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BIO COMBUSTÍVEIS - ARTIGO CIENTÍFICO

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BIO COMBUSTÍVEIS: DO ETANOL AOBIO DIESEL 
 
Anderson Serpa Ribeiro* 
 
 
RESUMO 
Este artigo buscou através de pesquisa discorrer sobre as tecnologias 
presentes no mercado atual, as novas tecnologias em desenvolvimento e as 
tendências mundiais e no Brasil para o consumo em futuro próximo dos 
biocombustíveis em detrimento aos combustíveis fósseis. 
 
Palavras-chaves: Bio Combustíveis, Bio Diesel, Etanol, Biomassa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O objetivo do presente trabalho de pesquisa é analisar a evolução dos 
biocombustíveis no Brasil, demonstrando a evolução dos mercados brasileiro e 
mundial. Para tanto, está estruturado no formato de um artigo. Que apresenta 
informações relativas ao setor de biocombustíveis à luz do Programa Nacional 
de Produção e Uso do Biodiesel com uma análise das tecnologias utilizadas 
para AA produção e os mercados consumidores. As conclusões observadas 
são de que a produção de biocombustíveis no Brasil evoluiu muito nos últimos 
anos, mas questões relevantes ainda precisam ser revistas, como a utilização 
de novas matérias-primas, não alimentícias, a redução dos preços. 
Nesse contexto, a preocupação com a questão energética em alta e a 
busca por alternativas a esses combustíveis vem assumindo um papel de 
destaque nos processos decisórios dos países e em suas políticas públicas na 
área energética. 
 
2 HISTÓRICO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS 
O primeiro registro do termo biodiesel na literatura científica data da 
década de 1980, onde foi encontrado no Chemical Abstracts o termo “bio-
diesel”, popularizando-se a partir de então. A história da utilização de óleos 
vegetais e gorduras como matérias-primas para a produção de combustível 
remonta o final do século XIX, quando pesquisas foram iniciadas com o intuito 
de utilizar diferentes combustíveis em motores na indústria automobilística 
(SUAREZ e MENEGHETTI, 2007). 
De acordo com a Legislação Federal, nº 11.097, de 13 de janeiro de 
2005, conceitua-se o biodiesel como “um combustível derivado de biomassa 
renovável para a utilização em motores de combustão interna por ignição por 
compressão ou, conforme regulamento, para geração de outro tipo de energia, 
que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil” 
(BRASIL, 2005, art. 6º). Pode ser produzido através de óleos vegetais, 
gorduras de origem animal, e até óleos e gorduras residuais (BORUGADDA; 
GOUD, 2012). 
Ao longo das últimas duas décadas tem havido um grande interesse e 
tem se discutido muito sobre a necessidade de encontrar tecnologias de 
produção e obtenção de insumos que possam substituir os combustíveis 
fósseis, visando principalmente reduzir as emissões de gás carbônico (CO2) no 
meio ambiente. Os biocombustíveis atualmente são a melhor opção realista 
comprovada para cumprir com sucesso as reduções de emissões de CO2 em 
larga escala, impulsionar o crescimento econômico e melhorar a segurança 
energética. Além de diminuir a dependência externa de petróleo, por razões 
de segurança de suprimento. Entre os principais biocombustíveis (combustível 
que tem matéria-prima orgânica e não fóssil) estão a biomassa, o etanol e o 
biodiesel. 
Desde a década de 1980 os cientistas alertam os Governos sobre o 
fenômeno do aquecimento global, mostrando evidências cada vez mais 
convincentes de que a temperatura da Terra estava subindo a uma taxa maior 
do que a esperada pelos registros históricos, devido a ações antropológicas; a 
queima de combustíveis fósseis seria a principal causa desse fenômeno e os 
níveis de dióxido de carbono na atmosfera, o principal gás de efeito estufa, 
havia subido de 280 PPM (partes por milhão), índice que prevalecia antes da 
Revolução Industrial, para 380 PPM nos dias de hoje. A Convenção do Clima 
no Rio de Janeiro, em 1992, e a subseqüente assinatura do Protocolo de 
Quioto, em 1997, oficializaram essas preocupações com o clima global e 
estabelecerem responsabilidades para as nações signatárias da Convenção 
Quadro Sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas. 
O Protocolo de Quioto foi finalmente ratificado em março de 2005, 
estabelecendo metas quantitativas para a redução da emissão de gases de 
efeito estufa pelos países desenvolvidos, referentes aos níveis de 1990. O 
primeiro período de verificação será de 2008 a 2012, e os países em 
desenvolvimento estão fora dessa obrigatoriedade. 
3 - OS BIO COMBUSTÍVEIS 
Os biocombustíveis, como o próprio nome já indica, são um tipo de 
combustível de origem biológica ou natural. Trata-se de uma fonte renovável de 
energia que é utilizada por meio da queima da biomassa ou de seus derivados, 
tais como o etanol (álcool para combustível), o biodiesel, o biogás, o óleo 
vegetal e outros. 
3.1 – BIOMASSA 
A biomassa é tida como qualquer material de constituição orgânica que 
pode ser empregado para algum tipo de produção de energia. Assim, os 
biocombustíveis correspondem a uma das formas sob as quais a biomassa 
pode ser empregada, além de serem tidos como uma alternativa econômica e 
ambiental para reduzir a queima dos combustíveis fósseis. 
Geralmente, os tipos de biomassa utilizados como matérias-primas dos 
biocombustíveis são as plantas oleaginosas, ou seja, aqueles vegetais que 
possuem substâncias em formas de óleos e gorduras que podem ser extraídas 
a partir de determinados processos. Entre os vegetais mais comumente 
empregados, principalmente no Brasil, estão a cana de açúcar, a mamona, a 
palma, o girassol, o babaçu, a soja, o milho e outros. O milho é mais utilizado 
nos Estados Unidos, país que, assim como o Brasil, produz etanol em larga 
escala. Atualmente, o Brasil possui uma produção de etanol que supera os 
21,5 milhões de barris por ano, o que equivale a um montante de 
aproximadamente 3,52 bilhões de litros. 
3.1.1 ETANOL NO BRASIL 
O etanol vem sendo usado como combustível no Brasil desde os anos 
1920, mas foi somente com o advento do Proálcool, em novembro de 1975, 
que seu papel ficou claramente definido a longo prazo, permitindo que o setor 
privado investisse maciçamente no aumento de produção. A motivação do 
governo para lançar o Proálcool foi o peso devastador da conta petróleo na 
balança de pagamentos do país, que importava na época mais de 80% do 
petróleo que consumia. 
A produção anual, que estava em torno de 600 milhões de litros, 
aumentou rapidamente e ultrapassou a meta do programa, de 10,6 bilhões de 
litros anuais, em menos de dez anos. Com o aumento da produção interna de 
petróleo e com a queda de seus preços internacionais, o governo perdeu o 
interesse pelo programa, que passou a navegar à deriva. Os subsídios foram 
reduzidos e o etanol hidratado perdeu competitividade perante a gasolina; a 
obrigatoriedade do uso do anidro na mistura com a gasolina e a velha frota de 
carros a álcool mantiveram o programa vivo, apesar da falta de apoio do 
governo. Um ponto vital foi a manutenção da infra-estrutura de abastecimento 
— o etanol estava disponível em mais de 90% dos 30 mil postos de 
combustível instalados no país. 
Em 2001 o mercado de etanol no Brasil foi totalmente 
desregulamentado, passando a prevalecer a livre competição entre os 
produtores. Felizmente, em 2002 ocorreu uma nova elevação nos preços 
internacionais do petróleo, e o consequente aumento de preço da gasolina, que 
trouxe de volta o interesse do consumidor pelo carro a álcool — as vendas que 
antes não deslanchavam pelo receio que tinha a população quanto à garantia 
de abastecimento. Conforme matéria publicada pelo Jornal O Estadão, as 
vendas que durante o período de 1996 a 2001 ficaram estagnas à 0,1% do total 
de veículos vendidos no país, teve um aumento chegando ao patamar de 3,0% 
dos veículos vendidos somente até o mês de julho de 2002. Percebendo isso, 
as montadoras de veículos passaram a trabalhar no desenvolvimento do motor 
flexível ao combustível (FFV — Flex Fuel Vehicle),que pode operar com 
gasolina, etanol ou qualquer mistura desses dois combustíveis. O uso de 
gasolina ou etanol nesses veículos depende do preço relativo entre eles, 
considerando que a equivalência em quilometragem é de 0,7 litro de gasolina 
por litro de etanol. 
Analisando a situação do etanol combustível hoje no Brasil notam-se os 
seguintes pontos marcantes: 
• O etanol representa, segundo informações do DENATRAN, até junho de 2017 
cerca de 60% dos combustíveis para motores leves (ciclo Otto). 
• Não existem subsídios para o etanol e, mesmo assim, ele consegue competir 
com a gasolina; os custos de produção foram reduzidos em cerca de 70% 
desde 1975; 
• Cerca de 50% da cana moída no Brasil é usada para produzir etanol; 
• Há uma crescente expansão do mercado externo tanto para açúcar como 
para etanol, sendo difícil hoje identificar o real potencial do mercado mundial de 
etanol; 
• O setor sucroalcooleiro está em franca expansão: existiam 320 usinas em 
2001, hoje já são 441; 
• O Brasil é o maior produtor de etanol de cana no mundo, mas, em produção 
total, fica atrás dos Estados Unidos, que usa o milho como matéria-prima; 
• A tecnologia de produção de etanol no Brasil está totalmente madura, 
permitindo ainda alguns ganhos de produtividade na área agrícola e pouca 
coisa na área industrial; existem variedades de cana geneticamente 
modificadas que permitiriam grandes reduções nos custos de produção, 
embora não possam ser utilizadas pela morosidade do processo de liberação. 
Com tudo isso, pode-se afirmar com muita convicção que, a produção de 
etanol no Brasil está perfeitamente consolidada, podendo crescer ainda na 
substituição da gasolina caso a volatilidade dos preços do petróleo continue. 
Assim, o Brasil poderá vir a ser um grande exportador de etanol . 
Gráfico 01 - Produção brasileira últimos 5 anos 
 
 
 
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
4.000.000
4.500.000
5.000.000
1
0
3
m
3
Mês
2012 2013 2014 2015 2016 2017
 Tabela 01 
Produção de etanol anidro e hidratado - 2012-2017 (m3) 
 ANO 
Meses 2012 2013 2014 2015 2016 2017 
Janeiro 
 
357.769 
 
312.568 
 
326.507 
 
406.931 
 
508.790 
 
309.487 
Fevereiro 
 
271.719 
 
184.483 
 
239.192 
 
328.086 
 
340.918 
 
249.892 
Março 
 
240.363 
 
213.899 
 
371.316 
 
512.877 
 
918.474 
 
635.863 
Abril 
 
580.224 
 
1.571.950 
 
1.579.617 
 
1.853.676 
 
2.775.815 
 
1.720.177 
Maio 
 
2.119.256 
 
3.244.127 
 
3.255.035 
 
3.056.215 
 
3.270.914 
 
2.869.022 
Junho 
 
2.259.493 
 
2.862.410 
 
3.645.531 
 
3.708.795 
 
3.216.114 
 
3.503.034 
Julho 
 
3.467.460 
 
3.807.840 
 
3.514.138 
 
3.670.779 
 
4.128.533 
 
4.421.406 
Agosto 
 
3.870.228 
 
4.087.846 
 
4.380.490 
 
4.615.080 
 
3.866.658 
 
3.894.041 
Setembro 
 
3.519.969 
 
3.682.777 
 
3.730.303 
 
3.808.490 
 
3.686.019 
 
4.364.679 
Outubro 
 
3.416.354 
 
3.364.246 
 
3.855.540 
 
3.930.277 
 
3.085.005 
 
3.447.390 
Novembro 
 
2.448.854 
 
2.774.333 
 
2.215.008 
 
2.468.883 
 
2.030.618 
 
2.184.435 
Dezembro 
 
1.239.272 
 
1.430.646 
 
1.047.617 
 
1.656.204 
 
864.815 
 
937.887 
Total do Ano 
 
23.790.961 
 
27.537.124 
 
28.160.295 
 
30.016.294 
 
28.692.674 
 
28.537.313 
Fonte: ANP 
Notas: (m3) = metro cúbico. 
 (n/d) = não disponível. 
Dados atualizados em 26 de janeiro de 2018. 
1 Variação percentual do somatório dos valores desde o mês de janeiro até um determinado mês 
do ano de 2017, em relação ao somatório do mesmo período do ano de 2016. 
 
3.1.2 – Bio Gás 
O biogás é um biocombustível proveniente de materiais orgânicos 
(biomassa), o qual substitui o uso de combustíveis fósseis. Ele é produzido 
através da fermentação anaeróbica (ausência de Oxigênio) de bactérias 
presentes na biomassa. Produzido através da decomposição do lixo orgânico, 
o qual libera o chorume, um líquido escuro e viscoso, que por sua vez, produz 
o gás metano (CH4). Assim, o biogás é produzido pela combustão que ocorre 
por meio do uso de um equipamento chamado biodigestor anaeróbico. 
Além do lixo orgânico outros materiais são utilizados na produção do 
biogás: dejetos humanos, esterco, cana de açúcar, palhas, plantas, madeira, 
resíduos agrícolas, bagaço (cana de açúcar, a casca do arroz, da castanha, do 
coco), óleo de vegetais, dentre outros. Atualmente, de acordo com dados do 
BiogásMap, disponibilizado pelo Centro Internacional de Energias Renováveis 
– Biogás (CIBiogás), existem no Brasil 153 unidades gerando energia elétrica, 
térmica ou biocombustível por meio do biogás, produzido graças a 
transformação de dejetos de animais, resíduos agrícolas, lixo e esgoto das 
cidades 
Além do metano (CH4), o biogás é composto por uma mistura de gases: 
dióxido de carbono (CO2), e em menores proporções o nitrogênio (N2), 
hidrogênio (H2), oxigênio (O2) e gás sulfídrico (H2S). 
O Biogás é utilizado na produção de energia elétrica e tem sido uma 
alternativa para os meios rurais. Além disso era gera calor e combustíveis 
sendo usado nos motores, iluminação, veículos e fogões. 
As vantagens da produção e uso do biogás estão diretamente 
relacionadas com a sustentabilidade ambiental, uma vez que se trata de uma 
fonte de energia renovável (produzida através do lixo) e, portanto, inesgotável, 
sendo mais limpa que o gás natural. Além disso, é uma alternativa barata e 
sustentável para o reaproveitamento e a redução dos resíduos urbanos. 
Embora seja uma fonte de energia renovável e com impacto ambiental 
menor se comparado com outros combustíveis, o biogás possui elevado teor 
de metano e dióxido de carbono (CO2), o que pode prejudicar o meio ambiente 
pois estes são dois dos principais gases do efeito estufa. 
No Brasil, a produção de biogás tem sido boa alternativa para a 
produção de energia nos meios rurais, onde são instalados os biodigestores. 
Dessa maneira, além de abastecer comunidades isoladas, a produção de 
biogás pode ser uma fonte de rendimento para os agricultores. O potencial 
brasileiro para adoção dessa fonte de energia é enorme, pois as cidades 
brasileiras produzem grande quantidade de lixo por dia; e ainda, possui muitos 
locais rurais que produzem os insumos para a produção do biogás. 
No entanto, o sistema brasileiro de produção do biogás ainda possui 
custos elevados, o que dificulta sua expansão e adoção nos grandes centros. 
Segundo Rodrigo Régis, diretor presidente da CIBiogás,“hoje, o biogás 
no Brasil, como mercado e negócio, ainda está muito aquém do seu potencial, 
mas já se pode sentir uma evolução tanto da quantidade de plantas de biogás 
como também das condições de mercado para atrair os investidores, uma vez 
que o governo está criando uma base de regulações e resoluções. O setor 
também conta cada vez mais com um envolvimento maior dos atores, seja do 
agronegócio, seja das instituições de pesquisa e desenvolvimento ou dos 
órgãos governamentais.“ 
Recentemente, foi apresentado ao Governo Federal pela ABiogás o 
Programa Nacional de Biogás e Biometano (PNBB), por meio do Ministério de 
Minas e Energia. “Hoje o biogás já participa do mercado regulado por meio de 
leilões, tendo um projeto contratado no último A-5. Com a regulamentação do 
biometano pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 
(ANP) em janeiro de 2015, as distribuidoras de gás canalizado estão avaliando 
fazer contratos de longo prazo de fornecimento”, comenta o vice-presidente da 
ABiogás, Alessandro Gardemann (Apud Ana Flávia Marinho-Canal-Jornal da 
Bioenergia). 
Segundo dados da Aneel o Brasil somente utiliza 0,5% de um potencial 
que poderia abastecer 12% de toda energia consumida internamente. Os 
dados nos levam a conclusão da necessidade, urgente em tempos de crise 
hídrica, de investimentos na produção do biogás, como fonte alternativa para a 
matriz energética brasileira. 
3.1.3 – Bio Diesel 
Em 2003 foram iniciados os primeiros estudos para a criação de uma 
política do biodiesel no Brasil e, em dezembro de 2004, o governo lançou o 
Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). O objetivo, na 
etapa inicial, foi introduzir o biodiesel na matriz energética brasileira, com 
enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional. O principal resultado 
dessa primeira fase foi a definição legal e regulatória, com a edição de duas 
Leis e diversos atos normativos infralegais. 
Dessa forma, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel foi 
institucionalizado como a base normativa para a produção e comercialização 
do biodiesel no País, definindo o modelo tributário para este novo combustível 
e o desenvolvimento de mecanismos para inclusão da agricultura familiar, 
consubstanciado no Selo Combustível Social. Esse trabalho foi balizado por 
determinadas diretrizes bastante claras de política de inclusão social; como o 
aproveitamento das oleaginosas de acordo com as diversidades regionais; 
segurança de abastecimento para o novo combustível; garantia de qualidade 
para o consumidor; e busca da competitividade frente ao diesel de petróleo. 
Desde o lançamento do PNPB, a iniciativa privada vem disponibilizando 
e investindo recursos, na distribuição do combustível, em laboratórios, em 
pesquisa, na produção de matérias-primas, tudo isso graças à segurança do 
ambiente regulatório proporcionado pela definição de metas e a criação de um 
marco legal para o biodiesel. 
Em 2004 se deu início o processo de mistura de biodiesel ao diesel 
fóssil. Em janeiro de 2008, entrou em vigor a mistura legalmente obrigatória de 
2% (B2), em todo o território nacional. Com o perceptível amadurecimento do 
mercado brasileiro, esse percentual foi ampliado pelo Conselho Nacional de 
Política Energética (CNPE) sucessivamente até atingir 5% (B5) em janeiro de 
2010, antecipando em três anos a meta estabelecida pela Lei nº 11.097, de 13 
de janeiro de 2005. 
Regularmente, o biodiesel é vendido misturado ao diesel de petróleo em 
mais de 30 mil postos de abastecimento espalhados pelo país. Vários 
indicadores confirmam o sucesso do Programa Nacional de Produção e Uso do 
Biodiesel. A produção desse tipo de biocombustível saltou de 69 milhões de 
litros em 2006 para 2,4 bilhões de litros em 2010. Esse resultado credencia o 
Brasil como segundo maior mercado mundial, somente atrás da Alemanha, que 
produz e consumo biodiesel há muito mais tempo. Outros importantes 
mercados são os Estados Unidos, a França e a Argentina. 
Pode-se destacar também a rápida evolução da capacidade industrial de 
produção de biodiesel. No fim 2011, 58 unidades estavam autorizadas a 
produzir e a comercializar o biocombustível, com uma capacidade nominal total 
de 6 bilhões de litros/ano. Dessa capacidade industrial, cerca de 80% (4,8 
bilhões de litros/ano) é proveniente de usinas detentoras do Selo Combustível 
Social, um certificado fornecido pelo governo às unidades produtoras que 
atendem aos requisitos de inclusão da agricultura familiar na cadeia produtiva 
do biodiesel. Hoje existem 51 plantas produtoras de biodiesel autorizadas pela 
ANP para operação no País, correspondendo a uma capacidade total 
autorizada de 22.066,81 m3/dia. Há ainda duas novas plantas de biodiesel 
autorizadas para construção e duas plantas de biodiesel autorizadas para 
aumento da capacidade de produção. Com a finalização das obras e posterior 
autorização para operação, a capacidade total de produção de biodiesel 
autorizada poderá ser aumentada em 2.225 m3/dia, o que representa um 
acréscimo de 10,08% na capacidade atual. 
Desde o lançamento do Programa Nacional de Produção e Uso do 
Biodiesel B até o fim de 2011, o Brasil deixa de importar 7,9 bilhões de litros de 
diesel, o equivalente a um ganho de cerca de 5,2 bilhões de dólares na balança 
comercial brasileira. 
O Programa conta com suporte de recursos para pesquisa, 
desenvolvimento e inovação (PD&I) em toda cadeia produtiva, abrangendo 
desde a fase agrícola até os processos de produção industrial, incluindo 
coprodutos e armazenamento. 
As empresas detentoras do Selo Combustível Social podem ter em 
contra partida de seus investimentos redução parcial ou total de tributos 
federais, conforme definido no modelo tributário aplicável ao biodiesel. Essas 
empresas possuem acesso a melhores condições de financiamento, além de 
poderem concorrer a 80% do volume total negociado nos leilões de biodiesel. 
Tecnologias para produção - Matérias Primas 
Para favorecer o pequeno produtor, o programa definiu impostos 
diferenciados dependendo da origem da matéria-prima, sendo o maior 
desconto para a produzida por pequenos produtores no Norte-Nordeste. O 
grande produtor não teria benefícios fiscais, sendo a taxação igual ao do diesel 
mineral. 
A grande esperança do governo em viabilizar a produção de óleos 
vegetais e biodiesel na região semiárida do Nordeste é a cultura da mamona. 
Merece destaque a unidade da Brasil Ecodiesel com a usina em Floriano e a 
plantação de mamona em Canto do Buriti, ambas no Piauí. A usina tem 
capacidade de produção de 7 milhões de litros por ano usando o processo de 
transesterificação. O módulo agrícola foi implantado inicialmente em 5 mil 
hectares, divididos em lotes de 25 hectares por família; cada família deverá 
cultivar mamona consorciada com feijão, ou outra cultura da escolha da família, 
em quinze hectares. Os dez hectares restantes serão usados para área de 
preservação e outros cultivos da família. No final da implantação do projeto 
serão 40 mil hectares plantados. Cada módulo de produção agrícola contará 
com ampla infraestrutura, com escola, posto médico e área de lazer. 
Embora o projeto, esteja bem estruturado, com um bom conceito de 
inclusão social e tecnologia industrial de boa qualidade, não está operando 
como planejado, pois a matéria-prima utilizada tem sido principalmente a soja 
importada da região Centro-Oeste. Isso prova que não bastam boas intenções 
e que uma realidade não pode ser desfeita simplesmente com o 
estabelecimento delas. Tudo indica que faltou tecnologia na parte agrícola do 
projeto. 
A mamona recebeu muito pouca atenção nos últimos trinta anos e de 
repente foi lançada como a grande solução para a inclusão social via 
agricultura familiar. Há apenas duas variedades comerciais para as condições 
nordestinas e as técnicas de cultivo e manejo não parecem estar 
suficientementedesenvolvidas, sem contar com a falta de preparo e 
treinamento dos agricultores. A mamona precisará de pelo menos mais dez 
anos, com base na experiência com outras culturas, para ser desenvolvida 
como uma opção comercial de matéria-prima para a produção de biodiesel. 
Isso vale também para outras culturas ainda sem experiência de plantio 
comercial, como o pinhão-manso. 
A soja, com uma tecnologia agrícola já bem desenvolvida e perto de 25 
milhões de hectares plantados no país, é hoje a principal matéria-prima na 
produção de biodiesel. É uma opção ruim do ponto de vista do balanço 
energético, da ocupação de terras e da inclusão social, mas é a melhor do 
ponto de vista econômico e de disponibilidade, tendo, portanto, predominado 
sobre as outras alternativas de matéria-prima. Assim foi no Brasil com o etanol 
de cana-de-açúcar, nos Estados Unidos com o etanol de milho e o biodiesel de 
soja, na Europa com o etanol de trigo e beterraba e o biodiesel de colza. Uma 
cultura exótica ou pouco conhecida precisará de tempo e recursos para ser 
desenvolvida como opção comercial. 
Gráfico 2 – Matérias-primas utilizadas na produção de biodiesel (B100) – 2007-
2016 
 
Fonte: ANP/SPC (tabela 4.13) 
1
Inclui gordura bovina, de frango e de porco. 
2
Inclui óleo de palma, óleo de amendoim, óleo de nabo-forrageiro, óleo de girassol, óleo de mamona, óleo de 
sésamo, óleo de fritura usado e outros materiais graxos. 
 
A comercialização do biodiesel, no Brasil, é realizada por meio de leilões 
públicos, promovidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e 
Biocombustíveis (ANP) a partir de diretrizes específicas estabelecidas pelo 
Ministério de Minas e Energia (MME). Os objetivos dos leilões de Biodiesel são 
conferir suporte econômico à cadeia produtiva do biodiesel e contribuir para o 
atendimento das diretrizes do PNPB, além de criar condições para a 
consolidação do setor até este que possa inserir-se em mercados mais livres, 
competitivos e com menor risco de comprometer os objetivos estabelecidos, 
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
m
il
h
õ
e
s 
m
³
Óleo de soja Óleo de algodão Gordura animal¹ Outros materiais graxos²
sobretudo nos campos da inclusão social e da redução de disparidades 
regionais. 
Os leilões de Biodiesel funcionam como um mecanismo transparente de 
comercialização. Por ser um certame público, são conhecidos todos os 
volumes transacionados e seus respectivos fornecedores, assim como a 
condição de preço. Além disso, os leilões oferecem igualdade de acesso entre 
fornecedores e não discriminam o porte do produtor de biodiesel. Os leilões 
também asseguram a participação da agricultura familiar. Pelo menos 80% do 
volume negociado nos leilões, deve ser oriundo de produtores detentores do 
Selo Combustível Social. 
A partir da produção de biodiesel pelo Brasil, uma nova cadeia produtiva 
vem se fortalecendo, gerando e multiplicando emprego e renda, tanto na fase 
agrícola e nos mercados de insumos e serviços, como também nas atividades 
de transporte, armazenamento, mistura e comercialização do biodiesel. Além 
disso, vem agregando-se valor às matérias-primas oleaginosas produzidas no 
País. 
 O mercado atual do biodiesel 
 Ao longo do ano de 2016 o mercado de combustíveis decresceu, em 
média, 4,5%, em termos volumétricos. Esse dado deve ser analisado em 
comparação com outros dois: a retração econômica brasileira e a retração do 
próprio mercado de combustíveis em 2015, de 1,9%. Esses dois resultados, 
conjuntamente, evidenciam a relevância da desaceleração do mercado de 
combustíveis em 2016. O desempenho do mercado de combustíveis não foi, 
contudo, uniforme. Houve combustíveis que tiveram aumento expressivo nas 
vendas internas, e outros que apresentaram retração considerável. A produção 
brasileira de biodiesel após manter um ritmo continuo de crescimento entre os 
anos de 2007 a 2015, apresentou pela primeira vez uma queda. 
 
 
 
Gráfico 03. 
 
 Considerações sobre a produção do biodiesel 
Contando com seu apelo ambiental, vem corroborando resultados de 
análises laboratoriais que mostram a total eliminação do dióxido de enxofre 
SO2, diminuição em 60% da fuligem, emissão de monóxido de carbono e os 
hidrocarbonetos reduzido em 50%, os hidrocarbonetos poliaromáticos 
apresentam queda superior a 70% e os gases aromáticos são reduzidos em 
15% (BARNWAL, SHARMA, 2005). Porém destaca-se uma questão negativa e 
pouco comentada que é o consumo de água no processo de purificação do 
biodiesel. Na fase final de produção, o processo de purificação através da 
lavagem do produto, com posterior filtração e secagem do biodiesel, faz deste 
rejeito de lavagem um carreador saturado de resíduos de sabões de sódio ou 
potássio, alguns ácidos graxos, glicerina, alcoóis e vários outros contaminantes 
(NOUREDDINI, 2001). Utilizando métodos tradicionais de lavagem, na 
produção de cada litro de biodiesel, são empregados no mínimo 3 litros de 
água no processo lavagem, de fato este processo deve ser questionado e ter 
seu custo ambiental avaliado (DE BONI et al., 2007). 
Para a produção de biodiesel também estão sendo buscadas novas 
fontes de matérias primas – as algas, que utilizam CO2 e energia solar para a 
produção de óleos (FJERBAEK, CHRISTENSEN e NORDDAHL, 2008), com 
chamadas específicas das agências de fomento do governo. Em que o 
mercado dos biocombustíveis é diferente do mercado de petróleo? No Brasil 
esta diferença é bem marcante. A produção de biocombustíveis, além de ser 
uma necessidade do mercado, está fortemente ligada à política de governo e 
às demandas sociais, como diminuição de CO2, utilização de combustíveis 
renováveis, desenvolvimento sustentável, produção agrícola e independência 
energética, entre outras. Deve-se levar em conta que também é uma questão 
de soberania nacional a garantia de uma fonte de energia renovável e 
contínua, que minimize problemas ambientais e atenda as necessidades 
básicas de qualidade de vida da população. 
Conclusão 
Não podemos deixar de considerar que os biocombustíveis citados neste 
artigo mostram-se uma excelente alternativa quando se fala exclusivamente da 
redução de emissão geradores do efeito estufa e outros poluentes na 
atmosfera, entretanto perde a unanimidade de seus benefícios quando se 
analisa todo o seu ciclo produtivo. O balanço climático negativo de várias de 
suas culturas, algumas bastante agressivas ao meio ambiente, sua influência 
no aumento da fome mundial devido à substituição da área de plantio de 
alimentos pelos insumos dos biocombustíveis, são questionamentos que 
necessitam ser apontados e ainda carecem de avaliação mais aprofundadas e 
geram dúvidas quanto aos indiscutíveis benefícios propalados. Diante da 
impossibilidade de uma solução perfeita mostra-se fundamental um 
aprofundamento das pesquisas no sentido de melhora a eficiência produtiva, 
buscando sempre minimizar os efeitos negativos. Em face disso, intervenções 
dos governos se mostram imprescindíveis, pois os custos de produção, 
pesquisa e desenvolvimento, ainda se mostram altos para que apenas a 
iniciativa privada faça os investimentos necessários. 
Referência Bibliográficas. 
Agência Estado, disponível em 
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,crescem-as-vendas-de-carros-
a-alcool,20020831p36791> publicado em 31 de Agosto de 2002, consultado 
em 12 de fevereiro de 2018 
DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito, disponível em 
<http://www.denatran.gov.br/index.php/estatistica/610-frota-2017>, consultado 
em 12 de fevereiro de 2018 
Canal da Bio energia, disponível em 
<https://www.canalbioenergia.com.br/apesar-dos-recursos-disponiveis-
producao-de-biogas-ainda-e-pequena/>, consultado em 12 de fevereiro de 
2018 
IPEA – disponível em 
<http://www.en.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/boletim_regional/0912
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disponível em <http://www.anp.gov.br/wwwanp/biocombustíveis> acessado em 
10/02/2018 
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, 
disponível em <http://www.anp.gov.br/wwwanp/producao-de-
biocombustiveis/biodiesel/informacoes-de-mercado> acessado em 10/02/2018. 
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – Anuário 
2017, disponível em <http://www.anp.gov.br/wwwanp/publicacoes/anuario-
estatistico/3819-anuario-estatistico-2017>

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