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1 www.g7juridico.com.br INTENSIVO I Flávio Tartuce Direito Civil Aula 18 ROTEIRO DE AULA Teoria geral dos contratos. 2.4. Princípio da boa-fé objetiva (continuação) Função de integração: conceitos parcelares da boa-fé objetiva: a) “Supressio”: perda de um direito ou de uma posição jurídica pelo seu não exercício no tempo (renúncia tácita). b) “Surrectio” (“o outro lado da moeda” – Simão): surgimento de um direito por práticas, usos e costumes. Exemplo 1: Art. 330 do Código Civil1, o qual afirma que o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia tácita do credor relativamente ao que constar do contrato. Exemplo 2: Renúncia tácita à correção monetária em contrato de mandato (STJ – REsp n. 1.202.514/RS): “CIVIL. CONTRATOS. DÍVIDAS DE VALOR. CORREÇÃO MONETÁRIA. OBRIGATORIEDADE. RECOMPOSIÇÃO DO PODER AQUISITIVO DA MOEDA. RENÚNCIA AO DIREITO. POSSIBILIDADE. COBRANÇA RETROATIVA APÓS A RESCISÃO DO CONTRATO. NÃO-CABIMENTO. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. TEORIA DOS ATOS PRÓPRIOS. SUPRESSIO. 1. Trata-se de situação na qual, mais do que simples renúncia do direito à correção monetária, a recorrente abdicou do reajuste para evitar a majoração da parcela mensal paga pela recorrida, assegurando, como isso, a manutenção do contrato. 1 CC, art. 330: “O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.” 2 www.g7juridico.com.br Portanto, não se cuidou propriamente de liberalidade da recorrente, mas de uma medida que teve como contrapartida a preservação do vínculo contratual por 06 anos. Diante desse panorama, o princípio da boa-fé objetiva torna inviável a pretensão da recorrente, de exigir retroativamente valores a título de correção monetária, que vinha regularmente dispensado, frustrando uma expectativa legítima, construída e mantida ao longo de toda a relação contratual. 2. A correção monetária nada acrescenta ao valor da moeda, servindo apenas para recompor o seu poder aquisitivo, corroído pelos efeitos da inflação. Cuida-se de fator de reajuste intrínseco às dívidas de valor, aplicável independentemente de previsão expressa. Precedentes. 3. Nada impede o beneficiário de abrir mão da correção monetária como forma de persuadir a parte contrária a manter o vínculo contratual. Dada a natureza disponível desse direito, sua supressão pode perfeitamente ser aceita a qualquer tempo pelo titular. 4. O princípio da boa-fé objetiva exercer três funções: (i) instrumento hermenêutico; (ii) fonte de direitos e deveres jurídicos; e (iii) limite ao exercício de direitos subjetivos. A essa última função aplica-se a teoria do adimplemento substancial das obrigações e a teoria dos atos próprios, como meio de rever a amplitude e o alcance dos deveres contratuais, daí derivando os seguintes institutos: tu quoque, venire contra facutm proprium, surrectio e supressio. 5. A supressio indica a possibilidade de redução do conteúdo obrigacional pela inércia qualificada de uma das partes, ao longo da execução do contrato, em exercer direito ou faculdade, criando para a outra a legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. 6. Recurso especial a que se nega provimento” (REsp 1202514/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 30/06/2011). c) “Tu quoque” ➢ “Até tu?”: grito de dor do Imperador Julio Cesar ao seu filho adotivo Brutus, que o traiu. ➢ Regra de ouro: não faça contra o outro o que você não faria contra si mesmo. ➢ Exemplo: uma parte contratual não pode criar uma situação fática para depois dela tirar proveito. d) “Exceptio doli” ➢ É a defesa contra o dolo alheio. ➢ Exemplo: CC, art. 4762: exceção de contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus). Em um contrato bilateral, uma parte não pode exigir que a outra cumpra com a sua obrigação se não cumprir com a própria. e) “Venire contra factum proprium non potest” ➢ Vedação do comportamento contraditório. ➢ Enunciado 362, IV Jornada de Direito Civil3 - Fundamento: proteção da confiança – Teoria dos atos próprios – Dever anexo de confiança. 2CC, art. 476: “Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.” 3 Enunciado 362, IV: “A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil.” 3 www.g7juridico.com.br ➢ Anderson Schreiber aponta alguns requisitos: • 1º: comportamento anterior. • 2º: comportamento posterior, em contradição com o primeiro. • 3º: ausência de justa causa na contradição. • 4º: dano ou receio de dano pela contradição. Exemplo 1: REsp n. 95.539/SP (1996): marido “vendeu” imóvel sem outorga da esposa (vigência do CC/1916 – nulidade absoluta). A esposa, como testemunha em uma ação, disse que concordava com a venda (conduta n. 1). Anos após, a esposa ingressou com a ação de invalidade da venda (conduta n. 2). A ação de invalidade foi julgada improcedente. EMENTA: “PROMESSA DE COMPRA E VENDA. CONSENTIMENTO DA MULHER. ATOS POSTERIORES. " VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM ". BOA-FE. PREPARO. FERIAS. 1. TENDO A PARTE PROTOCOLADO SEU RECURSO E, DEPOIS DISSO, RECOLHIDO A IMPORTANCIA RELATIVA AO PREPARO, TUDO NO PERIODO DE FERIAS FORENSES, NÃO SE PODE DIZER QUE DESCUMPRIU O DISPOSTO NO ARTIGO 511 DO CPC. VOTOS VENCIDOS. 2. A MULHER QUE DEIXA DE ASSINAR O CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA JUNTAMENTE COM O MARIDO, MAS DEPOIS DISSO, EM JUIZO, EXPRESSAMENTE ADMITE A EXISTENCIA E VALIDADE DO CONTRATO, FUNDAMENTO PARA A DENUNCIAÇÃO DE OUTRA LIDE, E NADA IMPUGNA CONTRA A EXECUÇÃO DO CONTRATO DURANTE MAIS DE 17 ANOS, TEMPO EM QUE OS PROMISSARIOS COMPRADORES EXERCERAM PACIFICAMENTE A POSSE SOBRE O IMOVEL, NÃO PODE DEPOIS SE OPOR AO PEDIDO DE FORNECIMENTO DE ESCRITURA DEFINITIVA. DOUTRINA DOS ATOS PROPRIOS. ART. 132 DO CC. 3. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO” (REsp 95.539/SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 03/09/1996, DJ 14/10/1996, p. 39015). Exemplo 2: o locatário, após assinar o contrato de locação, alegou que não pagaria os aluguéis porque o locador não era proprietário (STJ, Ag. Rg. Nos EDcl nos EDcl no Ag 704.933/SP): EMENTA: “LOCAÇÃO. PROMITENTE COMPRADOR. PARTE LEGÍTIMA PARA FIGURAR NO POLO ATIVO DA AÇÃO DE DESPEJO. PROVA DA PROPRIEDADE OU DO COMPROMISSO REGISTRADO. DESNECESSIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL SUPERADO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1 - A priori, a inexistência de prova da propriedade do imóvel ou do compromisso registrado não enseja a ilegitimidade do promitente comprador em propor o despejo da locatária que não adimpliu os aluguéis. 2 - Comprovada, na espécie, a condição de locador através do respectivo contrato de locação, assinado pela ora agravante, compete à locatária o ônus de comprovar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, nos termos do art. 333, II, do CPC, o que não ocorreu. 3 - Fere a boa-fé objetiva a conduta da locatária que, após exercer a posse direta do imóvel por mais de duas décadas, alega a ilegitimidade do locador em ajuizar a ação de despejo por falta de pagamento. 4 - Embora a ora agravante tenha demonstrado a existência da divergência jurisprudencial, verifica-se que este Superior Tribunal de Justiça recentemente asseverou que o ajuizamento da ação de despejo pelo promitente comprador prescinde de prova da propriedade do imóvel locado, a evidenciar a superação do dissídio 5 - Agravo regimental improvido.” (AgRg nos EDcl nos EDcl no Ag 704933 / SP, Relator Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma. J. 24/08/2009, DJe 14/09/2009). 4 www.g7juridico.com.br f) “Duty to mitigate the loss” ➢ Artigo 77 da Convenção de Viena4 (CISG). ➢ Enunciado n. 169 – III Jornada de DireitoCivil5: o princípio da boa-fé objetiva impõe ao credor o dever de mitigar o próprio prejuízo. Exemplo: REsp n. 758.518/PR (2010): redução de aluguéis fixados em compromisso de compra e venda pela demora na propositura da ação dos promitentes vendedores, havendo inadimplemento dos compromissários compradores. EMENTA: “DIREITO CIVIL. CONTRATOS. BOA-FÉ OBJETIVA. STANDARD ÉTICO-JURÍDICO. OBSERVÂNCIA PELAS PARTES CONTRATANTES. DEVERES ANEXOS. DUTY TO MITIGATE THE LOSS. DEVER DE MITIGAR O PRÓPRIO PREJUÍZO. INÉRCIA DO CREDOR. AGRAVAMENTO DO DANO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. RECURSO IMPROVIDO. 1. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico. Observância pelos contratantes em todas as fases. Condutas pautadas pela probidade, cooperação e lealdade. 2. Relações obrigacionais. Atuação das partes. Preservação dos direitos dos contratantes na consecução dos fins. Impossibilidade de violação aos preceitos éticos insertos no ordenamento jurídico. 3. Preceito decorrente da boa-fé objetiva. Duty to mitigate the loss: o dever de mitigar o próprio prejuízo. Os contratantes devem tomar as medidas necessárias e possíveis para que o dano não seja agravado. A parte a que a perda aproveita não pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano. Agravamento do prejuízo, em razão da inércia do credor. Infringência aos deveres de cooperação e lealdade. 4. Lição da doutrinadora Véra Maria Jacob de Fradera. Descuido com o dever de mitigar o prejuízo sofrido. O fato de ter deixado o devedor na posse do imóvel por quase 7 (sete) anos, sem que este cumprisse com o seu dever contratual (pagamento das prestações relativas ao contrato de compra e venda), evidencia a ausência de zelo com o patrimônio do credor, com o consequente agravamento significativo das perdas, uma vez que a realização mais célere dos atos de defesa possessória diminuiriam a extensão do dano. 5. Violação ao princípio da boa-fé objetiva. Caracterização de inadimplemento contratual a justificar a penalidade imposta pela Corte originária, (exclusão de um ano de ressarcimento). 6. Recurso improvido” (REsp 758.518/PR, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 17/06/2010, REPDJe 01/07/2010, DJe 28/06/2010). Exemplo 2: Debate sobre o banco que permanece inerte na cobrança do mútuo bancário. ✓ O STJ, no RESp. 1.201.672/MS, não aplicou o conceito. EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DUTY TO MITIGATE THE LOSS. INVIABILIDADE NO CASO CONCRETO. JUROS REMUNERATÓRIOS. AUSÊNCIA DE CONTRATO NOS AUTOS. DISTRIBUIÇÃO DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA. TAXA MÉDIA DE MERCADO. RECURSO 4 CISG, art. 77: “A parte que invocar o inadimplemento do contrato deverá tomar as medidas que forem razoáveis, de acordo com as circunstâncias, para diminuir os prejuízos resultantes do descumprimento, inc1uídos os lucros cessantes. Caso não adote estas medidas, a outra parte poderá pedir redução na indenização das perdas e danos, no montante da perda que deveria ter sido mitigada”. 5 Enunciado 169, III JDC: “O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo.” 5 www.g7juridico.com.br PROVIDO. 1. O princípio duty to mitigate the loss conduz à ideia de dever, fundado na boa-fé objetiva, de mitigação pelo credor de seus próprios prejuízos, buscando, diante do inadimplemento do devedor, adotar medidas razoáveis, considerando as circunstâncias concretas, para diminuir suas perdas. Sob o aspecto do abuso de direito, o credor que se comporta de maneira excessiva e violando deveres anexos aos contratos (v.g: lealdade, confiança ou cooperação), agravando, com isso, a situação do devedor, é que deve ser instado a mitigar suas próprias perdas. É claro que não se pode exigir que o credor se prejudique na tentativa de mitigação da perda ou que atue contrariamente à sua atividade empresarial, porquanto aí não haverá razoabilidade. 2. O ajuizamento de ação de cobrança muito próximo ao implemento do prazo prescricional, mas ainda dentro do lapso legalmente previsto, não pode ser considerado, por si só, como fundamento para a aplicação do duty to mitigate the loss. Para tanto, é necessário que, além do exercício tardio do direito de ação, o credor tenha violado, comprovadamente, alguns dos deveres anexos ao contrato, promovendo condutas ou omitindo-se diante de determinadas circunstâncias, ou levando o devedor à legítima expectativa de que a dívida não mais seria cobrada ou cobrada a menor. 3. A razão utilizada pelas instâncias ordinárias para aplicar ao caso o postulado do duty to mitigate the loss está fundada tão somente na inércia da instituição financeira, a qual deixou para ajuizar a ação de cobrança quando já estava próximo de vencer o prazo prescricional e, com isso, acabou obtendo crédito mais vantajoso diante da acumulação dos encargos ao longo do tempo. 4. Não há nos autos nenhum outro elemento que demonstre haver a instituição financeira, no caso em exame, criado no devedor expectativa de que não cobraria a dívida ou que a cobraria a menor, ou mesmo de haver violado seu dever de informação. Não há, outrossim, elemento nos autos no qual se possa identificar qualquer conduta do devedor no sentido de negociar sua dívida e de ter sido impedido de fazê-lo pela ora recorrente, ou ainda qualquer outra circunstância que pudesse levar à conclusão de quebra da confiança ou dos deveres anexos aos negócios jurídicos por nenhuma das partes contratantes, tais como a lealdade, a cooperação, a probidade, entre outros. 5. Desse modo, entende-se não adequada a aplicação ao caso concreto do duty to mitigate the loss. 6. "Não juntados aos autos os contratos, deve o agravante suportar o ônus da prova, afastando-se as tarifas contratadas e limitando os juros remuneratórios à taxa média de mercado" (AgRg no REsp 1.578.048/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 18/08/2016, DJe de 26/08/2016). 7. Recurso especial provido.” (REsp 1.201.672/MS, Rel. Min. Lázaro Guimarães. Quarta Turma, j. 21/11/2017, DJe 27/11/2017). g) “Nachfrist” ➢ Artigo 47 da Convenção de Viena6 (CISG) – Fundamentos: boa-fé e conservação do negócio jurídico. ➢ O comprador poderá conceder ao vendedor prazo razoável suplementar para o cumprimento da obrigação. Nesse prazo, o comprador não pode ingressar com ação fundada no inadimplemento, em regra. Exemplo: TJ/RS (2017): "Caso dos Pés de Galinha". 6 CISG, art. 47: “(1) O comprador poderá conceder ao vendedor prazo suplementar razoável para o cumprimento de suas obrigações; (2) Salvo se tiver recebido a comunicação do vendedor de que não cumprirá suas obrigações no prazo fixado conforme o parágrafo anterior, o comprador não poderá exercer qualquer ação por descumprimento do contrato, durante o prazo suplementar. Todavia, o comprador não perderá, por este fato, o direito de exigir indenização das perdas e danos decorrentes do atraso no cumprimento do contrato”. 6 www.g7juridico.com.br EMENTA: “APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. CONTRATO DE COMPRA E VENDA INTERNACIONAL DE MERCADORIAS. ILEGITIMIDADE PASSIVA. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO. CAUÇÃO PROCESSUAL ("CAUTIO JUDICATUM SOLVI"). RESCISÃO DE CONTRATO. AUSÊNCIA DE ENTREGA DAS MERCADORIAS, PELA VENDEDORA. RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO PELA COMPRADORA. PENALIDADE POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. 1- Preliminar de extinção do feito com base no art. 485, VI, do CPC que não se acolhe, com base na Teoria da Asserção, da qual se tem valido esta Corte para, assim, analisar em abstrato o preenchimento das condições da ação, aqui em princípio atendidas. 2- Preliminar de extinção do feito sem resolução de mérito por ausência de pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regulardo processo que tampouco prospera, porque a ausência da prestação da caução processual a que alude o art. 83, "caput", do Novo CPC não conduz à extinção do feito, com base no art. 485, IV, do CPC, tratando-se, se muito, de causa de conversão do feito em diligência. Pedido sucessivo nesse sentido que, contudo, é rejeitado, porque as circunstâncias do caso concreto tornam dispensável a exigência "cautio judicatum solvi". 3- Contato de compra e venda internacional de mercadorias cuja rescisão vai declarada, por força da aplicação conjunta das normas do art. 47(1), do art. 49(1)(b) e do art. 81(2), todos da Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias ("Convenção de Viena de 1980"), a cujo marco normativo se recorre simultaneamente ao teor dos Princípios Unidroit relativos aos Contratos Comerciais Internacionais. 4- Indeferido o pedido contrarrecursal de aplicação de penalidade por litigância de má-fé porque não constatada a incursão, pela ré, em qualquer uma das condutas vedadas pelos arts. 77 e 80 do Novo CPC. 5- Honorários de sucumbência majorados para 15% sobre o valor atualizado da condenação, com amparo na regra do art. 85, §11, do Novo CPC. Preliminares rejeitadas. Apelação cível desprovida” (Apelação Cível Nº 70072362940, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 14/02/2017). ➢ Sugestão de leitura complementar – Disponível neste link. 2.5. Princípio da relatividade dos efeitos contratuais (“res inter alios”) O contrato, em regra, gera efeitos entre as partes contratantes, pois é instituto de direito pessoal. Porém, há exceções: 1ª exceção: estipulação em favor de terceiro (CC, arts. 436 a 4387). ➢ O contrato beneficia um terceiro que não é parte, mas que pode exigir o seu cumprimento. Os efeitos contratuais são de dentro do contrato para fora do contrato (efeitos exógenos). 7 CC, arts. 436 a 438: “Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438 . Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor. Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante. Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.” https://www.conjur.com.br/2017-abr-19/judiciario-brasileiro-aplica-primeira-vez-cisg http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm#art438 7 www.g7juridico.com.br ➢ Exemplo: seguro de vida. 2ª exceção: promessa de fato de terceiro (CC, arts. 439 e 4408). ➢ Um contratante promete ao outro uma conduta alheia que, se não praticada, gera o seu inadimplemento. Os efeitos são de fora para dentro do contrato (efeitos endógenos). ➢ Exemplo: promessa de um “show” de um cantor que não comparece ("efeito Tim Maia"). 3ª exceção: eficácia externa da função social do contrato (Enunciado n. 21 – I Jornada de Direito Civil9 - Tutela externa de crédito). 8 CC, arts. 439 e 440: “Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens. Art. 440. Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.” 9 Enunciado 21, I JDC: “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito.” 8 www.g7juridico.com.br Questão: seria possível que a vítima de um acidente de trânsito demandasse diretamente a seguradora do culpado? • Sim (REsp. 444.716/BA). • Posição atual: Não (REsp. 962.230/RS) – Súmula 529, STJ10. • Ressalva (REsp. 1.584.970/MT) – A vítima pode demandar diretamente a seguradora quando estiver reconhecida a sua responsabilidade em sede administrativa. EMENTA: “Processual civil. Recurso Especial. Prequestionamento. Acidente de trânsito. Culpa do segurado. Ação indenizatória. Terceiro prejudicado. Seguradora. Legitimidade passiva ad causam. Ônus da sucumbência. Sucumbência recíproca. - Carece de prequestionamento o Recurso Especial acerca de tema não debatido no acórdão recorrido. - A ação indenizatória de danos materiais, advindos do atropelamento e morte causados por segurado, pode ser ajuizada diretamente contra a seguradora, que tem responsabilidade por força da apólice securitária e não por ter agido com culpa no acidente. - Os ônus da sucumbência devem ser proporcionalmente distribuídos entre as partes, no caso de sucumbência recíproca. Recurso provido na parte em que conhecido” (REsp. 444.716/BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 11/05/04, DJ 31/05/04). EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS AJUIZADA DIRETA E EXCLUSIVAMENTE EM FACE DA SEGURADORA DO SUPOSTO CAUSADOR. DESCABIMENTO COMO REGRA. 1. Para fins do art. 543-C do CPC: 1.1. Descabe ação do terceiro prejudicado ajuizada direta e exclusivamente em face da Seguradora do apontado causador do dano. 1.2. No seguro de responsabilidade civil facultativo a obrigação da Seguradora de ressarcir danos sofridos por terceiros pressupõe a responsabilidade civil do segurado, a qual, de regra, não poderá ser reconhecida em demanda na qual este não interveio, sob pena de vulneração do devido processo legal e da ampla defesa. 2. Recurso especial não provido” (REsp. 962.230/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 08/02/2012, DJe 20/0/2012) EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. SEGURO DE AUTOMÓVEL. GARANTIA DE RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. TERCEIRO PREJUDICADO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. INCLUSÃO ÚNICA DA SEGURADORA. POSSIBILIDADE. SEGURADO. CAUSADOR DO SINISTRO. ADMISSÃO DO FATO. ACIONAMENTO DA APÓLICE. PAGAMENTO NA ESFERA ADMINISTRATIVA. OBJETO DA LIDE. VALOR DA INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a saber se a vítima de acidente de trânsito (terceiro prejudicado) pode ajuizar demanda direta e exclusivamente contra a seguradora do causador do dano quando reconhecida, na esfera administrativa, a responsabilidade dele pela ocorrência do sinistro e paga, a princípio, parte da indenização securitária. 3. A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça consagrou o entendimento de que, no seguro de responsabilidade civil facultativo, descabe ação do terceiro prejudicado ajuizada direta e exclusivamente contra a seguradora do apontado causador do dano (Súmula nº 529/STJ). Isso porque a obrigação da seguradora de ressarcir danos sofridos por terceiros pressupõe a responsabilidade civil do segurado, a qual, de regra, não poderá ser reconhecida em demanda em que não interveio, sob pena de vulneração do devido processo legal e da ampla defesa. 10 Súmula 529, STJ: “No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.” 9 www.g7juridico.com.br 4. Há hipótesesem que a obrigação civil de indenizar do segurado se revela incontroversa, como quando reconhece a culpa pelo acidente de trânsito ao acionar o seguro de automóvel contratado, ou quando firma acordo extrajudicial com a vítima obtendo a anuência da seguradora, ou, ainda, quando esta celebra acordo diretamente com a vítima. Nesses casos, mesmo não havendo liame contratual entre a seguradora e o terceiro prejudicado, forma-se, pelos fatos sucedidos, uma relação jurídica de direito material envolvendo ambos, sobretudo se paga a indenização securitária, cujo valor é o objeto contestado. 5. Na pretensão de complementação de indenização securitária decorrente de seguro de responsabilidade civil facultativo, a seguradora pode ser demandada direta e exclusivamente pelo terceiro prejudicado no sinistro, pois, com o pagamento tido como parcial na esfera administrativa, originou-se uma nova relação jurídica substancial entre as partes. Inexistência de restrição ao direito de defesa da seguradora ao não ser incluído em conjunto o segurado no polo passivo da lide. 6. Recurso especial provido” (REsp. 1.584.970/MT, Rel. Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Terceira Turma, j. 24/10/17, DJe 30/10/17). 3. Formação do contrato no Código Civil de 2002 (4 fases - Darcy Bessone e Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona) • Fase de negociações preliminares ou puntuação. • Fase de proposta ou policitação. • Fase de contrato preliminar. • Fase de contrato definitivo. 3.1. Fase de negociações preliminares, fase das tratativas ou de puntuação. Nesta fase, ocorrem os debates prévios e iniciais para a celebração do contrato definitivo. Exemplo: carta de intenções ou “acordo de cavalheiros”. Observações: • Essa fase não tem tratamento no Código Civil de 2002. • Não tem força vinculativa. Porém, se houver quebra da boa-fé objetiva nesta fase, surgirá uma responsabilidade civil pré-contratual (origem: culpa “in contrahendo” - Ihering). Fundamentos: CC, art. 42211 e Enunciados n. 25 (I Jornada de Direito Civil12) e n. 170 (III Jornada de Direito Civil 13). Questão: Qual a natureza jurídica dessa responsabilidade? Duas posições: • Responsabilidade contratual (minoritária): Pablo Stolze e Pamplona, Flávio Tartuce, Mengoni e Galgano. 11 CC, art. 422: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.” 12 Enunciado 25, I JDC: “O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré- contratual e pós-contratual.” 13 Enunciado 170, III JDC: “A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.” Efeitos jurídicos crescentes (força vinculativa). 10 www.g7juridico.com.br • Responsabilidade extracontratual ou aquiliana (majoritária): Maria Helena Diniz, Junqueira, Caio Mário, Carlos Alberto Bittar, Cristiano Zanetti. Obs.: Ver acórdão do REsp 1.367.955/SP "RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL PRÉ-CONTRATUAL. NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES. EXPECTATIVA LEGÍTIMA DE CONTRATAÇÃO. RUPTURA DE TRATATIVAS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. JUROS DE MORA. TERMO 'A QUO'. DATA DA CITAÇÃO. 1. Demanda indenizatória proposta por empresa de eventos contra empresa varejista em face do rompimento abrupto das tratativas para a realização de evento, que já estavam em fase avançada. 2. Inocorrência de maltrato ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido, ainda que de forma sucinta, aprecia com clareza as questões essenciais ao julgamento da lide, não estando o magistrado obrigado a rebater, um a um, os argumentos deduzidos pelas partes. 3. Inviabilidade de se contrastar, no âmbito desta Corte, a conclusão do Tribunal de origem acerca da expectativa de contratação criada pela empresa varejista. Óbice da Súmula 7/STJ. 4. Aplicação do princípio da boa-fé objetiva na fase pré- contratual. Doutrina sobre o tema. 5. Responsabilidade civil por ruptura de tratativas verificada no caso concreto. 6. Inviabilidade de se analisar, no âmbito desta Corte, estatutos ou contratos de trabalho, para se aferir a alegada inexistência de poder de gestão dos prepostos participaram das negociações preliminares. Óbice da Súmula 5/STJ. 7. Controvérsia doutrinária sobre a natureza da responsabilidade civil pré-contratual. 8. Incidência de juros de mora desde a citação (art. 405 do CC). 9. Manutenção da decisão de procedência do pedido indenizatório, alterando-se apenas o termo inicial dos juros de mora. 10. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA PARTE, PARCIALMENTE PROVIDO" (STJ, REsp. 1.367.955/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/03/2014, DJe 24/03/2014) 3.2. Fase de proposta, policitação ou oblação (CC, arts. 427 a 435) Trata-se da fase de proposta formalizada que, em regra, vincula as partes (CC, art. 42714). Partes: • Proponente, solicitante ou policitante: aquele que faz a proposta, estando a ela vinculado. • Oblato, solicitado ou policitado: aquele que recebe a proposta. Se aceitá-la, torna-se aceitante, estando o contrato aperfeiçoado pelo encontro das vontades. Se o oblato fizer uma contraproposta ou fizer modificações relevantes, haverá a inversão dos papéis, pois haverá nova proposta (CC, art. 43115). CC, art. 42916 - Oferta ao público: o oblato pode ser determinável (exemplos: internet, jornal, revista). 14 CC, art. 427: “A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”. 15 CC, art. 431: “A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta”. 11 www.g7juridico.com.br Atenção: ➢ A oferta ao público do Código Civil pode não ser obrigatória (proposta). ➢ A oferta ao público CDC sempre será obrigatória (art. 30, CDC17). Possui força vinculativa. O artigo 428 do Código Civil18 prevê as hipóteses em que a proposta deixa de ser obrigatória. ➢ Inc. I - Contrato com declaração consecutiva. Se, feita sem prazo à pessoa presente, não foi imediatamente aceita. ✓ Considera-se presente quem contrata por telefone ou por outro meio de comunicação semelhante. ➢ Inc. II - Contrato com declarações intervaladas. Deixa de ser obrigatória a proposta se, feita sem prazo à pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente ➢ Inc. III - Se, feita à pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta no prazo dado. ➢ Inc. IV - Se, antes da resposta ou simultaneamente a ela, chegar ao conhecimento do oblato a retratação do proponente. ✓ Essa regra se aplica ao contrato entre ausentes. O contrato pode ser formado: • Entre presentes (“inter praesentes”). • Entre ausentes (“inter absentes”) - Exemplo: contrato epistolar (por carta). ➢ É preciso verificar: • Mesmo ambiente (virtual), distância e tempo (pergunta e resposta). 16 CC, art. 429: “A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada”. 17 CDC, art. 30: “Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.” 18 CC, art. 428: “Deixa de ser obrigatória a proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; II- se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente”. 12 www.g7juridico.com.br Quando o contrato é formado? - O contrato entre presentes é formado quando o oblato aceita a proposta. - Quanto ao contrato entre ausentes, há duas teorias: • 1ª teoria (regra): teoria da agnição na subteoria da expedição: o contrato é formado quando a aceitação é expedida (CC, art. 434, “caput”19). • 2ª teoria (exceção): teoria da agnição na subteoria da recepção: o contrato é formado quando a aceitação é recebida pelo proponente (CC, art. 434, I, II e III20). Exemplo: quando a teoria for convencionada entre as partes. ➢ No Brasil, para os contratos eletrônicos entre ausentes, aplica-se a Teoria da Recepção (Enunciado n. 173 – III Jornada de Direito Civil21). O art. 435 do CC22 prevê que, para os contratos nacionais, o local do contrato equivale ao local da proposta. LINDB, art. 9º, § 2º23 - No caso de contratos internacionais, o local do contrato é o local de residência do proponente. 3.3. Fase de contrato preliminar (CC, art. 462 a 466) Há um contrato preparatório, documentado, com efeitos jurídicos próprios, visando ao contrato definitivo. Exemplo de efeitos jurídicos próprios: arras ou sinal (CC, arts. 417 a 420). CC, art. 46224 - O contrato preliminar, exceto quanto à forma (solenidade), deve ter os mínimos requisitos de validade do contrato definitivo. Ex.: O contrato preliminar não exige escritura pública. Segundo Maria Helena Diniz, duas são as modalidades básicas de contrato preliminar (compromisso de contrato). a) Compromisso unilateral de contrato ou contrato de opção (CC, art. 46625): as duas partes compõem o negócio jurídico, mas apenas uma delas assume o compromisso de celebrar o contrato definitivo. A outra tem mera opção. 19 CC, art. 434, “caput”: “Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:”. 20 CC, art. 434: “Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado”. 21 Enunciado 173, III JDC: “A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente”. 22 CC, art. 435: “Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.” 23 LINDB, art. 9º, § 2º: “A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente”. 24 CC, art. 462: “O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado”. 13 www.g7juridico.com.br Exemplo: promessa de doação. b) Compromisso bilateral de contrato: as duas partes compõem o negócio jurídico, assumindo o compromisso de celebrar o contrato definitivo. Exemplo: compromisso de compra e venda (móvel ou imóvel): Partes: • Promitente vendedor. • Compromissário comprador (promitente). Em relação ao compromisso de compra e venda de imóvel, existem duas figuras possíveis, as quais dependerão do registro ou não do contrato preliminar na matrícula do imóvel (CRI, RGI, RI). ➢ CUIDADO! Art. 463, parágrafo único, CC: “deverá ser levado ao registro” = “poderá”. ✓ O registro imobiliário é apenas um fator de eficácia perante terceiros (Enunciado n. 30 – I Jornada de Direito Civil26). Não é um requisito de validade. ➢ O registro cria um direito real de aquisição (CC, art. 1.225, VII27). Por isso, são possíveis duas figuras jurídicas distintas: b.1) Compromisso de compra e venda de imóvel não registrado na matrícula: • Há um contrato preliminar propriamente dito. • Gera efeitos obrigacionais “inter partes”. • Gera obrigação de fazer o contrato definitivo. • Pode haver uma cláusula de arrependimento ou não. Se não constar a cláusula de arrependimento e o promitente vendedor não celebrar o contrato definitivo, o compromissário comprador que tiver pagado o preço terá as seguintes opções: • 1ª) CC, art. 46328 - Ação de obrigação de fazer. O juiz fixa um prazo para a outorga do contrato definitivo. 25 CC, art. 466: “Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor”. 26 Enunciado n. 30, I JDC: “A disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código Civil deve ser interpretada como fator de eficácia perante terceiros”. 27 CC, art. 1.225: “São direitos reais: (...) VII - o direito do promitente comprador do imóvel”. 28 CC, art. 463: “Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive”. 14 www.g7juridico.com.br • 2ª) CC, art. 46429 - Esgotado esse prazo, o juiz pode suprir a vontade do réu (promitente vendedor) - Adjudicação compulsória “inter partes” (Súmula 239 STJ30 e Enunciado n. 95 – I Jornada de Direito Civil31). • 3º) CC, art. 46532 - Resolução mais perdas e danos. b.2) Compromisso de compra e venda de imóvel registrado na matrícula (arts. 1.225, VII, 1.41733 e 1.41834 do CC; Decreto-Lei n. 58/37; Lei n. 6.766/79 e Lei 13.786/2018). • Direito real de aquisição. • Efeitos reais “erga omnes”. • Obrigação de dar (Orlando Gomes, Maria Helena Diniz e José Osório). Problema: afirmava-se que esse compromisso seria irretratável, sendo nula a cláusula de arrependimento (Súmula n. 166 STF35). Porém, a Lei 13.786/2018, no caso de venda em “stands”, passou a possibilitar o exercício do direito de arrependimento do art. 49, CDC (7 dias), só passando a ser irretratável depois desse prazo. • Se o promitente vendedor não celebrar o contrato definitivo, o compromissário comprador que pagar o preço terá ação de adjudicação compulsória contra ele ou contra terceiros (efeitos “erga omnes”). Observação: Contrato com pessoa a declarar (CC, arts. 467 a 471) (cláusula “pro amico eligendo”). ➢ Por meio dessa previsão, constante em contrato preliminar, qualquer uma das partes poderá indicar um terceiro que assumirá a sua posição contratual no momento do contrato definitivo. Prazo de antecedência: cinco dias antes do contrato definitivo (CC, art. 46836). 29 CC, art. 464: “Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação”. 30 Súmula 239, STJ: “O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis”. 31 Enunciado n. 95, I JDC: “O direito à adjudicação compulsória (art. 1.418 do novo Código Civil), quando exercido em face do promitente vendedor, não se condiciona ao registro da promessa de compra e venda no cartório de registro imobiliário (Súmula n. 239 do STJ)”. 32 CC, art. 465: “Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos”. 33 CC, art. 1.417: “Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel”. 34 CC, art. 1.418: “O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos desteforem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel”. 35 Súmula 166, STJ: “É inadmissível o arrependimento no compromisso de compra e venda sujeito ao regime do Decreto-Lei 58, de 10.12.1937”. 15 www.g7juridico.com.br ➢ Exemplo: 3.4. Fase de contrato definitivo Aperfeiçoado o contrato pelo “encontro das vontades”, os efeitos contratuais são plenos. Observações: • Não há mais pré-contratualidade. • Se houver inadimplemento, aplicam-se as regras quanto ao tema (CC, art. 389 a 416). 36 CC, art. 468: “Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado”.
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