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. 'f ; . . [,· .. t: ... ,* ' ' , . "! > • • i!, - :..:.:, ~ ':' Emmanuel Alloa !Org.l PENSAR A IMAGEM Georges Didi-Huberman Jacques Ranciere W. J. T. Mitchell Horst Bredekamp Hans Belting Emanuele Coccia Jean-Luc Nancy Marie-José Mondzain Gottfried Boehm Emmanuel Alloa Copyright C Les presses du réel. Dijon Tradução publicada mediante acordo com Les presses du réel, Dijon, www.lespressesdureel.com Copyright C 2015 Autêntica Editora Titulo original: Penser l'image Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte desta publ icação poderá ser reproduzida, seja por meios mednicos, eletrónicos. seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora. Todos os esforços foram feitos no sentido de encontrar os detentores dos direitos autorais das obras que constam deste livro. Pedimos desculpas por eventuais omissões involuntárias e nos comprometemos a inseri r os devidos créditos e corrigir possíveis fa lhas em edições subsequentes. COORDENADOR DA COLEÇÃO Rtô Gilson lannini CONSELHO EDITORIAL Gilson lannini (UFMG); Barbara Cassin (Paris); Carla Rodrigues (UFRJ); Cláudio Oliveira (UFF); Danilo Marcondes (PUC-Rio); Ernani Chaves (UFPA); Guilherme Castelo Branco (UFRJ); Joáo Carlos Salles (UFBA); Monique David-Ménard (Paris); 01/mpio Pimenta (UFOP); Pedro Süssekind (UFF); Rogério Lopes (UFMG); Rodrigo Duarte (UFMG); Romero Alves Freitas (UFOP); Slavoj l iiek (L1ubliana); Vladimir Safatle (USP) EDITORA RESPONSAVH Rejane Dias EDITORA ASSISTENTE Ceei/ia Martins PROJETO GRÁFICO Diogo Droschi REVISÃO Lira Córdova Renata Silveira CAPA Alberto Bittencourt O!AGRAMAÇÃO Jairo Alvarenga Fonseca Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pensar a imagem/ Emmanuel Alloa. (org.). - 1. ed. ; 2. reimp. - Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017. (Coleção Filô/Estética) Titulo original: Penser l'1mage. Vários autores. Vários tradutores. ISBN 978-85-82 17-618-4 t . Arte. Filosofia 2. Estética 3. Imagem 4. Percepção visual 1. Alloa. Emmanuel. 15-03707 CDD-700 1 lnd1ces para catálogo sistemático: 1. Percepção visual : Arte . Ensaios 700.1 O GO UPO AUT IHTICA Belo Horizonte Rua Carlos Turner, 420 Silveira . 31140-520 Belo Horizonte MG Tel. (55 31 ) 3465 4500 Rio de Janeiro Rua Debret, 23, sala 401 Centro 20030-080 Rio de Janeiro RJ Tel. (55 21 ) 3179 1975 www.grupoautent1ca com br São Paulo Av. Paulista. 2.073, Coniunto Nacional. Horsa 1 23º andar . Conj . 23 10-2312 . Cerqueira César . O 1311-940 São Paulo . SP Tel : (55 11) 3034 4468 7. Introdução 23. 39. 55. 77. 93. 115. 141. 165. 191, Entre a transparência e a opacidade - o que a imagem dá a pensar Emmanue/ Alloa 1. O lugar das imagens Aquilo que se mostra. Sobre a diferença icônica Gottfried Boehm A imagem entre proveniência e destinação Marie-José Mondzain Imagem, mímesis & méthexis Jean-Luc Nancy 11• Perspectivas históricas Física do sen · 1 • sive - pensar a imagem na Idade Média Emanue/e Coccia Da idololog· H · 'ª· eidegger e a arqueologia de uma ciência esquecida Emmanue/ Alloa A janela e o muxar b"• h" .. 0 . a 1• uma 1stor1a do olhar entre r1ente e Ocidente Hans Be/ting Ili A "d . v, a das imagens Mãos Pensantes "d nas cie"n . - c~ns1 eraçoes sobre a arte da imagem c1as naturais Horst Bredekamp Owque as_imagens realmente querem? · J. T. M1tchel/ Asimage J ns querem realmente viver? acques Ranciere As imagens querem realmente viver? Jacques Ranciere O que entender das palavras píctoríal turn (virada pictórica)? Está claro que T. Mitchell forjou a expressão como uma resposta ao linguistic turn (virada linguística). Resta saber o que "resposta" quer dizer. Isso depende, evidentemente, do que se coloca sob a expressão linguistic turn. Ora, essa expressão é portadora de múltiplas significações mais ou menos contraditórias. Pode dizer, de acordo com os pragmáticos e ª filosofia analítica, que os problemas da teoria eram, a princípio, uma que t- d b ' ' · . s ao os usos da linguagem. Mas evoca tam em a pratica sfcemiológica da leitura das imagens como mensagens codificadas, con- orme o m d 1 d · d 1· ' · 0 e o as Mitologias, de Roland Barthes. A vira a mgmsttca poderia afi1r · · J'd d d · ºfi d mar a tese lacamana da matena i a e o s1gm 1cante e 0 pritnado d · b , d · · b ' o sim olico na constituição o su3e1to, mas tam em a tese der . ct· . n iana evocando o privilégio da fala plena em detrimento do traço gráfico. Afirmar a primazia do linguístico seria, portanto, de um lado ret1'r d · · • · ' 1 d · 1 . ' ar a imagem sua cons1stenc1a sens1ve , re uz1- a a seu sentido . lad '_quer dizer, às forças que manipulam a linguagem. Por outro o, sena d . , . • . d . enunciar sua solidez· subtrair o pensamento a cons1stencia o imagi , . , . q nano mascarava o primeiro trabalho da escnta ou a forma ue o simb, J' . • . e d . 0 ico faz efeito no real. A dupla denúncia da cons1stencia a incon · • • ''i s1stenc1a das imagens poderia se resolver em um mesmo conocJasma" , · , · · • d d inv . teonco no qual a fe marxista na mversao o mun o ert1do s . - n1u d e apoiava sobre uma visão platónica da separaçao entre o 11 o s , enstvel das aparências visíveis e O mundo inteligível, acessível 191 somente pelo exercício dialético. Segundo essa lógica, as imagens exibiriam ao mesmo tempo a inconsistência das aparências sensíveis a dissipar e a consistência de um mundo de dominação reversível pelos explorados, armados pela dialética. As imagens não seriam nada - somente simulacros sem vida - e seriam tudo: a realidade da vida alienada, a consistência do mundo das ligações sociais fundadas sobre a exploração. A operação que desvelaria seu nada estaria garantida por uma aposta ao mesmo tempo na calma do conhecimento que volta das sombras da caverna para contemplar o esplendor inteligível da verdade, e na energia das massas operárias, que terminariam por esmagar o funcionamento do peso da máquina que produz a explo- ração e as imagens. Falar de píctorial turn é, portanto, fazer duas coisas em uma, duas coisas que são logicamente independentes: é contestar a metafisica que sustentava o linguistic turn; é constatar, por outro lado, o esgotamento dessa metafisica, um esgotamento que se manifesta sob uma dupla 1 - tre a face. O esgotamento é marcado, de um lado, pe a separaçao _e~ denúncia platônica das aparências e a fé marxista na destruiça~ da , . - io dele advem a máquina· o iconoclasma teonco torna-se, entao, vaz , ' d ai J.á que tudo demonstração niilista do engano de um mun ° no qu , , . , . d d qualquer eficacta. é imagem a denúncia das imagens esta pnva a e . d d ' · de Baudnllar e É esse desencantamento que resume o conceito eal . - 1· da em que o r b ºd de do mundo da comunicaçao genera tza , . . o scem a I do se ass1sttu a . d • ia Mas de outro a , não se separa mais e sua aparenc . , . a reafir-. · tiva - das imagens, um uma requalificação - positiva ou nega - ontra o mação de sua própria consistência. Nessa reafi_rma~ao se e:cepois de 1 - d autor de Mitologias, que, testemunho teórico na evo uçao o . sua mensa- . dissolver as imagens em fi ter consagrado tanta energia para f: d da fotogra ia gem se juntou ao seu oposto, em A câmara clara, azen o a qualidade tra ' nsporte da qualidade sensível única de um ser, um tido. Mas a o d • d como seu sen irredutível a cudo isso que pode ser esign~ o . ática pelo retorno . - traduz também de maneira mais pr das de requahficaçao se d T Jiºbãs destruíram os Bu 1 l·ceral quan ° os ª tes ao de um iconoc asma t ' " de arte" pertencen . . assim, eles tornaram essas obr~s . . ra de imagens Bamiyan. 'd de" em sua realidade pnmet ·festa "patrimônio da humant a lsos deuses cuja falsidade se man1 s da divindade, imagens dessels fase deixem representar por imagen . f; to de que e es justa111ente no a f1L0Esrtr' '~ Ao falar de um pictorial turn, T Mitchell assi·m1·1 , · d · a a cntICa a crítica na declaração de seu esgotamento Ora essa ass· ·1 - -· , imi açao nao é evidente. Porque, mesmo se o esgotamento da crítica "iconoclas- ta" se deixa muito facilmente observar seu exame pod d · • e con uzir a uma dupla conclusão. Se a crítica das imagens teve seu momento, foi talvez porque a mudança de época, anulando seus poderes, revelou os pressupostos duvidosos que a fundaram, ao tempo mesmo que a fé num futuro de revolução ou de progresso sustentava os empreendi- mentos e voltava a exáminar seus princípios. E, certamente, 0 autor de Iconology e de Picture Theory aportou a essa crítica da crítica mais de ~m elemento, ao analisar as pressuposições - filosóficas, sociais, sexistas - que fundam, já em Burke ou Lessing, o privilégio da fala e ª desqualificação da imagem visível (MITCHELL, 2009).1 Ele esclareceu ª _forma em que uma certa modernidade pôde se construir, privile- giando, dos dois lados da imagem, a materialidade do significante e a da for · ' 1 b _ . ma VlSlve a strata. Ao contrário, ele lembra que a imagem nao se identifica com o visível e que os poderes da fala são aqueles de suas cond - d 1 ensaçoes e es ocamentos, que fazem ver uma coisa em uma outra ou b por uma outra. Ele mostrou como o discurso moder- no e . ' m mais que a pureza do significante ou a abstração da forma se nutriu de fibº , dº seres an i 10s: monstros geradores do discurso como o inossauro· es . d hº , . . , . 200S ' cntas a istona petrificadas como fosseis (MtTCHELL, entrei;" 169-187). Seguiu o destino desses anfibios através de alguns aquel çamentos exemplares de palavras e de formas visíveis, como esque w·u· de u i iam Blake propõe e que poderia figurar como o pai rna mod .d d 1995 erm a e resolutamente antilessingeniana (MITCHELL, 'p. 111-150). Ao se seguir o fi d , . 1 . , . e. 1 em p· . 10 essa cnt1ca, ta vez nao sep necessano 1a ar ictonal , . ºPor as . _ turn. Pode ser suficiente, de um modo genealog1co, v1soes sim 1· d . " . . . 0 u real •d P istas a imagem como aparenc1a mconsistente i ade m l' fi , d Palavr ª e 1ca a genealogia efetiva dos entrelaçamentos e as e de ti . lllesrn 0 te armas que fazem a vida das imagens, uma vida ao das Pot" ~po mais sólida que a das aparências e mais leve que a encias m l'fi , , ºb . ª e icas. Mas e evidentemente poss1vel atn Ulf outra e1 le espeito "Le L . . . " " s Politiq aocoon de Lessmg et les polmques du genre e Edmund Burke ues de la sensibilité" (2009). (N.A .) •10~ DAs 1 loiAGENS 193 causa ao esgotamento da crítica, e lhe dar uma transformação efetiva no estatuto mesmo das imagens. Pictorial turn, então, não designaria simplesmente uma redenção justa à imagem contra as acusações de inconsistência ou de grande consistência. O termo designaria uma virada histórica efetiva, uma mutação no modo de presença das imagens, não mais uma justiça dada pelo observador, mas uma vingança exercida pelas novas potências da imagem contra todos aqueles que negaram seus poderes. Essa segunda via é certamente a escolhida por Mitchell. Isso quer dizer que ele escolheu responder, de uma forma privilegiada, a uma certa crítica das imagens, aquela que declan sua inconsistência: aquela que atualmente as diz des,· pa,:ecidas no fluxo de comunicação, que as faz, em última instlncia, apenas núm«os. Mas, pm mpond« a essa cdtica, é p«_"so, de uma certa maneira, reuni-la à outra, aquela que faz das imagens potências dotadas de uma vida maléfica. Reabilitat ª'. im_"gens, P: Mitchell, é insistit em sua v,tahdade. As ,magens nao "º ,eflex • • • - · er dizer organismos sombras ou artifícios, sao seres viventes, qu , dotados de desejos. . , . bl , · Alguns estanarn Essa formulação e evidentemente pro ematica. - - viria Pode-se, tentados a dar a Mitchell uma aprovaçao que nao con · to . d outra um cer de fato, atribuir vida à imagem, trazen o a uma e a . h 11 não , . t . sso que T Mitc e núcleo de informação. Mas e JUstamen e i · é-- , d de mensagens gen quer. Seu mundo de imagens nao e um mun ° . gens , . . b . . como as una ticas codificadas e um tecido vivo que su St1tui, unda ' . . 1põe uma seg de Oeleuze, um.a história natural. Mas aqui se in formas . . . d fi · m.agens com 0 distinção. A história natural deleuziana e ine as i . d Mitchell, ·d - - ânicas As e de vida, mas essas formas de vi a sao nao org · . em que a alternauva em contrapartida, se inscrevem claramente em um . . al é uniª - • e , · con1un1cac1011 0 a vida que se opõe à abstraçao 1niormauca e iso10-• . . . . . de umorgan vida orgamca uma vida simbolizada na imagem . em que ' universo universo biocibernético é, para ele, claramente um •cesta contº ª · d · da se mal111' ·ai os dois termos entram em conflito, on e a vi o píct.or 1 · , · d imagens- .A s " doença" que resiste à liquidação c1berneuca as \cado- 1v•ª no do reca as rurn se deixa descrever, então, como um retor _ são as for!l 1 - , ·d d no DNA nao ·dual- isso que retorna nao e a v1 a numera a ' • . indíVl , . . . . . ' · d 0 rgan1ca, a e de vida pre-md1vidua1s de Deleuze. E uma vi ª .. d \idade: t.1 111 . ind1v1 ua Mas há duas grandes maneiras de pensar essa tt''~ flLoES1 194 aquela do corpo orgânico estruturado por uma lógica da falta; a outra é a do vírus proliferador. A vida que Mitchell reivindica para as imagens oscila entre os dois polos. O desejo que ele lhes atribui oscila da mesma maneira entre a expressão de uma falta e de uma vontade e a afirmação scho- penhauriana de uma vida que prolifera sem finalidade. Em um polo, há uma vida que se prova por sua falta de vida: a imagem é vivente precisamente porque a ela falta vida, ela precisa de nós para ser o organismo do qual ela ainda é a sombra desencarnada. Assim como esse Tio,Sam que reclama o sangue dos jovens americanos. Ele não o reclama como um pai que usaria seus velhos direitos de patriarcas ou da mãe pátria-revolucionária sobre a vida de seus filhos. O tio necessita desse sangue precisamente porque ele não é um pai e por- que seu próprio sangue está seco, portanto, ele não pode simbolizar 0 organismo comunitário sem fazê-lo com a sua carne e o seu san- ~ue (MITCHELL, 2005, p. 37). O jovem tio se torna um vampiro, e a ~magem em falta se aproxima de outra figura da imagem vivente, a o virus pro i erante, se amparando na vida dos indivíduos imagem com , 1·fi como essa c t· · or ma amencana que, sobre a fotografia de Robert Frank. corta as cabe d h bº ças os a itantes de Hoboken. Mas o vírus se hospeda na cabeça d · os artistas e encontra sua imagem matricial nessas nuvens que fazem com d . . E , que o corpo e William Blake pareça em turbilhão. 0 virus de m . nossos computadores aparecem menos como artefatos e ais como falh d , . • ret as as maqumas, as formas de uma vida organica que omamse dº . us ireitos sobre o código informático o. . . p1ctorial turn e' e t- · · ' · d same , n ao, menos um retorno imagmano o pen- trans;to contemporâneo do que uma volta da máquina dialética, a ormar as· • no fu d imagens e a vida em linguagem codificada. Tal será, artific~ 1 º• ª tese de Mitchell: a máquina que quer produzir a vida ª mente p d d r . . uma n ro uz e 1ato um novo tipo de imagens, que define ova pot' . d . suas im encia a vida, de uma vida que não se deixa separar de E agens e de . que seus monstros, de suas doenças e de suas nutologias. 'em tod . Ptoduzid O caso, ele ilustra com a figura de um clone. A vida de urna ª pelo artificio dos sábios não é qualquer vida. Ela é aquela a . ovelha do an1· l e .d ·ri . b nuna! . ' ma 01erec1 o em sacn 1c10 mas tam ém do s1mb 1· • do corpo d O iza_ndo o Deus que morre e ressuscita por realização ª IgreJa e da ressureição final dos mortos. ""'º A 0As IMAGENS 195 Assim como Mitchell faz do dinossauro e do fóssil os animais emblemáticos de uma modernidade romântica - uma modernidade não modernista-, ele faz da ovelha clonada o animalemblemático de uma pós-modernidade não pós-modernista: uma pós-modernidade na qual O pretendido reino da máquina comunicacional produz, ao contrário das expectativas e dos estereótipos, uma nova exuberância das imagens como forma de vida. Segundo essa lógica, mesmo as formas da negação e da destruição das imagens tornam-se as provas de sua potência vital reforçada. É o que demonstra a análise da pu- blicidade "iconoclasta" que nos lembra que a sede, e não a imagem, nos faz beber. Mitchell retoma o argumento: a "negação" ~a imagem em favor da sede é a afirmação da potência que sustenta as imagens, a otência da oralidade. A "sede contra a imagem" é, de fato, u_ma sede pd . (MITCHELL 2005 p 77-80). Mitchell pode aphcar essa e imagens , • · , . , . , . do retorno a toda forma de iconoclasma, teonco e prauc~. estrategia . , 1 d, 0 mesmo· os dois Denunciar a potência das imagens ou nega- a a n ·• . atos expressam para ele a mesma a~si~dade ~iante ~e ~u:Jr~:;;~i:•n: mesmo reconhecimento dessa p~tencia. A a irn:iaçao :de a ora ser da indistinção definitiva entre imagem e reahdadde mg tanto • . eaçadora a image tomada como expressão da potencia am 1 d Cronenberg, mas • ·b , · dos fi mes e quanto as fantasmagorias ci erneticas di·das na imagem ,1. d mensagens escon também tanto quanto as ana ises as desse perigo de . rvar os outros Publicitária. O iconoclasta quer prese - que sempre se vado Sao os outros que ele se supõe, ele mesmo, preser . . l'fi d i·magens. Mas essa , . d ( eia ma e ica as representam como vitimas a po en_ ll a potência. Por que , r. Mitche acusar delegação da crença so iaz, para ' l fici·os se não porque d . m seus ma e i acreditar que os outros acre i~am e , . dos Budas e o sociólogo se acredita também? O destruidor fan_auco força que eles negarn- desiludido da tela total testemunham Juntos :ssa história, urna cena Esse encontro dos extremos teve, n_a n . ralmente, a da de~- . · 1eg1· ada à qual Mitchell se refere muito natu f:azer referência pnv1 · , d C Mesmo sem rubada das torres do World Tra e enter. ue sua análise é urna d d · de pensar q ·- de 1 d •fic1·1mente se po e e1xar u a opiniao a e as 1 , 1 · 0 recuso ' , álise de Baudrillard. Este u um do suas teses, resposta a an fc . m retorno do real desmontan difusão que a queda das torres,º~ u indissociação entre o even:º e a ue ela Ele destacou, ao contrario, a - . desmentir a ficçao porq . . lidade nao parecia de suas unagens. a rea F1Lofsrrr1c~ 196 havia absorvido a energia, ela mesma se tornou ficção. E a derrubada das torres havia sido antecipada em sua existência como dublê, que fazia de cada uma o clone da outra. A queda das torres comprovaria que elas eram imagens às quais toda nossa realidade atual se volta. Elas atestariam a tendência suicida carregada por essa realidade. Mitchell retoma o argumento da equivalência entre imagem e realidade. o terrorismo não é o vírus da irrealidade que leva a realidade a con- frontar sua própria morte. Ele é a destruição das imagens como símbolos de uma potência, realidade dessa dominação encarnada e sua imagem. As torres eram para os terroristas as imagens viventes e insuportáveis da potência americana. O argumento é mais clássico e mais razoável, parece, que o de Baudrillard. Mas não haveria um equívoco na ideia de líving image? A vida do World Trade Center não era a vida de sua imagem. Ela era a vida de um centro de poder efetivo. E a carga simbólica de sua destruição não significa que seja como imagem que as torres foram destruídas. Transformar o símbolo em "imagem vivente" é, :m um sentido, dar demais à imagem. Mas, em um outro sentido, e_ dar muito pouco, ao fazer simplesmente a correlação de uma an- siedade e de · 1 A • S d . e uma mto erancia. egun o essa mterpretaçao, as torres 1oram" ·d ,, " pum as como se elas fossem seres humanos porque elas eram an affront . 1 . . . or v1sua msult to those who hate and fear modermty, cap1ta1ism b • h p d , iotec nology, globalization" (MITCHELL, 2005, p. 15). o er-se i di N - ª repr:.ovar Mitchell aqui por se bandear um pouco em reçao daqueles 'd .fi 1 . , . . eº que 1 ent1 1cam a uta contra o 1mpeno americano rn o" que medo diante da modernidade". Ele responderia, sem dúvida, esse medo naNo ' ' · d · 1· · · fc · D 11 prov e propno os is amicos, que a mo ensiva o y oca, ela tambe'm A • A , . d d d terra • ·•• , o pamco na menca avança a, e que o me o o rismo d . . diant d ~o e ter as mesmas fontes obscuras que o ultraJe ressentido Por Ceh Virgem Maria ornamentada com excrementos de elefante ris Ofil• o . . . . a cren · 1. medo arcaico experimentado diante das imagens, · Çaemseup d I' ' · ·1' · d ninguém O er ma efico, argumentaria ele, não e pnvi eg10 e Pela rn d. M~s esse argumento que coloca os "primitivos" assustados 0 ern1d d d · d I 08 coJoc .ª e e costas para os espíritos fortes que se nem e es e" a em igu ld d · · l ' "Pressão d ª a e, ao preço de reduzir a imagem em gera a lllunct0 e crenças e de medos arcaicos insistentes no coração do que acred · A ita te-las cassado. ~VID ~º~s 114~GENs 197 Não há como negar a dimensão antropológica das imagens. Os historiadores das imagens, de Aby Warburg a Hans Belting, nos obrigam a lembrar que os objetos que admiramos como "obras de arte" foram primeiro objetos usados em função de rituais, expressão de inquietudes ou de utensílios de práticas exorcistas. O que resta do beneficio de contestar "a crítica" que reduz as imagens a ilusões enganosas corre o risco de se perder se a vida que se atribui a elas é wna vida alimentada por crenças e medos. Não se pode pensar a independência das imagens lhes subtraindo do dilema de ser ilusão ou vírus? É bem essa independência que Mitchell encontra diante da fotomontagem de Barbara Kruger, onde o perfil de um rosto de mármore é comentado por essas palavras, alinhadas sobre o lado esquerdo: "Your gaze hits the side of my face". Ele leu ali mensagens contraditórias de uma denúncia feminista do olhar masculino e de uma afirmação da radical indiferença a todo olhar (M1TCHELL, 2005, . _ , b' ·fc t -0 de um estatu- p. 45). Mas essa contradiçao e tam em mam es aça . _ · ' smissao de uma to da imagem que não se deixa reduzir nem a tran 1 mensagem nem à absorção modernista da pin_tura voltdada parap:a: . d Ch rdm ocupa o em so mesma tal como ilustrado pelo Jovem e a I ue é ao ' . , · mente ague a q bolas de sabão. A imagem consistente e precisa lhe e o rejeita . lh quela que o aco mesmo tempo face e s1ze para o o ar, a , . Schiller - um autor do ao mesmo tempo. Essa tensão dos contra~1~s'. de beleza, quer dizer século de Chardin - transformou em cnter_io " d olhar. Michael · "l vre Jogo 0 essa " livre aparência" que permite o i bJerna de urna pin- fried faz do jovem absorto por suas bolhas o ernb ver nele rneslllº· . d d t o para se a sor tura modernista se desvian o o tea r e. ça colocando seu d ma outra ror ' . . de Schiller dá ao "jogo" da figura to a u J no Ludov1s1 l I d urna deusa, a u d e olhar sobre uma cabeça co ossa e - se sacia com na a Roma: uma deusa ociosa, uma deusa quOe9)nlaoso quer dizer tarnbél11 1992 207-2 · s r Pº e na-o quer nada (ScHlLLER, ' P· . . mente no O irn . d · rnagmana 111a1s uma deusa que parou de co~1an estátua que não ex.~r_ce Jes" d. . . . concretamente na cidade, d . uma s1rnP e servir . -0 nem me o, r ado função e não inspira mais nem ad~ra1:r um no espaço neu_cra ;:nce imagem oferecida ao olhar d~ quac1ardin serve retrospecuva coisa, S oJ·ovem ocioso a 0 ucra de um museu. e . essa deusa serve de u1flª de emblema da autonomia da arte, m1·zação paradoxal bl . a auwno sem poder servir de em ema. f1L0E srir1c~ )98 experiência estética, de uma experiência livre d · d · difc . , . o Jogo e a m erença oferecida a todos. E a virtude política dessa 1· d'fc n 1 erença que Hegel consagra quando ele exalta, em um quadro de M ·11 . , . , . un o que representa a mocenc1a ohmp1ca dessespequenos mendigos d s ·11 · e ev1 a, cnanças esfarrapadas, que não fazem nada e com nada se p N d , . reocupam. a a fazer, tal e a virtude paradoxal a virtude indi·ssol 1m , · , . . ' uve ente esteuca e poht1ca das imagens. É ainda essa virtude da indiferença da imagem q fc . ue o erece sua força na imagem de Barbara Kruger. O rosto de uma mulher com raiva franzindo a sobrancelha e lançando um olhar violento ao homem ~gressor pode ser eficaz "na vida". Não tem nenhuma eficácia como imagem. As feministas que querem denunciar o estatuto da mulher no m~ndo da arte preferem, não sem razão, a máscara do gorila. Mas 0 gorila de Guerrilla Girls se dá como emblema, não como obra. O perfil de mármore de Barbara Kruger se dá como obra política. Mas se ~le pode fazê-lo, é por unir dois estatutos oposto da imagem. O artISta const · • . rum sua imagem articulando duas ambiguidades: a do perfil do qual - b - 1 nao se sa e se ele distorce a dignidade do olhar ou se e e afirma i d · . me !atamente sua mdependência em relação a ele· a do texto do qual - , ' nao se sabe se ele denuncia a agressão que ainda bate no perfil que su . escapa ou se ele afirma que ele estará sempre ao lado de a mira. Mas essa co t - d . - l' . , u111. f: ns ruçao e imagem como operaçao po em1ca e a aca de dois gu , , , l . d . . ca111. d . mes, e so e possive ap01a a sobre uma pnme1ra a a im , . 111.ental d ~getica, sobre uma indiferença, uma "ociosidade" funda- image ª imagem. A operação polêmica pode funcionar porque a quase :dn~u~raliza o que distingue a mulher - aqui permanecendo na frie drogina - da deusa e aquilo que opõe a carne, refletindo a luz za om' o conf!• _ armore. Ela funciona porque as palavras que explicitam ito sao s d as pro . epara as ao mesmo tempo de toda boca vivente que nunc1a e d d. norniz d ª isposição normal das frases, as palavras são auto- a as como . 'fi Por sua epita 10s sobre as placas de mármore, espacializadas ab sombra A in1 , fi b 1· d. . - l stração d · agem e e 1caz ao a o ir a 1stmçao usua entre a Er e~encarnada das palavras e a vitalidade do corpo. n a assun q fi . d '\.0dchenk u~ unc1onavam, já nos anos 1920; os cartazes e 0bjetos re o, espacializando as palavras em formas simplificadas de 111 presentado fi d d. -esrna fl h s a 1m e uni-las em uma mesma 1reçao, uma ec a volt d , . . ª a em direção à conquista do futuro. E amda isso •10~ O ~s '14~GE~s 199 o que fazem, de outra forma, as "imagens reais" pelas quais Alfredo Jaar escolheu "representar" o genocídio em Ruanda. Essas "imagens reais" não representam para nós nenhum dos corpos sacrificados. Elas nos mostram palavras inscritas sobre caixões negros nas quais estão fechadas as fotografias dos corpos ausentes, quer dizer que ele lhes dá um outro corpo, um corpo e uma história singular em lugar de um corpo anônimo da vítima do massacre de massa. O que constitui a imagem é a operação que transforma uma corporeidade em outra. E é ainda uma metamorfose desse gênero que Mitchell (1994, p. 281- 322) analisa quando estuda, em Let Us Now Praise Famous Men, uma outra política de "igualdade" de palavras e representações visuais, aquela que joga sobre a independência radical da série visual e da sé- rie verbal fornecendo de um mesmo golpe imagens políticas menos ' , . d "viventes" mas talvez mais eficazes que as montagens dramaucas e . d sentes à mesma corpos viventes e de pensamentos concentra os pre época em You Have Seen Their Faces. d "• " engana ora Talvez a ovelha sacrificial seja agora uma imagem , . _ • . , . . . m de Craulo nao do estatuto das imagens. Platao p ensinava. a image . . . l' de um corpo é um segundo Crátilo. O remo da imagem termina ª on • , mais A lha clonada nao e é a réplica de um corpo em carne e osso. ove . teria • e. da além de imagens, uma imagem, e se as torres na.o iossem na . tência . D , imagens sua cons1s sido suficiente destruí-las como efigie. ar as que são . • . de quase-corpo própria é justamente lhes dar a cons1stencia ta para "o . vivos Na respos mais que ilusões, menos que orgamsmos . . . h 11 (2005, P· 48), . ," , · nos diz M1tc e e. que querem as imagens. , e preciso, . 11" Talvez de iato · " thmg ata • correr o risco de que a resposta seJa no d . tranquilas, que • . d • ue as e1xem . -as imagens nao queiram na a, senao q . talvez esteJª . beneficio que ra não as obriguem a serem viventes, um d tanto- Ou, Pª • 0 deman a [11 mos um pouco inclinados a dar e que na . s que quere e. b . d es de unagen e dizer de outra forma, são os ia nca or e. . stamente porqu , 1 l ossam iazer JU , 1 s e fazer alguma coisa, mas ta vez e es p E iarnos ve- a ' • nada se an . ao as imagens, elas mesmas, nao querem . de lhes subtrair d d lh 1prestar ou ·da e P ela capacidade que temos e es en . da rnodern1 . . A andes narrauvas logias mesmo tempo vida e vontade. s gr • t das duas, ceo • d · 01 que sao, o · 010- J·ogaram com duas teologias a unage b . há a teologia da • d . · •0 das som ras. . ens de antirrepresentaçao, da 1SS1paça . d eal e as n11rag . • obscenidade o r dernista nega.uva que opoe 3 srET'' ~ flLOE 200 representação à virtude autônoma das palavras e das formas puras; e há a teologia romântica positiva da encarnação, essa faz da separação das palavras e das aparências o mal absoluto e reivindica para toda a imagem, toda palavra, toda sensação, um corpo vivente. Sem dúvida é preciso sair desse dilema para pensar a natureza e as metamorfoses desses quase-corpos que são as imagens. "Pictures want equal rights with language, not to be turned into language. They want neither to be levelled into a 'history of images' nor elevated into a 'history of art', but to be seen as complex individuais occupying multiple subject positions and identities" (MITCHELL, 2005, p. 47). Poder-se-ia protestar que essa vontade de singularizar as imagens lhes empresta amda muito de "desejo". Mas isso seria esquecer o papel do "como se" no pensamento de Mitchell. Tomemos, portanto, a liberdade de corri~ir em seu lugar: as imagens fazem como se elas quisessem tudo isso. E em todo . d • 1 . . . •, caso, assim que evemos ve- as se qmsermos fazer JUStiça a sua vida sem obrigá-las a ser tão viventes. Referências MITCHELL W T J · • · · • P1cture Theory. Chicago: Chicago University Press, 1994. MITCHELL W . Press, 2005_ ' · T. J. What do Pzctures Want? Chicago: Chicago University MITCHELL W . Stépha R ' · T. J. Iconolog,e: ímage, texte, ídéologíe. Trad. Maxime Boidy et ne oth Par· . L p · . . S · 15• es raues Ordma1res, 2009. p~~-ILALE 6 R, F. Lettres sur l'éducatíon esthétíque de /'homme. Trad. R . Leroux. · u 1er, 1992 [A - . Márcio Suzuk· _ · educaçao estética do homem. Trad. Roberto Schwarz e 1· Sao Paulo: Iluminuras, 2002.] 201 Devolver uma imagem Georges Didi-Huberman As questões mais ingênuas escondem, muito frequentemente, todos os seus recursos para provar a real complexidade das coisas. É ainda o "pensamento grosseiro" que se revela o mais propício - segun- do a ideia de Walter Benjamin (2003 [1935], p. 72-73), comentando ª pedagogia paradoxal de Bertolt Brecht em suas montagens épicas - para reivindicar uma visão dialética, mais sutil, dessas coisas complexas que são as imagens. Por exemplo, não é inútil se perguntar de que exatamente uma imagem é imagem, quais são os aspectos que aí se tornam · , . -. visiveis, as evidências que apareceram, as representaçoes que Primeiro se impõem. Essa questão tem, ainda por cima, a vantagem de susc ·t · - · I i ar O interesse pelo como das imagens, outra questao crucia · E~p · · ld ois, existe a questão totalmente tola - e totalmente ma osa, na real. d d . , . . - · 1 ª e, quero dizer a questão pohuca - de saber a quem sao as IU1age 0· . . ns. iz-se: "tirar uma foto". Mas o que se ura, a quem se ora exata · 1 • 1 mente? Tira-se verdadeiramente? E não é preciso devo ve- ª ª quem de direito? * No s · r · a do mundo ro111 eu sentido antigo ligadoà antropologia Pº mc ano da é ' d . or um instante o eikó Poca da República , a imago - eixemos P . n grego , . , . 1 · mediatamente a CJUest' ' esta e uma outra historia - co oca 1 ao de s " · " o rosto da 111orte d ua posse e de sua restituição. O gesso ora • epois é preciso "retirar" o molde, e despejar a cera quente para 205 obter uma "tiragem" e, quando as novas crianças da família tomam para eles suas imagens ancestrais, "retirar" novos exemplares a fim de que a imagem, assim reproduzida, garanta sua função de transmissão genealógica e honorífica. Porque a imagem, nesse sentido, é um objeto de culto privado - os ancestrais, a morte, a família - e um objeto de culto público - o "direito de imagem" estando de acordo apenas com o lugar que ocupa o ancestral na res publica, e a exposição das imagines sendo um espetáculo público no quadro das "pompas fúnebres" ou rituais de enterro -, pode-se dizer que a imagem institui a questão da semelhança fora de toda a esfera "artística" como tal. Ela aparece mais como um objeto do corpo privado (o rosto daquele cuja imagem é fabricada) que retorna à esfera do direito público (Drn1-HuBERMAN, 2000, p. 59- 83). * O que é isso hoje? Vilém Flusser (2006, p.122-123), em seu artigo sobre "La politique à l' âge des images techniques", descreve a situação assim: . • 61 · d paço públi-Antigamente as m formaçoes eram pu 1ca as no es co, e as pessoas deviam deixar suas sa las para ter acesso a elas [-} d " 1 · . ente engaJadas . Elas eram, de bom ou mau gra o, po iticam . 'd d . nte do espaço Hoje, as informações são tra ns1111t1 as iretame . d permanecer em privado ao espaço pnvado, e as pessoas evem . 1 f l EI . portam um "desengaJa-casa para ter acesso a e as. ... as su • rve , 61' o o fórum nao se mento político", porque o espaço pu ic • ',, . "está "o po 1t1co mais para nada. Nesse sentido, pretende-se que . , . onde b pós-h1scona, morto e que a hi stória se debruça so re ª nada progride e onde nada, simplesmente, se passa . .d or esse . ·1 • rodu z1 a p Poder-se- ia dizer também que a ma10r 1 usao p 1undo se , . d se paisa no 11 "aparel ho de Estado" das imagens e que na a . não se passar na televisão. . . . . , . era ública para além O que fazer pa ra restuurr alguma co1s~ a esfc . p . . ·, os restos: lh , E reciso 111sflt t11 dos limites impostos por esse apare o . p trar - o rebotalho, as instituições o que elas 11 ão querem mos •corná-Ias a tomar n . . ensuradas - para rc . . s rcfil1go as imagens esqueudas ou e . 1 de aos c1dadao . o . . " ' bl '. " à comunica , . d d' ·co quer dizer, ao pu ico ' ' quem e JreJ • nc~ fJLÕ[Slf 206 É exatamente o que faz Harun Farocki quando nos mostra, em seus filmes ou instalações, conjuntos de imagens que não tinham, de início, vocação para serem tornadas públicas. Por exemplo: em Ein Bild, de 1983, assistimos à lenta fabricação - tão entediante em seu tempo real quanto qualquer processo artesanal visto de fora - de uma imagem erótica para a revista Playboy; em Videogramme einer Revolution, de 1992, tivemos acesso, no contexto da televisão estatal, às imagens da queda política por ocasião dos acontecimentos na Romênia, em 1989; em Geflingnisbílder, de 2000, vemos as imagens que não iriam, normal- mente, jamais deixar os arquivos de determinadas prisões americanas; em Die Schi:ipfer der Einkaufswelten, em 2001, nos surpreendemos com as decisões publicitárias destinadas a nos tornar instrumentalizados pelo espaço do supermercado; enfim, em lmmersion, de 2009, Farocki nos dá meios para uma tomada de posição sobre certas técnicas mili- tares de "terapia psíquica", precisamente concebidas para que não s possa jamais avaliá-las, seja para nos fazer sofrer, seja para nos lev a ignorá-las. * Frequentemente questiona-se Harun Farocki sobre sua forma de f~zer, , de obter, de manipular essas "imagens operadoras" do. mundo cientifico co1ne · 1 · l' · ·1· "D d • , , rCia , esporttvo, po 1t1co ou m1 1tar. e on e voce obtem esse material", pergunta-se a ele. E ele responde - sua malícia, ~.eu _humor sempre caminham juntos com a exatidão e a eficácia - : Nao tenho o direito de dizer. Se tivesse, diria agora ... ". Mas ele diz outra coisa d . . . , se resguar a de explicar como encontra e como ura as imagens q . , lh fi ue ira nos mostrar (FAROCKI , 2002, p. 97). Recentemente, r e lZ ª mesma pergunta, insistindo no aspecto jurídico. Ele me espondeu que ente d ' d ' . d . - . lll n 1a usar o 1re1to e c1taçao que protege Justa- ente - e se d, 'd ex m uv1 a artificialmente - o mundo da arte. Evocou o dire~plo, imundo, segundo ele, de Erwin Leiser, obrigado a pagar e1tos a L • R ' . "os n . eni iefenstahl por seu filme Mein Kampf. como se, diz ele, azistas se be11 c. . d , . . ,. T b , Do , . e11c1am a cnttca ao nazismo ·. am em evocou o min10 p · bl · que u ico do direito americano. E me confidenciou que teve comprar d' . . . • qua . . os 1re1tos das imagens da telev1sao romena, mas por uma nt1a tnco gera] erente com as 50 horas contidas no arquivo. Ele calcula, ' mente . ' ª partir do fa to de que as imagens interessantes ao seu 207 propósito parecem, com frequência, a título de material, despidas de interesse para aqueles que a detêm. É evidentemente por sua monta- gem que elas se tornam verdadeiramente explosivas: a partir da sua forma de restituir, verbo que diz ao mesmo tempo da transformação de um objeto e de sua substituição por um outro. * As montagens de Harun Farocki têm, portanto, muito pouco a ver com os procedimentos de desvio usados antigamente pelos S1tua- cionistas1 e, depois, pelos diferentes praticantes do Sample (BEAUVAIS; B . 2000 p 18-30) Seu gesto político não de se apropriar, OUHOURS, , · · _ mas de devolver pontos de vista, modo dialético de operar nao ape- nas "derivante", se se pode dizer assim. Uma sugestão de Hal Fostder . d ' 0 modo operador e torna a questão ainda mais agu a: porque e h . ,, d d "fins brec uanos Andy Warhol que está aqui convoca o, apesar os 1 r Foster . balh d cineasta Como Warho , exp tca reconhecidos no tra o o . . Mas anexar quer ( 2004 P. 158), Farocki "anexa" imagens encontradd:s .. " o que se diz ' .. b ma depen encia , dizer, estritamente, fazer passar so u . d m1·11·rarmente, por · ' · onquista o de uma população ou de um terntono c d escravos por aqueles 1 · d e torna os exemplo, os africanos co oniza os . . d idas. Anexar quer . , . mais ain a, suas v "anexaram" seu terntono e, . ·um romano, que ti o valor do mancip1 dizer, portanto, possuir, segundo o an g u al uém - para dele dispor como quando se compra alguma co1s~ - o g a sua maneira segundo seu direito pnvado.m suas mãos. Ele não "re- Tudo que Warhol tirou, ele guardou e . dando ao direito O u" senão à venda. Ele dispôs a sua _ma~eira, s:me de suas Stars, torn . h pru11e1ro O n • ters de recontar sua história: con _ece-se d vítimas de seus v,sas . h mais o nome as ara isso, claro mas não se con ece obra de arte e, p . Tud~ aquilo que ele tirava, transfo~n~a::::e capitalista -de g:;ª~~: · ht outra forma - upic , ia de nª fica com o copyng ' p d se-ia dizer que a estrateg do ne111 . - d m bem o er- - d rnerca ' a transm1ssao eu . . . -o é nem questao e i ou lá, F Oc ki é exatamente inversa. na . d cisão de tirar, aqu d é ar 1 es1de sua e J ren e ' da arte como ta , que pr d. ão ao que e e rn~smo que lhe interessam. Isso em ireç as imagens pébord, ai francês GuY ._- . ti dado pelo intelec to ---- (ir ___ _ ,, se ao mov11nent0 un , O autor re ere- .._,T ) . . 1 Sicuaciorusta. (,~. · lnteriiac1ona justamente, o desaparecimento do copyright no domínio dos arquivos visuais da história. Ele não tira para tomar conhecimento, jamais para impor sua marca de fábrica: assim, a mulher do A/bum d'Auschu,itz em Jmages du monde et inscnption de la guerre, não se tornará jamais uU: indicador estilístico da arte de Farocki. Enfim, ele não toma conhe- cimento senãopara dar a conhecer: para retornar as imagens a quem de direito, quer dizer, ao bem público. Em suma, para emancipá-las. * Um dos textos mais famosos da estética contemporânea tra- tou, não por acaso, dessa questão da restituição. Trata-se do capítulo consagrado por Jacques Derrida (1978, p. 291-436), em La verité en peinture, ao debate que havia oposto o grande filósofo da existência, Martin Heidegger, ao grande historiador da arte neomarxista, Me yer Schapiro. A seguir, o argumento geral: em seu texto "Orige da obra de arte" - que data dos anos 1935/1936 -, Heidegger to ~orno exemplo "um célebre quadro de Van Gogh" representando os sapatos do camponês". Depois ele expõe todo um paradigma para enunciar que " ' · e. · d · · -a matena e a 1orma, assim como a istmçao entre os dois, remontam a uma origem mais longínqua" que o quadro nos permite apreender através de seu "apelo silencioso da terra" i~EIDEGGER, 1980 [1935/1936], p. 32-35). Em 1968, Schapiro (1982 " , 1 68], p. 349-360) refuta esse exemplo primeiro ressaltando que esse ce ebre quad " ~ , - . . ro nao e senao o resumo mental, por Heidegger, de muitas ob · " ras pmtadas por Van Gogh sobre o mesmo tema; e que esses sapatos de cam , " d . d u . -realid " . pones evocan o o enraizamento o netmat sao, na ade ob1eto · " d · ·d d- b ' . n ' ;, s pessoais o artista, esse ci a ao oem10 errante os campos de Arles. Esse resum · 1 ·, 1·d d deb O s1mp es Ja nos faz compreender a centra 1 a .e, nesse fre ate, ocupada pelo jogo da restituição. Derrida começa por colocar -ª~m . . . que se e as tentativas de atribuir a qualquer um em particular isso quer pensar como o ato de restituir a quem de direito: ~Es r11u,çoes O desejo de atribuição é um desejo de apropriação. Na arte com em qualquer outro lugar. Aqui (nessa pintura ou nesses sapatos) retorna a X, isso que volta a dizer: isso volta a mim pelo desvio do "isso retona a (um) eu". Não apenas, isso volta como p , · d ' d ropno a este ou aquele, ao porta or ou a porta ora 209 [do ~apato], mas isso me volta como próprio, por um breve caminho de apropriação: a identificação, entre muitas outras identificações,_ de Heidegger com o camponês e de Schapiro com um odadao, daquele com o sedentário enraizado, do outro com o emigrante desenraizado. [ ... ] Cada um diz: eu vos devo a verdade em pintura e eu a direi. Mas é preciso carregar 0 acento sobre a dívida e sobre o devo, verdade sem verdade da verdade. O que eles devem, todos os dois, e o que eles devem quitar nessa restituição dos sapatos, um pretendendo devolvê-los ao camponês, o outro ao pintor? (DERRIDA, 1978, p. 297, 309) A grande virtude desse raciocínio é manter o ato de restituição fora de toda atribuição tal ou qual: restituir não é atribuir alguma coisa a alguém para que ele anexe e se privilegie [e sobre ele preva- leça] um direito privado. A restituição não implica nem anexação nem a aquisição de propriedade. Desde que uma coisa pertence a um proprietário, ele não é mais restituído. Haveria, sem dúvida, ao lado disso, muito a discutir sobre a maneira que Derrida adota para "fazer justiça" à restituição no debate entre Schapiro e Heidegger: pens_o h. , · d t 0 mo ele diz na sua crítica unilateral do expert em 1stona a ar e, c , (DERRIDA, 1978, p. 318-323; 413-415; 421-426), diante de um filosofo cuia fórmula es gibt ("há", "isso dá") brilha q~ase, ao longo do texto, :i , . 326) E . que no ensaio como uma fórmula magica (p. 313; 324- • ignorar . ' d. d H 'd (1980 P· 87-89), "a terra" é justamente isso que se i: e e1 egger , . , . d "despertar . "Povo" cuio anuncio o pertencer propriamente ª um de os - · , · 1935 leis de Nuremberg- on denota uma sicuaçao h1stonca - , as " - Arianos" não proprietários, os não enraizados- ~ntendidos_~~7t~7;~;. 32 e 57) - se encontravam precisamente exclu1dos. Derri . . - na obra ' d 'bt e sua resutuiçao, preferirá se limitar a compreen er o es gr r sua conta o "d de prazer" (para retomar po de arte, como um om "d d b' no" (para retomar, para osto kantiano) ou como um om e a is1 ~esviar, a profundidade heideggenana). * nelembro, e. b te tanto quanto i Os grandes textos fi)osóncos so re ar_ , erspectiva ética : , r itamenre ou nao, uma p lsso e abrem quase todos, exp ic - , . postas em obra. d d noroes esteucas e: ra a l'tica sobre o terreno as v , 1 para a arte io po I ' Poética de Aristóteles (não ha va or , verdade para a ' srtr,c~ flLÕf 210 - pólis), como para De pictura de Albert' ( _ h, d d . . , . , I nao a valor par fc a 1gmdade c1v1ca), para a Crítica d fi ld . ª a arte ora ' a acu ade do 1u{zo d K ( - ha valor para a arte que não coloq _ , e ant nao ue a questao tele l' · como para a Estética, de Hegel (não h' 1 ° ogica e moral), ª va or para a arte · · - da história). As exposições de Derr1·d L . sem mscnçao - a, em a Verrté en p · t - sao exceção: não se saberá formular o . , . ein ure, nao - " . conceito estet1co de "restitui çao s;mfcmterrog~r, em algum momento, a ética da dívida e do dom- e osse prec.1so encontrar algumas palavras mais h 'ld . estabelece 1 - umi es para tim r a _re açao entre essas grandes questões filosóficas e o sen- ento particular suscitado pelas obras de Harun Fa k. . espontaneam d f; . roc 1, gostaria, da d' . ente, e alar aqui nos simples termos da generosidade e q uemot esua. Generosidade da restituição: restituir é dar antes de qual- r roca e mesm . de t d ' o, como sugere Demda (1974, p. 269-270) antes 0 o estado de " " É ' sem ca . 1 ser . dar sem reter, sem resto, sem interesse p1ta ' sem proces d . -1972 27) , so e apropnaçao ou expropriação (DERRID 'p. E dar d fc toda d' .d · e orma que a relação ao outro se tome antes d iv1 a e, me . ' . p. 2l 9 ) smp, antes de toda v10lenc1a, com Derrida (1967, , retomando - d , mesmo ª noçao e Emmanuel Lévinas. E dar sem dever se esse "d d , 60; p. 94 ) E' ar. emanda e toma tempo" (DERRIDA, 1991, p. 59- . dar mais d ·1 segund , 0 que aqui o que parecia dever ser prometido, o uma formul k . , . Por Der . d a ant1ana - a propos1to do poeta - comentada generos:1 ª (l975, P- 71) no sentido da "sobreabundância [que] rompe mente a eco . . Q nom1a circular". b ueagen 'd Undânc· .. . eroSI ade assim entendida tenha a ver com a sobrea- 1ª lOI O G sern dúvid que eorges Bataille (1976, p. 181-280) compreendeu P- 269) _ ª e d:senvolveu melhor do que ninguém. Derrida (1974, fi atraves d H 0ntes de B e egel, Nietzsche e Marcel Mauss, as mesmas '' ataill evento i . e - retoma essa ideia quando fala, por exemplo, do ev rruptivo d d ento se O om", ou mesmo quando descreve como esse duhJ revela e · · d' d i- o sentid x:cess1vo, portanto, perigoso, como m 1ca o no lliesrno t o da palavra Gifi já revelado por Mauss: dom e veneno ao ª abundt1.P0 (DERRIDA, 1972, p. 150). Por que um veneno? Porque eni ncia a e . 'd todo ' norm1dade da coisa restituída nos envenena ª vi a, llos f: caso, no . . . ,, azer r s complica a vida. De fato, não deveria complicar, ao ap ever cad d' . d a , arelhos d ª ia, por nossa própria conta, as imagens os nossos est e Est d " · · ratégia ª 0 , uma vez que Farocki desmontou e re5t1tutu ' a dupl' ·ct . , 1 , . ' A 1 ts 111 1' 1 ade, a complexidade, a fonmdave tecmca. \11çots 211 j . . _ 1 t . isso quer dizer, não que nos preenche, mas rest1tmçao nos comp e ª · . d d"ficulta Tal é O valor literalmente explosivo que nos transbor a, nos 1 1 · . ., . . • w , lt Beniamin reconhecia Jª na rest1tmçao que lembremo-nos, vva er u · da história - história tornada visível - que ele nomeou de imagens dialéticas". * k . t nta em nos tornar visí-Modéstía da restituição: Faroc I se con e , b veis certos aspectos de nossa sociedade, que ppoadreanoa::~;1::~ E~:~~: • , tempo e energia , mesmos se uvessemos . . • nos , . . nosso ensamento, mas semJama1s cnar despertar nossa raiva, suscita p em Warhol). Ele age primeiros planos enfáticos ou ostentai dores (c'Poª::,. como se diz. Nãofc ·tos de estI o, sem a ,, , pacientemente, sem e ~1 rrida (1991 , p. 29), em falar do do~ há nenhuma contrad1çao, em De . d ' "para que haja dom, e . · ,, depois 1zer que ,, como "evento 1rrupt1vo e - . ercebido como dom . _ a que ele nao seJa P 1 Preciso que o dom nao apareç , ·mples virtude mora . _ d de uma pura e s1 Essa modéstia nao proce e , . d posição de conhe- fl - ohuca e e uma É o resultado de uma re exao p e. to de que as imagens . • t subscreve o 1a cimento: Farocki definJtivam_en e l s restitui tira na passagem Aqmlo que e e no , "d s de constituem um bem comum. do estratégias ev1 ente em certas instituições que tentam - segudn lve sabe que devolve a . do ele nos evo ' , d um poder - se apropnar e, q~a~ -o o atravessador (mas ha to o tre quem é de direito. Ele nao e sena ,, ele mesmo passar en trabalho, já que é preciso, para "fazer p~ssa~:hada). Ele não fica cofim d de controle mmto fotogra a as malhas de uma re e . mulher que passa na ork nenhum copyright nessa pas~gem. a do campo nazista de Weste~ re d Album d'Auschwítz ou .as m1agens l m a nós porque sen p o , b de Farockt. Elas vo ta . • io comurn- ni o pertencem a o ra do nosso pacrunon h. córía . que fazem parte ossa is nos concerniram, por . · ru·o concerne a n ções . do esse pammo I d s opera Evidentemente, quan . - a gestão visua a . nente . d " - a vida inviável nas pnsoes, . ho mais d1reta1 ·o ime ,ara . s tomam um camin . u1·ção na I e _ as coisa . d restJt • militares no raqu , , e a modéstia essa f arock1 1• · Aí esta por qu ]-Iarull . político e po enuco. O dom das imagens que ben nomeia se dá sem efeito transgressor. ue Giorgio Agam que ele ver com o q · 01agens nos faz teria, portanto, a nãoJ·oga na lama as, A eontrá rͺ• - f rocki certamente . . la ões. o uma profanaçao. a filmes e suas insta ç ,. de remonta em seus . õrs1i1,, ~ mostra e qu. ,1L 212 demonstra por elas um respeito exemplar (ele respeita ao máximo os mo- dos de funcionamento, para melhor demonstrá-los). Mas esse respeito é profanação, no sentido preciso que lhe restitui Agamben (2005, p. 91 [2007, p. 65]): "E se consagragar (sacrare) era o termo que designava [no antigo direito romano] a saída das coisas da esfera do direito humano, profanar, por sua vez, significava restituí-las ao livro uso dos homens". 2 A profanação seria, nesse sentido - e na medida da manipulação que Farocki empreende sobre as imagens que ele desmonta e remonta -, "um contágio profano, um tocar que desencanta e devolve ao uso aquilo que o agrado havia separado e petrificado" (p. 93 [2007, p. 66]). Aí está como Farocki "profana" as estratégias visuais do comércio internacional ou da indústria militar contemporânea: ele tenta, por remontagens interpostas, "não simplesmente abolir e cancelar as sep rações, mas aprender a fazer delas um novo uso, a brincar com ela (AGAMBEN, 2005, p. 110 [2007, p. 75]). É assim que a vida na pris ou a maneira de manejar uma guerra se tornará verdadeirament questão nossa e de todos. Não espanta o fato de que Giorgio Agamben tenha dado ao seu belo "Elogio da profanação" uma conclusão expli- citamente política para o tempo presente: "Por isso é importante toda vez arrancar dos dispositivos - de todo dispositivo - a possibilidade de uso que os mesmos capturaram. A profanação do improfanável é ª tarefa política da geração que vem" (p. 117 [2007, p. 79]) * Essa modéstia essencial em Farocki não deixa de ter conse- quências d · ' ' d b iretas sobre o estatuto de seu trabalho como produtor e 0 ras de arte a , · 1 · d ' · 1 ra1 h d " cess1ve1s nos ugares em que a m ustna cu tu c . ama d: Fgalerias" ou "museus". As instalações de duas - ou várias - telas arocki p · · 1 · efi erm1tem, sem dúvida, um deslocamento espac1a multo icaz e sal mo lltar de seus procedimentos de montagem que os filmes nobandas t 1 "E que . ornam sensíveis apenas na sua sucessão tempora . sse . . 1h05 ento diante de duas telas e duas imagens se presta marav1- . ªlllente a · d Stçà0 " 0 espaço do museu", escreveu um orgamzador a expo- ' Porqu J · e e e pode se deslocar fora de instalações com momtores G p Ileras enir J AMBEN · rofana • eco chetes são da tradução brasileira que reproduzo. AG , • Çoes. Tradução Selvino J. Assrnan. São Paulo: Boitempo, 2007. (N.T.) 'fS) i1~',0es 213 ameaça Harun Farocki como um modesto pesquisador de imagens e não um virtuoso com seus achados. ' Em A parte maldita, Georges Bataille (1976, p. 439) julgava assim os limites fundamentais que o mundo capitalista, diferentemente do mundo comunista , atribuía à "soberania do artista": "Na sociedade soviética, o escritor ou o artista estão a serviço dos dirigentes [ ... ]. o mundo burguês que , de uma maneira fundamental, é, ainda mais que o comunismo, fechado à soberania decisória, acolhe, é verdade, o es- critor ou o artista soberano, mas sob a condição de ignorá-lo". Forma de dizer que é possível, no contexto do museu, "amar", "gostar" como obra, de uma montagem de Farocki, sem tirar dela as consequências demonstradas por seu trabalho. Este é, sem dúvida, um ponto sobre o qual Farocki - depois de ter retido a inestimável lição de A dialética do esclarecimento - bifurcará sensivelmente a via traçada por Adorno em sua Teoria Estética. O filósofo, sabe-se, defendia a "grande arte autônoma" naquilo que "ela critica a sociedade pelo simples fato de ela existir" (ADORNO, 1974, p. 287). Ele via com maus olhos esse "entrelaçamento das artes" cujo " fenômeno originário" ele reconhecia no "princípio de montagem" e a consequência, sem dúvida nefasta, um recobrimento recíproco da realidade estética e de inúmeras realidades extraestéticas que O cercam. • · seu conti-Quanto mais um gênero deixa entrar em s1 isso que . . 111mm imanente não se contém nele mesmo, mas ele partJCJPª . . . d d . do lugar de do que lhe e estranho, disso que e a or em a coisa, . . tre as coisas, imitação. Ele se torna virtualmente uma c01sa en , (ADORNO, ele se torna portanto isso que não sabemos o que e 2002, p. 70). d. • 1 certarnen- Adorno não estava propriamente "errado" ao ize- o, lhos d s nossos o te. O que ele diz de Beckett, por exemplo, guar a ao d rarn, · h ' ' · cas mu ª toda sua força e pertinência. Mas as condições iston a so- l d 1 - · · · · entre a arte e notadamente no p ano as re açoes mst1tuc1ona1s , de opor, ciedade. N ão há mais lugar, no nosso mudo contemporane,o, ma e as fc Ad " d te autono tão siJnplesmente quanto ez orno, a gran e ar rna grande " indústrias culturais". A grande arte tornou-se ela mesma u n,odo 0 u 1 1 , " d " · ode de um indústria cu tura , ate o esgosto que isso p , de outro, terminar por inspirar (BROSSAT, 2008). FILÕf STtlfC~ 216 • Confrontado por essa situação, entre d .6 _ . " . ,, . a esert1 1caçao dos cme- mas de ensa10 e a msolente acolhida das 1 • "d ,, . . ga enas e arte , Harun Farocki tenta, da maneira que vejo, manter s , • d . , . ua etica e pesqmsador. Ele talvez guarde na memoria o que em 1929 W 1 . . . . ' , a ter Benpmm, refletindo Justamente sobre o lugar do artista_ e O · " h , . . artista son ador" por excelenc1a, o surrealista - na crítica da socied d . _ . . a e, nomeava uma orgamzaçao do pessimismo pelas imaaens. Até consi'de . _ . . º rar que o artista nao exclut, sem mterromper seu trabalho interromp , • . , . , er sua propna carreira art1st1ca (como uma boa montagem i'nterr normal das coisas): ompe o curso Organizar o pessimismo significa simplesmente extrair a me- táfora moral da esfera da política, e descobrir no espaço da açã~ política o espaço completo da imagem. Mas esse espaço da imagem não pode de modo algum ser medido de forma contemplativa. [ .. . ] Na verdade, trata-se muito menos de fazer do artista de origem burguesa um mestre em "arte proletária" que de fazê-lo funcionar, mesmo ao preço de sua eficácia ar- tística, em lugares importantes como desse espaço de imagens. Não seria a interrupção de sua "carreiraartística" uma parte essencial dessa função? (BENJAMIN, 1929, p. 133 [1993, p. 34]). 3 e Nesses anos - 1929, 1930 os mesmos da grande crise social e conômica ' . . D no mundo -, Georges Bataille descrevia na sua revista ocuments a • , . • maneira, a1 incluída a artística, de conjurar tal pessumsmo: O jogo do homem e de sua própria podridão continua nas condições mais mornas sem que um jamais tenha a coragem de c~nfrontar o outro. Parece que nunca poderemos nos encontrar d1ant d · · - ·o r·sco . e a imagem grandiosa de uma decompos1çao CUJ 1 1~tervém a cada sopro e, no entanto, o sentido mesmo de uma Vida qt fc . ma outra cuja 1e pre enmos nao sabemos por que, a u respira - . ' . D · 1agem não só çao podena nos fazer sobreviver. essa m ' conhe covas de dente cemos a forma negativa, os sabonetes, as es . e todos os produtos farmacêuticos cuja acumulação nos permite G s u20 a trad - . • . 1 h tes. BENJAMIN, W. , 11 rreaJis,n uçao brasileira, com referencias entre co e e I M •a e téwica ' 1' e º· O úlf · . · • · rope1a. n: agi · ' (,, Po//rica .,., 11110 m stantâneo da mtehgencia eu .1. se 1993. ,, l') · 1 radu - d d s· Paulo· Brasa 1en , · · çao e Serg io Paulo R ouanet. 5. e · ao · lt11,1u,,ôts 217 escapar penosamente a cada dia da sujeira e da morte. Cada dia nos fazemos de dóceis servidores dessas pequenas fabricaçõe: que são os únicos deuses do homem moderno. Essa servidão continua em todos os lugares onde um ser normal pode ainda se encontrar. Entra-se em um vendedor de quadros como entra-se numa farmácia, em busca de remédios bem apresentáveis para as doenças confessáveis (BATAILLE, 1970, p. 273). * Modéstia, portanto. "Minhas imagens querem alcançar a arte, no máximo, acessoriamente" (FAROCKI, 2002, p. 24). A propósito de um trabalho significativamente intitulado Te/ qu'on le voit [tal como se vê], em 1986 - e não, por exemplo, Te/ que je le vais [tal como eu o vejo]-, Harun Farocki admite, sem temer por seu ego artístico: "Pude me ajustar a uma forma simples porque estava prestes a abandonar o essencial dos meus recursos estilísticos" (p. 100). O que fará com que um de seus comentadores, Thomas Elsaesser (2008, p. 45), diga: "Farocki se situa em alguma parte entre o 'trabalhador com uma máquina' e o 'operário como um artista"'. Mas, em todo caso, o autor de Images du ,nonde et inscription de la guerre, sempre se organiza para contornar a "marca de fábrica" industrial ou aquela "marca registrada" artística em que Molly Nesbit (sob o exemplo de Marcel Duchamp), depois Didier Semin (que abarca um arco temporal bem mais amplo, de Yves Klein a Daniel Buren e de Jean Tinguely a Hubert Duprat), restituíram a emergência e a importância, sempre crescente, do do- mínio da arte contemporânea (NESBIT, 1990, p. 57-65). * H ve um modelo para essa modéstia do trabalho. É Robert ou . d d " e por P a e 'tica da imagem- "dar prova de humil a e - Bresson. or su _ d ento . fc I notadamente sobre as questoes do enqua ram d seu rigor orma ' ti I es e F Oc ki se debruçou longamente sobre os 1 m da montagem. ar d " 0 uso e de 1984 ele analisa o "quadro fecha O , B 1 Ern um texto ' .d " e o ressai · . . bora "ligeiramente distorci os • d t de vista frontais em . ·ficar os pon os · e "Bresson critica ao intensi d plano-concraplano qu i11roe11t, empreg~ 0 75_76). Ele ama, no autor de . 6 , seu uso (F/\RO CKI, 2002, P· . . das fazeíl · · . _ . d ... • ustapor as coisas mespera , essa maneira tao precisa e J ,iLOEST(TiC~ do derivar do movimento uma corresp d' . on encia uma se lh " (p. 77). Ele descreve Un condamné à mort , h ' , me ança s est ec appe como d deiro documentário sobre O trabalho c . um ver a-ons1stente de invent . , culas respostas técnicas - as "máq · d ar mmus-umas e guerra" d e Guatarri - na clausura opressora dos " lh ' segun ° Deleuze apare os de Estado": O detento transforma qualquer ob· t d ~e O e sua cela em utensílios para sua fuga. Ele afia o cabo da colhe e 1 d r para tazer uma lâmina e e esmonta as treliças de seu colchã 1 ' . o e enro a os cabos com tecidos rasgados e camisas para fab . ' , ncar uma corda. Tal filme so~re_ esse trabalho e o que ele significa praticamente nunca foi feito (p. 77). d . Modéstia diante do trabalho e modéstia do trabalho - o trabalho a imagem ou do pensament d .d trabalh b o - na me i a em que ele seria sempre balh ho so re o trabalho de outro. Restituindo a esse título o tra Pr º. umano em geral na esfera do bem comum, que não perten opnamente · , trol . Na nmguem. Bresson (1975, p. 15 e 138) dizia: "Con ar a prec1sao S · . Ser e · er em si mesmo um mstrumento de precisão. [ ... ] scrupuloso R . . d . (a assust d · . eJeitar tu O aquilo que do real não se torna verdade ª ora reahdade do falso)". * Torna-se d notória_ . ' e repente, necessário nuançar a influência no entanto evidente d - do "gr d . e mo estamente reconhecida pelo cineasta alemão an e est l ,, d gostaria 1 ., i O e Godard sobre a obra de Harun Farocki. Não P , a ias, de tomar N d . fl , . ·1- . ropriarnen . como uma questao e m uenc1a estl ist1ca na sua pró t_e dita. Antes, uma questão relativa à posição do montador Volker p pna montagem (do trabalhador em seu próprio trabalho). Jean-Lucª~enburg (2006, p. 45-59) colocou bem aquilo que reuniria ato. l'eo . odard e Harun Farocki: a noção do filme com teoria em t' ria cuja 1tui O pi , montagem, tanto em um quanto em outro, cons-Bi-- vo pro · lltn.lin cessual e a forma por excelência (p. 68-73). Chmta de ger (1995 · · forrn.a . , p. 33), por sua vez, frequentemente aproximou - e do evident · · l s Proced. emente fundamentada - os dois cineastas no p ano lllti" 1111.ent ' 1 d · -ttas v os: por exemplo O uso de entreutu os, e citaçoes Pcl ezes de t ' J"d 0s Pró . extos da tradição filosófica e frequentemente i os Prios re l' b 1 a izadores Farocki lembremos consagrou uma o ra tsi11~ . ' , içoes 219 · t · ·t m colaboração com Kaia Silverman (1998) - ao cine-in eira - escn a e ma de Jean-Luc Godard. Assim como em Godard, ~ê-se em Farocki · 1· filmados muitas pessoas que leem, mmtos gestos ligados muitos 1vros 1 , ao trabalho de montagem, muitas interrupções recíprocas da imagem e do texto, muitas questões políticas, muitas imagens do mundo e das inscrições da guerra .. . Está-se evidentemente tentado a deduzir que Farocki terá "permanecido a_té esse momen~o fiel ao program~ de Godard em sua atividade de cmeasta e de artista autoproduz1do (füüMLINGER, 2009, p. 78). . . Uma diferença se imiscui, todavia, e abre uma fenda dec1S1va. Christa Blümlinger (1995, p. 38), nas linhas em que, provavelmente, ela não pensava mais em Godard, evoca a passagem quando observa que, "ainda que Farocki não tema sua própria imagem, ele opera sem- pre para além da exploração narcísica". Não que Godard se compraza de alguma "exploração narcísica", claro. Mas, ao menos desde 1994, ele ocupa sozinho - e, parece, sempre cada vez mais so~inh~ - 0 centro de suas próprias montagens. Isso vai de]LG!]LG ate Vrar~iix . 1 H " . () d ·nema Chnsta passeport, passando, claro, por sua mag1stra 1sto1re s u ci · · . . d , · do filme Blümlinger (2004, p. 59) cita amda um extrato o cenano _ • b ,,4 A questao Passion, onde ele escreveu: "Voce quer ver, re-ce- er · 1 . - se formu ar que essa inclusão do receber coloca no ver podena, entao, r . . • • , b você a recebe Pº assim: a imagem que voce ve e que voce rece e, . ha tanto rntn ' bem, você a recebe até o fim? Ela acaba por ser nossa, d á se d ela Pº er que te transmito, quanto sua e de todos os outros on e difundir como bem comum? * , c. a· . - fiJosoi1c . O u, para dizê-lo com um pouco mais de precisao restitilÍ' · onsegue em que condições pode-se dizer que um cmeasta c •ai que . . , , tão cruc1 verdadeiramente aquilo que ele da a ver? Tal e a ques 06 P· 145) - para retomar um dictum famoso do próprio Godard, ~20 ,, 'e ••fazer - permitiria faze r a diferença entre"fazer filmes pohuc~!]LG nã0 politicame11te os filmes". Ora, nesse plano, o autor de JWL hoL se se . - de ar parece representar a verdadeira antítese da posiçao .0 JoS na 1radu,J • Existe aqui umjog~ emre vo'.r _(ver} e m1•11oir (rec_eber} qu: s~;,•e~~ -T.) verbos cm portugues. No on gm~l: "Tu veux v01r, re-ce vo 220 • organiza sobre essa posição a estratégia de apropriação, pelo artista, das imagens do mundo - veja as inscrições da guerra _ que ele dis- pensa em torno dele. De um lado, Godard adota há muito tempo a atitude fund~mental de citaç~o de Brecht: é O terreno comum que ele compartilha com Farock1. Ele ainda lhes associa, no contexto atual do grande mercado cultural - ou da sociedade do espetácu- lo - um anúncio para a livre circulação das imagens e das palavras: "NO COPY RIGHT", lê-se, por exemplo, de maneira recorrente e refrescante, sobre os entretítulos de seu filme Deux fois cinquante ans de cinéma, em 1995. Mas, por outro lado, Godard toma pessoalmente e ostensiva- mente posse das imagens do mundo e das inscrições da guerra que ele dispõe em torno dele. Ele nunca deixa de afirmar seu estilo: lirismo, ritmo efervescente, festival de pulsações visuais. Enquanto Farocki apaga seu estilo ou não hesita em perder velocidade em benefício de uma clareza mais modesta que ele deseja imprimir a suas montagens. Godard sempre reforça aquilo que mostra. Farocki enfraquece o que mostra. Godard atravessa a grande história da arte - entra-se em Go- dard como no ateliê de Rembrandt ou no estúdio de Beethoven - , ele que - d F nao para e se confrontar com suas obras de arte. Enquanto arocki interroga o subterrâneo da história das imagens e nos faz entrar na Ponta d , d O pe no atelier de um embusteiro ou na torre de controle e um fun . , . cionano do tráfego urbano. Godard • · J · b 0 . se ve o autor soberano de suas imagens: e e projeta so re cinema al · d uma 1. gurn tipo de concepção do artista que, de fato, vem e ce inba do direito de um estatuto jurídico inventado na Renas- nça (KA . • ren . NTORow1cz, 1984, p. 31-57). Enquanto Farockt se ve- sem unc1ar a - / siv0 _ suas prerrogativas de autor-ensaísta - o produtor"ª º exc 11-' nao sob b 1 de . erano, de suas imagens. Como ser o soberano a souto coisas qu , ele d' e se quer restituir a todos? Quando Godard da a pensar, ª a adrn · , . · · d. · l d lllúlt" irar seu propno pensamento, seJa ele m iscermve os ipJos pe d" Quando F nsamentos que ele usa, cita, decupa ou mesmo 1stºr~e. 9Ue n· , arocki dá a pensar, ele nos dá a refletir sobre outra com ao e seu , ' / . / 80hre proprio pensamento. Godard tem sempre a II tima Pª avra , suas in i1/ti111a ontagens, Farocki faz de seu ponto de honra uuuca ter a d Palavra G d · · falando e t1111 • 0 ard interpreta o mundo em primeira pessoa, ª Voz in · ' !. F ocki se 1 spirada, uma voz de profeta mdanco ico. ar Es1,1~1ç0Es 221 contenta em desmontar o mundo, em terceira pessoa, falando de uma voz neutra, precisa e não tomado pelo páthos apocalíptico. Os dois são incomparáveis arqueólogos das imagens. Mas Go- dard, exibindo o fragmento da ruína material ou do impensado, tem o gesto empático de Schliemann descobrindo Troia (ELsAESSER, 2004, p. 27) e se sente, portanto, dialogando de igual para a igual com Home- ro em pessoa. Enquanto o gesto de Farocki me evocaria, antes, aquele de Ronald Hirte, o obscuro arqueólogo do campo de Buchenwald, encarregado de colocar em dia os objetos mais modestos que sejam, testemunhas da vida menos gloriosa que seja. Godard chora não ser "reconhecido" como deseja, Farocki não para de rir dos mal-enten- didos onde seu trabalho se arrisca, algumas vezes, ser ameaçado. Todos os dois são - repitamos - incomparáveis coletores - e remontadores - de imagens. Mas Godard se coloca ·sempre ao centro de sua coleção, como André Malraux sobre uma célebre fotografia que ele mostra no meio da iconografia estabelecida para Les Voix du sílence, em 1951. Enquanto Farocki permanece sempre na margem de suas próprias montagens, de seu corpus de imagens, o faz quando filma F k. - pre as a ele mesmo enquanto trabalha. Porque, em aroc 1, sao sem imagens do mundo que tomam a fala. Nunca aquele que as moS t ra as reduzirá a suas próprias fórmulas. Longe, portanto, de um mo~elo . 1 , · _ grandioso de inspiração frequentemente gema , mas peremptono . , . d, tia inspirada - reconhecível em Andre Malraux, sena antes a mo es d · titude e de Aby Warburg e de seu Bilderatlas que parece guiar a a , d G d d notadamente Farocki em sua mesa de montagem. La on e o ar -. , , . d I da do século ern em Histoire(s) du cinema - constr01 uma gran e egen . . b d . o do cinerna, que o sopro lírico libera uma universalidade so re o esun . 1 . m é imagern, mas deixa de lado a questão de saber de quem ta image . . .d do e te inwn1 a de forma que o espectador se encontra 1orçosamen 1 do k. de seu a ' ao saber, portanto, que ele não tem as chaves; Faroc 1 • . . sua . . a resutuir libera para cada imagem uma legenda precisa que vis singularidade operadora. _ bre sua A Rembert Hüser, que lhe colocou uma queStao so ue ele d d F k . espondeu q . relação com a obra de Jean-Luc Go ar , aroc I r . dor dpl' tinha a tendência de ver no autor das Histoíre(s) um conu~u;e Luciell co da escola histórica francesa, justamente: aquela que vai s Essais M. h Jet - ªº Febvre - mas, sobretudo, antes dele, de Jules 1c e 222 Õ ESftf iC~ fl~ d'ego-historie, publicados há alguns anos p p· . or 1erre Nora (1987). En- quanto ele se via como um continuador p 1 . , , ' e as imagens, desse coletivo de filologos e de filosofos reunidos na Ale h . . . man a em torno de Ench Rothacker para constituir um "arquivo d h' , . d . . .. . ª istona os conceitos" (Archrv Jur Begriffigeschichte) (FAROCKI 2000 p 309) T 1 , , . · ' , · • a e, portanto a modest1a de Harun Farocki. Tal foi O preço .. t' . ,, ' . ar isuco a pagar para que anmagens do mundo e as inscrições de guerra nos tenham .d ofereC1das. Restituídas. Devolvidas. Não como lugare si 0 s-comuns - que suas remontagens desmontam ou desconstroem-, mas como o 1 ~r Referências ADORNO T Th, · . . [Te . '. · . eorie esthét,que. Trad. M. J1menez. Paris: Klincksieck, 1974. ona Estética. Lisboa: Edições 70, 1970.) ADORNO T L'A . , · rt et les arts. Pans: Desclée de Brouwer, 2002. AGAMBEN G p . . [p~0 ,r. _ ' · rofanatzons. Trad. M. Rueff. Pans: Payot et Rivages 200 1anaçoes. Tr d S I • _ . ' B ª · e vmo J. Assmann. Sao Paulo: B01tempo Editorial, 2007. 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