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BIO COMBUSTÍVEIS: DO ETANOL AOBIO DIESEL Anderson Serpa Ribeiro* RESUMO Este artigo buscou através de pesquisa discorrer sobre as tecnologias presentes no mercado atual, as novas tecnologias em desenvolvimento e as tendências mundiais e no Brasil para o consumo em futuro próximo dos biocombustíveis em detrimento aos combustíveis fósseis. Palavras-chaves: Bio Combustíveis, Bio Diesel, Etanol, Biomassa 1 INTRODUÇÃO O objetivo do presente trabalho de pesquisa é analisar a evolução dos biocombustíveis no Brasil, demonstrando a evolução dos mercados brasileiro e mundial. Para tanto, está estruturado no formato de um artigo. Que apresenta informações relativas ao setor de biocombustíveis à luz do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel com uma análise das tecnologias utilizadas para AA produção e os mercados consumidores. As conclusões observadas são de que a produção de biocombustíveis no Brasil evoluiu muito nos últimos anos, mas questões relevantes ainda precisam ser revistas, como a utilização de novas matérias-primas, não alimentícias, a redução dos preços. Nesse contexto, a preocupação com a questão energética em alta e a busca por alternativas a esses combustíveis vem assumindo um papel de destaque nos processos decisórios dos países e em suas políticas públicas na área energética. 2 HISTÓRICO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS O primeiro registro do termo biodiesel na literatura científica data da década de 1980, onde foi encontrado no Chemical Abstracts o termo “bio- diesel”, popularizando-se a partir de então. A história da utilização de óleos vegetais e gorduras como matérias-primas para a produção de combustível remonta o final do século XIX, quando pesquisas foram iniciadas com o intuito de utilizar diferentes combustíveis em motores na indústria automobilística (SUAREZ e MENEGHETTI, 2007). De acordo com a Legislação Federal, nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005, conceitua-se o biodiesel como “um combustível derivado de biomassa renovável para a utilização em motores de combustão interna por ignição por compressão ou, conforme regulamento, para geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil” (BRASIL, 2005, art. 6º). Pode ser produzido através de óleos vegetais, gorduras de origem animal, e até óleos e gorduras residuais (BORUGADDA; GOUD, 2012). Ao longo das últimas duas décadas tem havido um grande interesse e tem se discutido muito sobre a necessidade de encontrar tecnologias de produção e obtenção de insumos que possam substituir os combustíveis fósseis, visando principalmente reduzir as emissões de gás carbônico (CO2) no meio ambiente. Os biocombustíveis atualmente são a melhor opção realista comprovada para cumprir com sucesso as reduções de emissões de CO2 em larga escala, impulsionar o crescimento econômico e melhorar a segurança energética. Além de diminuir a dependência externa de petróleo, por razões de segurança de suprimento. Entre os principais biocombustíveis (combustível que tem matéria-prima orgânica e não fóssil) estão a biomassa, o etanol e o biodiesel. Desde a década de 1980 os cientistas alertam os Governos sobre o fenômeno do aquecimento global, mostrando evidências cada vez mais convincentes de que a temperatura da Terra estava subindo a uma taxa maior do que a esperada pelos registros históricos, devido a ações antropológicas; a queima de combustíveis fósseis seria a principal causa desse fenômeno e os níveis de dióxido de carbono na atmosfera, o principal gás de efeito estufa, havia subido de 280 PPM (partes por milhão), índice que prevalecia antes da Revolução Industrial, para 380 PPM nos dias de hoje. A Convenção do Clima no Rio de Janeiro, em 1992, e a subseqüente assinatura do Protocolo de Quioto, em 1997, oficializaram essas preocupações com o clima global e estabelecerem responsabilidades para as nações signatárias da Convenção Quadro Sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas. O Protocolo de Quioto foi finalmente ratificado em março de 2005, estabelecendo metas quantitativas para a redução da emissão de gases de efeito estufa pelos países desenvolvidos, referentes aos níveis de 1990. O primeiro período de verificação será de 2008 a 2012, e os países em desenvolvimento estão fora dessa obrigatoriedade. 3 - OS BIO COMBUSTÍVEIS Os biocombustíveis, como o próprio nome já indica, são um tipo de combustível de origem biológica ou natural. Trata-se de uma fonte renovável de energia que é utilizada por meio da queima da biomassa ou de seus derivados, tais como o etanol (álcool para combustível), o biodiesel, o biogás, o óleo vegetal e outros. 3.1 – BIOMASSA A biomassa é tida como qualquer material de constituição orgânica que pode ser empregado para algum tipo de produção de energia. Assim, os biocombustíveis correspondem a uma das formas sob as quais a biomassa pode ser empregada, além de serem tidos como uma alternativa econômica e ambiental para reduzir a queima dos combustíveis fósseis. Geralmente, os tipos de biomassa utilizados como matérias-primas dos biocombustíveis são as plantas oleaginosas, ou seja, aqueles vegetais que possuem substâncias em formas de óleos e gorduras que podem ser extraídas a partir de determinados processos. Entre os vegetais mais comumente empregados, principalmente no Brasil, estão a cana de açúcar, a mamona, a palma, o girassol, o babaçu, a soja, o milho e outros. O milho é mais utilizado nos Estados Unidos, país que, assim como o Brasil, produz etanol em larga escala. Atualmente, o Brasil possui uma produção de etanol que supera os 21,5 milhões de barris por ano, o que equivale a um montante de aproximadamente 3,52 bilhões de litros. 3.1.1 ETANOL NO BRASIL O etanol vem sendo usado como combustível no Brasil desde os anos 1920, mas foi somente com o advento do Proálcool, em novembro de 1975, que seu papel ficou claramente definido a longo prazo, permitindo que o setor privado investisse maciçamente no aumento de produção. A motivação do governo para lançar o Proálcool foi o peso devastador da conta petróleo na balança de pagamentos do país, que importava na época mais de 80% do petróleo que consumia. A produção anual, que estava em torno de 600 milhões de litros, aumentou rapidamente e ultrapassou a meta do programa, de 10,6 bilhões de litros anuais, em menos de dez anos. Com o aumento da produção interna de petróleo e com a queda de seus preços internacionais, o governo perdeu o interesse pelo programa, que passou a navegar à deriva. Os subsídios foram reduzidos e o etanol hidratado perdeu competitividade perante a gasolina; a obrigatoriedade do uso do anidro na mistura com a gasolina e a velha frota de carros a álcool mantiveram o programa vivo, apesar da falta de apoio do governo. Um ponto vital foi a manutenção da infra-estrutura de abastecimento — o etanol estava disponível em mais de 90% dos 30 mil postos de combustível instalados no país. Em 2001 o mercado de etanol no Brasil foi totalmente desregulamentado, passando a prevalecer a livre competição entre os produtores. Felizmente, em 2002 ocorreu uma nova elevação nos preços internacionais do petróleo, e o consequente aumento de preço da gasolina, que trouxe de volta o interesse do consumidor pelo carro a álcool — as vendas que antes não deslanchavam pelo receio que tinha a população quanto à garantia de abastecimento. Conforme matéria publicada pelo Jornal O Estadão, as vendas que durante o período de 1996 a 2001 ficaram estagnas à 0,1% do total de veículos vendidos no país, teve um aumento chegando ao patamar de 3,0% dos veículos vendidos somente até o mês de julho de 2002. Percebendo isso, as montadoras de veículos passaram a trabalhar no desenvolvimento do motor flexível ao combustível (FFV — Flex Fuel Vehicle),que pode operar com gasolina, etanol ou qualquer mistura desses dois combustíveis. O uso de gasolina ou etanol nesses veículos depende do preço relativo entre eles, considerando que a equivalência em quilometragem é de 0,7 litro de gasolina por litro de etanol. Analisando a situação do etanol combustível hoje no Brasil notam-se os seguintes pontos marcantes: • O etanol representa, segundo informações do DENATRAN, até junho de 2017 cerca de 60% dos combustíveis para motores leves (ciclo Otto). • Não existem subsídios para o etanol e, mesmo assim, ele consegue competir com a gasolina; os custos de produção foram reduzidos em cerca de 70% desde 1975; • Cerca de 50% da cana moída no Brasil é usada para produzir etanol; • Há uma crescente expansão do mercado externo tanto para açúcar como para etanol, sendo difícil hoje identificar o real potencial do mercado mundial de etanol; • O setor sucroalcooleiro está em franca expansão: existiam 320 usinas em 2001, hoje já são 441; • O Brasil é o maior produtor de etanol de cana no mundo, mas, em produção total, fica atrás dos Estados Unidos, que usa o milho como matéria-prima; • A tecnologia de produção de etanol no Brasil está totalmente madura, permitindo ainda alguns ganhos de produtividade na área agrícola e pouca coisa na área industrial; existem variedades de cana geneticamente modificadas que permitiriam grandes reduções nos custos de produção, embora não possam ser utilizadas pela morosidade do processo de liberação. Com tudo isso, pode-se afirmar com muita convicção que, a produção de etanol no Brasil está perfeitamente consolidada, podendo crescer ainda na substituição da gasolina caso a volatilidade dos preços do petróleo continue. Assim, o Brasil poderá vir a ser um grande exportador de etanol . Gráfico 01 - Produção brasileira últimos 5 anos 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 3.500.000 4.000.000 4.500.000 5.000.000 1 0 3 m 3 Mês 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Tabela 01 Produção de etanol anidro e hidratado - 2012-2017 (m3) ANO Meses 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Janeiro 357.769 312.568 326.507 406.931 508.790 309.487 Fevereiro 271.719 184.483 239.192 328.086 340.918 249.892 Março 240.363 213.899 371.316 512.877 918.474 635.863 Abril 580.224 1.571.950 1.579.617 1.853.676 2.775.815 1.720.177 Maio 2.119.256 3.244.127 3.255.035 3.056.215 3.270.914 2.869.022 Junho 2.259.493 2.862.410 3.645.531 3.708.795 3.216.114 3.503.034 Julho 3.467.460 3.807.840 3.514.138 3.670.779 4.128.533 4.421.406 Agosto 3.870.228 4.087.846 4.380.490 4.615.080 3.866.658 3.894.041 Setembro 3.519.969 3.682.777 3.730.303 3.808.490 3.686.019 4.364.679 Outubro 3.416.354 3.364.246 3.855.540 3.930.277 3.085.005 3.447.390 Novembro 2.448.854 2.774.333 2.215.008 2.468.883 2.030.618 2.184.435 Dezembro 1.239.272 1.430.646 1.047.617 1.656.204 864.815 937.887 Total do Ano 23.790.961 27.537.124 28.160.295 30.016.294 28.692.674 28.537.313 Fonte: ANP Notas: (m3) = metro cúbico. (n/d) = não disponível. Dados atualizados em 26 de janeiro de 2018. 1 Variação percentual do somatório dos valores desde o mês de janeiro até um determinado mês do ano de 2017, em relação ao somatório do mesmo período do ano de 2016. 3.1.2 – Bio Gás O biogás é um biocombustível proveniente de materiais orgânicos (biomassa), o qual substitui o uso de combustíveis fósseis. Ele é produzido através da fermentação anaeróbica (ausência de Oxigênio) de bactérias presentes na biomassa. Produzido através da decomposição do lixo orgânico, o qual libera o chorume, um líquido escuro e viscoso, que por sua vez, produz o gás metano (CH4). Assim, o biogás é produzido pela combustão que ocorre por meio do uso de um equipamento chamado biodigestor anaeróbico. Além do lixo orgânico outros materiais são utilizados na produção do biogás: dejetos humanos, esterco, cana de açúcar, palhas, plantas, madeira, resíduos agrícolas, bagaço (cana de açúcar, a casca do arroz, da castanha, do coco), óleo de vegetais, dentre outros. Atualmente, de acordo com dados do BiogásMap, disponibilizado pelo Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás), existem no Brasil 153 unidades gerando energia elétrica, térmica ou biocombustível por meio do biogás, produzido graças a transformação de dejetos de animais, resíduos agrícolas, lixo e esgoto das cidades Além do metano (CH4), o biogás é composto por uma mistura de gases: dióxido de carbono (CO2), e em menores proporções o nitrogênio (N2), hidrogênio (H2), oxigênio (O2) e gás sulfídrico (H2S). O Biogás é utilizado na produção de energia elétrica e tem sido uma alternativa para os meios rurais. Além disso era gera calor e combustíveis sendo usado nos motores, iluminação, veículos e fogões. As vantagens da produção e uso do biogás estão diretamente relacionadas com a sustentabilidade ambiental, uma vez que se trata de uma fonte de energia renovável (produzida através do lixo) e, portanto, inesgotável, sendo mais limpa que o gás natural. Além disso, é uma alternativa barata e sustentável para o reaproveitamento e a redução dos resíduos urbanos. Embora seja uma fonte de energia renovável e com impacto ambiental menor se comparado com outros combustíveis, o biogás possui elevado teor de metano e dióxido de carbono (CO2), o que pode prejudicar o meio ambiente pois estes são dois dos principais gases do efeito estufa. No Brasil, a produção de biogás tem sido boa alternativa para a produção de energia nos meios rurais, onde são instalados os biodigestores. Dessa maneira, além de abastecer comunidades isoladas, a produção de biogás pode ser uma fonte de rendimento para os agricultores. O potencial brasileiro para adoção dessa fonte de energia é enorme, pois as cidades brasileiras produzem grande quantidade de lixo por dia; e ainda, possui muitos locais rurais que produzem os insumos para a produção do biogás. No entanto, o sistema brasileiro de produção do biogás ainda possui custos elevados, o que dificulta sua expansão e adoção nos grandes centros. Segundo Rodrigo Régis, diretor presidente da CIBiogás,“hoje, o biogás no Brasil, como mercado e negócio, ainda está muito aquém do seu potencial, mas já se pode sentir uma evolução tanto da quantidade de plantas de biogás como também das condições de mercado para atrair os investidores, uma vez que o governo está criando uma base de regulações e resoluções. O setor também conta cada vez mais com um envolvimento maior dos atores, seja do agronegócio, seja das instituições de pesquisa e desenvolvimento ou dos órgãos governamentais.“ Recentemente, foi apresentado ao Governo Federal pela ABiogás o Programa Nacional de Biogás e Biometano (PNBB), por meio do Ministério de Minas e Energia. “Hoje o biogás já participa do mercado regulado por meio de leilões, tendo um projeto contratado no último A-5. Com a regulamentação do biometano pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em janeiro de 2015, as distribuidoras de gás canalizado estão avaliando fazer contratos de longo prazo de fornecimento”, comenta o vice-presidente da ABiogás, Alessandro Gardemann (Apud Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da Bioenergia). Segundo dados da Aneel o Brasil somente utiliza 0,5% de um potencial que poderia abastecer 12% de toda energia consumida internamente. Os dados nos levam a conclusão da necessidade, urgente em tempos de crise hídrica, de investimentos na produção do biogás, como fonte alternativa para a matriz energética brasileira. 3.1.3 – Bio Diesel Em 2003 foram iniciados os primeiros estudos para a criação de uma política do biodiesel no Brasil e, em dezembro de 2004, o governo lançou o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). O objetivo, na etapa inicial, foi introduzir o biodiesel na matriz energética brasileira, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional. O principal resultado dessa primeira fase foi a definição legal e regulatória, com a edição de duas Leis e diversos atos normativos infralegais. Dessa forma, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel foi institucionalizado como a base normativa para a produção e comercialização do biodiesel no País, definindo o modelo tributário para este novo combustível e o desenvolvimento de mecanismos para inclusão da agricultura familiar, consubstanciado no Selo Combustível Social. Esse trabalho foi balizado por determinadas diretrizes bastante claras de política de inclusão social; como o aproveitamento das oleaginosas de acordo com as diversidades regionais; segurança de abastecimento para o novo combustível; garantia de qualidade para o consumidor; e busca da competitividade frente ao diesel de petróleo. Desde o lançamento do PNPB, a iniciativa privada vem disponibilizando e investindo recursos, na distribuição do combustível, em laboratórios, em pesquisa, na produção de matérias-primas, tudo isso graças à segurança do ambiente regulatório proporcionado pela definição de metas e a criação de um marco legal para o biodiesel. Em 2004 se deu início o processo de mistura de biodiesel ao diesel fóssil. Em janeiro de 2008, entrou em vigor a mistura legalmente obrigatória de 2% (B2), em todo o território nacional. Com o perceptível amadurecimento do mercado brasileiro, esse percentual foi ampliado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) sucessivamente até atingir 5% (B5) em janeiro de 2010, antecipando em três anos a meta estabelecida pela Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005. Regularmente, o biodiesel é vendido misturado ao diesel de petróleo em mais de 30 mil postos de abastecimento espalhados pelo país. Vários indicadores confirmam o sucesso do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. A produção desse tipo de biocombustível saltou de 69 milhões de litros em 2006 para 2,4 bilhões de litros em 2010. Esse resultado credencia o Brasil como segundo maior mercado mundial, somente atrás da Alemanha, que produz e consumo biodiesel há muito mais tempo. Outros importantes mercados são os Estados Unidos, a França e a Argentina. Pode-se destacar também a rápida evolução da capacidade industrial de produção de biodiesel. No fim 2011, 58 unidades estavam autorizadas a produzir e a comercializar o biocombustível, com uma capacidade nominal total de 6 bilhões de litros/ano. Dessa capacidade industrial, cerca de 80% (4,8 bilhões de litros/ano) é proveniente de usinas detentoras do Selo Combustível Social, um certificado fornecido pelo governo às unidades produtoras que atendem aos requisitos de inclusão da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel. Hoje existem 51 plantas produtoras de biodiesel autorizadas pela ANP para operação no País, correspondendo a uma capacidade total autorizada de 22.066,81 m3/dia. Há ainda duas novas plantas de biodiesel autorizadas para construção e duas plantas de biodiesel autorizadas para aumento da capacidade de produção. Com a finalização das obras e posterior autorização para operação, a capacidade total de produção de biodiesel autorizada poderá ser aumentada em 2.225 m3/dia, o que representa um acréscimo de 10,08% na capacidade atual. Desde o lançamento do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel B até o fim de 2011, o Brasil deixa de importar 7,9 bilhões de litros de diesel, o equivalente a um ganho de cerca de 5,2 bilhões de dólares na balança comercial brasileira. O Programa conta com suporte de recursos para pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em toda cadeia produtiva, abrangendo desde a fase agrícola até os processos de produção industrial, incluindo coprodutos e armazenamento. As empresas detentoras do Selo Combustível Social podem ter em contra partida de seus investimentos redução parcial ou total de tributos federais, conforme definido no modelo tributário aplicável ao biodiesel. Essas empresas possuem acesso a melhores condições de financiamento, além de poderem concorrer a 80% do volume total negociado nos leilões de biodiesel. Tecnologias para produção - Matérias Primas Para favorecer o pequeno produtor, o programa definiu impostos diferenciados dependendo da origem da matéria-prima, sendo o maior desconto para a produzida por pequenos produtores no Norte-Nordeste. O grande produtor não teria benefícios fiscais, sendo a taxação igual ao do diesel mineral. A grande esperança do governo em viabilizar a produção de óleos vegetais e biodiesel na região semiárida do Nordeste é a cultura da mamona. Merece destaque a unidade da Brasil Ecodiesel com a usina em Floriano e a plantação de mamona em Canto do Buriti, ambas no Piauí. A usina tem capacidade de produção de 7 milhões de litros por ano usando o processo de transesterificação. O módulo agrícola foi implantado inicialmente em 5 mil hectares, divididos em lotes de 25 hectares por família; cada família deverá cultivar mamona consorciada com feijão, ou outra cultura da escolha da família, em quinze hectares. Os dez hectares restantes serão usados para área de preservação e outros cultivos da família. No final da implantação do projeto serão 40 mil hectares plantados. Cada módulo de produção agrícola contará com ampla infraestrutura, com escola, posto médico e área de lazer. Embora o projeto, esteja bem estruturado, com um bom conceito de inclusão social e tecnologia industrial de boa qualidade, não está operando como planejado, pois a matéria-prima utilizada tem sido principalmente a soja importada da região Centro-Oeste. Isso prova que não bastam boas intenções e que uma realidade não pode ser desfeita simplesmente com o estabelecimento delas. Tudo indica que faltou tecnologia na parte agrícola do projeto. A mamona recebeu muito pouca atenção nos últimos trinta anos e de repente foi lançada como a grande solução para a inclusão social via agricultura familiar. Há apenas duas variedades comerciais para as condições nordestinas e as técnicas de cultivo e manejo não parecem estar suficientementedesenvolvidas, sem contar com a falta de preparo e treinamento dos agricultores. A mamona precisará de pelo menos mais dez anos, com base na experiência com outras culturas, para ser desenvolvida como uma opção comercial de matéria-prima para a produção de biodiesel. Isso vale também para outras culturas ainda sem experiência de plantio comercial, como o pinhão-manso. A soja, com uma tecnologia agrícola já bem desenvolvida e perto de 25 milhões de hectares plantados no país, é hoje a principal matéria-prima na produção de biodiesel. É uma opção ruim do ponto de vista do balanço energético, da ocupação de terras e da inclusão social, mas é a melhor do ponto de vista econômico e de disponibilidade, tendo, portanto, predominado sobre as outras alternativas de matéria-prima. Assim foi no Brasil com o etanol de cana-de-açúcar, nos Estados Unidos com o etanol de milho e o biodiesel de soja, na Europa com o etanol de trigo e beterraba e o biodiesel de colza. Uma cultura exótica ou pouco conhecida precisará de tempo e recursos para ser desenvolvida como opção comercial. Gráfico 2 – Matérias-primas utilizadas na produção de biodiesel (B100) – 2007- 2016 Fonte: ANP/SPC (tabela 4.13) 1 Inclui gordura bovina, de frango e de porco. 2 Inclui óleo de palma, óleo de amendoim, óleo de nabo-forrageiro, óleo de girassol, óleo de mamona, óleo de sésamo, óleo de fritura usado e outros materiais graxos. A comercialização do biodiesel, no Brasil, é realizada por meio de leilões públicos, promovidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a partir de diretrizes específicas estabelecidas pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Os objetivos dos leilões de Biodiesel são conferir suporte econômico à cadeia produtiva do biodiesel e contribuir para o atendimento das diretrizes do PNPB, além de criar condições para a consolidação do setor até este que possa inserir-se em mercados mais livres, competitivos e com menor risco de comprometer os objetivos estabelecidos, 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 m il h õ e s m ³ Óleo de soja Óleo de algodão Gordura animal¹ Outros materiais graxos² sobretudo nos campos da inclusão social e da redução de disparidades regionais. Os leilões de Biodiesel funcionam como um mecanismo transparente de comercialização. Por ser um certame público, são conhecidos todos os volumes transacionados e seus respectivos fornecedores, assim como a condição de preço. Além disso, os leilões oferecem igualdade de acesso entre fornecedores e não discriminam o porte do produtor de biodiesel. Os leilões também asseguram a participação da agricultura familiar. Pelo menos 80% do volume negociado nos leilões, deve ser oriundo de produtores detentores do Selo Combustível Social. A partir da produção de biodiesel pelo Brasil, uma nova cadeia produtiva vem se fortalecendo, gerando e multiplicando emprego e renda, tanto na fase agrícola e nos mercados de insumos e serviços, como também nas atividades de transporte, armazenamento, mistura e comercialização do biodiesel. Além disso, vem agregando-se valor às matérias-primas oleaginosas produzidas no País. O mercado atual do biodiesel Ao longo do ano de 2016 o mercado de combustíveis decresceu, em média, 4,5%, em termos volumétricos. Esse dado deve ser analisado em comparação com outros dois: a retração econômica brasileira e a retração do próprio mercado de combustíveis em 2015, de 1,9%. Esses dois resultados, conjuntamente, evidenciam a relevância da desaceleração do mercado de combustíveis em 2016. O desempenho do mercado de combustíveis não foi, contudo, uniforme. Houve combustíveis que tiveram aumento expressivo nas vendas internas, e outros que apresentaram retração considerável. A produção brasileira de biodiesel após manter um ritmo continuo de crescimento entre os anos de 2007 a 2015, apresentou pela primeira vez uma queda. Gráfico 03. Considerações sobre a produção do biodiesel Contando com seu apelo ambiental, vem corroborando resultados de análises laboratoriais que mostram a total eliminação do dióxido de enxofre SO2, diminuição em 60% da fuligem, emissão de monóxido de carbono e os hidrocarbonetos reduzido em 50%, os hidrocarbonetos poliaromáticos apresentam queda superior a 70% e os gases aromáticos são reduzidos em 15% (BARNWAL, SHARMA, 2005). Porém destaca-se uma questão negativa e pouco comentada que é o consumo de água no processo de purificação do biodiesel. Na fase final de produção, o processo de purificação através da lavagem do produto, com posterior filtração e secagem do biodiesel, faz deste rejeito de lavagem um carreador saturado de resíduos de sabões de sódio ou potássio, alguns ácidos graxos, glicerina, alcoóis e vários outros contaminantes (NOUREDDINI, 2001). Utilizando métodos tradicionais de lavagem, na produção de cada litro de biodiesel, são empregados no mínimo 3 litros de água no processo lavagem, de fato este processo deve ser questionado e ter seu custo ambiental avaliado (DE BONI et al., 2007). Para a produção de biodiesel também estão sendo buscadas novas fontes de matérias primas – as algas, que utilizam CO2 e energia solar para a produção de óleos (FJERBAEK, CHRISTENSEN e NORDDAHL, 2008), com chamadas específicas das agências de fomento do governo. Em que o mercado dos biocombustíveis é diferente do mercado de petróleo? No Brasil esta diferença é bem marcante. A produção de biocombustíveis, além de ser uma necessidade do mercado, está fortemente ligada à política de governo e às demandas sociais, como diminuição de CO2, utilização de combustíveis renováveis, desenvolvimento sustentável, produção agrícola e independência energética, entre outras. Deve-se levar em conta que também é uma questão de soberania nacional a garantia de uma fonte de energia renovável e contínua, que minimize problemas ambientais e atenda as necessidades básicas de qualidade de vida da população. Conclusão Não podemos deixar de considerar que os biocombustíveis citados neste artigo mostram-se uma excelente alternativa quando se fala exclusivamente da redução de emissão geradores do efeito estufa e outros poluentes na atmosfera, entretanto perde a unanimidade de seus benefícios quando se analisa todo o seu ciclo produtivo. O balanço climático negativo de várias de suas culturas, algumas bastante agressivas ao meio ambiente, sua influência no aumento da fome mundial devido à substituição da área de plantio de alimentos pelos insumos dos biocombustíveis, são questionamentos que necessitam ser apontados e ainda carecem de avaliação mais aprofundadas e geram dúvidas quanto aos indiscutíveis benefícios propalados. Diante da impossibilidade de uma solução perfeita mostra-se fundamental um aprofundamento das pesquisas no sentido de melhora a eficiência produtiva, buscando sempre minimizar os efeitos negativos. Em face disso, intervenções dos governos se mostram imprescindíveis, pois os custos de produção, pesquisa e desenvolvimento, ainda se mostram altos para que apenas a iniciativa privada faça os investimentos necessários. Referência Bibliográficas. Agência Estado, disponível em <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,crescem-as-vendas-de-carros- a-alcool,20020831p36791> publicado em 31 de Agosto de 2002, consultado em 12 de fevereiro de 2018 DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito, disponível em <http://www.denatran.gov.br/index.php/estatistica/610-frota-2017>, consultado em 12 de fevereiro de 2018 Canal da Bio energia, disponível em <https://www.canalbioenergia.com.br/apesar-dos-recursos-disponiveis- producao-de-biogas-ainda-e-pequena/>, consultado em 12 de fevereiro de 2018 IPEA – disponível em <http://www.en.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/boletim_regional/0912 20_boletimregional3_cap6.pdf>ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, disponível em <http://www.anp.gov.br/wwwanp/biocombustíveis> acessado em 10/02/2018 ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, disponível em <http://www.anp.gov.br/wwwanp/producao-de- biocombustiveis/biodiesel/informacoes-de-mercado> acessado em 10/02/2018. ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – Anuário 2017, disponível em <http://www.anp.gov.br/wwwanp/publicacoes/anuario- estatistico/3819-anuario-estatistico-2017>
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