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Disfunções tireoidianas Aula: 08 - Professora: Sâmia Definição A tireoide é a maior glândula endócrina do corpo humano, sendo responsável pela produção dos hormônios tireoidianos (T3 e T4), envolvidos com diversos componentes da homeostase (função cerebral, cardiovascular, intestinal, metabolismo celular, produção de calor etc.). Fisiologia (medcurso) As células que compõem os folículos tireoidianos (células foliculares) são especializadas em sintetizar, armazenar e secretar os hormônios tireoidianos. Estes últimos são derivados do aminoácido tirosina e contêm 60-65% do oligoelemento iodo em sua composição. Eixo Hipotálamo-Hipofisário A produção de hormônios tireoidianos é regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireóide. Os neurônios hipotalâmicos (núcleos supraóptico e supraventricular) sintetizam e liberam o TRH (hormônio liberador de tireotrofina). Esta substância é liberada na circulação porta hipofisária, que irriga as células da adeno-hipófise, entre elas os tireotrofos – células que produzem e secretam o hormônio TSH (tireotrofina). Ao se ligar em seu receptor na membrana do tireotrofo, o TRH estimula a liberação e síntese do TSH. O TSH é liberado na circulação sistêmica de forma pulsátil (aproximadamente a cada duas horas), respeitando um ciclo circadiano com níveis séricos máximos no início da madrugada (entre 0h e 4h). Veja quais são os principais efeitos do TSH na célula folicular tireóidea: - Efeito trófico: promove a hipertrofia das células foliculares; - Estímulo à síntese de hormônio tireoidiano: aumenta a produção da enzima peroxidase (TPO), bem como a tireoglobulina e o carreador Na/I. - Estímulo à liberação de hormônio tireoidiano: aumenta a reabsorção do colóide contendo a tireoglobulina iodada, bem como a atividade lisossômica, e consequentemente maior será a taxa de hormônio liberado e secretado. Via de síntese e secreção de hormônios tireoidianos Tudo começa pelo NIS. O NIS é um canal simporte de sódio-iodeto.Qual é a base para formar os hormônios tireoidianos? Os hormônios da tireóide são o T3 e T4 e a base de formação deles é o iodo. Então, o NIS coloca sódio e iodeto para dentro da célula tireoidiana. O iodeto é o ingrediente principal para produzir os hormônios, sem ele não tem produção. Ele vem da nossa alimentação. A carência de iodo leva ao bócio, que é o crescimento da tireóide. Sem o iodo entrar nas células tireoidianas, não há produção de T3 e T4. Ana Carolina Picanço O simporte NIS fica na membrana basolateral da célula da tireóide, transporta o iodo de forma ativa para dentro da célula. Esse canal é estimulado tanto pelo TSH e pelo TRAb. TSH, produzido pela adenohipófise, vai estimular o NIS para o iodo entrar na célula, levando a cascata de produção de T3 e T4. O TSH também interage com o complexo de Golgi, estimulando a produção de tireoglobulina. A tireoglobulina é uma proteína específica da tireóide (só as células tireoidianas a produzem), ela tem função de incorporar o iodo a sua molécula, fazendo a produção do MIT e DIT. A grosso modo, a tireoglobulina incorpora 3 iodos e forma o T3. Para formar o T4, ela incorpora 4 moléculas de iodo. *MIT significa monoiodotirosina (um iodo) e DIT, diiodotirosina (dois iodos). *TRAb: É um anticorpo anti receptor do TSH. Ele é responsável pelo hipertireoidismo, ou seja, a tireóide vai trabalhar em excesso, produzirá excessivamente os hormônios. A doença de Graves é o hipertireodismo mediado por anticorpos. É a mais comum em grande parte das doenças autoimunes. Na maioria dos casos de Graves, têm TRAb positivo. Mas não precisamos de TRAb positivo para dar diagnóstico de doença de Graves. O TSH estimula NIS para entrar iodeto na célula e também estimula a produção de tireoglobulina pelo complexo de Golgi para incorporar as moléculas de iodeto. Precisamos desses dois ‘’ingredientes’’ para formar os hormônios. E se tiver o TRAb? Ele vai se ligar ao receptor de TSH, vai ter uma produção acima do fisiológico, sem feedback negativo. Ou seja, toda hora a célula vai ser estimulada a produzir os hormônios. O TRAb é um anticorpo que estimula a tireóide! Ele tem a mesma função do TSH, mas ele não é controlado pelo feedback. A tireóide fica doida e sem freio, produz hormônio em excesso. ‘’Em disfunções como a Doença de Graves, linfócitos B sintetizam anticorpos “contra” receptores de TSH localizados na superfície da membrana da célula folicular da tireóide. Estes anticorpos são capazes de produzir um aumento no volume e função da glândula, justificando assim o hipertireoidismo encontrado. Denominamos esta imunoglobulina de imunoglobulina estimuladora da tireoide ou Anticorpo Antirreceptor de TSH estimulante (TRAb), sendo este último termo mais comumente empregado em nosso meio.’’ (MEDCURSO) Transcrição Débora Vasconcelos NIS é uma proteína que está localizada membrana basolateral. Funciona com um co-transportador de iodeto e sódio. O co-transportador NIS é responsável pela captação do iodeto, que é a base para a formação dos hormônios tireoidianos. Esse iodo é absorvido através de sais de iodo provenientes da alimentação (hoje os níveis de bócio no Brasil são bem menores, porque todo o sal comercializado no país é enriquecido com o iodo). Depois que o iodo é internalizado na célula, ele é lançado no coloide (membrana apical, onde será formado o hormônio) por um transportador chamado de Pendrina. No coloide, o iodeto se liga em uma proteína chamada de tireoglobulina (produzida nos folículos da tireoide) quem promove essa ligação é a enzima TPO (tireoperoxidase). A partir do momento em que Ana Carolina Picanço temos a ligação iodeto-tireoglobulina, iremos formar o MIT (mono-iodetotirosina) e DIT (di-iodetotirosina) que são os percursores dos hormônios tireoidianos. O acoplamento do MIT e DIT forma T3 e T4. Os hormônios serão captados para o meio intracelular (saem do coloide em direção ao meio intracelular) e serão lançados no meio extracelular. Ao passar pelos lisossomos, teremos retirada da tireoglobulina, liberando os hormônios na corrente sanguínea – os lisossomos fazem a quebra dos hormônios e o que sobra volta para a região da colóide para ser reaproveitado – ação das iodotirosinas desalogenases. TPO está na membrana apical e faz parte de toda a formação do hormônio tireoidiano. A proteínacarreadora tireoglobulina também pode ser alvo de anticorpos e gerar tireoidopatias. Também é um marcador de carcinoma papilífero. NIS é estimulado pelo TSH e pelo TRAb. A expressão do NIS estará reduzida nos nódulos malignos de tireoide e isso ocorre devido a inabilidade desta proteína migrar para a membrana basolateral. A glândula tireoide produz predominantemente o pró-hormônio T4, juntamente com uma pequena quantidade de T3 – o hormônio bioativo. A maioria do T3 é produzida por desiodação enzimática do anel externo de T4 (Desiodase tipo 1) em tecidos periféricos. Alternativamente, desiodação do anel interno (IRD) de T4 produz o T3R, que não tem atividade biológica determinada (ação da Desiodase tipo 3). Cintilografia A cintilografia de tireóide é um exame no qual damos contraste para o paciente, a fim de saber se o que está na tireóide é um nódulo, que pode esta produzindo muito ou nada de hormônio. Todo nódulo em pacientes com hipertireoidismo, antes mesmo de fazer biópsia, temos que fazer cintilografia, é obrigatório. O NIS também é expresso nas células do nódulo da tireóide. Esses nódulos hiperfuncionantes são outras causas de hipertireoidismo (a principal causa é doença de Graves, cerca de 90% dos casos). Esse nódulo vai ter o NIS, então na cintilografia, damos o contraste com iodeto. O nódulo vai ‘’puxar’’ o iodeto para ela, vai ter uma hipercaptação do contraste. Quando acontece isso, chamamos de nódulo quente. Em casos que não há captação do contraste, é chamado de nódulo frio, que é característica de câncer. Aí, podemos descartar que a causa do hipertireoidismo é o nódulo. O NIS está presente em outros lugares também, em glândulas mamárias, glândulas salivares... Não é raro mulheres que têm câncer de mama ter câncer de tireóide depois, devido a presença do NIS. Lembrando que a tireóide tem dois tipos de células: folicular (onde ocorre a produção hormonal) e a parafolicular (também chamada de célula C, que secretam calcitonina, não tem muita importância clínica para gente nessa aula). Então, juntando o iodeto que entra na célula pelo NIS, ele vai se juntar com as tireoglobulinas, formando MIT e DIT. A incorporação do iodo nas tireoglobulinas se dá pelo TPO. TPO é uma enzima fundamental para a formação e liberação dos hormônios, porque ela junta a tireoglobulina com o iodo. (É como se a TPO fosse aquele amigo que ajuda a juntar as pessoas kkk). A maioria dos casos de hipotireoidismo se dá pelo anticorpo anti TPO, ele não vai deixar a TPO agir, então a molécula de iodo não será incorporado na tireoglobulina. Existe também o anticorpo anti tireoglobulina, geralmente pedimos os dois juntos nos exames. Também vai causar hipotireoidismo. Esse anticorpo não deixa a tireoglobulina fazer o papel dela, então não vai nem formar os precursores MIT e DIT. Nesses casos, podemos tratar o paciente com o hormônio da tireóide já pronto, porque o problema está na produção. Em casos de hipertireoidismo, usamos as tionamidas, que é uma medicação que não deixa a TPO agir. Sem TPO, sem incorporação do iodo Ana Carolina Picanço nas tireoglobulinas, e aí não vai ter produção de hormônios. Os nódulos malignos da tireóide não produzem o NIS devido a incapacidade dele de migrar para a membrana basolateral. RESUMINDO A VIA DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS: TSH interage com as células da tireóide. Ele vai fazer duas coisas: estimular o NIS para entrar iodo na célula e estimular o complexo de Golgi a produzir as tireoglobulinas. Com isso, temos a formação dos precursores MIT e DIT, que é mediado pela TPO. Esses precursores são resultado da incorporação do iodo na tireoglobulina. Os precursores vão se ligar, formando o T3 (MIT + DIT) e T4 (DIT + DIT), essa ligação também é mediada pela TPO. Quando forma T3 e T4, eles ainda estão ligados as tireoglobulinas. Então, eles entram no lisossomo, a fim de separá-los das tireoglobulinas. Por fim, o iodo será liberado do MIT e DIT através das iodotirosinas desalogenases. As desiodases são enzimas que estão em vários órgãos e têm a função de transformar o T4 em hormônio ativo. ñ precisa decorar. Nessa imagem, temos as desiodases e onde elas atuam. A tipo 1 e tipo 2 ATIVAM, ou seja, transforma o T4 em T3. Já a tipo 3, INATIVA o hormônio. O T3 é o hormônio ativo que consegue atuar nas células. Então, tirando um iodo do T4, ele vira T3 e consegue atuar. Tirando um iodo do T3, ele vira T3 REVERSO, que não tem ação biológica. E tirando mais uma molécula de iodo do T3 REVERSO, ele vira T2, que também não tem ação. Não precisa pedir dosagem de T3R e T2, é raro pedir isso, mas ainda tem médicos que gostam de dosar, mas isso não tem aplicabilidade clínica. O que pedimos nos exames é TSH e T4, esses são os mais importantes para gente diagnosticar. Se não der para fazer o diagnóstico, aí pedimos o T3. Desiodase tipo 1: está presente na maioria dos tecidos, tem sua atividade aumentada no hipertireoidismo. Perifericamente, vai ter muita produção de T3 (É o hormônio ativo. Então o T4 sai da tireóide e vira T3 nos outros órgãos devido à ação dessas enzimas). É bloqueada pelo PTU, que é uma droga que já foi muito utilizada para tratar o hipertireoidismo, mas que hoje caiu em desuso. Atualmente, essa droga é utilizada para crise tireotóxica. Para ter esse efeito de bloqueio, tem que administrar altas doses de PTU. Desiodase tipo 2: também transforma o T4 em T3, é a desiodase mais prevalente na tireóide, mas também esta presente no cérebro, hipófise placenta, tecido adiposo marrom. É necessário de hormônio ativo na placenta para ajudar o feto a se desenvolver. O tecido adiposo marrom é visto em maior quantidade nos bebês, adulto não tem tanto. É um tecido termogênico que é estimulado pela tireóide. O que faz ele produzir calor é a desiodase tipo 2. A D2 é compensatória. Ela está aumentada no hipotireoidismo, justamente para tentar aumentar a quantidade de hormônios ativos. E está reduzida no hipertireoidismo, porque já tem hormônio ativo demais, então não precisa de mais uma enzima ativando hormônios! Temos que lembrar que a tipo 1 é uma enzima que ativa os hormônios, ela atua mais perifericamente, então no hipertireoidismo, elaestá em alta atividade, ativando esses hormônios. Ela é responsável por todos os sinais e sintomas do hipertireoidismo. Para contrabalancear isso, temos a tipo 3, que vai inativar T3 e T4, principalmente no cérebro, para protegê-lo. Sua ação é mais central. Curiosidade: O ácido iopanoico e iopodato são os únicos medicamentos que atuam nas três Ana Carolina Picanço desiodases simultaneamente, mas não existem no Brasil. TBG A TBG é uma proteína produzida pelo fígado, ela é carreadora dos hormônios da tireóide pelo organismo. Para esses hormônios passear pelo nosso corpo e chegar às outras células, devem ser transportados pela TBG. Então, vamos relembrar o ciclo. Não precisa decorar, apenas entender! Primeiramente, temos o TRH sendo liberado pelo hipotálamo, que vai agir na adenohipófise, ela, por sua vez, vai liberar TSH. O TSH age na tireóide, estimulando a produção e secreção de T3 e T4 livres. Eles têm que sair de lá para agir perifericamente no organismo, ele se liga a várias proteínas, mas principalmente a TBG, que é produzida pelo fígado. Quando eles estão ligados a TBG, são chamados de T3 total e T4 total. Toda vez que temos redução de produção hepática de TBG, o que vai acontecer? A fração livre de T3/T4 vai aumentar, porque não tem proteínas para carrear. A fração total, então, vai reduzir. Figura de Thaynara Cabreira Por que temos que saber disso? Imagina uma mulher usando ACO (passa pelo fígado). O ACO faz aumentar TBG, devido ao estrogênio. Se dosarmos o T3/T4 vamos encontrar redução da fração livre, mas ela não tem clínica. E aí, o que a paciente tem? É o ACO interferindo no balanço da TBG. Pode até ter um desequilíbrio que faça o T3/T4 livre sair muito dos valores de referencia, mas geralmente não sai, então não precisa suspender o ACO. Há vários mecanismos que fazem aumentar ou diminuir a TBG, que irão interferir na fração de livre dos hormônios. Temos que lembrar do estrogênio, furosemida, diazepam, salicilatos, heparina, mitotano (droga utilizada para câncer de adrenal), anabolizantes, corticóides. Há doenças também que reduzem a TBG, como cirrose, hipertireoidismo. No hipertireoidismo, temos T4 livre alto, então é óbvio que a TBG vai estar baixa. Tudo faz sentido, não precisa decorar! Resuminho Passo a passo Hipotireoidismo O hipotireoidismo é a falta dos hormônios tireoidianos. Vamos começar a falar sobre o rastreamento do hipotireoidismo. Toda vez que Ana Carolina Picanço ouvirmos sobre rastreamento, temos que pensar no TSH e depois T4 livre e função tireoidiana. Na prática, pedimos os 3 juntos. Transcrição da Débora Vasconcelos É uma disfunção da tireoide que cursa com diminuição da concentração de hormônios tireoidianos. Pode ser primário (por mau funcionamento da própria tireoide), ou hipotireoidismo central (causa hipotalâmica ou hipofisárias – deficiência de TSH ou TRH – hormônio liberador de tireotrofina). Figura de Thaynara Cabreira Rastreamento: ● TSH; ● T4 livre. Figura de Thaynara Cabreira Não pedir T3, nada disso! O rastreio (TSH e T4 livre) deverá ser feito em: • Idosos, acima de 60 anos, principalmente mulheres; • Presença de bócio (difuso ou nodular); • História de radioterapia de cabeça e pescoço (radiação externa ou iodo radioativo); • Doença autoimune tireoidiana e extratireoidiana; • História de tireoidectomia ou terapia com iodo radioativo (iodo 131); • Gestação; • Síndrome de Down, Síndrome de Turner; • Baixa ingestão de iodo; • Hipercolesterolemia; Figura de Thaynara Cabreira • Uso de fármacos (amiodarona, lítio, tionamidas, interferon-α – esses são fármacos com grande quantidade de iodo, capazes de gerar uma inflamação na tireóide que só será tratada com a utilização de corticoide). Figura de Thaynara Cabreira Ana Carolina Picanço
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