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Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 85 6 Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental Introdução No momento em que o Brasil discute e adota estratégias para o desenvolvimento sustentável e se associa aos organismos internacionais na busca de contribuir com informações para o mapeamento global das alterações da ocupação do solo, os traba- lhos de geoprocessamento representam importante aporte para esse fim. Os produtos resultantes, desenvolvidos no âmbito dessa atividade, fornecem informações sobre as características e dinâmicas espaciais das regiões estudadas. Assim, nesta aula apre- sentaremos os conceitos gerais sobre geoprocessamento e sua aplicabilidade à gestão territorial e ao planejamento ambiental. Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental 86 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 6.1 Geoprocessamento Com o crescimento das cidades e consequentemente da demanda de uso de recursos naturais, a gestão territorial e o planejamento ambiental se tornam uma das principais ferra- mentas para a administração do espaço. Segundo o geógrafo Milton Santos (1997), “espaço é o conjunto de objetos e relações que se realizam sobre estes objetos”, ou seja, é a complexi- dade das interações culturais das comunidades humanas nos meios urbanos e rurais. Desta forma, o espaço das zonas urbanas e rurais deve ser bem administrado, visando minimizar conflitos e fomentar interações positivas entre as populações e o meio. Com o desenvolvimento de tecnologias no campo da gestão e em especial na área da cartografia, surge uma ferramenta importante para a gestão territorial e o planejamento ambiental cha- mada de geoprocessamento. O geoprocessamento, segundo Worboys (1995), é composto por inúmeros métodos de coleta e análise de informações georreferenciadas, isto é, ele processa informações de da- dos que estão interpolados em referências geográficas ocorrentes orientadas pelas ondas enviadas pelos satélites e que produzirão informações geográficas. Esses métodos se apro- priam de tecnologias de análises espaciais e que estão presentes a cada dia no cotidiano das pessoas como, por exemplo, o GPS (Sistema de Posicionamento Global) que é amplamente utilizado para traçar destinos geográficos. O Brasil tem investido de forma considerável nestas tecnologias e compõe um grupo restrito de países que investem na pesquisa e desenvolvimento de produtos técnicos espa- ciais. Como resultado desses investimentos, o Brasil tem a parceria com a China, que em 1999 lançou o primeiro satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), o CBERS-1, e em 2003 o CBERS-2, tendo alcançado grande êxito para as finalidades do geoprocessamento. As imagens geradas por esses satélites podem ser adquiridas gratuitamente no site do INPE. As principais tecnologias que são bem difundidas e utilizadas na gestão territorial e planejamento ambiental estão apresentadas no quadro 1. Quadro 1 – Principais tecnologias utilizadas na gestão territorial e planejamento ambiental. Tecnologias Sigla Sensoriamento Remoto SR Sistema de Informação Geográfica SIG Sistema de Posicionamento Global GPS Fonte: Elaborado pelo autor. • Sensoriamento remoto O sensoriamento remoto é a tecnologia que é capaz de obter imagens com a onda na banda infravermelha, onde os sensores ópticos capturam e registram a luz emitida e/ou refletida pelo objeto em análise da superfície terrestre. Os satélites são os principais instru- mentos para geração dessas imagens e os mais conhecidos e difundidos são: Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 87 • CBERS (Chinese – Brazilian Earth Resources Satellite), com 1.450 kg. Satélite nacional em parceria com a China, lançado em 1999 e administrado pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). • Landsat 7 (Earth Resources Technology Satellite), com aproximadamente 2.100 kg. • SPOT (Sistéme Probatoire de L’Observation De La Terre France), com 2.700 kg. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) desenvolveu o programa de acesso gratuito que executa atividades de processamento digital de imagens (SPRING). Outra fonte gratuita amplamente divulgada é o Google Earth. Uma vez captada, a imagem é, em seguida, analisada e por fim poderá ser transformada em mapas ou constituir um banco de dados georreferenciados, compondo assim o geoprocessamento. • Sistema de informação geográfica O sistema de informação geográfica é comumente confundido com geoprocessamento, no entanto ele é uma das tecnologias que fazem parte do conceito de geoprocessamento, o qual possui especificidades e um conceito maior e que processa dados georreferenciados. O sistema de informação geográfica processa e analisa informações gráficas como, por exem- plo, mapas e tabelas com o objetivo de executar análises geoespaciais e desenvolver modelos da superfície terrestre. Assim como para o sensoriamento remoto, o INPE disponibiliza gra- tuitamente programas desenvolvidos para o SIG, como o sistema de análise geo-ambiental (SAGA), além do próprio SPRING. • Sistema de posicionamento global O sistema de posicionamento global, mais conhecido pela sigla GPS, é um sistema de po- sicionamento por satélites utilizado para a determinação de localizações na superfície terres- tre. Na história da humanidade, sempre foram desenvolvidas técnicas de localização como, por exemplo, o posicionamento das estrelas, do sol, formações rochosas etc. No entanto, com o au- xílio de satélites, é possível posicionar geograficamente o objeto por um aparelho receptor da emissão das ondas dos satélites de maneira precisa quanto à longitude, latitude e altitude. O GPS é um programa desenvolvido pelos Estados Unidos para o uso em guerras, no entanto, outros países também estão desenvolvendo esta tecnologia como a Rússia com o programa GLONASS; a Europa com o programa GALILEO, e mais recentemente, a China com o programa COMPASS. 6.1.1 Características do geoprocessamento 6.1.1.1 Configurações metodológicas Um conjunto de parâmetros e variáveis define o roteiro operacional do geoprocessa- mento, desde a identificação da ocupação do solo, passando pelas informações que auxiliam a compreensão dos processos de desenvolvimento das atividades, até a definição dos prin- cipais padrões de uso da terra. Através da análise e inter-relação desse conjunto de informações é possível distinguir e carto- grafar unidades espaciais homogêneas e conhecer as diferentes formas de apropriação do espaço. Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental 88 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 6.1.1.2 Informações gráficas Este conjunto de informações apresenta e discute conceitos associados à geração, pro- cessamento e armazenamento de imagens digitais de satélites, bases cartográficas oficiais digitalizadas, mapas regionais, fotografias aéreas e de campo, relativos à área objeto de es- tudo. O processamento, tratamento e supervisão dessas informações a partir de softwares de aplicação específica possibilitam representações gráficas que buscam refletir a cobertura e padrões de utilização da terra. 6.1.1.3 Informações textuais Este conjunto de informações encerra o material selecionado a partir de literatura técni- ca e científica, documentos, anotações e informações geográficas de caráter estatístico, rela- tivos à área objeto de estudo. As informações na forma textual possibilitam análises e inter- pretações no intuito de subsidiar os produtos gráficos e o relatório final, buscando integrar um conjunto de informações que reflita a realidade observada e possibilite a interpretação dos processos de uso e ocupação do solo. 6.1.1.4 Legenda adotada e feições mapeadas Segundo o IBGE (2013), as informações de uso e ocupação do solo em um georrefen- ciamento devem ser apresentadas em mapeamentos separados. Contudo, de um ponto de vista prático,é corriqueiro e mais eficiente a união de ambos os sistemas de classificação de dados de sensores remotos em uma única fonte de atividades de mapeamento. Desse modo, as classes de mapeamento para a elaboração do uso e ocupação do solo da área de estudo devem ser conceitualmente definidas com base no sistema de classificação para o uso e ocu- pação do solo segundo IBGE. Os procedimentos metodológicos poderão seguir o organograma apresentado na figura 1. Figura 1 – Procedimentos metodológicos. Fonte: Elaborado pelo autor. Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 89 6.2 Geoprocessamento aplicado à gestão territorial O geoprocessamento é uma ferramenta fundamental e de importante aplicação à gestão territorial para os gestores municipais, tanto da esfera executiva como legislativa. Além dis- so, o setor público pode encontrar nas geotecnologias subsídios para elaboração do planeja- mento territorial e políticas públicas para os espaços rural e urbano, e também monitorar a sua implementação, fazendo ajustes necessários caso haja necessidade. Para tanto, os municípios devem se organizar e planejar para oferecer aos gestores as condições técnicas, considerando que para sua utilização é necessário criar a cultura da im- plantação e uso do geoprocessamento, o qual propicia a coleta e o processamento de dados informatizados sobre informações biofísicas e sociais. As informações obtidas irão compor um banco de dados e subsidiar as tomadas de de- cisões para o planejamento de soluções espaciais que vão do diagnóstico do problema à sua resolução, otimizando assim recursos financeiros e maior chance de sucesso na intervenção. Os espaços, segundo Milton Santos (1997), são dinâmicos com contínuas mudanças ao lon- go do tempo, que pode ser curto, médio ou longo e pode ser monitorado pelo geoprocessamento que, enquanto tecnologia, associado aos sistemas de informações geográficas oferece toda a base de dados úteis para os planejamentos e tomada de decisões pelos órgãos públicos. Ressalta-se que a coleta de dados e manipulação dos mesmos na elaboração de sistemas analíticos do geoprocessamento, que irão subsidiar as tomadas de decisões que irão impac- tar diretamente as populações, devem ser desenvolvidas por um conjunto de profissionais interdisciplinares que estarão envolvidos com o conhecimento de suas respectivas áreas de atuação e contribuirão nas escolhas das metodologias de análise, ajustando eventualidades e inconformidades, tornando a decisão final mais transparente, consistente, exata e precisa. A gestão territorial é multidisciplinar e, portanto, complexa. Assim, primeiramente qualquer aplicação do geoprocessamento neste tema deve levar em consideração que seja uma proposta de análise integrada da estrutura e dos elementos da superfície terrestre, in- cluindo os meios bióticos, físicos e socioeconômicos. Neste sentido, o geoprocessamento é um instrumento geotecnológico que pode ser uti- lizado como mediador e facilitador na análise integrada de informações que compõem o banco de dados, e gerar mapas de auxílio na gestão territorial, integrando o volume de da- dos espaciais provenientes de diferentes fontes (POLIDORO e BARROS, 2010). Como resul- tados, tem-se uma rápida e efetiva visualização e fácil entendimento para as comunidades que participam da definição do uso do território, que deve ser compreendido como espaços biofísicos, culturais e sociais. Um ponto relevante da aplicabilidade do geoprocessamento à gestão territorial está na legislação brasileira. Após a promulgação da Constituição Federal em 1988, a reforma urbana ganhou destaque e em 2001 foi elaborado o Estatuto das Cidades, ordenado juridica- mente pela lei 10.257, de 10 de julho. Nesta lei, um instrumento de gestão foi criado. Trata-se do Plano Diretor, que passa a ser obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, e referência para o cumprimento da função social da propriedade. Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental 90 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 Somado ao Estatuto das Cidades, o geoprocessamento ganha mais relevância nos pro- cessos de gestão pública quando da criação e sancionamento da lei 11.445/2007, que esta- belece as diretrizes nacionais do saneamento básico e passa a englobar, dentro da política, a obrigatoriedade dos municípios de elaborarem o Plano Municipal de Saneamento Básico. Este tem entre suas bases o uso de geotecnologias como o geoprocessamento e engloba os quatro setores do saneamento, que são o abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos sólidos e limpeza pública e drenagem, devendo conter o diagnóstico e a elaboração de banco de dados e mapas temáticos das situações de saneamento. O geoprocessamento tem ampla aplicação na gestão territorial em inúmeras áreas da administração como saúde, meio ambiente, educação, trânsito etc. Uma das maiores aplica- bilidades é no auxílio de elaboração e execução de políticas públicas, sendo um importante instrumento de análise e monitoramento dos resultados. No quadro 3 estão listadas as principais aplicabilidades do geoprocessamento na gestão territorial. Quadro 3 – Aplicabilidades do geoprocessamento na gestão territorial. Área Temática Aplicabilidade Saneamento Drenagem Elaboração de planos de macrodrenagem. Monitoramento da rede de drenagem. Elaboração de planos de manuten- ção da rede de drenagem. Elaboração de mapas de áreas de ris- co de inundação e enchente. Saneamento Abastecimento de água Diagnóstico e relatórios de situa- ção do abastecimento público. Elaboração de planos de preservação de mananciais. Esgotamento sanitário Diagnóstico e relatórios de situa- ção da emissão do esgoto. Elaboração de planos de esgotamento sanitário. Monitoramento da rede de esgotamento sanitário. Resíduos sólidos Diagnóstico e relatórios de situa- ção dos resíduos sólidos. Elaboração de planos municipais para resíduos sólidos. Limpeza pública Diagnóstico e relatórios de situação da limpeza pública. Elaboração de planos municipais para limpeza pública. Monitoramento do funcionamento e qua- lidade da limpeza pública. Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 91 Área Temática Aplicabilidade Saúde Campanhas Elaboração de campanhas educativas para combate à doenças, com a elaboração de ban- co de dados e mapas de focos de doenças. Plano de combate à doenças. Elaboração de campanhas de vacinação com o banco de dados elaborado sobre vulnera- bilidades, densidade populacional etc. Administração Controle de estoques de remé- dios por unidades de saúde. Compra de remédios baseado no controle de estoques. Elaboração de rotas de distribuição de me- dicamentos conforme demanda. Trânsito Administração Identificação de pontos de tráfego. Avaliação de fluxos de trânsito. Controle de semáforos interligados. Manejo de sentidos de direção de acordo com o trânsito ou inconformidades como acidentes, manifestações etc. Elaboração de planos de manutenção viária. Identificação e zoneamento de áreas proble- mas como trânsito, depredação de sinaliza- ção, manutenção de equipamentos etc. Mobilidade Identificação e zoneamento de pon- tos de mobilidade urbana. Elaboração, monitoramento e manuten- ção de rotas para o transporte público. Elaboração, monitoramento e ma- nutenção de ciclofaixas. Elaboração, monitoramento e manuten- ção de faixas de circulação de pedestres. Cultura e turismo Administração Identificação por tipo de serviço de ba- res, restaurantes, bistrôs etc. Elaboração de mapas e rotas gastronômicas. Elaboração de banco de dados impresso e on-line de acesso aos serviços gastronômicos. Identificação de pontos de interesse cultural como museus, monumentos, marcos históricos. Elaboração de mapas e rotas de visitação cultural. Elaboração de planos integrados de cultura eturismo. Fonte: Elaborado pelo autor. Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental 92 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 6.3 Geoprocessamento aplicado ao planejamento ambiental O Brasil tem utilizado amplamente o geoprocessamento visando ao monitoramento ambiental, uma vez que muitas regiões estão submetidas a pressões das ações predatórias antrópicas, onde se observa grandes desmatamentos de florestas nativas, minerações irregu- lares, entre outras que comprometem o patrimônio ambiental brasileiro. O Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, em conjunto com o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, possui ações de moni- toramento ambiental como, por exemplo, na Amazônia, o programa Amazônia (ALOS), na Bacia do Rio São Francisco e também em outros Biomas Brasileiros (PMDBBS), tendo como base as informações geradas pelo Programa China-Brazil Earth Resources Satellite (CBERS), que foi desenvolvido para construção de importantes satélites de utilização binacional. O satélite CBERS vem sendo aplicado, por exemplo, em inúmeros projetos como o Canasat, Deter, Geoma, Prodes, Projeto Educa SeRe, SOS Mata Atlântica e zoneamento eco- lógico-econômico no Brasil (INPE, 2011). Por todo território nacional existem pressões aos recursos naturais, seja pela perspecti- va socioeconômica de determinada população que necessita dos recursos naturais para so- breviver, seja por ocupações e invasões exploratórias de ecossistemas naturais. Também de forma relevante está a pressão das políticas econômicas, que incentivam a produtividade com a execução de muitas obras e ocupação do solo e que não possuem planejamento ade- quado, ou mesmo não possuem nenhum instrumento de planejamento e gestão. Como consequências, ocorrem consideráveis danos aos recursos naturais, como polui- ção de bacias hidrográficas, comprometendo o abastecimento tanto para humanos como para animais, extinção de espécies da fauna, fragmentação de ecossistemas, causando pro- blemas em seu equilíbrio e funcionamento e até desastres de grande relevância. Por exem- plo, o caso do rompimento da barragem de Fundão em Mariana/MG, em 2015, deixando um rastro de impactos ambientais negativos e ocasionando até a morte de pessoas. Desta forma, o planejamento e a gestão ambiental têm se tornado imprescindíveis para a segurança nacional, com a proteção dos recursos naturais como base e fontes de matéria- -prima para o funcionamento da sociedade. Assim, o geoprocessamento tem se apresentado como uma ferramenta extremamen- te importante para garantir bons planejamentos e implantação de projetos que seguem os princípios da sustentabilidade, seja no setor público ou privado, servindo de base para ela- boração, monitoramento e verificação ao cumprimento da legislação ambiental brasileira. Na área do planejamento ambiental, o geoprocessamento tem ampla aplicabilidade e tem proporcionado avanços na proteção dos recursos naturais brasileiros e ajudado a me- lhorar os processos produtivos do setor industrial e agrícola, atuando na redução da emis- são de poluentes, otimização do uso de recursos naturais, melhoria na saúde humana etc. Visando exemplificar a aplicabilidade do geoprocessamento no planejamento ambiental no Brasil, no quadro 4, em que estão apresentadas as principais aplicabilidades desta ferramenta. Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 93 Quadro 4 – Aplicabilidades do geoprocessamento no planejamento ambiental. Área Temática Aplicabilidade Meio ambiente Bacias hidrográficas Gestão de mananciais de água para abastecimento público. Recuperação de bacias hidrográficas. Tipos de canais fluviais. Padrões de drenagem. Propriedades de drenagem Elaboração de planos de drenagem urbana e rural. Conservação do solo Identificação de processos erosivos. Natureza da erosão. Formas de erosão. Gestão para controlar e recuperar erosão. Meio ambiente Arborização urbana Identificação em metro quadrado da co- bertura verde por habitante. Identificação dos problemas da arborização ur- bana (fiação, calçamento, doenças, cupins etc.). Elaboração de planos de manutenção. Inventários de arborização urbana. Elaboração de políticas públicas para a gestão da arborização urbana. Identificação de zonas com bai- xos índices de arborização. Resíduos domésticos Coleta seletiva de resíduos. Coleta de resíduo comum. Tratamento do esgoto. Gestão do lodo do esgoto. Elaboração de políticas públicas para a gestão dos resíduos domésticos. Estudos ambientais Geomorfologia. Climatologia. Vulnerabilidade ambiental. Pedologia. Declividade. Altitude. Ecossistemas. Monitoramento de áreas de risco. Cumprimento da legislação ambiental Monitoramento de desmatamentos. Monitoramento de uso e ocupação do solo. Monitoramento de ocupação de áreas de risco. Averbação de reserva legal. Meio ambiente Cumprimento da legislação ambiental Recuperação de áreas degradadas. Cadastro ambiental rural. Fonte: Elaborado pelo autor. Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental 94 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 Ampliando seus conhecimentos Geoprocessamento no planejamento urbano (DUARTE, 2010) O Brasil tem mais de 5 mil municípios, de diversas extensões territoriais. Administrá-los é uma tarefa complexa, pois se deve suprir ao máximo as necessidades da população, seja em educação, seja em saúde, seja em transporte etc. Para Kohlsdorf (1985), o planejamento urbano possui dois fatores cruciais no modo de pensar e agir sobre a cidade. O primeiro é assumir a cidade como um processo contínuo. O planejamento, dentro dessa concepção, é entendido como um processo-subsídio a tomadas de decisões que têm a função de transformar a cidade de acordo com objetivos pré-estabeleci- dos. O segundo é a entrada em cena de contribuições vindas de outras dis- ciplinas, tais como a sociologia, a geografia e a economia. Assim o planeja- mento urbano assumiu característica multidisciplinar ao longo do tempo. O planejamento da intervenção estatal nas aglomerações urbanas através de órgãos de governo locais é chamado planejamento urbano, como abor- dado no site da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. As principais áreas de atuação do Estado nessas aglomerações urbanas são a provisão de infraestrutura e a regulação do uso do espaço, visando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à injustiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, con- forme o Estatuto da Cidade. O Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257, em 10 de julho de 2001) é a lei que regulamenta a política urbana nacional, expressa nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal. Ele é fruto de 12 anos de discussões e seu prin- cipal objetivo é garantir o direito de todos à cidade, ou seja, às riquezas naturais, aos serviços, à infraestrutura e à qualidade de vida. O estatuto descreve uma série de instrumentos para corrigir distorções do crescimento urbano, sendo o mais importante deles o Plano Diretor Urbano (PDU), que é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana, sendo obrigatório para municípios com mais de vinte mil habitantes, integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 95 urbanas, com áreas de especial interesse turístico ou com significativo impacto ambiental ou em áreas nas quais o poder público pretenda reali- zar parcelamento ou edificação compulsórios, impor imposto sobre pro- priedade predial e territorial urbano progressivo no tempo ou realizar desapropriação. No site da Prefeitura de Vitória-ES é possível encontrar informações perti- nentes sobre o Plano Diretor Urbano (PDU), que é um dos principais ins- trumentos de implementação das políticasurbanas no âmbito municipal, sendo a lei aprovada pela Câmara dos Vereadores. Ele tem por finalidade organizar o crescimento e o funcionamento da cidade e garantir a quali- dade de vida. Para tal define áreas de proteção ambiental e de patrimônio histórico, delimita as regiões e os critérios para instalação de atividades econômicas ou grandes obras e ainda ordena o trânsito e a expansão da área edificada. Espera-se da administração pública que garanta direitos básicos e quali- dade de vida à população. Pontes, estradas pavimentadas, escolas, hos- pitais, serviços de transporte coletivo, coleta de lixo, tratamento e dis- tribuição de água, entre outros, são realizações esperadas de qualquer prefeitura. De comum entre essas informações é que todas estão geogra- ficamente distribuídas pelo território. Ter profundo conhecimento deste é vital para que se atinjam as metas de cada governo. Nesse contexto, o uso de Sistemas de Informações Geográficos (SIG) tem se apresentado bastante eficaz para possibilitar aos gestores uma visão mais completa sobre os municípios e auxiliando nas tomadas de decisões. O Geoprocessamento, popularizado com o Google Earth, os automóveis e celulares com receptores GNSS (Global Navigation Satelite System) e as ima- gens de satélite, consiste em uma tecnologia que vem sendo largamente utilizada no apoio às decisões em políticas públicas. Cada setor de uma prefeitura, auxiliado por técnicas de geoprocessa- mento, consegue melhor planejar suas tarefas e também melhor atender aos usuários internos e externos. Setores de cadastro têm facilidade em gerir os registros imobiliários e também em passar as informações aos cidadãos através de mapas e memoriais descritivos que podem ser rapi- damente visualizados via SIG. O Imposto Territorial Urbano (IPTU) pode ser corrigido de forma mais equilibrada. Serviços de distribuição de água, luz e gás podem ter um melhor planejamento de manutenção e mais Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental 96 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 facilidade de acesso em reparos. Cidadãos podem, via mapas interativos na Internet, verificar rotas das linhas de ônibus, horários de coleta sele- tiva de lixo em determinados pontos da cidade ou mesmo procurar uma escola ou posto de saúde mais próximo de sua casa. Cavenaghi e Lima (2006) afirmam que para a construção do plano diretor é fundamental conhecer a realidade de todo município, o que inclui a infra- estrutura da cidade, o cadastro das áreas construídas, as redes de trans- porte, água e esgoto, os serviços públicos, os pontos turísticos, as áreas de preservação, dentre outras variáveis consideradas na gestão de uma prefei- tura. Artigo publicado na versão on-line da revista InfoGeo traz exemplos de como o uso de SIG e de imagens de satélite vai além de gerar os sub- sídios para a formação do plano diretor: auxilia vários departamentos da prefeitura a planejar suas ações e ainda disponibiliza estas informações via Internet, o que melhora e agiliza o atendimento ao cidadão. As possibilidades de aplicações são: mapeamento do uso do solo urbano em classes detalhadas; estimativa populacional por bairro, pela contagem de unidades residenciais; identificação, mapeamento, análise de lotea- mentos clandestinos e a elaboração de propostas preliminares de regula- rização urbanística desses loteamentos; mapeamento da segregação resi- dencial; estimativa de áreas impermeabilizadas; mapeamento dos vazios urbanos; discriminação de densidades construtivas, entre outras. Deste modo, o grande conjunto de informações exigidas para o plano diretor, que permite identificar as zonas onde se pretende incentivar, coibir ou qualificar a ocupação; induzir ou restringir determinados usos do solo; regiões que se queira povoar ou repovoar; com vazios urbanos que se queiram ocupar; áreas de interesse ambiental ou paisagístico; áreas que deverão ser submetidas à regularização fundiária e urbanística; áreas em que excepcionalmente a população residente será removida, têm nas ima- gens orbitais atualmente disponíveis uma fonte de dados imprescindível. A possibilidade de acesso aos dados geográficos pela população consolida o geoprocessamento enquanto instrumento útil ao processo de argumen- tação coletiva que caracteriza o planejamento participativo. A visualização mais incisiva da realidade sócio-espacial de cada região permite a identifi- cação dos anseios imediatos da população, o que facilita o diálogo entre os diferentes atores urbanos (KURKDJIAN e PEREIRA, 2006). Geoprocessamento aplicado à Gestão Territorial e ao Planejamento Ambiental Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 6 97 Atividades 1. Segundo o geógrafo Milton Santos (1997), “espaço é o conjunto de objetos e relações que se realizam sobre estes objetos”, ou seja, é a complexidade das interações culturais das comunidades humanas nos meios urbanos e rurais. Com base neste conceito, bus- que uma imagem do Google Earth, disponível gratuitamente na internet, e faça uma fotointerpretação, localizando, demarcando e descrevendo os objetos na paisagem. 2. Busque na internet uma imagem de sua escolha, do Google Earth, disponível gra- tuitamente, e faça uma fotointerpretação da mesma imagem sobre a dinâmica do espaço observado em diferentes tempos. Por exemplo, busque uma imagem de 5 ou 10 anos atrás e atual. No programa Google Earth há uma ferramenta que permite este acesso das imagens mais antigas. Observe os pontos de alteração na imagem e descreva-os. 3. Busque na internet uma imagem de sua escolha do Google Earth, disponível gra- tuitamente, e faça uma fotointerpretação de áreas verdes (parques, bosques, praças) na zona urbana e de fragmentos florestais na zona rural. Busque na literatura que tipo de bioma e ecossistemas que ocorrem na região da imagem analisada e comente sobre o tamanho das áreas analisadas e se há necessidade de algum tipo de manejo visando a sua manutenção/conservação. Referências BRASIL. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 13 nov. 2016. ______. Lei n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento bá- sico. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm>. Acesso em: 13 nov. 2016. DUARTE, Romero Meyrelles. Geoprocessamento no planejamento urbano. Disponível em: <http:// mundogeo.com/blog/2010/12/15/geoprocessamento-no-planejamento-urbano/>. Acesso em: 7 nov. 2016. INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Satélite sino‐brasileiro de recursos terrestres. Projetos que utilizam imagens CBERS. Disponível em: <http://www.cbers.inpe.br/links_uteis/projetos. php>. Acesso em: 14 nov. 2016. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Base sistemática: 1:250.000. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/download/arquivos/index1. shtm>. Acesso em: 14 nov. 2016. POLIDORO, Maurício; BARROS, Mirian Vizintim Fernandes. Utilização de geotecnologias no suporte a gestão de políticas públicas municipais. Revista eletrônica da associação dos geógrafos brasileiros
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