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Prova Parcial de Teoria Microeconômica I EESP-2020 Duração: 2h Instruções: • Esta prova contém 4 questões, totalizando 100 pontos. No entanto, o cômputo de sua nota será feito na escala de 0 a 10. • As questões não estão ordenadas por dificuldade. Sugerimos que você comece com as que são mais fáceis para você. • A primeira questão vale 40 pontos, as demais valem 20 pontos cada. • Não é permitida a consulta a nenhum material, incluindo notas pessoais, livros ou formulários. • No computador, pode ter aberto apenas o E-class. • O Zoom deve estar aberto no seu celular e não no computador, e filmando a sua estação mesa de trabalho durante toda a prova. • Mantenha na sua mesa apenas estojo, computador e folhas em branco (não pode ter caderno), além de algum alimento e água, se julgar necessário. • Organize sua resposta de maneira clara e coerente, demonstrando seu racioćınio/cálculos. • Resolva uma questão por página. • A resolução da prova deve ser escaneada e entregue pelo e-class (”Entrega de Atividades - ProvaParcial”) em aquivo único no formato PDF (usando o aplicativo CamScanner, por exemplo) em até 15 minutos após o final da prova. • Você é o responsável por garantir que o material escaneado esteja completo e leǵıvel, que as folhas estejam em pé e ordenadas corretamente. 1 Questões: 1. (40 pontos) Nesta questão generalizamos uma função de utilidade Cobb-Douglas para incluir um comportamento t́ıpico de bens viciantes, como bebida, drogas ou açúcar. Considere a seguinte função de utilidade: u(x, y; r) = (x− r)0,5y0,5 em que x é o bem viciante, e r ≥ 0 mede o grau do v́ıcio. Alguém já acostumado a alto consumo de x, por exemplo, só extrai utilidade do consumo das últimas x− r unidades consumidas. Ainda, y é a quantidade monetária gasta com os demais bens. A utilidade acima só é definida para x ≥ r e y ≥ 0 e, caso contrário, pode ser considerada como nula. Considere px como o preço de x, py = 1 e M como sendo a renda do consumidor. Com base nesse modelo, resolva os itens abaixo. (a) (10 pontos) Esta preferência é bem comportada, ou seja, monotônica e estritamente convexa? É homotética? Justifique suas respostas. Solução: Sim, UMgx = y ≥ 0 e UMgy = x − r ≥ 0, logo, a preferência é monotônica. Além disso, TMS = UmgxUmgy = y x−r . Ou seja, a preferência é homotética, já que a TMS depende da razão de preços e é estritamente convexa, uma vez que a TMS é decrescente, em módulo. (b) (5 pontos) Quais são as demandas Marshallianas por x e y? Compare com a solução esperada caso x não fosse viciante. Solução: Usando TMS = UmgxUmgy = y x−r = px 1 e a restrição orçamentária chegamos nas demandas Marshallianas por x e y: x∗ = M2px + r 2 e y ∗ = M−rpx2 . Como x é viciante, agora o consumidor acaba consumindo menos de y e deixa de alocar proporções fixas de renda para os dois bens. Isso porque, quanto maior r, menor é a proporção de gasto em x que, efetivamente, se transforma em utilidade para o consumidor. (c) (5 pontos) Calcule a elasticidade-preço da demanda por x. Interprete a elasticidade a partir de variações de r. Solução: A elasticidade da demanda é dada por: ex,px = ∂x∗(px,py ,M) ∂px px x , logo: ex,px = −M 2p2x px ∗ 2px M + rpx = −M M + rpx . Conforme r aumenta a demanda por x se torna mais inelástica, o que é coerente com uma situação de v́ıcio. Ainda, a elasticidade deixou de ser unitária - como seria no caso clássico de uma Cobb-Douglas. Isso porque o aumento de 1% no preço de x agora tem um efeito percentual na demand por x que depende do ńıvel de v́ıcio em relação à renda. (d) (5 pontos) Encontre a função que descreve o gasto mı́nimo necessário para que este agente obtenha utilidade Ū . O que acontece com esta função quando r aumenta? Explique este resultado. 2 Solução: Podemos calcular a utilidade indireta deste consumidor: V = √ (M − rpx) 2px (M − rpx) 2 = M − rpx 2 √ px . A partir da utilidade indireta, com Ū = V e E = M , e isolando E temos: E(px, py, Ū ; r) = 2Ū √ px + rpx. Logo, quanto maior for o ńıvel de v́ıcio deste consumidor, maior será o gasto mı́nimo necessário para que ele consiga atingir a utilidade Ū . Isso faz sentido, uma vez que, quanto maior r, menor é a proporção gasta com x que, de fato, contribui para a utilidade atingida pelo consumidor. (e) (5 pontos) Qual a expressão da função de demanda compensada (ou Hicksiana) por x? Solução: Usando o Teorema do Envelope, podemos derivar a função dispêndio acima em relação a px e encontrar x c(px, py, Ū), a demanda compensada por x. Logo: xc(px, py, Ū) = ∂E(px, py, Ū ; r) ∂px = Ū √ px + r. (f) (5 pontos) Considere agora que M = 16, o preço inicial de x é p0x = 1 e, que por conta de um imposto, passou a ser p1x = 4. Qual a variação compensatória associada a esta mudança de preços? Como r influencia essa medida? Solução: Aos preços iniciais, a utilidade atingida é de V0 = M−r 2 = 8 − r 2 . Usando a função dispêndio do item anterior temos que: E(p1x, py, V0; r) = 32 + 2r E(p0x, py, V0; r) = 16. Logo, a variação compensatória é dada por: E(p1x, py, V0; r)− E(p0x, py, V0; r) = 16 + 2r Quanto maior o ńıvel de v́ıcio da pessoa, mais renda temos que dar a ela para compensar por um aumento de preços do bem viciante. (g) (5 pontos) Considerando os mesmos valores descritos no item anterior, qual o efeito total, efeito renda e efeito substituição associados a esta mudança de preços? Como r afeta esses efeitos? (Considere para este item o efeito substituição de Hicks, que mantém a utilidade inicial do agente como constante.) 3 Solução: O efeito total é dado por ET = x∗(p1x, py,M)− x∗(p0x, py,M) = M 8 + r 2 − (M 2 + r 2 ) = 2− 8 = −6. Para calcular o efeito substituição usamos a utilidade inicial, V0 = 8− r2 , do item anterior. Assim, o efeito substituição é: ES = x∗(p1x, py,M)− xC(p1x, py, V0) = 2 + r 2 − (4 + 3r 4 ) = −2− r 4 . Usando a equação de Slutsky chegamos no efeito renda: ER = ET − ES = −4 + r 4 . O efeito total não depende de r, mas os efeitos substituição e renda, sim. Quanto maior o ńıvel do v́ıcio, menor será a magnitude do efeito substituição. Isso significa que, quanto mais viciado, menor será a troca que o agente fará de x para y como resposta a um aumento de px. 2. (20 pontos) Considere que a firma SA possui uma função de produção dada por: f(l, k) = l+ bk, em que l é a quantidade de trabalhadores, k é a quantidade de capital e b > 1 é uma constante. Assuma que estamos no longo prazo, ou seja, a firma consegue ajustar os dois fatores de produção. Responda: (a) (6 pontos) Se o preço do capital é duas vezes o preço do trabalho (pk = 2pl), qual será a demanda pelos fatores de produção que minimiza o custo da firma, caso ela queira produzir q unidades de produto? Qual a função custo da firma? Como podemos comparar o custo médio e custo marginal neste caso? Solução: l(pw, pk, q) = 0 e k(pw, pk, q) = q/b, se b > 2. l(pw, pk, q) = q e k(pw, pk, q) = 0, se b < 2 l(pw, pk, q) + bk(pw, pk, q) = q, se b = 2 Logo, C(pw, pk, q) = pll(pw, pk, q) + pkk(pw, pk, q) e CMe = Cmg. (b) (6 pontos) Agora assuma que ambos os preços dobram, ou seja, p′k = 4pl e p ′ l = 2pl, em que p′k e p ′ l são os novos preços. Qual será a demanda pelos fatores de produção que minimiza o custo da firma, caso ela queira produzir q unidades de produto? Qual a função custo da firma? Solução: A demanda é homogênea de grau zero nos preços, ou seja, não vai se alterar. Já a função custo será 2 vezes maior. (c) (8 pontos) Depois da análise da firma SA, você passa a analisar uma outra firma, a firma SB, que também minimiza custos, mas possui uma função de produção diferente e desconhecida. A firma SB tem a seguinte demanda pelos fatores de produção: 4 l(pw, pk, q) = 3(pl) −0.5(pk) aq, k(pw, pk, q) = c(pl)0.5(pk) bq. Como podemos determinar as constantes a e b? E a constante c? Explique cuidadosamente sua resposta. Solução: Como a demanda é homogênea de grau zero nos preços, temos que a = −b = 0.5. Para determinar c, podemos usar o lema de Shephard: A função custo pode ser escrita como: C(pw, pk, q) = (pl) 0.5(pk) 0.5q(3 + c) E sabemos que ∂C(pw,pk,q)∂pl = l(pw, pk, q) =⇒ c = 3. 3. (20 pontos) Considere que o mercado de soja é um ambiente perfeitamente competitivo no curto prazo, o que implica que os produtores são tomadores de preço - tanto da soja quanto dos insumos utilizados na produção. Um produtor de soja tem duas fazendas com a mesma função de produção: qi = k 1/2 i l 1/2 i , em que i = 1, 2. A fazenda 1, no entanto, é mais mecanizada do que a fazenda 2, de forma que k1 = 16 e k2 = 4. Seja q = q1 + q2 a quantidade total de soja produzida nas 2 fazendas, responda: (a) (10 pontos) Se no ponto ótimo tivermos q = 50, qual a quantidade de soja produzida por cada fazenda (qi)? Solução: Dado o ńıvel de capital de cada firma, temos: q1 = 4l 1/2 1 e q2 = 2l 1/2 2 . Seja p o preço da soja e w o salário observado pelo produtor. Como neste caso o custo do capital é fixo podemos omiti-lo já que não influenciará nos resultados. Desse modo, o lucro de cada firma é dado por: π1 = pq1 − w q21 16 e π2 = pq2 − w q22 4 . Pela condição de primeira ordem do problema de maximização de lucro teremos: p = 2wq116 e p = 2wq24 . O que nos dá: q1 = 4q2 e, como q1 + q2 = 50, chegamos em q1 = 40 e q2 = 10. (b) (10 pontos) Ainda considerando q = 50, qual será a alocação de trabalho em cada fazenda (li)? Solução: Aqui basta voltar na relação entre quantidade de soja e alocação de trabalho observada no item anterior e utilizar as quantidades produzidas já calculadas para obter: l1 = q21 16 = 100 e l2 = q22 4 = 25. 4. (20 pontos) Considere uma pequena economia que produza café. A demanda doméstica pelo quilo desse bem é dada por P = 20−(1/2)Qd, enquanto a oferta doméstica é dada por P = 2+(1/10)Qs. (a) (5 pontos) Qual o preço de equiĺıbrio e a quantidade de café em uma situação em que esta economia esteja fechada? 5 Solução: Basta usar as funções de oferta e demanda: 20 − (1/2)Q = 2 + (1/10)Q =⇒ Q = 30 quilos. Logo o preço será P = 5. (b) (7,5 pontos) Suponha que o preço do mundial do quilo do café seja R$8, 00, e a economia em questão se abra ao comércio internacional. Qual o efeito da abertura comercial sobre o excedente do consumidor? Solução: Quando a economia era fechada, o excedente do consumidor e do produtor eram dados por: CSc = 0, 5 ∗ [(20− 5) ∗ 30] = 225 Com a economia aberta, ao preço de 8, 00 (já que a economia doméstica é pequena e será tomada de preços do mercado internacional) a demanda será igual a 24 quilos de café, logo: CSo = 0, 5 ∗ [(20− 8) ∗ 24 = 144 Portanto ∆CS = 144− 225 = −81. (c) (5 pontos) Suponha agora, que, no momento da abertura, o preço mundial do café seja de R$ 2,50 o quilo. Qual o impacto, sobre o excedente do consumidor, de uma abertura econômica considerando este preço mundial? Solução: Do item anterior, sabemos que CSc = 225. Com P = 2, 50, a demanda interna será de 35 quilos de café. Então agora: CSo = 0, 5 ∗ [(20− 2, 5)] ∗ 35 = 306, 25 Portando, ∆CS = 306, 25− 225 = 81, 25 (d) (2,5 pontos) De forma sucinta, discuta as consequências distributivas (quem ganha e quem perde) associadas à abertura comercial. Solução: Aqui basta eles notarem que, quando a abertura comercial ocorre com o preço internacional maior que preço doméstico, os consumidores serão prejudicados por se de- pararem com um preço maior, enquanto os produtores serão beneficiados, pois irão ex- portar sua produção. Porém se a abertura ocorrer com preço mundial menor que o preço doméstico, então a economia irá importar o bem, os consumidores irão se beneficiar, porém os produtores estarão em situação pior do que com a economia fechada. 6
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