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Artigo A3

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CENRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS,2020
DRENAGEM URBANA: ASPECTOS ACERCA DO GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS URBANOS.
Beatriz de Moura Oliveira; Filipe Nogueira Martins; Hugo Antunes;Isabelle Monteiro;Rafael Milanez
RESUMO
O objetivo deste estudo é relatar os possíveis danos que o agente bactericida Triclosan, também conhecido como Irgasan, com seu uso contínuo, pode causar ao meio ambiente e ao ser humano com a justificativa de que, considerando-se estudos realizados em que o composto está ligado a distúrbios endócrinos, bioacumulação e a classificação como alergênico pela União Europeia. O Triclosan é um composto usado como antisséptico e como conservante em cosméticos, produtos de higiene e medicamentos, encontrados no mercado desde 1972 e regularizado no Brasil pela ANVISA, possui efeitos contra bactérias gram-positivas e gram-negativas, e também contra fungos e bolores. 
INTRODUÇÃO 
O Triclosan (TCS, 5-cloro-2- (2,4-diclorofenoxi) fenol), é um agente antimicrobiano sintético de amplo espectro (Cibe Specialty Chemicals,2001), utilizado subitamente há anos em produtos de consumo, principalmente em desodorantes, sabões e outras preparações dermatológicas. 
Atualmente, o Triclosan e seus subprodutos degradados são encontrados em todo o ambiente, incluindo solo, águas superficiais e leite materno humano (Adolfsson E., et al. 2002). Sua localização contínua levou ao debate sobre a segurança do seu uso. Inúmeros estudos lançaram clareza sobre as preocupações emergentes de saúde relacionadas ao uso do Triclosan, como resistência microbiana, irritações dérmicas, ruptura endócrina, maior incidência de alergias, metabolismo alterado do hormônio tireoidiano e desenvolvimento de tumores devido à TCS e seus subprodutos (Rodricks J.V., et al. 2010).
Este projeto provê de uma revisão abrangente da literatura sobre o Triclosan, sua ocorrência em ambiente aquático, toxicidade por intermédio da exposição a longo prazo em humanos, animais selvagens e outros organismos aquáticos.
TRICLOSAN
O Irgasan é encontrado no mercado desde 1972, sendo um grande agente bactericida de efeito contra uma vasta gama de bactérias gram-positivas e gram-negativas, também contra fungos e bolores, conforme é mostrado na tabela 01 abaixo. O mecanismo de ação do antimicrobiano constitui-se em bloquear a biossíntese lipídica dos microrganismos, inviabilizando o seu crescimento e a sua multiplicação. É um composto não volátil de elevada estabilidade química, levemente solúvel em água e altamente solúvel em substâncias de caráter graxo. (SOUZA, 2014)
No Brasil, o órgão responsável por regular o triclosan é a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), considerando que a máxima concentração utilizada é de 0,3% em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. A ANVISA, porém não demonstra nenhuma recomendação de limitação ou normas de uso e advertência. (EQUIPE ECYCLE, 2013)
Nos Estados Unidos, o triclosan é regulado por duas agências, a Environmental Protection Agency (EPA) e a Food and Drug Administration (FDA), de maneira que a substância é regulada pela EPA em sua utilização como pesticida, e pela FDA em sua utilização no restante dos produtos. (EQUIPE NOTÍCIAS NATURAIS, 2014).
O Triclosan impede o sítio ativo de uma enzima chamada ENR (enoil-acil proteína-carreadora redutase), impedindo a bactéria de fabricar ácidos graxos que ela precisa para construir as membranas celulares e para outras funções imprescindíveis, provocando a morte da célula devido a essa desorganização da membrana citoplasmática. Uma das moléculas do Irgasan desabilita permanentemente uma molécula de ENR, explicando o porquê do composto ter uma intensa ação antibiótica, mesmo tendo concentrações muito baixas. (LUIZ, 2013)
Pode ser encontrado em produtos que levem os seguintes nomes em sua composição:
· TRICLOSAN (designação mais frequente);
· 5-CHLORO-2- (2,4-DICHLOROPHENOXY) PHENOL;
· PHENOL, 5-CHLORO-2- (2,4-DICHLOROPHENOXY);
· 2,4,4'-TRICHLORO-2'-HYDROXY DIPHENYL ETHER;
· 5-CHLORO-2- (2,4-DICHLOROPHENOXY) - PHENOL;
· PHENOL, 5CHLORO2 (2,4DICHLOROPHENOXY);
· 2,4,4'-TRICHLORO-2'-HYDROXYDIPHENYL ETHER;
· 5-CHLORO-2- (2,4-DICHLOROPHENOXY) PHENOL;
· CH 3565;
· IRGASAN;
· IRGASAN DP300;
· PHENOL, 5-CHLORO-2- (2,4-DICHLOROPHENOXY).(EQUIPE F. M. COSMÉTICOS, 2014)
CONTAMINAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS POR TRICLOSAN
A qualidade de vida das populações vem melhorando ao longo do tempo como uma das consequências das novas tecnologias produtoras de novos insumos para o mercado de vendas. Uma área que tem ganhado bastante notoriedade é a indústria de cosméticos e produtos de higiene pessoal. No entanto, o aumento desses produtos, gera maior consumo e consequentemente a maior acumulação de resíduos químicos no meio ambiente proveniente de um descarte incorreto das embalagens por exemplo, isso implica em novos desafios no que concerne a preservação de recursos hídricos naturais. 
Segundo Raquel Nogueira (2007), a entrada destes compostos no meio ambiente deve-se, principalmente, ao tratamento ineficiente de esgotos domésticos e industriais, ao descarte inadequado de resíduos e à disposição de lodos em solos7. Pesquisas recentes têm demonstrado a presença de poluentes emergentes em diversos compartimentos ambientais tais como águas superficiais, solos e sedimentos, além de águas de escoamento superficial8.
O uso exacerbado de produtos que contém em sua composição antimicrobianos geralmente apresentam o composto triclosan, que já pode ser detectado em áreas de mananciais e afeta e biodiversidade local como efeito da presença do micro poluente, segundo Pusceddu, há relatos de concentrações de triclosan na faixa de μg L-1 e ng L-1 em efluentes de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e Estações de Tratamento de Água (ETAs) no mundo todo, inclusive no Brasil9.
Entretanto a remoção destes compostos orgânicos em estações de tratamento de esgoto (ETEs), ainda é muito baixa e falha, as capacidades de remoção se restringem a uma determinada quantidade, e essa água contaminada em áreas hídricas superficiais é capaz de afetar diversos organismos aquáticos que habitam o local. 
A contaminação de recursos hídricos é um problema emergente em todo o mundo, com a rápida urbanização em áreas próximas as encostas e mananciais, contribui para o agravamento e poluição da água por resíduos químicos, diversos fatores atribuem outras características para esse problema, bem como a instalação de indústrias que rejeitam seus descartes de forma inadequada no meio ambiente, falta de fiscalização ambiental, deficiência na coleta e tratamento de esgoto sanitário, esses e outros fatores que contribuem para a piora da qualidade na distribuição pública e constituem fatores para o acumulo deste composto nos reservatórios naturais. 
De acordo com a Resolução RDC 79/2000 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),30 o triclosan é um conservante liberado para ser utilizado em produtos de higiene pessoal na concentração máxima de 0,30 %. Essa concentração está em concordância com a diretiva da União Europeia 76/768/CEE10.
No entanto, destaca-se uma árdua pesquisa para desenvolver um tratamento mais eficaz para a remoção destes compostos orgânicos nas águas, durante o seu tratamento, uma das alternativas que vem sendo mais utilizada é a técnica do lodo ativado, estudos apontam que essa técnica é capaz de retirar até 95% do triclosan daquela água, esse método consiste em reduzir o oxigênio da demanda biológica da água11. 
Após o tratamento de lodo ativado, a água ainda passa por um tratamento secundário com cloro, as reações liberam subprodutos como resíduos potencialmente carcinogênicos, justifica-se, portanto, um maior interesse da comunidade cientifica em desenvolver métodos alternativos e tratamentos avançados. 
Neste contexto, evidencia-se a preocupação da comunidade científica em pesquisar sobre poluentes emergentes, uma vez que pouco se sabe sobre os seus efeitos deletérios no diferentes níveis tróficos, ao mesmo passo que surge a necessidade de ampliar o monitoramentoe tratamento dos recursos hídricos com base nas novas pesquisas em métodos alternativas para a remoção completa desses compostos orgânicos potenciais poluentes emergentes ao redor do mundo, pelo seu uso e descarte indiscriminado no meio ambiente.
Possíveis rotas de fármacos e PPCPs no meio ambiente (Fonte: BILA & DEZZOTI, 2003).
TOXICIDADE DO TRICOSAN EM MEIO AQUÁTICO E EFEITOS NOS NÍVES TRÓFICOS 
O Triclosan quando descartado e acumulado em meio áquatico tem maior potencial de toxicidade, pois age em todos os organismos encontrados no meio, desde o substrato até a coluna superficial da água, interagindo assim com os seres vivos de diversas formas, tanto pela intoxicação por ingestão ou contato constantes com a água contaminada, quanto pela ingestão de seres que acumularam esse composto em seu organimo, agindo assim em outros patamares da cadeia trófica, intoxicando todos os niveis subsequentes até mesmo seres humano podendo alterar a microbióta da pele, mucosa oral e intestinos, maturação do sistema imune e aumentando a sensibilidade alérgica.
Esse composto é um PPCP (pharmaceuticals and personal care products), ou seja um produto de uso pessoal para tratamento de saúde, os PPCPs são considerados micro poluentes e isso significa que mesmo uma pequena quantidade pode acarretar em modificações na dinâmica das relações entre os seres aquáticos, principalmente aos microrganismos, onde os impactos são maiores, e crescem gradativamente conformo a exposição. Alguns desses microorganismos e outras algas macroscópicas podem acumular esse composto no organismo expondo organismos desenvolvidos de outros níveis tróficos, a concentrações bem maiores através da biomagnificação.
Os seres vivos encontrados no sedimento são os mais afetados, pois com a demora da decomposição desse composto, ele é decantado e depositado ao fundo dos meios contaminados. O TSC também age na reprodução principalmente de organismos bêntonicos , podendo causar más formações quando expostos a quantidades altas. A tabela a seguir demosntra o efeito do triclosan em alguns organismos segundo a literatura (PUSCCEDO 2009).
LINDSTRÖM et al. (2002) notifica que a decomposição biológica do triclosan gera um subproduto denominado metil-triclosan, que tem maior potencial de toxicidade e é mais difícil de ser degradado. De acordo com PUSCCEDO 2009 o composto pode ser considerado muito tóxico, pois mesmo em concentrações baixas já se pode observar alguns efeitos em seres vivos.
Meios de contaminação dos recursos hídricos 
IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA E AMBIENTAL
Ainda há uma escassez de informações sobre os perigos e impactos do Triclosan na saúde humana e ambiental. Mas segundo o estudo de Cherednichenko et al. (2012), o Triclosan é capaz de interromper o Acoplamento Excitação-Contração (AEC) no músculo cardíaco e esquelético, prejudicando a força de preensão e hemodinâmica afetando a mobilidade em uma espécie-modelo de peixe. Assim, o TCS tem potencial para afetar as funções musculares – a desregulação do AEC está associada à insuficiência cardíaca, arritmias e cardiomiopatias, interromper a sinalização endócrina e a função imunológica causando resistência bacteriana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Ciba Specialty Chemicals. Informações gerais sobre propriedades químicas, físicas e microbiológicas de Irgasan DP300, Irgacare MP e Irgacide LP10, Brochura 2520; Ciba Specialty Chemicals: Basileia, Suíça, 2001.
2. CHALEW T.E.A., HALDEN R.U. Environmental Exposure of Aquatic and Terrestrial Biota to Triclosan and Triclocarban1. Journal Of American Water Resources Association. vol.45, n.1, 2009.
3. ADOLFSSON E., PETTERSSON M., PARKKONEM J., STURVE J. Triclosan, A Commonly Used Bactericide Found in Human Milk and in the Aquatic Environment. In Proceedings of the Abstracts of Dioxin,2000: 20th International Symposium on Halogenated Environmental Organic Pollutants and POP’s, Monterey, CA, USA,vol.48, 2000.
4. CHU S. Simultaneous determination of triclocarban and triclosan in municipal biosolids by liquid chromatography tandem mass spectrometry. Jornal de Cromatografia A. vol.1164, n.1-2, p.212-218, 2007.
5. ADOLFSSON E., PETTERSSON M., PARKKONEM J., STURVE J. Triclosan, a commonly used bactericide found in human milk and in the aquatic environment in Sweden. Chemosphere, vol.46, p.1485–1489, 2002.
6. RODRICKS J.V., SWENBERG J.A., BORZELLECA J.F, MARONPOT R.R., SHIPP A.M. Uma revisão crítica dos dados experimentais e desenvolvimento de margens de segurança para produtos de consumo. Crit. Rev. Toxicol. vol. 40, p.422-484, 2010.
7. Nogueira, R. F. P.; Trovó, A. G.; Silva, M. R. A.; Villa, R. D. Fundamentos e Aplicações Ambientais dos processos Fenton e Foto-Fenton. Química Nova 2007, 30, 400. 
8. Cha, J.; Cupples, A. M. Triclocarban and triclosan biodegradation at field concentrations and the resulting leaching potentials in three agricultural soils. Chemosphere 2010, 81, 494. 
9. Pusceddu, F. H. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, Brasil, 2009. 
10. Silva, A. R.; Nogueira, J. M. F. New approach on trace analysis of triclosan in personal care products, biological and environmental matrices. Talanta 2008, 74, 1498. 
11. Wilson, B.; Chen, R. F.; Cantwell, M.; Gontz, A.; Zhu, J.; Olsen, C. R. The partitioning of triclosan between aqueous and particulate bound phases in the Hudson in the Hudson River estuary. Marine Pollution Bulletin 2009, 59, 207. 
12. Pusceddu, F. H. (2009). Avaliação ecotoxicológica do fármaco Triclosan para invertebrados de água doce com ênfase em ensaios com sedimento marcado (spiked sediment) (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).
13. Lameira, V. (2008). Estudos dos efeitos letais e subletais (reprodução e teratogênese) do fármaco triclosan para Daphnia similis, Ceriodaphnia dubia, Ceriodaphnia silvestrii (Cladocera, Crustacea) (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).
14. Cortez, F. S. (2011). Avaliação ecotoxicológica do fármaco triclosan para invertebrados marinhos (Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo).
15. Moraes, C. A. P., Moreira, M. A. L., & de Araujo Maia, C. R. (2015). Toxicidade de triclosan em desodorantes. InterfacEHS, 10(2).

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