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Instituto Serzedello Corrêa Aula 2 Elaboração de Projetos OBRAS PÚBLICAS DE EDIFICAÇÃO E DE SANEAMENTO Módulo 1 Planejamento RESPONSABILIDADE PELO CONTEÚDO Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Diretoria de Diagnóstico, Planejamento e Desenvolvimento de Ações Educacionais Serviço de Planejamento e Projetos Educacionais Secretaria de Métodos Aplicados e Suporte à Auditoria - SEAUD CONTEUDISTAS Bruno Martinello Lima Gustavo Ferreira Olkowski Marcelo Almeida de Carvalho Rafael Carneiro Di Bello Victor Hugo Moreira Ribeiro Rommel Dias Marques Ribas Brandao REVISORES TÉCNICOS Jose Ulisses Rodrigues Vasconcelos Eduardo Nery Machado Filho TRATAMENTO PEDAGÓGICO Flávio Sposto Pompêo RESPONSABILIDADE EDITORIAL Tribunal de Contas da União Secretaria Geral da Presidência Instituto Serzedello Corrêa Centro de Documentação Editora do TCU PROJETO GRÁFICO Ismael Soares Miguel Paulo Prudêncio Soares Brandão Filho Vivian Campelo Fernandes DIAGRAMAÇÃO Vanessa Vieira © Copyright 2014, Tribunal de Contas de União <www.tcu.gov.br> Permite-se a reprodução desta publicação, em parte ou no todo, sem alteração do conteúdo, desde que citada a fonte e sem fins comerciais. Este material tem função didática. A última atualização ocorreu em setembro de 2014. As afirmações e opiniões são de responsabilidade exclusiva do autor e podem não expressar a posição oficial do Tribunal de Contas da União. Atenção! [ 3 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos Módulo 1 - Planejamento Aula 2 - Elaboração de Projetos Quando a Administração deve contratar projetos? Qual a diferença entre anteprojeto, projeto básico e projeto executivo? Quais são os principais elementos que compõem o projeto? Quais os principais requisitos para projetos de obras públicas? Na aula anterior tratamos das etapas iniciais de planejamento de uma obra pública, que envolvem a obtenção de recursos orçamentários, a caracterização das necessidades que serão atendidas pela obra, o estudo das alternativas possíveis para se atender a essas necessidades, entre outras questões. Nesta aula veremos a etapa de elaboração de projetos, que corresponde ao passo seguinte para a concretização de uma obra pública. Veremos de que forma a alternativa escolhida a partir dos estudos iniciais será desenvolvida e detalhada, mostrando os principais pontos que devem ser observados para garantir uma boa execução dos projetos. Para facilitar o estudo, esta aula está organizada da seguinte forma: Módulo 1 - Planejamento ......................................................................................... 3 Aula 2 - Elaboração de Projetos ........................................................................... 3 1. Fase de projeto ......................................................................................................... 5 2. Elaboração direta pelo órgão gestor ............................................................ 5 3. Uso de projetos advindos de outros órgãos ................................................. 6 4. Contratação de empresa para elaboração de projetos ............................ 6 5. Responsabilidades da Administração Pública pela completude, con- sistência e atualidade dos projetos ..................................................................... 8 6. Anteprojeto ............................................................................................................10 7. Projeto Básico ........................................................................................................14 7.1. Definição e importância ............................................................................ 15 7.2 Atualização/validade do projeto básico .................................................... 18 7.3 Componentes do Projeto Básico ............................................................... 19 7.3.1 Desenhos ................................................................................................... 20 7.3.2 Memorial Descritivo ................................................................................ 20 7.3.3 Especificações Técnicas ............................................................................ 21 7.3.4 Planilha orçamentária .............................................................................. 22 7.3.5 Cronograma Físico-Financeiro ............................................................... 22 [ 4 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 7.4 Elementos mínimos que deve conter um projeto básico .......................24 7.4.1 Elementos mínimos de um Projeto Básico de edificações ..................26 7.4.2 Elementos mínimos de um Projeto Básico de drenagem e saneamento .........................................................................................................27 8. Licenciamento Ambiental ..................................................................................28 8.1 Licença Prévia ..............................................................................................32 8.2 Licença de Instalação ..................................................................................35 8.3 Licença de Operação ...................................................................................36 9. Projeto executivo .................................................................................................38 10. Critérios importantes de concepção de projeto .....................................39 10.1 Acessibilidade.............................................................................................40 10.2 Sustentabilidade .........................................................................................46 10.3 Norma de desempenho – NBR 15575/2013 ..........................................50 Síntese ...........................................................................................................................53 Referências bibliográficas ...................................................................................54 Glossário ....................................................................................................................56 Ao final desta aula, esperamos que você tenha condições de: yy descrever os papéis e responsabilidades do gestor público e de contratados quanto à adequação dos projetos da obra; yy diferenciar anteprojetos, projetos básicos e projetos executivos, de acordo com a consistência das informações e o grau de precisão esperado para cada um deles; yy elencar os principais componentes e avaliar a qualidade de anteprojetos, projetos básicos e projetos executivos; yy observar os principais itens relacionados a acessibilidade, sustentabilidade e desempenho, e optar por técnicas com vistas a ampliar a vida útil e reduzir o custos de operação e manutenção após o recebimento das obras. Pronto para começar? Então, vamos! [ 5 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos 1. Fase de projeto A fase de projeto de uma obra pública é etapa fundamental para o sucesso do empreendimento. Ela não abarca apenas o projeto básico ou executivo propriamente dito, mas deve ser fruto de todo um processo que começa na caracterização de demanda, passa pelo programa de necessidades e pelos estudos de viabilidade. O fluxograma apresentado na aula 1 ilustra bem as diversas etapas desse processo preparatório até que se inicie a elaboração efetiva dos projetos. Veremos a seguir quais são as principais características dessa fase do empreendimento, quais são os componentes de um projeto completo e atualizado, como ele é elaborado e como é contratado. 2. Elaboração direta pelo órgão gestor Uma dúvida comum entre os órgãos executores de obras públicas é como elaborar e contratar o projeto deuma obra de modo que, ao final, haja um produto que atenda às exigências da lei e possibilite realizar com segurança a licitação e a execução da obra. Quando a Administração identifica, a partir de levantamentos e estudos prévios, a necessidade de se desenvolver projetos para a futura execução de uma obra, deve avaliar, primeiramente, se dispõe de uma equipe profissional qualificada e capaz de desempenhar essa tarefa. Exemplificando, caso uma prefeitura tenha em seu quadro de pessoal apenas um arquiteto, não será possível a esse profissional sozinho desenvolver todos os projetos necessários à construção de uma escola, pois esse trabalho demandará a participação de outros profissionais especializados como, por exemplo, um engenheiro eletricista para desenvolver os projetos de instalações elétricas ou um engenheiro civil para os projetos de estrutura. Nesse caso, uma alternativa possível seria elaborar o projeto de arquitetura e contratar os demais projetos. Ainda que o órgão possua em seu quadro de pessoal todos os técnicos especializados necessários, é importante avaliar ainda a disponibilidade desses profissionais para elaborarem o projeto sem que essa tarefa comprometa o desempenho de outras atividades prioritárias que, eventualmente, sejam desenvolvidas por eles. Caso a elaboração dos projetos diretamente pela equipe do órgão traga prejuízo ao desempenho dessas atividades prioritárias, a opção recomendada seria licitar os projetos. [ 6 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 3. Uso de projetos advindos de outros órgãos Há órgãos, por exemplo, que recebem doações de projetos prontos e já elaborados por terceiros, seja por outros órgãos da Administração Pública ou mesmo por empresas projetistas. Em geral são órgãos com deficiências no quadro de pessoal e que recorrem a fontes externas para viabilizar a elaboração de projetos. Essa prática não é recomendável do ponto de vista técnico, pois o projeto doado muitas vezes não considera a demanda e a necessidade que o órgão levantou por meio dos estudos preliminares (caracterização da demanda e programa de necessidades). Em outras palavras, o projeto doado pode ter sido elaborado com pressupostos diferentes daqueles planejados pelo órgão que pretende realizar a obra. Há alguns anos atrás, era comum a prática de doação de projetos às prefeituras e órgãos públicos. Em muitos casos, verificou-se que esses projetos continham erros que só ficaram evidentes quando da execução da obra, causando problemas para o bom andamento dos serviços e gerando prejuízos para a Administração. Além disso, o uso de um projeto recebido como doação pode prejudicar a competitividade da licitação, uma vez que a empresa que tenha conhecimento prévio dos detalhes do projeto terá vantagem em relação às demais participantes. Outro problema relacionado a essas doações diz respeito à responsabilidade por eventuais falhas constatadas no projeto. Diversas fiscalizações promovidas pelo TCU identificaram projetos doados que não continham a identificação dos autores. Nesses casos o TCU tem apontado que o gestor que aprovou o uso do projeto deve ser responsabilizado1. 4. Contratação de empresa para elaboração de projetos Já vimos que os projetos de obras públicas podem ser desenvolvidos pelo próprio órgão, caso disponha de setor técnico com número suficiente de profissionais para elaborar um projeto completo e adequado. Contudo, em muitos casos, isso não é possível. Assim, o recurso disponível ao gestor para elaboração dos projetos de uma obra passa a ser a contratação de uma empresa projetista para realizar o serviço. Vale lembrar que mesmo nos casos de contratação dos projetos, o órgão público permanece com a responsabilidade de fiscalizar a execução do serviço e atestar a sua qualidade, sendo recomendável que tenha em seu quadro Atenção! A prática de utilizar projetos doados tem sido fonte de inúmeras irregularidades, gerando problemas na execução das obras e prejuízos diversos à administração, devendo ser evitada. 1 - Acórdão 1.841/2008 [ 7 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos de pessoal pelo menos um profissional, com experiência na área, para acompanhar a elaboração dos projetos. Deve haver um procedimento licitatório específico com vistas a contratar a empresa que será responsável pela elaboração dos projetos. A Lei 8.666/1993 caracteriza esse tipo de trabalho como um serviço técnico profissional especializado e indica que sua contratação deve ocorrer, preferencialmente, mediante a realização de concurso2. Em geral, a modalidade de concurso é utilizada apenas para a contratação da concepção arquitetônica/urbanística, ou ainda para estudos preliminares e etapas iniciais do desenvolvimento do projeto. Para a execução do projeto básico completo, as modalidades convencionais (concorrência, convite, tomada de preços) são mais comumente utilizadas. A escolha da modalidade e do tipo de licitação a ser realizado será tratada com mais detalhe na aula 4. O documento que descreve os requisitos e diretrizes do projeto a ser desenvolvido é usualmente denominado termo de referência. Ele deve ser elaborado com base no programa de necessidades e nas demais informações produzidas durante a etapa de EVTE-A, de modo que a empresa projetista possa compreender a expectativa do órgão contratante em relação à obra e formular uma proposta adequada para atender às demandas previstas. Importante destacar que o art. 111 da Lei 8.666/1993 dispõe que o autor do projeto deve ceder à Administração os direitos patrimoniais relativos ao projeto. Por fim, cabe esclarecer que embora o autor do projeto possua o direito de acompanhar a obra com vistas a garantir que seja executada de acordo com as especificações do projeto, isso não obriga a Administração a contratá-lo para a supervisão do empreendimento, conforme enunciado pela jurisprudência do TCU – Súmula TCU 185/1982. 2 - Lei 8.666/1993 art. 13, inciso I e §1º SÚMULA TCU 185 A Lei nº 5.194, de 24/12/66, e, em especial, o seu art. 22, não atribuem ao autor do projeto o direito subjetivo de ser contratado para os serviços de supervisão da obra respectiva, nem dispensam a licitação para a adjudicação de tais serviços, sendo admissível, sempre que haja recursos suficientes, que se proceda aos trabalhos de supervisão, diretamente ou por delegação a outro órgão público, ou, ainda, fora dessa hipótese, que se inclua, a juízo da Administração e no seu interesse, no objeto das licitações a serem processadas para a elaboração de projetos de obras e serviços de engenharia, com expressa previsão no ato convocatório, a prestação de serviços de supervisão ou acompanhamento da execução, mediante remuneração adicional, aceita como compatível com o porte e a utilidade dos serviços. [ 8 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 5. Responsabilidades da Administração Pública pela completude, consistência e atualidade dos projetos O art. 6°, inciso IX, da Lei 8.666/1993 prescreve que o projeto básico deve conter todos os elementos necessários e suficientes para caracterizar o objeto da licitação. O artigo 12, por sua vez, estabelece algumas das diretrizes a serem seguidas na elaboração de um projeto básico: segurança; funcionalidade e adequação ao interesse público; economia na execução, conservação e operação; possibilidade de emprego de mão de obra, materiais, tecnologia e matérias-primas existentes no local da obra; observância às normas técnicas de saúde e de segurança do trabalho; e redução do impacto ambiental. Infelizmente, ainda é muito comum encontrar projetos de obras públicas deficientes ou incompletos e desatualizados. Muitas vezes, essas deficiências conduzem à necessidade de mudanças de projeto no decorrer da execução da obra. A concepção e a soluçãotécnica da obra são itens que já deveriam ter sido avaliados, definidos e aprovados em etapa anterior, nos estudos de viabilidade técnico-econômica e ambiental. Embora o tema dos estudos prévios tenha sido abordado em detalhe na aula 1, vale lembrar que a possibilidade de desenvolver projetos de boa qualidade dependerá, em grande parte, da qualidade desses estudos e das informações disponíveis para subsidiar os projetistas. Há normas que definem a amplitude mínima de determinados estudos de projeto, a exemplo da NBR 8036/83 que define um número mínimo de sondagens em razão da área a ser edificada. O gestor público, ao elaborar o termo de referência, indicando todos os elementos e diretrizes para a elaboração do projeto, deverá também especificar a abrangência e amplitude dos estudos prévios realizados. Esse é um aspecto importante que impacta tanto no custo dos projetos quanto no custo da obra. Quanto maior a quantidade e qualidade das informações reunidas para subsidiar o projeto, maiores são as chances de escolher uma solução eficiente e econômica para a obra desejada. Há casos em que os gestores optam por economizar na fase de projeto e exigem estudos prévios em menor número ou com abrangência inferior à recomendada. Porém, essa economia inicial pode resultar, durante a obra, em custos muito mais elevados para a execução dos serviços necessários. Um exemplo comum é a realização de um número de furos de sondagem do terreno menor do que o previsto na norma. Essa suposta economia resulta, muitas vezes, em uma caracterização incorreta do terreno, [ 9 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos o que pode gerar transtornos e aumento dos custos durante a execução das obras ou mesmo depois de sua conclusão, com a necessidade de modificar projetos, de executar reforços na estrutura, de efetuar reparos na alvenaria, entre outros inconvenientes. A completude e a consistência de um projeto básico é reflexo da quantidade e da qualidade dos elementos técnicos reunidos, bem como da coerência entre eles. Em outras palavras, todas as informações relevantes para a execução da obra devem estar registradas no projeto, além disso os elementos mostrados nos desenhos devem corresponder aos indicados nos memoriais, nas especificações técnicas, no orçamento. A atualidade do projeto também é muito importante, para qualquer tipo de obra. Quanto maior for o tempo decorrido entre a elaboração de um projeto e a sua efetiva execução, maior é a possibilidade serem modificadas as condições de implantação originalmente previstas. Isso exige que se faça uma revisão do projeto para adequá-lo às novas condições existentes, antes do início das obras, reduzindo assim o risco de prejuízos maiores durante a execução dos serviços. Outro aspecto que deve ser observado quando da elaboração dos projetos de uma obra pública é o necessário registro da responsabilidade técnica por esse tipo de serviço especializado. Trata-se de uma obrigação legal derivada da Lei 6.496/1977, a qual define no seu art. 1º que todas as obras e serviços de engenharia devem ter uma Anotação de Responsabilidade Técnica. O projeto de uma obra envolve diversas áreas de conhecimento diferentes, que costumamos chamar de disciplinas. Por exemplo, uma obra de edificação precisa de projetos de arquitetura; estrutura; instalações hidrossanitárias, elétricas, lógicas, de combate a incêndio, além de outras instalações especiais. Todos os profissionais envolvidos na elaboração dos projetos devem fazer o registro, junto ao conselho profissional competente, da responsabilidade técnica pelos trabalhos realizados. No caso dos engenheiros temos o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), em que o documento de registro é chamado ART; no caso dos arquitetos temos o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), em que o documento de registro é chamado RRT. Nesse contexto, tendo em vista os repetidos casos detectados de ausência de registro da responsabilidade por projetos utilizados na execução de obras públicas, o TCU consolidou entendimento na Súmula TCU 260. Recentemente, a partir da LDO 2009 (Lei 11.768/2008 – art. 109, § 5º), a legislação vem exigindo que seja realizada uma ART específica para o orçamento da obra. Essa exigência se repetiu nas LDO dos exercícios 2010, 2011 e 2012. Em 2013, foi editado o Decreto 7.983/2013, que previu em seu art. 10 essa mesma obrigação. [ 10 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento A Comissão de Licitação pode ser responsabilizada no caso de dar andamento ao processo de licitação sem que haja o registro de responsabilidade técnica dos projetos e do orçamento3. Ou seja, embora a comissão de licitação não necessariamente possua conhecimentos técnicos para avaliar a qualidade do projeto com profundidade, ela deve verificar a existência de registro de responsabilidade técnica pela elaboração dessas peças, antes de iniciar a fase externa da licitação. As fases da licitação serão detalhadas na aula 4. 6. Anteprojeto O anteprojeto de engenharia é elaborado depois de concluídos o programa de necessidades e os estudos de viabilidade. Nele, deve-se definir claramente a concepção do objeto e as diretrizes a serem seguidas no projeto, com a representação de seus elementos, instalações e componentes de modo a possibilitar a avaliação do custo global da obra, por meio de orçamento sintético ou metodologia expedita ou paramétrica. Em regra, o anteprojeto é opcional e não é admitida sua utilização em licitação de obras. A modalidade de licitação denominada contratação integrada, prevista na lei que criou o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (Lei 12.462/2011), é a única exceção em que se permite a utilização do anteprojeto em vez do projeto básico para fins de se licitar a implantação das obras. Conforme consta na lei4, o anteprojeto de engenharia deve conter os documentos técnicos para caracterizar a obra ou serviço, incluindo: a. a demonstração e a justificativa do programa de necessidades, a visão global dos investimentos e as definições quanto ao nível de serviço desejado; SÚMULA TCU 260 É dever do gestor exigir apresentação de Anotação de Responsabilidade Técnica - ART referente a projeto, execução, supervisão e fiscalização de obras e serviços de engenharia, com indicação do responsável pela elaboração de plantas, orçamento- base, especificações técnicas, composições de custos unitários, cronograma físico- financeiro e outras peças técnicas. 3 - Acórdãos 141/2014 – TCU – Plenário e 625/2010 – TCU – 2ª Câmara. 4 - Lei 12.462/2011, art. 9º, §2º, inciso I. [ 11 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos b. as condições de solidez, segurança, durabilidade e prazo de entrega; c. a estética do projeto arquitetônico; e d. os parâmetros de adequação ao interesse público, à economia na utilização, à facilidade na execução, aos impactos ambientais e à acessibilidade. É preciso que se defina qual é a “cara” que a obra vai ter. No anteprojeto de uma casa, por exemplo, já deveria estar definido se a cobertura seria em telha cerâmica (mais inclinado) ou uma simples laje impermeabilizada. Alguns desses parâmetros já foram tratados na aula 1, como adequação à demanda e impactos ambientais. Veremos mais adiante nesta aula tópicos relacionados à acessibilidade e, na aula 5, questões relacionadas ao funcionamento e à manutenção das obras após sua conclusão. Os projetos complementares, como o próprio nome já diz, são aqueles que complementam as definições contidas no projeto de arquitetura. Esses projetos determinarão, por exemplo, como será a estrutura, as instalações elétricas e outros aspectos necessários para que a edificação funcione conforme definido no projeto de arquitetura. 1 - http://www.freebievectors.com/pt/pre-visualizacao-do-item/77671/vetor-arquitectura-serie-desenho-de-linha-projecto-de-linha/ 2 - http://pro.casa.abril.com.br/photo/desenho-1?context=location#!/photo/desenho- 1?context=location Atenção especial deve ser dada aos projetos de arquitetura e suas especificações, pois, especialmente no caso de obras de edificações, são eles que vão definir o que a administração pretende contratar. Além disso, os projetos complementares restantes são, todos, realizados em função dessa arquitetura; e de modo a viabilizá-la. Não se poderia licitar o empreendimento sem delimitar qual a especificação do piso a ser colocado, pois sem isso o contratante se arrisca a receber algo diferente daquilo que pretendia inicialmente. Do mesmo modo, é imprescindível a indicação das especificações técnicas dos materiais a serem empregados, tais como forros, vidros, metais, tintas etc. [ 12 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento De acordo com a norma técnica NBR 13.532/1995 - “Elaboração de projetos de edificações - Arquitetura”, da ABNT, após a conclusão de um anteprojeto arquitetônico de edificações, as seguintes informações técnicas e projetos devem ser disponibilizados: a. levantamento topográfico e cadastral, que corresponde às informações relativas, por exemplo, à inclinação do terreno, à existência de árvores, construções, e outros elementos que possam interferir na obra; b. sondagens de reconhecimento do solo, que indica características como o nível da água do subsolo, as camadas existentes de argila, areia e rocha e suas profundidades, bem como a resistência dessas camadas; c. planta de implantação e de terraplenagem, que indicam a posição da obra em relação aos terrenos vizinhos bem como os níveis da edificação em relação à rua, por exemplo; d. cortes de terraplenagem, que indicam a existência de desníveis, degraus, rampas entre a edificação e o terreno; e. plantas dos pavimentos e coberturas, cortes longitudinais e transversais, elevações, fachadas, detalhes de elementos da edificação e de seus componentes construtivos, ou seja, os desenhos propriamente ditos dos projetos, contendo medidas, indicação de portas janelas etc; f. memorial descritivo da edificação e de seus elementos e componentes construtivos, que corresponde a um texto descrevendo as principais características do projeto e do seu fucionamento; e g. especificação técnica dos materiais de construção, que corresponde à definição mais precisa dos itens a serem utilizados na obra, como por exemplo o tipo de cerâmica, sua resistência, cor, medidas. O anteprojeto utilizado nas licitações pelo RDC deve, preferencialmente, conter todos esses elementos indicados na NBR. Alguns itens como o memorial descritivo, por exemplo, são indispensáveis, pois é ele que vai descrever essencialmente o que se deseja contratar. Outros itens que envolvem um maior detalhamento de informações podem ser dispensados, conforme o caso, desde que os riscos associados à ausência dessas informações estejam adequadamente registrados em uma matriz de Saiba mais... Em um projeto de uma casa, por exemplo, o memorial descritivo conteria a indicação de quantos quartos existem, se a casa é feita de madeira ou de tijolos, a área dos ambientes, a forma de ligação entre esses ambientes, sua relação com as áreas externas, jardins, varandas, dentre outras informações consideradas importantes. [ 13 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos riscos. É o caso, por exemplo, do projeto de terraplanagem, que pode ser desenvolvido pelo contratado posteriormente à licitação, mas nesses casos é importante que esteja previamente definido quem será o responsável por eventuais variações de custo ou distorções relacionadas a esse projeto. A elaboração dessa matriz envolve a avaliação da possibilidade de ocorrências que afetem negativamente a obra, bem como o grau de impacto dessas ocorrências. Por exemplo, numa região em que chove muito, é altamente provável que ocorram chuvas durante a execução da obra. Além disso, essas chuvas podem atrapalhar o ritmo de execução dos serviços e causar atrasos. A matriz de riscos permitirá enxergar com mais clareza quem será o responsável pela solução dos problemas causados por essas chuvas. No caso de obra de edificação, em regra, faz-se necessário que o anteprojeto preveja a arquitetura do empreendimento, tendo em vista ser essa a informação definidora do produto a ser entregue à Administração e constituir-se em elemento fundamental para a avaliação de eventuais metodologias diferenciadas para sua execução, como também para a elaboração dos demais projetos de engenharia a serem desenvolvidos em etapa posterior. Com relação ao orçamento nesta etapa, sempre que o anteprojeto, por seus elementos mínimos, assim permitir, as estimativas de preço devem se basear em orçamento sintético tão detalhado quanto possível, balizado pelos sistemas referenciais de custos de obras públicas (Sinapi, Sicro e outros). As estimativas paramétricas e a avaliação baseada em outras obras similares somente devem ser utilizadas nas partes do empreendimento que não estiverem suficientemente detalhadas pelo anteprojeto5. Os sistemas de custos de obras públicas, métodos de estimativa de custos e outros tópicos relacionados ao orçamento da obra serão abordados com mais detalhe na aula 3. Como o anteprojeto não apresenta nível de detalhamento suficiente à quantificação de todos os serviços e materiais a serem aplicados nas obras, uma vez que será complementado posteriormente por um projeto básico, seu orçamento torna-se mais impreciso e sujeito a erros. A mesma lei que admite a contratação de obra pública apenas com base no anteprojeto, desde que observadas algumas condições específicas, proíbe a realização de alterações contratuais causadas por erros ou falhas 5 - Acórdão 1.510/2013-TCU-Plenário. [ 14 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento do projeto (básico/de engenharia) desenvolvido posteriormente pelo contratado a partir das informações do anteprojeto. Isso não significa que as obras realizadas no modelo de contratação integrada não possam ter seus contratos aditivados. No caso de mudança de escopo por interesse da Administração, por exemplo, o aditivo é admitido. O tema dos aditivos contratuais será melhor detalhado na aula 4. A responsabilidade pelo desenvolvimento posterior do projeto básico e a proibição de aditivo contratual para correção de erros nesse projeto faz com que a contratada assuma riscos financeiros adicionais que surgirem durante a obra, o que pode gerar um aumento do preço oferecido para suportar esses riscos. Em suma, quanto melhor e mais detalhado for o projeto, os riscos tendem a ser menores e também o valor cobrado pelo executor da obra. Com o objetivo de tratar adequadamente o maior grau de incertezas presente em uma contratação sem um projeto básico completo, é fundamental que o gestor elabore uma matriz de riscos, a ser integrada ao edital e ao contrato. É nela que se definirá, do modo mais claro possível, as responsabilidades pelos riscos associados à execução do projeto6. Embora sempre existam eventos imprevisíveis, a elaboração da matriz permite identificar, com antecedência, aqueles problemas mais prováveis de acontecerem e quem será o responsável pelas soluções. 7. Projeto Básico O projeto básico é, sem dúvida alguma, um dos elementos mais importantes tanto para a licitação e a contratação como para a execução de obras públicas. Nele define-se detalhadamente o objeto a ser licitado/ executado e seu respectivo custo. O projeto básico é tão importante que, como regra geral, tanto a lei de licitações (Lei 8.666/93) como a lei que instituiu o RDC (Lei 12.462/2011) proíbem a contratação de obras públicas sem que ele tenha sido devidamente elaborado e aprovado. A única exceção,como dissemos no tópico anterior, é a contratação integrada, que admite o uso do anteprojeto para se contratar a obra. As irregularidades causadas por projetos básicos incompletos, deficientes ou desatualizados são encontradas com frequência nas auditorias realizadas pelo TCU e podem causar uma série de problemas seja durante a execução da obra ou após a sua conclusão, gerando prejuízo ao funcionamento e à durabilidade da construção. 6 - Acórdãos 1465/2013-TCU-Plenário, 1510/2013-TCU-Plenário e outros. [ 15 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos 7.1. Definição e importância O termo “projeto básico” tem sido interpretado inadequadamente pelos gestores quanto ao seu conteúdo. A palavra “básico”, no dicionário, possui o seguinte significado: 1) que serve de base; 2) essencial, principal, fundamental7. Dessa forma, ao contrário do que seu nome possa sugerir, projeto básico não deve ser interpretado como um projeto simplório ou formado por poucos elementos, mas sim como um projeto essencial, que vai servir de base para a contratação e execução da obra. Sua definição legal é a seguinte: projeto básico é o conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço, ou complexo de obras ou serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares (programa de necessidades, EVTE e anteprojetos), que assegurem a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento, e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução8. A lei de licitações especifica ainda que os projetos básicos devem conter os seguintes elementos: a. desenvolvimento da solução escolhida de forma a fornecer visão global da obra e identificação clara de todos os seus elementos; b. soluções técnicas globais e localizadas, suficientemente detalhadas, de forma a minimizar a necessidade de modificações durante as fases de elaboração do projeto executivo e de realização das obras e montagem; c. identificação de todos os serviços a executar e especificação de todos os materiais e equipamentos a serem utilizados; d. informações que possibilitem o estudo e a dedução de métodos construtivos, instalações provisórias e condições organizacionais para a obra; 7 - Dicionário Michaelis, disponível em http://michaelis.uol.com.br/ 8 - Lei 8.666/93, art. 6º, inciso IX, e Lei 12.462/2011, art. 2º, inciso IV. Atenção! A norma técnica NBR 13.531/1995 - “Elaboração de projetos de edificações - Atividades técnicas”, da ABNT, apresenta um conceito divergente para projeto básico. Entretanto, o conceito da ABNT não pode, de maneira alguma, ser aplicado à administração pública, haja vista que ele considera o projeto básico como uma peça opcional. [ 16 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento e. subsídios para montagem do plano de licitação e gestão da obra, compreendendo a sua programação, a estratégia de suprimentos, as normas de fiscalização (inclusive critérios de medição) e outros dados necessários em cada caso; f. orçamento detalhado do custo global da obra, fundamentado em quantitativos de serviços e fornecimentos propriamente avaliados. Conforme a definição acima, o projeto básico deve conter informações detalhadas para que se compreenda perfeitamente o objeto que está sendo licitado, como ele se desenvolverá, em que prazo, e ainda possibilite a identificação e quantificação de todos os serviços que serão executados, bem como a caracterização e quantificação de todos os insumos (mão-de- obra, materiais e equipamentos) e seus respectivos custos. Vale notar que, de acordo com a definição legal, a palavra “projeto” deve ser interpretada de forma ampla, não se resumindo apenas aos desenhos técnicos (plantas), mas a um conjunto de documentos que detalham o objeto da licitação (a obra), entre os quais se podem citar os memoriais descritivos, as especificações técnicas, a planilha orçamentária e o cronograma físico-financeiro. É comum que projetos básicos deficientes, com informações incoerentes, desatualizadas ou faltantes precisem ser alterados ou complementados no decorrer da execução da obra. Esse tipo de alteração, além de impactar o preço e o prazo inicialmente previstos, abre espaço para a ocorrência de várias irregularidades, tais como o superfaturamento, a extrapolação dos limites legais de modificação contratual, o desvirtuamento das condições iniciais avençadas ou até mesmo a transfiguração do objeto. As falhas de projeto podem resultar ainda em atrasos significativos para a entrega da obra e, nos casos mais graves, inviabilizar a sua conclusão. INFORMAÇÕES DO PROJETO BÁSICO É necessário que as informações do projeto básico permitam identificar, por exemplo, se a estrutura da edificação será de concreto armado, executado no local — o que demanda um determinado espaço, equipamentos e materiais disponíveis no canteiro de obras para a execução de formas, escoramentos, armaduras — ou ainda se seria uma estrutura pré-fabricada industrialmente e somente montada no canteiro de obras — o que demanda um conjunto diferente de materiais, além de equipamentos específicos de montagem. Esse plano de licitação e gestão da obra está diretamente relacionado às etapas de contratação e fiscalização da obra, que serão tratadas nas aulas 4 e 5 deste curso. [ 17 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos Devido à importância do tema e aos inúmeros casos de irregularidade em projetos básicos, o TCU pacificou entendimento na Súmula TCU 261/2010, a seguir transcrita: SÚMULA TCU 261 Em licitações de obras e serviços de engenharia, é necessária a elaboração de projeto básico adequado e atualizado, assim considerado aquele aprovado com todos os elementos descritos no art. 6º, inciso IX, da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, constituindo prática ilegal a revisão de projeto básico ou a elaboração de projeto executivo que transfigurem o objeto originalmente contratado em outro de natureza e propósito diversos. Não é demais lembrar que o projeto básico de uma obra deve ser elaborado por profissional legalmente habilitado, com registro no conselho profissional, podendo ser contratada empresa específica de engenharia ou arquitetura para sua elaboração, nos casos em que o órgão não dispõe de uma quantidade suficiente de profissionais técnicos especializados. É importante lembrar ainda que, mesmo no caso de contratação de empresa especializada, o administrador público permanece com a responsabilidade de avaliar se os documentos e projetos fornecidos são adequados, devendo exigir do contratado a realização de todos os ajustes necessários. Além de exigir que a elaboração do projeto seja feita por profissional habilitado e com o devido registro de responsabilidade técnica junto ao conselho profissional, a legislação determina que é obrigatória a aprovação formal (por escrito) de todo o projeto básico pela autoridade competente. Essa aprovação deve se dar previamente ao certame licitatório e serve para atestar que o dirigente do órgão tomou conhecimento e está de acordo com todas as informações constantes no projeto básico, bem como se responsabiliza pela sua completude e atualização. Por fim, merece registro que, exceto nos casos de licitação na modalidade contratação integrada, prevista pelo RDC, é vedada a participação na licitação e/ou na execução da obra de qualquer pessoa física ou jurídica que tenha participado da elaboração do projeto básico da obra, sendo permitido apenas na condição de consultor ou técnico, nas funções de fiscalização, supervisão ou gerenciamento, exclusivamente a serviço da Administração interessada9. 9 - Lei 8.666/93, art. 9º, e Lei 12.462/2011,art. 36. [ 18 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 7.2 Atualização/validade do projeto básico O projeto básico deve ser o mais atual possível, de modo a se evitar modificações após a contratação das obras. Entretanto, nas fiscalizações realizadas pelo TCU, é recorrente a verificação de utilização de projetos básicos desatualizados. Nesse contexto, os gestores costumam apresentar a seguinte dúvida: por quanto tempo um projeto básico permanece válido? A resposta não é tão simples e varia em função de inúmeros fatores, entre os quais se podem destacar o tipo de empreendimento, mudanças ocorridas no local das obras, evolução das tecnologias envolvidas, diretrizes políticas etc. O próprio programa de necessidades que originou o projeto pode ter perdido sua validade, por não atender adequadamente à demanda atual. Por esse motivo, antes da adoção de um projeto básico elaborado em anos anteriores, várias condicionantes devem ser verificadas. A primeira delas diz respeito à sua concepção. Em projetos básicos antigos, especialmente quando elaborados sob a gestão de outros governantes, nem sempre as diretrizes que orientaram a sua concepção se encontram alinhadas com as do atual governo. Assim, quando isso acontece, o primeiro ponto a ser observado é se as necessidades da população atendida permanecem plenamente atendidas com aquele projeto, sem a necessidade de se efetuar modificações nele. Após essa verificação, faz-se necessário comprovar se as características do local em que será implantada a obra permanecem as mesmas, ou seja, se não foram realizadas obras de terra que possam ter promovido alterações nas condições do local nem foram executadas novas construções no terreno, o que poderia acarretar aumento na quantidade de demolições e desapropriações, impactando tanto o custo como o prazo do empreendimento. Outro aspecto a ser observado diz respeito às metodologias construtivas previstas, bem como aos equipamentos originalmente especificados, que podem se tornar inadequados ou ultrapassados após algum tempo. No caso de obras de saneamento, por exemplo, é comum que, ao se tentar executar um projeto de rede de esgoto 5 ou 10 anos após elaborado o projeto, as antigas condições do local de implantação já não sejam as mesmas. A modificação de loteamentos, das ruas, a presença de novas construções não registradas no projeto podem trazer problemas para a execução da obra, conduzindo à necessidade de alterações no traçado da rede, nas quantidades de serviços previstos e, eventualmente, até a paralização da obra para que os ajustes de projeto sejam realizados. [ 19 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos Também é importante verificar se as premissas adotadas no projeto para a população atendida pelo empreendimento ainda permanecem válidas, pois, para fins de dimensionamento de todo o sistema, o projetista adota a população de início de plano, que é a população atual no momento da elaboração do projeto, e prevê uma população de fim de plano, prevendo o crescimento demográfico da cidade por período equivalente à do empreendimento (usualmente vinte anos). Assim sendo, é imprescindível verificar se ambas as populações, de início e de fim de plano, ainda se mantêm coerentes com as adotadas na concepção do projeto, pois crescimentos demográficos ocorridos no período entre a elaboração do projeto e a sua utilização na licitação podem demandar ajustes/revisão do projeto sob o risco de redução da vida útil do empreendimento. 7.3 Componentes do Projeto Básico Como visto anteriormente, o projeto básico é composto por desenhos, memorial descritivo, especificações técnicas, planilha orçamentária e cronograma físico-financeiro, bem como os estudos prévios que o amparam, tais como estudos geotécnicos, topográficos, geológicos, hidrológicos, a depender das necessidades de cada projeto. Todas essas peças deverão possuir identificação contendo, pelo menos, nome e local da obra, nome da entidade executora, tipo de peça/ projeto, data das revisões, nome dos responsáveis técnicos, número de registro no CREA e respectivas assinaturas. Encontram-se disponíveis, na biblioteca do curso, alguns exemplos de componentes de projeto para que o participante possa ter uma ideia mais clara sobre cada um dos itens que serão descritos a seguir. [ 20 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento Saiba mais... Na biblioteca do curso há um exemplo de memorial descritivo que pode ser acessado pelo participante. 7.3.1 Desenhos Também denominados de plantas ou projetos propriamente ditos. É a representação gráfica do objeto a ser executado, elaborada de modo a permitir sua visualização em tamanho adequado, demonstrando formas, dimensões, funcionamento e especificações, perfeitamente definida em plantas, cortes, elevações, esquemas e detalhes, obedecendo às normas técnicas pertinentes. 3-planta baixa de habitação de interesse social. Fonte: http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/banco_projetos/projetos_his/casa_42m2.pdf 7.3.2 Memorial Descritivo O memorial descritivo é um documento em formato de texto que deve conter a descrição detalhada do objeto projetado, levando-se em conta as informações definidas no programa de necessidades e nos estudos de viabilidade, detalhando as soluções técnicas adotadas, bem como suas justificativas, de modo a complementar as informações contidas nos desenhos e demais peças do projeto. [ 21 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos 7.3.3 Especificações Técnicas O caderno de especificações técnicas é um documento em formato de texto que reúne todas as regras e condições que devem ser seguidas para a execução da obra e dos respectivos serviços, de acordo com as normas e práticas aplicáveis, e são estabelecidas as características necessárias e suficientes para o desempenho técnico requerido pelo projeto, bem como para a contratação dos serviços e obras. Neste documento deve estar descrito, em linguagem tão clara quanto possível, o detalhamento executivo de cada serviço, ou seja, o modo como deverão ser executados, as normas técnicas aplicáveis, e, principalmente, os critérios para a sua medição, de modo a se evitar questionamentos futuros. Além disso, deve conter descrição técnica dos materiais, equipamentos e sistemas construtivos a serem aplicados, inclusive as condições para aceitação dos produtos e os testes aplicáveis. As especificações técnicas poderão conter informações de interesse, detalhes construtivos e outros elementos necessários à perfeita caracterização, inclusive catálogos e manuais que orientem a execução e inspeção dos serviços. No entanto, a fim de permitir alternativas de fornecimento, as especificações técnicas não poderão reproduzir catálogos de um determinado fornecedor ou fabricante. A indicação de marca é admitida como parâmetro de qualidade, para facilitar a caracterização do material ou equipamento, desde que seguida por expressões do tipo: “ou equivalente”, “ou similar”, “ou de melhor qualidade”, para evitar restrições de marca10. Cabe à fiscalização acompanhar a execução dos serviços e a aplicação dos materiais e equipamentos conforme descrito nas especificações técnicas. 10 - Acórdão 1292/2003 – TCU – Plenário e 644/2007 – TCU - Plenário [ 22 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 7.3.4 Planilha orçamentária A planilha orçamentária é um documento em formato de planilha contendo a relação de todos os serviços necessários à execução do objeto, com suas respectivas unidades de medida, quantidades e preços unitários, calculados a partir dos projetos e demais especificações técnicas, de modo a possibilitar a previsão do preço total de um empreendimento. Saiba mais... Na biblioteca do curso há um exemplo de especificação técnicaque pode ser acessado pelo participante. Relacionados à planilha orçamentária, o projeto básico também deve conter outras informações mais detalhadas que serão abordadas na aula 3, como as composições de custo unitário (CPUs) de todos os serviços da planilha, bem como os detalhamentos do BDI e dos encargos sociais. 7.3.5 Cronograma Físico-Financeiro O cronograma físico, também denominado cronograma de barras ou gráfico de Gantt, é a representação gráfica da execução de um empreendimento apresentando a relação de todos os serviços a serem executados e a indicação do tempo de duração de cada um por meio de barras. Quanto maior o comprimento da barra, maior será a duração do serviço representado. [ 23 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos Já o cronograma físico-financeiro é a representação gráfica que contém, além das informações do cronograma físico, os valores previstos para cada um dos serviços em cada um dos períodos de execução da obra. dia setembro outubro novembro dezembro R$ serviço 15 30 15 30 15 30 15 30 fundações 5.000 alvenarias 10.000 forros 16.000 cobertura 20.000 piso e revestimento 15.000 limpeza da obra 2.000 desembolso mensal 10.000 19.000 24.000 15.000 68.000 O cronograma físico-financeiro é uma importante ferramenta para o planejamento, pois permite ao órgão público o conhecimento do montante de recursos que serão necessários em cada mês para as despesas da obra. Além disso, já que nele são visualizados os serviços que deverão ser executados em cada período, possibilita à contratante efetuar o controle do andamento da obra e à contratada o adequado dimensionamento da mão-de-obra e equipamentos a serem utilizados para o cumprimento dos prazos. O cronograma físico-financeiro deve ser atualizado toda vez que houver alterações no prazo da obra e/ou de cada etapa de execução, para que reflita as condições reais do empreendimento. [ 24 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 7.4 Elementos mínimos que deve conter um projeto básico Uma dúvida recorrente entre os gestores é: quais os desenhos, projetos e detalhamentos que devem constar no projeto básico? A dica para sanar essa dúvida é fazer a seguinte pergunta: se determinado desenho for deixado para ser elaborado apenas no projeto executivo, pode haver necessidade de modificação das quantidades e/ou serviços da planilha orçamentária? Se a resposta for positiva, o tal desenho deve, em regra, fazer parte do projeto básico. Se a reposta for negativa, esse desenho pode ser elaborado apenas no projeto executivo da obra. A título de exemplificação, analisam-se dois casos práticos comumente encontrados. CASO PRÁTICO 1 Em uma obra de edificação, o projeto de formas e armação pode ser elaborado apenas após a contratação da obra? Primeiro vale destacar que os itens de forma, armação e concreto são alguns dos itens mais significativos financeiramente em obras de edificações. É no projeto de formas que estão definidas as dimensões das peças da estrutura (lajes, vigas e pilares). Portanto, sem esse projeto não é possível calcular com grau adequado de precisão a quantidade de formas nem a quantidade de concreto necessária à execução da obra. Da mesma forma, é no projeto de armação que estão os detalhamentos das armaduras de lajes, vigas e pilares, bem como a tabela resumo contendo a quantidade e medidas das armaduras utilizadas em cada um daqueles elementos. Essas informações são essenciais para calcular adequadamente a quantidade de aço que deve constar na planilha orçamentária da obra. Existem índices para a quantificação de concreto, formas e aço, usualmente adotados quando não se dispõe dos projetos detalhados. Porém esses índices não devem ser utilizados nas licitações regidas pela Lei 8.666/1993 pois aumentam a imprecisão do orçamento e o risco de modificações posteriores. Outro dado importante definido nos projetos de forma e armação é a resistência do concreto. O custo do concreto varia bastante em função da sua resistência. A adoção, na planilha, de uma determinada resistência para o concreto sem a definição anterior em projeto, aumenta, da mesma forma, a imprecisão e o risco de alterações futuras no orçamento. Pela explicação acima, fica claro que tanto o projeto de formas como o de armação devem fazer parte do projeto básico e, portanto, ser desenvolvido antes de licitar a obra. [ 25 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos CASO PRÁTICO 2 Em uma obra de saneamento, é necessária a realização de sondagens para reconhecimento do subsolo ainda na fase de projeto básico? As sondagens são métodos de investigação do subsolo que tem por objetivo fornecer informações sobre o tipo de solo do local: a composição, espessura e resistência das diversas camadas, a profundidade do nível d’água, entre outras. Os itens referentes à escavação e ao escoramento estão entre os mais significativos financeiramente em uma típica obra de saneamento. As características do solo que será escavado impacta bastante a forma de execução desses serviços (escavação manual ou com escavadeira, escoramento aberto, semi-aberto ou fechado etc) e, consequentemente, nas composições dos seus preços. Por exemplo: a escavação de solo em local com nível do lençol freático elevado pode exigir a consideração de custos para bombeamento da água; solos moles ou pouco compactos são mais fáceis de escavar (maior produtividade da equipe e, portanto, menores custos de escavação), em contraponto requerem maior atenção com o escoramento (maiores custos de escoramento); solos compactos ou duros reduzem a produtividade da equipe de escavação e a necessidade de escoramento. Como se pode observar, para viabilizar a previsão adequada dos custos da obra é fundamental a realização das sondagens ainda no projeto básico. Portanto, as sondagens devem ser realizadas antes da licitação da obra e suas informações serão importantes para definir as próprias características do projeto. [ 26 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 7.4.1 Elementos mínimos de um Projeto Básico de edificações O TCU, por meio do Acórdão 632/2012-TCU-Plenário, aponta, com base na Orientação Técnica 1/2006 do Instituto Brasileiro de Auditoria de Obras Públicas (OT - IBR 001/2006), os seguintes elementos mínimos do projeto básico de obras de edificações: ELEMENTOS MÍNIMOS DO PROJETO BÁSICO DE OBRAS DE EDIFICAÇÕES Levantamento topográfico Sondagens Projeto arquitetônico Projeto de terraplanagem Projeto de fundações Projeto estrutural Projeto de instalações hidrossanitárias (água fria, água quente, esgotos sanitários, águas pluviais, irrigação e drenagem) Projeto de instalações elétricas Projeto de instalações telefônicas Projeto de instalações de detecção e alarme e de combate à incêndio Projeto de Instalações Especiais Obs: a depender da destinação da edificação, pode haver projetos para outras instalações especiais, tais como circuito interno de televisão, sonorização, antenas de TV, controle de acesso, automação predial, escadas rolantes, compactadores de resíduos sólidos, gás combustível, vácuo, ar comprimido, oxigênio etc. Projeto de instalações de ar condicionado e calefação Projeto de instalação de transporte vertical (elevadores) Projeto de paisagismo Orçamento detalhado Cronograma físico-financeiro [ 27 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos A OT - IBR 001/2006 detalha ainda qual seria o conteúdo mínimo de cada um desses projetos. Além da tabela para edificações (item 6.1), há tabelas específicas para obras rodoviárias e obras de pavimentação urbana. Vale destacar que o detalhamento apresentado é apenas um referencial mínimo, ou seja, o projeto básico poderá conter elementos adicionais aos elencados, cabendo aoprojetista, de acordo com as particularidades de cada empreendimento, produzir o conteúdo adicional necessário. 7.4.2 Elementos mínimos de um Projeto Básico de drenagem e saneamento Na tabela a seguir, são apresentados os elementos mínimos recomendados em projetos básicos de obras de drenagem, abastecimento de água e esgotamento sanitário. Essa tabela não consta da OT - IBR 001/2006, mas foi elaborada considerando-se as características específicas desse tipo de obra e tendo como referência as tabelas existentes para edificações, rodovias e pavimentação urbana. ELEMENTOS MÍNIMOS EM PROJETOS BÁSICOS DE OBRS DE DRENAGEM, ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTO SANITÁRIO Desapropriações Levantamento topográfico Sondagens Projeto geral de concepção do sistema Projeto da estação de tratamento, estações elevatórias e reservatórios, inclusive os de acumulação de cheias (bacias de detenção) Projeto de rede drenagem urbana Projeto da rede de abastecimento de água Projeto da rede coletora de esgotamento sanitário Projeto de adutoras, linhas de recalque, coletores tronco, interceptores e emissários Projeto de repavimentação urbana Projeto de interferências Projeto de remanejamento viário Orçamento detalhado Cronograma físico-financeiro Saiba mais... O conteúdo completo da OT – IBR 001/2006 pode ser acessado na biblioteca do curso ou no endereço http://www.ibraop.org.br/ media/orientacao_tecnica. pdf Para cada um dos itens acima listados, também há um detalhamento do conteúdo mínimo, que está disponível na biblioteca do curso. [ 28 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 8. Licenciamento Ambiental A lei determina que o projeto básico deve contemplar o adequado tratamento dos impactos ambientais do empreendimento11, concretizado pelo licenciamento ambiental12, que tem a seguinte definição: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental13. De um modo geral, a “licença” é um instrumento de controle da administração pública pelo qual ela autoriza o exercício de alguma atividade, desde que atendidas condicionantes e requisitos legais. O licenciamento ambiental é composto por três tipos de licenças que devem ser obtidas na seguinte sequência: a. Licença Prévia - antes da conclusão do projeto básico; b. Licença de Instalação - antes do início da execução das obras; e c. Licença de Operação - antes do início do funcionamento do empreendimento. As referidas licenças devem ser obtidas no órgão ambiental competente. A definição desse órgão licenciador segue o critério da abrangência do impacto: se local, cabe aos municípios; se extrapola mais de um município dentro de um mesmo estado, cabe a este estado o licenciamento; se ultrapassa as fronteiras do estado ou do país, cabe ao órgão federal. A Resolução Conama 237/1997 detalha a regra, que pode ser resumida no quadro a seguir14: 11 - Lei 8.666/1993, art. 6º, inciso IX. 12 - Lei 6.938/1981, art. 10. 13 - Resolução Conama 237/1997, art. 1º, inciso I. 14 - Idem, arts. 4º, 5º e 6º. [ 29 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos Ente licenciador Competência para licenciar Órgãos ambientais municipais Empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daqueles sobre os quais houve delegação pelo estado por instrumento legal ou convênio. Órgãos ambientais estaduais Empreendimentos e atividades: - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal; - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente relacionadas no artigo 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim forem consideradas por normas federais, estaduais ou municipais; - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais Municípios; - delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio. Ibama Empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber: - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União. - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados; - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados; - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN; - bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica. Empreendimentos e atividades sujeitos a licenciamento pelo órgão ambiental estadual, nos casos de ausência ou omissão deste (atuação supletiva). [ 30 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento O licenciamento ambiental não é obrigatório para todo e qualquer empreendimento. O Anexo 1 da Resolução 237/1997 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) lista as atividades e empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, entre os quais se destacam os seguintes comumente encontrados em municípios: Empreendimentos relacionados a obras de urbanização e saneamento: a. estações de tratamento de água; b. interceptores, emissários, estação elevatória e tratamento de esgoto sanitário; c. tratamento e destinação de resíduos sólidos urbanos, inclusive aqueles provenientes de fossas; d. tratamento e destinação de resíduos industriais (líquidos e sólidos); e. tratamento/disposição de resíduos especiais tais como: de agroquímicos e suas embalagens usadas e de serviço de saúde, entre outros; f. recuperação de áreas contaminadas ou degradadas; g. parcelamento do solo; h. distrito e pólo industrial; i. complexos turísticos e de lazer. Empreendimentos relacionados a obras hídricas: a. dragagem e derrocamentos em corpos d’água; b. canais para drenagem; c. retificação de curso de água; d. abertura de barras, embocaduras e canais; e. transposição de bacias hidrográficas. [ 31 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos Atividades acessórias de obras: a. extração e tratamento de minerais; b. usinas de produção de concreto; c. usinas de asfalto. Vale observar que o Anexo 1 da Resolução 237/1997 do Conama relaciona apenas alguns exemplos, de modo que outros tipos de empreendimentos podem necessitar de licenciamento ambiental, desde que utilizem recursos ambientais e sejam considerados efetiva ou potencialmente poluidores, ou desde que sejam capazes de causar degradação ambiental. Além disso, mesmo que não seja necessário obter esse licenciamento para o empreendimento em si, o órgão público deve se certificar de que jazidas e bota-fora utilizados pela executora da obra estão devidamente regularizados e possuem as licenças ambientais. A falha ou ausência de licenciamento ambiental é crime e pode ocasionar também o embargo de obra ou sua demolição, nos termos do art. 60 da Lei 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais). O não cumprimento das medidas necessárias à preservação ambiental ou à correção dos inconvenientes e danos causados ao meio ambiente pode acarretar também a aplicação de multa, conforme o art. 14 da Lei 6.938/1981 (Política Nacional do Meio Ambiente). Também responde pela condutairregular a autoridade competente que deixar de promover as medidas tendentes a impedir essas práticas. Caberá ao poluidor, independente da existência de culpa, indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros. [ 32 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento CASO PRÁTICO A construção de uma escola necessita de licenciamento ambiental? Em regra, a construção de empreendimentos escolares não necessita de licenciamento ambiental, pois não é considerado empreendimento potencialmente poluidor ou causador de dano ambiental. Apesar disso, esse tipo de obra pode necessitar de licenciamento ambiental, por exemplo, se sua implantação estiver prevista em terreno com alguma das seguintes particularidades: área de proteção ambiental; várzea de córregos ou rios; terreno com vegetação nativa etc. Nestes casos, é importante consultar o órgão ambiental para verificar sobre a necessidade de licenciamento ambiental, já que pode ser necessária a adoção de medidas ambientais compensatórias. Na mesma linha, existem outras situações em que o órgão ambiental pode até mesmo se negar a conceder a licença ambiental, por exemplo, se sua implantação estiver prevista em local que tenha sido aterrado com material orgânico, pois sujeitaria a construção a riscos de explosões. Como se pode observar, mesmo empreendimentos que, a princípio, não causem nenhuma forma de degradação do meio ambiente, podem estar sujeitos a licenciamento ambiental. 8.1 Licença Prévia A Licença Prévia (LP) atesta a viabilidade ambiental do empreendimento ou atividade, aprovando sua localização e concepção e estabelecendo condicionantes e medidas a serem tomadas para reduzir os danos ambientais causados. Sua finalidade é definir as condições com as quais o projeto torna-se compatível com a preservação do meio ambiente que afetará. É também um compromisso assumido pelo empreendedor de que seguirá o projeto de acordo com os requisitos determinados pelo órgão ambiental. A Licença Prévia deve ser obtida antes da conclusão do projeto básico, pois todas as medidas exigidas na licença devem estar devidamente previstas no projeto básico. Além disso, há a possibilidade de o órgão ambiental manifestar-se pela inviabilidade ambiental da obra, o que ensejaria a necessidade de alteração da localização da obra e/ou de modificação de toda a concepção do projeto. O prazo de validade da LP deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao [ 33 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos empreendimento, podendo ser prorrogado, desde que não ultrapasse o prazo máximo de cinco anos15. A obtenção da Licença Prévia pode depender da elaboração de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O art. 2º da Resolução 001/1986 do Conama lista as atividades que precisam do EIA/RIMA. São elas: a. Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; b. Ferrovias; c. Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; d. Aeroportos, [...]; e. Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários; f. Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; g. Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; h. Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); i. Extração de minério, [...]; j. Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; k. Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; l. Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); m. Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI; 15 - Resolução Conama 237/1997, art. 18, inciso I e § 1º. [ 34 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento n. Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental; o. Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes; e p. Qualquer atividade que utilize carvão vegetal em quantidade superior a dez toneladas por dia. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) deve: i) ser elaborado por equipe multidisciplinar habilitada; ii) contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, comparando-as com a hipótese de não execução do projeto; iii) identificar e avaliar os impactos ambientais gerados nas fases de implantação (que é a obra propriamente dita) e operação (que corresponde ao uso posterior à conclusão das obras); iv) definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto; considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza; e, por fim, v) considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de influência, e sua compatibilidade com o projeto. As seguintes atividades técnicas, no mínimo, devem ser desenvolvidas em um EIA16: a. diagnóstico ambiental da área de influência do empreendimento contendo a descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área de influência do empreendimento, antes da implantação do projeto, considerando os meios físico (o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, o relevo, os tipos e aptidões do solo, os corpos d’água, o regime de chuvas etc.), biológico (animais e plantas) e socioeconômico (o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio-economia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos); b. análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, por meio da identificação, previsão da extensão e 16 - Resolução Conama 001/1986, art. 6º. [ 35 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos, diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos custos e benefícios sociais; c. definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas; e d. elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados. O órgão responsável pelo licenciamento avaliará e indicará, conforme o caso, a necessidade de realização de audiências públicas para que a população afetada possa participar efetivamente do processo17. Nos casos em que o impacto ambiental de determinada atividade for considerado não significativo, o órgão ambiental competente pode solicitar outros estudos ambientais mais simplificados18 que o EIA, tais como: (i) relatório ambiental; (ii) plano e projeto de controle ambiental; (iii) relatório ambiental preliminar; (iv) diagnóstico ambiental; (v) plano de manejo; (vi) plano de recuperaçãode área degradada; e (vii) análise preliminar de risco. O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), por sua vez, consiste em uma espécie de resumo do EIA, escrito em linguagem mais acessível, com o objetivo de atender à demanda da sociedade por informações a respeito do empreendimento e de seus impactos, devendo ser ilustrado por mapas, quadros, gráficos e outras técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender claramente as possíveis consequências ambientais do projeto e suas alternativas, comparando vantagens e desvantagens de cada uma delas19. 8.2 Licença de Instalação A Licença de Instalação atesta a inclusão das medidas mitigadoras no projeto e, assim, permite que seja iniciada a obra propriamente dita. Nenhuma obra sujeita a licenciamento ambiental pode ser iniciada sem a respectiva Licença de Instalação (LI). 17 - Idem, art. 11, § 2º. 18 - Resolução Conama 237, art. 12, § 1º. 19 - Milaré, Édis; Benjamin, Antonio Herman V. Estudo prévio de impacto ambiental: teoria, prática e legislação. São Paulo: RT, 1993, p. 47. A licença de instalação deve ser obtida antes do início efetivo das obras. Atenção! [ 36 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento Ao conceder a LI, o órgão gestor de meio ambiente terá: a. autorizado o empreendedor a iniciar as obras; b. concordado com as especificações constantes dos planos, programas e projetos ambientais, seus detalhamentos e respectivos cronogramas de implementação; c. verificado o atendimento das condicionantes determinadas na licença prévia; d. estabelecido medidas de controle ambiental, com vistas a garantir que a fase de implantação do empreendimento obedecerá aos padrões de qualidade ambiental estabelecidos em lei ou regulamentos; e e. fixado as condicionantes da licença de instalação (medidas mitigadoras e/ou compensatórias). Vale lembrar que o licenciamento é um compromisso, assumido pelo empreendedor junto ao órgão ambiental, de atuar conforme o projeto aprovado. Portanto, alterações promovidas no projeto após a emissão da LP e/ou da LI, que possam ampliar sua área de influência ou modificar qualquer das formas de prejuízo ambiental originalmente previstas, devem ser levadas novamente ao conhecimento do órgão ambiental. O prazo de validade da Licença de Instalação deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento, podendo ser prorrogado, desde que não ultrapasse o prazo máximo de seis anos20. 8.3 Licença de Operação A Licença de Operação (LO) possibilita o funcionamento do empreendimento, após a verificação do cumprimento de todas as condições previstas pelas licenças anteriores. Sendo assim, a licença de operação possui três características básicas: a. é concedida após a verificação, pelo órgão ambiental, do efetivo cumprimento das condicionantes estabelecidas nas licenças anteriores (prévia e de instalação); 20 - Resolução Conama 237/1997, art. 18, inciso II e § 1º. [ 37 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos b. contém as medidas de controle ambiental (padrões ambientais), que servirão de limite para o funcionamento do empreendimento ou atividade; e c. especifica as condicionantes obrigatórias determinadas para a operação do empreendimento. Condicionantes que, caso não cumpridas, podem causar a suspensão ou cancelamento da operação. O prazo de validade da Licença de Operação deverá considerar os planos de controle ambiental e será de, no mínimo, 4 anos e, no máximo, 10 anos, podendo o órgão ambiental competente estabelecer prazos de validade específicos para empreendimentos ou atividades que, por sua natureza e peculiaridades, estejam sujeitos a encerramento ou modificação em prazos inferiores21. A renovação da Licença de Operação de uma atividade ou empreendimento deverá ser requerida no mínimo 120 dias antes do término de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando esse prazo automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental22. Nessa ocasião, o órgão ambiental poderá, mediante decisão motivada, aumentar ou diminuir o seu prazo de validade, após avaliação do desempenho ambiental da atividade ou empreendimento no período de vigência anterior, respeitados os limites estabelecidos (de 4 a 10 anos)23. Por fim, merece registro que o órgão ambiental monitora, ao longo do tempo, o trato das questões ambientais e das condicionantes determinadas ao empreendimento. 21 - Idem, art. 18, inciso III e § 2º. 22 - Idem, art. 18, § 4º. 23 - Idem, art. 18, § 3º. [ 38 ] Obras Públicas de Edificação e de Saneamento 9. Projeto executivo De acordo com sua definição legal, projeto executivo é o conjunto dos elementos necessários e suficientes à execução completa da obra, de acordo com as normas pertinentes da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT24. A NBR 13.531/1995, por sua vez, define projeto executivo como uma etapa destinada à concepção e à representação final das informações técnicas da edificação e de seus elementos, instalações e componentes, completas e definitivas, necessárias e suficientes à licitação (contratação) e à execução dos serviços de obra correspondentes. Diante dessas definições e considerando que o projeto básico também deve conter todos os elementos necessários e suficientes à caracterização da obra, elaboração de seu orçamento e sua licitação, pode surgir a dúvida de quais seriam efetivamente os elementos que diferenciam o projeto básico do executivo. Em síntese, pode-se dizer que o projeto executivo seria o projeto básico complementado por informações que não acarretem impacto no orçamento ou que este impacto seja mínimo e insignificante25. Cita-se, como exemplo, o projeto estrutural de uma edificação em concreto armado, que, como visto anteriormente, deve, obrigatoriamente, fazer parte do projeto básico. As plantas de formas são peças constantes de um projeto de estruturas. Nelas serão discriminadas as dimensões de todos os elementos estruturais da obra. A partir dessas plantas, o orçamentista pode calcular os quantitativos de forma para incluir o serviço na planilha orçamentária, considerando as dimensões de cada viga, pilar, laje, bem como o tipo de forma a ser utilizada para a confecção desses elementos. Existe, entretanto, a possibilidade de melhor particularizar esses projetos. Pode-se elaborar o “projeto executivo de formas”, no qual será definido com mais detalhes o procedimento executivo de cada peça estrutural, indicando-se a dimensão das chapas de madeirite e a posição dos cortes nessas chapas de modo a otimizar o seu reaproveitamento, o posicionamento das peças para escoramento das lajes e o travamento das vigas e pilares etc. 24 - Lei 8.666/1993, art. 6º, inciso X. 25 - Acórdão 1874/2007 – TCU – Plenário [ 39 ]Módulo 1 - Planejamento / Aula 2 - Elaboração de Projetos São detalhes importantes à execução da obra, que visam à eficiência no uso dos recursos e reduzem o risco de erros construtivos, mas que não têm impacto no custo da obra, já que não se modificam as quantidades ou as dimensões dos elementos estruturais; nem a quantidade de aço ou as especificações do concreto. Outro exemplo possível é um projeto hidrossanitário. Em ramais de esgoto pode ser necessário furar algum elemento estrutural para passar os tubos com o caimento especificado. O projeto executivo detalhará o exato posicionamento, dimensão e altura do furo, bem como a posição das emendas e das conexões, de acordo com a inclinação indicada no projeto básico. Sem modificar, todavia, o comprimento ou a bitola da tubulação26. 10. Critérios importantes de concepção de projeto Nos tópicos anteriores desta aula vimos as características gerais dos projetos e as informações que deles devem fazer parte, de tal modo que seja possível
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