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RESUMO DO LIVRO ‘BIOÉTICA PARA PROFISSIONAIS DA SAÚDE’ O livro Bioética para Profissionais da Saúde apresenta, com uma linguagem simplificada, as questões da bioética para os profissionais de saúde. Ao longo das páginas somos instigados a refletir sobre diversas situações que se originam no cotidiano dos sistemas de saúde e nas pesquisas em saúde, ampliando as fronteiras do pensamento sobre situações de dúvidas como as provocadas pelo aborto, por exemplo, em que as crenças religiosas dos profissionais de saúde costumam se sobrepor aos deveres de assistência em saúde. No entanto, vale destacar inicialmente que há certa redução da categoria dos profissionais de saúde aos médicos por parte dos autores. Mas a aposta da obra é que a reflexão bioética deve ser exercitada por todos os profissionais de saúde e não apenas por aqueles que venham a se definir como "bioeticistas". Nesse contexto, o livro é, portanto, uma ferramenta de suporte para o ensino da bioética a esse público tão diverso, tornando-se uma peça útil não apenas para os que ainda estão em formação, mas também para professores, preceptores em hospitais ou membros de comitês disciplinares. Neste presente resumo irá ser abordado, em um apanhado geral, os principais assuntos apresentados na obra. No primeiro capítulo, é tratado o histórico e alguns conceitos da bioética. Com relação ao histórico, os autores apontam que foi a partir de Hipócrates, considerado “Pai da Medicina”, que se reconhece a gênese da ética médica. A ética médica focaliza suas análises na atuação dos profissionais de saúde e baseia-se em valores e princípios. Ademais, a bioética não diz respeito apenas às relações e aos fatos referentes à prática médica ou ao cuidado da saúde: seu objeto é a saúde em uma concepção bem mais ampla, e inclui não apenas a preocupação com humanos, mas com todos os seres não humanos e o ambiente no qual vivem. Portanto, a bioética se preocupa em analisar os argumentos morais a favor e contra determinadas práticas humanas que afetam a qualidade de vida e o bem-estar dos humanos e dos outros seres vivos e a qualidade dos seus ambientes, e em tomar decisões baseadas nas análises anteriores. Considerando a construção histórica desse conceito, dois marcos foram fundamentais para a concretização do mesmo. O primeiro seria a reflexão do oncologista estadunidense Van Ressenlaer Potter, que em 1970 propôs o nome e a concebeu como a ‘ponte’ entre a ciência da natureza e as humanidades; o segundo, a fundação, pelo ginecologista e obstetra holandês radicado nos Estados Unidos André Hellegers, do Kennedy Institute of Ethics, vinculado à Georgetown University, na cidade de Washington nos Estados Unidos, no mesmo ano. Por conseguinte, a bioética originou reflexões no âmbito das preocupações com as repercussões das pesquisas envolvendo seres humanos. O desenvolvimento das ciências biomédicas apoiou-se em experiências científicas, muitas delas foram desenvolvendo usando humanos de cobaia e até o séc. XIX não havia normas que disciplinassem essas pesquisas, usando os próprios pacientes como sujeito de pesquisa. Felizmente, muitas mudanças aconteceram ao longos dos anos e atualmente existem novas definições do que é aceitável em nome do avanço científico, tendo como principal regra expor a pessoa que se interessa em participar de algum tipo de estudo quais são os benefícios, malefícios, em que consiste a pesquisa e quais são os objetivos, dando a ela a o direito de poder decidir entre participar ou não. Vale destacar também que, nos últimos anos, a pesquisa em animais irracionais também vem sendo questionada sob a visão quanto ao sofrimentos e não beneficiamento destes. No seguinte capítulo é abordado a bioética e suas teorias. A partir do caso do Dr. Arnold, que precisou escolher entre dois pacientes para realizar o procedimento cirúrgico mais seguro, expõe-se algumas correntes da bioética: o principalismo, o modelo utilitarista, ética do cuidar e bioética da proteção. Em relação ao principalismo, foi a primeira corrente da bioética a se estruturar e está sustentado em princípios morais fundamentais: a beneficência, a não maleficência, o respeito à autonomia e a justiça. O respeito à autonomia no cuidado da saúde ou na pesquisa significa que mostrar a pessoa todas as circunstâncias, seja na pesquisa ou no cuidado da saúde, de forma clara e transparente dando a ela o direito de escolher por vontade própria o que será melhor para si mesmo. O princípio da não maleficência é a obrigação de não afligir qualquer dano à saúde de alguém de forma intencional. que significa dano para o paciente moral, ou seja, aquele que sofre a ação. Já o princípio da beneficência implica ações positivas, evitando ações prejudiciais ao usuário. Por último, o princípio da justiça, aplicado como sendo a expressão da justiça distributiva, entende-se pela a distribuição justa, equitativa e apropriada na sociedade, de acordo com normas que estruturam os termos da cooperação social. Em seguida, segundo a corrente do modelo utilitarista o que faz uma ação ser correta ou errada são as suas consequências, sendo a mais importante haver o aumento ou diminuição da quantidade de bem-estar dos afetados pela ação, sendo considerada como a melhor ação aquela que gere o máximo de bem-estar. O modelo utilitarista baseia-se em três conceitos constituintes principais: consequencialismo (pensar nas consequências possíveis do ato); máximo de bem-estar (que a consequência seja ofereça o máximo de beneficência para o sujeito) e o agregacionismo (pressupõe o valor da ‘soma’ dos ‘bens’). Os autores destacam que essa proposta utilitarista apresenta grande dificuldade em ser implantada, visto que o bem-estar deve ser proporcionado de modo imparcial e isento de qualquer influência, porém, é sabido que na prática torna-se duvidoso que seja realmente possível se concretizar. Em relação a corrente do princípio da ética do cuidar, é proposto que se tenha a ideia de um cuidado emancipadora, compreendo as diferenças morais e respeitando a autonomia de quem cuida e de quem é cuidado e a existência humana. Além disso, a ética do cuidar pressupõe relações humanas no interior das equipes de saúde que respeitem as especificidades técnicas de cada profissional e reflitam abertamente sobre as questões morais. A última corrente é a bioética da proteção, proposta originalmente na América Latina por Fermin Roland Schramm e Miguel Kottow (2001), traz a marca de uma bioética que nasce em países periféricos, com uma população empobrecida, com poucos recursos. Questiona especialmente o principialismo quando aqueles que o aplicam carregam nas tintas no princípio do respeito à autonomia, propondo o entendimento de que o contexto socioeconômico no qual se situa a população, marcado por grandes desigualdades, precisa ser levado em conta nas decisões de saúde pública nas quais a proteção da população mais vulneráveldeve ser a obrigação moral que orienta as ações. No terceiro capítulo, Bioética e a Tomada de Decisão: entre a Clínica e a Saúde Pública, os autores apresentam uma abordagem prática dos problemas morais na clínica, após algumas considerações relativas ao método e ao argumento em bioética. A tomada de decisões é uma das principais preocupações dos envolvidos, pois inflige saber qual decisão é mais correta, mais benéfica para o paciente, considerando que não se trata apenas da aplicação técnica mais conveniente cientificamente falando, mas a promoção do bem estar ao paciente. Vale ressaltar que esse bem deve ser levado em consideração as concepções do paciente, mas não somente dele, é preciso que haja diálogo e respeito entre o profissional e o usuário. De acordo com esta abordagem, uma boa análise ética requer informar-se adequadamente sobre a situação clínica concreta; compreender o paciente em seu contexto social; identificar as partes interessadas as questões morais envolvidas; identificar pontos de vista, valores e interesses presentes; ponderar adequadamente riscos e benefícios; considerar as consequências financeiras das decisões; avaliar se a decisão tomada é confortável para si mesmo, podendo ser tornada pública. Em seguida, os autores discutem três aspectos das decisões na prática clínica: a tomada de decisão em nome de terceiros (nos casos de crianças, pacientes com distúrbios mentais e pacientes que estão inconscientes), as condições do paciente no momento do atendimento (particularmente nos serviços de urgência e emergência) e os conflitos entre os pontos de vista dos enfermos e dos profissionais de saúde, enfatizando-se o "diálogo franco e honesto com os envolvidos, no qual devem ser enfatizados os prós e os contras de cada decisão. No seguinte capítulo, é abordado a Bioética e o Início e o Fim da Vida: o Aborto e a Eutanásia, discutindo especialmente o Princípio da Sacralidade da Vida (PSV) e o Princípio de Respeito à Autonomia (PRA), dois princípios morais centrais nas discussões acerca destes temas. O PSV pressupõe, em termos absolutos, que a vida consiste em um bem tendo, assim, um estatuto sagrado, por isso não é mensurável que ela possa ser interrompida. Outra leitura possível acerca da sacralidade exposta na obra é de que a vida é sempre digna de ser vivida, ou seja, estar vivo é sempre um bem, independentemente das condições de existência. A sacralidade da vida é considerada uma das mais contundentes objeções ao aborto e à eutanásia, especialmente nas éticas cristãs e na tradição hipocrática. infringir ou que não se pode deixar de cumprir. Em contraposição, o PRA pressupõe que se considerem as livres escolhas dos sujeitos quando se tratar de questões morais. Reconhece, de fato, que a moralidade implica o estabelecimento de relações entre sujeitos autônomos, tornando importante que se delimite o conceito de autonomia. suas políticas. A argumentação pelo respeito à autonomia enfatiza o respeito à liberdade de escolha da pessoa, isto é, sua competência em decidir sobre aquilo que considera importante para viver sua vida, incluindo nessa vivência os processos de nascer e de morrer, de acordo com os seus valores e interesses. Desse modo, o PRA pressupõe que cada pessoa tem o direito de dispor de sua vida da maneira que melhor lhe satisfazer. Com base na leitura do capítulo, cabe considerar que nascer e morrer são pontos extremos na existência humana, reconhecendo, no âmbito da cultura, um grandioso esforço para atribuir-lhes sentido, seja por meio da religião, da filosofia, da ciência ou de outras manifestações do espírito. Essas tentativas incluem ações capazes de trazer significativos problemas éticos – como o aborto e a eutanásia –, os quais deverão ser apreciados pelo profissional da saúde, tal qual habitualmente precisará tomar (as melhores) decisões sobre a vida e a morte de outrem. Por fim, o capítulo cinco apresenta os Comitês e Comissões Hospitalares de Ética e de Bioética, com enfoque nas especificidades e regulamentação de três organizações institucionais dedicadas à ética: as Comissões de Ética Hospitalar, os Comitês de Ética em Pesquisa e as Comissões de Bioética Hospitalar. Comissão de Ética Hospitalar caracteriza-se pela participação restrita aos membros de uma corporação específica, ou seja, não é multidisciplinar. Essas comissões começaram a ser criadas há cerca de vinte anos, e hoje estão regulamentadas pela Resolução CFM n. 1.657, de 2002, que estabelece normas de organização, funcionamento, eleição e competências das comissões de ética médica dos estabelecimentos de saúde. Assim como a médica, existem também, com o mesmo propósito, as comissões de ética em enfermagem que têm uma regulamentação originária de seu conselho federal – a Resolução 172/1994. Tratando sobre os comitês de ética em pesquisa foram criados a partir da Declaração de Helsinque, da Associação Médica Mundial, em sua revisão de 1975, na qual determinava que os projetos de pesquisa envolvendo seres humanos sejam avaliados e aprovados por uma comissão independente, especialmente nomeada. Esses comitês foram criados para “defender os interesses dos sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos” (Brasil, 1996). Diferentemente das comissões de ética hospitalar, as comissões de bioética são necessariamente multiprofissionais e multidisciplinares. As comissões “profissionais” têm como meta o cumprimento das normas corporativas, ao passo que as de bioética lidam com referenciais mais diferenciados. À vista de tudo de tudo que foi visto na obra e sobre o apanhado geral aqui feito, conclui-se que é importante que os profissionais da área de saúde tenham presente que em suas profissões a ciência e tecnologia são fundamentais, mas se não houver um embasamento ético-moral adequado para o uso das mesmas poderão ocorrer sérios problemas para os pacientes, profissionais e a sociedade como um todo. Em termos operacionais, isto significa que todos devemos estar prontos a justificar moralmente nossas ações, mesmo que, a princípio, elas sejam técnica e cientificamente corretas.
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