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2 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS SUMÁRIO Como Elaborar ACP ................................................................................... 3 Passo a Passo da Petição Inicial de Usucapião de Bem Imóvel ....................... 11 Passo a Passo de uma Petição Inicial Cível .................................................. 17 Passo a Passo das Alegações Finais Criminais .............................................. 24 Modelo de Petição Inicial de Medicamento .................................................. 29 3 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS COMO ELABORAR ACP Karoline Leal Olá! Estou superfeliz por estar aqui conversando com você sobre meu tema queridinho: Ação Civil Pública! Hoje, meu objetivo é te ensinar a fazer uma ACP perfeita para você tirar 10 na prova! Vou montar uma estrutura básica, um passo a passo que você precisa observar quando a questão envolver ACP, ok? Sem dúvida nenhuma, um dos grandes desafios é identificar na prova que se trata de uma peça de ACP. Mas vou te ajudar! O primeiro elemento é a identificação, no enunciado, de algumas pistas que indiquem que se trata de uma demanda coletiva, por exemplo: “a res- posta jurisdicional deve garantir uniformidade”; “há uma multiplicidade de demandas simila- res”... enfim, elementos que identifiquem que diz respeito a uma demanda que verse sobre uma (ou mais) categoria(s) de direitos coletivos, isto é, direitos difusos, coletivos stricto senso ou individuais homogêneos. Vou trazer alguns temas e pistas que sugerem se tratar de ACP, ok? • Direitos de comunidades ribeirinhas afetadas pela construção de hidrelétrica; • Direitos de grupos sociais vulneráveis, como crianças abrigadas, idosos institucio- nalizados, mulheres vítimas de violência doméstica, vítimas de crimes violentos, pes- soas em situação de rua, direitos de pessoas privadas de liberdade; • Direitos de consumidores lesados. • Direito à saúde, concessão de medicamentos em falta na rede pública; longas filas no SUS; • Direito à educação; acesso à creche e pré-escola. Ultrapassado o momento inicial em que você identificou se tratar de uma ACP, vamos agora colocar a mão na massa! Antes de escrever a ação em definitivo, você irá esboçar, em tópicos, a estrutura da ACP, tendo em mente os seguintes elementos: • Endereçamento (Qual juízo possui competência para analisar essa ACP?); • Nome da peça, com indicação da previsão legal específica; • Cabimento da Ação Civil Pública (Qual ou quais tipos de direitos coletivos são abrangidos?); 4 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS • Tópico sobre Gratuidade de Justiça (por mais que haja gratuidade prevista em lei, é indispensável que você abra um tópico específico); • Legitimidade da Defensoria (também é superimportante indicar a legitimidade da Defensoria); • Teses de mérito (nesse tópico, você trará os fundamentos legais); • Tutela de urgência (se for o caso, você trará os fundamentos para o pedido de tutela de urgência); • Pedidos incluindo pedido de remessa dos autos ao Ministério Público, que oficia como fiscal da lei); • Assinatura. Vamos analisar um caso já explorado na prova da Defensoria Pública de São Paulo? Em determinado estabelecimento do Estado de São Paulo, há deficiências e irregulari- dade no fornecimento de água aos detentos, os quais se veem privados da quantia mínima necessária do referido recurso natural à sua higiene pessoal, consumo, entre outras ativida- des cotidianas, ocasionando grave violação aos direitos fundamentais e dignidade. A Defen- soria Pública, ao tomar conhecimento da situação por meio de representação formulada por um detento e ante o insucesso de resolver a questão em sede administrativa, decide ajuizar ação judicial. Elabore a ação adequada para a salvaguarda dos direitos violados. Aponte os fundamen- tos teóricos, legislativos (constitucionais e infraconstitucionais) e jurisprudenciais pertinentes. Dispense o relatório dos fatos. Consulte apenas a legislação vigente. Nessa questão, é possível perceber facilmente que se tratava de ACP, não acham? Direi- tos de presos de vários presos do Estado de São Paulo: bem óbvio! De início, impende registrar que, na avaliação das provas escritas discursivas, são considerados: (i) o acerto das respostas dadas; (ii) o grau de conhecimento do tema; (iii) a fluência e a coerência da exposição; (iv) a correção gramatical; e (v) a precisão da linguagem jurídica. Vamos passar para a resolução da questão? Vamos lá! O primeiro ponto diz respeito ao endereçamento: você deverá afirmar que o juízo com- petente para processar e julgar a causa é o Juízo de Direito de uma das Varas da Fazenda 5 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Pública de São Paulo – SP. Tal competência territorial decorre da conjugação da regra do art. 21 da Lei da Ação Civil Pública, com o artigo 93, inciso I, do Código de Defesa do Con- sumidor, que define a competência do foro do local do dano para processar e julgar a ação civil pública. O segundo ponto diz respeito ao cabimento da Ação Civil Pública: as ações de res- ponsabilidade pela reparação de danos morais e patrimoniais causados a qualquer interesse difuso e coletivo são reguladas pela Lei da Ação Civil Pública (Lei Federal n. 7.347/1985), em conformidade com a regra do art. 1º, inc. IV, da referida Lei. A Lei da Ação Civil Pública, em seu art. 21, afirma: “aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor”. O Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal n. 8.078/1990), em seu artigo 81, escla- rece que a defesa coletiva pode ser exercida quando houver lesão a interesses difusos, cole- tivos e individuais homogêneos: Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividu- ais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. Na espécie, a Ação Civil Pública é instrumento apropriado para a defesa de interesses difusos da coletividade, em especial o direito social de garantia de segurança pública e de adequada observância das normas de execução penal. O terceiro ponto tem relação com a legitimidade da Defensoria Pública para ajuiza- mento de ação civil pública: você deverá apontar que a legitimidade da Defensoria Pública para o ajuizamento da ação civil pública decorre das normas a seguir elencadas: • Constituição Federal: Defensoria Pública Estadual. Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, funda- mentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de 6 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. • Lei da Ação Civil Pública (Lei Federal n. 7.347/1985): Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: II – a Defensoria Pública. – Esta- tutoda Defensoria Pública (Lei Complementar Federal n. 80/1994): Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes; (Redação dada pela Lei Complementar n. 132, de 2009); X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela; (Reda- ção dada pela Lei Complementar n. 132, de 2009); XI – exercer a defesa dos inte- resses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela Lei Complementar n. 132, de 2009); XVIII – atuar na preservação e reparação dos direitos de pessoas vítimas de tortura, abusos sexuais, discriminação ou qualquer outra forma de opressão ou violência, propi- ciando o acompanhamento e o atendimento interdisciplinar das vítimas. • Lei de Execuções Penais (Lei Federal n. 7.210/1984): Art. 81-A. A Defensoria Pública velará pela regular execução da pena e da medida de segurança, ofi- ciando, no processo executivo e nos incidentes da execução, para a defesa dos necessitados em todos os graus e instâncias, de forma individual e coletiva. Os dispositivos legais deverão ser mencionados. • Não é necessária nem recomendada a transcrição literal de seu teor. Ultrapassada a etapa das preliminares, agora vamos apontar os fundamentos jurí- dicos da nossa ACP: 1. CF/1988: art. 1º, I; art.5º, caput, I, XLVII, XLIX, § 1º; art. 6º; art. 196 e art. 200, IV. 2. Legislação infraconstitucional: a. Lei n. 7.347/1985: art 1º, IV; b. Lei n. 8.080/1990: art. 2º, caput e § 1º, art. 3º, caput; c. Lei n. 11.445/2007: art 3º, I, a; art. 40 § 3º; d. Lei n. 9.433/1997: art.1º, caput, I, e I; e. Lei n. 7.210/1984: art. 3º, art 10; art.1, I; art. 14, caput e 81-A. 7 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Os dispositivos legais deverão ser mencionados. Não é necessária nem recomendada a transcrição literal de seu teor. Nessa nossa estrutura, colocamos apenas os tópicos com a respectiva previsão normativa. Porém, na prova, você deve trazer a fundamentação jurídica, fazer o arrazoado, ok? Finalmente, chegamos ao momento da estruturação dos pedidos: 1. Postular a gratuidade de acesso à justiça, que é conferida à Defensoria Pública em virtude de sua natureza jurídica e da natureza da ação (art. 18 da Lei da ACP); 2. Optar pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação (art. 319, inc. VII; e art. 334 do NCPC); 3. Requerer a citação da parte demandada, na pessoa de seu Procurador-Geral (art. 75, inc. II, do NCPC); 4. Requerer a intimação do Ministério Público, na condição de fiscal da lei (art. 5º, § 1º, da Lei da Ação Civil Pública); 5. Solicitar a produção de provas para demonstrar a verdade dos fatos alegados (art. 319, inc. VI, do NCPC); 6. Fixação de honorários sucumbenciais em favor da Defensoria Pública; 7. Atribuir valor à causa (art. 319, inc. V, do NCPC). 8 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Quer ver na prática, como seria essa ACP? Vem comigo! EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA X DO ESTADO DE SÃO PAULO (Obs.: na prova, não é necessário saltar linha) A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, instituição permanente essen- cial à função jurisdicional do Estado, com sede na rua..., endereço eletrônico..., vem, res- peitosamente perante Vossa Excelência, através do seu órgão de execução signatário, ajui- zar AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com fundamento nos artigos 1º, inciso III e 134 da CF, artigo 1º,inciso IV, da Lei 7347/1995, em face do ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito público, representada pelo seu procurador (art. 75,II,CPC), pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos. I – FATOS (Obs.: nessa prova, o relatório foi dispensado. Preste atenção na sua prova!) II – DA LEGITIMIDADE ATIVA (aqui você deve indicar os artigos, só mencioná-los. Isso facilitará ao examinador perceber que você trouxe todas as teses e pontos pre- vistos no espelho) – A legitimidade da Defensoria Pública para ajuizar ação civil pública decorre do artigo 134 da Constituição Federal e está expressa no artigo 5º, inciso II, da Lei 7347/1985. Inclusive, o STF, em sede de controle concentrado de constitucionalidade, já reconheceu, por unanimidade, a constitucionalidade da referida norma. Da mesma forma, a legitimidade ativa da defensoria para ajuizar ação civil pública é função institucional prevista no artigo 4º, VII, da LC 80/1994. III – DA JUSTIÇA GRATUITA (aqui você deve indicar os artigos, só mencioná-los. Isso facilitará ao examinador perceber que você trouxe todas as teses e pontos pre- vistos no espelho) – O artigo 18 da Lei 7374/1985 prevê que não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora em honorários, custas e despesas processuais, salvo má-fé. IV – DAS PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA (aqui você deve indicar os artigos, só mencioná-los. Isso facilitará para o examinador perceber que você trouxe todas as teses e pontos previstos no espelho) – As prerrogativas dos membros da Defensoria Pública devem ser respeitadas na presente ação, mormente o prazo em dobro e a intimação pessoal (artigo 128, I, da LC 80/1994). 9 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS V – DO DIREITO À VIDA E INTEGRIDADE FÍSICA DOS PRESOS (indicar artigos e súmulas) – O Estado é responsável pela garantia da integridade física e da vida dos presos. Tal dever está previsto de forma expressa no artigo 5º, caput, e inciso XLIX, da Constitui- ção Federal. A Convenção Americana de Direitos Humanos também dispõe sobre o direito à vida (artigo 4º) e direito à integridade física dos presos (artigo 5º), prevendo que eles devem ser tratados com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano. O artigo 1º, III, da CF/1988 reza que a dignidade da pessoa humana é fundamento da República Federativa do Brasil. No plano infraconstitucional, a Lei de Execução Penal (LEP) dispõe, no artigo 12, o dever do Estado de prestar assistência material ao preso. No mesmo sentido, o artigo 40 da LEP impõe a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e presos provisórios. O serviço público de fornecimento de água deve ser adequado, satisfa- zendo as condições de regularidade, eficiência, segurança, atualidade e generalidade (artigo 6º, § 1º, da Lei 8987/1995). O cumprimento de pena, em estabelecimento que não possui o mínimo para uma vida digna, equivale a uma pena cruel, o que é vedado pela Constituição Federal (artigo 5º, XLVII, e). Ora, a deficiência e irregularidade no fornecimento de água aos detentos viola todas as normas acima citadas, o que gera a responsabilidade objetiva do Estado de São Paulo, que falhou com o seu dever específico de proteção (art. 37, § 6º, da CF). Tratar ainda do mínimo existencial. VI – DA MEDIDA DE URGÊNCIA – No caso em tela, estão presentes os requisitos para a concessão da medida de urgência (artigo 300 do CPC e artigo 4º da Lei 7374/1985), uma vez que a probabilidade do direito restou demonstrada pelo exposto acima e é evidente o perigo de dano aos detentos que estão sem o acesso à água. Assim, deve ser concedida a tutela de urgência de natureza antecipada para garantir o fornecimento de água aos detentos. VII – DOS PEDIDOS Diante do exposto, pede-se:a) a concessão da justiça gratuita (artigo 18 da L. 7374/1985 e artigo 98 do CPC); b) que sejam respeitadas as prerrogativas dos membros da Defensoria Pública (artigo 128, I, LC 80/1994); c) a concessão da tutela de urgência de natureza antecipada para a condenação do Estado de São Paulo em obrigação de fazer consistente em fornecimento de forma regular de água aos detentos (artigo 300 do CPC e artigos 4º e 12 da Lei 7374/1985); d) a fixação de multa diária em caso de desobediência da decisão (artigo 11 da Lei 7374/1985); e) no mérito a confirmação da liminar para condenar o Estado de São Paulo em obriga- ção de fazer consistente em fornecer de forma regular água aos detentos; 10 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS g) a condenação do Estado de São Paulo em honorários advocatícios que serão rever- tidos ao fundo de aparelhamento da Defensoria Pública do Estado de São Paulo (artigo 4º, XXI, da LC 80/1994); h) a intimação do Ministério Público para intervir na presente ação (artigo 5, § 1º, Lei 7374/1985); i) Requer provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito. Dá-se à causa o valor de... (artigo 292 do CPC) Espero que esse material tenha sido enriquecedor para você! Forte abraço! 11 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS PASSO A PASSO DA PETIÇÃO INICIAL DE USUCAPIÃO DE BEM IMÓVEL Thiago Deienno O mais importante para a elaboração e sucesso na fase de peça processual, em se tratando de uma petição inicial, é identificar rapidamente a peça a ser desenvolvida (e, tratando-se de usucapião, que tipo de usucapião é cabível – ordinário, extraordinário, cons- titucional urbana etc.). Por isso é importante ler várias vezes o enunciado da questão para evitar, no meio da execução, ter que refazer a peça e perder tempo. Ao analisar o enunciado da questão, você deve construir um ROTEIRO de forma ORGA- NIZADA. Primeiramente, você deve separar a questão e assinalar os tópicos centrais. Após, deve fazer perguntas sobre os tópicos processuais para notar se algo relacionado pode ser incluído na peça (pequenas anotações). Em seguida, deve-se atentar para os pontos que não podem faltar na peça, sob pena de anulação da questão ou perda de muitos pontos: fundamento constitucional e legal da peça processual, bem como das teses apresentadas, conceitos e jurisprudência. No que se refere à peça cível, a primeira coisa a observar é se o caso concreto apre- sentado no enunciado se encaixa no rito dos juizados especiais (Lei n. 9099/1995) ou no rito comum (Código de Processo Civil). Identificado isso, há que se identificar o tipo de ação (se de conhecimento, execução ou declaratória) – a ação de usucapião é declaratória – e, por fim, é necessário verificar se o caso concreto indica para o procedimento comum (Título I do CPC) ou para algum dos procedimentos especiais (Título III do CPC). Ademais, cabe analisar, sob a teoria processual, quais questões entre aquelas assinala- das no enunciado da questão são pertinentes e, assim, organizar os tópicos identificados sob um “roteiro processual” (esqueleto da peça). Mais especificamente em relação à Ação de Usucapião, essa é uma ação declaratória, cujo procedimento é comum com algumas especificidades a serem observadas, como o art. 246, § 3º, do CPC (citação) e o art. 259, I, do CPC (editais de intimação). Feitos esses registros, vamos à estrutura da peça de alegações finais criminais! 1 EVENTUAIS QUESTÕES PRELIMINARES E PREJUDICIAIS; 2 FATOS CONSTITUTIVOS DO DIREITO DO AUTOR; 3 MÉRITO – TESES; 4 PEDIDOS. 12 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS No que tange aos fatos constitutivos do autor, é necessário elencar basicamente quatro fatos: descrição do bem a ser usucapido, posse do autor sobre o bem, tempo de posse do autor ou de seus antecessores na posse sobre o bem e natureza da posse. É impres- cindível a apresentação da qualificação do réu, do fundamento legal e constitucional da peça processual, uma boa apresentação da peça (organização) e relato dos fatos sob o foco de qual tipo de usucapião melhor se amolda à situação apresentada na prova. Esses elementos são essenciais. Todavia, a depender do tipo de usucapião ao qual o enunciado se referir, será necessária a inclusão de outros elementos (traremos um resumo sobre quais elementos do enunciado da questão são mais importantes para casa tipo de usucapião). Segue um exemplo: EXCELENTÍSSIMO JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA CÍVEL DA COMARCA / CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE XXXXXXXX/XX. FULANO DE TAL, NACIONALIDADE, ESTADO CIVIL, PROFISSÃO, portadora do RG n.º XXXXXXXXX SSP/XX, CPF n.º XXXXXXXXX, FULANO DE TAL, NACIONALIDADE, ESTADO CIVIL, PROFISSÃO, portadora do RG n.º XXXXXXXX SSP/XX, CPF n.º XXXXXXXXXX, FULANO DE TAL, NACIONALIDADE, ESTADO CIVIL, PROFISSÃO, portador do RG n.º XXXXXXXXX SSP/XX, CPF n.º XXXXXXXX, todos residentes e domiciliados na Quadra XXXXXXXXXXXXXXX, CEP: XXXXXXX, Tel.: XXXXXXXXX e XXXXXXXXX, vêm à presença de Vossa Excelência, por intermédio da Defensoria Pública XXXXXXXXX, propor a presente AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL em face de FULANO DE TAL NACIONALIDADE, ESTADO CIVIL, portador do RG n.º XXXXXX SSP/XX e CPF n.º XXXXXXXX, residente e domiciliado em...,, com supedâneo nos artigos 191 da Constituição Federal e 1239 do Código Civil Brasileiro, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas: DOS FATOS Na data de..., os autores passaram a ocupar as terras de aproximadamente XX (XXXXXXX) hectares no XXXXXXXXXX, conforme consta na matrícula do referido imóvel (matrícula n. XXXXXX – Cartório do XXX Ofício do Registro de Imóveis). O imóvel situa-se em área rural e as propriedades confrontantes são: do lado esquerdo a Chácara XXXXXXXXXX, LOCAL (de FULANO DE TAL), em frente Chácara XXXXXXXXXXX, LOCAL (de FULANO DE TAL), do lado direito Chácara XXXXXXXXX, LOCAL (de FULANO DE TAL) e aos fundos a XXXXXXX, LOCAL (de FULANO DE TAL). 13 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Assim, os autores fixaram moradia no local, bem como tornaram a terra produtiva, vez que desenvolveram atividade de pecuária, entre outras. Como se vê, desde... até a presente data (aproximadamente XX anos), os autores agiram como se fossem os próprios donos do local, exercendo alguns dos poderes inerentes à pro- priedade (usar/gozar), eis que durante todo esse lapso temporal cuidaram da terra, planta- ram e criaram animais, tornando-a produtiva, além de fazerem do local a moradia habitual. Por outro lado, cumpre ressaltar que, durante todo esse tempo em que ocuparam o local, não foram procurados por quem quer que fosse reclamando acerca da propriedade ou posse do imóvel. Ao contrário, durante todos esses anos, exerceram posse mansa e pacífica. Ocorre que, conforme dito, os autores têm a posse de referido imóvel há mais de XX anos, fazendo do local a moradia deles, tornando a terra produtiva e, durante todo esse perí- odo, exerceram posse mansa e pacífica, sem nenhuma oposição e de forma ininterrupta. Enfim, demonstrando que possuíam o animus domini do imóvel, e que o tinham como seu, a ensejar a pretensão de usucapião. Acrescente-se, ainda, que os autores/possuidores não são proprietários de nenhum outro imóvel urbano ou rural. Demais disso, não se trata de posse clandestina, violenta ou precária. Preenchem, pois, todos os requisitos exigidos no artigo 191 da Constituição Federal e artigo 1239 do Código Civil para adquirirem referida propriedade mediante usucapião. Em relação ao tópico endereçamento, há que se observar a regra do artigo 47 do Código de Processo Civil, que estabelece a competência do foro do imóvel para a propositura de ações fundadas em direitos reais. Em seguida, cumpre aferir acerca da eventual existência de questões preliminares e prejudiciais. A título de exemplo, algumas questões preliminares que podem surgir: COMPETÊNCIA(situações de competência concorrente, como no caso do artigo 60 do CPC); GRATUIDADE DE JUSTIÇA (lembrar que a peça é para um assistido da Defensoria Pública); LEGITIMI- DADE DO SUBSTITUTO PROCESSUAL (no caso da usucapião especial urbana coletiva). Quanto à gratuidade de justiça e a usucapião especial urbana, há que se destacar o art. 12, § 2º, que determina a gratuidade de justiça para todos. Segundo a jurisprudência do STJ (REsp: 1517822 SP 2014), esse dispositivo de lei trata de uma presunção relativa de hipos- suficiência. Com relação aos fatos constitutivos do direito do autor (DOS FATOS), esses devem estar alinhados aos requisitos legais ou constitucionais de determinada forma de usucapião, a saber: tipo da posse, tempo da posse sem interrupção ou oposição, e outros elementos espe- cífico da modalidade de usucapião a ser tratada. 14 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Vamos a um resumo dos fatos constitutivos do direito do autor: MODALIDADE TEMPO CARACTERÍSTICA DO IMÓVEL CARACTERÍSTICA DO POSSUIDOR CARACTERÍSTICA DA POSSE DETALHES IMPORTANTES DISPOSITIVO EXTRAORDINÁRIA 15 ANOS QUALQUER UM QUALQUER UM MÁ-FÉ OU BOA-FÉ NÃO HÁ. 1238 CCB ORDINÁRIA 10 ANOS QUALQUER UM QUALQUER UM BOA-FÉ JUSTO TÍTULO 1242 CCB TABULAR 5 ANOS Adquirido onerosamente com base no registro cancelado posteriormente. Ter estabelecido no imóvel a sua moradia ou realizado investi- mentos de interesse social ou econômico BOA-FÉ NÃO HÁ. 1242, parágrafo único, CCB ESPECIAL RURAL 5 ANOS RURAL DE ATÉ 50ha NÃO É PROPRIE- TÁRIO DE OUTRO IMÓVEL URBANO OU RURAL MÁ-FÉ OU BOA-FÉ POSSUIDOR TORNA A TERRA PRODUTIVA E TEM NELA SUA MORADIA 191 CF e 1239 CCB ESPECIAL URBANA 5 ANOS URBANO DE ATÉ 250 m² NÃO É PROPRIE- TÁRIO DE OUTRO IMÓVEL URBANO OU RURAL MÁ-FÉ OU BOA-FÉ POSSUIDOR TEM NELA SUA MORADIA 183 CF; 1240 CCB e ART. 9º ESTATUTO DAS CIDADES ESPECIAL URBANA COLETIVA 5 ANOS URBANO CUJA ÁREA DIVIDIDA PELO N. DE POSSUIDORES NÃO SEJA SUPERIOR A 250 m² COLETIVIDADE. NÃO SÃO PROPRIETÁRIOS DE OUTROS IMÓVEIS URBANOS OU RURAIS MÁ-FÉ OU BOA-FÉ NÚCLEOS URBA- NOS INFORMAIS ART. 10 ESTATUTO DAS CIDADES RURAL COLETIVA 5 ANOS EXTENSA ÁREA RURAL CONSIDERÁVEL NÚMERO DE PESSOAS MÁ-FÉ OU BOA-FÉ POSSUIDORES NELA HOUVEREM REALIZADO, EM CONJUNTO OU SEPARADA- MENTE, OBRAS E SERVIÇOS CONSIDERA- DOS PELO JUIZ DE INTERESSE SOCIAL E ECONÔMICO RELEVANTE. 1228, § 4º, CCB FAMILIAR 2 ANOS URBANO DE ATÉ 250 m² CÔNJUGE OU COMPANHEIRO QUE TEVE O LAR A ABANDONADO PELO OUTRO CONSORTE. NÃO PROPRIETÁRIO DE OUTRO IMÓVEL. MÁ-FÉ OU BOA-FÉ O BEM USUCA- PIDO É APENAS A PARTE DO CÔNJUGE OU COMPANHEIRO QUE ABANDO- NOU O LAR. 1240-A CCB No tópico dos fundamentos jurídicos do pedido, há que se explanar sobre o fundamento legal/constitucional daquela modalidade de usucapião, conforme exposto na tabela acima. Vale lembrar que há também elementos de jurisprudência que devem ser destacados caso a situação peça, como no caso da soma de posse, de usucapião ordinária ou então sobre o que é considerado justo título, dentre outras situações de destaque jurisprudencial que podem ser apresentadas ao candidato. 15 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Segue exemplo: Assegura o artigo 191 da Constituição Federal que adquirirá a propriedade do imóvel, mediante usucapião especial rural, a situação fática que apresentar a junção de alguns ele- mentos fundamentais, quais sejam: Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cin- co anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hecta- res, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Da mesma forma, o artigo 1239 do Código Civil exige os seguintes requisitos: Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinquenta hec- tares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir- -lhe-á a propriedade. Em seguida, devem ser deduzidos os PEDIDOS de forma destacada, clara e concisa. Confira-se: Requer a procedência do pedido, para o fim de declarar a aquisição por usucapião do imóvel an- teriormente descrito pelo autor, bem como a transcrição da sentença no competente Cartório de Registro de Imóveis. É sempre importante, na inicial de usucapião, também pedir a transcrição da sentença no registro de imóveis, tendo em conta que, nos termos do artigo 1238 do Código Civil, disposi- tivo esse que é aplicável a todas as espécies de usucapião, a sentença declaratória da ação de usucapião serve como título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. No campo dos pedidos, também é necessário atentar no pedido de gratuidade de justiça, uma vez que os assistidos da Defensoria Pública são hipossuficientes econômicos, salvo alguns casos bastante específicos tratados nas legislações que regem a atuação das diver- sas defensorias estaduais e da DPU. Quanto aos pedidos, é importante que se peça a citação do réu e, por força do artigo 246, § 3º, do Código de Processo Civil, a citação dos proprietários dos imóveis lindeiros (limítrofes). Quando se tratar de usucapião especial coletivo urbano, o Estatuto da Cidade, em seu artigo 12, § 1º, determina que o Ministério Público deve ser intimado para intervir no feito. Nos demais casos, o Parquet deverá ser intimado para intervir no feito apenas nos casos em que sua atuação é ordinariamente reclamada por lei (interesse de incapaz, por exemplo). 16 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Por determinação expressa no artigo 259, I, do CPC, o autor de uma ação de usuca- pião deverá pedir também a publicação de edital para que eventuais terceiros interessados possam ser cientificados e exercer a intervenção de terceiros no feito, caso necessário para garantir eventuais direitos. Ainda que o Código de Processo Civil não trate do assunto, a jurisprudência vem enten- dendo, em razão de uma interpretação teleológica do artigo 216-A, § 3º, que trata da usu- capião administrativa, que persiste a necessidade de, na petição inicial, constar o pedido de intimação da União, do Estado e do Município por intermédio de seus representantes. O concorrente deverá, portanto, fazer constar na peça o pedido de intimação desses entes federativos para que digam se têm interesse na causa ou algo a opor. Ademais, como em toda petição exordial, deve constar o protesto por provas e o valor da causa, nos termos do artigo 291 do CPC. A doutrina, a exemplo de Daniel Amorim Assump- ção Neves, entende que “basta verificar o valor econômico do bem da vida material perse- guido e indicá-lo como valor da causa...” 1 No caso da ação de usucapião, o valor da causa será aquele indicado no enunciado como sendo o valor do imóvel. Há que se lembrar que o concorrente não pode “inventar” um valor da causa, sob pena de ser interpretado como sinal identificador. Caso o enunciado da questão não mencione o valor do imóvel, tal item deverá ser deixado em branco, valendo-se o candidato da fórmula “Dá-se à causa o valor de...”. Por fim, a apresentação do local e data e a assinatura da peça processual, evidente- mente, com as cautelas necessárias para a não identificação pessoal do candidato, situação que acarreta a eliminação sumária do concorrente. 1 Comentários ao Código de Processo Civil/coordenação de Angélica Arruda Alvim et al – 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 17 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS PASSO A PASSO DE UMA PETIÇÃO INICIAL CÍVEL Fábio Levino Passei na primeira fase, e agora??? O estudo para a segunda etapa do certame, também conhecida como fase subjetiva, é motivo degrande ansiedade e expectativa para os alunos. Nela, o examinador explora outras habilidades e conhecimentos do candidato, como o raciocínio jurídico, doutrinário, jurisprudencial, da legislação, o uso do vernáculo e escrita escorreita. Esses são os grandes desafios do candidato. Mas não é só isso! A tudo isso, acrescente-se a imperiosa necessi- dade de muita organização na hora da prova – hora H, pois será necessário muito equilíbrio emocional e técnica para ser objetivo e, ao mesmo tempo, profundo, já que o tempo sempre será curto. Nossa, professor!!! Pela introdução já bateu o desespero, acho que vou desistir! Caro(a) aluno(a), não se preocupe! A boa notícia é que você vai superar essa segunda fase com mais facilidade que a primeira. Mas como, professor? Primeiro, nós iremos te deixar muito bem preparado para enfrentar a banca examinadora na segunda fase, seja ela qual for. Ensinaremos técnicas e daremos dicas de como superar essa temida fase. Depois, você já demonstrou grande conhecimento jurídico ao superar milhares de candidatos na primeira fase, ou seja, você sabe, e sabe muito! Agora o mais importante é a continuidade do estudo, o equilíbrio emocional e um bom acompanhamento profissional por meio dos professores. Partindo dessas premissas, vamos tratar da elaboração da peça processual. Neste ponto, ao ler a situação concreta constante da prova, o mais importante é construir um ROTEIRO de forma ORGANIZADA, uma espécie de “ESQUELETO”, com os principais pontos que não podem ser esquecidos. Faça pequenas anotações com os tópicos que deverão ser enfrenta- dos. Tudo que o examinador escreve é importante. Portanto, não deixe passar nada e lem- bre-se: você não perderá pontos por escrever a mais, mas poderá perder valiosos pontos se deixar passar alguma questão relevante que o examinador irá cobrar no espelho! Assim, por exemplo, em uma Contestação, aponte todas as matérias de defesa que o texto do caso concreto sugerir (preliminar de incompetência, impugnação ao valor da causa, convenção de arbitragem etc.). Mesmo que a intenção do examinador seja a defesa de apenas duas dessas citadas, você não irá perder pontos ao apontar as três (isto é, desde que presentes no caso concreto). Todavia, ao deixar de destacar alguma dessas matérias de defesa, a qual a banca gostaria que fosse apontada, você perderá preciosos pontos. Partindo da premissa da necessidade dessa primeira organização, o primeiro ponto é nunca desagradar o examinador. Portanto, cuide da sua letra: ela necessariamente precisa ser legível. Do mesmo modo, não cometa erros básicos de português, como de concordân- cia verbal. Nunca extrapole as margens do espaço reservado para a escrita, nem exceda a 18 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS quantidade de linhas, porque o texto escrito além do limite máximo não será considerado. Seja sempre objetivo, responda de imediato ao que o examinador perguntou e, após, apro- funde no tema para demonstrar o seu raciocínio e conhecimento jurídico para o examinador. Feitas essas considerações, precisamos ter atenção ao que necessariamente deve constar na peça. Fundamentos constitucionais e legais são sempre necessários, bem como a citação de princípios e da jurisprudência, que são sempre importantes. Quanto à juris- prudência, basta citar o posicionamento da Corte, não havendo a necessidade de apontar o número do acórdão, salvo se o candidato tiver a absoluta certeza. As súmulas, por sua vez, caso citadas, deverão ter seu número destacado. Finalmente, a citação da doutrina é sempre um ingrediente a mais, demonstrando o conhecimento do candidato, mas nem sempre obrigatório. Agora, vamos tratar da elaboração de uma petição inicial cível. Em se tratando de uma petição inicial cível, o candidato deve ficar atento quanto aos requisitos da petição inicial previstos no artigo 319 do Código de Processo Civil. Além disso, não pode se esquecer do endereçamento correto (competência) e do rito (ordinário, especial – ex.: alimentos – ou sumaríssimo). A qualificação das partes deve se limitar aos dados que o examinador fornecer ao can- didato. Assim, se foi descrito que as partes são JOSÉ DA SILVA e MADALENA SILVA, você qualifica as partes somente com esses dados, não acrescente mais nada, como número de CPF ou RG, sob pena de sua peça ser identificada e, sob suspeita de fraude, você ser des- classificado. O nome da peça não é requisito da petição inicial, mas na prova é importante colocá-lo para deixá-la visualmente agradável ao examinador. Do mesmo modo, o funda- mento legal não é requisito da petição, mas é item obrigatório na elaboração da sua peça na prova, pois pode constar no espelho do examinador para pontuação. Finalmente, quanto aos fatos: geralmente, o examinador dispensa a sua descrição. Caso o examinador não dispense, você deve descrevê-los de maneira objetiva, para não parecer que o candidato está “enrolando” para preencher linhas. ENDEREÇAMENTO Ao juízo da _____ Vara....... COMPETÊNCIA CPC – arts. 42 a 64 PARTES Autor e Réu – Qualificação – CPC, art. 319, II, e §§ 1º e 2º. FUNDAMENTO LEGAL DA PEÇA Importante colocar CPC – ARTS. 319, 185 etc. DOS FATOS Geralmente o examinador dispensa a descrição dos fatos. Caso o examinador não dispense, descrever os fatos de maneira objetiva, para não parecer que o candidato está enrolando para preencher linhas. Tabela 1. 19 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Atente sempre no requisito da justiça gratuita, notadamente se você estiver fazendo prova para defensoria pública, e não deixe de citar o art. 98 do CPC e da Lei n. 1060/1950. O fundamento jurídico para o seu pedido é a parte mais densa e o maior conteúdo da sua peça processual. É nele que você irá defender a sua tese, demonstrar o seu conheci- mento e raciocínio jurídico, apontar jurisprudência, súmulas etc. Nessa parte, leia o comando da questão mais de uma vez e preste muita atenção em todos os detalhes. Sublinhe e faça anotações sobre tudo o que o examinador citar, para você não esquecer e deixar de citar! O fundamento legal é sempre importante. Desse modo, cite sempre os artigos de lei que considerar pertinentes ao caso. Nesse caso, não há necessidade de descrever o conteúdo, a redação da lei, bastando citar o respectivo dispositivo legal. A tutela provisória é sempre um tópico presente nas petições iniciais. Portanto, verifique se não é a hipótese de fazer o respectivo pedido, seja de tutela antecipada, cautelar, antece- dente ou de evidência. Do mesmo modo, é importante requerer, caso possível, o pedido de julgamento antecipado parcial de mérito. PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA ART. 98 CPC FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO (parte mais densa e o maior conteúdo da sua peça processual) Relação, causa e consequência Relação: posse de determinado imóvel Causa: esbulho na posse do seu imóvel Consequência: reintegração na posse do imóvel FUNDAMENTO LEGAL Colocar sempre que possível. Os artigos de lei. PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA O examinador vai indicar se é hipótese ou não de se pedir tutela provisória. Verificar qual a tutela provisória cabível – CPC, arts. 294 a 311. JULGAMENTO ANTECIPADO PARCIAL DE MÉRITO Verificar se é hipótese dos arts. 355 e 356 do CPC. Tabela 2. Agora chegamos a um tópico extremamente importante e que muitos candidatos erram: o pedido. No pedido, o candidato já está cansado, acaba “relaxando” e, por isso, não raras vezes, se esquece de alguns itens. O pedido, portanto, nada mais é do que a repetição de tudo o que foi relatado nos fundamentos jurídicos e nos tópicos preliminares, acrescido dos denominados pedidos implícitos (juros, correção monetária, honorários advocatícios), inversão do ônus da prova, se for o caso, dentre outros. Temos ainda o valor da causa (CPC, art. 292). Aqui temos uma observação muito impor- tante. Toda causa tem um valor definido, nos termos do CPC. Todavia, o candidato somentedeverá indicar o valor correto da causa se assim o examinador requerer. Caso contrário, ou seja, caso o examinador não aponte, não requeira o valor, você somente deverá escrever “valor da causa” e a hipótese da lei. Ex.: tratando-se de ação de alimentos, caso o examina- 20 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS dor não exija o valor da causa, no tópico valor da causa o candidato pode escrever: Dar-se-á causa o valor de 12 vezes o valor mensal dos alimentos (CPC, art. 292, III), sem a possibili- dade de indicação da peça. Finalmente, temos o fechamento da peça, com a indicação do local, data e assinatura. Mais uma vez, não identifique a peça, sob pena de ser desclassificado. Escreva somente os termos “LOCAL, DATA e ASSINATURA”. PEDIDOS E REQUERIMENTOS a) Justiça gratuita; b) Concessão de tutela provisória; c) Citação do réu para audiência de conciliação ou de mediação; d) e/ou opção de dispensa da audiência de conciliação ou mediação (caso em que será pedida a citação para apresentar contestação); e) Julgamento antecipado parcial de mérito; f) Procedência do pedido; g) Produção de prova e inversão da prova; h) Incidência de multa*, juros, correção monetária**; i) Condenação em honorários de sucumbência**; (CPC, art. 85 e seguintes) Valor da causa Toda causa tem um valor – CPC, art. 292 Indicação de local, data e “assinatura” Não escrever nada que possa identificar a assinatura. Assim, colocar apenas o termo LOCAL, DATA E “DEFENSOR(A) PÚBLICO(A)” Tabela 3. Importante para a petição (nem sempre obrigatório) Jurisprudência Citar o entendimento jurisprudencial dominante. Não há necessidade do número do acórdão. Somente indi- car o número se tiver absoluta certeza. Súmula Citar o número da súmula referente ao caso concreto. Enunciados da doutrina. Ex.: FPPC Somente citar os enunciados de que tiver certeza. Não é obrigatório. Apenas demonstra o grau de conheci- mento do candidato. Demonstrar excelente raciocínio jurídico e coerência nas fundamentações. Tabela 4. Feitas todas essas considerações, vamos fazer agora um caso concreto. (QUESTÃO ADAPTADA) João é proprietário de uma pequena casa situada na cidade Feira de Santana, na Bahia, residindo no imóvel há cerca de 8 anos, em terreno constituído pela acessão de uma casa e por um pequeno pomar de laranjas e jardins. Pouco antes de iniciar obras de reforma no 21 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS imóvel, João precisou fazer uma viagem para Minas Gerais, a fim de prestar trabalho tempo- rário na prefeitura de Belo Horizonte. João pediu para que o casal vizinho, Carlos e Doralice, que moravam de aluguel, “olhassem” o imóvel no período. Ao retornar da viagem, João encontrou o imóvel ocupado justamente por Carlos e Dora- lice, que nele ingressaram para fixar moradia, acreditando que João não retornaria a Feira de Santana. No período, Carlos e Doralice danificaram o telhado do imóvel ao tentar buscar o gato de estimação, o que, devido às fortes chuvas que caíram sobre a cidade, provocou graves infiltrações no imóvel, gerando um dano estimado em R$ 30.000,00 (trinta mil reais). Além disso, os ocupantes vêm colhendo e vendendo boa parte da produção de laranjas do pomar, causando um prejuízo estimado em R$ 3.000,00 (três mil reais). Finalmente, Carlos e Doralice já estavam finalizando a construção de uma bela piscina e churrasqueira. Em 15 dias após tomar ciência do ocorrido, João procurou a Defensoria Pública para defender os seus interesses. Na qualidade de Defensor Público, elabore a peça processual cabível para a retomada do imóvel e a reparação dos danos sofridos no bem. PEÇA: AO JUÍZO DA _______ VARA CÍVEL DA COMARCA DE FEIRA DE SANTANA/BA JOÃO (qualificação que o examinador fornecer) vem respeitosamente à presença de V. Exa., com fulcro no art. 319 e 560 do CPC e 1210 do Código Civil, por intermédio da Defen- soria Pública do (Estado tal), nos termos do artigo 185 e seguintes do CPC e da Lei Comple- mentar 80/1994, ajuizar a presente AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE Em desfavor de CARLOS e DORALICE (qualificação que o examinador fornecer), pelos fatos e fundamentos de direito a seguir aduzidos. DOS FATOS O autor é proprietário do bem objeto da lide há, aproximadamente, 08 (oito) anos e recen- temente viajou para a cidade de Belo Horizonte para prestar serviço temporário na prefeitura do respectivo município, deixando a residência aos cuidados de Carlos e Doralice, ora réus. Todavia, ao retornar, verificou-se que os réus, de forma clandestina e sorrateira, apossaram- -se indevidamente do imóvel, além de causar danos materiais no bem e vender o pomar de laranjas do autor. 22 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS DA CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA De início, as partes autoras declaram-se pobres, na acepção jurídica do termo, não podendo arcar com as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios, fazendo jus à GRATUIDADE DE JUSTIÇA, nos termos do artigo 5º, inciso LXXIV, da Consti- tuição Federal e do artigo 98, § 1º, do Código de Processo Civil. DA COMPETÊNCIA A competência da presente ação é de um dos juízos das varas cíveis da Comarca de Feira de Santana, considerando a competência absoluta (funcional) do foro de situação do imóvel para a ação possessória imobiliária, nos termos do que dispõe o artigo 41, § 2º, do CPC. DA CONCESSÃO DE LIMINAR Inicialmente, tendo em vista que o esbulho ocorreu a menos de ano e dia, aproximada- mente 15 (quinze) dias, o autor pugna pelo deferimento liminar de reintegração de posse, inaudita altera pars, nos termos do que dispõe os artigos 558 e 562 do Código de Pro- cesso Civil. Com efeito, o autor reside no imóvel esbulhado e apenas se ausentou temporariamente para fins trabalhistas no município de Belo Horizonte. Desse modo, pugna pela concessão da medida antecipatória de reintegração de posse, uma vez demonstrada, de plano, a prova da posse anterior, do esbulho e da respectiva data, e a perda da posse, nos termos dos artigos 561 e 562 do CPC. Destarte, a rápida solução do litígio é medida necessária, para a preservação do bem que está se deteriorando (tutela inibitória), assim como para a aplicação da atividade satisfativa efetiva do direito de posse do autor, à luz do artigo 4º do CPC. DO MÉRITO Conforme já descrito nos autos, a posse exercida pelos réus é clandestina e, portanto, injusta, pois fundada na violação e no abuso de confiança depositada em ambos pelo autor (CC, art. 1.200). Do mesmo modo, os réus agiram de má-fé, pois tinham pleno conhecimento de que a ausência do autor no imóvel era temporária. (DISCORRER A FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA) DA REPARAÇÃO DE DANOS O esbulho possessório praticado pelos réus resultou, ainda, em diversos outros danos, como a quebra do telhado, que teve por resultado a infiltração e deterioração das paredes do imóvel, cujo prejuízo resultou no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais). 23 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Assim, devem os réus reparar os danos causados no imóvel, nos termos que dispõem os arts 1.216 e 1.218 do CC. Ademais, indevidamente os réus venderam parte do pomar de laranjas do autor, enri- quecendo-se de forma ilícita e indevida, causando, mais uma vez, danos que merecem ser reparados. Finalmente, no que tange à piscina e à churrasqueira realizadas pelos réus, não há que se falar em indenização ou direito de retenção, por se tratar de benfeitorias voluptuárias, construídas de má-fé e sem autorização do autor. DOS PEDIDOS a) A concessão dos benefícios da assistência judiciária integral e gratuita, nos termos do art. 98 do Código de Processo Civil; b) a concessão de medida liminar, inaudita altera pars, para reintegrar o autor na posse do imóvel, por se tratar de esbulho de menos de ano e dia; c) a citação dos réus, para comparecerem à audiênciade conciliação/mediação; d) a procedência total dos pedidos, para reintegrar o autor na posse do imóvel; e) condenar os réus à reparação dos danos causados no imóvel, bem como às perdas e danos em função da venda do pomar, acrescidos de juros e correção monetária. f) a condenação dos réus nas custas e honorários advocatícios, no valor de 20% sobre o valor da causa. Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos. Atribui à causa o valor (VALOR DO IMÓVEL, ACRESCIDO DE DOZE PRESTAÇÕES MENSAIS DO VALOR PEDIDO A TÍTULO DE ALIMENTOS). LOCAL, DATA E ASSINATURA. 24 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS PASSO A PASSO DAS ALEGAÇÕES FINAIS CRIMINAIS Túlio Mendes O desafio quanto à elaboração e ao sucesso na fase de peça processual é, sobretudo, a organização. O tempo não é longo, sendo essencial concisão, técnica e densidade. Com relação a qualquer peça processual, ao analisar a situação concreta constante da prova, você deve construir um ROTEIRO de forma ORGANIZADA. Primeiramente, você deve separar a questão assinalando os tópicos centrais. Após, deve fazer perguntas sobre os tópicos processuais para notar se algo relacionado pode ser incluído na peça (pequenas anotações). Feita essa primeira organização, precisamos nos atentar no que necessariamente deve constar na peça. Não podem faltar, em hipótese alguma, os fundamentos constitucional e legal da peça processual, bem como das teses apresentadas, conceitos e a casuística juris- prudencial. Esses “ingredientes” são indispensáveis na sua peça! Não adianta, portanto, dis- correr e analisar longamente sobre fatos. Tudo deve ser enquadrado nessas perspectivas bem como na extensão (quantidade de linhas) definida na prova. Esses dois primeiros passos permitem a construção de um roteiro já com os tópicos a serem explorados quando da redação da peça processual, devendo, nesse momento, ser possível que você identifique qual a peça adequada a partir da análise dos aspectos processuais. Em se tratando da peça criminal, você deve se indagar se tem cabimento o procedimento especial do júri (se o crime abordado é doloso contra a vida). Não sendo, cabe indagar se o procedimento seria comum sumaríssimo (Juizados Especiais Criminais – crimes de menor potencial ofensivo – pena máxima igual ou inferior a 2 anos). Não sendo, perguntar-se se seria caso de procedimento comum sumário (crime com pena máxima maior que 2 e menor que 4 anos. Ex.: homicídio culposo; casos de infração de menor potencial ofensivo em que o acusado é citado por edital etc.). E, por fim, residualmente, não se submetendo aos mencio- nados procedimentos, deve analisar a questão à luz do procedimento comum ordinário (pena máxima igual ou superior a 4 anos). Nesse ambiente, vale lembrar a cronologia envolvendo: INQUÉRITO POLICIAL – INICIAL ACUSATÓRIA – (denúncia ou queixa-crime) – JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE – RESPOSTA À ACUSAÇÃO (inépcia da acusação/absolvição sumária/coisa julgada/oferecimento de suspensão condicional do processo etc.) – RECEBI- MENTO DA DENÚNCIA – INSTRUÇÃO – MUTATIO LIBELLI (casos de necessidade de adi- tamento da acusação – art. 384 CPP) – ALEGAÇÕES FINAIS ORAIS (regra) – SENTENÇA – APELAÇÃO 25 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Em seguida, cabe analisar, sob a teoria processual, quais questões entre aquelas assi- naladas no enunciado da questão são pertinentes e benéficas ao réu e, assim, organizar os tópicos identificados sob um “roteiro processual” (esqueleto da peça). Agora, especificamente falando de alegações finais criminais, devemos sempre preser- var, ao longo da construção da peça, a finalidade da peça criminal, a saber, “ato postulatório das partes que precede a sentença final, no qual o Ministério Público, o querelante, o advo- gado do assistente e o defensor devem realizar minuciosa análise dos elementos probató- rios constantes dos autos do processo (e do inquérito policial, subsidiariamente), valendo-se da doutrina e da jurisprudência, com o objetivo de influenciar o convencimento do juiz no sentido da procedência ou improcedência de eventual pedido de condenação do acusado, fornecendo-lhe subsídios para a sentença” (RENATO BRASILEIRO). Ademais, a regra é ale- gações finais orais (art. 403 CPP), sendo que, em virtude da complexidade da causa ou do número de acusados, é possível que o juiz conceda às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. As alegações orais também poderão ser substituídas por memoriais caso tenha sido deferido o requerimento de diligências (CPP, art. 404). Na identificação de teses que propiciem uma situação mais vantajosa ao réu (isso pode indicar ser melhor determinada alegação ser postergada, por exemplo, para eventual apela- ção, quando já tiver transcorrido o prazo decadencial de representação), ação penal pública condicionada à representação. Ademais, a defesa, se manifesta após a acusação e a apresentação de alegações finais pela defesa, é obrigatória, sob pena de nulidade absoluta. Importante lembrar que alegações finais intempestivas são casos de mera irregularidade (alegações finais como ilustração da garantia da ampla defesa). Feitos esses registros, vamos à estrutura da peça de alegações finais criminais. 1 – SUMÁRIO DOS FATOS, DA ACUSAÇÃO E DA AÇÃO PENAL ATÉ AQUELE MOMENTO; 2 – EVENTUAIS QUESTÕES PRELIMINARES E PREJUDICIAIS; 3 – MÉRITO – TESES; 4 – PEDIDO; No que tange ao sumário dos fatos, da acusação e da ação penal, até o momento pro- cessual afeto às alegações finais, é imprescindível a apresentação da qualificação do réu, do fundamento legal e constitucional da peça processual, uma boa apresentação da peça (orga- nização) e relato dos fatos sob a perspectiva da persecução penal (não deve ser relatado de acordo com a tese de defesa). 26 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Segue um exemplo: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ______ VARA CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA ou COMARCA DE ____ Processo nº ___________ FULANO DE TAL E TAL, já devidamente qualificado, vem, por intermédio da Defensoria Pública do Distrito Federal (LC nº 80/1994, artigos 4º, incisos I e V, e 89, inc. XI), com fulcro no § 3º do artigo 403 do Código de Processo Penal, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas: I – BREVE RELATO DOS FATOS O réu foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 171, caput, do Código Penal, porque, supostamente, em 17/11/2020, por volta das 10h30, via internet, em tal cidade-DF, de forma livre e consciente, obteve para si vantagem ilícita consistente em mercadorias no valor de R$ 820,00 (oitocentos e vinte reais), em prejuízo de BELTRANO DE TAL, mantendo este em erro mediante fraude. Ademais, consta que, em 20/11/2020, entre 17h00 e 18h00, no Condomínio tal lote tal, nesta cidade, policiais, em diligência na residência do denunciado, em virtude do suposto crime de estelionato, encontraram, no interior do guarda-roupa do denunciado, duas munições de calibre 22. Foi denunciado, assim, também pelo crime prescrito no art. 12 do Estatuto de Desarmamento. Finda a instrução criminal, o órgão acusatório, em alegações finais, requereu a condenação da acusada nos termos da denúncia. Vieram os autos à Defensoria Pública para apresentação de alegações finais, em memoriais. Com relação ao segundo tópico, cumpre aferir acerca da eventual existência de questões preliminares e prejudiciais. Nesse ponto, vale o registro de que, a depender da cronologia processual, determinadas questões podem, tecnicamente, não ser passíveis de menção nas alegações finais, por terem recorribilidade imediata – por exemplo, cabe RESE da decisão que determinou a suspensão do processo em razão do reconhecimento de questão prejudi- cial heterogênea (estado civil das pessoas) (artigos 92 e 93 do CPP). 27 www.grancursosonline.com.brDefensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS A título de exemplo de questões preliminares que podem surgir: COMPETÊNCIA (situ- ações de modificação de competência); PRESSUPOSTOS – CONDIÇÕES DE PROCEDI- BILIDADE; NULIDADES PROCESSUAIS – RELATIVAS ou ABSOLUTAS (atenção: sendo nulidade relativa ocorrida durante o curso da instrução probatória, além da comprovação do prejuízo, a defesa deve suscitá-la em alegações orais (ou memoriais), sob pena de preclusão – CPP, art. 571, II); EVENTUAL VIOLAÇÃO A GARANTIAS PROCESSUAIS; (ex.: PROVA ILEGAL; ANÁLISE DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO (sistema acusatório; direito ao silêncio; oralidade; aspectos críticos sobre o interrogatório por videoconferência etc.; direito de entre- vista prévia e reservada com o defensor; inversão da ordem das testemunhas etc.). Em relação ao mérito, primeiramente, deve ser analisada acerca da eventual existên- cia de causas de extinção da punibilidade, para, após, ser construído o roteiro da peça em relação ao mérito propriamente dito. Na análise do mérito, devem ser organizadas as teses defensivas a partir da MATERIALIDADE do crime e/ou da AUTORIA. A MATERIALIDADE refere-se à existência fática do crime. Nesse sentido, é relevante analisar se a questão envolve crimes que deixam vestígios, sendo, para tanto, essencial a análise dos laudos (pertinência para a tese de CRIME IMPOSSÍVEL; para o afastamento de circunstâncias majorantes ou qualificadoras); princípio da insignificância (afasta a tipicidade material e, assim, o fato típico) etc. Igualmente, a análise mostra-se relevante em CRIMES CULPOSOS, pois devem ser apresentados elementos relativos à ocorrência, ou não, de vio- lação ao dever objetivo de cuidado. As teses, portanto, são apresentadas sob a perspectiva da inexistência da MATERIALIDADE. A AUTORIA refere-se à análise e apresentação de fundamentos idôneos para o fim de refutar a demonstração probatória de que o réu incorreu em conduta criminosa (fatos). Para tanto, podem ser apresentadas teses jurídicas associadas ao conceito tripartido de crime e outros institutos, à análise do nexo de causalidade etc. As teses são apresentadas sob a perspectiva da ausência ou dúvida razoável em torno da AUTORIA. Inclusive, a análise do elemento subjetivo do tipo (dolo ou culpa), bem como eventual elemento subjetivo especial (finalidade especial de agir) (dolo específico), pode levar à tese de desclassificação do crime (atipicidade relativa). Nesse sentido, pode ser fundamentado que o sujeito não é autor de crime em razão da existência de EXCLUDENTES DO FATO TÍPICO (ex.: coação física irresistível; sonambu- lismo; erro de tipo essencial; descriminante putativa por erro de tipo (erro de tipo permissivo escusável que torna o fato atípico ou erro de tipo permissivo inescusável relevante para as situações de culpa imprópria); tentativa qualificada ou abandonada – desistência voluntá- ria e arrependimento eficaz); EXCLUDENTES DE ILICITUDE/JUSTIFICANTES (ex.: estado de necessidade; legítima defesa; exercício regular de direito; estrito cumprimento de dever legal; consentimento do ofendido); EXCLUDENTES DE CULPABILIDADE (ex.: inimputabili- dade pela idade; inimputabilidade atestada em laudo em incidente de insanidade mental com 28 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS imposição de medida de segurança (absolvição imprópria); erro de proibição direto (afasta a potencial consciência da ilicitude); descriminante putativa por erro de proibição/erro de proibição indireto/erro de permissão escusável (afasta a potencial consciência da ilicitude); causas de inexigibilidade de conduta diversa – coação moral irresistível; obediência hierár- quica; causas supralegais). Após, cabe analisar eventual CONCURSO DE AGENTES (teoria do domínio do fato; aparatos organizados de poder; cotejo com eventual caracterização de autoria mediata etc.), CONCURSO DE CRIMES e o EVENTUAL CABIMENTO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (essa questão pode surgir como pleito sucessivo). Segue exemplo: Acaso seja acolhido o pleito de desclassificação ou desqualificação da conduta de furto qualificado para furto simples, requer-se a remessa dos autos ao MP para oferecimento do benefício de suspensão condicional do processo. E, finalmente, deve ser deduzido o PEDIDO de forma destacada, clara e concisa. Identifi- car eventual PEDIDO PRINCIPAL (absolvição; desclassificação etc.) (Atenção para eventual PEDIDO SUCESSIVO como no exemplo do parágrafo anterior!), bem como PEDIDO SUBSI- DIÁRIO (geralmente, pelo princípio da eventualidade, abordar aspectos da pena). Confira: “Na remota hipótese de condenação, requer-se...” Nessa esfera, deve-se ter atenção em relação à análise da DOSIMETRIA DA PENA (sistema trifásico; arrependimento posterior; “privilégio” – causa de redução; tentativa etc.); DETRAÇÃO com eventual impacto na definição do REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA (análise da quantidade da pena + reincidência + circunstâncias judiciais); SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS e pleito de EVENTUAL REVOGAÇÃO DE PREVENTIVA COM A ADMISSÃO DO DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE. Por fim, temos a apresentação do local e data e a assinatura da peça processual, eviden- temente, com as cautelas necessárias para a não identificação pessoal do candidato, situa- ção que pode acarretar a sua eliminação. 29 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS MODELO DE PETIÇÃO INICIAL DE MEDICAMENTO Fabrício Rodrigues 1. INTRODUÇÃO Uma determinada pessoa procura a Defensoria Pública em busca de um medicamento para o tratamento de sua saúde. Como Defensor Público, o que você faria? Não raramente, o Defensor Público se depara com situações nas quais as pessoas neces- sitam de um serviço público de saúde: consulta, cirurgia e medicamento etc. Muitas vezes, é possível solucionar essas questões administrativamente. Porém, a ineficiência do sistema público de saúde, por vezes, resulta na necessidade de recorrer à judicialização da saúde. O direito à saúde está claramente previsto na Constituição Federal, conforme artigos 6º e 196 a 200. A Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal n. 8.080/1990) também é expressa ao afirmar, em seu artigo 6º, I, alínea d, que a assistência terapêutica integral está incluída entre as ações do Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, não há dúvidas de que o efetivo acesso ao direito à saúde é exigível pela via judicial. Tal situação se consolidou a partir da construção, na jurisprudência e na doutrina constitucional, de entendimento de que as prestações relativas a direitos sociais são direitos exigíveis na condição de direitos subjetivos, inclusive na esfera individual. A Judicialização da Saúde veio, portanto, ao encontro dos anseios de dar efetividade aos direitos sociais conquistados na nova ordem constitucional de 1988. Nesse sentido, os Tribunais Superiores, reiteradas vezes, confirmaram que o acesso à Justiça deve ser garantido, especialmente quando o tratamento demandado está previsto nas políticas públicas do SUS e não é fornecido por omissão do Poder Público. Além disso, prestação relacionada ao direito à saúde tem natureza solidária entre todos os entes, podendo se exigir o fornecimento do medicamento de qualquer uma das pessoas jurídicas. Dessa forma, o tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes federados. No que tange ao direito à saúde, o polo passivo pode ser composto por qualquer um deles, isolada ou conjuntamente. (STF. Plenário. RE 855178 ED/SE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 23/05/2019, Info 941). O STF exarou o entendimento de que demandas com pedido de medicamento não registrados na ANVISA devem ser intentadas contra a União, não sendo o caso do fármaco pleiteado. Portanto, as ações que demandem fornecimento de medicamentos semregistro na Anvisa deverão, necessariamente, ser propostas em face da União. (STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 22/05/2019, repercussão geral, Info 941). 30 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Esse texto visa apresentar o passo a passo da elaboração de uma petição inicial de medi- camento não padronizado, porém com registro na ANVISA. Nesse caso, há solidariedade no polo passivo da demanda, sendo possível ajuizar a ação por qualquer um deles, isolada ou conjuntamente. Em cada tópico, serão discutidos os principais pontos fáticos e jurídicos, abordando lei, doutrina e jurisprudência. Sejam bem-vindos, futuras Defensoras e Defensores Públicos! 2. ENDEREÇAMENTO Nos termos do art. 319, inciso I, do Código de Processo Civil de 2015, a petição inicial indicará o juízo a que é dirigida. Antes, utilizavam-se pronomes de tratamento para a elaboração da petição inicial. Toda- via, esse pensamento está superado. Fique atento ao enunciado da questão ou à lei de orga- nização judiciária do estado ou do Distrito Federal. Ao elaborar sua petição inicial, a primeira coisa a ser escrita e decidida é o endereçamento no cabeçalho da petição inicial, conforme exemplos abaixo: “AO EGRÉGIO JUÍZO DO _______ JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DO DIS- TRITO FEDERAL AO EGRÉGIO JUÍZO DA ____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA E DA SAÚDE PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL” 31 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS 3. QUALIFICAÇÃO DAS PARTES Outro ponto relevante na confecção da petição inicial, em observância ao disposto no art. 319, inciso II, do CPC/2015, é a qualificação. Deve apresentar os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu, conforme exemplo abaixo: “NOME, brasileiro, divorciado, aposentado, natural de XXXXX – YY, filho de Humiles de Tal e de Laura de Tal, nascido em XX/03/1943, titular do Documento de Identidade n. XXX.XXX SSP-DF e do CPF n. XXX.XXX.XXX-XX, residente e domiciliado na Quadra 00, Lote 00, casa 3-B, Ceilândia – DF, CEP: 12345-789, telefones: 9.999-9999 e 9.9999-9999, e-mail: nome@mai.com, vem à presença desse Juízo, por intermédio da DEFENSORIA PÚBLICA DO ___________________, propor AÇÃO DE CONHECIMENTO COM PEDIDO LIMINAR DE TUTELA DE URGÊNCIA em desfavor do FULANO DE TAL_______________, pessoa jurídica de direito privado/ público interno, inscrito no CPF/CNPJ sob o n. XXXXXXXXXXXXX, que deverá ser intimado e citado na pessoa do Procurador-Geral do XXXXXXXXXXX, que pode ser encontrado no endereço TAL, CEP 00000-000, telefone (xx) xxxx-xxxx, e-mail:xxxxx@xxx.com, pelas razões a seguir expostas.” 4. DIREITO DE ACESSO GRATUITO À JUSTIÇA: Um tópico fundamental da sua petição inicial é o pedido de gratuidade de justiça. A gra- tuidade de justiça (ou justiça gratuita) é a dispensa provisória da antecipação do pagamento das despesas judiciais ou extrajudiciais, necessárias ao pleno exercício dos direitos do hipos- suficiente. A dispensa do pagamento só deixará de ser provisória após esgotado o prazo quinquenal estabelecido pelo art. 98, § 3º, do Código de Processo Civil/2015, ocasião na qual as despesas processuais se tornarão definitivamente inexigíveis. Já a expressão assistência jurídica possui conotação bem mais ampla, alcançando toda e qualquer atividade assistencial concernente ou relacionada ao universo do Direito, ou seja, consiste no amparo prestado no campo jurídico, para além do Poder Judiciário, como, por exemplo, a orientação jurídica extraprocessual. 32 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS A redação pode ser igual à descrita abaixo: “A parte autora não possui condições de arcar com os custos financeiros do processo e os honorários advocatícios, em caso de eventual sucumbência, conforme declaração de hipos- suficiência anexa. Diante disso, pede a concessão dos benefícios da gratuidade judiciária, nos moldes preconi- zados pelo art. 98 do CPC.” 5. FUNDAMENTOS FÁTICOS E JURÍDICOS DA PRETENSÃO: Além do pedido e dos sujeitos, a petição inicial deve conter a exposição dos fatos e dos fundamentos jurídicos do pedido, que formam a causa de pedir (art. 319, inciso III, do CPC). Segue modelo de texto para essa parte fundamental da petição inicial: 5.1 O direito à assistência farmacêutica e os requisitos jurisprudenciais para o acesso aos medicamentos não padronizados. O direito de acesso à assistência farmacêutica decorre do direito à saúde previsto na Constituição Federal, conforme artigos 6º e 196 a 200. A Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal n. 8.080/1990) também é expressa ao afirmar, em seu artigo 6º, I, alínea d, que a assistência farmacêutica integra a assistência terapêutica integral. Atualmente, não há dúvidas de que o efetivo acesso ao direito à assistência farmacêutica é exigível pela via judicial. Tal situação se consolidou a partir da construção, na jurisprudên- cia e na doutrina constitucional, de entendimento de que as prestações relativas a direitos sociais são direitos exigíveis na condição de direitos subjetivos, inclusive na esfera individual. A Judicialização da Saúde veio, portanto, ao encontro dos anseios de dar efetividade aos direitos sociais conquistados na nova ordem constitucional de 1988. Nesse sentido, os Tribunais Superiores confirmaram, reiteradas vezes, que o acesso à Justiça deve ser garantido, inclusive, quando o tratamento demandado não está previsto nas políticas públicas do SUS. Exemplos paradigmáticos julgados no Supremo Tribunal Federal são a ADPF 45, a STA 175 e os REs 367.432-AgR, 543.397, 556.556 e 574.353. No mesmo sentido, se direciona o julgamento com Repercussão Geral no âmbito do STF – Recursos Extraordinários 566.471 e 657.718 – conforme se observa em todos os votos até o momento proferidos (Ministros Marco Aurélio, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso). Importante ressaltar que, no intuito de evitar que as demandas dessa natureza provo- quem qualquer prejuízo à organização do sistema público de saúde, foram construídos requi- sitos jurisprudenciais para a análise das demandas. A importância de consolidar tais critérios conduziu o Superior Tribunal de Justiça a afetar o tema para análise e fixação de tese com repercussão geral. A afetação se deu no julgamento do Recurso Especial n. 1.657.156/RJ (tema 106), que resultou na seguinte tese para fins do art. 1.036 do CPC: 33 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: (i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por mé- dico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; (ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito; (iii) existência de registro na ANVISA do medicamento. Diante da imposição legal prevista no artigo 1040, inciso III, do CPC, passamos a demons- trar que a presente demanda atende perfeita e integralmente os três requisitos previstos no acórdão paradigma. 5.2 Demonstração do cumprimento dos requisitos previstos na tese fixada no Resp 1.657.156/RJ (Tema 106 – Repercussão Geral): (i) Atendimento do requisito terapêutico Em primeiro lugar, a parte Autora junta laudo médico fundamentado e circunstanciado que comprova de forma consistente a imprescindibilidade e necessidade do medicamento pleiteado, bem como a ineficácia, para o seu caso, do tratamento ofertado pelo SUS. A parte Autora apresenta quadro clínico grave e delicado que está bem descrito em laudomédico de lavra da Dra. Fulana de Tal (CRM/XX YYYY), médica especialista em Alergia e Imunoterapia, que assim registrou: “TRANSCREVER A PARTE DO RELATÓRIO QUE MELHOR DESCREVE O QUADRO CLÍNICO” No mesmo relatório, Dra. Fulana de Tal (CRM/XX YYYY) relata a necessidade e/ou imprescindibilidade do tratamento com o medicamento FIRAZYR (ICATIBANTO), in verbis: “TRANSCREVER A PARTE DO RELATÓRIO QUE INDICA O TRATAMENTO COM O MEDICAMENTO NÃO PADRONIZADO E SUA NECESSIDADE/IMPRESCINDIBILIDADE” O laudo cuidadosamente confeccionado pela médica que acompanha a parte Autora des- taca, ainda, as razões que impossibilitam o tratamento de seu caso específico com o trata- mento ofertado como padrão pelo SUS. Novamente, transcrevemos o laudo: “TRANSCREVER A PARTE DO RELATÓRIO QUE REGISTRA A INEFICÁCIA OU FALHA DO(S) TRATAMENTOS DISPONÍVEIS NO SUS”. Assim, resta comprovada tanto a necessidade/imprescindibilidade do tratamento pleite- ado quanto a impossibilidade de substituição pelos medicamentos previstos nas listas ofi- ciais do SUS. (ii) Atendimento do requisito financeiro Em segundo lugar, a parte Autora relata e comprova sua incapacidade financeira. Para tanto, junta aos autos declaração de hipossuficiência acompanhada de provas dessa situa- ção de vulnerabilidade social e financeira. 34 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS No caso, a impossibilidade de custear o tratamento medicamentoso com recursos pró- prios é evidente, pois o medicamento ora pleiteado já seria considerado de custo elevado para cidadãos de renda média ou alta. Na situação da parte Autora – que ostenta a condição de insuficiência de recursos adotada no artigo 98 e seguintes do Código de Processo Civil –, o atendimento ao requisito de incapacidade financeira previsto na tese do acórdão para- digma é, de fato, evidente. (iii) Atendimento do requisito regulatório Em terceiro lugar, a parte Autora afirma e comprova documentalmente que o MEDICA- MENTO TAL é registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, instituição responsável pela regulação do setor de vigilância sanitária. O fármaco ora demandado tem registro válido e atual sob o número XXXXX, deferido pela ANVISA na data de xx/xx/xxxx. 5.3 Da Eficácia comprovada por Notas Técnicas de Medicina Baseada em Evidências O medicamento ora postulado, em que pese não ainda padronizado, já tem sua eficácia comprovada e uso corrente entre os especialistas. Nesse sentido, importante destacar que diversas notas técnicas já foram emitidas por NAT-Jus, notadamente NATJUS Nacional, com parecer favorável ao fornecimento dos referidos medicamentos para a doença que agrava a saúde da parte Autora, a saber: ANO NT TECNOLOGIA DIAGNÓSTICO/CID CONCLUSÃO NATS/NAT-JusResponsável 2019 254 Ocrelizumabe G35 – Esclerose múltipla Favorável Nat-Jus Nacional 2020 2145 Ocrelizumabe G35 – Esclerose múltipla Favorável Nat-Jus Nacional 2020 2582 Ocrelizumabe G35 – Esclerose múltipla Favorável Nat-Jus Nacional As Notas Técnicas acima referidas seguem em anexo à inicial e são prova cabal de que a demanda ora apresentada atende à diretriz geral de atuação do Poder Judiciário de valori- zação da Medicina Baseada em Evidências como guia para a Judicialização da Saúde. 5.4 Demonstração da necessidade da prestação jurisdicional imediata: frustração das tratativas administrativas e URGÊNCIA do tratamento A busca da tutela jurisdicional foi precedida de tentativa formal e adequada de resolução administrativa das necessidades terapêuticas da parte Autora. A desejada solução extrajudi- cial, contudo, restou frustrada por falta de atendimento de tal pleito pela gestão do SUS, sob a responsabilidade do Réu Distrito Federal/Estado/União. No caso, foi realizada requisição formal à Diretoria de Assistência Farmacêutica (DIASF) para acesso ao tratamento mediante Ofício no XXXX/2018. 35 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS Em resposta à demanda administrativa, a DIASF negou acesso ao tratamento pleiteado sob o argumento de que o medicamento não é padronizado pelo SUS. Assim, frustrada a tentativa de resolução pela via administrativa, o acesso à Jurisdição se faz necessário e essencial. Ocorre que, além de necessário, o controle jurisdicional é, também, urgente. Com efeito, há acentuada urgência no acesso ao tratamento pleiteado, pois a demora no início da terapia medicamentosa expõe a saúde da parte Autora a sérios riscos, conforme bem relatou a médica prescritora, Dra. Fulana de Tal (CRM/XX YYYY): “TRANSCREVER A PARTE DO RELATÓRIO QUE REGISTRA A URGÊNCIA DO CASO E AS CONSEQUÊNCIAS PARA O PACIENTE NO CASO DE DEMORA PARA OBTER O TRATAMENTO”. Assim, a situação se amolda perfeitamente à hipótese do art. 300 do CPC/2015, que prevê a concessão da tutela de urgência quando houver elementos que evidenciem a proba- bilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. No presente caso, a probabilidade do direito está respaldada pelas disposições constitu- cionais e legais que afirmam a responsabilidade do DISTRITO FEDERAL/ESTADO/UNIÃO em prover a assistência farmacêutica que a parte Autora necessita. O risco de dano grave e irreparável à parte autora está demonstrado no relatório médico acima transcrito, que aponta a necessidade de obtenção do tratamento ora postulado, a urgência do caso e os riscos de agravamento de seu quadro clínico, decorrentes da demora no atendimento da parte. 6 DOS PEDIDOS: Com essas considerações, pede-se: a) a concessão dos benefícios da gratuidade judiciária, pois a parte autora não possui condições de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo de seu sustento próprio e familiar, em caso de sucumbência; b) a concessão da tutela de urgência para que o DISTRITO FEDERAL/ESTADO/UNIÃO seja condenado a fornecer à parte autora, no prazo máximo de 10 (dez) dias e enquanto per- durar a indicação médica (por prazo indeterminado), o(s) medicamento(s) NOME DO MEDI- CAMENTO XX ml. sob a seguinte posologia: XX cápsulas ao dia, nos termos da prescrição médica anexa; c) a realização de diligência de intimação para cumprimento da tutela de urgência, inclu- sive em horário especial, nos termos do art. 212, § 1º, do CPC/2015; d) a designação de audiência de conciliação, nos termos do art. 319, inc. VII, do CPC/2015; e) a citação do requerido, na pessoa do seu representante legal, para que compareça à audiência de conciliação, ou, na impossibilidade desta, para que apresente resposta no prazo legal, sob pena de incidência dos efeitos da revelia; 36 www.grancursosonline.com.br Defensoria Pública O PASSO A PASSO DAS PEÇAS PROCESSUAIS f) a intimação do representante do Ministério Público; g) a prolatação de sentença que confirme a tutela de urgência (ou que a conceda, caso não tenha sido concedida initio litis), para que o DISTRITO FEDERAL/ESTADO/UNIÃO seja condenado a fornecer à parte autora, no prazo máximo de 10 (dez) dias e enquanto perdurar a indicação médica (por prazo indeterminado), o(s) medicamento(s) NOME DO MEDICA- MENTO, nos termos da prescrição médica atualizada que for emitida pela médica assistente da parte Autora; h) a condenação do DISTRITO FEDERAL/ESTADO ao pagamento dos encargos sucum- benciais em prol do Fundo de Apoio e Aparelhamento da Defensoria Pública do DF/ESTADO/ UNIÃO, em conformidade com o decidido na Ação Rescisória n. 1937, julgada pelo STF. 7 PEDIDO DE PRODUÇÃO DE PROVAS: A parte autora deve indicar os meios de prova de que irá se valer para comprovar as suas alegações, nos termos do art. 319, inciso IV, do CPC/2015, consoante texto abaixo: “A parte requerente protesta provar o alegado por todos os meios juridicamente admitidos, a serem oportunamente especificados.” 8 INDICAÇÃO DO VALOR DA CAUSA: O valor da causa deve observar o disposto no art. 292 do CPC/2015, conforme exem- plo a seguir: “Atribui-se à causa o valor de R$ XXXX,XX (descrever o valor
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