, homofobia e liberdades tomadas com a vida dos outros ainda imperam, 13onde se cresce ouvin- do que negros e índios são isso, gays são aquilo, e 14onde todo útero grávido é propriedade coletiva, 15insultar é o impulso mental fácil, mesmo que por repetição, e não por crença. 16Pensamentos também são testes de ações mentais e suas consequências possíveis. Mentalmente, todo mundo um dia xinga a mãe, esbofeteia o vizinho, esfaqueia o marido ou profere insultos racistas e homofóbicos. 17Mas a grande maioria para no pensamento, 18hor- rorizada pela consequência que suas ações mentais teriam na vida real se executadas ou ditas. 19Pen- samentos terríveis têm essa utilidade: 20primatas Aula 10 19Português 3B que somos, com um córtex pré-frontal expressivo, capaz de reconhecer 21más ideias e impedi-las22 de vir à tona, não precisamos chegar às vias de fato para aprender a não fazer besteira. 23Dizer o que “todo mundo pensa mas não ousa dizer”, portanto, não é sinal de coragem, nem de honestidade, mas apenas de falta de controle pré- -frontal – ou de mau caráter mesmo. (Herculano-Houzel, Suzana [bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA)]. Dizer o que se pensa não é sempre uma qualidade. Folha de São Paulo, 14/08/2010. Adaptado. Disponível em: http://www.brasilagro. com.br/conteudo/dizer-o-que-se-pensa-nao-e-sempre-uma-qualidade.html. Acesso em 11 ago. 2018) 10.16. (UPF – RS) – No que concerne a aspectos gramaticais do texto “Dizer o que se pensa não é sempre uma qualidade”, é incorreto o que se afirma em: a) A construção “assisti boquiaberta, poucos meses depois, a uma parcela significativa da nação eleger uma figura no mínimo controversa” (ref. 3) seria, por muitas pessoas, escrita da seguinte forma: “assisti boquiaberta, poucos meses depois, uma parcela significativa da nação eleger uma figura no míni- mo controversa”. Isso, no entanto, representaria um erro, uma vez que, nesse contexto, o verbo assistir é transitivo indireto. b) No fragmento “Da mesma forma, num ambiente em que racismo, homofobia e liberdades tomadas com a vida dos outros ainda imperam” (ref. 10), a expressão “em que” poderia ser substituída por “no qual” sem que o sentido do texto e sua correção gramatical fossem prejudicados. c) Para garantir a correção gramatical, o fragmento “Mas a grande maioria para no pensamento” (ref. 17) deveria ser escrito da seguinte forma: “Mas a grande maioria pára no pensamento”, uma vez que o acento agudo diferencial é necessário em razão de se tratar de uma palavra homógrafa. d) No trecho “horrorizada pela consequência que suas ações mentais teriam na vida real se executadas ou ditas” (ref. 18), há uma elipse de um verbo conjugado na terceira pessoa do plural do pretérito imperfeito do subjuntivo. e) Para garantir a correção gramatical, a oração “Pensamen- tos terríveis têm essa utilidade:” (ref. 19) deveria ser escrita com a forma pronominal “esta”, assim: “Pensamentos terríveis têm esta utilidade:”, uma vez que se tem, aqui, uma relação catafórica. 10.17. (UNESP – SP) – Verifica-se o emprego de vírgula para indicar a elipse (supressão) do verbo em: a) “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou la- drão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?” b) “O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera [...].” c) “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres.” d) “Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.” e) “Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam.” Instrução: Texto para a questão 10.18. A educação pela seda Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abo- minável. Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar. Rosa Amanda Strausz Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990 10.18. (UERJ) – Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, O vocábulo a é comumente utilizado para substituir ter- mos já enunciados. No texto, entretanto, ele tem um uso incomum, já que permite subentender um termo não enunciado. Esse uso indica um recurso assim denominado: a) elipse b) catáfora c) designação d) modalização Desafio 10.19. (FUVEST – SP) – Leia a seguinte mensagem publici- tária de uma empresa da área de logística: A gente anda na linha para levar sua empresa mais longe Mudamos o jeito de transportar contêineres no Brasil e Mercosul. Através do modal ferroviário, oferecemos soluções logísticas econômicas, segu- ras e sustentáveis. a) Visando a obter maior expressividade, recorre-se, no título da mensagem, ao emprego de expressão com duplo sentido. Indique essa expressão e explique sucintamente. 20 Extensivo Terceirão b) Segundo o anúncio, uma das vantagens do produto (transporte ferroviário) nele oferecido é o fato de esse produto ser “sustentável”. Cite um motivo que justifique tal afirmação. Instrução: Texto para a questão 10.20. (...) Minutos depois, já sozinhos, o médico foi sentar- -se ao lado da mulher, o rapazinho estrábico dormi- tava num canto do sofá, o cão das lágrimas, deitado, com o focinho sobre as patas dianteiras, abria e fe- chava os olhos de vez em quando para mostrar que continuava vigilante, pela janela aberta, apesar da altura a que estava o andar, entrava o rumor das vo- zes alteradas, as ruas deviam estar cheias de gente, a multidão a gritar uma só palavra, Vejo, diziam-na os que já tinham recuperado a vista, diziam-na os que de repente a recuperavam, Vejo, vejo, em verdade começa a parecer uma história doutro mundo aquela em que se disse, Estou cego. (...) Por que foi que ce- gámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, 1Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem. A mulher do médico levantou-se e foi à janela.Olhou para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pessoas que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça para o céu e viu-o todo branco, Chegou a minha vez, pensou. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cida- de ainda ali estava. JOSÉ SARAMAGO Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 10.19. (UERJ) – Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. (epígrafe do livro) Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem. (ref. 1) Os fragmentos acima sintetizam a temática do romance de José Saramago. A epígrafe apresenta uma recomendação por meio de uma gradação de verbos com sentidos rela- cionados à visão. Nessa gradação, o verbo reparar assume duplo sentido. Aponte esses dois sentidos. Em seguida, reescreva o trecho Cegos que, vendo, não veem, substituindo apenas a oração reduzida por uma oração desenvolvida em que o conectivo empregado explicite o paradoxo presente na fala do médico. Gabarito 10.01. d 10.02. a 10.03. b 10.04. c 10.05. d 10.06. b 10.07. d 10.08. c 10.09. c 10.10. d 10.11. e 10.12. c 10.13. c 10.14. c 10.15. e 10.16. c 10.17. c 10.18. a 10.19. a) Para maior expressividade a palavra “li- nha” traz uma ambiguidade bastante pertinente, referindo-se à expressão “andar na linha”, que significa fazer tudo de maneira correta, e a ideia de linha de trem, já que a empresa ofe- rece transportes em contêineres via férrea. b) Hoje, “sustentável” ganhou um significa- do a mais, ou seja, de toda forma de tra- balho que não prejudica o meio ambien- te, como os trens, que, mais baratos que outros meios de transporte, não poluem o ar como eles. 10.20. O verbo “reparar” apresenta o sentido de olhar com atenção, assim, se é possível ver, é também possível observar com atenção. Outro sentido adquirido é o de consertar: se é possível observar os problemas, também é possível pensar em soluções para consertá-los. Pode-se reescrever o trecho fazendo uso de um conectivo de concessão, por exemplo: “cegos que, mesmo vendo, não veem” ou “cegos que, embora vejam, não veem”. 21Português 3B Coesão II 3B Português Aula 11 Coesão referencial No interior de um texto, encontramos diferentes níveis de relações entre as palavras. No plano formal, existe uma teia de articulações contraídas por palavras e expressões. Isso tem a ver diretamente com a coesão, pois tais articulações, se bem feitas, podem garantir progressão e fluência ao conjunto. Assim, é possível que palavras se refiram a outras como reforço de sentido; algumas evitarão a repetição de certos termos; determinados vocábulos apontarão de forma específica, antes ou depois, palavras-chave dentro do conjunto. Enfim, há uma série de relações pelas quais os vocábulos se ligam e tecem o sentido dos enunciados. Expansão lexical – palavras referenciais Um modo de se estabelecer a coesão, já vimos, é a concordância. Assim, em Esse seu modo de falar “esse” e “seu” estão em coesão com “modo” por causa da concordância nominal. Outra forma de coesão se dá no nível semântico, quando uma palavra faz referência a outra. Nesse caso, é comum que um vocábulo ou expressão substitua outro e consiga, com isso, vários efeitos: • evita a repetição; • expande o sentido do que é substituído; • revela, por parte do enunciador, repertório quando de sua escolha. Anafóricos e catafóricos Essa é uma classificação dada a palavras que marca- damente nos permitem visualizar uma referência feita para o que apareceu antes no texto ou para o que ainda aparecerá. Há categorias de palavras, como os prono- mes, que assumem com maior frequência a condição de anafóricos ou catafóricos, mas isso não impede que os termos responsáveis pela expansão lexical também sejam classificados como anafóricos ou catafóricos quando a função de recuperar ou anunciar esteja bem demarcada. A tradição escolar costuma sempre lembrar os pro- nomes demonstrativos como exemplos de anafóricos e catafóricos, mas outros pronomes também assumem esses papéis. As crianças fazem barulho o dia todo. Elas têm esse direito e eu as defendo nisso. “Elas ” recupera “as crianças ”; depois, “as ” recupera “elas ”, que já retomava “as crianças ”. Veja, então, como a expansão é feita sem que haja redundância simplesmente por meio dos pronomes. Note como um trecho como o que vem a seguir nos diz mais do que apenas apresenta em sua “superfície”: Isso nunca mais acontecerá com eles. O pronome “isso ” pressupõe que já ocorreu algo conhecido do leitor, bem como se sabe a quem se refere o pronome “eles ”. Do contrário, não haveria clareza em um enunciado como esse que, por exemplo, começasse um texto. “Isso não me dá outra alternativa, embora não haja outro caso, portanto não teremos diversas pos- sibilidades porque não existe mais uma situação em que ocorra diferente circunstância.” Tomara que você não tenha entendido o enun- ciado acima, pois ele é completamente falho em coesão, ferindo diretamente a coerência, o sentido. Isso ocorre por conta das repetições desnecessárias, não permitindo o texto avançar quanto ao sentido, além do uso impreciso dos conectores “embora”, “portanto”, “porque”. Uma forma de evitar esse tipo de enunciado, completamente sem sentido, é conhecer e aplicar os mecanismos da coesão referencial, responsável pela chamada “costura do texto” em seu interior. Quando você lê um bom texto, fluente e claro, pode acreditar: ele veio recheado de um bom uso da coesão referencial. 22 Extensivo Terceirão Repetição Senhora, partem tam tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tam tristes vistes outros nenhuns por ninguém. Tam tristes, tam saudosos, tam doentes da partida, tam cansados, tam chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tam tristes os tristes, tam fora d’esperar bem, que nunca tam tristes vistes outros nenhuns por ninguém. É muito clara aqui a reiteração das expressões desta- cadas de forma a intensificar o sofrimento do enuncia- dor. Este é um caso em que a repetição tem função bem determinada dentro do enunciado, atuando como fator de expressividade. Autenticada, a irmã de Fotocópia e Xerox Patriarca de família do Recife teve ideia de dar nome aos filhos ao ver cartaz em cartório; família diz não se incomodar com as inevitáveis piadas Naquela manhã de 1974 no Recife, o sanfoneiro José Miguel Porfírio, mais conhecido como seu Moscou, grande animador de forrós, estava contente pelo nasci- mento do terceiro filho, o primeiro do segundo casa- mento. (X) Tinha a ideia de batizá-lo com um nome di- ferente, que ninguém tivesse utilizado ainda. Ele entrou no cartório de registro civil, (X) olhou na parede e (X) viu um cartaz escrito “xerox e fotocópias autenticadas”. (X) Decidiu usar as três palavras para nomear o recém- -nascido e os filhos que poderiam ter no futuro. ASSIM foi batizado o primogênito: Xerox Miguel Porfírio, hoje com 36 anos. Quatro anos depois, nasceu Autenticada Miguel Porfírio e depois veio ao mundo Fotocópia Miguel Porfírio, de 23 anos. Essa família recifense tem orgulho do nome diferenciado. O patriarca morreu no dia 11 de fevereiro. Autenticada conta que seu nome abriu muitas por- tas na vida. Jornalista de formação e agora cantora gos- pel, (X) acaba de lançar o segundo disco, voltado para crianças. A Luz conta histórias bíblicas para o público infantil. O CD chega ao Rio de Janeiro na próxima se- mana e, depois, a São Paulo. “Como jornalista e como cantora, o nome Autenticada sempre me ajudou. Rece- bi muitos convites por causa do nome diferente.” O PRIMEIRO TRABALHO – Ninguém Vai Calar Meu Canto – foi lançado em 2009, no Recife. São mú- sicas evangélicas para o público adulto. Ela já trabalhou como repórter de televisão no Re- cife. Mas se realizou mesmo cantando. Há cerca de dois anos, os produtores do primeiro disco até cogi- taram trocar o nome da cantora. “Achavam que Au- tenticada poderia soar estranho.” Mas ela bateu o pé e hoje é reconhecida
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