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. 1. ORIGEM HISTÓRICA: A noção de posse inicia-se no Direito Romano, na busca de promover a defesa da paz social, ao tutelar a situação de fato originada pela posse. Duas teorias destacam-se ao apontarem a origem da posse: • Teoria de Niebuhr, adotada por Savigny: onde a posse surgiria com a distribuição das terras conquistadas pelos romanos e, sendo assim, passaria a ser protegida pelo interdito possessório, por se tornar um estado de fato. • Teoria de Ihering: alega ter a posse surgido através de um processo reivindicatório. 2. CONCEITO DE POSSE: Extraído a partir do artigo 1.196 do Código Civil Brasileiro, o detentor da posse vem a ser “todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. Ademais, encontramos no artigo 1.228 do referido Código Civil, que proprietário é aquele que “tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.” Porém, na seara do direito civil, posse e propriedade não são palavras sinônimas. O ordenamento jurídico brasileiro distingue a noção de posse em: a) Jus possessionis: é o direito de posse, o poder que recai sobre a coisa, gerando a possibilidade de sua defesa através dos interditos. b) Jus possidendi: é o direito à posse, gerado pelo direito de propriedade. 3. TEORIAS SOBRE A POSSE: Existem duas teorias principais sobre a natureza da caracterização da posse, são elas: a) Teoria Subjetiva: Defendida por Savigny, sustenta a ideia de que a posse é constituída por dois elementos: • Corpus: detenção física da coisa, a posse é minha pois a coisa está comigo; • Animus: intenção de ter a coisa como própria, exercício do poder. b) Teoria Objetiva: Defendida por Rudolf von Ihering, sustenta o posicionamento de que a posse se configura com a conduta do dono. Ou seja, o animus já estaria contido no corpus. O Código Civil de 2002 adota essa teoria. Diante do exposto, não pode haver a confusão entre possuidor e detentor, pois há situações previstas na legislação brasileira, onde mesmo aquele que exerce poderes sobre determinada coisa, tal pessoa não é considerada possuidora. Sendo assim, urge-se ressaltar que por exemplo, só a posse gera efeitos jurídicos; e o detentor irá exercer direito em nome de outra pessoa, enquanto possuidor em nome próprio. Adicionalmente, no artigo 1.199 do Código Civil, é disposto sobre Composse, situação onde duas ou mais pessoas, ao mesmo tempo, possuírem coisa indivisa. Tal situação não pode se confundir com Condomínio, uma vez que domínio abrange somente bens corpóreos, e propriedade (composse) abrange tanto bens corpóreos quanto incorpóreos, 4. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE: a) Posse direta e posse indireta (CC, art. 1.197): • Posse direta ou imediata: é aquela onde o possuidor tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal. Ex: comodato. • Posse Indireta ou mediata: é aquela cuja posse o proprietário concede o uso da coisa para um terceiro. Ex: Cessão de terra para usufruto. b) Posse Exclusiva, Composse e Posses Paralelas: • Pose Exclusiva: há apenas um possuidor sobre a coisa. Seja a pessoa física ou jurídica, somente ela terá poder sobre o bem. • Composse: como dito anteriormente, é a situação onde duas ou mais pessoas, ao mesmo tempo, possuem coisa indivisa. ▪ Composse pro diviso: exercida simultaneamente, estabelecendo uma divisão de fato; ▪ Composse pro indiviso: os poderes de uso ou exploração do bem comum acontecem ao mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa. • Posse Paralela: Quando há a sobreposição de posses direta e indireta. c) Posse Justa e posse Injusta: • Posse justa: O artigo 1.200 do Código Civil deixa claro que “É justa a posse que não for violentar, clandestina ou precária.” Sendo assim, entende-se que a posse deve ser adquirida em conformidade com as leis vigentes. • Posse injusta: É a posse adquirida por violência, clandestinidade ou por abuso de confiança. Ou seja, é posse viciada. - Violenta: Essa violência pode ocorrer contra o possuidor ou o direito de posse; - Clandestina/ Interdita: Obtida furtivamente, nas escuras, de modo escondido.; - Precária: Obtenção de forma justa, mas, não devolve o bem. estabelecidos. Se recusa a devolver o bem. d) Posse de Boa fé e Posse de Má fé (CC, art. 1.201): • Posse de boa-fé: Ocorrerá quando o possuidor ignorar o vício, ou obstáculo que o impeça de adquirir a coisa. É fundamentada através do psicológico do individuo que crê conscientemente na aquisição da coisa por meios legítimos, ignorando a existência do vício. Entretanto, não reconhece a boa fé nos casos de erros inescusáveis. • Posse de má-fé: Diferente nos casos de boa-fé, a pessoa sabe da ocorrência do vício sobre a coisa. e) Posse nova e posse velha (CC, art. 1.211) • Posse nova: é a de menos de ano e dia. • Posse velha: é a de ano e dia ou mais. É necessário tomar cuidado para não confundir posse nova e posse velha com ação de força nova, e ação de força velha. A primeira classificação leva em conta à sua idade, enquanto a segunda classificação leva em conta o tempo decorrido desde a incidência da turbação ou do esbulho. f) Posse natural e Posse Civil ou Jurídica: • Posse natural: é aquela formada pelo exercício de poderes de fato sobre a coisa. • Posse Civil ou Jurídica: decorrente de força de lei, não há a necessidade de atos materiais ou físicos. Se transmite ou se adquire através de título. g) Posse ad interdicta e posse ad usucapionem: • Posse ad interdicta: posse que é defendida pelos interditos possessórios ou ações possessórias, quando violado, mas não conduz à usucapião. • Posse ad usucapionem: é a posse que perdura por um determinado período estabelecido em lei, gera a aquisição do domínio pelo seu titular. 5. AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE: a) Aquisição da Posse: Diz o artigo 1.204 do Código Civil brasileiro que “Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Uma pessoa adquire direitos da seguinte forma: • Aquisição originária: o direito adquirido no momento, não guarda relação com qualquer direito anterior. ▪ Coisa nunca teve dono: res nullius ▪ Coisa abandonada: res derelicta ▪ Coisa esbulhada. • Aquisição derivada: há a concordância com o antigo possuidor. ▪ Real; ▪ Simbólica; ▪ Cláusula Contratual. b) Modos de aquisição da posse: Segundo o artigo 1.196 do Código Civil, adquire-se a posse a partir do momento que se torna possível seu exercício. Dessa forma, a sua aquisição acontece por meio de qualquer dos modos de aquisição presentes no ordenamento brasileiro, sendo a tradição (real, simbólica ou ficta) a mais comum. Ademais, o código civil também estipula quem pode adquirir a posse: “Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I - Pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II - Por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.” c) Perda da posse: A perda da posse acontece com a perda de poder sobre o bem, mesmo que seja contra a vontade do possuidor. Ela pode acontecer de diferentes formas, pela destruição da coisa; abandono; tradição etc. Além disso, o artigo 1.224 nos ensina que: “Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.” 6. EFEITOS DA POSSE: Os principais efeitos da posse são: a) a proteção possessória: faculdade de propositura de demanda para restituição ou permanência de posse: ▪ Proteção pela autotutela; ▪ Legitima defesa. ▪ Desforço imediato; ▪ Proteção pela heterotutela. b) a percepção dos frutos (arts. 1.214 a 1.216,CC): se for possuir e agir de boa fé tem direito aos frutos percebidos e às despesas. Já o possuidor de má fé, não tem direito sobre os frutos, mas tem sobre às despesas. c) a responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa (arts. 1.217 e 1.218, CC): Sendo o possuidor de boa-fé não se responsabiliza pelo que não deu causa. Já o possuidor de má fé responde, mesmo que acidental, a menos que prove que o dano a coisa ocorreria de qualquer forma, mesmoq eu estivesse com o dono. d) a indenização pelas benfeitorias e o direito de retenção (arts. 1.219 a 1.222, CC). e) a usucapião. 7. AÇÕES POSSESÓRIAS: Ações possessórias são instrumentos de proteção a determinado bem, seja bem móvel ou bem imóvel. Há 3 tipos de situações que acarretam lesão a posse: • Esbulho: quando há privação completa da posse, fazendo com que o possuidor perca todo o contado com a coisa; • Turbação: quando há perca parcial da posse do bem. • Ameaça: não é lesão concreta, mas um receio justificado de que o esbulho ou a turbação possa ocorrer. a) Tipos de ações possessórias: • Ação de Interdito proibitório: instituto preventivo, cabível quando há uma ameaça de violação ao direito de, sendo uma proteção contra risco iminente; • Ação de Manutenção de posse: proteção contra turbação, ação para reaver a posse e uso tranquilo do bem. • Ação de reintegração de posse: proposta quando há esbulho da coisa, visando garantir a reintegração de posse ao possuidor. Além disso, as ações possessórias são caracterizadas pela sua natureza dúplice, permitindo que o réu da ação também demande em face do autor, descartando nesses casos a reconvenção, já que o réu fará isso na própria contestação. Adicionalmente, caracteriza-se por sua fungibilidade, pois há a possibilidade de conversão livremente de uma ação em outra. Por fim, o Código de Processo Civil também garante a possibilidade de cumulação de pedidos na propositura da ação possessória, podendo o autor pedir cumulativamente a indenização em perdas em danos, pelos frutos que devido a situação deixou de receber e a aplicação de multa ou medida até que se cumpra a tutela da posse. 8. Referências: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva. BRASIL. Código Civil (2002). Lei no. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
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