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1
Figuras de Linguagem II
09
Aula 
3B
Português
Figuras de construção
Os casos enfocados aqui são de seu conhecimento, acredite. Você usa 
estas figuras em seus textos; vive em contato com elas nos textos que lê; 
enfim, está cercado por essas manobras sintáticas e semânticas.
Mais do que saber a nomenclatura que segue, importa saber aplicar tais 
manobras nos seus textos. 
Silepse – Concordância ideológica
Esta é uma figura que produz uma concordância especial. Nas frases com 
silepse, a concordância de verbo ou nome não se dá com termo algum visível 
na frase, mas com um elemento exterior a ela, daí se dizer que seja um caso 
de concordância ideológica (com a ideia, mas não com uma palavra da frase)
a) Silepse de gênero
O seu cônjuge finalmente se manifestou. Ela é pessoa de coragem..
Substantivo masculino Pronome feminino [porque se 
tratava da esposa]
b) Silepse de pessoa
Os alunos entraremos com recursos após a prova..
Substantivo Verbo na 1a. pessoa do plural [porque o enunciador se coloca entre 
os alunos]
c) Silepse de número
O pessoal não aceitou a proposta. Exigem novas discussões.
Substantivo no singular Verbo no plural [porque o enunciador 
relaciona ‘pessoal’ a um conjunto de pessoas]
Elipse – Omissão de termo ou expressão
O enunciado não se prejudica nesta figura; a omissão ocorre como fator 
de economia e expressividade. 
Em seu olhar, tantas interrogações.
Eduardo é são-paulino; o avô, santista.
Carioca gosta de praia; paulistano, de shopping.
Nos dois últimos casos, a omissão se refere a um termo que já havia sido 
mencionado antes. Trata-se de uma elipse especial: zeugma.
Hipérbato – Inversão
Quebra da ordem direta da frase. Atende a necessidades de estilo, muitas ve-
zes sendo necessária por causa da métrica de versos ou da fluência do enunciado.
Poesia, letras de música, letras de hinos, por exemplo, apresentam o 
hipérbato com frequência.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu
(Deus deu o perigo e o abismo ao mar)
Sucesso na vida espero conse-
guir, sem dúvida.
(Espero conseguir sucesso na 
vida, sem dúvida)
Assonância – Reiteração de 
fonemas vocálicos
“Sou Ana, da cama
Da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam”
(Chico Buarque de Hollanda)
Aliteração – reiteração de fo-
nemas consonantais
“Toda gente homenageia
Januária na janela
Até o mar faz maré cheia
Pra chegar mais perto dela”
(Chico Buarque de Hollanda)
Onomatopeia – reprodução 
na escrita de sons ou ruídos
A primeira faz tchum
A segunda faz tcham
E tcham, tcham, tcham, 
tcham.
(Propaganda sobre lâmina de barbear)
Pleonasmo – Reiteração de 
uma ideia pelo uso de uma palavra 
ou expressão motivadoras do reforço.
Inicialmente, não se trata de pro-
blema ou ‘erro’, mas de um recurso de 
expressão.
2 Extensivo Terceirão
Esta é uma tristeza que cala muito triste em minha alma.
Vi com meus próprios olhos, peguei com minhas próprias mãos.
Os chamados pleonasmos viciosos correspondem a certas expressões 
que parecem redundantes, mas também dependem de certos contextos 
para que realmente sejam consideradas errôneas.
 • subir para cima
 • sair para fora
 • voltar para trás
Problemas comuns no pleonasmo como erro são frases como
“Daremos um panorama geral da situação de violência no país”
“Com a aprovação unânime de todos, o projeto foi acolhido”
“Os principais protagonistas da lamentável cena ficaram impunes”
Figuras de pensamento
Antítese – oposição entre duas ou mais ideias
Ideias que se opõem semanticamente se aproximam a fim de criar um 
efeito expressivo.
“Nasce o Sol, e não dura mais que um dia. [nasce x não dura]
Depois da Luz, se segue a noite escura. [dia x noite escura]
Em tristes sombras morre a formosura [Luz x tristes sombras]
Em contínuas tristezas, a alegria”. [tristezas x alegria]
(Gregório de Matos)
Quando a aproximação dos opostos produz um sentido absurdo, por-
que as ideias expressam sentidos naturalmente inconciliáveis, temos um 
paradoxo.
Amor é fogo que arde sem se ver [arde x sem se ver]
É ferida que dói e não se sente [dói x não se sente]
É um contentamento descontente [descontentamento descontente]
É dor que desatina sem doer [dor (que) desatina x sem doer]
(Camões)
No oxímoro, teríamos um subtipo de paradoxo pela aproximação de 
termos colocados lado a lado criando o sentido absurdo.
Triste alegria do palhaço
Claro enigma
Caos ordenado
Eufemismo – atenuação de 
uma ideia naturalmente desagra-
dável
Ele faltou com a verdade 
seguidas vezes.
Você subtraiu muitas coisas 
de minha casa. Devolva-as.
Gradação – intensificação cres-
cente ou decrescente de uma ideia 
por meio de uma enumeração
Depois que bebe, aconte-
ce assim: um sorriso discreto, 
uma risada marota, uma gar-
galhada histérica, um desvario 
total... [crescente]
O show, com o barulho in-
cessante da batucada; o fim da 
festa, com o cansaço silencio-
so da missão cumprida; a so-
lidão, com a batida pesada do 
coração. [decrescente]
Hipérbole – intensificação exa-
gerada em um enunciado
Ela quase morre de tanto 
gritar pelo filho que está no 
quintal.
Pedi um milhão de vezes 
que você ficasse.
Ironia – uso de um enunciado que 
representa exatamente o oposto da-
quilo que se lê na superfície da frase
Você sabe se maquiar muito 
bem. [para quem não o faz]
Ônibus vazios, dentro do 
horário, sem assaltos, com 
passagens baratas. Isso é um 
modelo de transporte públi-
co. [para uma situação em que 
as pessoas sofram com o trans-
porte público]
Aula 09
3Português 3B
Testes
Assimilação
Instrução: Texto para a questão 09.01.
Soneto da hora final 
Será assim, amiga: um certo dia 
Estando nós a contemplar o poente 
Sentiremos no rosto, de repente 
O beijo leve de uma aragem fria. 
Tu me olharás silenciosamente 
E eu te olharei também, com nostalgia 
E partiremos, tontos de poesia 
Para a porta de treva aberta em frente. 
Ao transpor as fronteiras do Segredo 
Eu, calmo, te direi: – Não tenhas medo 
E tu, tranquila, me dirás: – Sê forte. 
E como dois antigos namorados 
Noturnamente tristes e enlaçados 
Nós entraremos nos jardins da morte.
MORAES, Vinícius de. Livro de Sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 
09.01. (UERJ) – No título Soneto da hora final, para re-
velar o tema do poema, recorre-se à figura de linguagem 
denominada: 
a) eufemismo
b) metonímia
c) hipérbole
d) ironia
09.02. (MACK – SP) – No trecho de Dom Casmurro desta-
cado abaixo, qual figura de linguagem podemos encontrar?
A notícia de que ela vivia alegre, quando eu 
chorava todas as noites, produziu-me aquele efei-
to, acompanhado de um bater de coração, tão 
violento, que ainda agora cuido ouvi-lo. 
a) Hipérbole, uma vez que no discurso há um evidente 
exagero, pautado num estilo demasiadamente enfático. 
b) Ironia, pois o trecho destacado contradiz o que se afirma 
no início do período.
c) Catacrese, já que a palavra coração está empregada 
conotativamente.
d) Onomatopeia, pois há referência ao som que o coração 
faz ao bater.
e) Eufemismo, porque evidentemente o trecho destacado 
suaviza a emoção sentida pelo narrador. 
09.03. (UNESP – SP) – Em “Copérnico era, sem dúvida, um 
revolucionário conservador”, a expressão sublinhada constitui 
um exemplo de 
a) eufemismo.
b) pleonasmo.
c) hipérbole.
d) metonímia.
e) paradoxo.
Instrução: Leia o soneto “Aquela triste e leda madrugada”, 
do escritor português Luís de Camões (1525? – 1580), para 
responder à questão 09.04.
Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de uma outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio
que, de uns e de outros olhos derivadas,
se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.
(Sonetos, 2001.) 
09.04. (UNIFESP) – A imagem das lágrimas a formarem um 
“largo rio” (3ª. estrofe) produz um efeito expressivo que se 
classificacomo 
a) paradoxo.
b) pleonasmo.
c) personificação.
d) hipérbole.
e) eufemismo.
4 Extensivo Terceirão
Aperfeiçoamento
Instrução: Leia o trecho do livro Bem-vindo ao deserto do 
real!, de Slavoj Žižek, para responder à questão 09.05.
Numa antiga anedota que circulava na hoje 
falecida República Democrática Alemã, um ope-
rário alemão consegue um emprego na Sibéria; 
sabendo que toda correspondência será lida pe-
los censores, ele combina com os amigos: “Vamos 
combinar um código: se uma carta estiver escrita 
em tinta azul, o que ela diz é verdade; se esti-
ver escrita em tinta vermelha, tudo é mentira.” 
Um mês depois, os amigos recebem uma carta 
escrita em tinta azul: “Tudo aqui é maravilhoso: 
as lojas vivem cheias, a comida é abundante, os 
apartamentos são grandes e bem aquecidos, os 
cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas 
garotas, sempre prontas para um programa – o 
único senão é que não se consegue encontrar tinta 
vermelha.” Neste caso, a estrutura é mais refina-
da do que indicam as aparências: apesar de não 
ter como usar o código combinado para indicar 
que tudo o que está dito é mentira, mesmo as-
sim ele consegue passar a mensagem. Como? Pela 
introdução da referência ao código, como um de 
seus elementos, na própria mensagem codificada.
(Bem-vindo ao deserto do real!, 2003.)
09.05. (UNESP – SP) – A “introdução da referência ao código, 
como um de seus elementos, na própria mensagem codifi-
cada” constitui um exemplo de 
a) eufemismo. b) metalinguagem. 
c) intertextualidade. d) hipérbole. 
e) pleonasmo. 
09.06. (UNESP – SP) –
O pleonasmo (do grego pleonasmós, que quer di-
zer abundância, excesso, amplificação) é uma repe-
tição de unidades linguísticas idênticas do ponto de 
vista semântico, o que implica que a repetição é tau-
tológica (redundante). No entanto, ela é uma exten-
são do enunciado com vistas a intensificar o sentido.
(José Luiz Fiorin. Figuras de retórica, 2014. Adaptado.)
Verifica-se a ocorrência de pleonasmo em: 
a) “fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia 
os nomes dos peixes que ela dizia”. 
b) “eu avançava no batelão velho; remava cansado, com um 
resto de sono”. 
c) “ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita, 
mas tímida”. 
d) “A princípio a olhei com espanto, quase desgosto”. 
e) “Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus”. 
09.07. (EBMSP – BA) – 
A onda
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda
BANDEIRA, Manoel. A onda. A Estrela da Tarde, 1960. Disponível em: <https://
pensador.uol.com.br>. Acesso em: 16 ago. 2016.
Objetivando imitar o movimento da onda, por meio de uma 
fluidez sonora, Manoel Bandeira utiliza-se de um recurso 
estilístico denominado 
a) pleonasmo poético, enfatizando, a partir da redundância, 
a potência do fluxo fluvial ou marinho que se move no 
ambiente aquático. 
b) assonância, valendo-se da repetição da mesma vogal 
tônica com a intenção de provocar um efeito de estilo 
associado à força das ondas. 
c) eco, por meio da seleção de termos com terminação 
idêntica, para sugerir um percurso impreciso do volume 
de água que segue seu destino. 
d) onomatopeia, mediante o uso de vocábulos, procurando 
imitar o rumor produzido pelo deslocamento da massa 
líquida de inestimável valor para a continuidade da vida 
na Terra. 
e) paronomásia, na medida em que, buscando sugerir o 
movimento recorrente da vaga, traz um jogo de palavras 
que se assemelham na pronúncia, mas são diferentes 
do ponto de vista semântico, em função de um efeito 
poético.
09.08. (PUC – SP) – O romance Memórias Póstumas de 
Brás Cubas, de Machado de Assis, faz significativo uso da 
linguagem figurada, o que dá ao texto uma fina dimensão 
estética. Assim, indique a alternativa em que o fragmento 
não está corretamente classificado, de acordo com a figura 
que nele ocorre. 
a) Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. 
Não; é uma errata pensante, isso sim. – Metáfora. 
b) E estando a recordá-lo, ouço um ranger de porta, um 
farfalhar de saias... – Onomatopeia. 
c) Quincas Borba não só estava louco, mas sabia que estava 
louco, e esse resto de consciência, como uma frouxa 
lamparina no meio das trevas, complicava muito o horror 
da situação. – Eufemismo. 
d) Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. 
Viver não é a mesma coisa que morrer. – Antítese. 
Aula 09
5Português 3B
Instrução: Texto para a questão 09.09. 
Acrobata da Dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, 1gavroche, salta clown, varado
pelo 2estertor dessa agonia lenta...
Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d’aço...
E embora caias sobre o chão, 3fremente,
afogado em teu sangue 4estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.
(Cruz e Sousa)
09.09. (ESPM – SP) – Assinale a alternativa em que a indi-
cação entre parênteses não está de acordo com o verso: 
a) “Gargalha, ri, num riso de tormenta,” (pleonasmo vicioso) 
b) “salta, gavroche, salta clown, varado” (assonância) 
c) “Da gargalhada atroz, sanguinolenta,” (sinestesia) 
d) “nessas macabras piruetas d’aço...” (metáfora) 
e) “afogado em teu sangue estuoso e quente,” (aliteração) 
Glossário
1gavroche: garotos de Paris, figuradamente artista. 
2estertor: respiração anormal própria de moribundos. 
3fremente: vibrante, agitado, violento. 
4estuoso: que ferve, ardente, febril. 
Instrução: texto para a questão 09.10. 
O nome de Emir quase nunca era mencio-
nado nas horas das refeições ou nas conver-
sas animadas por baforadas de narguilé, goles 
de 1áraque e lances de gamão. 2Os filhos de 
Emilie éramos proibidos de participar dessas 
reuniões que varavam a noite e terminavam no 
pátio da fonte, aclarado por uma luz azulada. 
Era um momento em que os assuntos, já pe-
neirados, esgotados e fartos de serem repeti-
dos, 3davam lugar a 4confidências e 5lamúrias, 
6abafadas às vezes pela linguagem dos pássaros, 
e entremeadas por exclamações e vozes que 
pronunciavam o nome de Deus. Era como se 
a manhã – 7como uma intrusa que silencia as 
vozes calorosas da noite – 8dispersasse o am-
biente festivo, 9arrefecendo os gestos dos mais 
exaltados, chamando-os ao ofício 10que se ini-
cia com a aurora. 11Mas, em algumas reuniões 
de sextas-feiras, o 12prenúncio da manhã não 
os dispersava. Eu acordava com berros dila-
cerantes, gemidos terríveis, ruídos de trote e 
13uma algazarra de alimárias que 14assistiam 
à agonia dos carneiros que possuíam nomes 
e 15eram alimentados pelas mãos de Emilie. 
HATOUM, Milton. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2008, pp. 50 e 51. 
09.10. (UDESC) – Assinale a alternativa correta em rela-
ção à obra Relato de um certo Oriente, Milton Hatoum, 
e ao texto. 
a) O uso do sinal gráfico da crase é opcional em “abafadas 
às vezes” (referência 6), assim como em “davam lugar a 
confidências” (referência 3). 
b) Em “Os filhos de Emilie éramos proibidos de participar 
dessas reuniões” (referência 2) há a figura de linguagem 
chamada silepse de pessoa. 
c) As palavras “áraque” (referência 1), “confidências” (referên-
cia 4), “lamúrias” (referência 5) e “prenúncio” (referência 
12) são acentuadas por serem paroxítonas terminadas 
em ditongo. 
d) Infere-se da leitura da obra, que o nome de Emir, filho 
mais novo de Emilie, quase nunca era mencionado nos 
encontros familiares porque há muito abandonara a 
família, causando mágoa. 
e) Infere-se da leitura da obra, que os empregados, princi-
palmente as mulheres, eram tratados com muita regalia, 
pois participavam de todos os encontros e de todas as 
atividades festivas da família de Emilie. 
6 Extensivo Terceirão
Aprofundamento
09.11. (EEAR – SP) – Leia:
 I. O Rio Doce entrou em agonia, após o desastreque poluiu suas águas com lama.
II. Suas águas, claras, estão agora escuras, de 
mãos irresponsáveis que a sujaram.
Nas frases há, respectivamente, as seguintes figuras de 
linguagem: 
a) Eufemismo – Prosopopeia. 
b) Prosopopeia – Antítese. 
c) Antítese – Prosopopeia. 
d) Eufemismo – Antítese. 
09.12. (UNIFESP) – Leia o soneto de Cruz e Sousa.
Silêncios
Largos Silêncios interpretativos,
Adoçados por funda nostalgia,
Balada de consolo e simpatia
Que os sentimentos meus torna cativos;
Harmonia de doces lenitivos,
Sombra, segredo, lágrima, harmonia
Da alma serena, da alma fugidia
Nos seus vagos espasmos sugestivos.
Ó Silêncios! Ó cândidos desmaios,
Vácuos fecundos de celestes raios
De sonhos, no mais límpido cortejo...
Eu vos sinto os mistérios insondáveis
Como de estranhos anjos inefáveis
O glorioso esplendor de um grande beijo!
(Cruz e Sousa. Broquéis, Faróis, Últimos Sonetos, 2008.)
A análise do soneto revela como tema e recursos poéticos, 
respectivamente: 
a) a aura de mistério e de transcendentalidade suaviza o 
sofrimento do eu lírico; rimas alternadas e sinestesias se 
evidenciam nos versos de redondilha maior. 
b) o esforço de superação do sofrimento coexiste com 
o esgotamento das forças do eu lírico; assonâncias e 
metonímias reforçam os contrastes das rimas alternadas 
em versos livres. 
c) a religiosidade como forma de superação do sofrimento 
humano; metáforas e antíteses reforçam o negativismo 
da desagregação existencial nos versos livres. 
d) a apresentação da condição existencial do eu lírico, mar-
cada pelo sofrimento, em uma abordagem transcendente; 
assonâncias e aliterações reforçam a sonoridade nos 
versos decassílabos. 
e) o apelo à subjetividade e à espiritualidade denota a conci-
liação entre o eu lírico e o mundo; metáforas e sinestesias 
reforçam o sentido de transcendentalidade nos versos de 
doze sílabas. 
Instrução: Utilize o texto abaixo para responder à questão 
09.13.
Sempre desconfiei
Sempre desconfiei de narrativas de sonhos. Se 
já nos é difícil recordar o que vimos despertos e 
de olhos bem abertos, imagine-se o que não será 
das coisas que vimos dormindo e de olhos fecha-
dos... Com esse pouco que nos resta, fazemos re-
constituições suspeitamente lógicas e pomos en-
redo, sem querer, nas ocasionais variações de um 
calidoscópio. Me lembro de que, quando menino, 
minha gente acusava-me de inventar os sonhos. 
O que me deixava indignado.
Hoje creio que ambas as partes tínhamos razão.
Por outro lado, o que mais espantoso há nos 
sonhos é que não nos espantamos de nada. So-
nhas, por exemplo, que estás a conversar com o 
tio Juca. De repente, te lembras de que ele já mor-
reu. E daí? A conversa continua.
Com toda a naturalidade.
Já imaginaste que bom se pudesses manter essa 
imperturbável serenidade na vida propriamente 
dita?
(Mario Quintana, A vaca e o hipogrifo. São Paulo: Globo,1995) 
09.13. (INSPER – SP) – Em “Hoje creio que ambas as partes 
tínhamos razão”, o autor recorre a uma figura de construção, 
que está corretamente explicada em 
a) silepse, por haver uma concordância verbal ideológica. 
b) elipse, por haver a omissão do objeto direto. 
c) anacoluto, por haver uma ruptura na estrutura sintática 
da frase. 
d) pleonasmo, por haver uma redundância proposital em 
“ambas as partes”. 
e) hipérbato, por haver uma inversão da ordem natural e 
direta dos termos da oração. 
Aula 09
7Português 3B
Instrução: Texto para a questão 09.14. 
Ao 1valimento que tem o mentir 
Mau ofício é mentir, mas proveitoso... 
Tanta mentira, tanta utilidade 
Traz consigo o mentir nesta cidade 
Como o diz o mais triste mentiroso.
Eu, como um ignorante e um baboso, 
Me pus a verdadeiro, por vaidade; 
Todo o meu 2cabedal meti em verdade 
E saí do negócio 3perdidoso. 
Perdi o principal, que eram verdades, 
Perdi os interesses de estimar-me, 
Perdi-me a mim em tanta 4soledade; 
Deram os meus amigos em deixar-me, 
5Cobrei ódios e inimizades... 
Eu me meto a mentir e a aproveitar-me.
GREGÓRIO DE MATOS 
PIRES, M. L. G. (org.). Poetas do período barroco. Lisboa: Comunicação, 1985.
Instrução: Texto para a questão 09.15. 
Capítulo CVII
Bilhete
“Não houve nada, mas ele suspeita alguma cousa; 
está muito sério e não fala; agora saiu. Sorriu uma 
vez somente, para Nhonhô, depois de o fitar mui-
to tempo, carrancudo. Não me tratou mal nem 
bem. Não sei o que vai acontecer; Deus queira 
que isto passe. Muita cautela, por ora, muita cau-
tela.” 
Capítulo CVIII
Que se não entende
Eis aí o drama, eis aí a ponta da orelha trágica de 
Shakespeare. Esse retalhinho de papel, garatujado 
em partes, machucado das mãos, era um docu-
mento de análise, que eu não farei neste capítulo, 
nem no outro, nem talvez em todo o resto do li-
vro. Poderia eu tirar ao leitor o gosto de notar por 
si mesmo a frieza, a perspicácia e o ânimo dessas 
poucas linhas traçadas à pressa; e por trás delas a 
tempestade de outro cérebro, a raiva dissimulada, 
o desespero que se constrange e medita, porque 
tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas 
lágrimas? 
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. 
09.15. (FUVEST – SP) – Ao comentar o bilhete de Virgília, o 
narrador se vale, principalmente, do seguinte recurso retórico: 
a) Hipérbato: transposição ou inversão da ordem natural das 
palavras de uma oração, para efeito estilístico. 
b) Hipérbole: ênfase expressiva resultante do exagero da 
significação linguística. 
c) Preterição: figura pela qual se finge não querer falar de 
coisas sobre as quais se está, todavia, falando. 
d) Sinédoque: figura que consiste em tomar a parte pelo todo, 
o todo pela parte; o gênero pela espécie, a espécie pelo 
gênero; o singular pelo plural, o plural pelo singular etc. 
e) Eufemismo: palavra, locução ou acepção mais agradá-
vel, empregada em lugar de outra menos agradável ou 
grosseira. 
Instrução: Leia o poema de camilo pessanha para responder 
à questão 09.16.
INTERROGAÇÃO
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crês? nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito,
Glossário
1valimento: validade 
2cabedal: conhecimento 
3perdidoso: prejudicado 
4soledade: solidão 
5cobrar: receber 
09.14. (UERJ) – A primeira estrofe do poema apresenta in-
versões da ordem direta das orações. Esse recurso expressivo, 
chamado hipérbato, é frequente na estética barroca.
Reescreva os versos 2 e 3 da primeira estrofe na ordem direta, 
desfazendo o hipérbato. Em seguida, explique o efeito do 
hipérbato para a camada sonora dessa estrofe. 
8 Extensivo Terceirão
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
(PESSANHA, Camilo. Clepsidra. São Paulo: Núcleo, 1989.) 
09.16. (FATEC – SP) – O escritor português Camilo Pessanha 
faz parte da escola literária denominada Simbolismo.
Assinale a alternativa que possui uma característica desse 
movimento artístico presente no poema. 
a) Elipse, pois o autor omite todos os pronomes pessoais a 
fim de criar musicalidade. 
b) Bucolismo, pois o amor faz grande reverência à natureza 
ao evocar a sua sonoridade. 
c) Aliteração, pois o autor explora a repetição harmônica e 
ritmada de sons consonantais. 
d) Determinismo, pois o meio em que vive a pessoa amada 
determina o ritmo de sua vida. 
e) Ornamentação exagerada, pois hávocabulário ritmado 
com exclusividade de rimas ricas. 
Instrução: texto para a questão 09.17.
Este material publicitário foi criado com o propósito de 
sensibilizar as pessoas e de despertar nelas uma atitude de 
conscientização no que refere à violência contra a criança. 
Disponível em: https://temporalcerebral.com.br/melhores-campanhas-publicita-
rias-2017-1/. Adaptado. Acesso em: 11 ago. 2018.
09.17. (UPF – RS) – As figuras de linguagem e de pensamen-
to são recursos ou estratégias que podem ser aplicados ao 
texto. Tendo por base a campanha publicitária apresentada e 
os enunciados “Cintos são para serem vestidos, não temidos” 
e “Não há desculpas para os maus-tratos contra as crianças”, 
é correto o que se afirma em: 
a) A referência aos “maus-tratos contra as crianças” e a utili-
zação de uma cinta para associar essa ideia à de um cão 
feroz constitui uma prosopopeia, ou personificação, que 
consiste na atribuição de características humanas a seres 
irracionais ou coisas inanimadas. 
b) A oposição entre os verbos “vestir” (“vestidos”) e “temer” 
(“temidos”) constitui um paradoxo, que coloca em circu-
lação ideias contrárias entre si. 
c) O uso da palavra “desculpa” caracteriza uma ironia, pois 
está expressando uma ideia diferente ou contrária àquela 
originalmente posta, uma vez que a campanha não faz 
referência à ação de desculpar-se ou de ser perdoado. 
d) A utilização da imagem do cão constitui uma comparação, 
eis que compara elementos diferentes que apresentam 
uma característica em comum: o cão e a violência contra 
as crianças. 
e) O uso da expressão “maus-tratos” pode ser considerado 
um eufemismo, pois, dada a natureza forte da publici-
dade, essa escolha suaviza um discurso mais chocante, 
que poderia ter palavras como “agressões” ou “violência”. 
09.18. (FUVEST – SP) – Leia os textos.
– Eu acho que nós, bois, – Dançador diz, com 
baba – assim como os cachorros, as pedras, as 
árvores, somos pessoas soltas, com beiradas, co-
meço e fim. O homem, não: o homem pode se 
ajuntar com as coisas, se encostar nelas, crescer, 
mudar de forma e de jeito… O homem tem partes 
mágicas… São as mãos… Eu sei…
João Guimarães Rosa, “Conversa de bois”. Sagarana.
Um boi vê os homens
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem 
nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os homens”. Claro enigma.
Aula 09
9Português 3B
a) Em ambos os textos, o assombro de quem vê decorre das 
avaliações contrastantes sobre quem é visto. Justifique 
essa afirmação com base em cada um dos textos.
b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem-se de 
uma mesma figura de linguagem. Explicite essa figura e 
justifique sua resposta. 
Desafio
09.19. (FGV – SP) – Leia o texto. 
(...) expirei às duas horas da tarde de uma sex-
ta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela 
chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro 
anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca 
de trezentos contos e fui acompanhado ao cemi-
tério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é 
que não houve cartas nem anúncios. Acresce que 
chovia – peneirava uma chuvinha miúda, triste 
e constante, tão constante e tão triste, que levou 
um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta 
engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira 
de minha cova: – “Vós, que o conhecestes, meus 
senhores, vós podeis dizer comigo que a nature-
za parece estar chorando a perda irreparável de 
um dos mais belos caracteres que têm honrado a 
humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, 
aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como 
um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que 
lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo 
isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado”. 
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das 
vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que 
cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que 
me encaminhei para o undiscovered country de 
Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço 
príncipe, mas pausado e trôpego como quem se 
retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. 
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
a) Identifique uma expressão do texto por meio da qual o 
narrador manifesta sua ironia. Justifique. 
b) Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer 
comigo que a natureza parece estar chorando a perda 
irreparável de um dos mais belos caracteres que têm 
honrado a humanidade. 
 Reescreva esse trecho, fazendo as modificações necessá-
rias, de acordo com as seguintes instruções: 
 - substitua “vós” por “vocês”; 
 - mantenha os verbos no mesmo modo e tempo; 
 - substitua as palavras sublinhadas por sinônimos ade-
quados ao contexto. 
09.20. (PUC – RJ) – 
Texto 1
O exílio, uma experiência da modernidade
A história da humanidade poderia escrever-se a 
partir das estórias do exílio porque desde o início 
o homem tem vivido em permanente opressão e 
fuga: fuga de si mesmo e dos outros. Também tem 
realizado grandes ações, grandes construções: 
conquista de terras remotas, fundação de cidades, 
guia de grandes migrações, descobrimento de 
continentes, exploração de mares, governo de po-
vos. Todas essas obras “magníficas” em sua gran-
de maioria foram feitas graças ao labor dos refu-
giados, asilados, prisioneiros de guerra, escravos, 
todos vítimas da opressão e expulsão. O pensa-
mento estético, acadêmico e científico da moder-
na cultura ocidental, também tem-se alimentado 
de fontes estrangeiras, pense-se em tantos pen-
sadores e cientistas degredados e suas valiosas 
contribuições ao pensamento moderno: Marcuse, 
Beckett, Nabokov, James Joyce, Adorno, Hannah 
Arendt, Walter Benjamin, Pound, Einstein, entre 
outros. Desse ponto de vista, a expulsão e o exílio 
acabaram sendo condições prévias para o desen-
volvimento social e humano. O internacionalis-
mo intelectual e cultural, de grandes convulsões 
sociais, em que as ideias passavam de uma cultura 
para outra, gerou uma arte essencialmente cos-
mopolita que se alimentou das tradicionais via-
gens literárias e expatriações de muitos escritores 
10 Extensivo Terceirão
e artistas, ou foi causada pelas grandes convulsões 
históricas que forçaram ao exílio muitos escritores, 
ocasionando que uma parte tão grande da arte mo-
derna tenha sido produzida por escritores “sem lar”, 
afastados de sua cultura nacional, sua tradição, seu 
idioma nativo. Daí que a palavra “moderno” tenha 
tantas conotações de desarraigamento, desorientação, 
ironia, alienação, fratura, sentimentos e emoções que 
fazem com que a arte moderna provoque em nós 
uma perturbação tão profunda quanto a admiração 
que nos inspira. Porém, na escala do século XX, o 
exílio não é compreensível nem do ponto de vista 
estético, nem do ponto vista humanista. O exílio é 
– segundo Edward Said (2003) – irremediavelmente 
secular e insuportavelmente histórico, é produzido 
por seres humanos para outros seres humanos, é uma 
condição criada para negar a dignidade e a identidade 
das pessoas. Nesse sentido o exílio não pode ser posto 
a serviço do humanismo.
A marca do trauma do exílio fica refletida na perda 
da identidade, na dor, na fratura e no estranhamento. 
Por isso, Czeslaw Milosz (1993) afirma que o exílio é 
a situação existencial do homem moderno. Na mo-
dernidade, o homem ainda não superou a desdita de 
permanecer em permanente desterro. As conquistas 
de qualquer desterrado são constantemente carcomi-
das pelo sentimento de estranhamento, de perda. Na 
realidade, todo exilado é um náufrago que luta por 
sobreviver num território estranho onde o desespero, 
a aniquilação e o silêncio se fazem presentes.Existem 
muitas estórias e histórias que apresentam o exílio 
como uma condição heroica, gloriosa ou romântica, e 
esquecem, porém, a dor da orfandade oculta em seu 
interior. No âmago de sua solidão, o exilado sente, no 
silêncio de seu ser, o verdadeiro destino da existên-
cia humana. A literatura sobre o exílio objetiva uma 
angústia e uma condição que a maioria das pessoas 
raramente experimenta em primeira mão; “mas pen-
sar que o exílio é benéfico para essa literatura é ba-
nalizar suas mutilações, as perdas que inflige aos que 
as sofrem [...]. Para autores como James Joyce, Ezra 
Pound, Samuel Beckett ou Paul Bowles, o exílio su-
gere valores mais sedutores, vinculados a estados da 
consciência, capazes de confirmar qualidades do in-
divíduo cuja pureza só seria possível a partir de uma 
conquista solitária de um espaço próprio. Nietzsche, 
Joseph Conrad, T.S. Eliot, Nabokov, ou Theodor W. 
Adorno, porém, pertencem a outra tradição de auto-
res que vê o exílio como absoluta orfandade, fratura, 
trauma, solidão e silêncio. Nessa condição não existe 
nada glorioso, nem romântico: o exílio é nossa mal-
dição, nossa vocação existencial e nossa natureza; é a 
representação de uma lei fundamental – a da impos-
sibilidade de comunicação entre quem quer que seja.
Texto adaptado de MONTAÑÉS, Amanda Pérez. Vozes do exílio e suas mani-
festações nas narrativas de Julio Cortázar e Marta Traba. Tese de Doutorado. 
Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006. p. 15-16. 
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/89324/231627.
pdf?sequence=1. Acesso em 29/04/2016.
Texto 2
Retificação
As palmeiras derrubaram 
para no lugar construírem uma autoestrada 
O sabiá ganhou um festival nos idos de 68 
mas está sendo rapidamente exterminado 
ou anda preso em alguma gaiola 
O exílio de minha terra deixou de ser uma canção 
PORTUGAL, Claudius Hermann et al. Folha de rosto. Rio de Janeiro: Folha de 
Rosto, 1989, p. 9.
a) “Czeslaw Milosz (1993) afirma que o exílio é a situação 
existencial do homem moderno. Na modernidade, o 
homem ainda não superou a desdita de permanecer em 
permanente desterro.” (Texto 1) 
 Explique o sentimento de exílio que está incutido na visão 
e percepção do eu lírico no texto 2.
b) Uma oração empregada na ordem direta apresenta a 
seguinte estrutura: sujeito – verbo – complementos – 
adjuntos. Observe os dois primeiros versos do texto 2 e 
verifique que a organização de uma das orações causa 
intencionalmente certo estranhamento ao leitor. Explique 
em que consiste esse estranhamento. 
Aula 09
11Português 3B
09.01. a 
09.02. a 
09.03. e 
09.04. d 
09.05. b 
09.06. c
09.07. e 
09.08. c 
09.09. a
09.10. b
09.11. b
09.12. d
09.13. a
09.14. Uma das respostas:
 O mentir traz consigo tanta mentira, tanta utilidade nesta cidade.
 O mentir nesta cidade traz consigo tanta mentira, tanta utilidade.
 O hipérbato produz a rima. 
09.15. c
09.16. c 
09.17. e 
09.18. a) Tanto o excerto de “Conversa de bois” como o de “Um boi vê 
os homens” transcrevem reflexões dos animais sobre a condição 
humana. No primeiro, o boi Dançador constata a supremacia do 
Homem sobre os irracionais pelo fato de ser provido de mãos: 
“O homem tem partes mágicas… São as mãos”. Já no segun-
do, as reflexões recaem sobre a natureza íntima do ser humano, 
desprovida de atributos essenciais que possam torná-lo mais 
sensível ao mundo que o rodeia:” Certamente falta-lhes/não sei 
que atributo essencial”, “não escutam/ nem o canto do ar nem 
os segredos do feno”. 
 b) O conto de Rosa e o poema de Drummond, por apresentarem 
conceitos elaborados por seres irracionais, valem-se da proso-
popeia ou personificação, figura de linguagem pela qual o autor 
atribui características humanas a seres inanimados ou a animais. 
09.19. a) Uma expressão irônica de Brás Cubas é “bom e fiel amigo”, uma 
vez que tal pessoa, responsável por um discurso à beira do cai-
xão, na verdade era um herdeiro dele, tendo recebido vinte apó-
lices do defunto.
 b) A reescrita do texto, segundo as instruções, é: “Vocês, que o co-
nheceram, meus senhores, vocês podem dizer comigo que a 
natureza parece estar chorando a perda irrecuperável de um dos 
mais belos temperamentos que têm honrado a humanidade”.
 A partir da substituição de “vós” por “vocês”, a concordância dos 
verbos com tal sujeito deve ser alterada para 3ª pessoa do sin-
gular: “conheceram” e “podem”; um sinônimo para “irreparável” é 
“irrecuperável”; um sinônimo para “caracteres” é “temperamentos”. 
09.20. a) Em Retificação, o eu lírico não reconhece mais os indicativos da 
própria pátria, a qual passou por mudanças com a moderniza-
ção. Essa mudança despertou nele o incômodo e a sensação de 
desterro, e ele não se conforma com isso.
 b) Escritos em ordem direta, os versos formariam o seguinte perí-
odo: Derrubaram as palmeiras / para no lugar construírem uma 
autoestrada.
 O estranhamento ao leitor é causado pela anteposição do ob-
jeto direto (palmeira) em relação ao verbo (derrubar), uma vez 
que o sujeito de tal verbo é indeterminado, portanto está con-
jugado na 3ª pessoa do plural. Vale notar que a construção que 
causa estranhamento no leitor apresenta razão de ser: ela reflete 
o estranhamento do próprio eu lírico frente à sua terra. 
Gabarito
12 Extensivo Terceirão
Português
3BAula 10
Coesão I
Imagine que cada aluno em sua sala disponha 
de, digamos, 400 peças de blocos de montar do 
tipo Lego. Os modelos e as cores disponíveis são 
os mesmos para cada aluno, que deve criar uma 
composição qualquer em determinado tempo.
Além da inevitável variação de formas e figuras, 
você certamente notaria que alguns modelos te-
riam mais destaque, porque melhores na sua cons-
tituição; outros já não teriam tal destaque, porque 
apresentariam combinações menos expressivas.
Quer dizer: todos os alunos disporiam das mes-
mas peças, mas o resultado de sua combinação 
seria o mais variado possível.
Assim também costuma acontecer na nossa 
relação com a língua e os enunciados que criamos 
para nos expressarmos diante do mundo.
Como já vimos anteriormente, a Sintaxe é a área 
da língua que estuda, descreve e interpreta as combi-
nações possíveis em um idioma e os efeitos de sentido 
decorrentes dessas combinações.
Quando se fala em coesão, estamos focando um 
conjunto de instrumentos para estabelecer relações ob-
jetivas, precisas e expressivas no interior dos enunciados 
que produzimos.
“Meu texto não tem coesão” 
Embora essa frase seja comum quando alunos pro-
duzam ou recebam suas redações corrigidas, a verdade 
é que seria muito difícil um texto “não ter coesão”, por-
que isso implicaria não se estabelecer relação alguma 
de forma clara ou precisa entre as frases. A não ser que 
pensássemos em um texto completamente caótico na 
construção das frases, sem sentido algum estabelecido, 
realmente todo texto apresenta algum grau de coesão.
O que ocorre é que a coesão pode ser (ou estar) 
falha em vários momentos ou, o que seria o ideal, ela 
pode funcionar de maneira bem ajustada, equilibrada 
às intenções de quem se pronuncia, garantindo assim 
expressividade ao enunciado.
 Então, como melhorar a 
coesão em meu texto?
Os instrumentos de coesão primeiramente têm a ver 
com a forma, pois são responsáveis pela ligação entre as 
partes do enunciado e, por extensão, as do texto. Assim, 
a coesão também atua sobre a progressão do conjunto. 
A equação é simples:
Coesão = relação entre peças + progressão do conjunto
Como construímos os enunciados para comunicar 
algo que faça sentido a quem nos ouve ou lê, cada 
escolha na forma terá um impacto na arquitetura do 
significado do todo. 
Por isso, podemos afirmar que a construção dos 
sentidos passa também pelo modo como as coisas são 
ditas ou escritas. Num texto, não interessa apenas o que 
dizer, mas também como dizer, e isso tem a ver com 
os fatores de coesão que podemos acionar em nossos 
textos.
“Quem se liga a quem” 
Um olhar atento a esse tipo de operação nos aju-
dará aentender de maneira mais profunda e precisa 
a teia de relações envolvendo palavras ou expressões 
dentro de um texto. Eis aí a primeira marca de coe-
são a estruturar os elementos componentes de um 
enunciado. Reconhecer os passos que definem essa 
teia de relações nos ajudará a ler e a entender melhor, 
acredite.
Concordância
A sintaxe de concordância entre um termo e o seu 
núcleo é a relação sintática mais óbvia que reconhece-
mos na coesão.
Aula 10
13Português 3B
Quando dizemos que “A concorda com B ”, seja em 
número (singular/plural) ou gênero (masculino/feminino), 
estamos reconhecendo, na verdade, uma relação de 
profunda coesão entre A e B. Esse é o princípio básico, por 
exemplo, que orienta a identificação de um sujeito na frase.
A expectativa de dias melhores nos alimenta cons-
tantemente. núcleo 
singular
verbo no 
singular
Compramos [ livros e revistas ] usados.
Aqui, o adjetivo “usados ” faz referência a livros e 
revistas. Trata-se do tipo de concordância mais natural 
quando um adjetivo tem como núcleo um substantivo 
masculino e outro feminino.
Compramos livros e [revistas] usadas.
Neste caso mais específico, o adjetivo “usadas” está 
em coesão apenas com o substantivo “revistas”, fazendo-
-nos entender que os livros eram novos.
Como você percebeu, a sintaxe de concordância, aqui, 
implica diferença clara de sentido entre os enunciados.
Ordem das palavras
Por este fator de coesão, é bastante natural que se 
evidencie no início da frase o termo considerado refe-
rência no enunciado.
Quando se quebra a ordem típica das frases na lín-
gua portuguesa, há a chamada ordem indireta, marcada 
por inversões e anteposições no interior do enunciado.
 • O Brasil foi desclassificado pela Alemanha em 8 de 
julho de 2014. (destaque para o paciente da ação 
verbal)
 • Pela Alemanha o Brasil foi desclassificado em 8 
de julho de 2014. (destaque para o agente da ação 
verbal)
 • Em 8 de julho de 2014, o Brasil foi desclassificado 
pela Alemanha. (destaque para a informação tempo-
ral sobre o fato ocorrido)
Além desses efeitos, a ordem pode causar diferenças 
contundentes quanto ao sentido de muitas construções, 
conforme sejam mudadas as posições de determinados 
termos da frase.
música popular de rádio
(trata-se de uma música com apelo popular veicula-
da em qualquer tipo de rádio)
música de rádio popular
(trata-se de um tipo qualquer de música veiculada em 
rádio de apelo popular)
Fazemos melhor nosso trabalho.
Fazemos nosso melhor trabalho.
Como se pode perceber, a ordenação imprimiu dife-
rentes sentidos a cada enunciado: em um, o realce se dá 
ao modo de fazer, incrementando a maneira de agir; no 
outro, destaca-se o trabalho em si.
Esperamos que você comece a aguçar um “olhar 
clínico” para os fatos da língua, principalmente quando 
a ordenação dos elementos gerar efeitos que não são 
esperados e causem enunciados de duplo sentido – am-
bíguos –, por vezes resultando em absurdos.
Atenção!
Ordem das palavras e ambiguidade
Veja a pequena nota, extraída de um importante 
jornal de circulação nacional, no final de 2011:
Ex-professor da USP tenta roubar bolsa com caco 
de vidro.
Um leitor atento rapidamente notaria o problema 
deste enunciado. Afinal, o caco de vidro foi o instrumen-
to usado pelo ex-professor na tentativa de assalto ou o 
caco de vidro estava na bolsa?
Reparou como a disposição das palavras na frase 
gerou o problema?
A ambiguidade do enunciado, ou o duplo sentido, 
pode muitas vezes atrapalhar as intenções de quem 
comunica. Este é um exemplo de como o duplo 
sentido decorreu da má disposição dos termos no 
enunciado.
Resumindo: a ideia era tenta roubar + com caco de 
vidro, mas a disposição dá a entender bolsa + caco de 
vidro.
Ambiguidade
O fenômeno da ambiguidade, o duplo sentido, é 
comum nas línguas naturais. Um dos fatores essen-
ciais para a produção de frases ambíguas é a manei-
ra como as palavras são dispostas nas frases. Via de 
regra, o efeito desse tipo de ambiguidade é negati-
vo, pois cria efeitos inesperados que comprometem 
a intenção do enunciador.
14 Extensivo Terceirão
Elipse
Também é um fator de economia na frase. Recurso muito comum e recorrente no texto, consiste no apagamento 
de um termo ou expressão facilmente identificáveis pelo contexto.
Primeiros dias, para falar a verdade, (EU) não senti sua falta; (POIS) (FOI) bom ficar com os amigos na roda do bar. 
(Dalton Trevisan)
Testes
Assimilação
10.01. Leia o poema a seguir.
LEMINSKI, P. Toda Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 144.
Em relação ao poema, considere as afirmativas a seguir.
I. O termo “impressão” tem duplo sentido no texto.
II. Há uma supressão do termo “corpo”, no poema, em de-
corrência da concisão.
III. O desenho da fonte escolhida para o verbo reforça a ideia 
de dinamicidade.
IV. A forma da fonte empregada no final do poema desfaz 
a carga erótica do início.
Assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. 
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 
10.02. (ESPM – SP) – Em uma das frases ocorre uma ambi-
guidade ou duplo sentido. Identifique-a: 
a) Ex-presidente recorreu ao Comitê da ONU acusando o 
juiz de violar seus direitos. 
b) Sem placa orientadora, taxistas evitam corredor de ônibus, 
mesmo após liberação pela Prefeitura. 
c) “Pokémon Go” leva jogadores à caça em cemitérios e 
igrejas no Brasil. 
d) Líderes governamentais com tensões e saias-justas na 
mala vão à China para o G20. 
e) O ministro do STF afirmou que os integrantes do Mi-
nistério Público Federal devem “calçar as sandálias da 
humildade”. 
10.03. (ESPCEX – SP) – 
“Mas essas são consequências aparentemente colate-
rais, porque a população manifesta muito mais pra-
zer no massacre contra o preso produzido dentro dos 
presídios.”
Há um trecho, dentro do período destacado acima, que 
provoca ambiguidade. Marque-o: 
a) aparentemente colaterais 
b) produzido dentro dos presídios 
c) contra o preso 
d) manifesta mais prazer 
e) no massacre 
Instrução: Texto para a questão 10.04.
Eram tempos menos duros aqueles vividos na 
casa de Tia Vicentina, em Madureira, subúrbio 
do Rio, onde Paulinho da Viola podia traçar, sem 
cerimônia, um prato de feijoada - comilança que 
deu até samba, “No Pagode do Vavá”. Mas como 
não é dado a saudades (lembre-se: é o passado 
que vive nele, não o contrário), Paulinho aceitou 
de bom grado a sugestão para que o jantar ocor-
resse em um dos mais requintados italianos do 
Rio. A escolha pela alta gastronomia tem seu pre-
ço. Assim que o sambista chega à mesa redonda 
ao lado da porta da cozinha, forma-se um círculo 
de garçons, com o maître à frente. [...]
Paulinho conta que cresceu comendo o trivial. 
Seu pai viveu 88 anos à base de arroz, feijão, bife 
e batata frita. De vez em quando, feijoada. Massa, 
também. “Mas nada muito sofisticado.” 
Com exceção de algumas dores de coluna, aos 70 
anos, goza de plena saúde. O músico credita sua 
boa forma ao estilo de vida, como se sabe, não 
dado a exageros e grandes ansiedades.
T. Cardoso, Valor, 28/06/2013. Adaptado. 
10.04. (FGV – RJ) – Tendo em vista o contexto, pode ser lida em 
duplo sentido a palavra sublinhada na seguinte frase do texto: 
a) “Mas como não é dado a saudades”. 
b) “Paulinho aceitou de bom grado a sugestão”. 
c) “A escolha pela alta gastronomia tem seu preço”. 
d) “forma-se um círculo de garçons, com o maître à frente”. 
e) “O músico credita sua boa forma ao estilo de vida”. 
Aula 10
15Português 3B
Aperfeiçoamento
10.05. (UNICAMP – SP) – 
Na década de 1950, quando iniciava seu governo, 
Juscelino Kubitschek prometeu “50 anos em 5”. Na 
campanha do atual governo o slogan ficou assim: “O 
Brasil voltou, 20 anos em dois”. A ‘tradução’ não ti-
nha como dar certo; era como comparar vinho com 
água. E mais:havia uma vírgula no meio do cami-
nho. Na propaganda, apenas uma vírgula impede 
que a leitura, ao invés de ser positiva e associada ao 
progressismo de Juscelino, se transforme numa men-
sagem de retrocesso: o Brasil de fato ‘voltou’ muito 
nesses últimos dois anos; para trás. 
(Adaptado de Lilia Schwarcz, Havia uma vírgula no meio do caminho. Nexo Jornal, 
21/05/2018.) 
Considerando o gênero propaganda institucional e o paralelo 
histórico traçado pela autora, é correto afirmar que o slogan 
do atual governo fracassou porque 
a) o uso da vírgula provocou uma leitura negativa do trecho 
que alude ao slogan da década de 1950. 
b) a mensagem projetada pelo slogan anterior era mais clara, 
direta, e não exigia o uso da vírgula. 
c) a alusão ao slogan anterior afasta o público jovem e 
provoca a perda de seu poder persuasivo. 
d) o duplo sentido do verbo “voltar” gerou uma mensagem 
que se afasta daquela projetada pelo slogan anterior. 
Instrução: A questão 10.06 refere-se ao texto a seguir: 
Proibido para menores de 50 anos. Nos últimos 
meses, em meio ao debate sobre as reformas na Pre-
vidência, um ponto acabou despertando a atenção. 
Afinal, existem empregos para quem tem mais de 50 
anos? Pendurar as chuteiras nem sempre é fácil. Às 
vezes, pode significar uma quebra tão grande na roti-
na que afeta até mesmo o emocional. Foi a partir de 
uma experiência familiar nesta linha que o paulista-
no Mórris Litvak criou a startup MaturiJobs. Trata-se 
de uma agência virtual de empregos, especializada 
em profissionais com mais de 50 anos. 
(Revista Isto é Dinheiro. Mercado de Trabalho. Maio/2017. p. 6.) 
10.06. (ITA – SP) – “Às vezes, pode significar uma quebra 
tão grande na rotina que afeta até mesmo o emocional”. As 
expressões em destaque, respectivamente, têm os valores 
semânticos de 
a) ambiguidade e conformidade. 
b) eventualidade e gradação. 
c) causa e consequência. 
d) dúvida e exclusão. 
e) temporalidade e finalidade. 
10.07. As frases abaixo apresentam ambiguidade, ou dupla 
leitura, exceto uma. Assinale-a: 
a) Paternidade: o desafio para os pais que cuidam dos filhos 
sozinhos. 
b) Ciências sem Fronteiras: verbas para estudantes atrasadas. 
c) Dilma afirma que Petrobras é maior que seus problemas. 
d) Mesmo sem revogar dogmas, Papa vira alvo dos con-
servadores. 
e) Deputado fala da reunião no Canal 2. 
Instrução: A questão 10.08 Focaliza uma passagem da 
comédia O juiz de paz da roça, do escritor Martins Pena 
(1815-1848).
JUIZ (assentando-se): Sr. Escrivão, leia o outro re-
querimento.
ESCRIVÃO (lendo): Diz Francisco Antônio, natural 
de Portugal, porém brasileiro, que tendo ele casado 
com Rosa de Jesus, trouxe esta por dote uma égua. 
“Ora, acontecendo ter a égua de minha mulher um 
filho, o meu vizinho José da Silva diz que é dele, só 
porque o dito filho da égua de minha mulher saiu 
malhado como o seu cavalo. Ora, como os filhos 
pertencem às mães, e a prova disto é que a minha 
escrava Maria tem um filho que é meu, peço a V. Sa. 
mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da 
égua que é de minha mulher”.
JUIZ: É verdade que o senhor tem o filho da égua 
preso?
JOSÉ DA SILVA: É verdade; porém o filho me per-
tence, pois é meu, que é do cavalo.
JUIZ: Terá a bondade de entregar o filho a seu dono, 
pois é aqui da mulher do senhor.
JOSÉ DA SILVA: Mas, Sr. Juiz...
JUIZ: Nem mais nem meios mais; entregue o filho, 
senão, cadeia.
(Martins Pena. Comédias (1833-1844), 2007.) 
10.08. (UNIFESP) – O efeito cômico produzido pela leitura 
do requerimento decorre, principalmente, do seguinte 
fenômeno ou procedimento linguístico: 
a) paródia. 
b) intertextualidade. 
c) ambiguidade. 
d) paráfrase. 
e) sinonímia. 
16 Extensivo Terceirão
Instrução: Texto para as questões 10.09. e 10.10.
O amigo da casa
A própria menina se prende muito a 1ele, que ain-
da lhe trouxe a última boneca, embora agora ela 
se ponha mocinha: encolhe-se na poltrona da sala 
sob a luz do abajur e lê a revista de quadrinhos. 
2Ele é alemão como o dono da casa. Tem apar-
tamento no hotel da praia e joga tênis no clube, 
saltando com energia para dentro do campo, a ra-
quete na mão. Assiste às partidas girando no copo 
de uísque os cubos de gelo. É o amigo da casa. 
Depois do jantar, passeia com a mãe da menina 
pelo caminho de pedra do jardim: as duas cabe-
ças – a loira e a preta de cabelos aparados – vão e 
vêm, a dele já com entradas da calva. 3Ele chupa o 
cachimbo de fumo cheiroso, que o moço de bor-
do vai deixar no escritório.
O dono da casa é Seu Feldmann. 4Dirige o seu 
pequeno automóvel e é muito delicado. Cumpri-
menta sempre todos os vizinhos, até mesmo os 
mais canalhas como Seu Deca, fiscal da Alfânde-
ga.
Seu Feldmann cumprimenta. Bate com a cabeça. 
Compra marcos a bordo e no banco para a 5sua 
viagem regular à Alemanha. Viaja em companhia 
do comandante do cargueiro, em camarote espe-
cial. Então respira o ar marítimo no alto do con-
vés, os braços muito brancos e descarnados, na 
camisa leve de mangas curtas.
A fortuna de origem é da mulher: as velhas casas 
no centro da cidade, os antigos armazéns, 6o sí-
tio da serra, de onde ela desce aos domingos em 
companhia 7do 8outro, que é o amigo da casa, e 
da menina.
9Saem os dois à noite e 10ele para o seu próprio 
automóvel sob os coqueiros na praia. 11Decerto 
brigaram mais uma vez, porque ela volta para 
casa de olhos vermelhos, enrolando 12nos dedos 
o lencinho bordado. Recolhe-se a seu quarto (ela 
e seu Feldmann dormem em quartos separados). 
Trila o apito do guarda. 13Os faróis do automóvel 
na rua pincelam de luz as paredes, tiram reflexo 
do espelho. 14Ela permanece insone: o vidro de 
sua janela é um retângulo de luz na noite.
(Moreira Campos. In Obra Completa – contos II. 1969. p. 120-122. Original-
mente publicado na obra O puxador de terço. Texto adaptado.) 
10.09. (UECE) – Atente ao que se diz sobre algumas ocor-
rências do texto e assinale com V o que for verdadeiro e com 
F o que for falso.
( ) O pronome “outro”, como todo vocábulo da língua por-
tuguesa, pode substantivar-se. Foi o que aconteceu 
com o pronome “outro” da referência 8.
( ) A expressão “(d)o outro” (ref. 7) é ambígua. Ela signi-
fica “outra pessoa”. Em alguns estados brasileiros, en-
tretanto, ela é usada também para fazer referência ao 
homem (o outro) e/ou à mulher (a outra) que protago-
nizam uma relação extraconjugal. Trabalhar essa ambi-
guidade no texto em estudo foi uma ideia feliz.
( ) Em “sua viagem regular à Alemanha” (ref. 5), o adjetivo 
“regular” foi empregado no sentido de ”aquilo que se 
dá em conformidade com a lei, com as regras, com a 
praxe”.
( ) No enunciado: “Decerto brigaram mais uma vez, por-
que ela volta para casa de olhos vermelhos, enrolando 
nos dedos o lencinho bordado” (ref. 11), a conjunção 
“porque” empresta à oração que é iniciada por ela o va-
lor semântico de explicação.
( ) A informação de que a mulher enrolava “nos dedos o 
lencinho bordado” (ref. 12) não é gratuita no conto. Ao 
contrário, tem uma função: mostrar o estado da mu-
lher, seu nervosismo, sua angústia.
Está correta, de cima para baixo, a seguinte 
a) F – V – F – V – F. 
b) F – F – V – F – V. 
c) V – V – F – V – V. 
d) V – F – V – F – F. 
10.10. (UECE) – O título de um texto é um ingrediente im-
portante para o processo da leitura. Um bom título deve ter 
a força de atrair o leitor, de causar-lhe algum estranhamento. 
Pode dar pistas sobre o conteúdo do texto, mas não deve ser 
muito explícito. A ambiguidade também é um ingrediente 
que pode ter efeito positivo num título.
Atente à análise do título do texto.
I. O título do conto (Texto) deve surpreender o leitor, que 
tem arquivada na memória linguística a expressão “o 
amigo” sempre relacionada ao homem e, raramente, a 
um animal irracional (como o cachorro), portanto a um 
ser vivo. O estranhamento causado pelo título pode ser 
um incentivo à leitura.
II. Ao intitular o conto de “O amigo da casa”, o enunciador 
empregouuma estrutura metonímica. A metonímia 
é uma “figura de retórica que consiste no uso de uma 
palavra fora de seu contexto semântico normal por ter 
uma significação de relação objetiva, de contiguidade, 
material ou conceitual, com o conteúdo ou referente 
ocasionalmente pensado” (Houaiss).
III. A outra qualidade do título consiste em ser ambíguo: o 
vocábulo “amigo”, além de significar aquele “que ama, 
que demonstra afeto, amizade”, pode significar, no uso 
informal da língua, “amante, amásio”. Essa ambiguidade 
poderá despertar a curiosidade do leitor e levá-lo à leitura.
Está correto o que se diz em 
a) I e II apenas. b) II e III apenas. 
c) I e III apenas. d) I, II e III. 
Aula 10
17Português 3B
Aprofundamento
Instrução: leia o texto abaixo e responda à questão 10.11.
Onde há maior engajamento das pessoas no tra-
balho? Para responder essa pergunta, a consultoria 
Marcus Buckingham Company fez uma pesquisa 
em 13 países, entrevistando cerca de mil pessoas de 
várias empresas em cada um. Os Estados Unidos e a 
China estão empatados em primeiro lugar (com de 
engajamento total cada), o que não chega a ser uma 
surpresa diante da potência de suas economias. Mas 
aí começam as novidades: em segundo lugar está a 
Índia, com e em terceiro, o Brasil, com de engaja-
mento, acima de países como a Inglaterra, o Cana-
dá, a Alemanha, a Itália e a França. Solicitou-se aos 
entrevistados hierarquizar oito afirmações básicas, 
como “no trabalho, sei claramente o que esperam de 
mim” ou “serei reconhecido se fizer um bom traba-
lho”. Para os autores, a diferença de engajamento em 
cada país seria explicada de acordo com o grau de 
confiança que o entrevistado teria sobre a utilização 
de suas capacidades pessoais no trabalho. Mas há 
nuances: no Brasil, assim como na França, Canadá 
e Argentina, a afirmação “meus colegas me apoiam” 
recebeu também grande destaque, enquanto na In-
glaterra e na Índia se valoriza mais o fato de ter cole-
gas que compartilhem os mesmos valores.
(Adaptado de: NOGUEIRA, P. E. A preguiça é mito? Época Negócios. ago. 2015. 
n.102. p. 21.) 
10.11. (UEL – PR) – Acerca dos recursos linguísticos subli-
nhados no texto, assinale a alternativa correta. 
a) A expressão “cerca de” pode ser substituída por “acerca de” 
sem prejuízo do sentido original. 
b) A expressão “em cada um” impede ambiguidade em torno 
das empresas nas quais as pessoas foram entrevistadas. 
c) O conectivo “Mas” serve para contrapor “surpresa” e 
“novidades”. 
d) O termo “aí” refere-se à “potência de suas economias”. 
e) O conectivo “enquanto” pode ser substituído por “ao passo 
que” sem prejuízo do sentido original. 
10.12. (EBMSP – BA) – 
ESTILO DE VIDA. Disponível em: <http://www.molotovpropaganda.com.br/wp-
-content>. Acesso em: 9 jul. 2016.
A campanha institucional sugere ações cotidianas que me-
lhoram a qualidade de vida das pessoas.
Na estruturação do texto, identifica-se o uso 
a) dos dois-pontos, com o objetivo de introduzir uma expli-
cação para que o locutário saiba qual o principal objetivo 
da publicidade em foco. 
b) do modo imperativo, para convencer o leitor a, sempre 
que necessário, utilizar os serviços da instituição respon-
sável pela divulgação da conduta indicada. 
c) de um recurso linguístico e gráfico para destacar o benefí-
cio da intensidade de certas características humanas, caso 
já se adote o estilo de vida sinalizado pelo interlocutor. 
d) da forma verbal “Seja”, que introduz atributos próprios do 
gênero feminino, e cujo sujeito implícito também aparece 
relacionado com a figura que ilustra a peça publicitária. 
e) da ambiguidade gerada por “Cultive”, que, nesse contexto, 
possibilita que a ação expressa se efetue tanto no sentido 
conotativo quanto no denotativo. 
10.13. (UFPR – Adaptado) – O texto a seguir contém um 
trecho da entrevista dada por Wilson Ferreira Jr., presidente 
da Eletrobras, para a Revista Isto É Dinheiro (ano 20, nº 
1123). Numere os itens, relacionando as respostas com as 
respectivas perguntas.
1) As ações da Eletrobras dobraram de valor desde que você 
assumiu. O que o Wilson tem de diferente dos outros 
executivos?
2) O que mais contribuiu para o resultado?
3) Como a empresa deve se posicionar nos próximos 10 
anos?
( ) Isso vai depender se ela será uma empresa capitalizada 
ou não. Gosto de olhar até o fim do ano, quando te-
remos quase concluído o processo de reestruturação. 
Faltam mais 1.500 pessoas ingressarem nos PDVs. A 
segunda coisa importante é concluirmos as obras que 
havíamos começado.
( ) Vontade de realizar. A companhia estava em uma situ-
ação delicada, mas tinha saída. Temos um bom plano 
e somos apoiados pelo governo. Isso é muito impor-
tante no caso de uma estatal que tem um conjunto de 
limitações, às vezes até políticas.
( ) A melhora operacional. Éramos uma companhia que 
tinha custos reais, de pessoal, material, serviços e ou-
tros maiores que os custos regulatórios. Quando isso 
acontece, o acionista paga a diferença. Começamos 
com 55% de custo a mais e, ao fim do último trimestre, 
chegamos a 11% a mais.
Assinale a alternativa que apresenta a numeração correta, 
de cima para baixo.
a) 2 – 3 – 1.
b) 1 – 3 – 2.
c) 3 – 1 – 2.
d) 2 – 1 – 3.
e) 3 – 2 – 1.
18 Extensivo Terceirão
10.14. (UFPR) – Considere o seguinte conjunto de informações:
- Os buracos negros são objetos fascinantes.
- Nos buracos negros, a matéria está em densidade 
extremamente alta.
- A gravidade dos buracos negros é muito intensa.
Considere as seguintes possibilidades de união dessas infor-
mações num único período:
1. Os buracos negros são objetos fascinantes com gravidade 
muito intensa, nos quais a matéria está em densidade 
extremamente alta.
2. A matéria está em densidade extremamente alta nos 
buracos negros, onde são objetos fascinantes com gra-
vidade muito intensa.
3. A gravidade dos buracos negros, objetos fascinantes cuja 
matéria está em densidade extremamente alta, é muito 
intensa.
Está/Estão de acordo com a norma padrão da escrita:
a) 1 apenas. b) 2 apenas.
c) 1 e 3 apenas. d) 2 e 3 apenas.
e) 1, 2 e 3.
10.15. (UFPR – Adaptado) – O texto a seguir contém trechos 
de uma entrevista dada pelo astronauta Scott Kelly para a 
Revista Galileu. Numere os itens, relacionando as respostas 
com as respectivas perguntas.
1. Antes de se aposentar, em 2016, aos 52 anos, você passou 
520 dias no espaço. Como se sente a respeito de sua 
carreira?
2. Em Endurance você conta que, no início da exploração 
espacial, os astronautas eram escolhidos pela habilidade 
de pilotar espaçonaves, mas hoje há qualidades mais 
valorizadas. Qual seria “a coisa certa” para a primeira 
tripulação em Marte?
3. Há problemas em aberto com relação aos voos espaciais 
que precisamos resolver antes de embarcarmos em 
jornadas interplanetárias. Quais são os fundamentais?
4. Esse interesse renovado pela Lua deu início a conversas 
entre a Nasa, a Roscosmos e outras agências visando a 
construção de uma “EEI” na órbita da Lua na década de 
2020. Como seria estar a bordo de uma estação dessas?
( ) Você não poderia voltar tão rápido em caso de uma 
emergência. Além disso, os atrasos de comunicação não 
seriam tão longos, então ainda seria possível manter 
uma conversa pelo telefone. A estação poderia ser rea-
bastecida com suprimentos, mas seria mais complicado. 
Ir até a Lua não é como ir até a órbita terrestre baixa.
( ) Pessoas que sejam capazes de trabalhar bem juntas, 
como um time, que sejam tecnicamente competentes, 
confiáveis. Pessoas que tenham muitas outras habilida-
des além de pilotar.
( ) O que vai nos impedir de ir a Marte ou desacelerar nos-
sa potencial jornada é o financiamento para isso. Será 
caro, vamos precisar de pessoas no governo que reco-
nheçam o valor da ciência, da pesquisa e da descober-
ta. E creio que este seja o maior desafio que temos: não 
a ciência dos foguetes, mas a ciência política.
( ) Privilegiado por ter voado ao espaço, por ter tidoa opor-
tunidade de fazer isso quatro vezes. Tive uma experiência 
bem diversificada, como piloto em uma missão de reparo 
do telescópio espacial Hubble e, mais tarde, ao voar como 
comandante do ônibus espacial até a estação.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta, de 
cima para baixo.
a) 1 – 3 – 2 – 4. b) 4 – 3 – 2 – 1.
c) 3 – 2 – 1 – 4. d) 1 – 4 – 3 – 2.
e) 4 – 2 – 3 – 1.
Instrução: A questão 10.16 refere-se ao texto “Dizer o que 
se pensa não é sempre uma qualidade”
Dizer o que se pensa não 
é sempre uma qualidade
Suzana Herculano-Houzel
1Donald Trump fala o que muitos pensam e não 
têm coragem de dizer, 2segundo seus eleitores.
Cheguei aos EUA em 2016 com Obama na Casa 
Branca e 3assisti 4boquiaberta, poucos meses de-
pois, a uma parcela significativa da nação eleger 
uma figura no mínimo controversa. Trump pare-
cia imune aos próprios atentados contra os valores 
americanos. A razão, louvada por tantos de seus 
eleitores? “Ele fala o que muitos pensam e não têm 
coragem de dizer.”
5E 6ainda faz escola. Já ouvi o mesmo argumento 
de vários que apoiam presidenciáveis brasileiros. 
7Como se dizer o que se pensa fosse, de fato, sem-
pre algo louvável. Mas não é.
Pensar besteira todo mundo faz, de chegar na mure-
ta do mirante e ponderar que “é 8só passar a perna 
por cima e me jogar” ou olhar para o vizinho e pen-
sar que “se eu o empurrasse, ele teria morte certa”. 
9Evocar associações comuns, como mureta e suicí-
dio, é apenas natural para o cérebro, consequência 
inevitável do seu aprendizado por repetição.
10Da mesma forma, 11num 12ambiente em que ra-
cismo, homofobia e liberdades tomadas com a vida 
dos outros ainda imperam, 13onde se cresce ouvin-
do que negros e índios são isso, gays são aquilo, e 
14onde todo útero grávido é propriedade coletiva, 
15insultar é o impulso mental fácil, mesmo que por 
repetição, e não por crença.
16Pensamentos também são testes de ações mentais 
e suas consequências possíveis. Mentalmente, todo 
mundo um dia xinga a mãe, esbofeteia o vizinho, 
esfaqueia o marido ou profere insultos racistas e 
homofóbicos.
17Mas a grande maioria para no pensamento, 18hor-
rorizada pela consequência que suas ações mentais 
teriam na vida real se executadas ou ditas. 19Pen-
samentos terríveis têm essa utilidade: 20primatas
Aula 10
19Português 3B
que somos, com um córtex pré-frontal expressivo, 
capaz de reconhecer 21más ideias e impedi-las22 de 
vir à tona, não precisamos chegar às vias de fato 
para aprender a não fazer besteira.
23Dizer o que “todo mundo pensa mas não ousa 
dizer”, portanto, não é sinal de coragem, nem de 
honestidade, mas apenas de falta de controle pré-
-frontal – ou de mau caráter mesmo. 
(Herculano-Houzel, Suzana [bióloga e neurocientista da Universidade 
Vanderbilt (EUA)]. Dizer o que se pensa não é sempre uma qualidade. Folha 
de São Paulo, 14/08/2010. Adaptado. Disponível em: http://www.brasilagro.
com.br/conteudo/dizer-o-que-se-pensa-nao-e-sempre-uma-qualidade.html. 
Acesso em 11 ago. 2018) 
10.16. (UPF – RS) – No que concerne a aspectos gramaticais 
do texto “Dizer o que se pensa não é sempre uma qualidade”, 
é incorreto o que se afirma em: 
a) A construção “assisti boquiaberta, poucos meses depois, 
a uma parcela significativa da nação eleger uma figura no 
mínimo controversa” (ref. 3) seria, por muitas pessoas, escrita 
da seguinte forma: “assisti boquiaberta, poucos meses depois, 
uma parcela significativa da nação eleger uma figura no míni-
mo controversa”. Isso, no entanto, representaria um erro, uma 
vez que, nesse contexto, o verbo assistir é transitivo indireto. 
b) No fragmento “Da mesma forma, num ambiente em que 
racismo, homofobia e liberdades tomadas com a vida 
dos outros ainda imperam” (ref. 10), a expressão “em que” 
poderia ser substituída por “no qual” sem que o sentido 
do texto e sua correção gramatical fossem prejudicados. 
c) Para garantir a correção gramatical, o fragmento “Mas a 
grande maioria para no pensamento” (ref. 17) deveria ser 
escrito da seguinte forma: “Mas a grande maioria pára no 
pensamento”, uma vez que o acento agudo diferencial é 
necessário em razão de se tratar de uma palavra homógrafa. 
d) No trecho “horrorizada pela consequência que suas ações 
mentais teriam na vida real se executadas ou ditas” (ref. 
18), há uma elipse de um verbo conjugado na terceira 
pessoa do plural do pretérito imperfeito do subjuntivo. 
e) Para garantir a correção gramatical, a oração “Pensamen-
tos terríveis têm essa utilidade:” (ref. 19) deveria ser escrita 
com a forma pronominal “esta”, assim: “Pensamentos 
terríveis têm esta utilidade:”, uma vez que se tem, aqui, 
uma relação catafórica. 
10.17. (UNESP – SP) – Verifica-se o emprego de vírgula para 
indicar a elipse (supressão) do verbo em: 
a) “Basta, Senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou la-
drão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?” 
b) “O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao 
Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, 
são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera [...].” 
c) “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o 
roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com 
muito, os Alexandres.” 
d) “Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz 
o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o 
mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.” 
e) “Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam 
cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, 
estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são 
enforcados: estes furtam e enforcam.” 
Instrução: Texto para a questão 10.18. 
A educação pela seda
Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas 
é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abo-
minável.
Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e 
pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao 
primeiro olhar.
Rosa Amanda Strausz 
Mínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990
10.18. (UERJ) – Os conceitos a vestiram como uma 
segunda pele,
O vocábulo a é comumente utilizado para substituir ter-
mos já enunciados. No texto, entretanto, ele tem um uso 
incomum, já que permite subentender um termo não 
enunciado.
Esse uso indica um recurso assim denominado: 
a) elipse b) catáfora 
c) designação d) modalização 
Desafio
10.19. (FUVEST – SP) – Leia a seguinte mensagem publici-
tária de uma empresa da área de logística:
A gente anda na linha para 
levar sua empresa mais longe
Mudamos o jeito de transportar contêineres no 
Brasil e Mercosul. Através do modal ferroviário, 
oferecemos soluções logísticas econômicas, segu-
ras e sustentáveis.
a) Visando a obter maior expressividade, recorre-se, no título 
da mensagem, ao emprego de expressão com duplo 
sentido. Indique essa expressão e explique sucintamente. 
20 Extensivo Terceirão
b) Segundo o anúncio, uma das vantagens do produto 
(transporte ferroviário) nele oferecido é o fato de esse 
produto ser “sustentável”. Cite um motivo que justifique 
tal afirmação. 
Instrução: Texto para a questão 10.20. 
(...) Minutos depois, já sozinhos, o médico foi sentar-
-se ao lado da mulher, o rapazinho estrábico dormi-
tava num canto do sofá, o cão das lágrimas, deitado, 
com o focinho sobre as patas dianteiras, abria e fe-
chava os olhos de vez em quando para mostrar que 
continuava vigilante, pela janela aberta, apesar da 
altura a que estava o andar, entrava o rumor das vo-
zes alteradas, as ruas deviam estar cheias de gente, a 
multidão a gritar uma só palavra, Vejo, diziam-na os 
que já tinham recuperado a vista, diziam-na os que 
de repente a recuperavam, Vejo, vejo, em verdade 
começa a parecer uma história doutro mundo aquela 
em que se disse, Estou cego. (...) Por que foi que ce-
gámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer 
a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, 1Penso 
que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos 
que veem, Cegos que, vendo, não veem.
A mulher do médico levantou-se e foi à janela.Olhou 
para baixo, para a rua coberta de lixo, para as pessoas 
que gritavam e cantavam. Depois levantou a cabeça 
para o céu e viu-o todo branco, Chegou a minha vez, 
pensou. O medo súbito fê-la baixar os olhos. A cida-
de ainda ali estava.
JOSÉ SARAMAGO 
Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 
10.19. (UERJ) – Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. 
(epígrafe do livro)
Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, 
Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem. (ref. 1)
Os fragmentos acima sintetizam a temática do romance de 
José Saramago. A epígrafe apresenta uma recomendação 
por meio de uma gradação de verbos com sentidos rela-
cionados à visão. Nessa gradação, o verbo reparar assume 
duplo sentido.
Aponte esses dois sentidos. Em seguida, reescreva o trecho 
Cegos que, vendo, não veem, substituindo apenas a 
oração reduzida por uma oração desenvolvida em que o 
conectivo empregado explicite o paradoxo presente na fala 
do médico. 
Gabarito
10.01. d
10.02. a
10.03. b
10.04. c
10.05. d
10.06. b
10.07. d
10.08. c
10.09. c
10.10. d 
10.11. e
10.12. c
10.13. c
10.14. c
10.15. e
10.16. c
10.17. c
10.18. a
10.19. a) Para maior expressividade a palavra “li-
nha” traz uma ambiguidade bastante 
pertinente, referindo-se à expressão 
“andar na linha”, que significa fazer 
tudo de maneira correta, e a ideia de 
linha de trem, já que a empresa ofe-
rece transportes em contêineres via 
férrea.
 b) Hoje, “sustentável” ganhou um significa-
do a mais, ou seja, de toda forma de tra-
balho que não prejudica o meio ambien-
te, como os trens, que, mais baratos que 
outros meios de transporte, não poluem 
o ar como eles. 
10.20. O verbo “reparar” apresenta o sentido de 
olhar com atenção, assim, se é possível 
ver, é também possível observar com 
atenção. Outro sentido adquirido é o 
de consertar: se é possível observar os 
problemas, também é possível pensar 
em soluções para consertá-los. Pode-se 
reescrever o trecho fazendo uso de um 
conectivo de concessão, por exemplo: 
“cegos que, mesmo vendo, não veem” ou 
“cegos que, embora vejam, não veem”. 
21Português 3B
Coesão II
3B
Português
Aula 11
Coesão referencial
No interior de um texto, encontramos diferentes 
níveis de relações entre as palavras. No plano formal, 
existe uma teia de articulações contraídas por palavras 
e expressões. Isso tem a ver diretamente com a coesão, 
pois tais articulações, se bem feitas, podem garantir 
progressão e fluência ao conjunto.
Assim, é possível que palavras se refiram a outras 
como reforço de sentido; algumas evitarão a repetição 
de certos termos; determinados vocábulos apontarão 
de forma específica, antes ou depois, palavras-chave 
dentro do conjunto. Enfim, há uma série de relações 
pelas quais os vocábulos se ligam e tecem o sentido dos 
enunciados.
Expansão lexical – palavras 
referenciais
Um modo de se estabelecer a coesão, já vimos, é a 
concordância. Assim, em 
Esse seu modo de falar
“esse” e “seu” estão em coesão com “modo” por 
causa da concordância nominal.
Outra forma de coesão se dá no nível semântico, 
quando uma palavra faz referência a outra. Nesse caso, é 
comum que um vocábulo ou expressão substitua outro 
e consiga, com isso, vários efeitos: 
 • evita a repetição;
 • expande o sentido do que é substituído;
 • revela, por parte do enunciador, repertório quando 
de sua escolha.
Anafóricos e catafóricos
Essa é uma classificação dada a palavras que marca-
damente nos permitem visualizar uma referência feita 
para o que apareceu antes no texto ou para o que ainda 
aparecerá. Há categorias de palavras, como os prono-
mes, que assumem com maior frequência a condição 
de anafóricos ou catafóricos, mas isso não impede que 
os termos responsáveis pela expansão lexical também 
sejam classificados como anafóricos ou catafóricos 
quando a função de recuperar ou anunciar esteja bem 
demarcada.
A tradição escolar costuma sempre lembrar os pro-
nomes demonstrativos como exemplos de anafóricos 
e catafóricos, mas outros pronomes também assumem 
esses papéis.
As crianças fazem barulho o dia todo. Elas têm esse 
direito e eu as defendo nisso.
“Elas ” recupera “as crianças ”; depois, “as ” recupera 
“elas ”, que já retomava “as crianças ”.
Veja, então, como a expansão é feita sem que haja 
redundância simplesmente por meio dos pronomes.
Note como um trecho como o que vem a seguir nos 
diz mais do que apenas apresenta em sua “superfície”:
Isso nunca mais acontecerá com eles.
O pronome “isso ” pressupõe que já ocorreu algo 
conhecido do leitor, bem como se sabe a quem se 
refere o pronome “eles ”. Do contrário, não haveria 
clareza em um enunciado como esse que, por exemplo, 
começasse um texto.
“Isso não me dá outra alternativa, embora não 
haja outro caso, portanto não teremos diversas pos-
sibilidades porque não existe mais uma situação em 
que ocorra diferente circunstância.”
Tomara que você não tenha entendido o enun-
ciado acima, pois ele é completamente falho em 
coesão, ferindo diretamente a coerência, o sentido. 
Isso ocorre por conta das repetições desnecessárias, 
não permitindo o texto avançar quanto ao sentido, 
além do uso impreciso dos conectores “embora”, 
“portanto”, “porque”.
Uma forma de evitar esse tipo de enunciado, 
completamente sem sentido, é conhecer e aplicar 
os mecanismos da coesão referencial, responsável 
pela chamada “costura do texto” em seu interior. 
Quando você lê um bom texto, fluente e claro, pode 
acreditar: ele veio recheado de um bom uso da 
coesão referencial.
22 Extensivo Terceirão
Repetição 
Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d’esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
É muito clara aqui a reiteração das expressões desta-
cadas de forma a intensificar o sofrimento do enuncia-
dor. Este é um caso em que a repetição tem função bem 
determinada dentro do enunciado, atuando como fator 
de expressividade.
Autenticada, a irmã de Fotocópia e Xerox
Patriarca de família do Recife teve ideia de dar nome 
aos filhos ao ver cartaz em cartório; família diz não se 
incomodar com as inevitáveis piadas
Naquela manhã de 1974 no Recife, o sanfoneiro José 
Miguel Porfírio, mais conhecido como seu Moscou, 
grande animador de forrós, estava contente pelo nasci-
mento do terceiro filho, o primeiro do segundo casa-
mento. (X) Tinha a ideia de batizá-lo com um nome di-
ferente, que ninguém tivesse utilizado ainda. Ele entrou 
no cartório de registro civil, (X) olhou na parede e (X) 
viu um cartaz escrito “xerox e fotocópias autenticadas”. 
(X) Decidiu usar as três palavras para nomear o recém-
-nascido e os filhos que poderiam ter no futuro.
ASSIM foi batizado o primogênito: Xerox Miguel 
Porfírio, hoje com 36 anos. Quatro anos depois, 
nasceu Autenticada Miguel Porfírio e depois veio ao 
mundo Fotocópia Miguel Porfírio, de 23 anos. Essa 
família recifense tem orgulho do nome diferenciado. 
O patriarca morreu no dia 11 de fevereiro.
Autenticada conta que seu nome abriu muitas por-
tas na vida. Jornalista de formação e agora cantora gos-
pel, (X) acaba de lançar o segundo disco, voltado para 
crianças. A Luz conta histórias bíblicas para o público 
infantil. O CD chega ao Rio de Janeiro na próxima se-
mana e, depois, a São Paulo. “Como jornalista e como 
cantora, o nome Autenticada sempre me ajudou. Rece-
bi muitos convites por causa do nome diferente.”
O PRIMEIRO TRABALHO – Ninguém Vai Calar 
Meu Canto – foi lançado em 2009, no Recife. São mú-
sicas evangélicas para o público adulto.
Ela já trabalhou como repórter de televisão no Re-
cife. Mas se realizou mesmo cantando. Há cerca de 
dois anos, os produtores do primeiro disco até cogi-
taram trocar o nome da cantora. “Achavam que Au-
tenticada poderia soar estranho.” Mas ela bateu o pé e 
hoje é reconhecida

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