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Farmacognosia Aplicada: Uso de Plantas Medicinais

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FARMACOGNOSIA 
APLICADA 
João Fhilype Andrade Souto Maior
Farmacoetnologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Descrever o papel das culturas ancestrais na descoberta de fármacos 
obtidos da natureza.
 � Traçar o perfil histórico da busca por medicamentos naturais.
 � Identificar medicamentos de origem etnológica na atual comerciali-
zação de medicamentos. 
Introdução
De acordo com evidências históricas, arqueológicas e culturais, ao longo 
de milhares de anos o homem buscou na natureza diversos recursos 
(ferramentas e tecnologias) para melhorar a sua qualidade de vida, curar 
doenças, amenizar sofrimentos e, claro, para melhor se adaptar e so-
breviver neste mundo. As plantas estão entre esses recursos e sempre 
fizeram parte da evolução humana — muito provavelmente, foram os 
primeiros recursos terapêuticos utilizados por povos antigos. Hoje, algu-
mas comunidades e grandes empresas farmacêuticas utilizam boa parte 
desse conhecimento tradicional, adquirido por meio de observações e 
experiências com plantas medicinais, como alternativa para a prevenção, 
o tratamento de doenças e a descoberta de novos medicamentos.
Neste capítulo, você vai ler sobre o papel de povos antigos na uti-
lização de plantas com finalidades terapêuticas. Também vai estudar a 
importância do conhecimento tradicional para a pesquisa e a produção 
de medicamentos mais eficazes, acessíveis e seguros para a população. 
1 História do uso de plantas medicinais 
Desde há muito tempo, o homem faz uso de substâncias químicas derivadas 
dos mais variados recursos da natureza (plantas, animais e microrganismos) 
para atender às suas necessidades básicas de sobrevivência e qualidade de 
vida, incluindo a prevenção e o tratamento de diversas doenças. Com isso, ao 
longo dos anos, o homem conseguiu acumular informações preciosas sobre o 
ambiente ao seu redor. Esse conhecimento, de acordo com Monteiro (2017), em 
grande parte, foi adquirido por meio de observações e experiências cotidianas 
sobre fenômenos e características da natureza, principalmente em relação ao 
mundo vegetal, com destaque para as plantas medicinais.
Plantas medicinais são espécies vegetais, cultivadas ou não, utilizadas com propósitos 
terapêuticos, podendo ser usadas logo após a sua colheita (plantas frescas) ou após 
processo de secagem e estabilização (plantas secas). Ainda, segundo a Organização 
Mundial da Saúde (OMS), planta medicinal é qualquer vegetal que tenha, em um ou 
mais órgãos, substâncias que possam ser utilizadas para fins terapêuticos ou que sejam 
precursoras de fármacos semissintéticos (WHO, 1998).
Pré-história
Evidências e registros históricos mostram que muitos povos antigos têm 
referências próprias com relação ao uso de plantas medicinais. Muito antes de 
o homem pré-histórico desenvolver qualquer alfabeto ou escrita rudimentar, 
ele já utilizava algumas plantas como alimento e outras como remédios. 
De acordo com Monteiro (2017), é provável que muitos de seus experimentos 
com vegetais fossem bem-sucedidos, porém outros deviam produzir efeitos 
colaterais graves ou até mesmo fatalidades. Além dos seus experimentos 
empíricos, o aprendizado dos povos pré-histórico sobre as propriedades tera-
pêuticas ou nocivas das plantas deve ter acontecido por meio de observações 
de fenômenos naturais, como o comportamento dos animais, por exemplo.
Farmacoetnologia2
O autor afirma que durante esse período, muitos desses valiosos conhe-
cimentos foram transmitidos de forma rudimentar (oral ou arte rupestre) 
para as gerações seguintes. Apenas com o surgimento da escrita é que tais 
conhecimentos passaram a ser compilados e registrados de forma mais eficaz. 
Também existem registros históricos e lendas antigas onde são atribuídos às plantas 
poderes mágicos ou divinos, já que algumas delas eram usadas em rituais religiosos 
ou de autoconhecimento. 
Antiguidade
Referências históricas sobre o uso de plantas com fins terapêuticos estão pre-
sentes em quase todas as civilizações antigas. Porém, as primeiras descrições 
dessa atividade foram registradas em escrita cuneiforme e datam de 2.600 a.C. 
Monteiro (2017) afirma que tais registros indicam que os mesopotâmicos já 
usavam óleo de cedro, alcaçuz, mirra (que você pode ver na Figura 1) e muitos 
outros derivados de plantas que ainda hoje são utilizados no tratamento de 
doenças, como gripes, resfriados e infecções bacterianas.
Figura 1. Exemplos de plantas medicinais usadas na região da Mesopotâmia: (a) cedro; 
(b) alcaçuz; (c) mirra; (d) papoula. 
Fonte: Monteiro (2017, documento on-line). 
3Farmacoetnologia
Outra referência escrita sobre o uso de ervas medicinais é a obra chinesa 
Pen Ts’ao (“A grande fitoterapia”), de 2.800 a.C. Seu autor, Shen-Nong, 
é reconhecido como o fundador da medicina chinesa em 2800 a.C. (MON-
TEIRO, 2017).
Sabe-se que muitos dos conhecimentos tradicionais que os povos antigos 
(egípcios, gregos e romanos) acumularam durante séculos foram transmitidos, 
principalmente, aos árabes. Em antigos papiros do Egito fica evidente que 
muitos médicos utilizavam plantas e ervas como remédio, inclusive para rituais 
e preparação de múmias. O famoso papiro de Ebers, por exemplo, com cerca 
de 3.500 anos e cuja autoria é atribuída aos egípcios, é considerado um dos 
mais antigos e importantes tratados médicos, contendo, aproximadamente, 
100 doenças e um grande número de produtos naturais, que ainda são usados 
normalmente — coentro, genciana, zimbro, sene e outros, como mostra a 
Figura 2.
Figura 2. Exemplos de produtos naturais usados pelos egípcios e que ainda hoje são usados 
para fins terapêuticos: (a) funcho; (b) coentro; (c) sene. 
Fonte: Monteiro (2017, documento on-line). 
Para Monteiro (2017), o chamado papiro farmacológico de Ebers menciona cerca de 
800 fórmulas milagrosas e remédios populares constituídos por extratos de plantas, 
metais (chumbo e cobre) e venenos de várias espécies de animais. Além disso, prescreve 
o uso terapêutico de óleos vegetais (alho, girassol, açafrão) e o uso de mel ou de 
cera de abelhas como veículo ou excipiente para os óleos usados, com o objetivo de 
melhorar a absorção do medicamento. Atualmente, o papiro se encontra na biblioteca 
da Universidade de Leipzig, Alemanha, e foi assim batizado em homenagem ao monge 
alemão Georg Ebers, que os adquiriu em 1873.
Farmacoetnologia4
Monteiro (2017) cita que outros relatos do uso de plantas medicinais de-
monstram que, além dos egípcios, civilizações antigas como os assírios e 
hebreus também cultivavam ou traziam de suas expedições diversas ervas 
para a preparação de seus medicamentos. 
Um dos sistemas medicinais mais antigos da humanidade, a medicina 
Ayurveda, foi criado na Índia. Os Vedas, poemas épicos de cerca de 1.500 a.C., 
descrevem ervas medicinais até hoje utilizadas, inclusive na culinária, entre 
elas as apresentadas na Figura 3.
Na antiga Grécia, grande parte do que sabemos sobre plantas e ervas 
medicinais deve-se a Hipócrates (460–377 a.C.), que, em sua obra Corpus 
Hipocratium, descreve os conhecimentos médicos de seu tempo, indicando, 
para cada enfermidade, um remédio vegetal e um tratamento adequado.
Figura 3. Exemplos de plantas medicinais mencionadas nos Vedas: (a) gengibre; (b) man-
jericão; (c) alho; (d) cúrcuma; (e) aloe. 
Fonte: Monteiro (2017, documento on-line). 
No Ocidente temos Teofrasto (372–287 a.C.), que aparece como o único 
botânico da Antiguidade, cujos registros mencionam o uso de fitoterápicos. 
Ele listou cerca de 455 plantas medicinais, que constituíram o primeiro her-
bário ocidental, utilizado até hoje, com detalhes de como preparar e usar 
cada produto.
5Farmacoetnologia
Era cristã
Nesse período histórico, merece destaque o grego Pedanius Dioscórides, 
médico militar que catalogou e ilustrou cerca de 600 plantas medicinais em 
sua obra De Materia Medica. A obra serviu como importante referência até o 
Renascimento; nela, Dioscórides descreve ouso de ópio como medicamento e 
como veneno, que inclusive fora utilizado por Nero para eliminar seus inimigos. 
Também relata o uso do salgueiro branco (Salix alba L.), fonte mais antiga do 
ácido acetilsalicílico, para dor (MONTEIRO, 2017).
Outro médico e filósofo grego importante, Claudius Galeno (129–216 d.C.), 
foi o primeiro grande observador científico dos fenômenos biológicos. Galeno 
é considerado o “pai da farmácia”, responsável por desenvolver misturas 
complexas (“cura-tudo”), conhecidas até hoje como “misturas galênicas”.
Além disso, de acordo com Monteiro (2017), pode-se dizer que Galeno 
deu início ao que conhecemos hoje como Vigilância Sanitária, ao estimular 
oficiais romanos na fiscalização de remédios para evitar fraudes ou desvios, 
já que muitas misturas continham até 100 ingredientes.
Idade moderna
Sem dúvida, uma personalidade importante e que contribuiu de forma sig-
nificativa para o desenvolvimento da farmacologia e da medicina tradicional 
foi o médico — e também renomado alquimista, físico e astrólogo — suíço 
Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, mais popular-
mente conhecido como Paracelso. Paracelso fundou as bases da medicina 
natural e foi o primeiro a observar a importante relação entre a dose e o efeito 
que determinada substância pode exercer no organismo, chegando à conclusão 
de que todas as substâncias são venenos e somente a dose correta diferencia 
o veneno do remédio (MONTEIRO, 2017).
Idade contemporânea
A partir do século XIX já é possível observar uma maior utilização de plantas 
medicinais e de fitoterápicos, principalmente graças ao progresso científico 
na área da química (fitoquímica), o que permitiu analisar, identificar e separar 
os princípios ativos das espécies vegetais. Nesse período, podemos citar o 
médico alemão Samuel Hahnemann (1755–1843) como uma figura importante, 
já que foi o responsável por desenvolver os conceitos da homeopatia. 
Farmacoetnologia6
De acordo com Monteiro (2017), trata-se de um método científico para o tra-
tamento e a prevenção de doenças agudas e crônicas, em que a cura acontece 
pela administração de medicamentos diluídos (não agressivos) que fortalecem 
e estimulam o sistema imune do organismo a reagir.
No início do século XX, a medicina alopática ainda tinha as plantas como 
principais matérias-primas. Entretanto, diferentemente da homeopatia, a 
alopatia é o ramo da medicina tradicional que utiliza medicamentos para 
produzir no organismo do paciente uma reação contrária aos sintomas que ele 
apresenta, a fim de diminuí-los ou neutralizá-los. Por exemplo, se o paciente 
tem febre, o médico receita um medicamento que faz baixar a temperatura 
(MONTEIRO, 2017).
Medicamento fitoterápico, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
(Anvisa), pode ser definido como o medicamento obtido exclusivamente de matérias-
-primas ativas vegetais. Caracteriza-se pelo conhecimento de sua eficácia e riscos de 
uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Sua eficácia e 
segurança é validada por levantamentos etnofarmacológicos de utilização, documen-
tação tecnocientífica em publicações ou ensaios clínicos fase 3. Não é considerado 
medicamento fitoterápico aquele que incluir substâncias ativas isoladas de qualquer 
origem ou associações dessas com extratos vegetais em sua composição (ANVISA, 2014). 
Brasil
Segundo Monteiro (2017), no Brasil, a história da utilização de plantas com 
fins terapêuticos apresenta influências marcantes de povos africanos, indígenas 
e imigrantes. A contribuição dos povos africanos, por exemplo, aconteceu 
por meio de plantas medicinais que eles trouxeram consigo de suas aldeias de 
origem que, eventualmente, também usavam em rituais religiosos.
Sabe-se que os índios que aqui viviam e utilizavam a imensa variedade de 
plantas medicinais disponíveis nas florestas tinham um valioso patrimônio 
de informações da biodiversidade e técnicas de como melhor aproveitar tais 
recursos naturais. Ainda, o autor afirma que, em geral, os pajés das tribos 
transmitiam seus conhecimentos acerca das ervas e seus usos de forma oral 
ou por meio de rituais para as próximas gerações. 
7Farmacoetnologia
No século XVIII a cidade de São Paulo contava com a primeira farmácia 
oficial da cidade, Real Botica, cujos medicamentos eram, em sua grande 
maioria, plantas medicinais. Já no ano de 1926, foi publicada a primeira Far-
macopeia Brasileira, com a descrição de 183 espécies de plantas medicinais 
do Brasil (MONTEIRO, 2017).
2 Origens da farmacoetnologia
Como vimos, ao longo da história, o homem adquiriu e acumulou informações 
e conhecimentos sobre a natureza, principalmente por meio de observações e 
experiências sobre fenômenos e características do reino vegetal. Felizmente, 
grande parte dessas informações, obtidas por meio da utilização de plantas 
medicinais, foi transmitida ao longo dos tempos e de gerações, o que garantiu 
a preservação de importantes conhecimentos tradicionais sobre o tratamento 
e a cura de determinadas enfermidades. 
Algumas metodologias importantes utilizadas por pesquisadores atuais, 
oriundas de observações e experiências (empíricas) de alguns povos antigos 
em relação ao reino vegetal são as seguintes (MONTEIRO, 2017):
 � identificação de espécies e gêneros medicinais;
 � identificação das partes mais adequadas;
 � reconhecimento do habitat;
 � reconhecimento da época da colheita.
Graças a essa relação do homem com o universo dos recursos naturais 
(plantas, animais e minerais) ao longo da história, foi possível desenvolver 
as bases da farmacoetnologia, ou etnofarmacologia, um importante ramo da 
etnobiologia, que se ocupa em estudar o complexo conjunto de relações entre 
plantas e animais utilizados como drogas por sociedades humanas, presentes 
ou passadas (ELISABETSKY, 2003).
Em geral, estudos etnofarmacológicos abordam diferentes áreas do co-
nhecimento como botânica, química, farmacologia, medicina e muitas outras 
(antropologia, arqueologia, história e linguística), que são fundamentais para 
utilizar e proteger a diversidade das plantas, como também para contribuir 
com a descoberta de novos produtos naturais dotados de agentes biológicos 
ativos de interesse terapêutico (MADEIRO, 2015).
Farmacoetnologia8
Tudo indica que o termo etnofarmacologia foi usado pela primeira vez em 1967 por 
Efron e seus colaboradores em um livro intitulado Ethnopharmacologic Search for 
Psychoactive Drugs. Na América Latina, farmacoetnologia teve início no século XVI 
com os missionários jesuítas, que tinham grande interesse no uso de plantas com 
propriedades terapêuticas (ARTG 4). Essa também era uma prática bastante comum 
entre comerciantes, antropólogos e botânicos europeus, que registravam em seus 
diários de viagem dados referentes às culturas visitadas, aos costumes de seus habitantes 
e, principalmente, às diversas espécies de plantas e seu uso medicinal. No Brasil, entre 
os séculos XVII e XIX, pesquisadores europeus coletavam plantas e registravam seus 
usos medicinais por tribos indígenas (MONTEIRO, 2017). 
Recentemente, o Brasil voltou a valorizar sua flora como importante e 
valiosa fonte de novas moléculas com atividade biológica e de medicamentos 
fitoterápicos. De fato, em vários outros países do mundo, as plantas medicinais 
e os fitoterápicos deixaram de ser tratados apenas como terapia alternativa 
para problemas de saúde.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no início da 
década de 1990, em muitos países em desenvolvimento, como o Brasil, cerca 
de 80% da população dependiam do uso de plantas medicinais como única 
forma de acesso aos cuidados básicos de saúde (VEIGA JÚNIOR; PINTO; 
MACIEL, 2005). Por essa razão, o Brasil criou políticas públicas, como a 
Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e a Política Nacional 
de Práticas Integrativas e Complementares, que garantem o acesso e promo-
vem o uso de plantas medicinais e fitoterápicos no Sistema Único de Saúde(SUS), uma vez que também se constituem em alternativa viável à população 
mais carente ou que reside fora das zonas urbanas, com acesso restrito aos 
centros de atendimento hospitalares, obtenção de exames e medicamentos 
industrializados mais caros (NIEHUES et al., 2011).
Além disso, nos últimos anos o consumo de plantas e fitoterápicos tem 
aumentado consideravelmente entre boa parte da população, que está cada 
vez mais preocupada com a própria saúde e bem informada sobre os riscos 
decorrentes do uso crônico de fármacos sintéticos, além dos seus elevados 
custos de aquisição. Vale lembrar que algumas plantas e fitoterápicos são 
considerados medicamentos isentos de prescrição médica (MIPs). 
9Farmacoetnologia
3 Pesquisa e desenvolvimento de fármacos 
a partir de plantas
A partir do final do século XIX, com o desenvolvimento da química orgânica, 
os produtos sintéticos foram aos poucos adquirindo primazia no tratamento 
farmacológico, desbancando as plantas medicinais e seus derivados como a 
base da terapêutica medicamentosa em meados do século XX. Isso, de certa 
forma, interferiu nos modelos de saúde tradicionais das comunidades brasileiras 
(MONTEIRO, 2017).
Além disso, outros fatores colocam em risco todo o preciso conhecimento 
tradicional produzido por diversas comunidades locais do nosso país, como a 
perda da biodiversidade, o acelerado processo de mudança cultural e a maior 
facilidade de acesso aos serviços da medicina moderna. Nesse sentido, Nunes 
(2016) aponta que a riqueza dos conhecimentos tradicionais a respeito da 
biodiversidade vegetal precisa ser retomada e resguardada, não apenas para 
fomentar a descoberta de novas espécies vegetais a serem pesquisadas com 
finalidades terapêuticas, mas também como parte importante do patrimônio 
da humanidade.
Ainda, segundo o autor, o resgate de tais conhecimentos tradicionais por 
meio de estudos é de fundamental importância para a descoberta de novos fár-
macos, principalmente para o Brasil, que, além de ter uma grande diversidade 
cultural, tem uma vasta biodiversidade vegetal, o que resulta em considerável 
riqueza de conhecimentos, inclusive de sistemas tradicionais de manejo de 
recursos naturais renováveis.
Para tanto, de acordo com Monteiro (2017), existem algumas abordagens 
para o estudo de plantas medicinais com potencial atividade biológica, entre 
os quais podemos destacar:
 � Abordagem randômica: estudo que compreende a coleta ao acaso 
(“sorte ou azar”) de plantas para triagens fitoquímicas e farmacológicas.
 � Abordagem quimiotaxonômica: também conhecida como abordagem 
filogenética, consiste na seleção de espécies de uma família ou gênero 
sobre as quais já exista algum conhecimento fitoquímico de pelo menos 
uma espécie do grupo. 
Farmacoetnologia10
 � Abordagem etológica: estudos orientados para avaliar a utilização 
de metabólitos secundários por animais (primatas, por exemplo), ou 
qualquer outra substância não nutricional dos vegetais, com o objetivo 
de combater certas doenças ou controlá-las.
 � Abordagem etnodirigida: busca avaliar espécies vegetais previamente 
selecionadas com base em relatos de uma comunidade específica em 
determinadas circunstâncias de uso, destacando-se a busca pelo co-
nhecimento construído sobre tais recursos naturais e a aplicação que 
fazem deles em seus sistemas de saúde e doença. 
Por meio de investigações etnobotânicas e/ou etnofarmacológicas é possível 
acessar informações importantes sobre uso popular, potenciais efeitos tera-
pêuticos, correta identificação botânica e fatores ambientais que influenciam 
a biossíntese dos metabólitos secundários, como clima, tipo de solo e técnicas 
de manejo de determinada a espécie vegetal. Finalmente, o conjunto de todos 
esses dados pode garantir uma correta extração das moléculas bioativas de 
interesse farmacológico (KLEIN, 2009 e FILHO, 1998). 
Felizmente, nas últimas décadas esse inestimável conhecimento de co-
munidades tradicionais do Brasil sobre determinadas espécies vegetais tem 
despertado o interesse de pesquisadores que buscam comprovar, por meio de 
estudos científicos, que tais “saberes tradicionais” têm fundamentos para suas 
aplicações — ou seja, têm eficácia terapêutica (MADEIRO, 2015).
O uso tradicional de plantas pode servir como uma pré-triagem quanto à 
propriedade terapêutica. É muito mais provável encontrar atividade biológica 
de interesse terapêutico em plantas medicinais já usadas por alguma população 
específica do que em outras espécies vegetais escolhidas ao acaso, o que pos-
sibilita obter grandes resultados em menor tempo e com menor custo durante a 
pesquisa e desenvolvimento de fármacos (FILHO, 1998; MONTEIRO, 2017).
Entre os 120 princípios ativos disponíveis atualmente para a indústria farmacêutica para 
a produção de medicamentos, cerca de 75% foram descobertos e isolados a partir de 
informações do uso popular de plantas medicinais (FILHO, 1998). 
11Farmacoetnologia
Apesar das grandes vantagens obtidas com pesquisas etnofarmacológicas, mesmo em 
alguns casos em que se conhece o mecanismo de ação de determinado composto 
bioativo e se tem o ensaio in vitro apropriado para detectá-lo, a maior parte desses 
compostos que, eventualmente, interagem com determinada enzima ou receptor 
não é biodisponível. Em outros casos, mesmo quando o composto de interesse tem 
boa biodisponibilidade, acaba por demonstrar toxidade inesperada em humanos. 
Em resumo, de cada dez compostos descobertos, apenas quatro seguem para a 
fase de desenvolvimento, enquanto existe uma taxa de 50% de desistência devido à 
toxicidade/efeitos adversos, antes mesmo que uma Fase Clínica I possa ser finalizada 
(ELISABETSKY, 2003).
Etapas e objetivos da pesquisa etnodirigida
Como visto anteriormente, diferentes áreas do conhecimento estão envolvi-
das na pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos oriundos de plantas. 
Entre eles podemos destacar a fitoquímica, que isola, purifica e caracteriza 
os princípios ativos; a etnobotânica e a etnofarmacologia, que investigam 
os conhecimentos tradicionais de povos e etnias sobre o uso de plantas; e 
a farmacologia, que avalia os efeitos farmacológicos de extratos e de seus 
constituintes químicos (SIMÕES, 2017; NIEHUES et al., 2011).
De modo geral, as principais etapas envolvidas no processo de pesquisa e 
desenvolvimento de fármacos podem ser resumidas da seguinte forma:
1. Investigação e descoberta de um composto com atividade terapêutica.
2. Testes in vitro para avaliar as propriedades biológicas das moléculas 
promissoras, investigando a farmacocinética e a farmacodinâmica em 
animais (estudo pré-clínico).
3. Realização de estudos clínicos em seres humanos em várias fases 
(estudo clínico).
Farmacoetnologia12
A seguir estão os principais objetivos que se espera alcançar com a reali-
zação de estudos etnofarmacológicos:
1. Bioprospectar e desenvolver a ciência farmacêutica.
2. Conservar e preservar a biodiversidade do país. 
3. Promover o uso local das plantas em associação com fármacos con-
vencionais e outras tecnologias biomédicas.
4. Utilizar o conhecimento das comunidades locais, respeitando seu direito 
de propriedade intelectual.
Fármacos obtidos de plantas medicinais 
O Brasil comporta cerca de 20% de todas as espécies vegetais do planeta, dis-
tribuídas entre os biomas mais diversos e complexos que se tem conhecimento 
(Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pantanal). Por esse motivo, apresenta grande 
potencial para a pesquisa de novos fármacos úteis para o desenvolvimento 
de medicamentos de elevado valor econômico e social para a população, 
principalmente porque apenas 5% de sua diversificada flora (cerca de 55 mil 
espécies identificadas) foi investigada até o momento sob o ponto de vista 
químico ou farmacológico (SIMÕES, 2017; FILHO, 1998). 
Sem dúvida, as plantas são uma das melhores fontes naturais e renováveis 
de compostos bioativos (metabólitos secundário), cuja complexidade e enorme 
variabilidade química favorecem a adaptação e a sobrevivênciadesses seres 
às mais distintas situações de estresse ambiental. 
De acordo Simões (2017), quanto mais variado e adverso for o bioma, mais 
inusitada e complexa será a adaptação de determinada espécie ao seu meio, 
que, em geral, pode ser constatada por suas características morfoanatômicas, 
bioquímicas e/ou genéticas.
No entanto, devido à inviabilidade econômica ou ecológica para se realizar 
a coleta e/ou o cultivo em larga escala de tais plantas nativas para a obtenção 
de valiosos compostos bioativos, torna-se fundamental incentivar pesquisas 
etnodirigidas como a melhor estratégia para produzir medicamentos seguros, 
eficazes e em quantidades comerciais, a exemplo de vimblastina, taxol, atro-
pina, quinino e vários outros (SIMÕES, 2017; FILHO, 1998).
13Farmacoetnologia
Um fato histórico marcante no processo de desenvolvimento da indústria farmacêutica 
mundial foi a descoberta da salicina (a partir da espécie Salix alba), com a qual se 
realizou a primeira modificação estrutural química de sucesso, obtendo-se o ácido 
salicílico, em 1839. A partir do ácido salicílico, Felix Hoffman foi capaz de sintetizar o 
ácido acetilsalicílico, com o qual registrou a primeira patente na área de medicamentos, 
em 1897 (MONTEIRO, 2017). 
Acompanhe, no Quadro 1, alguns fármacos com importância terapêutica 
e que são obtidos, exclusivamente, a partir de matérias-primas vegetais.
Fonte: Adaptado de Monteiro (2017).
Fármaco Classe terapêutica Espécie vegetal
Acido salicílico, salicina Analgésicos Salix alba
Digoxina, digitoxina Cardiotônicos Digitalis purpurea, 
Digitalis lanata
Atropina Anticolinérgico Atropa belladonna
Morfina, codeína Analgésico, 
antitussígeno
Papaver somniferum
Cocaína Anestésico local Erythroxylum coca
Pilocarpina Antiglaucomatoso Pilocarpus jaborandi
Quinina Antimalárico Cinchona spp.
Taxol (paclitaxel) Anticâncer Taxus brevifolia
Tubocurarina Bloqueador 
neuromuscular
Chondrodendron 
tomentosum
Vimblastina, vincrisina Antitumorais Catharanthus roseus
Quadro 1. Lista de alguns fármacos com importância terapêutica, obtidos exclusivamen-
te a partir de matérias-primas vegetais
Farmacoetnologia14
Atualmente, a pesquisa e o desenvolvimento de fármacos a partir de fontes 
vegetais, principalmente espécies vegetais, continuam a despertar grande 
interesse por parte de pesquisadores de vários países e, principalmente, da 
indústria médica e farmacêutica, como podemos constatar a partir dos dados 
a seguir (MONTEIRO, 2017): 
 � A indústria de quimioterápicos, cujos medicamentos derivados de 
plantas chegam a 60%, movimenta cerca de 50 bilhões de dólares 
anualmente. 
 � Aproximadamente 60% dos agentes antitumorais e antibióticos dispo-
níveis no mercado são de origem natural. 
 � Entre 2006 a 2016, cerca de 500 novos compostos químicos foram 
aprovados pelas instituições reguladoras de vários países.
 � Entre 1981 e 2010, foram produzidos 270 novos medicamentos a partir 
de 1.130 substâncias oriundas de fontes naturais.
 � Aproximadamente 30% dos medicamentos disponíveis no mercado 
derivam direta ou indiretamente de produtos naturais, principalmente 
das plantas. 
Por fim, por esses e outros motivos, devemos ressaltar a importância 
histórica do uso de plantas medicinais por diversos povos e comunidades 
tradicionais ao longo dos tempos, cujos valiosos conhecimentos serviram, 
e ainda servem, como peça-chave para a inovação e o desenvolvimento da 
ciência farmacêutica.
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