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1 2 COLETÂNEA JORNADA CIENTÍFICA DA BIOLOGIA Aluísio Vasconcelos de Carvalho Julio Cesar Ibiapina Neres Heliane de Sousa Silva Maria Patrícia Oliveira Monteiro e Pereira de Almeida (Organizadores) 3 4 Aluísio Vasconcelos de Carvalho Julio Cesar Ibiapina Neres Heliane de Sousa Silva Maria Patrícia Oliveira Monteiro e Pereira de Almeida (Organizadores) COLETÂNEA JORNADA CIENTÍFICA DA BIOLOGIA Editora Livrologia Chapecó-SC 2020 5 NOTA: Dado o caráter interdisciplinar desta coletânea, os textos publicados respeitam as normas e técnicas bibliográficas utilizadas por cada autor. A responsabilidade pelo conteúdo dos textos desta obra é dos respectivos autores e autoras, não significando a concordância dos organizadores e da instituição com as ideias publicadas. © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográ- ficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recupe- ração total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às caracterís- ticas gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos é punível como crime (art.184 e parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações diversas (art. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). 6 EDITORA LIVROLOGIA Rua São Lucas, 98E. Bairro Centro - Chapecó-SC CEP: 89.814-237 franquia@livrologia.com.br www.livrologia.com.br CONSELHO EDITORIAL Jorge Alejandro Santos - Argentina Francisco Javier de León Ramírez - México Ivo Dickmann - Brasil Ivanio Dickmann - Brasil Viviane Bagiotto Boton – Brasil Fernanda dos Santos Paulo – Brasil Thiago Ingrassia Pereira - Brasil © 2020 - Editora Livrologia Ltda. Coleção: Pesquisa e Universidade Capa e projeto gráfico: Ivanio Dickmann Imagem da capa: Freepik.com Preparação e Revisão: Equipe Livrologia. Diagramação: Jaqueline Farias Impressão e acabamento: META FICHA CATALOGRÁFICA _________________________________________________________________ C694 Coletânea jornada científica da biologia / Aluísio Vasconcelos de Carvalho, Julio Cesar Ibiapina Neres, Heliane de Sousa Silva, Maria Patrícia Oliveira Monteiro e Pereira de Almeida (organizadores). 1.ed. – Chapecó: Livrologia, 2020. ISBN: 978-65-86218-02-2 1. Biologia. I. Carvalho, Aluísio Vasconcelos de. II. Neres, Julio Cesar Ibiapi- na. III. Silva, Heliane de Sousa. IV. Almeida, Maria Patrícia Oliveira Montei- ro e Pereira de. CDD 570.7. __________________________________________________________________ Ficha catalográfica elaborada por Karina Ramos – CRB 14/1056 © 2020 Proibida a reprodução total ou parcial nos termos da lei. 7 SUMÁRIO APONTAMENTOS TÉORICOS SOBRE A HOMOFOBIA E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS ..... 12 Izidorio Paz Fernandes Neto Joab Cardoso Guedes Edilson Cristino Pereira Fernande Aluísio Vasconcelos de Carvalho Kamila Martins da Silva Rio PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV): UMA REVISÃO DE SEUS ASPECTOS DIAGNÓSTICOS NA UTILIZAÇÃO DE BIOSSENSORES E SUAS PROFILAXIAS ............................ 26 Jacyanne Barros Dias Tassya Sâmella Ferst de Sousa Heliane Sousa da Silva ANÁLISE PARASITOLÓGICA EM AREIAS DE PRAIAS DO MUNICÍPIO DE PEDRO AFONSO-TO ............................... 48 Aline Rocha Rodrigues Sávia Lorrâine Pereira de Sousa Mara Soares de Almeida Mota ASPECTOS CLÍNICOS E METABÓLICOS DA COENZIMA Q10 ............................................................. 67 Anderson José Gonzaga Lemos Matheus Victor de Moura Nascimento Liberta Lamarta Favoritto Garcia Neres Mara Soares de Almeida Mota Júlio César Ibiapina Neres Mateus Silva Santos CARACTERÍSTICAS BIOQUÍMICAS E TOXICOLÓGICAS DO ASPARTAME ................................................................. 81 Alice Sousa Bequiman Ana Maria Sousa da Conceição Ana Carla Peixoto Aluísio Vasconcelos de Carvalho Fernando Barnabé Cerqueira Anderson José Gonzaga Lemos 8 ANÁLISES BACTERIOLÓGICA E FÍSICO/QUÍMICA DA ÁGUA DE POÇOS DE USO INDEPENDENTES ENCONTRADOS NO SETOR NOVO HORIZONTE, GUARAÍ – TO ...............................................................107 Vânia Ribeiro de Souza Daniel Dias Lopes Mateus Silva Santos RELAÇÃO ENTRE HIPERHOMOCISTEINEMIA E O DESENCADEAMENTO DE DOENÇAS NEUROLÓGICAS E CARDIOVASCULARES ..................................................128 Cindy Maiza Alves e Silva Amanda Cristina Ferreira da Silva Ana Carla Peixoto Heliane Sousa da Silva Anderson José Gonzaga Lemos NANOCARREGADORES PARA O TRANSPORTE DE FÁRMACOS NO TRATAMENTO DE CÂNCER .................144 Géssica Maria Pinto Alencar Izabella Noleto Figueiredo Liberta Lamarta F. Garcia Neres Ana Carla Peixoto Heliane Sousa Da Silva ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE FATORES SOCIOAMBIENTAIS E CLIMÁTICOS SOBRE A INCIDÊNCIA DE DENGUE NO MUNICÍPIO DE PEDRO AFONSO-TO ....161 Rosineide Coelho Ramos Rosimeire Coelho Ramos Helen Patrícia de Oliveira Duarte Souza AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES CITOTÓXICAS E ANTICITOTÓXICAS DA BRUGMANSIA SUAVEOLENS EM CAMUNDONGOS .........................................................180 Mateus Silva Santos Gustavo Oliveira Silva Liberta Lamarta Favoritto Garcia Neres Paulo Roberto de Melo-Reis 9 OS DESAFIOS E AS CONSEQUENCIAS DO HIV NA ADOLESCENCIA EM TERRITÓRIO BRASILEIRO: UMA SISTEMÁTICA REVISÃO DA LITERATURA .....................198 Mayara Rodrigues Vieira Maraina Pereira Dias Mateus Silva Santos ICMS ECOLÓGICO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIOAMBIENTAIS: ESTUDO DE CASO EM GUARAÍ-TO .................................................................215 Marivânia Fernandes Santiago Leonice Domingos dos Santos Cintra Lima FATORES DA PREVALÊNCIA DA ANEMIA INFECCIOSA EQUINA NO BRASIL: UM ESTUDO RETROSPECTIVO DE 2015 A 2018 ...................................................................234 Kayque de Sousa Oliveira Ricardo Henrique P. Santos Aluísio Vasconcelos de Carvalho METODOLOGIAS ATIVAS PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: UMA ABORDAGEM DO ENSINO DE CIÊNCIAS NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE GUARAÍ -TO .........................................250 Maria Goreti Oliveira Silva Flávia Carolina Azevedo Maciel Aluísio Vasconcelos Carvalho Liberta Lamarta Favoritto Garcia Neres Júlio Cesar Ibiapina Neres LEVANTAMENTO DE ESCORPIÕES NO MUNICÍPIO DE GUARAÍ-TO .................................................................274 Sileda Garcias Silva Edvam Valporto Guida Aluísio Vasconcelos de Carvalho 10 EFEITO BACTERICIDA DE MATERIAIS NANOTECNOLÓGICOS REVESTIDOS COM FITOQUÍMICOS ............................................................315 Vinicius Alves Bernardes Leandro da Silva Pinheiro Anderson José Gonzaga Lemos Liberta Lamarta F. Garcia Neres Júlio César Ibiapina Neres Heliane Sousa da Silva BIOMETRIA E QUEBRA DE DORMÊNCIA DE SEMENTES DE TAMARINDUSINDICA L .............................................330 Leonardo Guedes Rocha Brendon Barbosa da Silva Murilo Vargas da Silveira Hérica Oliveira dos Santos Laura Pereira de Oliveira Silveira SOBRE OS AUTORES E AUTORAS..............................................................................350 ÍNDICE REMISSIVO ...................................................355 11 APRESENTAÇÃO Realizado no Instituto EducacionalSanta Catari- na/Faculdade Guaraí, a IV Jornada Científica do curso de Ciências Biológicas busca quebrar o paradigma de construção do conhecimen- to e pensamento em relação as múltiplas facetas da educação. A busca contínua pelo saber científico torna-se o caminho para que a relação tríade da sociedade, ciência e educação seja cada vez mais íntima e eficiente para a renovação de novos saberes. A temática Ensino de Ciências: vivenciando a prática no co- tidiano como prática formativa e promotora do conhecimento é vincu- lada a todas as áreas e preocupa-se em desenvolver nos indivíduos a capacidade de refletir os saberes e relacioná-los ao seu cotidiano, dan- do sentido e valor a nossa existência. Pensando nisso e na importância de se trabalhar o tema exposto na IV JCBIO, o enfoque caracteriza a necessidade de discussão e reflexão sobre a importância da educação como eixo interdisciplinar na construção de conhecimento sistemati- zado para a solução de problemas. No evento foram abordados temas multidisciplinares relaci- onados à área do ambiente, educação e saúde abordando o contexto das metodologias ativas, botânica, microbiologia e ambiente, dentre outras áreas. Com todos estes temas envolvidos, fez-se esta coletânea de trabalhos buscando sempre agregar a ciência às questões da prati- cidade diária. Os participantes puderam entender a relação da prática profissional com o contexto científico e social elencando a proximida- de com as diversas profissões e áreas do conhecimento. 12 APONTAMENTOS TÉORICOS SOBRE A HOMOFOBIA E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS Izidorio Paz Fernandes Neto Joab Cardoso Guedes Edilson Cristino Pereira Fernande Aluísio Vasconcelos de Carvalho Kamila Martins da Silva Rio Introdução A sexualidade humana tem sido fruto de discussões e estudos ao longo do tempo por diversas áreas, constituindo assim uma rede de apontamentos e conhecimentos socialmente aceitos. Figueiró (2006, p.46) afirma que a sexualidade humana é: “[...] uma energia vital da subjetividade e da cultura, que deve ser compreendida, em sua totalidade e globalidade, como uma construção social que é condicionada pelos diferentes momentos históricos, econômicos, políticos e sociais. ” A escola brasileira se construiu valorizando e edificando como padrão um único componente: o adulto, masculino, branco, heterossexual. Por isso, conforme observa Louro (2004), no espaço da educação [...] os sujeitos que, por alguma razão ou circunstância, escapam da norma e promovem uma descontinuidade na sequência sexo/gênero/sexualidade serão toma- dos como minoria e serão colocados à margem das preocupações de um currículo ou de uma educação que se pretenda para a maioria.[...] Debater sobre homossexualidade nas escolas ainda é um grande problema, sua discussão ainda causa algum constrangimento, além de a maioria dos professores não saberem como lidar com o tema apesar de reconhecerem sua importância. A escola como um dos locais, onde o aluno tem contato com outros contextos socioculturais acaba tendo papel fundamental no combate aos preconceitos enraiza- dos na sociedade e nesse caso o preconceito sexual. Para isso as práticas pedagógicas dos professores de ciência devem se pautar em uma ressignificação das discussões e dos discur- 13 sos proferidos em sala de aula, principalmente pela potencialidade da disciplina em promover um debate saudável e respeitoso sobre o tema. Os resultados da pesquisa demonstram precariedade em rela- ção a formação profissional e o despreparo para o trato cotidiano em relação à sexualidade. Outro ponto, importante ressaltado com a pes- quisa foi o desconhecimento em relação às políticas públicas inerentes ao tema. É preciso então que as políticas públicas criadas para o com- bate desse tipo de preconceito sejam efetivadas, além de repensar os nossos próprios paradigmas. Construindo uma nova pratica e um novo currículo, a partir do diálogo entre os diferentes grupos sem deixar de lado o conflito gerado, percebendo essa diferença como potencial pedagógico. Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo discutir como os professores enxergam as relações de gêneros, homofobia e o ensino de ciências, e fazer uma reflexão da potencialidade pedagógica na discussão em torno da disciplina de ciências. Metodologia Esta pesquisa é de caráter qualitativo, fundamentada por uma pesquisa bibliográfica que assim como afirma Fonseca (2002, p. 32), a pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer traba- lho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. A construção teórica também se fez uso artigos de internet e documentos legais que tratam sobre o tema da diversidade, relação de gênero, e o ensino de ciências ou homofobia na escola que serviram como norteadores e orientadores para a construção da fundamentação teórica. 14 Discussão Teórica: Diversidade Sexual na Educação: Diagnóstico A diversidade está ligada aos conceitos de heterogeneidade, pluralidade, variedade e etc. Abramowicz (2006 apud, Nogueira, Felipe, Teruya, 2008) diz que “diversidade pode significar variedade, diferença e multiplicidade. A diferença é a qualidade do que é diferen- te; o que distingue uma coisa de outra, a falta de igualdade ou de se- melhança”. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que, onde há diversi- dade existe diferença. Dentro dessa amplitude que é a diversidade encontramos a diversidade sexual que são as várias formas de se manifestar a sexua- lidade humana. Entre elas estão: a Hetero, Homo, Trans e Bissexuali- dade, sendo as três últimas consideradas por boa parte da sociedade como algo reprovável, errado e abominável. É importante destacar que nenhuma pessoa escolhe a sexua- lidade a seguir, a orientação sexual é algo natural, e a libido se desen- volve geralmente na puberdade que é o início da adolescência. A escola às vezes se recusa a abordar a diversidade sexual e a questão de gêneros, como a sociedade, os bancos escolares reprodu- zem os preconceitos, sejam em suas práticas pedagógicas, ou em seu material didático que traz uma visão simplista e reduzida da sexuali- dade; Apenas destacando o aspecto biológico ou mesmo nas avalia- ções de comportamento de alunos e alunas feitas pelos professores; Demonstrando, que as representações de feminilidade e masculinida- de existentes na escola são reproduções da visão tradicional de gêne- ro, sendo então o ambiente escolar, um ambiente de disseminação de ódio e práticas preconceituosas. A Homofobia como Prática Excludente na Sociedade A homofobia pode ser caracterizada e está presente em nosso cotidiano de várias maneiras, dentre elas estão à homofobia pastoral, institucional, interpessoal e a cordial que exercem influencias negati- vas de várias formas. A homofobia pastoral se faz presente geralmente em discur- sos religiosos e de tradições culturais e acontece no momento em que há discurso ou a propagação do sentimento de exaltação da heteros- sexualidade em detrimento da homossexualidade; provoca assim uma 15 ideia de que pessoas homossexuais são anormais, bizarras e doentes ocasionando muitas vezes agressões físicas e verbais. Já a homofobia institucional está ligada ao sentimento de in- visibilidade da pessoa homossexual por parte da sociedade, seja em leis, normas ou regras. Por outro lado, à homofobia interpessoal se manifesta por meio de insultos, piadas e gozações, além do uso de termos pejorati- vos para se referir à pessoa homossexual. E a homofobia cordial está presente em atitudes, em que há a aceitação da pessoa homossexual, não da sua homossexualidade;tendo tolerância ao contato com pessoas homossexuais, mas aversão à amizade ou intimidade com as mesmas. A homofobia, mais do que simplesmente se tratar de um conjunto de atitudes negativas, é um fenômeno social relacionado a preconceitos, discriminação e violência, diretamen- te, contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e, indireta e potencialmente, contra qualquer pessoa (JUNQUEIRA, 2009.p.211). Na escola a homofobia pode se expressar por várias maneiras entre elas estão às agressões verbais e/ ou físicas, a que estão sujeitos estudantes homossexuais. Podemos encontrar outro vestígio de homofobia no ambiente escolar, na indiferença ao sofrimento e aos efeitos que esse preconcei- to exerce na vida desses estudantes. O fato de existir poucos dados oficiais sobre a homofobia nas escolas brasileiras não significa que ela não exista, ao contrário: a homofobia institucional tem produzido, até agora uma atitude de invisibilidade ou de omissão em relação a essa forma de discriminação. Silenciamento e dissimulação são os resultados mais chocantes de uma educação ho- mofóbica alicerçada num preconceito sem fim, numa falta absoluta de sensibilidade para o diferente, somando-se a incapacidade da escola como um todo (pais, professores, alunos, funcionários, equipe pedagógica e direção), em estudar esse tema, diluir os preconceitos e cessar as piadas, comentários maldosos, transferências de alunos por não adequação à escola e aos padrões por ela imposta. (Lucion, 2011.p5) A escola acaba se omitindo, e esse silêncio vem ajudando no aumento de casos de violência física ou verbal sofrida por estudantes que expressam suas diferenças sexuais e de gênero. Gestores e educadores não debatem aquilo que não enxergam e não conhecem. Se não enxergam, é como se o problema não existis- se. Porém existem nas escolas, jovens que não se adaptam às normas sociais vigentes em relação à sexualidade e ao gênero, e acabam sendo vítimas da discriminação e do desrespeito. 16 A Discussão sobre Diversidade Sexual dentro das escolas É preciso entender como a escola brasileira se tornou um lo- cal de omissão, discriminação, violência e preconceitos; as quais estão sujeitos milhões de jovens e adultos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexu- ais e Travestis). Observa-se que o cenário educacional brasileiro tem se confi- gurado como espaço de contradições e embates constantes em relação à sexualidade. Seja por parte dos alunos que sofrem preconceitos e discriminação na sala de aula, ocasionando inclusive o aumento da evasão, seja por parte dos educadores que ainda não conseguiram se despir de seus tabus e não tratam a questão com o respeito merecido. Esses fatores tornam primordial o entendimento sobre a te- mática de diversidade sexual no contexto da Educação, isso porque a escola tem cada dia mais apresentado essas diferenças de forma mais acentuada e clara no seu cotidiano. Durante a Conferência Nacional de Educação Básica, defi- niu-se que “a escola pública se tornará cada vez mais pública na me- dida em que compreender o direito à diversidade e o respeito às dife- renças como um dos eixos orientadores de sua ação e das práticas pedagógicas” (Brasil/MEC, 2008, p. 13). A escola é avaliada como espaço fundamental para a colabo- ração na conscientização crítica e na aplicação de atitudes que pro- movam o respeito à diversidade e aos direitos humanos. Surge então a necessidade de se praticar ações que forneçam diretrizes, orientações pedagógicas e mecanismos para termos de fato uma sociedade com respeito à diversidade da orientação sexual e da identidade de gênero das pessoas. O trabalho de combater a homofobia nas escolas deve come- çar por meio da formação continuada sobre as Diversidades existentes na escola, tendo como objetivo a preparação dos professores e demais funcionários para desenvolver e discutir os temas relativos aos Direi- tos Humanos, Gêneros e Diversidade Sexual, e também de combate à homofobia. A discussão de todos esses temas na escola contribui para a formação cidadã dos sujeitos, principalmente se trabalhado de forma democrática, mas ao tratar esse assunto como delicado e polêmico, ao 17 invés de incentivarem os professores ao debate, pode-se provocar um adiamento desse debate, já que o professor não se encontra preparado para tal, sendo melhor postergar, fingindo que isso não faz parte de nossa realidade. A pesquisadora canadense Deborah Britzman, (1996) descreve os argumentos usados pelos professores na decisão de não abordar o tema da diversidade sexual no espaço escolar: ...existe o medo de que a mera menção da homossexualidade vá encorajar práticas homossexuais e vá fazer com que os/as jovens se juntem às comunidades gays e lésbi- cas. A ideia é que as informações e as pessoas que as transmitem agem com a finalidade de “recrutar” jovens inocentes. (...) Também faz parte desse complexo mito a ansiedade de que qualquer pessoa que ofereça representações gays e lésbicas em termos simpáticos será provavelmente acusada ou de ser gay ou de promover uma sexualidade fora da lei. Em ambos os casos, o conhecimento e as pessoas são considerados perigosos, predató- rios e contagiosos. (p. 79-80). “Até quando nossas escolas e seus educadores irão se ampa- rar no discurso de que ‘‘não estamos preparados para lidar com esses assuntos”, ou até quando iremos conviver com frases do tipo “na nossa escola nós não temos esse tipo de problema, por isso não é ne- cessária essa abordagem”. Será que gays e lésbicas (esse problema) não existem e “são invisíveis”? Mesmo que não existissem, é certo afirmar que a escola deveria tratar apenas dos “problemas” existentes dentro do seu muro como se ela fosse isolada da comunidade e não estivesse inserida em um contexto social, como se não fosse um local de convivência e produção ou reprodução das relações sociais? O combate ao preconceito, independente de qual seja, precisa estar no Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas, nas diretrizes curriculares e no seu planejamento. A imposição desse tema sem que haja uma discussão anterior e sensibilização dos sujeitos que a elabo- ram não tem apresentado resultados, exemplo disso são os PCNs que preveem a inclusão desse tema de forma transversal desde 1998 no currículo das escolas, mas apesar disso percebe-se que ele não tem sido incorporado ao cotidiano escolar. Deve- se então efetivar a introdução do tema transversal, ori- entação sexual, tanto nas disciplinas convencionais, como nas ativi- dades extracurriculares, propiciando assim um debate aberto sobre a sexualidade com a participação de toda a comunidade escolar. A abordagem puramente biológica da sexualidade deve ser deixada de lado, introduzindo nas aulas, discussões e debates a concepção de que a sexualidade é construída social, histórica e culturalmente. Dando 18 novos significados ao conhecimento oferecido aos alunos sobre esse tema desestabilizando identidades e discursos dominantes. A educação sexual na escola deve ser então um processo de intervenção pedagógica, não tendo o intuito de formar juízo de valor ou normalizar as identidades sexuais e de gênero, e nem caminhar no sentido de um único conceito, seja ele biológico, subjetivo ou religio- so. Deve ser uma ação a ser desenvolvida por todos, com colaboração de todas as disciplinas, problematizando os conceitos e significados que se têm de assuntos como a construção da ideia de identidade de gênero, família, masturbação, relações sexuais, diversidade, papéis a serem desenvolvidos por homens e mulheres, adolescência, doenças sexualmente transmissíveis, dignidade e etc. É preciso uma reorganização do trabalho na escola, criando e ampliando o diálogo com as comunidades escolares e a sociedade civil, além de propiciar um convívio ético e democrático entre os es- tudantes e seus familiares.Os documentos legais da escola como o Projeto Político Pedagógico (PPP) e o Regimento Interno devem in- cluir ações de superação de atitudes preconceituosas e desagregado- ras, caso da homofobia, sendo sempre que necessários revistos pela equipe escolar visando à construção de um ambiente saudável e pra- zeroso para todos. 19 Homofobia na escola e o ensino de ciências O ensino de ciências é uma das disciplinas que fazem parte dos conhecimentos de origem do campo das ciências da natureza, tendo uma grande contribuição na formação individual e social do indivíduo (SANTOS et al., 2015). De acordo com Soares e seus cola- boradores (2014), o ensino de ciências e biologia abordam apenas a anatomia e fisiologia do corpo humano, não discutindo às questões voltadas a sexualidade humana. Nesse sentido, sem a abordagem de assuntos que permeiam a sexualidade na disciplina, os sujeitos que sofrem com a homofobia acabam sendo negligenciados. Em uma pesquisa realizada por Coelho e Campos (2013) o ensino de ciências e biologia, mesmo que de forma inconsciente, provocam a invisibilidade desses indivíduos que passam por situações de homofobia dentro das escolas, prevalecendo a legiti- mação do heterossexismo. Ainda, a afetividade do indivíduo toma um caráter compulsó- rio à heteronormatividade, determinando uma ordem social, na qual meninos e meninas são criados obedecendo uma coerência entre sexo, gênero e desejo, onde todo ser humano deve se adequar aos padrões de masculinidade e feminilidade, sem atração pelo sexo oposto (PE- REIRA & MONTEIRO, 2015). Nessa perspectiva ideológica impreg- nada no meio social e nas escolas, os professores de ciências devem discutir essas questões em suas aulas, em busca de uma nova ideolo- gia e combate aos preconceitos existentes. Para a mudança desse cenário, e a inclusão dessa temática nos currículos escolares, se faz necessária o reconhecimento e a valo- rização da diversidade sexual no espaço escolar, pois esses possuem importância para o contexto social (SEFFNER, 2009). No entanto, segundo Oliveira e seus colaboradores (2019), são poucas as institui- ções de educação básica que incluem essa temática em seu planeja- mento pedagógico, deixando esse cargo somente para os professores de ciências. A partir desses conhecimentos acerca da existência da homo- fobia nos espaços escolares, e das falhas encontradas dentro do ensino de ciências como, por exemplo, a abordagem restrita a anatomia e fisiologia do corpo humano, negligenciando as questões afetivas, nos 20 levam a afirmar a necessidade de mudanças reais nos currículos esco- lares, e a formação técnica dos professores em relação aos assuntos que permeiam a sexualidade, indo de encontro ao combate à homofo- bia. Histórico de Políticas Públicas Elaboradas e Ações de Enfrentamen- to a Homofobia Diante desse cenário de discriminação e preconceito, observa- se que foram criadas pelo governo federal algumas políticas e progra- mas para o combate à Homofobia em várias áreas e em especial na educação. Dentre eles a inclusão de Orientação Sexual nos Parâme- tros Curriculares Nacionais como primeiro documento em que a di- versidade sexual é reconhecida e estudada. Porém ao examinar o eixo Orientação Sexual, verifica-se que o documento trata as homossexualidades, como tema delicado a ser debatido na escola: Com a inclusão da Orientação Sexual nas escolas, a discussão de questões polêmicas e delicadas, como masturbação, iniciação sexual, o “ficar” e o namoro, homossexualida- de, aborto, disfunções sexuais, prostituição e pornografia, dentro de uma perspectiva democrática e pluralista, em muito contribui para o bem-estar das crianças, dos adoles- centes e dos jovens na vivência de sua sexualidade atual e futura (BRASIL, PCNs, Temas Transversais, 1998, p.293) Mesmo diante da inclusão da temática, verifica-se pouca atenção dedicada ao trato do tema no contexto escolar, visto que já se pensa sobre a perspectiva da polemização e não da possibilidade de debates amplos e abertos com educadores. O Ministério da Educação como órgão responsável pelo sis- tema educacional brasileiro, comprometeu-se por algum tempo a implementar em todos os níveis de ensino e em todas modalidades ações que visam o reconhecimento da diversidade sexual e o enfren- tamento do preconceito, da discriminação e da violência em virtude da orientação sexual e identidade de gênero. O Plano Nacional de Educação -PNE ( 2001-2011) buscou aprimorar as ações que já vinham sendo desenvolvidas e passou a incluir em suas metas, ações que possam ajudar no combate a esse tipo de preconceito através da capacitação de todos os profissionais da educação, por meio de cursos à distância ofertados pelo ministério da educação em parceria com as secretarias de educação locais. 21 Definiu-se como prioridade a criação de cursos de formação continuada para professores, coordenadores pedagógicos, gestores e demais trabalhadores da educação das redes municipais e estaduais do ensino público brasileiro. Além da colaboração de algumas organizações não governa- mentais (ONGs) e universidades, o governo federal buscou a imple- mentação do programa Brasil sem Homofobia através do Plano de Desenvolvimento da Educação –(PNE) por meio do Plano de Ações Articuladas –(PAR), em que são oferecidos os cursos de formação continuada nas temáticas de Gênero e Diversidade na Escola - GDE. Segundo Resolução do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) n° 047 de 20 setembro de 2007, os temas dos cursos seriam os seguintes: Desenvolvimento de ações de formação continuada de professores que atuam em todas as modalidades da Educação Básica: Educação Especial, Educação Indígena, Educação Quilombola, Educação Ambiental, Educação do Campo, Educação em Direitos Hu- manos, Educação Integral e Integrada, Educação para a Promoção da Igualdade de Gênero e Diversidade Sexual, Educação em Saúde e Educação de Jovens e Adultos. (Resolução/CD/ FNDE N° 047 de 20 de Setembro de 2007). (Grifos nossos) Esta mesma resolução do Fundo Nacional de Desenvolvi- mento da Educação (FNDE) afirmava que, além dos cursos de forma- ção continuada para professores, também seriam disponibilizados cursos de formação continuada as equipes das secretarias de educa- ção, de gestores educacionais e gestores dos sistemas de ensino que atuam em todas as modalidades da educação básica. Porém setores conservadores da sociedade representados por alguns membros do congresso nacional acabaram pressionando o governo federal a abandonar as ações do programa e consequente- mente retirar a oferta dos cursos de formação aos profissionais da educação, o que acabou representando um retrocesso nas políticas de combate ao preconceito sexual. Recentemente o Conselho Nacional de Combate à Discrimi- nação e Promoções dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Tran- sexuais (CNCD/LGBT) emitiu a resolução n°- 12, de 16 de janeiro de 2015 que reconhece o direito de travestis e transexuais ao tratamento oral exclusivo pelo nome social, em qualquer circunstância, não ca- bendo qualquer tipo de empecilho. 22 A decisão também estabelece que o campo “nome social” se- ja inserido em todos os formulários e sistemas utilizados em seleção, inscrição, matrícula, registro de frequência, avaliação e etc. O que foi considerado um grande avanço no reconhecimento da identidade de gênero pelos travestis e transexuais, por ser a primeira ação destinada a esse público específico. Considerações finais A escola como espaço de convívio coletivo abriga diferentes grupos sociais e culturais,tornando-a plural e diversificada. Entretanto essa diversidade é ignorada ou silenciada fazendo do ambiente escolar, um espaço reprodutor de conceitos segregadores e preconceituosos enraizados em nossa sociedade, dentre eles está ahomofobia prática recorrente nos corredores escolares brasileiro. Grande parte das escolas brasileiras ainda insistem em não trazer para à discussão a diversidade existente dentro de seus muros, preferindo o silêncio e a negação.Ao se omitir, nossas escolas acabam por reproduzir ideologias, práticas e normas totalmente ultrapassadas e preconceituosas; deixando de cumprir seu papel na formação de uma sociedade mais justa e igualitária. É necessário que as políticas públicas de combate à Homofobia sejam de fato efetivadas e que nossos profissionais sejam qualificados para o debate e principalmente para a formulação de práticas de superação desse preconceito em nossas escolas e universidades. O trabalho com educação sexual deve ser mais amplo e gerador de discussões e debates proveitosos, com a participação de toda comunidade escolar na desconstrução de conceitos na reinvenção de práticas, valores, convicções e novos olhares para o trato com o outro. Nesse sentido o professor de ciencias e biologia ganha um importante papel e por que não dizer uma possibilidade de trabalho potencialmente favoravel ao enfrentamento ao preconceito e a discussão saudavel do assunto, proporcionando aos alunos homossexuais que se sintam parte do ambiente escolar e 23 principalmente que possam demonstrar sua personalidade sem medo de sofrer retaliações por meio de colegas e/ou professores. Referências Bibliograficas BRASIL, Conselho Nacional de Combate a Discriminação/ Ministé- rio da Saúde. Brasil sem Homofobia: Programa de combate à vio- lência e a discriminação contra GLBT e promoção da cidadania homossexual. Brasília, 2006. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Edu- cação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Orientação Sexual: ensino de 5° a 8° série. Brasília, MEC/SEF,1998. BRASIL, Ministério da Educação- Fundo Nacional de Desenvolvi- mento da Educação, Conselho Deliberativo. RESOLU- ÇÃO/CD/FNDE N°047. Brasília, 20 de setembro de 2007. BRASIL, Secretaria dos Direitos Humanos- Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais. RESOLUÇÃO/CNDC/LGBT Nº012. Brasília, 16 de janeiro de 2015. BRASIL, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diver- sidade. Cadernos SECAD 4 – Gênero e diversidade sexual na escola: reconhecer diferenças e superar preconceitos. Esplanada dos Ministé- rios, Bloco L, Brasília, Distrito Federal, 2007. BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conferência Nacional da Educação Básica – Documento Final. Brasília, DF, 2008. Dispo- nívelem: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/conferencia_seb.pdf>. 24 BRITZMAN, Deborah. 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A sexua- lidade no ensino de ciências. Anais Ponta Grossa: PR, 2014. 26 PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV): UMA REVISÃO DE SEUS ASPECTOS DIAGNÓSTICOS NA UTILIZAÇÃO DE BIOSSENSORES E SUAS PROFILAXIAS Jacyanne Barros Dias Tassya Sâmella Ferst de Sousa Heliane Sousa da Silva Introdução Uma das características inerentes ao ser humano é a busca constante por tecnologias mais avançadas para o diagnóstico preciso, como a utilização de biossensores, tornando cada vez mais um ins- trumento laboratorial de grande definição no diagnóstico e prevenção de diversas doenças. Por outro lado, as profilaxias também são indis- pensáveis na saúde humana, como o uso de vacinas, preservativos e exames que fornecem medidas para atenuar e prevenir. Os métodos diagnósticos são vastos utilizados para identificar uma grande variedade de doenças, especialmente aquelas que apre- sentam mutações em células somáticas, como por exemplo, as causa- das pelo Papilomavírus Humano (HPV), acometendo tanto homens como mulheres com infeções múltiplas nos genitais, que como conse- quência, é um dos grandes responsáveis por ocorrências de cânceres (FEITOSA, 2013). Os HPVs fazem parte de uma grande família de vírus, deno- minada papovaviridae. Este vírus tem afinidade pelas epidermes e mu- cosas, onde são encontradas lesões na região em que o mesmo se instala, como por exemplo: na cavidade bucal, seios paranasais, larin- ge, uretra, mucosa traqueobrônquica, trato anogenital, esôfago, pênis, trato nasal, na conjuntiva dos olhos e pele, induzindo a formação de tumores benignos ou malignos (BLAKE, 2017). As enfermidades causadas pelos HPVs de alto risco, e em es- pecial o que contém o genótipo 16 é responsável por aproximadamen- te 99% dos casos de câncer cervical, sendo que, somente uma pequena 27 parcela está relacionada aos cânceres de cabeça e pescoço, assim co- mo, anal, vulvar, peniano e vaginal (FERREIRA, 2014). A identificação da infecção por HPV ocorre pelo aparecimen- to de verrugas condilomatosas simples, se não tratadas, evolui para neoplasias cervicais (NIC), classificadas pelo sistema de Bethesda em intraepitelial escamosa (LIE) de baixo grau; LIE de alto grau e carci- noma in situ. Este tipo de situação clínica pode ficar silenciado por anos, ou regredir espontaneamente, mas em alguns casos podem evo- luir para o carcinoma invasivo (LINDROT et al., 2017). Um dos mé- todos tradicionais para a identificação da mutação causada pelo HPV no tecido genital consiste no exame Papanicolau que se baseia na utilização do espéculo para a abertura do canal genital, possibilitando a visualização do colo. Com o auxílio da escova cervical, coletam-se as células da endocérvice em ângulo de 360ºC e com espátula de Ayre, retira-se amostra da parede genital nas proximidades ectocérvi- ce. Após estas etapas, efetua-se a fixação do material em lâmina, com coloração, análise ao microscópio e avaliação do conteúdo encontra- do na amostra (FEITOSA, 2013). O exame Papanicolau de citologia oncótica, técnica que aju- da na avaliação e detecção de coilócitos e outras alteraçõescitológicas (disqueratose, papilomatose, hiperqueratose, acantose e paraquerato- se), pode ser apenas um indicativo de lesões causadas pelo Papiloma- vírus. Mas de contrapartida, não se considera um método de diagnós- tico fidedigno para HPV, pois este exame tem a habilidade de confir- mar somente alterações, não podendo confirmar a presença do DNA vírus (FERREIRA, 2014). Tendo em vista que os métodos citados anteriormente para o diagnóstico do HPV são muito invasivos, demandando de maior tem- po de análise, de mão de obra especializada e ainda causam certo desconforto e constrangimento à paciente, surge a necessidade da utilização de um método menos invasivo para o diagnóstico, como é o caso dos biossensores. Tais ferramentas, são dispositivos analíticos, que apresentam um elemento de reconhecimento biológico imobiliza- do na superfície de um eletrodo, acoplado a um sistema de transdu- ção, amplificação e detecção do sinal do analito alvo (VISWANA- THAN, 2012). 28 Os biossensores, do ponto de vista clínico, constituem uma importante interface de ferramenta entre a prática laboratorial, sobre- tudo no que diz respeito ao diagnóstico e o tratamento precoce de determinados tipos de câncer (RONKAINEN, 2010). Além do mais, esses dispositivos analíticos fornecem resultados de forma rápida, precisa, são práticos, precisos, sensíveis, seletivos, são portáteis e pas- síveis de serem miniaturizados. Todas essas características do biossen- sor fazem com que a sua utilização para a identificação precoce do câncer do colo de útero seja extremamente promissor e de grande aplicabilidade na saúde, que associados ao exame citológico, buscam a otimização do tempo na entrega de laudos e até mesmo na eficácia do exame, maximizando as possibilidades de tratamento precoce, rastreabilidade da regressão e progressão da doença (YANGA et al., 2019). Levando em consideração as informações citadas acima, esta atualização se faz necessária, pois constantemente, surgem novas técnicas para diagnósticos moleculares por meio de biossensores para diferentes tipos de mutações, possibilitando a identificação precoce da doença e possibilidades de tratamento e cura dos diferentes tipos de cânceres. Com relação às mutações causadas pelo Papilomavírus Humano (HPV), é de suma importância que este diagnóstico seja o mais rápido e o mais preciso possível, pois quanto mais precoce a sua detecção mais rápido será o tratamento, minimizando as possibilida- des de evolução das lesões pré-cancerígenas. Desta forma, alguns autores explicam que os genossensores são tecnologias indispensáveis para diagnóstico médico e biomédico, pois exemplificam em ambas as situações a facilidade para detecção célere de agentes infecciosos à saúde humana (FERREIRA, 2014). Desta forma, o presente trabalho teve por objetivos discorrer sobre o Papilomavírus Humano (HPV), discorrer sobre o conceito de biossensores e suas classificações, bem como evidenciar as principais pesquisas sobre o desenvolvimento desses dispositivos analíticos para o diagnóstico do HPV e informar sobre a importância dos meios de prevenção como o uso de preservativos e vacinação. Metodologia 29 O presente trabalho trata-se de uma ampla revisão da literatura, de cunho descritivo, exploratório, de natureza qualitativa, quantitativa e documental a respeito da importância dos biossensores no diagnóstico do Papilomavírus Humano (HPV). Inicialmente, foi realizada uma análise dos artigos, em leitura flutuante em especial dos resumos, onde foi de extrema valia para tomar ciência do tema em cada pesquisa, e assim, foram escolhidos os mais compatíveis para fundamentar este trabalho, sendo excluídos artigos que fugiam da temática proposta ou que apresentassem data inferior ao ano de 2009. As plataformas on-line utilizadas para a busca de dados fo- ram: Scholar Google (Google acadêmico), Biblioteca física e online, Scientific Electronic Library Online (SCIELO), repositórios de Uni- versidades, Bireme e sites governamentais brasileiros, utilizando como descritores os seguintes termos: câncer do colo de útero, biossensores, Papanicolau, vírus, genossensores, testes moleculares e Papilomavírus Humano. Em seguida, foram utilizadas as palavras correspondentes na Língua inglesa. Os artigos escolhidos foram organizados em uma matriz, dis- tribuídos e analisados de acordo com os itens: ano de publicação, referenciais bibliográficos, autores, proposta de conclusões, metodolo- gia da pesquisa e objetivos. Após a comparação e análise qualitativa dos mesmos, foi possível obter aportes teóricos para embasar o estudo de revisão. Revisão da Literatura História da neoplasia uterina causada pelo vírus Papilomavírus humano (HPV) A historicidade do HPV iniciou-se em 1933, por pesquisado- res Shope e Hurst que descobriram a presença do vírus em coelhas selvagem. Anos mais tarde, em 1994, Rous e Kidd verificaram que o vírus produzia o câncer de pele e observando que em alguns animais domésticos, como coelhos, mesmo após o pré-tratamento com alca- trão, havia o surgimento de tumores que se comportava de forma mais branda ou benigna. Nos experimentos em humanos identificou- se que havia uma associação com Papilomavírus humano (HPV) e 30 verrugas tanto cutânea como vulvares, estas últimas denominadas condilomas acuminados (CONSOLARO, 2012). A ocorrência da invasão do vírus dentro da célula do hospe- deiro ocorre na camada profunda que são células menos diferenciadas do epitélio escamoso que ainda tem atividade mitótica, fenda essa que favorece a entrada do vírus. Partículas entram através da junção de proteínas presente no capsídeo com receptores específico na superfície da membrana celular (RAYBOULD, 2011). Os receptores mais preva- lentes na superfície das membranas celulares e matriz extracelular (ME) são os proteoglicanos como heparam sulfato e as proteínas inte- grinas α6β4, visto que são moléculas que encaixam na molécula alvo de seu receptor no caso o vírus do HPV (HORVATH et al., 2010 e WOODMAN et al., 2010). Minutos depois que o vírus do HPV invade a célula, o DNA é exposto e o capsídeo é perdido, favorecendo a multiplicação de genes virais na célula hospedeira. Dentro da célula o vírus pode interagir de duas formas: se juntando ao material genético da célula do hospedeiro ou ficando dentro do núcleo em forma circular apenas integrado ao genoma celular (BREBI, 2012). As lesões que acometem o colo uterino tendem a progredirem lentamente e os quadros dessas progressões se baseiam em níveis de anormalidades, como por exemplo as NIC I, que são lesões intraepite- liais escamosas de baixo grau, a NIC II, displasia moderada recobrin- do até dois terços do epitélio e a NIC III, displasia grave ou lesões intraepiteliais escamosas de alto grau, cobrindo o terço superior do epitélio ou carcinoma in situ (CONSOLARU, 2012). Nos esfregaços vistos ao microscópio, essas células apresen- tam displasia incluindo maturação desordenada do epitélio, mitoses, pleomorfismos, disceratose coilócitos e binucleação (BRANKOWS- KI, 2016). Já foram catalogados molecularmente mais de 100 tipos de vírus associados ao HPV, destes, 40 são aptos a infectarem o trato genital inferior. Os sorotipos 16 e 18, de alto risco oncogênicos, re- presentam o maior percentual de casos de lesões cervicais além desses outros sorotipos 31, 33, 35, 39, 45, 52, 56, 58, 59 e 68, que são descri- tos na literatura. Normalmente são encontrados em cânceres de vagi- na, ânus, colo uterino, pênis e vulva (MAIA, 2010). 31 Outro ponto importante associados ao câncer cervical são os que apresentam baixo risco (não oncogênicos), que causam o apare- cimento de verrugas vaginais e lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (sorotipos 11, 40, 42, 43, 44, 54, 61,70, 72 e 8). Normal- mente esses sorotiposnão são encontrados nos tumores. Porém as lesões no colo uterino, em geral, podem progredir regredir e persisti para forma de câncer cervical invasivo (FERREIRA, 2013). Definição e vantagens dos biossensores Os biossensores têm sido utilizados no diagnóstico de várias enfermidades abrangendo a detecção in situ de vários agentes patoló- gicos (NASCIMENTO, 2012 e BORA, 2013), uma vez que, oferece subsídios para um rápido diagnóstico com custos-benefícios vantajo- sos baseado nas medidas analíticas que obedeça aos padrões ou regras estabelecidas para monitorar substâncias de interesse na demanda do diagnóstico clínico (GIL, 2010 e TAMAYO, 2012). Esses aparelhos miniaturizados podem ser utilizados como método de análise qualitativa, onde detecta a presença ou não do analito alvo, ou como método de análise quantitativa, no qual vai determinar a concentração do analito de interesse presente numa amostra. Do ponto de vista clínico, esses dispositivos constituem uma importante interface de ferramenta entre a prática laboratorial, sobre- tudo no que diz respeito ao diagnóstico e ao tratamento precoce por efetuarem a detecção do analito em concentrações baixíssimas, muito antes dos sintomas aparecerem nos indivíduos (ARYA, 2012). Desta forma, os biossensores podem ser definidos como dis- positivos analíticos que convertem o sinal obtido de um evento de reconhecimento biológico em um sinal elétrico mensurável. Os com- ponentes de um biossensor são: o biorreceptor, transdutor e detector. O biorreceptor é constituído por elemento químico ou biológico imo- bilizado na superfície do eletrodo que tem o compromisso de detectar a amostra de interesse. O transdutor tem a função de transduzir o sinal biológico em outro tipo de sinal como por exemplo o sinal elétri- co e o detector apresenta função de processar os sinais vindos de um transdutor que serão analisados e ampliados. O sinal gerado é propor- cional à concentração do analito (DHULL, 2013). 32 A análise de um biossensor baseia-se em uma ligação entre afinidade do analito com a camada biorreceptora imobilizada na su- perfície do eletrodo, visto que essa afinidade específica resulta na res- posta de alteração de uma ou mais propriedades físico-químicas, co- mo por exemplo, alteração de massa, transferência de calor, transfe- rência de elétrons, alteração de pH, íons específicos ou liberação de gases, que são avaliados pelo transdutor, em tempo real (ARYA, 2012). A figura 1 mostra um esquema de um biossensor com os seus constituintes. Figura 1. Configuração de um biossensor, mostrando a organização do s seus componentes funcionais. Fonte: OLIVEIRA, 2016. Sabendo o vasto conhecimento dos biossensores e seu reco- nhecimento nos dias atuais, suas utilidades são vastas devido à sensi- bilidade, reprodutibilidade, tempo de resposta, seletividade e estabili- dade. Eles podem ser aplicados em diversas áreas, como no controle ambiental, na fiscalização de substâncias de metais pesados, pesticidas e fenóis, diagnóstico clínico, abrangendo as dosagens bioquímicas, teste rápidos, teor de contágio de microrganismo, na indústria de ali- mento, em análises forenses, entre outros (LINDROTH, 2017). Classificação dos biossensores Os biossensores podem ser classificados de acordo com o tipo de transdutor do sinal gerado por meio do evento de reconhecimento biológico entre sonda-alvo, no qual os principais tipos existentes são: 33 A) biossensor térmico: caracterizado por medir a mudança da temperatura provocada por meio de reações exotérmicas catalisadas por enzimas (BOHUNICKY, 2011 e LEE, 2012); B) biossensor piezoelétrico: é caracterizado pela variação da frequência e pela variação da massa, devido ao aumento da massa do eletrodo através da interação da sonda com o analito alvo (MO- NOŠÍK, 2012); C) biossensor ótico: se baseia na fluorescência, comprimento de onda, fosforescência, absorção e índice de refração, permitindo a identificação do analito usando um ou mais atributos da radiação óptica (BOHUNICKY, 2011 e DAI 2013); D) biossensor eletroquímico: caracterizado no processo de duração da biointeração entre o analito alvo e a biomolécula imobili- zada, que ocorre através de reações químicas produzindo e consu- mindo elétrons ou íons (MONOŠÍK, 2012). Esses dispositivos analíticos também podem ser classificados quanto ao elemento de reconhecimento biológico, no qual são imobi- lizados na superfície do eletrodo ácidos nucléicos, anticorpos, antíge- nos e enzimas (KIRSCH, 2013). Os biossensores enzimáticos são embasados por reações cata- lisadas por enzimas que foram imobilizadas na superfície do eletrodo, sendo o mais prevalente o glicosímetro, utilizado para aferição da glicose presente no sangue total, tendo como elemento de conheci- mento a glicose oxidase ou a desidrogenase. A sua monitoração ba- seia-se no aparecimento de reagentes ou produto de reação que é emi- tido por um sinal que muda a concentração de prótons, como a libe- ração ou absorção de gases (NH3 ou O2), ou uma emissão refletância de luz ou absorção (TAGUCHI et al., 2014). Os biossensores microbiológicos apresentam alta sensibilida- de, estabilidade e viabilidade in vitro para detectar algas, leveduras e bactérias, pois, ocorre a imobilização de um microrganismo no ele- trodo. Os microrganismos são considerados análogos possuindo en- zimas coenzima/cofatores que são capazes de reconhecer o analito alvo através de produtos químicos. São largamente utilizados também na detecção de benzeno, tolueno, fenol e outros compostos (SU, 2011). 34 Os imunossensores são sensíveis e seletivos tendo como po- tencial identificar níveis baixíssimos do analito alvo como drogas, vírus, hormônios, bactérias, marcadores tumorais e pesticidas. Contu- do se baseia na resposta imunológica entre antígeno e anticorpo que são imobilizados na superfície do eletrodo (LIU, 2010). Os genossensores são baseados no reconhecimento da fita simples de DNA imobilizada na superfície do eletrodo com a fita complementar do analito alvo presente na amostra. Esse processo de reconhecimento que ocorre o pareamento das bases nitrogenadas, numa dada temperatura, recebe o nome de hibridização (PALEČEK, 2012 e PANIEL, 2013), tal fato é mostrado na figura 2. Figura 2. Ilustração esquemática das etapas envolvidas do evento DNA hibridização do biossensor eletroquímico. Fonte: FERREIRA, 2014. Em destaque no relatório disponível pela União Internacional de Química Pura e Aplicada- IUPAC (2010), é vasto os tipos de DNA utilizado como elementos no biorreconhecimento como moléculas de PNA, RNA, DNA e aptâmeros (PALEČEK, 2012). Ácidos nucléicos peptídicos (PNA) são ácidos nucléicos sinté- ticos, eficazes por serem mais estáveis em intervalos maiores de pH e temperatura. Possuem especificidade na detecção de mutações de ponto, como polimorfismos de nucleotídeo único, ocorrendo um mau acoplamento entre as bases únicas de PNA-DNA do híbrido (LABU- DA et al., 2010). 35 Os Aptâmeros se mostram mais estáveis que o DNA e o RNA, por possuírem síntese e armazenamento mais resistentes à des- naturação, apresentam afinidade por ligantes e não são reconhecidos por íons e anticorpos, se mostrando mais preferíveis na utilização em biossensores (PALCHETTI, 2012). 36 Tipos de imobilização e detecção Uma das etapas cruciais na construção de um biossensor é a imobilização do elemento de reconhecimento biológico na superfície do eletrodo. Para garantir uma imobilização eficaz é necessário efetu- ar uma modificação química do eletrodo em questão para que o mes- mo adquira grupos funcionais e possam interagir com o biorreceptor. As principais técnicas para a imobilização da sonda na superfície do eletrodo são: adsorção química, ligação covalente, adsorção física e ligaçãopor afinidade (LABUDA et al., 2010). Na adsorção química a imobilização da sonda baseia-se em monocamadas de um agente como alcanos tiolados, sobre o eletrodo, onde são capazes de fixar moléculas biológicas. Um exemplo que ilustra a adsorção química é o processo de imobilização do DNA pelo agrupamento tiol presente no aminoácido cisteína que tem afinidade pelo ouro (Au) (WANG, 2012). A ligação covalente possui uma alta sensibilidade de detec- ção, pois não permite que biomoléculas inespecíficas se ligarem à superfície do eletrodo, porque possui na sua extremidade final da sonda o biorreconhecimento que tem maior especificidade pelo tipo de eletrodo escolhido. Os mais grupos funcionais mais utilizados para essa modificação estão na cadeia lateral de alguns aminoácidos como tiol, carboxílico, amino e etc. A adsorção física representa um método simples de imobilização, pois ocorre interação eletrostática entre os grupos aniônicos presentes na sonda de DNA e as cargas catiônicas que recobrem a superfície do eletrodo (MONOŠÍK, 2012). Na ligação por afinidade, o processo de imobilização da son- da ocorre por meio da utilização da biotina que tem uma maior sensi- bilidade aos quatro sítios de ligação na avidina ou na estreptavidina, conectando a sonda ao eletrodo do trabalho (LABUDA et al., 2010). Após a imobilização da sonda no eletrodo, o biossensor é co- locado em contato com a amostra para a detecção e quantificação do analito alvo. Essa detecção ocorre por meio da transdução do sinal obtido entre a reação da sonda com o alvo. Os principais tipos de detecção utilizados nos genossensores é a detecção eletroquímica que permite a análise de baixos níveis de concentração do analito (PA- LEČEK, 2012). 37 O método de detecção direta nos genossensores, baseia-se na mensuração do sinal de corrente antes e após o processo de hibridiza- ção. A intensidade da corrente elétrica antes da formação do híbrido é maior, devido uma maior exposição e oxidação da guanina na su- perfície do eletrodo. Após o processo do pareamento das bases nitro- genadas, os resíduos de guanina ficam menos suscetíveis à oxidação, consequentemente, ocorre um decréscimo do sinal de corrente gerado. Das bases nitrogenadas presentes na molécula de DNA, a guanina apresenta maior facilidade de sofrer oxidação no eletrodo e, portanto, pode ser usada para a detecção da hibridização pelo método direto (TOSAR, 2010). No método de detecção indireta, mensura-se o sinal de cor- rente elétrica antes e depois da hibridização com a fita complementar. Porém, após submeter a sonda na presença do analito alvo para ocor- rer a formação do híbrido, coloca-se uma substância eletroativa, como o brometo de etídio, que se intercala na molécula de DNA, fazendo com que o sinal eletroquímico gerado, seja aumentado (ORTIZ, 2011). Biossensores e diagnóstico de HPV Como visto anteriormente, os biossensores apresentam diver- sas vantagens na sua utilização como análise da amostra em tempo real, não demandam obra qualificada para análise, etc. Desta forma, muitas pesquisas têm sido realizadas no desenvolvimento de biossen- sores para a detecção do HPV. Em 2009, Zari e colaboradores, desenvolveram um biossensor eletroquímico que determinava a presença do oligonucleotídeo do vírus HPV adsorvido em eletrodo de ouro impresso. A detecção do oligonucleotídeo foi realizada de forma direta, onde se verificava a oxidação de purinas (guanina e adenina) e fragmentos de DNA na superfície dos eletrodos, por meio de voltametria de onda quadrada. Em uma outra pesquisa, foi desenvolvido um imunossensor utilizando um copolímero conjugado poli (5-hidroxi-1,4- naftoquinona-co-5-hidroxi-2-carboxietil-1,4-naftoquinona) para a detecção de infecção por HPV. Esse dispositivo é capaz de identificar a interação entre o peptídeo antigênico L1 do principal HPV-16 proteína do capsídeo, um epítopo dominante envolvido na infecção viral na vacina profilática e no anticorpo relevante. O HPV- 38 16-L1 foi enxertado como sonda para detectar o anticorpo HPV-16 (PIRO, 2011). No mesmo ano, alguns pesquisadores desenvolveram um tra- balho similar onde verificou-se o desempenho analítico dos filmes de nanotubos de carbono de polianilina com múltiplas paredes (PANi- MWCNT) em matrizes de eletrodos de platina interdigitados para a detecção do vírus HPV (DAI et al., 2011). Um outro trabalho foi realizado, permitindo o desenvolvi- mento de um nanobiosensor usando um transistor de efeito de campo do nanotubo de carbono (CNTFET) e o condicionamento de sinal. Os circuitos projetados têm interface com o sensor para amplificar o bio- potencial gerado com a reação química do antígeno com o anticorpo colocado sobre o eletrodo de CNTFET (GOPINATH, 2018). Estes trabalhos realizados têm sido promissores para a detec- ção em tempo real de HPV, no entanto, mais estudos são necessários para determinar a viabilidade dos ensaios para aplicações clínicas. Meios de prevenção O uso da vacina é uma medida profilática indispensável para a imunização de variadas patologias incluindo as infecções causadas pelo o HPV (ZARCHI, 2009 e NIETO, 2014). No Brasil, são disponi- bilizados dois tipos de vacinas: as terapêuticas e preventivas baseadas na resposta imune celular (linfócito T) para se ativarem e a outra se baseia na resposta imune humoral (linfócito B) (DOCHEZ, 2014). Com isso, são disponibilizadas no mercado duas doses de va- cina bivalente: a Cervarix® (GlaxoSmithKline – GSK), que protege o paciente de dois tipos de (HPV) 16 e 18 e a vacina quadrivalente (a Gardasil®), que protege o paciente de quatro tipos variantes do vírus: 6, 11, 16 e 18 (NIETO, 2014). Para se obter uma proteção eficaz é recomendável 3 doses da vacina em um tempo recomendado de seis a doze meses (ZARCHI, 2009). Mas para manter sua eficácia completa, varia de cinco a dez anos de individuo para individuo necessitando de um reforço a cada 5 anos (BONANNI et al., 2009). As vacinas são compostas por partículas iguais ao do vírus (virus-like particles – VLP) originárias das proteínas (L1 e L2) presen- tes no capsídeo do vírus do HPV (MA et al., 2010 e BASU, 2013).Indivíduos que apresentam infecção pré-existentes, os antígenos 39 L1 e L2 não são detectados, visto que não existe um efeito terapêuti- co, pois a limitação está no fato de que a vacina não contra-ataca infecções pré-existentes do HPV (HUANG, 2010 e NIGAM, 2014). A proteção contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) no sexo masculino e feminino são o uso dos preservativos, apesar dos mesmos não oferecerem proteção completa ao (HPV). Visto que essas transmissões ocorrem pelo o contato de epidermes a epidermes, vaginal com vaginal, mãos com genital e entre outros, o mesmo vale para lesões na vulva, vagina e lesões masculinas tende a progredir e transmitir ao parceiro. Diante disso, estudos comprovaram na Austrália, em uma clínica de DST, aproximadamente 2.000 mil casos e entre casos de controles que o uso de preservativos tende a cair significativamente o risco de adquirir o condiloma acuminado entre ambos os sexos mostrando que prevenção ainda é indispensável (MAIA, 2010). As estratégias de prevenção para o controle epidemiológico preconizada nos serviços de saúde. Baseia-se, na orientação da socie- dade sobre o uso de vacinas e realização periódica de exames preven- tivos tanto nas medidas primárias e secundárias considerados o pa- drão ouro para o diagnóstico do Papilomavírus Humano (HPV) (LINDROTH, 2017). Os programas de atenção básica a saúde para prevenção clínica por meio de exames e diagnóstico, está voltada para a parte educativa, preventiva, diagnóstico precoce, cura, prognóstico e qualidade de vida para esse tipo de patologia e demais doenças (FER- REIRA, 2017). Notoriamente, os dispositivos analíticos, como biossensor,têm sido desenvolvidos para diagnóstico de várias doenças, abordan- do a detecção in situ de agentes infeciosos como Papilomavirus hu- mano (HPV). Em comparado com a instrumentação de laboratório clássico, o biossensor está sendo cada vez mais explorado com alter- nativa promissora e simples para um diagnóstico por que tem a capa- cidade de diferenciar mais de um tipo de doença em um único analito. Além disso, pode ser uma alternativa barata e célere para medidas analíticas convencionais, devido oferecer parâmetros de sensibilidade, estabilidade, seletividade, tempo de resposta e possibilidade de reutili- zação do mesmo (LINDROTH, 2017). 40 Considerações finais O Papilomavírus apresenta grandes incidências tanto nos países de- senvolvidos como subdesenvolvidos. A limitação da detecção do vírus pelos testes citológicos existentes por apresentarem elevados custos, favorece que mulheres acometidas por lesões, evoluam para o carci- noma cervical invasivo pela falta do diagnóstico precoce. O método citológico associado à utilização de biossensores permitirá detectar da presença do DNA do vírus em uma amostra biológica, propiciando uma detecção precoce do mesmo, favorecendo a administração de terapia adequada, para evitar a evolução da doença. Apesar de ter uma limitação na utilização em saúde pública, já são feitos diagnósticos clínicos em laboratórios apresentando ter confiabilidade na ocorrência dos resultados, pois reduz substancial- mente custos de produção aos biossensores e conferindo vantagem para a sua aplicação. O biossensor associado ao exame citológico (Papanicolau) permitirá um diagnóstico mais seguro, eficaz, com alta seletividade, sensibilidade, rapidez, linearidade do sinal, portátil, aju- dando no manuseio em laboratório de análises clínica, consultórios médico e facilitando o transporte para unidades distantes, onde a atenção básica de saúde é de difícil acesso. A prevenção contra o vírus do HPV é indispensável, pois consiste em evitar sua disseminação e que proliferem a outros parcei- ros. Muitos são engajados na procura do diagnóstico pensando no seu bem-estar e do próximo. Essa prevenção pode ser realizada por meio da vacinação, utilização de preservativos e conscientização da popu- lação através dos profissionais da saúde. Tal conscientização, tem papel de orientar para que os índices sejam mínimos, considerando que os índices de infestação hoje existentes no Brasil são considerados preocupantes. 41 Referências bibliográficas ARYA, SK. SAHA, S. RAMIREZ-VICK, JE. GUPTA, V. 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As formas de transmissão das diversas parasi- toses para o ser humano normalmente dependem da contaminação ambiental, instalando-se por meio da ingestão de ovos de helmintos, cistos ou oocistos de protozoários e até mesmo de forma subcutânea, onde o parasito irá penetrar na pele do indivíduo (SOUSA, et. al., 2014). O Brasil apresenta situação socioeconômica e clima apropria- do para a ocorrência desse tipo de doença, e por ser um país ainda em desenvolvimento ocorre tanto nas áreas rurais, como em urbanas (PINTO, et al., 2018). O solo e as águas das praias são focos importantes de infecção humana ocasionada por parasitos (PEDROSA, et. al., 2014). A areia, devido sua estrutura física, umidade e por existir a presença de maté- ria orgânica, acaba se tornando ambientes potencialmente dispersan- tes de parasitos, favorecendo então a contaminação por suas formas infectantes, como ovos, larvas e trofozoítos. Ambientes como praias e áreas de lazer, e recreação são relevantes por ter um grande fluxo de pessoas, o que torna esses lugares apropriados para a pesquisa de parasitos contaminantes. Um importante aspecto é o fato em que muitos dos espaços praianos têm o descarte de esgoto doméstico inde- vido, os lixos em geral e ainda a presença de animais livres e sem donos que são capazes de disseminar zoonoses (SIQUARA; GAL- DINO, 2011). 49 Vários estudos apontam que no Brasil, os riscos de infecções por parasitos tornaram-se elevados em seres humanos, principalmente em crianças, devido ao crescente número de cães domiciliados, peri- domiciliados e errantes que têm fácil acesso aos locais de lazer (MA- CIEL, et al., 2016). O ser humano pode ser atingido por parasitos intestinais em toda sua vida, sendo na infância a fase mais frequente. As crianças, por estarem com o sistema imunológico em desenvolvi- mento e consequentemente mais exposto aos agentes etiológicos, visto que a higiene pessoal nesta faixa etária é insatisfatória, estão mais suscetíveis a infecção e reinfecção. As infecções por parasitos intesti- nais prejudicam no desenvolvimento físico e mental, refletindo no rendimento escolar, com declínio da capacidade física e intelectual das crianças parasitadas quando, associadas com a desnutrição e diar- reia crônica (PIRES, et al., 2016). A pessoa quando infectada, pode apresentar diversos proble- mas, que variam de acordo com o parasito. Dentre os principais da- nos, estão os distúrbios de sono e distração mental causado pelo Ente- robius vermiculares que por meio da deposição de seus ovos na região perianal irá ocasionar o prurido local. O Ascaris lumbricoides, por sua vez, causará deficiência nutricional e também no crescimento. A Gi- ardia lamblia provoca náuseas, vômitos, diarreia, perda de peso e má absorção. Ancilostomideo, gerando perda de sangue, anemia, retardo físico e mental. Também a Entamoeba histolytica sendo capaz de de- senvolver ulcerações intestinais, obstrução gastrointestinal, diarreia sanguinolenta e peritonite (REUTER, et al., 2015). Aproximadamente 3,5bilhões de pessoas no mundo estão in- fectadas com enteroparasitos, dentre as quais vivem principalmente em países subdesenvolvidos, sendo que a prevalência aumenta de acordo com a diminuição dos níveis socioeconômicos. Ainda, há evidências de que o desordenado crescimento das cidades, em conse- quência da migração da população menos favorecida financeiramente para áreas mais afastadas, locais em que há uma vasta deficiência de adequada infraestrutura para moradias, e também o fluxo de pessoas de áreas rurais para urbanas a procura de trabalho, são fatores pri- mordiais presentes nos índices de transmissão das doenças parasitárias (SOUZA, et al., 2016). 50 Tendo como base os dados aqui mencionados a respeito das implicações ocasionadas pelas enteroparasitoses e visto a importância de se pesquisar a presença desses parasitos em áreas com um grande fluxo de pessoas, este estudo pautou-se na seguinte problemática: Quais as espécies parasitárias presentes nas areias das praias de Pedro Afonso – TO? É importante ter esse conhecimento, afim de divulgar essa informação a população e turistas que frequentam esses locais e dessa forma orientar quanto às medidas profiláticas. Por apresentar malefícios a saúde humana, é de suma impor- tância a pesquisa em busca de parasitos em seus estágios evolutivos, visto que, são capazes de disseminar em locais públicos e, no entanto, provocar enteroparasitoses nos indivíduos. Deste modo, as pessoas poderão estar mais conscientes sobre os perigos envolvidos, além de adquirir conhecimentos, poderão aplicar as medidas profiláticas em busca de uma melhor qualidade de vida. Diante esses dados e considerando a relevância do levanta- mento parasitológico de áreas de lazer frequentadas pela população, o objetivo desse estudo visa avaliar a ocorrência de parasitos em areias de duas praias localizadas no município Pedro Afonso-TO, regiões turísticas de importância no estado. Materiais e Métodos: Área de estudo As praias são importantes locais de lazer, principalmente nas altas temporadas, sendo frequentadas por adultos e crianças diaria- mente. As praias do Dunga e do Rio Sono estão situadas no municí- pio de Pedro Afonso, TO. A cidade é localizada na Zona Norte, no encontro de dois grandes rios no Estado do Tocantins, o Rio Tocan- tins que se encontra do lado esquerdo e o Rio Sono do lado direito, o município limita-se com as cidades de Tocantínia, Tupirama, Lizarda e Itacajá. A sede municipal está situada a 8° 58' de latitude Sul e 48° 10' 48' de longitude W.Gr (IBEGE, 2019). Pedro Afonso, TO tem uma grande presença de visitantes todos os anos no período de julho, devido à alta temporada das praias durante as férias. A Figura 1 apre- senta a imagem de satélite do município de Pedro Afonso, TO, cerca- da pelos dois rios acima mencionados, a Figura 2 e Figura 3 apresen- 51 tam a imagem da Praia do Dunga e do Rio Sono respectivamente, locais onde foram realizadas as coletas para a realização desta pesqui- sa. Figura 1: Imagem de satélite da cidade de Pedro Afonso/TO – Brasil. Fonte: Google Earth, 2019. Figura 2: Praia do Dunga, localizada em Pedro Afonso, TO. Fonte: próprio autor, 2019. 52 Figura 3: Praia do Rio Sono, localizada em Pedro Afonso, TO. Fonte: próprio autor, 2019. Coleta das amostras A coleta das amostras foi realizada em dois dias distintos du- rante o mês de setembro de 2019. Para a realização, foram utilizadas luvas de procedimento como meio de biossegurança. As areias coleta- das foram armazenadas em coletores estéreis, devidamente identifica- dos conforme a praia onde a coleta foi realizada. Na primeira coleta foram selecionados locais, secos e úmidos, sendo três pontos diferen- tes em ambas as praias. Na segunda coleta foram escolhidos quatro pontos aleatórios das duas praias, tanto em locais de banho, como em locais afastados. No total foram obtidas 14 amostras. Durante as coletas foram observados e levados em conta o es- tado do ambiente em relação a limpeza e higienização, onde havia presença de animais domésticos, quantidades mínimas de lixo e fezes. Após as coletas, as amostras foram transportadas, em um recipiente fechado, ao laboratório de parasitologia do Instituto Educacional Santa Catarina – Faculdade Guaraí para a realização das análises. As figuras 4 e 5 apresentam uns dos momentos das coletas, tanto da areia seca, quanto da areia úmida respectivamente. 53 Figura 4: Coleta de areia seca Figura 5: Coleta de areia úmida Fonte: próprio autor, 2019 Fonte: próprio autor, 2019 Análise laboratorial Para avaliação parasitológica foram realizados os métodos de Hoffman, Pons e Janer (HPJ), que consiste em sedimentação espon- tânea, o qual é indicado para pesquisa de ovos pesados, revela tam- bém ovos e larvas de outros helmintos e cistos de protozoários. O outro método utilizado foi o direto à fresco, cuja preparação é mais rápida, sendo indicado para pesquisa de ovos, larvas, cistos e trofozoí- tos permitindo que sejam observados vivos (CARLI, 2001). Para a realização do primeiro método citado, separou-se um pouco da amostra de areia, colocando-as sobre uma gaze acondicio- nada dentro de uma peneira que estava sobre um cálice de sedimenta- ção, para que as amostras fossem filtradas e sedimentadas. Logo após, foi adicionada um pouco de água deionizada sobre a amostra e mistu- rada com um palito de madeira para obter-se a filtração, seguidamente o cálice foi completo com água deionizada e deixado em repouso por 24 horas. Após o tempo determinado, uma gota do sedimento foi adicionada sobre a lâmina, posteriormente uma gota de lugol, e então foi coberto com uma lamínula, levando-as ao microscópio focando em objetiva de 10x e 40x. 54 Na realização do segundo método, foi adicionada água deio- nizada diretamente no tubo coletor contendo a amostra, em seguida foi misturada, posteriormente foi adicionada uma gota da água e se- guidamente do lugol sobre a lâmina, foi coberto com uma lamínula e observado ao microscópio em objetiva de 10x e 40x. Para cada amos- tra foram analisadas 3 lâminas, sendo uma sem lugol, permitindo observar as morfologias vivas e duas com lugol para melhor analisar as estruturas, auxiliando na adequada identificação. Resultados e discussão Principais parasitos identificados Na Praia do Dunga, na primeira coleta, onde foram coletadas três amostras de areia de locais secos e úmidos, uma foi positiva para formas parasitárias. Já na segunda coleta, onde foram obtidas quatro amostras em locais aleatórios, três foram positivas para formas parasi- tárias, sendo duas de locais mais frequentados por banhistas e uma de locais mais afastados. Na praia do Rio Sono também foram obtidas três amostras na primeira coleta, de locais secos e úmidos, e quatro na segunda, de locais aleatórios, como lugares mais frequentados por banhistas e locais mais afastados, porém todas as amostras de areias nesta praia obtiveram resultados negativos para quaisquer formas parasitárias. A prevalência de amostras positivas e negativas analisadas das duas praias estão apresentadas na figura 6. Conforme descrito, apenas a Praia do Dunga apresentou amostras positivas, sua prevalência está demonstrada na figura 7. 55 Figura 6: Prevalência de amostras positivas e negativas para as Praias do Dunga e Rio Sono. Fonte: próprio autor, 2019. Figura 7: Prevalência de amostras positivas na Praia do Dunga Fonte: próprio autor, 2019. A primeira amostra da Praia do Dunga, havia presença de larvas de nematoides de vida livre e protozoários ciliados, já as amos- tras da segunda coleta na mesma praia em locais de banho,foram positivas para cisto de Entamoeba coli e protozoário ciliado, nos locais mais distantes, foram positivas para larva de Strongyloides stercoralis, Positivas 29% Negativas 72% Título do Gráfico 57,1% 42,9% Positivas Negativas 56 Ancylostoma sp e larvas de nematoide vida livre, cuja identificação não foi realizada. Os resultados dos parasitos presentes nas duas praias analisadas estão presentes na tabela 1, a figura 7 apresenta alguns dos parasitos identificados na presente pesquisa. Tabela 1: informações dos parasitos encontrados nas amostras de areia das praias. Praia do Dunga Praia do Rio Sono Larva filarioide e rabditoide de Strongyloides stercoralis Todas as amostras negativas para parasitos Larva filarioide e rabditoide de Ancylostoma sp Larvas de nematoides de vida livre Cisto de Entamoeba coli Protozoário ciliado Fonte: Próprio autor, 2019. Figura 7: Parasitos identificados na presente pesquisa a. Larva de Strongyloides stercoralis. b. Larva de Ancilostomídeo. c. Larva de Nematoide não identificado. d. Larva de Nematoide não identifi- cado. e. Cisto de Entamoeba coli. f. Protozoário ciliado não identifica- do. Fonte: Próprio autor, 2019. 57 Comparativo entre estudos relacionados Em um estudo realizado em areias de praias pertencentes à orla marítima de Maceió, AL, foram pesquisadas áreas com maior densidade populacional, ou seja, frequentadas por banhistas e que possuíam barracas de alimentação. As amostras foram coletadas entre agosto de 2012 a março de 2015, trimestralmente. De 80 amostras obtidas, 67 delas estavam positivas para formas parasitárias, nas quais foram encontrados cistos de Entamoeba coli, larvas, tanto filarióides quanto rabditoides, de Strongyloides sp e Ancilostomídeo, percebe-se que estes resultados são semelhantes ao da presente pesquisa. Ainda no estudo realizado em Maceió, AL, a identificação por espécie evi- denciou que 23,38% das amostras eram Strongyloides sp, já em 76,62% foram formas larvais da família Ancylostomatidae. Na pes- quisa encontrou-se também outros cistos de protozoários, como de Iodamoeba butschlii, Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar, Gi- ardia lamblia e Endolimax nana, além de Entamoeba coli. Devido esses protozoários não ser considerados patogênicos é importante destacar o grau de contaminação fecal, ao qual o ambiente está expos- to, evidenciado pela presença dos mesmos (GRACILIANO NETO, et al., 2017). Outro estudo desenvolvido na Praia do Campeche e Morro das Pedras, localizada no sul da ilha de Florianópolis, SC, foram cole- tadas 149 amostras fecais de março de 2017 a março de 2018. Em cada praia, foi feita uma coleta a cada mês, evitando os dias chuvosos. Das amostras coletadas, 71 apresentaram-se positivas. Na primeira praia houve presença de mais de um parasito de importância zoonóti- ca em nove amostras, já na segunda, sete amostras tinham mais de um parasito. Em ambas as praias citadas, o número de amostras posi- tivas para a presença de Trichuris vulpis foi similar, sendo que, os Anci- lostomídeos foram os de maior ocorrência nas amostras analisadas pelo método de Hoffmann. Quando analisadas pelo método de Willis- Mollay, apresentaram Giárdia spp e Cystoisospora spp (OLIVEIRA, 2018). Em comparação com a presente pesquisa, as larvas de Ancilos- tomídeos também foram identificadas por meio do método de HPJ. Na praia da Pinheira, no município de Palhoça, SC, no perí- odo de abril de 2017 a abril de 2018, foi realizada a coleta de 150 58 amostras de fezes de cães e gatos por toda a extensão de areia da praia, sendo os locais de acesso à praia, praça e locais onde as pessoas comumente passeavam livremente de pés descalços, 85 delas, estavam contaminadas por parasitas. Pelo método de Willis-Mollay, 83 amos- tras apresentaram ovos de Ancilostomídeos, 12 amostras foram positi- vas para Trichuris vulpis, 4 foram positivas para Giardia spp e 2 para Toxocara spp. Pelo método de Hoffmann 79 amostras foram positivas para Ancilostomídeos, 12 amostras foram positivas para Trichuris vulpis e uma positiva para Giardia spp (SILVA, 2018). No período de fevereiro a março de 2013, em Vitória, ES, foi realizada a coleta de areias de praias, sendo elas: Camburi, Ilha do Boi, Curva da Jurema e Praia do Canto. De 192 amostras de areias analisadas, observaram-se que em 24 delas havia larvas de Toxocara sp distribuídas por todas as 4 praias estudadas (SILVA, et al., 2013). Ao infectar acidentalmente as pessoas, as larvas da maioria das espécies de geohelmintos não se desenvolvem, porém elas podem causar larva migrans cutânea (LMC) e larva migrans visceral (LMV), migrando para o tecido subcutâneo ou até mesmo visceral (FERRAZ, et al., 2018). A larva migrans cutânea humana é definida pelas migrações larvais serpinginosas no tecido subcutâneo, com lesões eritomatosas, hiperemia local, intenso prurido, processo inflamatório regional agu- do, o que levam as lesões cutâneas a terem semelhanças a mapas, popularmente denominadas como “bicho geográfico” (FERRAZ, et al., 2019). Já a larva migrans visceral é ocasionada pela resposta in- flamatória em virtude da migração de larvas através de diferentes órgãos e tecidos vitais do corpo, como o sistema nervoso central (SNC), e a larva migrans ocular (LMO) o que poderá causar a perda total ou parcial da visão (ARANTES, 2018). Das quatro pesquisas aqui descritas, as quais foram realizadas em areias de praias, todas tiveram a presença de Ancylostomideo sp, com exceção de apenas uma, que foi a realizada em Vitória, ES. Também foi feito um levantamento de algumas pesquisas realizadas em areais, gramas de praças, quadras e parques públicos com a finali- dade de identificar a presença de parasitos, visto que também são locais de lazer e que é possível ser um foco de contaminação parasitá- ria para os frequentadores desses locais. Segue adiante os resultados encontrados. 59 Pesquisa realizada em nove amostras de areia seca de parques públicos dos municípios de Castelo e Cachoeiro de Itapemirim, Espí- rito Santo, coletadas no mês de março de 2016, observou-se a presen- ça de ovos de Ascarídeos, Ancilostomídeos e helmintos pertencentes à superfamília Trichuroidea, além de larvas sugestivas de Ancylostoma spp. De acordo com os autores desse estudo, a concentração dos ani- mais nas áreas públicas está associada ao abandono, o que aumenta a taxa de contaminação, colaborando com o aumento da incidência e disseminação de inúmeras parasitoses ao ser humano. Além disso, os insetos coprófilos e certos dípteros podem atuar como vetores mecâni- cos, favorecendo a dispersão dos ovos de helmintos, fora estes, o que pode também favorecer são as chuvas, e ventos (MARTINS; ALVES, 2018). No município de Palotina, Paraná foram coletadas amostras de areias das principais praças públicas e quadras esportivas de areia e também amostras frescas de fezes de cães coletadas nas principais praças. A pesquisa foi executada nos meses de abril e maio de 2016. Foram analisadas 52 amostras de areia e em nem uma delas encon- trou-se ovos ou larvas de nematóides parasitos. Caso semelhante ocorreu no presente estudo, onde também não foram encontradas formas parasitárias na praia do Rio Sono. Ainda na pesquisa realizada em Palotina, PR, 39 amostras de fezes caninas encontradas na grama ou em terra dos locais públicos, 27 foram positivas para Ancylostoma sp, Strongyloides stercoralis e Trichuris vulpis (PREUSSLER, et al., 2016). Desta forma, verifica-se que muitos cães realmente estão para- sitados e a sua presença em locais de lazer, como praias e praças pú- blicas, tornam-se uma provável fonte de contaminação, visto que os mesmos defecam liberando com as fezes formas parasitárias. Na avaliação parasitológica de solosde praças públicas do município de Jeremoabo, BA, realizada entre junho e outubro de 2017, foram encontrados parasitas com potencial zoonótico como: Toxocara sp, Ancilostomídeo, Oxiurideo e Trichuris sp, sendo estes em formas de ovos, enquanto o Strongyloides sp em forma de larva. Os parasitas mais frequentes foram: Toxocara sp e Ancilostomídeos (CARVALO, et al., 2019). Em praças e parques públicos na cidade de São Paulo, no mês de março, mês com alto índice de chuvas no município, foram coleta- 60 das 75 amostras, 12% apresentaram-se positivas. Os parques e praças onde apresentavam amostras positivas foram: Santo Dias, Severo Gomes, Rodrigo de Gásperi, Conde de Barcelos e Guarapiranga. Onde encontraram ovos de Ascaris sp, ovos e larvas de Ancylostoma sp, ovos de Ácaros de vida livre, ácaros de vida livre, cisto de Isospora sp. e ovos ou cistos indefinidos (TRISKA, et al., 2016). Para a pesquisa de parasitos na cidade de Ijuí, RS, nos meses de setembro, outubro e novembro de 2014, foram escolhidas dez pra- ças totalizando 750 amostras de solo, das amostras de solo coletadas, observou-se que 100% das praças havia presença de ovos de Ancylos- toma sp e Toxocara sp. Porém não era em todas as praças que conti- nham a presença dos dois ovos, a predominância foi de ovos de An- cylostoma sp (MARTINS, et al., 2018). A Tabela 2 apresenta quais os parasitos identificados nas pes- quisas aqui relatadas em diversas praias, parques, quadras e praças das mais variadas cidades do Brasil. Tabela 2: Informações dos parasitos encontrados nas amostras de areia das praias e locais públicos. Autores Cidade/ Esta- do Locais Parasitos Neto JJG, et al. 2017. Maceió, AL Praias Entamoeba coli, larvas filariói- des e rabditoides de Strongyloi- des sp, e formas larvais da família Ancylostomatidae, cistos de protozoários: Iodamo- eba butschlii, Entamoeba his- tolytica/Entamoeba dispar, Giardia lamblia e Endolimax nana. Oliveira T, 2018. Florianópolis, SC. Praias. Trichuris vulpis, Ancilostomí- deos, Giárdia spp e Cystoisos- pora spp. Silva A, 2018. Palhoça, SC. Praias. Ovos de ancilostomídeos, Trichuris vulpis, Giardia spp, Toxocara spp Silva DAM, et al. 2013. Vitória, ES. Praias. Larvas de Toxocara sp. Martins RS, et al. 2018. Castelo e Cachoeiro de Itapemirim, Parques. Ascarídeos, Ancilostomídeos e helmintos pertencentes à super- família Trichuroidea e larvas 61 ES. sugestivas de Ancylostoma spp. Preussler JV, et al. 2016. Palotina, PR. Praças e quadras esportivas de areia Ancylostoma sp, Strongyloides stercoralis e Trichuris vulpis. Carvalho CD, et al. 2019. Jeremoabo, BA. Praças Ovos de Toxocara sp, ancilos- tomídeo, oxiurideo e Trichuris sp, e larvas Strongyloides sp. Triska ABL, et al. 2016. São Paulo, SP. Praças e parques. ovos de Ascaris sp, ovos e larvas de Ancylostoma sp, ovos de Ácaros de vida livre, ácaros de vida livre, cisto Isospora sp e ovos ou cistos indefinidos. Martins LRV, et al. 2018. Ijuí, RS. Praças Ovos de Ancylostoma sp e Toxocara sp. Fonte: Próprio autor, 2019. Em relação aos resultados, os diferentes ambientes dos estu- dos comparados e os métodos de análises produzem resultados distin- tos, porém semelhantes. Todos os resultados apontam para a necessi- dade de monitoramento da qualidade sanitária da areia das praias, praças e parques, a fim de proteger a saúde pública e o meio ambiente. Para que ocorra o controle de doenças ocasionadas por para- sitos é necessário que haja uma mudança no comportamento da popu- lação, de forma que seja possível diminuir a poluição do meio ambi- ente. As principais formas de medidas que possa assegurar a diminui- ção desses riscos são: uso de instalações sanitárias adequadas, o que inclui o tratamento adequado dos dejetos, para que não ocorra a polu- ição das superfícies; educar a população sobre as parasitoses e suas formas de transmissão; lavar bem as mãos antes de comer ou de ma- nusear alimentos, principalmente após defecar e também contato com terra; impedir o acesso de animais como cães e gatos em áreas de lazer, a fim de evitar que as fezes desses animais contamine o solo; e principalmente evitar andar descalço. 62 Conclusão Por meio da análise parasitológica da areia das duas praias do município de Pedro Afonso, TO, a praia do Dunga foi a única que apresentou presença de alguns parasitos conforme relatado na presen- te pesquisa, desta forma é possível evidenciar uma possível contami- nação a qual favorece infecções humanas. Com base nos resultados é preciso que haja proteção e conscientização da população, e através desse estudo elas poderão adquirir conhecimentos sobre os ambientes em que frequentam e os riscos a que estão expostas. As praias são locais onde pessoas costumam andar descalças, principalmente as crianças que também costuma brincar na areia. Durante a pesquisa notou-se pequenas quantidades de lixos, alguns animais domésticos e fezes, o que é possibilita a presença dos parasitos identificados. Desta forma os métodos de profilaxias são imprescindíveis a fim de evitar possíveis contaminações aos frequen- tadores desses locais, no entanto, é importante evitar andar descalço nos ambientes onde exista a presença de cães e gatos que podem estar contaminados ou onde há presença de fezes destes, evitar levar ani- mais domésticos a praia, levá-los com frequência ao veterinário e recolher suas fezes, reduzir a quantidade de lixos e descartá-los em locais adequados, não fazer as necessidades fisiológicas no meio am- biente, sempre utilizar banheiro, quanto aos parasitos adquiridos por ingestão, é necessário sempre higienizar as mãos antes de manusear alimentos ou até mesmo antes de se alimentar e também após o uso do toalete. Outro fator importante é a realização de análises parasito- lógicas e inspeção de órgão públicos da área da saúde nesses tipos de ambientes, para verificar as possíveis contaminações e a frequência e os tipos de parasitos presentes e assim adequar os meios de profilaxias pertinentes e conscientização da população. Referências bibliograficas PINTO, L. C, GONÇALVES, M. N. L, VIANA, M. W. C, NAS- CIMENTO, M. P, CANDIDO, A. S, FERREIRA, R. J, et al. Estru- turas parasitárias em alface (Lactuca sativa L.), comercializadas na 63 feira livre do município de Jardim, Ceará. Cadernos de Cultura e Ciência, v. 17, n. 1, p. 1-14, 2018. SOUSA, J. O SANTOS E. O, LIRA, E. M, SÁ, I. C, HIRCSH- MONTEIRO, C. Análise Parasitológica da Areia das Praias Urba- nas de João Pessoa/PB. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 18, n. 3, p.195-202, 2014. PEDROSA, E. F. N. C, CABRAL B. L, ALMEIDA, P. R. S. F, MADEIRA, M. P, CARVALHO, B. D, BASTOS, K. M. S, VALE, J. M, et al. 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Introdução O organismo humano é constituído por um conjunto de sis- temas altamente adaptados, organizado em diferentes níveis, de tal maneira que sua totalidade está sempre desempenhando atividades relacionadas com a manutenção da vida. Para garantir a funcionali- dade deste conjunto de sistemas, são necessários controles rigorosos e regulações extremamente precisas, seja em níveis atômico, molecular, supramolecular e celular. Como unidade funcional dos seres vivos, a célula desempenha continuamente uma miríade de atividades que envolvem processos bioquímicos complexos, como a síntese de ma- cromoléculas, degradação de compostos, reciclagem, transporte, im- portação, exportação e excreção de diversos componentes químicos. Para simplificação, utiliza-se o termo metabolismo para se referir a somatória de todos os processos bioquímicos que ocorrem em um organismo (LEHNINGER, 2006; GUYTON, 2002; De ROBERTIS, 2001; JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1995). Desse modo, o ambiente celular constitui um meio onde a cada instante ocorrem milhares de transformações químicas, onde a presença de certos componentes químicos tem um papel crucial na manutenção das funções metabóli- cas normais (LEHNINGER, 2006; DEVLIN, 2002; STRYER, 1996). 68 Entre os vários componentes bioquímicos de importância metabólica, presentes em uma célula, destacam-se as coenzimas, compostos orgâ- nicos não proteicos (grupo prostético) que auxiliam enzimas na efetu- ação de sua reação catalítica. Dentre as diversas coenzimas de impor- tância metabólica, a coenzima Q10 (CoQ10) tem sido alvo de inúme- ras pesquisas e estudos clínicos nas últimas décadas, o que resultou em um entendimento mais claro a respeito de sua importância bioló- gica, demonstrando que a deficiência ou disfunção da CoQ10 está relacionada com o desencadeamento de diversos processos patológi- cos (CASAGRANDE et al., 2018; QUINZII & HIRANO, 2010; SO- LOMONS, 2005). A CoQ10 é uma molécula que está presente na maioria das células dos organismos, sendo por esta razão também referida como ubiquinona, devido sua ubiquidade (presença em toda parte). Esta molécula pode ser encontrada em vários organismos aeróbios, desde bactérias até mamíferos. No organismo humano está presente em todas as células, onde desempenha um importante papel na respiração celular, participando da cadeia transportadora de elétrons e auxilian- do na produção de adenosina trifosfato (ATP) na mitocôndria. A CoQ10 atua também como um antioxidante que protege as membra- nas celulares contra danos oxidativos, inibe a peroxidação lipídica e participa da reciclagem do α-tocoferol. Em contrapartida, alguns fato- res podem reduzir sua concentração plasmática ou disponibilidade celular, como idade, fatores genéticos, utilização de medicamentos e alguns processos patológicos. Devido sua importância biológica a CoQ10 tem sido utilizada para auxiliar no tratamento de doenças, além disso, dados experimentais sugerem que a suplementação com este composto pode ser um aliado na estabilização e restauração das defesasnaturais do organismo. Desta maneira, tendo como base as informações expostas, o objetivo deste trabalho é abordar alguns dos principais aspectos bioquímicos e clínicos concernente a molécula de CoQ10 (SAINI, 2011; QUINZII & HIRANO, 2010). Metodologia A pesquisa foi realizada a partir de uma revisão sistemática de artigos especializados e livro-textos, com consulta aos indexadores Sciencedirect, Pubmed e Scientific Eletronic Library Online (Scielo). 69 Utilizou-se as palavras chave “coenzima Q10”, “ubiquinona”, “defi- ciência de coenzima Q10”, “doenças mitocondriais”, bem como seus respectivos termos em língua inglesa. Revisão de Literatura Características químicas da CoQ10 A coenzima Q10 (2,3-dimetoxi-5 metil-6-decaprenil- benzoquinona) também referida como Coenzima Q, CoQ, CoQ10, Ubiquinona, Ubiquinona-Q10, Ubidecarenona ou Vitamina Q10, é um derivado da quinona que contém uma longa cauda de unidades isoprênicas que variam em quantidade (figura 1). A forma mais co- mum em mamíferos contém 10 unidades de isopreno, dessa maneira, a coenzima Q predominante nas mitocôndrias humanas é a CoQ10 (com o índice 10 referindo-se ao número de unidades repetitivas). Uma das principais características químicas da CoQ10 é a sua capaci- dade de doar e receber elétrons, ou seja, se reduzir e se oxidar, respec- tivamente. Dependendo do seu conteúdo de elétrons, a CoQ10 adota diferentes níveis de oxidação, sendo a forma oxidada comumente referida como ubiquinona (Q), e a forma totalmente reduzida como ubiquinol (QH2). A conversão de Q em QH2 ocorre através da forma- ção de um intermediário aniônico denominado semiquinona (Q.), (NEERGHEEN et al., 2019; QUINZII & HIRANO, 2010). Importância biológica da CoQ10 Uma das atividades biológicas exercida pela CoQ10, de gran- de relevância metabólica, diz respeito a sua participação na respiração celular, evento que envolve a cadeia na transportadora de elétrons (cadeia respiratória). Esse sistema, localizado na membrana interna da mitocôndria, é constituído por quatro complexos macromolecula- res denominados complexo I (NADH desidrogenase), complexo II (succinato desidrogenase), complexo III (complexo de citocromo bc1) e IV (citocromo c oxidase), e tem como principal função extrair os elétrons de coenzimas reduzidas e transportá-los ao oxigênio molecu- lar. À medida que os elétrons provenientes das coenzimas reduzidas percorrem a cadeia respiratória, gera-se uma força próton-motriz no espaço intermembranoso mitocondrial, que é utilizada para impulsio- 70 nar a síntese de ATP por ação da ATP sintase. As coenzimas reduzi- das que participam desse processo são o NADH (nicotinamida adeni- na dinucleotídeo) e FADH2 (flavina adenina dinucleotídeo) que são gerados no metabolismo carboidratos, ácidos graxos e aminoácidos (KLEINER et al., 2018; QUINZII & HIRANO, 2010). Como cada NADH e FADH2 apresentam um par de elétrons passível de ser doado, considera-se que são moléculas ricas em ener- gia, sendo por isso utilizadas célula. Como citado anteriormente, o movimento desses elétrons na membrana interna da mitocôndria gera uma grande quantidade de energia, que pode ser utilizada para gerar ATP em um processo denominado fosforilação oxidativa. Esse pro- cesso é a principal fonte de ATP para organismos aeróbios, desta maneira, o termo fosforilação oxidativa refere-se a síntese de ATP a partir da oxidação de coenzimas reduzidas (NADH e FADH2), sendo esses elétrons recebidos pelo O2 no final da cadeia. A função de CoQ10 na cadeia respiratória é o de receber elétrons incorporados pelo complexo I e complexo II, e posteriormente, passá-los para o complexo III. Ao receber pares de elétrons do complexo I e II a coen- zima passa para sua forma reduzida ubiquinol (QH2 ), e posteriormen- te, ao transferir os mesmos elétrons para o complexo III, retorna a sua forma oxidada, ubiquinona (Q). Desta maneira, como a CoQ10 está diretamente envolvido na cadeia respiratória, sua disponibilidade pode ser considerada um fator limitante para a eficácia do processo de fosforilação oxidativa. Em consequência disso, a concentração desta coenzima é maior nos órgãos que possuem maior demanda energéti- ca, como o cérebro, coração, fígado e rins (QUINZII & HIRANO, 2010; MOLLET et al.; 2008). 71 Figura 1: Estrutura química da coenzima Q10. Fonte: Casagrande, 2018. Formas de obtenção da CoQ10 No organismo humano, a obtenção de CoQ10 se faz de duas maneiras, por via exógena e através da síntese endógena. Na via exó- gena, a CoQ10 é obtida através da alimentação, sendo encontrada em pequenas quantidades em diferentes alimentos, como brócolis, amen- doim, frutas oleaginosas, nozes, amêndoas, carnes, entre outros. É encontrada nos alimentos principalmente sob forma oxidada (Q), sendo transformada em QH2 quando alcança o compartimento vascu- lar (QUINZII & HIRANO, 2010; LI et al., 2010). Os níveis plasmáti- cos de CoQ10 aumentam de 1 a 2 horas após sua ingestão, e alcan- çam picos máximos decorridas 6 a 8 horas. No entanto, devido sua baixa solubilidade em água e elevada massa molecular, apenas 10% da CoQ10 ingerida através da alimentação é absorvida pela mucosa gastrointestinal. Cerca de 95% da CoQ10 que circula no plasma está na forma de QH2. Devido sua insolubilidade em água, a CoQ10 é transportada no plasma via quilomícrons, sendo captada pelo fígado e posteriormente incorporado as frações de LDL (Lipoproteínas de baixa densidade, do inglês; Low Density Lipoproteins) e HDL (Lipo- proteínas de alta densidade, do inglês; High Density Lipoproteins). A partir destas lipoproteínas plasmáticas, a CoQ10 é distribuída para vários tecidos, como miocárdio, rins, pulmões e glândulas suprarre- nais. Na obtenção por via endógena, o próprio organismo produz o composto através da via do mevalonato, tendo acetil-Coenzima A como substrato inicial, e colesterol, dolicol, e a CoQ10 como produto final. Nesta via, a cadeia lateral de isoprenóides da CoQ10 é sinteti- zada pela enzima preniltransferase, seguida posteriormente pela con- 72 densação desta cadeia com o 4-hidroxibenzoato (QUINZII & HIRA- NO, 2010; BALERCIA et al., 2009; LITTARRU et al., 2007). Com exceção dos eritrócitos, todas as células do organismo humano são capazes de sintetizar CoQ10, além disso, o organismo também dispõe desse composto a partir de fontes alimentares, com uma ingesta de aproximadamente 5 mg por dia. A CoQ10 presente no alimento é liberada pelo processo de digestão, sendo necessárias as secreções do suco pancreático e da bile para sua solubilização e absor- ção a partir do intestino delgado. Após sua absorção, a CoQ10 é re- duzida para ubiquinol (QH2), sendo posteriormente incorporado nos quilomícrons e levada a circulação via sistema linfático. Uma vez que presente na circulação, os remanescentes de quilomícrons são capta- dos pelo fígado e o ubiquinol incorporado em lipoproteínas plasmáti- cas, principalmente LDL, e lançada novamente na circulação. Teci- dos com uma grande demanda energética, como coração e outros músculos, fígado e rins, são os que possuem maiores concentrações de CoQ10. Estima-se que aproximadamente 95% da CoQ10 do plasma sanguíneo esteja presente na forma de ubiquinol. Nos tecidos, esse percentual oscila entre valores de 61% a 95%. O cérebro e os pulmões são exceções, com apenas 25% do total de CoQ10 na forma de ubi- quinol, o que pode ser devido ao maior grau de estresse oxidativo desses tecidos (MARAVER et al., 2014; QUINZII & HIRANO, 2010). Aspectos clínicos da deficiência de CoQ10 Além da sua atuação como transportador de elétrons na ca- deira respiratória, a CoQ10 age também como um importante antio- xidante, protegendo as membranas celulares e as lipoproteínas plas- máticas contra a oxidação induzida por radicais livres. A função anti- oxidanteda CoQ10 é atribuída à sua forma ubiquinol (LITTARRU et al., 2007). Outras funções citadas na literatura dizem respeito a estabili- zação da membrana celular e modulação da expressão gênica. Devido sua importância biológica, uma deficiência de CoQ10 pode substanci- almente contribuir para o desencadeamento de doenças, uma vez que a ausência deste composto pode interferir no metabolismo energético mitocondrial, comprometendo a capacidade antioxidante celular, afetando a estabilidade da membrana e modificando o perfil de ex- 73 pressão gênica (MANCUSO et al., 2010). A deficiência em CoQ10 pode estar associado a um defeito genético na via biossintética (deficiência primária) ou como resultado de uma mutação em um gene não diretamente envolvido na biossíntese de CoQ10, referida como deficiência secundária. Até o momento já foram identifica- dos mutações em 9 genes envolvidos na via de biossíntese de CoQ10 Historicamente, entre os primeiros relatos de deficiência de CoQ10 está o caso de duas irmãs que apresentavam quadros de rab- domólise recorrente, convulsões e retardo mental, onde, através de uma avaliação dos teores de CoQ10 muscular foi possível evidenciar um nível anormalmente baixo, sugerindo um defeito primário na via de biossíntese. Embora a deficiência de CoQ10 se apresente com as- pectos clínicos variadas, as manifestações clínicas mais comuns nesses pacientes são a encefalomiopatia, doença multissitêmica infantil gra- ve, nefropatia, ataxia cerebelar e miopatia (QUINZII & HIRANO, 2010; MANCUSO et al., 2010; OGASAHARA et al., 1989). A incidência de deficiências secundárias de CoQ10, isto é, com mutações em genes não vinculados a via de biossíntese do com- posto, é aparentemente mais comum do que as deficiências primárias, que afetam diretamente a cadeia transportadora de elétrons. De fato, a deficiência de CoQ10 já foi evidenciada em vários pacientes com distúrbios envolvendo a cadeira transportadora de elétrons, devido a mutações no DNA mitocondrial. Caracteristicamente, estes pacientes apresentam baixos níveis séricos de CoQ10 bem como uma diminui- ção de seus teores no tecido muscular. A causa da deficiência secun- dária da coenzima nos distúrbios envolvendo a cadeia transportadora de elétrons podem ser devido a um aumento na degradação de molé- culas de CoQ10 ou por uma consequência do acúmulo de danos mi- tocondriais (QUINZII & HIRANO, 2010; MAANCUSO, 2009). Muitas vezes a diminuição dos níveis séricos de CoQ10 em pacientes podem refletir uma utilização de oxigênio aumentada pelos tecidos, com defeitos na cadeira respiratória ou comprometimento hepático, uma vez que este é o principal loca de síntese da CoQ10 circulante (KLEINER et al., 2018; QUINZII & HIRANO, 2010). Acredita-se que exista um complexo enzimático de biossíntese desta coenzima, intimamente associada a cadeia respiratória, na membrana interna da mitocôndria, dessa maneira, supõem-se que um defeito ou anormali- 74 dade na cadeira respiratória poderia interferir na atuação do complexo de superenzimas, prejudicando a síntese de CoQ10. Nos casos de deficiência primária ou secundária de CoQ10 a obtenção a partir da dieta pode ser insuficiente para suprir necessidades metabólicas, uma vez que apenas uma pequena fração desse composto é absorvida no intestino, dessa maneira, a suplementação é uma opção a ser conside- rada (QUINZII & HIRANO, 2010). Encefalomiopatia Em 1989 foram relatados os primeiros pacientes com defici- ência de Co10. Ogasahara e colegas relataram o caso de dois pacien- tes do sexo feminino, irmãs, com 12 e 14 anos de idade (paciente A e B, respectivamente) que demonstravam fadiga anormal ao esforço físico e fraqueza muscular desde os 3 anos de idade. Após a idade de 5 anos, foram observadas dificuldades de aprendizagem nas duas irmãs, e aos 7, a irmã mais velha (paciente B) apresentou quadros de convul- são generalizado, tratado farmacologicamente com valproato de só- dio. A paciente B desenvolveu mioglobinúria após instalação de uma infecção respiratória, e a paciente A teve episódios de mioglobinúria após uma série de crises convulsivas. De maneira geral, estes pacien- tes demonstravam comprometimento neurológico (convulsão e retar- do mental), miopatia mitocondrial, elevação sérica de creatina fosfo- quinase (CPK) e mioglobinúria recorrente, além de acidose lática. Estes sintomas foram relacionados à um comprometimento na ativi- dade de alguns complexos da cadeira transportadora de elétrons asso- ciada a uma intensa redução dos teores de CoQ10 no tecido muscular (OGASARA et al., 1989). A partir deste relato vários outros casos foram descritos, nos quais os pacientes se apresentavam com a mesma tríade clínica: mio- patia mitocondrial, mioglobinúria recorrente e encefalopatia. Em um destes pacientes, foi detectado mutações no gene ADCK3 que codifica uma proteína quinase envolvida na via de biossíntese de CoQ10 (KLEINER et al., 2018; QUINZII & HIRANO, 2010; OGASAHA- RA et al., 1989). Ataxia cerebelar e atrofia na infância 75 O fenótico mais comum associado à deficiência de CoQ10 é caracterizado por ataxia e atrofia cerebelar que se manifestam ainda na infância, e que podem, variavelmente, se relacionar com outras sinais como retardo mental, neuropatia, convulsões, hipogonadismo e fraqueza muscular (QUINZII & HIRANO, 2010). Biopsias demons- traram que estes pacientes possuem deficiência de CoQ10 no tecido muscular e também na maioria dos fibroblastos e linfoblastos analisa- dos. Alguns destes pacientes com ataxia cerebelar de início juvenil tem deficiência primária de CoQ10 devido mutações no gene ADCK3. Também se verificou a deficiência secundária da quinona relacionada com uma mutação no gene APTX, que codifica aprataxi- na, uma proteína envolvida no reparo de DNA. Nestes pacientes, a deficiência de CoQ10 não influenciou na gravidade ou progressão da doença, sugerindo que talvez a deficiência da quinona não seja o úni- co desencadeador dos distúrbios neurológicos. No entanto, a suple- mentação com CoQ10 atenuou consideravelmente os sintomas de alguns destes pacientes (MARAVER et al., 2014; QUINZII & HI- RANO, 2010). A atrofia multissistêmica também é relatada em alguns indi- víduos com distúrbios envolvendo a ubiquinona. A maior parte dos pacientes com a forma infantil da encefalopatia multissistêmica apre- sentaram deficiência primária de CoQ10 geneticamente confirmada. O distúrbio de início infantil foi descrito em irmãos que apresentaram, logo após o nascimento, vários sintomas neurológicos, incluindo nis- tagmo, atrofia óptica, perda auditiva neurossensorial, ataxia, distonia, fraqueza e nefropatia rapidamente progressiva. Outro caso relatado na literatura cita um paciente que teve nistagmo aos 2 meses de idade, sendo hospitalizado meses depois devido a uma síndrome nefrótica, com hipotonia e atraso psicomotor. O paciente apresentou melhora com suplementação de CoQ10 (MANCUSO et al., 2010; QUINZII & HIRANO, 2010). Glomerulopatia Existem relatos na literatura, de pacientes com glomerulopa- tia de início precoce, devido a mutações no gene COQ2. Um desses pacientes descritos apresentou síndrome nefrótica resistente a corti- coides aos 18 meses de idade. Um segundo paciente apresentou oligú- 76 ria aos 5 dias de vida, que culminou rapidamente para doença renal causando sua morte aos 6 meses de idade, após um curso complicado de encefalopatia epiléptica progressiva. Foi evidenciado nestes pacien- tes que a atividade combinada do complexo II e III e o nível de CoQ10 estavam diminuídos no córtex renal e no músculo esquelético (KLEINER et al., 2018; QUINZII & HIRANO, 2010). Miopatia Em trabalhos que avaliavam as características patológicas de indivíduos com miopatia foi descrita uma miopatia de armazenamen- to lipídico associada a disfunção nacadeira respiratória e mutações no gene ETFDH, que codifica a flavoproteína transferidora de elétrons. Os elétrons derivados da oxidação dos ácidos graxos são transferidos para a ubiquinona através da flavoproteína transferidora de elétrons. Em um grupo analisado, os pacientes apresentaram intolerância ao exercício, fadiga, miopatia proximal e níveis séricos elevados de crea- nina fosfoquinase (CPK). O exame histopatológico de tecido muscu- lar desses pacientes mostraram armazenamento lipídico e algumas características sugestivas de miopatia mitocondrial (QUINZII & HI- RANO, 2010; MANCUSO et al., 2010). Doenças mitocondriais Diferentes mutações na NADH desidrogenase (complexo I) causam à neuropatia óptica hereditária de Leber, uma forma de ce- gueira com herança materna que normalmente se manifesta na meia idade. Algumas dessas mutações prejudicam diretamente a utilização de NADH, enquanto outras causam bloqueio na transferência de elétrons para a Q (ubiquinona). Essa neuropatia é uma das várias doenças mitocondriais que estão sendo descobertas. Órgãos que são altamente dependentes da fosforilação oxidativa, como o sistema nervoso e o coração, são mais vulneráveis para doenças que afetam as mitocôndrias. Sabe-se que o acúmulo de mutações mitocondriais durante várias décadas pode contribuir para distúrbios do envelheci- mento e processos degenerativos (NEERGHEEN et al., 2019; BERG, et al., 2014). Diagnóstico laboratorial da deficiência de CoQ10 77 A determinação dos níveis de CoQ10 pode ser utilizado para diagnóstico ou monitoração de pacientes. O monitoramento clínico pode ser realizado através de sua determinação plasmática, com inter- valos de referência geralmente situados entre 0,5 a 1,7 μg/ml para indivíduos adultos. Ressalta-se que esses valores podem variar con- forme os parâmetros estabelecidos por diferentes laboratórios. Em alguns estudos experimentais, questionou-se que os teores plasmáticos de CoQ10 não reflitam o estado real das células do organismo como um todo, dessa maneira, a quantificação direta dos níveis de CoQ10 no músculo é o teste mais confiável e considerado padrão ouro para diagnóstico de deficiência. Nos seres humanos, a concentração de CoQ10 atinge seu pico máximo aos 20 anos de idade, vindo diminuir de 30 a 60% com envelhecimento (NEERGHEEN et al., 2019; CA- SAGRANDE et al., 2018; QUINZII & HIRANO, 2010). Considerações finais Vários dados clínicos e experimentais demonstram que a de- ficiência ou distúrbios do metabolismo da coenzima Q10 estão relaci- onados a uma série de alterações bioquímicas, que estão diretas ou indiretamente vinculadas com o desencadeamento de várias doenças. Em alguns casos, a suplementação com coenzima Q10 se mostrou eficaz na atenuação dos sintomas ou para o tratamento efetivo dessas condições. No entanto, fatores como o perfil genético do paciente, a dosagem utilizada e a duração da terapia com CoQ10 podem influen- ciar na eficácia deste tratamento. Estudos adicionais sobre os meca- nismos envolvidos na deficiência de CoQ10 poderam contribuir para a elaboração de novas estratégias terapeuticas. 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Diante do atual perfil de sobrepe- sos e obesos da população mundial, a utilização de edulcorantes se torna cada vez mais presente, para aqueles que necessitam reduzir o consumo calórico para perda de massa corporal ou controle de doen- ças como diabetes mellitus e dislipidemias (TORRES, 2014). Dentre os diversos edulcorantes disponíveis no mercado, está o aspartame, um dipeptídeo metilado formado pela combinação dos aminoácidos ácido aspártico e fenilalanina (RODRIGUES et al., 2012). Foi descoberto em 1965 pelo americano James Schlatter en- quanto pesquisava um possível tratamento farmacológico para o tra- tamento de úlceras gástricas. Ao misturar aminoácidos, Schlatter derramou o complexo sob um caderno e quando umedeceu os dedos para folhear as páginas, sentiu o intenso sabor doce. O composto des- coberto foi nomeado N-L-aspartil-L-fenilalanina-1-metil éster devido sua estrutura química, mas ficou conhecido como aspartame (TEI- XEIRA, 2017). 82 O aspartame foi liberado para consumo em 1981 pela Food and Drug Administration (FDA), órgão responsável pelo controle de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos. Em 1983, foi aprova- do para uso em bebidas, e em 1996 liberado para ser utilizado em diversos produtos alimentícios (CORREA, 2014). No Brasil, durante quinze anos (1973 a 1988), a legislação vi- gente, restringiu o uso de adoçantes artificiais e outros produtos dieté- ticos a venda em farmácias, sob prescrição médica. A classificação e padronização da produção e comércio de bebidas no território nacio- nal, a partir da Resolução CNS/MS nº 04, de 24 de novembro de 1988, ampliou a utilização do aspartame em diversos alimentos e bebidas pela população geral (VASCONCELOS, 2016). Entretanto, desde a sua aprovação, o aspartame tem sido alvo de inúmeros questionamentos com relação a toxidade de seus produ- tos de degradação metabólica. Estudos associam a ingestão do edul- corante a efeitos colaterais neuropsíquicos, como dores de cabeça, acidente vascular cerebral, alterações comportamentais e problemas cognitivos (SOUZA et. al., 2010). O consumo do edulcorante também já foi relacionado com o desenvolvimento de tumores em diversos órgãos, síndrome metabólica, hipoglicemia e estresse oxidativo em órgãos como cérebro, fígado, rins e pele (SILVA et. al., 2016; MOU- RAD, 2011). Sua inserção no mercado foi demorada devido aos resultados de pesquisas realizadas com animais sugerindo toxicidade, causando disfunções cerebrais e neuroendócrinas quando administrado em do- ses elevados e por um longo período de tempo. O público é constan- temente instigado pelos meios de comunicação a substituir a sacarose por adoçantes artificiais, visando a adoção de um estilo de vida mais saudável (NATIVIDADE et. al., 2011), pois a ideia de uma dieta saudável, frequentemente remete a adoção de práticas restritivas, como o consumo de produtos diet e light ou suplementos e complexos nutricionais, e raramente questiona-se a qualidade ou eficácia desses produtos para emagrecer e prevenir doenças. Além disso, a mídia e muitos especialistas ignoram os efeitos toxicológicos do aspartame e seus impactos a saúde humana (AZEVEDO, 2012). O estudo dos adoçantes utilizados na composição de alimen- tos e medicamentos é de fundamental importância, uma vez que seu 83 consumo é crescente, e há carência de informações sobre o perfil e características bioquímicas de tais substâncias em diferentes concen- trações (VILLEGAS & FLORES, 2014). Perante o exposto, o presente trabalho teve como objetivo re- alizar um estudo bibliográfico a respeito das características bioquími- cas e toxicológicas do aspartame recentemente descritas e evidencia- das na literatura científica, avaliar os possíveis impactos ao organismo humano e analisar os resultados de testes toxicológicos disponíveis na literatura atual. Metodologia Consiste em um estudo bibliográfico de caráter sistemático e integrativo com consulta aos indexadores Sciencedirect, SCIELO (do inglês; Scientific Electronic Library Online), e repositórios de teses e dissertações de universidades, utilizando os descritores: histórico do aspartame, bioquímica do aspartame, toxicologia do aspartame, me- tabolismo do aspartame, e os termos correspondentes em inglês, as- partame history, aspartame toxicology, aspartame metabolism. A busca ocorreu no período de agosto a outubro de 2019. Na ocasião foram pré-selecionados 85 artigos científicos, destes, 67 foram utilizados para compor a pesquisa. Como critério de inclu- são, foram selecionados artigos, dissertações e teses, em português, espanhol e inglês, publicadas no período de 2010 a 2019. A triagem inicial foi feita através da análise dos títulos e dos resumos para classi- ficar os estudos de maior compatibilidade com o tema que se desejava abordar, dando prioridade aos trabalhos publicados nos últimos cinco anos. Após a seleção foi realizada uma leitura crítica para determi- nar quais seriam relevantes na construção desta revisão. Foram exclu- ídos os artigos que não contemplam a finalidade do tema e os critérios determinados. Revisão de Literatura Edulcorantes Edulcorantes, também denominados adoçantes, constituem um grupo de substâncias orgânicas utilizadas na substituição da saca- rose por conferirem sabor doce aos alimentos, resultando na ausência 84 ou diminuição do conteúdo calórico para valores mínimos. Os ado- çantes comerciais são regulamentados pela Portaria 29, de 13 de janei- ro de 1998, da Secretaria de Vigilância Sanitária, e são indicados para pessoas portadoras de alguma intolerância à ingestão de dissacarídeos ou que não conseguem metabolizar corretamente carboidratos (BEL- LINI & ALVES, 2018). Os edulcorantes são classificados em dois grupos: edulcoran- tes nutritivos que conferem valor calórico aos alimentos, e os não nutritivos que fornecem pouca ou nenhuma caloria e são obtidos atra- vés de reações químicas a partir de produtos naturais ou não. Entre os edulcorantes não nutritivos estão a sacarina, ciclamato, acesulfame K, sucralose esteviosídeos e aspartame (PUJADES - JUNIOR, 2015). Os edulcorantes não-nutritivos oferecem muitas vantagens a indústria alimentar, como durabilidade, boa aparência e textura aos produtos. São largamente utilizados em refrigerantes, pastilhas, gela- tinas, compotas, gomas, iogurtes e sobremesas. Sua aplicação, porém, não se limita aos fabricantes de alimentos e bebidas, uma vez que são frequentemente utilizados pela indústria farmacêutica para o aumento da palatabilidade de certos fármacos, e pelo público geral, que busca adoção de hábitos alimentares mais saudáveis, a partir da redução da ingesta de calorias (MATEUS, 2014). Outra vantagem do consumo de edulcorantes não nutritivos é a possibilidade de reduzir a incidência de cáries, visto que, não são fonte de nutrientes para os microrganis- mos presentes na boca. Há, entretanto, desvantagem palatável, pois alguns tendem a ter sabores residuais indesejáveis (SANTOS, 2018). Os limites máximos para a aplicação de edulcorantes nos alimentos devem atender a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 18, de 24 de março de 2008. Segundo a respectiva RDC, os edulco- rantes permitidos para uso no Brasil são: manitol, isomaltiol, maltitol, esteviosídeos, lactitol, xilitol e eritritol, classificados como naturais, e acessulfame de potássio (acessulfame K), ciclamato de sódio, sacari- na, sucralose, taumatina, neotame e aspartame, classificados como artificiais(OLIVEIRA et. al., 2019). A procura por adoçantes naturais vem aumentando em todo o mundo, devido as repercussões negativas dos edulcorantes artificiais a saúde humana, relatada em muitos estudos (HONORATTO & NASCIMENTO, 2011). 85 86 Propriedades Químicas e Físicas do Aspartame e Legislação Vigente O aspartame, conhecido comercialmente como N-L-aspartil- L-fenilalanina-1-metil éster, cuja estrutura química é representada na figura 1, é composto por dois aminoácidos, a fenilalanina e o ácido aspártico, ligados a um éster de metila (derivado do metanol). É ca- racterizado como um pó esbranquiçado e inodoro. Seu peso molecu- lar é de 294.31 g/mol e sua forma molecular C14H18N2O5 (CASSOL et. al., 2014). Figura 1: Estrutura química do Aspartame (N-L-aspartil-L-fenilalanina-1-metil éster). Fonte: Adaptado de Villegas e Flores, 2014. Por se tratar de uma substância sintética, existe uma preocu- pação, por parte dos órgãos competentes, com seus impactos à saúde populacional. Organizações como a FDA estabeleceram o valor da IDA (ingestão diária aceitável) do aspartame em 50mg/kg de peso corporal/dia. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e The Joint Expert Committee on Food Additi- ves (JECFA) estabeleceram o valor limite para a IDA de 40mg/kg por peso corporal/dia (VASCONCELOS, 2016). O aspartame é usado legalmente nas indústrias brasileiras, sob a portaria SVS\MS nº 540, de 27 de outubro de 1997. A indústria alimentícia favorece um efeito sinérgico para a ingestão de pequenas quantidades, em especial em alimentos frios, secos e não ácidos, que não necessitam de refrigeração e armazenamento prolongado (TA- VARES, 2013). 87 O ácido aspártico é utilizado em diversos produtos lácteos como leites com baixo teor de lipídeos, iogurtes light e em frutas enla- tadas, barras de cereais, entre outros. A fenilalanina, é encontrada em alimentos proteicos como ovos, leite, nozes e carne bovina. E o meta- nol, é empregado em áreas industriais, na fabricação de pesticidas, tintas, corantes e com algumas restrições é empregado em refrigeran- tes e bebidas fermentadas (TEIXEIRA, 2017). A Resolução - RDC nº 24, 15 de fevereiro de 2005, estabelece o uso do aspartame no limite de 0,6 g/100g para suplementos vitamí- nicos e minerais. O edulcorante também tem seu uso autorizado para realce de sabor em gomas de mascar, limite de 0,25 g/100 g, Resolu- ção nº 387/1999 e Resolução - RDC nº 1/2001; cremes vegetais e margarinas, limite de 0,075 g/ 100g, Resolução - RDC nº 23/2005; e bebidas à base de soja prontas para o consumo, limite de 0,03 g/100 g, Resolução - RDC nº 25/2005 (FREITAS & ARAÚJO, 2010). De acordo com legislação europeia e nacional, diretiva 94/35, e decreto de lei 394/98, dispõe-se que os edulcorantes não devem ser utilizados em alimentos destinados a crianças e lactantes, devido a presença de substâncias tóxicas que venham a interferir na formação de órgãos e absorção de nutrientes (TEIXEIRA & GON- ÇALVES, 2011). O descumprimento destas resoluções acarreta infrações sani- tárias sujeito a penalidades, e visa o regulamento técnico quanto ao uso de aditivos alimentares, para minimização de riscos à saúde hu- mana. Sendo assim, as indústrias buscam apresentar técnicas que garantam a conservação e rótulos que identifiquem a presença de substâncias, como o aspartame. Todavia, por conter substâncias quí- micas em sua composição, é necessário garantir a segurança, rotulan- do a quantidade correta a se consumir, em vista de desencadear rea- ções adversas (AUN et. al., 2017). O FDA exige que alimentos que contenham aspartame exi- bam no rótulo a seguinte informação: “Contém fenilalanina”, pois um pequeno grupo de indivíduos é portador da doença fenilcetonúria, causada por um erro genético no metabolismo, devido à ausência ou deficiência da enzima fenilalanina hidroxilase, que converte fenilala- nina em tirosina. O excesso de fenilalanina não metabolizado é con- vertido em ácido fenilpirúvico que inibe as vias metabólicas responsá- 88 veis pela produção de lipídios importantes na constituição da bainha de mielina, o que compromete gravemente o desenvolvimento neuro- lógico do indivíduo (VALADARES & GONÇALVES, 2010). Metabolismo do Aspartame A estrutura bioquímica do aspartame, que consiste em um di- peptídeo modificado possibilita sua hidrólise enzimática em sistemas biológicos, além de outras reações químicas de degradação microbia- na (PORTO, 2010). Quando absorvido, é completamente hidrolisado no intestino delgado por ação de esterases e peptidases, formando como produto o dipeptídeo aspartilfenilalanina e metanol. O dipeptí- deo é então metabolizado (figura 2) nas células da mucosa, resultando nos aminoácidos ácido aspártico e fenilalanina (LIMA et. al., 2016; SILVA, 2016). Figura 2: Representação da molécula de aspartame e seus produtos de metabolização. Fonte: Adaptado de Finamor, 2015. A fenilalanina pertence ao grupo dos aminoácidos essenciais, sendo parte integral de grande parte das proteínas do corpo. O ácido 89 aspártico, um aminoácido não essencial, é um dos vinte aminoácidos com os quais as células formam proteínas, sendo também importante na síntese de ácido desoxirribonucleico (DNA) e como neurotrans- missor. O metanol pode ser encontrado em pequenas quantidades no corpo, e na composição de um grande número de alimentos (VILLE- GAS & FLORES, 2014). Para cada molécula de aspartame, uma molécula de cada constituinte é produzida. Após a absorção, a fenilalanina é convertida principalmente em tirosina, o ácido aspártico em alanina, e o metanol em formaldeído, e então, em ácido fórmico (FREITAS & ARAÚJO, 2010). A metabolização destes compostos quando adquiridos na in- gestão do edulcorante, não difere da adquirida individualmente em alimentos como leite, carne e frutas. Sua contribuição para ingestão diária total é reduzida, fornecem 4kcal.g, dessa forma geram caloria, mas devido à intensa doçura, pequenas quantidades são adicionadas aos alimentos e a energia derivada é considerada irrelevante (PORTO, 2010). Toxidade do Aspartame Estresse Oxidativo Embora a utilização do aspartame em diversos alimentos e bebidas tenha sido aprovada, inúmeros relatos alertam sobre a toxida- de de seus produtos de degradação. Estudos sugerem que a fenilalani- na, o ácido aspártico e o metanol causem perturbação no equilíbrio redox do organismo, provocando um estado de estresse oxidativo o qual está vinculado a diferentes danos em órgãos e tecidos, sendo o metanol apontado como o mais tóxico entre os produtos de degrada- ção do aspartame (ALMEIDA, 2017). O metanol é metabolizado por diferentes vias, principalmente pelas vias enzimáticas da álcool desidrogenase, catalase e enzimas microssomais oxidativas. Uma vez que formado, o metanol circula pela corrente sanguínea por até 24 horas, sendo apontado como o responsável pelo estresse oxidativo relacionado a ingestão de aspar- tame (CELI, 2010; OLIVEIRA & SCHOFFEN,2010). O formaldeí- do, gerado a partir do metanol por ação da álcool desidrogenase, pode 90 induzir um incremento na produção de espécies reativas de oxigênio induzindo a morte celular (BRENER, 2017). O formaldeído é posteriormente convertido em ácido fórmi- co, com formação simultânea de ânion superóxido e peróxido de hidrogênio, espécies oxidativas que podem causar lesão celular. Desta forma, a presença de metanol causa um aumento da proliferação mi- crossomal associada a danos mitocondriais, resultando no aumento de espécies químicas reativas (ASHOK, 2015; SANTOS, 2016). Além de serem responsáveis pela respiração celular as mitocôndrias também são as principais geradoras de radicais livres em humanos, uma vez que utilizam grande quantidade de oxigênio no processode respiração celular. Estudos demonstram que o envelhecimento e destruição celu- lar estão relacionados com a redução da integridade funcional das mitocôndrias (SILVA & FERRARI, 2011). O estresse oxidativo ocorre quando a formação de espécies reativas de oxigênio excede a capacidade de defesa oxidante e de re- paro do organismo, tendo como consequência o aumento de danos em biomoléculas como DNA, lipídios, proteínas, entre outras. Quando esses danos não são reparados prejudicam a funcionalidade da célula tendo como efeito morte por apoptose ou necrose (BARBO- SA et. al., 2010). Todos os tecidos humanos sofrem lesões oxidativas, porém, o sistema nervoso central é especialmente sensível. O estresse oxidativo tem sido considerado um importante fator na patogênese de diversas doenças, inclusive as neurodegenerativas (CHOUDHARY & PRE- TORIUS, 2017). O aumento do nível de metanol pode provocar mu- danças nos níveis de neurotransmissores, como as catecolaminas do- pamina, norepinefrina e epinefrina (ALMEIDA, 2017). Estudo realizado por Ashok (2015) em modelos experimen- tais, demonstraram que o metanol possui efeito danoso no cérebro, caracterizado pela alteração na atividade locomotora e no nível de ansiedade após administração crônica de aspartame em ratos. Desta forma, a utilização de aspartame a longo prazo pode estar associada com o aumento da suscetibilidade a doenças psicossomáticas. Além disso, a exposição ao edulcorante nos modelos experimentais causou maior produção de radicais livres e maior dano oxidativo nas proteí- 91 nas do tecido nervoso, que desempenham papel significativo na morte neural por apoptose (MOURAD, 2011; NATIVIDADE, 2011). Após experimentos realizados com ratos albinos wistar sob ingestão diária de 40mg/kg de aspartame durante 90 dias, foi obser- vado o aumento do nível de corticosterona e aumento da peroxidação lipídica, que induziu níveis de estresse químico e geração de radicais livres no soro, resultando na variação do nível de citocinas e alterando a função imunológica. O metanol, é o metabólito responsável por acarretar tais alterações (CHOUDHARY & SHEELA, 2015). Horio et. al. (2014), investigaram os efeitos do aspartame na apoptose, através de um sistema celular PC12 (feocromocitoma de ratos), e observaram ação indutora, com aumento da expressão de caspases 8 e 9 e citocromo c. Conforme os autores, a liberação do citocromo c das mitocôndrias para o citoplasma, induz a expressão da caspase 9, esse aumento desencadeou a apoptose, constatando que o aspartame pode causar múltiplos efeitos nas células. Abdel-Salam et. al. (2012) relataram que a administração iso- lada de aspartame na presença de reação inflamatória sistêmica leve, aumenta o estresse oxidativo e a inflamação no cérebro. No estudo do efeito do estresse oxidativo do aspartame e do metanol em cultura de fibroblastos humanos, foi observado que o edulcorante, nas concentrações de 1,58 a 12,64 µg/mL, e o metanol, na concentração de 16%, causaram uma diminuição de aproximada- mente 30% na viabilidade celular de fibroblastos humanos. As células tratadas por 48 h com 1% de metanol ou aspartame na concentração de 0,79 µg/mL apresentaram uma tendência de diminuição na ativi- dade da catalase e de aumento nos produtos da peroxidação lipídica (ALMEIDA, 2017). No estudo de Finamor 2015, a administração de 40mg/kg de aspartame em ratos durante 45 dias induziu estresse oxidativo no cérebro inteiro e nos tecidos hepático e renal. Abhilash et. al, 2011, observaram em seu trabalho que a intoxicação por metanol pode cau- sar lesões hepatocelulares e alterações no equilíbrio redox do fígado. Em estudos realizados com camundongos após a ingestão de aspartame, foi observado o desenvolvimento de disfunções mitocon- driais, como diminuição da respiração e diminuição da piruvato desi- drogenase, a partir dos 3 meses de idade. Assim como o estresse oxi- 92 dativo, resultando no aumento da produção de peróxido de hidrogê- nio e peroxidação lipídica (BARBOSA, 2010). Segundo Saurders et.al, 2010 após a oxidação do metanol em ácido fórmico e alta concentração deste no organismo, o equivalente de 200 a 500mg/kg é ocasionada acidose metabólica e lesões oculares. Ibrahim et. al. (2015) apontaram o consumo de aspartame na dose de 50,4 mg/kg de peso corporal como causa de estresse oxidati- vo e apoptose no rim, por formação de radicais livres. No estudo de Mourad (2011), ratos albinos machos foram submetidos a ingestão diária de 40 mg/kg de massa corpórea durante 2, 4 e 6 semanas. Foi observado o efeito do estresse oxidativo no fíga- do e nos rins dos roedor e sugerido que o metanol tenha aumentado a formação de malondialdeído, o que é acompanhado de uma diminui- ção da glutationa reduzida do sistema antioxidante. Em ensaio com ratos, o tratamento com aspartame foi apon- tado como responsável pelo estresse oxidativo em órgãos como baço, timo, linfonodos, ossos e medula óssea. A produção de radicais livres nesses órgãos poderia contribuir para a baixa imunidade propiciando o surgimento de infecções (ZAFAR, 2017). Em casos de fibromialgia, o consumo de aspartame deve ser evitado, devido aos efeitos tóxicos que são desencadeados por alguns receptores, como a NMDA (N-metil D-aspartato) causando um au- mento do estresse oxidativo (FREITAS, 2017). Santos 2016, mostra que o tratamento com aspartame na dose de 40mg/kg/dia durante 30 dias induziu ganho de peso corporal, promoveu diminuição na elasticidade da pele, diminuição de coláge- no e alteração no sistema antioxidante da pele. Alterações no Sistema Nervoso Central Evidências sugerem possíveis efeitos colaterais neurológicos e comportamentais causados pelos componentes metabólicos do aspar- tame (SILVA, 2016). A fenilalanina é metabolizada pela enzima fenilalanina hi- droxilase em tirosina, um aminoácido precursor para diversas subs- tâncias como pigmentos, hormônios e neurotransmissores (VALA- DARES & GONÇALVES, 2010). Quando a hidroxilação para tirosi- 93 na está impedida, a fenilalanina se acumula podendo ser transamina- da com o piruvato gerando o metabólito fenilpiruvato que consiste em uma fenilcetona. Além disso, ocorre a diminuição da tirosina (NA- LIN, 2011). Uma vez que a tirosina é precursora da família das catecola- minas, incluindo a dopamina, epinefrina e norepinefrina, sugere-se que sintomas como dores de cabeça, tonturas e insônia, estejam asso- ciados aos efeitos da fenilalanina sobre funções cerebrais (FINA- MOR, 2015). A capacidade de aprendizagem e o funcionamento emocional também são comprometidos, incluindo comportamento impulsivo, falta de paciência, diminuição da atividade locomotora, coordenação neuromuscular, alterações de humor e depressão, bem como possíveis efeitos colaterais nas concentrações cerebrais regionais das catecolaminas (ZAFAR, 2017). Em um estudo realizado com 40 universitários com depressão pela US national institutes of Health, após 20 dias de consumo de aspartame, notou-se em 13 dos 40 universitários depressivos demons- traram presença de reações adversas como mal humor, perda de peso, dores de cabeça e diminuição da capacidade cognitiva (LINDSETH et.al., 2014 e FINAMOR et. al.,2017). Após a ingestão de aspartame, o nível sérico da fenilalanina eleva-se 62%. Esse composto compartilha com outros aminoácidos como triptofano e tirosina, o mesmo mecanismo de transporte ativo para o cérebro. Dessa forma, o aumento de um desses compostos pode diminuir o transporte dos demais, comprometendo a síntese de neurotransmissores (MARTINS et. al.,2013). A acetilcolinesterase é a enzima responsável por hidrolisar o neurotransmissor acetilcolina nas sinapses colinérgicas. Nestas sinap- ses, a acetilcolina atua transmitindo a mensagem de um neurônio a outro. As sinapses colinérgicas estão amplamente distribuídasno sistema nervoso central e periférico, sendo importante para a manu- tenção de inúmeras funções fisiológicas humanas (ARAÚJO et. al., 2016). Componentes do aspartame podem atuar na enzima acetilco- linesterase do córtex frontal que catalisa a hidrólise do neurotransmis- sora acetilcolina. Essa reação é essencial para que o neurônio colinér- gico retorne ao seu estado de repouso após ativação, evitando ação 94 excessiva do neurotransmissor (MAGALHÃES, 2017). Doses altas de aspartame diminuem a atividade da enzima, resultando em superes- timação neural e consequente debilidade e cansaço. Esta constatação sugere que sintomas colinérgicos como salivação aumentada, lacrime- jamento, miose, diaforese, rubor, rinite e hipersensibilidade intestinal, estejam relacionados a doses de aspartame de 150 ou 200 mg/kg ou 30 a 40 mg/kg para humanos (CHOUDHARY & PRETORIUS, 2017). Na análise dos parâmetros sanguíneos, aspectos bioquímicos e neurocomportamentais de camundongos machos, após tratamento individual e combinado de aspartame e glutamato monossódico, foi observado diminuição da atividade da enzima acetilcolinesterase, além da redução da contagem de hemácias, leucócitos, plaquetas, volume celular, concentração de hemoglobina e hormônio testostero- na (ABU, 2016). Nos mamíferos o aspartato atua como precursor comum em duas vias metabólicas. A primeira conduz a síntese dos aminoácidos asparagina, e a segunda conduz a síntese de lisina, treonina, metioni- na e isoleucina (NAZARENO 2013). O ácido aspártico causa abertura de canais iônicos e é inati- vado pela sua reabsorção na membrana pré-sináptica, levando ao aumento da despolarização da membrana pré-sináptica, gerando um par de neurotransmissores excitatório/inibitório na medula espinhal, ao mesmo tempo que o glutamato e GABA (ácido gama- aminobutírico) formam outro par no cérebro. Por este mecanismo o ácido aspártico altera a concentração de neurotransmissores que em excesso podem causar prejuízos a saúde como cefaleia, convulsão, déficit de atenção, alterações de humor, alucinações e neurotoxidade (MATEUS, 2014). Magalhães 2017, concluiu que a ingestão precoce de aspar- tame causa prejuízos ao cérebro em desenvolvimento, em níveis com- portamentais e eletrofisiológicos, estabelecendo um alerta para o con- sumo deste por lactantes e crianças nos primeiros anos de vida. O aspartame não é recomendado em casos de fenilcetonúria, pois foram evidenciados o aumento de risco para tumor cerebral, reações alérgi- cas, linfomas, leucemias, doença de Alzheimer e Parkinson (TEI- XEIRA & GONÇALVES, 2011). 95 96 Doenças metabólicas e aumento do peso corporal A substituição da sacarose pelo aspartame para o controle do peso corporal e redução a resistência à insulina, não é consenso entre os pesquisadores. Muitos dados sugerem relação entre o aspartame e o aumento da sensação de fome, ingestão alimentar e peso corporal, que leva a uma série de problemas devido aos mecanismos fisiológicos envolvidos (REIS, 2010). Em experimentos com ratos foi possível notar um aumento no apetite e no peso corporal, após administração crônica de asparta- me. Sugere-se que esse aumento se deva a redução das concentrações do hormônio serotonina na presença do edulcorante. Este hormônio atua na regulação da sensação de saciedade e sua redução causa o aumento da fome (SILVA et. al., 2016). O sabor doce oriundo do aspartame atua como sinalizador para a liberação de insulina, mas como este não é um açúcar, a conti- nuação fisiológica não ocorre e indivíduos que consomem aspartame com frequência podem se tornar resistentes à insulina devido a este evento (IMAMURA et. al., 2015). Os adoçantes não ativam as vias de satisfação da mesma forma que os açucares naturais, a falta da satisfa- ção completa incentiva a busca por mais comida, e por serem doces, aumentam a vontade de ingerir mais alimentos doces, pois a exposi- ção repetida treina a preferência pelo sabor (YANG, 2010). Souza et al., 2010, verificou aumento nas taxas de glicose, co- lesterol total e lipoproteína de alta densidade (HDL) em ratas prenhas tratadas com aspartame a 50 mg/kg/dia, e ganho de peso corporal nas que foram tratadas com 25 mg/kg/dia. Os fetos dos dois grupos apresentaram resultado estatisticamente significativo de más forma- ções fetais em comparação com o grupo controle, um indicativo de alterações no organismo fetal e embriotoxidade. Silva 2016, notou um aumento significativo na ingestão ali- mentar e no peso corporal em ratos jovens tratados diariamente com 2mL/100g/dia de aspartame. GUL et. al., 2017, observaram em seu trabalho que a L- fenilalanina pode inibir a enzima fosfatase alcalina intestinal, viabili- zando o surgimento de síndrome metabólica em ratos que foram 97 submetidos a uma dieta rica em gorduras e bebida adoçada com as- partame (34 mg/kg) durante 18 semanas. Em trabalhos de Kuk e Brown 2015, demonstrou-se que o consumo de aspartame causa maior intolerância à glicose em indiví- duos obesos e piora do quadro de obesidade, mesmo quando compa- rado a sacarose, frutose e sacarina. Wiebe et al. 2011, também de- monstram associação entre a ingestão de aspartame e maior risco de diabetes em indivíduos acima do peso. O aspartame também é relacionado à ocorrência da doença hepática gordurosa não alcoólica associada à síndrome metabólica. Sabe-se que o consumo de refrigerantes comuns aumenta a prevalên- cia da doença, porém, Nseir et al. 2010, observaram que o mesmo ocorre com refrigerantes dietéticos, pela contribuição adicional do edulcorante aspartame, rico em produtos finais de glicação avançada que potencialmente aumentam a resistência à insulina e a inflamação. O aspartame provoca alterações nas vias metabólicas micro- bianas, ocasionando disbiose e a intolerância à glicose por decorrência de alterações da microbiota intestinal em camundongos e humanos (SUEZ et. al., 2014). As bactérias que compõem a microbiota intestinal podem de- sempenhar diversas funções no organismo, como interferir na absor- ção de nutrientes. A ruptura na microbiota intestinal é considerada por alguns autores como fator desencadeante para o desenvolvimento da obesidade e resistência à insulina (MORAES et. al., 2014). Sugere-se que edulcorantes não-nutritivos como sucralose, sa- carina e aspartame perturbem o equilíbrio e a diversidade da microbi- ota intestinal. Experimentos de transplante fecal, cuja microbiota de hospedeiros que consomem edulcorantes não-nutritivos é transferida para camundongos livres de germes, demonstra como resultado tole- rância à glicose prejudicada, grave fator de risco para o desenvolvi- mento de doenças metabólicas (NETTLETON et. al., 2016). Uma das hipóteses que tem sido levantadas para explicar a ocorrência da resistência à insulina é o aumento da permeabilidade das lipopolissacarídeos, endotoxinas bacterianas que podem causar um aumento do influxo de macrófagos para o tecido adiposo visceral e ativação das células de Kupffer no fígado (MORENO-INDIAS et. al., 2014). 98 Sugere-se também, que o aspartame promova a intolerância à glicose e obesidade em camundongos, devido a inibição da enzima intestinal fosfatase alcalina (GUL, 2014). Genotoxicidade A genotoxicidade dos edulcorantes é analisada em vários es- tudos, uma vez que podem ter associações diretas ou indiretas com o processo de carcinogênese. Conforme alguns autores, o aspartame pode ter efeito carcinogênico e genotóxico causado pelo metanol, destacando a capacidade do formaldeído promover ligação cruzada no DNA, induzindo danos (VASCONCELOS, 2016). A Fundação Européia Ramazzini em Oncologia e Ciências do Ambiente (FER) da Itália relata que o aspartame introduzido em doses normais aumentou casos de neoplasias em ratos. Estudo de SOFFRITTI et al., 2010, apontao aspartame como indutor de câncer de fígado e pulmões (VILLEGAS & FLORES, 2016). Alguns estudos epidemiológicos relacionados com o uso de aspartame, resultou no aumento de casos de leucemias e linfomas em animais experimentais, que desencadeou a prevalência de tumores do trato urinário, mesmo estando dentro do limite da IDA (SOFFRITTI, 2014) O dicetopiperazina é um subproduto que pode ser originado a partir do metabolismo do aspartame, esse composto quando nitrosado resulta em compostos químicos que segundo a Food and administra- tion acarreta reações igualadas as que ocorrem em tumores cerebrais, sendo causas de pólipos uterinos e aumento de colesterol no sangue (GOMES et. al., 2019). CONSIDERAÇÕES FINAIS Vários dados experimentais sugerem que o aspartame e os seus produtos metabólitos apresentam certo nível de citotoxicidade ao organismo humano, os quais podem estar associados a inúmeras complicações, desde alterações metabólicas a possíveis disfunções neurológicas. Estes dados sugerem que as discussões acerca da segu- rança de aditivos alimentares deve ser abordadas com maior clareza, tendo em vista a conscientização do público em geral no que se refere ao consumo dos aditivos alimentares disponíveis no mercado. 99 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABU-TAWEEL, Gasem M. Effect of monosodium glutamate and aspartame on behavioral and biochemical parameters of male albino mice. African Journal of Biotechnology. Africa, v. 12, n. 15, p. 601- 612, dec/març 2016. ABHILASH, M.; PAUL, M. V.; VARGHESE M. V.; NAIR, R. H.; Effect of long term intake of aspartame on antioxidant defense status in liver. Food Chem Toxicol, v. 49, n. 6, p. 7-1203, jun 2011. ALMEIDA, Hanna S. Avaliação do estresse oxidativo causado por aspartame em fibroblastos dérmicos humanos. 2017. 30f. Monogra- fia (Graduação em Farmácia) - FCS/UB, Brasília, 2017. ARAÚJO, C. R. M.; SANTOS, V. L. dos A.; GONSALES A. A. Acetilcolinesterase - AChE: uma enzima de interesse farmacológico. 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Para muitos, a água potável é aquela que se apresenta de forma cristalina e sem sabor. No entanto, é errôneo supor que apenas pela aparência a água esteja livre de composto e microrganismos que prejudiquem a saúde do ser hu- 1 Graduado (a) em Ciências Biológicas Licenciatura pelo Instituto Educacional Santa Catarina/Faculdade Guaraí (IESC/FAG), Guaraí, Tocantins, Brasil. 2 Mestre em Genética pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO. 108 mano e também de animais (PETRELLA, 2002; VEIGA et al., 2014; BEHLING et al. 2015). Entre os anos de 1895 a 1930 ocorriam vários casos de doen- ças provenientes de microrganismos relacionados à veiculação hídri- ca. Com a intenção de diminuir esses surtos, priorizou-se planejar e implantar projetos de saneamento básico, queatendessem as necessi- dades da população (LEME, 2012). Certamente não seria aconselhá- vel ingerir água que não esteja em condição adequada, suas proprie- dades devem estar livres de qualquer contaminação, seja por agentes nocivos ou por elementos físico/químicos (ZAN et al. 2013). No Brasil, atribui-se ao Ministério da Saúde elaborar e regu- lamentar um padrão de potabilidade. Sendo assim, está previsto na legislação Portaria n°2.914, de 12 de dezembro de 2011 a obrigatorie- dade da realização dos procedimentos de controle e vigilância de qua- lidade (NETO et al. 2011; BRASIL, 2011). Neste contexto, os parâ- metros devem estar dentro dos Valores Máximos Permitidos (VMP), considerando propriedades bacteriológicas, físico/químicas e orga- nolépticas. O sistema de abastecimento que se enquadrar a esses valo- res estará apto para fazer á distribuição de água para o consumo hu- mano (BRASIL, 2011). Para verificar a qualidade da água e aderir o tratamento mais eficaz torna-se necessário que se realize várias análises físi- co/químicas como: pH (potencial hidrogênio iônico), turbidez, cor, temperatura, alcalinidade, ferro, fluoreto, manganês, dureza, nitrogê- nio, oxigênio dissolvido cloreto entre outros (MACÊDO, 2001; SPERLING, 2005; ALVES, 2010; LIBÂNIO, 2010). Também é ex- tremamente necessário confirmar a presença de grupos de bactérias termotolerantes que suportam temperatura acima de 40°C (BRASIL, 2013). E a presença de coliformes totais e Escherichia coli indicam que, o consumo desta água é impróprio, visto que a maior parte desses patógenos é de origem fecal humana e animal (PELCZAR; CHAN; KRIEG, 2005; BET-TEGA, 2006). Porém, algumas populações sem nenhum conhecimento pré- vio sobre medidas preventivas ou controle de qualidade, ainda man- têm seus poços particulares para consumo próprio, usando o critério da falta do abastecimento público ou questão financeira (CAPPI et al., 2012; SILVA; ARAÚJO, 2014). A comodidade de possuir esses poços 109 pode se tornar um problema, já que ao utilizar esta água para consu- mo os proprietários colocam a própria saúde em risco, pois é possível que existam fossas sépticas próximas aos poços construídos, contribu- indo para a proliferação de microrganismos causadores de muitas doenças (COSTA et al. 2010; CAPPI et al. 2012; ZAN et al. 2013). O presente trabalho justifica-se por sua relevância social. De- vido ao conjunto de circunstâncias que levam a contaminação da água, faz-se necessário, inspecionar frequentemente a condição em que se encontra a água que provém de poços. A água superficial e subterrânea que se apresenta exposta as condições ambientais, está sujeita a uma série de agentes infecciosos, ou seja, os protozoários, bactérias e vírus ali presentes, podem acarretar a uma série de doen- ças, sobretudo se o nível de tratamento for insuficiente, levando em conta o descarte de lixo, contato direto ou indireto com resíduos quí- micos que levam a contaminação da água (SÁ et al. 2005; MAS- SOUD, 2012). No município de Guaraí - TO existe uma quantidade consi- derável de pessoas que possuem poços subterrâneos em suas proprie- dades. Observa-se que, os poços estão presentes em vários bairros da cidade e pelo fato do município ser pavimentado e possuir saneamen- to básico entende - se que é um costume da região. Alguns ainda são utilizados constantemente, tanto para uso doméstico como para con- sumo. O objetivo desse estudo é realizar análises microbiológicas e físico/químicas das águas de poços encontrados no setor Novo Hori- zonte, município de Guaraí – TO. Materiais e métodos Caracterização da área de estudo O presente estudo foi realizado em um setor que faz parte do município de Guaraí. Esta cidade se encontra situada no interior do Estado do Tocantins. Segundo o IBGE (2018), o referido Estado loca- liza-se ao norte do Brasil, sua área se estende em um território de aproximadamente 277.772 km². O município mencionado situa-se as margens da BR 153, entre as coordenadas geográficas: 08º50'03"S 48º30'37"W (IBGE, 2017). O local do estudo desenvolvido o Setor Novo Horizonte (Figura 1), se encontra sobre as coordenadas 110 8°51'53.9"S 48°30'23.3"W. Este setor não é pavimentado, mas recebe prestação de serviços de abastecimento de água potável. 111 Figura 1 - Setor Novo Horizonte, localizado em Guaraí - TO Fonte: Empresa Ikaro Marketing (2019) Critérios de seleção Conforme dados disponibilizados pelo Centro de Controle de Zoonose (CCZ) do município, existem 33 poços subterrâneos no setor Novo Horizonte. Dentre os locais observados, foram selecionados 15 poços para as avaliações físico/químicas e microbiológicas da água, pois atendiam aos critérios de seleção. Os poços apresentavam más condições de manutenção, exposição ao ambiente externo devido não possuírem nenhum tipo de vedação e encontravam-se próximos a fossas sépticas, os mesmos eram utilizados como fonte principal de distribuição de água para os residentes. Os poços estão sobre as coor- denadas expostas na tabela 1. 112 Tabelas 01 - Coordenadas geográficas dos pontos de coleta Poço Sul (s) Oeste (w) (UTM) Elevação 1 S 08º51’52.9 W 048º30’24.0 UTM: 9019187 235 m 2 S 08º51’53.6 W 048º30’22.0 UTM: 9019166 235 m 3 S 08º51’55.1 W 048º30’23.2 UTM: 9019120 235 m 4 S 08º 51’ 54.8 W 048º 30’21.7 UTM: 9019128 235 m 5 S 08º51’56.9 W 048º30’21.1 UTM: 9019064 236 m 6 S 08º51’55.6 W 048º30’20.7 UTM: 9019072 237 m 7 S 08º51’55.6 W 048º30’20.1 UTM: 9019104 231 m 8 S 08º51’54.5 W 048º30’20.4 UTM: 9019137 231 m 9 S 08º51’52.8 W 048º30’21.0 UTM: 9019189 232 m 10 S 08º51’52.4 W 048º30’21.0 UTM: 9019201 230 m 11 S 08º 51’51.2 W 048º30’21.5 UTM: 9019237 230 m 12 S 08º 51’50.7 W 048º30’22.0 UTM: 9019254 233 m 13 S 08º51’52.7 W 048º30’25.4 UTM: 9019195 233 m 14 S 08º51’57.1 W 048º30’24.5 UTM: 9019057 236 m 15 S 08º51’57.5 W 048º30’24.4 UTM: 9019045 236 m Fonte: os autores. 113 Coleta das amostras Para a realização das coletas microbiológicas foram utilizados frascos de vidro, com volume total de 100 ml. Antes de serem levados a campo, os recipientes foram esterilizados na autoclave por 15min, em temperatura constante de 121°C. Os recipientes foram conserva- dos estéreis até o momento da coleta e transportados dentro de caixa isotérmica. Para a coleta físico-química foram utilizados frascos plás- ticos de 200 ml. As amostras foram todas coletadas diretamente da saída da mangueira ou torneira. Os recipientes eram abertos rapidamente para a coleta e logo após eram direcionados para as caixas isotérmicas com gelo, a fim de preservar a temperatura ideal para a viabilidade das mesmas. Todo o conjunto de métodos e procedimentos foram realiza- dos de acordo as normas recomendadas pelo standard methods for the examination of water and wastewater (APHA, 1985). Logo após a reali- zação das coletas, o material foi destinado ao laboratório de pesquisa (MULTIUSO III) do Instituto Educacional Santa Catarina, Faculda- de Guaraí (IESC/FAG). Análise das amostras Para as análises físico/químicas foram considerados os parâ- metros pH, turbidez e cor. O pH foi encontrado usando um pHmetro de bancada. Ao realizar o procedimento o eletrodo do aparelho foi adicionado dentro do frasco com 200 ml da amostra, em seguida aguardou-se um curto tempo até que o aparelho forneceu o resultado. Para determinar o valor de turbidez, 10 ml da amostra foi adicionada em um recipiente do próprio aparelho turbidímetro, a amostra foi direcionada ao equipamento até a liberação do resultado. No proce- dimento para encontrar o resultado de cor, adicionou-se 25 ml da amostra em uma cubeta, em seguida a mesma foi levada ao aparelho para a leitura. Com o intuito de evitar um falso positivo as análises microbi- ológicas foram realizadas dentro do prazo de24hs após a coleta, con- forme recomendado pela portaria 2.914/2011. Para a realização des- tas análises foi utilizado o reagente Colilert (figura 2), fabricado pela empresa multinacional americana IDEXX Laboratories. O teste com essa substância detecta e quantifica respectivamente coliformes totais 114 e E. coli. O cromogênico orto-nitrofenil-β-D-galactopiranosídeo (ONGP) e fluorogênico 4-metilumbeliferil-β-D-glucoronídeo (MUG) são enzimas identificadas através de substâncias presente no reagente colilert. O grupo de coliformes totais é revelado se a amostra deixar de ser transparente e apresentar uma cor amarela. Para a confirmação da presença de E. coli a amostra precisa ser colocada próxima a luz ultra- violeta (UV), se a amostra apresentar um amarelo fluorescente se confirma a presença desta bactéria. (APHA, 2005; SCHUROFF et al. 2014; SILVA et al. 2010; IDEXX, 2015). Figura 2 - Respectivamente: Colilert e realização do procedimento da análise microbiológica. Fonte: Acervo do autor A análise foi realizada na capela de fluxo laminar, previa- mente esterilizada por raios UV pelo tempo de 15 minutos. O teste foi realizado em uma amostra de 100 ml para um reagente Colilert. No procedimento a amostra foi inoculada e agitada suavemente até dis- solver a substância. Posteriormente os frascos foram direcionados para uma estufa bacteriológica devidamente desinfeccionada com álcool 70% e com temperatura entre 35 a 42°C. Após 24hs, as amos- 115 tras foram retiradas da estufa para a verificação do crescimento bacte- riano. A presença de E. coli foi confirmada com o equipamento de luz UV (Quadro 1). Quadro 1 - Principais equipamentos utilizados nas análises físico-químicas e microbiológicas. Marca Identificação pH Thermo - Orion star A111 51040 Turbidez Thermo - Orion AQ4500 52975 Cor Colorimetro - DR/890 38220 Luz UV Boit Luv 01 3438 Fonte: Os autores. Resultado e discussão No presente estudo foi possível verificar diversas alterações que podem ser relacionadas a variados problemas de saúde, sendo assim, os consumidores da água dos poços analisados, podem estar expostos a estas condições. A tabela 2 expõe os resultados obtidos nos parâmetros físico-químicos e microbiológico de 15 poços subterrâneos encontrados no Setor Novo Horizonte. Tabela 2 - Resultados das análises físico-químicas e microbiológicas da água dos poços selecionados. Poço pH* Turbidez Cor Coliformes Totais E. coli 1 6,84 1,37 5 Presença Presença 2 4,69 0,11 0 Presença Presença 3 5,82 3,42 0 Presença Presença 4 5,06 0,71 0 Presença Presença 5 5,05 0,62 0 Presença Presença 6 5,55 1,28 0 Presença Presença 116 7 5,50 17,1 4 Presença Presença 8 5,01 0,36 0 Presença Presença 9 5,45 0,21 0 Presença Ausente 10 4,25 0,11 0 Presença Presença 11 5,83 0,33 0 Presença Presença 12 6,13 0,37 0 Presença Presença 13 5,63 0,16 0 Presença Presença 14 6,36 3,26 3 Presença Presença 15 7,05 6,03 0 Presença Presença FP 73,33% 13,33% 0% 100% 93,33% Fonte: Os autores. *Resultados de pH abaixo de 6,0 em água, considera-se impróprio para o consumo humano. FP (Fora do padrão). Dentre os parâmetros analisados, a turbidez e cor apresenta- ram resultados favoráveis, a maioria dos pontos estava de acordo com o regulamento estabelecido pelo Ministério da Saúde, portaria nº 2.914/2011. No entanto, o pH apresentou muitos resultados fora do padrão. Todas as variáveis do estudo foram comparadas com as refe- rências dos VMP estabelecidos por esta mesma legislação. De acordo a portaria, o pH da água deve estar entre a faixa de 6,0 a 9,5, os valores abaixo de 6,0 são considerados ácidos. Dentre os resultados obtidos nos 15 poços avaliados, apenas 4 amostras apresen- taram pH aceitável pela legislação vigente (pH = 6,13 a 7,05). Em 9 amostras o pH estavam entre 5,01 a 5,83, a água com esses valores, já não são apropriadas para consumo humano. O resultado encontrado nos poços 2 e 10 foram muito abaixo do permitido (pH = 4,25 e 4,69), ou seja, são consideradas muito ácidas e um potencial risco a saúde daqueles que fizerem uso desta água para ingestão. Segundo Feitosa e Manoel Filho (1997); Moura et al. (2009), é comum a variação do pH em água de poços, na maioria das vezes o pH se encontra entre a faixa de 5,5 a 8,5. Observa-se em outros estu- dos realizados que o ponto de vista destes autores não estava errado, 117 pois na pesquisa de Casali (2008), os resultados se estabilizam entre 4,2 a 8,3. Estes resultados também estão de acordo com aqueles en- contrados por Brum et al. (2016), que também obtiveram resultados alternados que vão desde 4,46 a 6,96. Quando analisado os motivos para as amostras dos poços 2 e 10 terem apresentado pH muito abaixo do permitido, várias hipóteses podem ser abordadas. Segundo Casali (2008), essas alterações no pH podem ser causadas por reações químicas dos possíveis minerais do próprio ambiente subterrâneo e por microrganismo que contaminam a água ou até mesmo pelo método de capitação desta água. Os resultados de turbidez apresentaram valores aceitáveis em 13 pontos de coleta (uT = 0,11 a 3,42). Para a portaria 2.914/2011, um resultado satisfatório é de até 5 uT (unidade de turbidez). Diante disto, percebe-se que 2 amostras ultrapassaram o VMP estabelecido pela legislação (uT = 6.03 e 17,1). HEALTH CANADA (2012), ex- plica que a turbidez da água é medida conforme a capacidade de dis- persão e absorção da luz na amostra. Quanto menos transparente a água estiver, mais alto pode ser o resultado. No estudo de Corcóvia e Celligoi (2012), também foram realizadas análises de turbidez, as amostras dos 27 poços, apresentaram todos os valores dento do permi- tido, (mínimo = 1,02 e máximo = 4,55), ou seja, diferente dos resulta- dos obtidos neste trabalho. De acordo com APHA, AWWA, WEF (2012) e HEALTH CANADA (2012), essas alterações são causadas pela presença de minúsculos fragmentos de rochas, matérias orgânicas e inorgânicas e até sólidos formados durante reações químicas. Dessa forma, é possí- vel que as circunstâncias em que se encontravam os locais de coleta tenham influenciado nos resultados fora do padrão, pois os poços estavam expostos a condições externas, não possuíam nenhum tipo de vedação que protegesse suas entradas e também não recebiam manu- tenção alguma. A turbidez da água não está relacionada apenas com a apa- rência física. HEALTH CANADA (2012), afirma que, parasitas como Giardia e Cryptosporidium também, são transmitidos por veiculação hídrica, e estão intimamente associados com a turbidez. Segundo este mesmo autor, esses protozoários são removidos no mesmo processo de filtração e desinfecção da turbidez. Baldursson e Karanis (2011); 118 Efstratiou et al. (2017), afirmam que os parasitas Giardia e Cryptospori- dium são causadores de sérias doenças em seres humanos. Deste mo- do Brasil (2011), argumenta sobre a importância em seguir rigorosa- mente as normativas do padrão de potabilidade estabelecido para o parâmetro de turbidez. Em relação as análises da cor aparente, os resultados encon- trados foram de 0 a 5 uH (unidade Hazen), ou seja, todos os pontos estavam dentro do VMP. De acordo com a legislação é permitido um valor máximo de até 15 uH. Estudo semelhante foi realizado por Oli- veira et al. (2018), no município de Timbiras - MA, os resultados para o parâmetro de cor estavam todos dentro do padrão, seus valores encontrados variam de 1 a 9 uH. De acordo com Brasil (2006), o mé- todo unidade de Hazen (uH), desenvolvido pelo sanitarista Allen Hazen, permite averiguada a intensidade da cor da água natural e potável, usando o padrão Platina-Cobalto os resultados são disponibi- lizados em números que variam de 0 a 200 unidades. Segundo Zerwes (2015), a coraparente e a turbidez da água podem apresentar as mesmas características físicas, portanto, a pre- sença de materiais suspensos na água influencia no resultado dos dois parâmetros. De acordo com Libâno (2010), e Leão et al. (2014), a cor da água pode ser alterada se, a mesma apresentar moléculas orgânicas de matéria em decomposição, outro fator que pode elevar esta condi- ção, seria a concentração de elementos químicos, como ferro e man- ganês. Quanto as análises microbiológicas em água os autores Costa, Santos e Mottin (2014), afirmam que ao realizar o teste é possível constatar a presença e ausência de agentes infecciosos como colifor- mes totais e E. coli. Observa-se na tabela 2 que todos os resultados obtidos nos 15 poços, foram positivos para ambas as análises, com exceção do poço 9, que se apresentou negativo apenas para a bactéria E. coli (figura 3). Devido as circunstâncias que se encontram a água desses poços, não á nenhuma possibilidade de as mesmas serem inge- ridas. No estudo de Oliveira et al. (2018), também foram realizados testes bacteriológicos, dos 10 pontos analisados, 7 amostras deram positivo para coliformes totais e 5 pontos expõe-se positivo para E. coli. Figura 3 - Respectivamente: Resultados de Coliformes totais e E. coli 119 Fonte: Acervo do autor De acordo com Amaral (1996), os principais precursores in- fecciosos encontrados em água pertencem ao grupo de coliformes totais, a verificação destes organismos dá-se pela concentração quanti- ficada a cada 100 ml de água. No entanto Amaral et al. (2005), afirma que, apenas a presença de coliformes totais não significa totalmente um transtorno a saúde, porém, se constatar neste aglomerado a exis- tência de coliformes fecais, especificamente falando da bactéria E. coli, o caso pode se tornar uma preocupação de saúde pública, pois é da natureza desse agente causar doenças aos seus hospedeiros, em espe- cial os seres humanos. Segundo Gonçalves et al. (2005), a contaminação da água por coliformes termotolerantes está mais suscetível se existir fossas sépti- cas próximas aos poços, os materiais do trato digestório humano e animal são considerados o principal contaminante da bactéria E. coli. Neste sentido, os fatores considerados como critérios para o estudo, podem sim, estar relacionados com os resultados que foram encontra- dos nesta pesquisa. O mesmo constatou um padrão de potabilidade inadequado, ou seja, não se enquadram as normas exigidas pela por- taria. Um fator muito importante foi enfatizado no trabalho de Freitas et al. (2001) e Capucci et al. (2001), de acordo com esses auto- res existe uma grande preocupação quanto ao nível de contaminação 120 das águas disponíveis nos recursos hídricos. No Brasil, 19% dos pro- prietários possuem poços subterrâneos de uso independente, a água desses poços provavelmente não é confiável, devido as intervenções do próprio ser humano, que comprometem a viabilidade do lençol freático com microrganismo patogênicos e elementos químicos, pro- venientes de aterros sanitários, despejos industriais, entre outros. Desta forma, é importante destacar que os poços escolhidos para este estudo estão bem próximos ao rio Ribeirão Tranqueira. En- tre seus limites consta apenas 200m de distância (GOOGLE EARTH, 2019). Existem indícios de que a água deste rio esteja contaminada, comprometendo o lençol freático da região. O trabalho realizado por Silveira et al. (2017), comprovam a existência de poluentes que estão em contato direto com o rio Ribeirão Tranqueira, exemplo: vazamen- to de óleo diesel, lixos e resíduos provenientes da lavagem de veículos. Portanto, é possível que haja uma relação com os resultados alterados das amostras dos poços em estudo. No ano seguinte, a pesquisa de Silva et al. (2018), confirma a poluição do rio Ribeirão Tranqueira, no estudo desenvolvido por estes autores foram realizadas análises de turbidez, pH e microbiológico para coliformes totais e E. coli. As 5 amostras coletadas em deferentes pontos do Ribeirão Tranqueira apresentaram resultados que evidenci- aram a contaminação da água do mesmo. Neste sentido, a água sub- terrânea que na maioria das vezes deveria ser potável pode estar com- prometida e colocar a saúde humana em risco, caso seja ingerida sem antes passar por algum tipo de tratamento. Conclusão Conforme resultados obtidos nesta pesquisa, foi possível ob- servar que as análises físico/químicas demonstraram valores satisfató- rio para a maioria das amostras, com exceção do parâmetro pH, que em 73,3% das amostras não estavam dentro do padrão. Quanto às análises microbiológicas o caso é muito preocupante, 93,33% dos resultados foram positivo para a bactéria E. coli, ou seja, o nível con- taminante destas águas estão muito alto. Diante dos resultados obtidos, acredita-se que, possivelmente a contaminação destas águas tenha acontecido por estarem intima- mente relacionadas com as más condições dos poços, e com a proxi- 121 midade de fossas sépticas e o Ribeirão Tranqueira. Desta forma, con- clui-se que existe a necessidade de desenvolver mais pesquisas nesta região, para investigar e detalhar as possíveis causas da contaminação da água destes poços. Como alternativa sugere-se promover campa- nhas e trabalhos voltados para a saúde e meio ambiente, e com isso, os moradores seriam orientados sobre a importância do processo de desinfecção da água, antes que a mesma seja utilizada nos serviços domésticos e principalmente atentar-se a preservar a saúde humana evitando ingerir água contaminada. Referências bibliográficas ALVES, C. Tratamento de águas de abastecimento. 3a ed. Porto: Publindústria, 2010. AMARAL, L. A. Controle da qualidade microbiológica da água utilizada em avicultura. In: Marcos Macari. Água na avicultura In- dustrial. 1a ed.: FUNEP. Cap. 7. p 93-117, 1996. AMARAL, L.A. ROSSI JR. O. D.; NADER FILHO, A; SOUZA, M. C. I.; ISA, H. Água utilizada em suinocultura como fator de risco à saúde humana e animal. Rev. 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Entre os vários fatores de risco relacionados as doenças car- diovasculares e neurológicas, a homocisteína (HCY) vem despertando o interesse da comunidade científica em relação ao aumento da sua concentração na corrente sanguínea, uma vez que dados experimen- tais das últimas décadas, revelaram que níveis elevados desse compos- 3 Acadêmica do curso de graduação em Biomedicina do Instituto Educacional Santa Catarina, IESC. Guaraí -TO. 129 to podem contribuir diretamente para o desencadeamento de várias doenças (MENDES, 2015; MOREIRA, 2017). Em indivíduos saudáveis os níveis séricos de HCY devem ser relativamente baixos, em torno de 10 µmol/L, no entanto, vários fatores podem ocasionar a elevação desse composto no sangue, entre eles a deficiência de vitaminas específicas bem como defeitos genéti- cos envolvendo as enzimas que atuam no metabolismo da HCY, o que resultará em um quadro de hiperhomocisteinemia (HHcy), que se caracteriza pela elevação plasmática do composto, a qual pode ser classificada em leve, moderada ou severa, conforme a causa e os valo- res séricos encontrados (LEITE et al., 2018; MOREIRA, 2017; SLAWEK, 2015; TYAGI, 2011; STEED, 2010). 20411 A HCY é um aminoácido sulfurado potencialmente nocivo gerado a partir do metabolismo da metionina (MET), um aminoácido essencial ao organismo, adquirido através da dieta. Portanto, a produ- ção e concentração de HCY é influenciada pela quantidade de MET ingerida através da alimentação (LEITE et al., 2018; VILAÇA et al., 2015). A elevação da homocisteína está ligada a deficiências genéti- cas/incapacidade enzimática ou deficiências nutricionais que interfe- rem com o metabolismo da metionina ou homocisteína (STEED, 2010). Na síntese de HCY, a MET obtida na dieta é convertida a S- adenosilmetionina (SAM), o principal composto doador de unidades com um carbono (metila) para reações de biossíntese. Quando a meti- la da S-adenosilmetionina é transferida para um aceptor biológico, forma-se S-adenosil homocisteína, que é finalmente hidrolisada à homocisteína e adenosina durante o seu metabolismo. Desta maneira, durante seu metabolismo, via SAM, a MET dá origem a molécula de HCY. Como esse composto é um produto metabólico, é rapidamente direcionado para vias bioquímicas de reciclagem. O processo de apro- veitamento do composto pode ocorrer através de sua regeneração para metionina, referida como via de remetilação, ou pela conversão da HCY gerada em cisteína, na chamada via de transulfuração, gerando 130 uma nova molécula de MET ou uma nova molécula de cisteína (Cys), (MARTINS, 2017; LIMA, 2018). De acordo com SANTOS (2016) na via de remetilação a HCY sofre a ação da enzima metionina sintase, dando origem à mo- lécula de MET, com participação de metilcobalamina. Já na via de transulfuração, por ação da cistationina beta – sintase e a gama- cistationase, efetuam a síntese de Cys, aminoácido importante para o equilíbrio oxidante/antioxidante do organismo (LEITE et al., 2018; MARTINS, 2017; VILAÇA et al., 2015). O objetivo dessa pesquisa é evidenciar a associação entre o aumento dos níveis séricos de HCY e o desencadeamento de doenças, os fatores biológicos vinculados à sua elevação no organismo huma- no, bem como sua utilização para o diagnóstico precoce de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. A relevância deste estudo justifica-se pelo fato de vários estudos demonstrarem que a HCY é um biomarcador de grande importância para o diagnóstico, prognóstico e profilaxia de diversos processos patológicos (LIMA, 2018; LEITE et al., 2018; VIZCAÍNO, 2017 MENDES, 2015; VILAÇA et al., 2015). Metodologia O presente trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica descritiva e exploratória, com o intuito de obter o máximo de infor- mações por meio de dados experimentais extraídos de diversos auto- res, com o intuito de evidenciar a relação entre homocisteína e as doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. A pesquisa foi realizada recorrendo a uma revisão literária de dissertações de mestrado, teses de doutorado, sites governamentais, documentos e artigos científicos, disponíveis na bases de dados, Sci- encedirect, SCIELO (do inglês; Scientific Electronic Library Online), PubMed, LILACS e MEDLINE, nos idiomas português, inglês e espanhol. Para a realização da pesquisa foram utilizados os seguintes descritores: Homocisteína, Hiperhomocisteinemia, Doenças neurode- generativas, Doenças cardiovasculares. Para manter a atualidade do tema proposto, foram preferíveis os artigos publicados entre os anos de 2009 e 2018, sem descartar a relevância de artigos publicados em anos anteriores para retratar os dados históricos do problema relatado no trabalho. 131 Revisão da Literatura Histórico Da Homocisteína A HCY foi descrita pela primeira vez por Butz e Vigneaud, em 1932, quando foram evidenciados compostos com estrutura de aminoácido contendo um grupo tiol, que posteriormente ficaram co- nhecidos como homocisteína e homocistina. O primeiro caso de pre- sença de HCY em urina foi relatado um ano depois como estudo de caso, quando médicos pesquisavam a causa da morte de um garoto de oito anos, portador de deficiência mental que morreu por ataque car- díaco fulminante (STEED & TYAGI, 2011). Em 1964 foi possível determinar a concentração exata de HCY na urina de crianças portadoras de deficiência mental e eviden- ciou-se a falta da enzima cistationina beta-sintase, através da biópsia hepática de crianças portadoras de homocistinúria (CANEVER, 2017). Somente em 1969, o pesquisador Kilmer McCully, médico do Hospital Geral de Massachusetts, juntamente com seus colaboradores, estabeleceram uma relação direta entre a doença aterosclerótica e a disfunção metabólica, provocada pela deficiência de cistationina beta- sintase (LEITE et al., 2018). No ano de 1978 a HCY foi determinada no plasma de indiví- duos saudáveis, onde foi possível obter um valor de referência para esse composto. Desde então, a HCY tem sido relacionada ao risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e recentemente, tem sido associada também como um marcador para doenças neurodege- nerativas (NEVES et al., 2004). Biossíntese e metabolismo da homocisteína A homocisteína (HCY) é um aminoácido sulfurado derivado do metabolismo da metionina. Valores séricos elevados desse compos- to na corrente sanguínea são consequências de transtornos enzimáti- cos ou de deficiências de cofatores derivadosde vitaminas do comple- xo B, que participam ativamente do seu metabolismo (MENDES, 2015). 132 Embora possua a função de transportar unidades com um carbono, o tetra-hidrofolato, comumente referido como ácido fólico (folato), possui um baixo potencial de transferência em algumas rea- ções de biossíntese. Devido a limitação do tetra-hidrofolato,é necessá- rio um doador adicional de unidades de um carbono, a S- adenosilmetionina (SAM), composto sintetizado a partir de metioni- na. Quando a metila da S-adenosilmetionina é transferida a um acep- tor, forma-se S-adenosil homocisteína, que sofre hidrólise sendo cin- dida em uma molécula de homocisteína e de adenosina (MENDES, 2015). A homocisteína gerada pelo organismo pode ser metaboliza- do pela via de remetilação, que regenera metionina, em um conjunto de reações que dependem da presença de derivados do tetra- hidrofolato e da vitamina B12, ou por outra via denominada transul- furação, que depende da presença de um cofator derivado da vitamina B6, (CANEVER, 2017; PERERA, 2016). Na via de remetilação da homocisteína, regenera-se a metio- nina para que esta continue originando SAM. A conversão de HCY em MET ocorre por ação da enzima metionina sintase (homocisteína metiltransferase), que utiliza um derivado do folato (N5- metil tetra- hidrofolato), como doador da metila que será doada a molécula de homocisteína, dando origem a uma nova molécula de metionina. A coenzima que participa desta transferência de uma metila é a metil cobalamina derivada da vitamina B12. Já na via de transulfuração, que depende de vitamina B6, a homocisteína dará origem a cistationi- na, que é clivada em alfa-cetobutirato e cisteína, por ação da cistatio- nina β-sintase (CBS) e cistationase, respectivamente (VILAÇA et al., 2015). Além de gerar SAM, metionina é um aminoácido que parti- cipa da constituição de proteínas, ao contrário, homocisteína é um aminoácido não proteico, e sua contribuição biológica se dá unica- mente pela geração de metionina e cisteína pelas vias de reciclagem. (MARTINS, 2017; LIMA, 2018) A hiperhomocisteinemia (HHcy) é uma condição caracteri- zada pelo elevação dos níveis séricos de HCY o qual ocorre em con- sequência de disfunção no metabolismo desse aminoácido, podendo estar relacionada à uma dieta rica em metionina (dieta hiperproteica), 133 deficiência de ácido fólico ou vitaminas do complexo B. Fatores gené- ticos também podem estar relacionados, principalmente aqueles que dizem respeito a mutações que prejudicam as enzimas que participam direta ou indiretamente das reações de regeneração da metionina e geração de cisteína a partir de homocisteína, como as enzimas metio- nina sintase e cistationina β-sintase (VALLI & SOBRINHO, 2014). A hiperhomocisteinemia (HHcy) é considerada um fator de risco independente, para o desencadeamento de doenças neurodege- nerativas. Estudos revelam que 40% dos pacientes que apresentam esse tipo de doença possuem níveis séricos elevados deste composto, mesmo que não possuam nenhum outro sintoma ou distúrbio que possa acarretar tal situação (SANTOS 2016). Por ser um composto não necessário ao organismo humano do ponto de vista quantitativo, o excesso de HCY pode causar um desequilíbrio na homeostase dos sistemas oxidante/antioxidante, levando ao estresse oxidativo (EO). O EO é observado em diversas patologias, como é o caso de doenças neurológicas e também doenças cardiovasculares, em que as membrana biológicas, organelas, células ou tecido de um órgão, tem comprometimento em sua função após sofrerem uma série de danos oxidativos (SANTOS, 2016). Sabe-se que o estresse oxidativo é um evento bioquímico comprovado em indivíduos com doenças neurológicas e que pode ser induzido pelo acúmulo de HCY na circulação, porém, não se conhece ainda, um mecanismo específico pelo qual a HCY originaria uma série de patologias (MENDES, 2015; VILAÇA et al., 2015). Hiperhomocisteinemia No organismo de indivíduos saudáveis a HCY se apresenta em concentrações plasmáticas entre 5 a 15 µmol/L, valores acima de 15 µmol/L caracterizam um quadro de HHcy, situação clínica obser- vada em diversas doenças vasculares como a aterosclerose, o enfarte do miocárdio e o acidente vascular cerebral. O aumento desse com- posto ocorre devido à falta de enzimas e cofatores que participam do seu metabolismo, como acontece nas anomalias genéticas causadas pela deficiência de cistationina beta-sintase e em indivíduos que pos- suem uma dieta pobre em vitamina B6, folato (B9) e B12 (MENDES, 2015; MORERA, 2017; POTOSLAKE, 2015). 134 De acordo com a intensidade das concentrações de HCY no plasma, classifica-se a HHcy como leve, moderada e severa. Em casos severos a concentração de HCY ultrapassa o valor de 100 µmol/L, a HHcy moderada corresponde a valores entre 31 e 100 µmol/L, e o tipo mais leve, equivale a valores entre 15 e 30 µmol/L (MORERA, 2017; POTOSLAKE, 2015; TYAGI, 2011). A HHcy severa é uma manifestação clínica rara, mais fre- quente em crianças, decorrente de uma anomalia genética ocasionada pela deficiência de uma das enzimas atuantes na via de metabolização da HCY por transulfuração, a cistationina beta-sintase (VALLI & SOBRINHO, 2014; TEIXEIRA, 2018). A principal característica dessa anomalia é a presença de HCY no sedimento urinário, achado historicamente relatado em casos de indivíduos com doença mental e insuficiência cardíaca (LEITE et al., 2018; TYAGI, 2011; LEITE et al., 2018; NEVES et al., 2004). As classificações leve e moderada da HHcy são observadas com maior ocorrência em idosos e estão relacionadas a deficiência das vitaminas do complexo B. Entre as doenças caracterizadas por essas condições estão a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson (VALLI, SOBRINHO, 2014; FIOROT et al., 2018). Outros fatores que podem influenciar no amento de HCY plasmática são a idade, gênero, estilo de vida, insuficiência renal crô- nica, disfunção hepática e diabetes mellitus (MENDES, 2015). A hiperhomocisteinemia relacionada a doenças neurodegenerativas Doença neurodegenerativa é o nome dado a condições em que as células nervosas sofrem alterações irreversíveis em sua estrutu- ra de forma parcial ou total, resultando em disfunção ou apoptose das células presentes na parte afetada do tecido nervoso (MENDES, 2015). O estresse oxidativo das células neuronais é causado pelo acúmulo de compostos oxidantes no tecido nervoso e pode ser citado como uma das causas de disfunção cerebral (MENDES, 2015; BIA- LECKA, 2015). A HCY é um composto importante para a síntese de alguns poucos aminoácidos necessários ao organismo humano, porém, não pode se apresentar em concentrações elevadas na corrente sanguínea, 135 visto que o aumento de sua concentração sérica está relacionado ao desenvolvimento de doenças cardíacas e recentemente associado a doenças degenerativas do sistema nervoso (LEITE et al., 2018; CA- NEVER, 2017; SANTOS 2016). A HHcy tem sido observada em diversas doenças cardiovas- culares, e vários estudos recentes demonstram que doenças neurode- generativas como doença de alzheimer, doença de parkinson, epilep- sia e doenças cerebrovasculares também podem ser uma consequencia dessa condição (PEREIRA, 2016). Pesquisas demonstram que em idosos, população mais pro- pensa a desenvolver doença de Parkinson e doença de Alzheimer, os níveis de HCY encontram-se elevados quando comparados com resul- tados de dosagens realizadas em crianças, adolescentes e adultos jo- vens saudáveis, o que pode justificar a relação entre esses fatores e a suscetibilidade desta população para doenças cardiovasculares e neu- rodegenerativas (CANEVER, 2017). Sabe-se que a HCY é um composto metabólico altamente oxidativo que necessita ser eliminado da corrente sanguínea através do seu rea- proveitamento por vias metabólicas,durante a síntese de outros com- postos químicos (LEITE et al., 2018; LIMA, 2018; CANEVER, 2017; MARTINS, 2017; VILAÇA et al., 2015). O acúmulo de HCY no organismo gera grande quantidade de substâncias oxidantes nos teci- dos do corpo que pode acarretar dano celular irreversível (MENDES, 2015; SLAWEK, 2015; BIALECKA, 2015). O dano causado ao cérebro pelo estresse oxidativo advindo da HHcy é denominado neurotoxidade e tem como consequência a degeneração neuronal, ativação de apoptose, hiperativação de recep- tores N-metil D-aspartato (NMDA), ação mitogênica das células vas- culares e alteração no metabolismo do óxido nítrico (SLAWEK, 2015; PEREIRA, 2016). Um dos fatores que explicaria a relação da neurotoxidade com a HHcy é que a HCY presente no cérebro desenvolve ação seme- lhante ao glutamato, ativando os receptores NMDA, permitindo a entrada de íons de cálcio no sistema nervoso. O acúmulo de HCY nesse tecido, consequentemente, acarreta o aumento da concentração desses íons, o que justifica o estresse oxidativo causado (VILAÇA et al., 2015). 136 O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do sis- tema nervoso central e participa de várias sinalizações excitatórias envolvidas na aprendizagem, memória e cognição. Para exercer sua função, o glutamato desenvolve sua ação em receptores específicos localizados na superfície da membrana celular dos neurônios (VALLI & SOBRINHO, 2014). O receptor NMDA, quando ativado pelo glu- tamato, torna a membrana neuronal permeável para a entrada de íons. A HCY, ao entrar no tecido nervoso, desenvolve ação agonista glutamatérgica e induz respostas semelhantes à ligação glutama- to/receptor (SLAWEK, 2015; VILAÇA et al., 2015; PERERA, 2016). O grande número de sinapses glutamatérgicas, induzidas pela HCY, ocasiona uma excitotoxidade, condição em que as células ner- vosas são danificadas de forma irreversível por estimulação excessiva de seus receptores, causadas pelos seus neurotransmissores, nesse caso, pela HCY (PERERA, 2016; BARBOSA et al., 2014). Diagnóstico laboratorial da hiperhomocisteinemia A HCY é determinada no plasma sanguíneo e suas concen- trações de referência estão entre 5 e 15 µmol/L, em estado de jejum, nos indivíduos saudáveis. A dosagem laboratorial desse composto deve ser realizada de maneira eficiente para a obtenção de um diag- nóstico preciso, tendo a necessidade de separar suas frações, uma vez que 70% desse aminoácido, circula na corrente sanguínea conjugado a proteínas plasmáticas (MENDES, 2015; STEED & TYAGI, 2011; POTOSLAKI, 2015). Para realização do diagnóstico laboratorial de HCY, é neces- sário que o indivíduo esteja em jejum. Após a primeira coleta do san- gue total, o paciente recebe uma sobrecarga de metionina, em seguida, realiza-se a segunda coleta para próxima dosagem (MENDES, 2015; NEVES et al., 2004). Após a coleta, a amostra deve ser centrifugada e o plasma de- ve separado e analisado imediatamente para que não ocorram resulta- dos falsos, decorrente das reações de biossínteses contínuas da HCY. Se houver a necessidade de armazenamento, a amostra deve ser acondicionada a temperaturas extremamente negativas de aproxima- damente -70 Cº (MENDES,2015; NEVES et al., 2004). 137 É comum indivíduos em jejum apresentarem concentrações séricas de HCY normais e, após a ingestão de metionina, os valores de HCY se elevarem, pois a metionina desencadeia a síntese do compos- to, aumentando a sua concentração (LEITE et al., 2018). Em indiví- duos em jejum pesquisa-se disfunções relacionadas à via de remetila- ção, na qual o aminoácido é metabolizado normalmente. A ingestão de metionina avalia alterações na via de transulfuração (POTOSLA- KI, 2015; NEVES et al., 2004). A HCY pode ser dosada por diferentes métodos, entre eles es- tão a cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC), cromatografia gasosa, imunoensaios e eletroforese capilar. A escolha do método é avaliada pela sensibilidade, precisão e capacidade de ser facilmente incorporado rotina laboratorial (MENDES, 2015). A HPLC é a técnica mais indicada para a dosagem de HCY, porém, por ser uma técnica de alto custo, não é incorporada à rotina laboratorial. A sua eficiência na separação das frações totais de HCY garante resultados confiáveis. Outras vantagens é que, por meio da automação, é possível realizar a dosagens de vários compostos ao mesmo tempo, como a MET e a HCY, relacionando uma concentra- ção a outra, uma vez que um aminoácido sintetiza o outro (MEN- DES, 2015; STEED& TYAGI, 2011; POTOSLAKI, 2015). A cromatografia gasosa é uma técnica altamente sensível e específica, que fazem do método um dos mais eficientes para dosagem e detecção da HCY. A desvantagem apresentada por este método é que, recentemente a etapa de separação da HCY foi excluída da técni- ca resultando em uma baixa especificidade, uma vez que outras subs- tâncias podem ser identificadas falsamente como HCY (MENDES, 2015). A eletroforese capilar apresenta uma metodologia que pode ser facilmente incorporada à rotina laboratorial por utilizar equipa- mento simples de análise rápida e eficaz. A técnica possui eficiência no processo de separação da HCY e sua utilização vem se tornando popular, destacando-se no diagnóstico de HHcy (MENDES,2015) Outro método simples e bastante utilizado na rotina laborato- rial são os imunoensaios que apresentam rapidez e resultados confiá- veis (LIMA, 2018). Na metodologia dos imunoensaios a HCY deve estar em sua forma reduzida, para isso, a HCY é convertida a S- 138 adenosil homocisteína por intermédio da enzima S-adenosil homocis- teína hidrolase (SAH). Após a conversão da HCY, um anticorpo anti- SAH se liga as frações de S-adenosil homocisteina presente na amos- tra. A porção de S-adenosil homocisteína que se liga ao anticorpo é proporcional a concentração de HCY presente na amostra (MEN- DES, 2015). 139 Tratamento da hiperhomocisteinemia A causa do aumento de HCY na corrente sanguínea está in- timamente ligada a deficiência de enzimas e cofatores participantes do seu metabolismo. Algumas desses cofatores não são produzidas pelo organismo e devem ser adquiriras através de dietas ricas em vitami- nas, principalmente as vitaminas do complexo B, como piridoxina (B6), cobalamina (B12) e o ácido fólico (SLAWEK, 2015; MAR- TINS, 2017; VIZCAÍNO, 2017). Essas substâncias, além de desenvolverem um papel funda- mental durante processo de metabolização da HCY, são de grande importância para equilíbrio da concentração do aminoácido no orga- nismo (VIZCAÍNO, 2017; BRAUM, 2017). O metabolismo de HCY é desempenhado a partir do seu rea- proveitamento, onde o composto é utilizado para a síntese da MET e cisteína, essas reações acontecem mediante a ação de cofatores sinte- tizados a partir de vitaminas do complexo B (VIZCAÍNO, VIZCAÍ- NO, 2017; TEIXEIRA, 2018). A deficiência dessas substâncias nas vias de metabolização da HCY pode ser suprida pela aquisição de uma dieta alimentar rica em vitaminas do complexo B ou pela administração de fármacos que são responsáveis por essa suplementação (MENDES, 2015). Outros elementos importantes no tratamento dos danos cau- sados pela HHcy são os minerais cobre e zinco, estudos revelam que a falta destes, causa um desequilíbrio nos níveis de antioxidantes, desta forma, mesmo que não tenham ação direta no metabolismo da HCY, podem auxiliar no controle do estresse oxidativo dos tecidos causados pelos altos níveis de HCY (VELLOSA et al., 2013). Para realizar a suplementação medicamentosa é importante saber, qual via de metabolização da HCY apresenta disfunção e qual substância o organismo possui carência, para que assim seja realizado o tratamento correto, por isso a importância de obter-se, primeiramen- te, um diagnóstico que comprove a HHcy (VILAÇA et al., 2015). Pesquisas demonstramque a suplementação de vitaminas, tanto pela dieta quanto pela administração de fármacos tem sido de grande relevância para o indivíduo com HHcy, tanto economicamen- te quanto fisiologicamente, pois trata-se de um método barato que não causa danos ao organismo. Ainda não foi estabelecido um padrão 140 exato das concentrações desses compostos utilizadas no tratamento da HHcy, porém, estudos são realizados em diversas concentrações e não apresentam prejuízos a saúde dos indivíduos (SLAWEK & BIA- LECKA, 2015; GEORGE & OSHARECHIREN, 2009). Considerações Finais Esta pesquisa buscou esclarecer a relação entre a HHcy e o desencadeamento de doenças neurodegenerativas e cardiovasculares, visto que esse tipo de enfermidade atinge grande parte da população mundial e uma porcentagem considerável de indivíduos acometidos apresentam níveis elevados HCY na corrente sanguínea. Com a realização desse estudo foi possível esclarecer as dúvi- das iniciais ao observar que a HCY, em altas concentrações séricas, desenvolve um efeito de citotoxidade para os tecidos do corpo huma- no, por realizar ação agonista glutamatérgica e desencadear a excita- ção excessiva das células neuronais. Mesmo diante de vários estudos, ainda existem questiona- mentos se de fato a Hcy poderia influenciar no desencadeamento de doenças ou se o próprio composto é apenas uma resposta secundária a fisiopatologia das mesmas. Desta forma, é necessário que se faça um estudo aprofundado sobre a temática proposta, a fim de que se estabe- leça uma relação causal entre essas condições. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, T.C.C. et al. Rev J Bras Patol Med Lab: Homocysteine: validation and comparison of two methods using samples from pa- tients with pulmonary hypertension. v. 50, n. 6, p. 402-409, dez.2014. BRAUM, N.M. et al. Rev Unisanta Health Science: Cianocobalami- na como tratamento de doenças neuropsicomotoras em idosos com déficit de vitamina B12: revisão da literatura. Cascavel, v.1, n.1, p. 80 – 87, 2017. 141 CANEVER, L. Ácido fólico materno como fator protetor para o desenvolvimento de esquizofrenia na prole adulta de ratas wistar. 2017. Tese - Unidade acadêmica de ciências da saúde programa de pós-graduação em ciências da saúde, Universidade do extremo sul catarinense, Criciúma, 2017. FIOROT JÚNIOR, J.A.et al. Abordagem aos Pacientes com Aciden- te Vascular Cerebral. 2018. 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Assim, quando entra na circulação sanguínea, pode afetar outros órgãos, ocasionando uma metástase (HOSSEN et al., 2019). Existem várias causas para desenvolver um câncer, sendo elas internas ou externas, onde podemos relacioná-las com a má alimenta- ção, qualidade de vida, exposição à radiação e produtos químicos, consumo de tabacos, falta de exercícios, hormônios e pré-disposiçãogenética. Os principais tipos de tratamentos contra o câncer são: qui- mioterapia, radioterapia e cirurgia. Logo após o diagnóstico do cân- cer, o médico deverá decidir qual melhor tipo de tratamento de acor- do com o estágio do tumor, localização e possíveis efeitos colaterais (MOREIRA, 2013). 145 A radioterapia é a modalidade de tratamento que utiliza radi- ações ionizantes que elimina as células anormais de um tumor ou, pelo menos, impede a sua proliferação. É um método que afeta prin- cipalmente as células do câncer, porém, associados a este tratamento, vêm efeitos colaterais que ocorrem devido as doses de radiações que o paciente é submetido para matar as células cancerígenas. Esses efeitos variam de pessoa para pessoa e do tipo organismo da mesma. Este tratamento pode causar alguns desconfortos aos pacientes como: náu- seas, queda de cabelo, perda de apetite, alteração no paladar, dificul- dades para engolir, aftas ou feridas na boca e queimadura de pele (SOUSA e MONTEIRO, 2018). A quimioterapia é um grupo medicamentos que visam destru- ir as células tumorais, danificando o material genético do DNA das células. É um dos modos fundamentais de tratamento de pacien- tes com câncer, e a quimioterapia, deste modo, elimina as células cancerígenas de um determinado tecido, através da utiliza- ção de drogas ou produtos químicos. É a forma de tratamento que inibe e destrói as células cancerígenas. No entanto o paciente tem que lidar com os efeitos colaterais que a mesma provoca, porém, os efeitos são temporários e causa alguns danos, tais como: vômitos, perda de cabelo e fadigas (FILHO et al.,2016; ALAM et al., e INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2018). Pesquisas recentes estão sendo desenvolvidas utilizando dife- rentes tipos de nanocarreadores para o transporte controlado de fár- macos até o local onde se encontra o tumor no indivíduo. Tais subs- tâncias são partículas de tamanho nanométrico, entre 1-1000 nm, usados no transportes de fármacos conhecidos. No momento em que as nanopartículas são utilizadas como sistema de transporte para ou- tras substâncias, essas passam a ser denominadas de nanocarregadores (PÚBLIO et al., 2014 e SILVA et al., 2014). Estes materiais nos últimos anos, tiveram um grande desen- volvimento na área tecnológica, permitindo assim, maior eficácia no tratamento do câncer (MATOSO, et al., 2015). Nanocarregadores vêm sendo uma inovação, pois apresenta doses diminuídas de fármacos, e uma menor toxidade para o organismo humano, cau- sando assim menos danos. A principal expectativa é que esses novos medicamentos sejam mais seguros e mais eficazes que os medicamen- 146 tos convencionais, e sejam cada vez mais inseridos na rotina terapêu- tica (SILVA et al., 2014). Os tratamentos convencionais não só degradam as células cancerígenas, como também as células saudáveis, onde terminam liberando fármacos por todo organismo, provocando vários efeitos adversos no paciente (SILVA et al., 2014). Neste sentido, a busca por novos tipos de fármacos e de tratamentos para o paciente torna-se primordial, uma vez que os tratamentos convencionais apresentam vários efeitos adversos. Os tratamentos atuais de câncer como a quimioterapia e a ra- dioterapia, provocam efeitos colaterais nos pacientes e uma diminui- ção da qualidade de vida dos mesmos. No entanto, com a utilização de nanocarregadores, os fármacos são levados até as células tumorais de forma direcionada, de modo não atingir as células saudáveis. Essa técnica é usada para diminuir ou excluir efeitos adversos que a quimi- oterapia pode causar (OLIVEIRA et al., 2012). Durante anos, vem sendo estudado o uso de nanocarreadores com a finalidade de proporcionar uma melhor qualidade de vida ao paciente. Quando é utilizado outras formas de tratamento para o cân- cer, por via oral, é preciso utilizar doses elevadas do fármaco para manter o acúmulo no tecido lesionado (SILVA et al., 2018) Desta forma, o presente artigo teve por objetivos evidenciar a importância e vantagens na utilização de nanocarregadores e fárma- cos para o tratamento de câncer, bem como conceituar o câncer, e evidenciar suas principais causas, demonstrar outros tratamentos existentes para o câncer, pesquisar os principais tipos de nanocarrega- dores utilizados para o tratamento de neoplasias e demonstrar os me- canismos de ação dos nanocarregadores durante o transporte de fár- macos no tratamento de câncer. Metodologia Esse trabalho trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, exploratória, de abordagem qualitativa, embasada em artigos científi- cos, publicados no período de 2012 a 2019, extraídos das seguintes bases de dados: Google Acadêmico, Bireme, Scielo, ScienceDirect e Lilacs. 147 Foram utilizados como descritores os termos em português como câncer, nanocarregadores, fármacos, lipossomas, quimioterapia, radioterapia, bem como os termos correspondentes citados anterior- mente em inglês. As pesquisas permitiram informações para a análise pertinentes ao assunto que foi desenvolvido no trabalho, incluindo artigos de revisão de forma que apresentassem dados apropriados à temática e que de alguma maneira mostrassem resultados significati- vos a fim de garantir o fundamento teórico necessário para a discus- são do tema. Os resultados foram textualizados, apresentados e anali- sados de forma fundamental com base nos artigos. Revisão da Literatura Câncer: Causas e Características Atualmente o câncer é a doença que mais causa morte no mundo, sendo assim considerado um problema de saúde pública. O câncer é o aumento desalinhado de células, que são essas que atingem o tecido e os órgãos, também podendo se propagar para outras partes do corpo. Há vários fatores envolvidos para o avanço do câncer, que podem ser: hábitos alimentares, estilo de vida, ansiedade, estresse, imunidade, condições ambientais, entre outros (INSTITUTO NACI- ONAL DE CÂNCER, 2018). As principais características encontradas inicialmente no tumor são bem distintas, porém variam com as diferentes localizações que podem se alastrar pelo corpo do ser humano. Alguns tumores por menores que sejam, tendem a aumentar de tamanho, também as ulce- rações encontradas na língua ou lábios, o endurecimento nas mamas, estes sintomas podem ser relacionados a um tipo específico de câncer (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2018). As causas do câncer podem variar, sendo elas externas e inter- nas ao organismo do indivíduo, tornando-se relacionadas uma a ou- tra. As causas externas estão ligadas ao ambiente e os hábitos e cultu- ras. Já a causa interna, na maior parte é genética, associadas na capa- cidade de defesa do organismo. Por essa razão podem interagir de diversas formas, aumentando a possibilidade de haver transformações malignas nas células naturais (SHAHAB et al,.2018). Principais tratamentos do câncer na atualidade 148 O tratamento do câncer começa após o diagnóstico dado ao paciente, este é o primeiro passo para os possíveis melhoramentos da qualidade de vida do mesmo. As principais maneiras de tratamento são as cirurgias, radioterapias e quimioterapias. Para o tratamento, nos estágios precoces, são indicadas a cirurgia e a radioterapia, po- dendo curar no estágio de câncer citado. No entanto, a radioterapia é um pouco restringida no câncer em estágio avançado (MOREIRA, 2013). A cirurgia é o método mais antigo na terapia contra o câncer. É o principal tratamento para vários tipos de câncer e pode ser curado quando a doença é diagnosticada em estágio inicial, a cirurgia tam- bém pode ser realizada com objetivo de diagnóstico, como na biopsia cirúrgica, alívio de sintomas, como dor e em alguns casos de remoção metástase quando o paciente apresenta condições favoráveis para realização do procedimento (MOREIRA, 2013). A radioterapia é um tratamento não invasivo,que se utiliza radiações ionizantes que destrói as células do tumor e impedindo que aumentem. Os pacientes com câncer que se submetem à radioterapia, muitas vezes têm o resultado positivo, pois o tumor poderá desapare- cer ou até mesmo estabilizar, mantendo o controle da doença. Isso porque o uso reduz o tamanho do tumor, e diminui a pressão, hemor- ragias, dores, assim suaviza o sofrimento do paciente (SOUSA et al., 2018). Cada pessoa tem uma forma de reação diferente durante o tratamento. Alguns efeitos indesejáveis são muitos constantes, depen- dendo da área que o tumor está localizado. Porém os mais frequentes são: cansaço, reação de pele, perda de apetite. Em geral aparece no fim da segunda semana do tratamento, e desaparecem poucas sema- nas depois de ter terminado as aplicações (MOREIRA, 2013). Há casos em que a radioterapia é usada, em agregação a quimioterapia, que é uso de medicamentos próprio e contra o câncer, e tem a ação dedicada em doenças disseminadas, tipo a leucemia. Este tratamento é a utilização de medicamentos que combatem a doença, eles se associam com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, assim exterminando as células atacadas que causam o tu- mor, deste modo impedindo que elas se esparramem por outros locais (SOUSA et al., 2018) 149 A administração de quimioterápicos no paciente, pode atingir as células sadias quanto as células cancerosas para destruir células de rápido desenvolvimento. Assim ele causa diversas reações, fazendo com que o paciente, sinta alguns efeitos colaterais, como: queda de cabelo, feridas na boca, náuseas, dores e vômitos. Mas isso dependerá do organismo do paciente. Estes efeitos também costumam a durar de acordo com o tipo de quimioterapia que o mesmo recebe. Este méto- do pode causar sensações de desconfortos, ardência ou queimação, pois as medicações são aplicadas por meio de injeção pela espinha dorsal, veia intramuscular, e subcutânea (FILHO et al., 2018). Nanocarregadores Nanocarregadores são substâncias químicas, de escala ma- nométrica, que vêm sendo estudados com o intuito de conduzir e controlar a liberação de fármacos no organismo humano para o com- bate de tumores. Essas substâncias estão associadas a um tamanho nanométrico, sendo exatamente 1 bilionésimo do metro. Se compara- dos com um fio de cabelo, sua espessura seria bem menor, podendo ter características peculiares, sendo possível ser tolerante a mudanças bruscas de temperaturas, cor e reatividade química. E assim se tor- nando mais vantajoso para os nanocarregadores utilizados para tra- tamento de câncer (SBALQUEIRO et al., 2018). O intuito é direcionar este nanomedicamentos através de na- nocarregador até seu alvo exclusivo do organismo, promovendo uma liberação controlada. Esses fármacos estão sendo estudados para tra- tar diversas patologias, principalmente o câncer. Tendo em vista a promessa de redução de dosagens que automaticamente irá diminuir os efeitos colaterais (SBALQUEIRO et al., 2018). A liberação controlada desses medicamentos deve manter a concentração do fármaco liberado na quantia terapêutica, precavendo que passe da faixa tóxica. A liberação desse fármaco ao seu alvo de- terminado deve ser gradativa para que haja uma liberação do mesmo de forma mais lenta. (MACHADO et al., 2015 e REIS, 2018). A utilização dos nanocarregadores no tratamento do câncer 150 O nanocarregador visa melhor a eficácia terapêutica e dimi- nuir os resultados contrários. Consiste no uso dos sistemas de nano- partículas, que contêm o fármaco encapsulado, que devido ao seu tamanho, não atravessa as paredes de regiões sadias dos organismos, mas conseguem atingir as células afetadas. Além disso, a superfície das nanopartículas podem ser modificadas, de modo que o nanocar- regadores vai diretamente para as células cancerosas (SILVA et al., 2014). Esses sistemas nanoestruturados são mais eficazes no trata- mento do tumor do que os quimioterápicos isolados, pois essas drogas apresentam baixa especificidade e um nível alto de toxicidade. Isso acontece, pois, as moléculas desses quimioterápicos são pequenas o suficiente para alcançar seu alvo, adentrando tanto nos tecidos cance- rosos quanto nos tecidos saudáveis. Já os nanocarregadores contendo os fármacos, não conseguem penetrar nos tecidos normais, mas con- seguem adentrar nas fenestrações tumorais, liberando assim, o fárma- co dentro do tecido canceroso, permitindo a destruição do mesmo. Com base nesse mecanismo, a figura 1 mostra o acesso dos fármacos nas fenestrações do tecido tumoral e no tecido saudável (PÚBLIO et al., 2014). Figura 1: Esquema da permeabilidade aumentada no tecido tumoral e tecido normal. Fonte: OLIVEIRA et al, 2012. A tabela 1 destaca alguns fármacos que utilizam nanocarre- gadores para o tratamento de câncer e o tipo de tumor. O status do medicamento tem como objetivo informar se o mesmo já passou em todos os testes e se o fármaco em questão já se encontra aprovado para comercialização (SILVA et al., 2014). 151 Figura 3 - Respectivamente: Resultados de Coliformes totais e E. coli . Fonte: OLIVEIRA et al, 2012 Uma das vantagens que a nanomedicina traz consigo, é en- tregar o fármaco de forma específica e ágil ao local da doença, por diferentes vias de administração, como oral, nasal, endovenosa, entre outras. Os principais tipos de nanocarregadores de drogas no trata- mento de tumores são: lipossomas, micelas, dendrímeros, dentre ou- tras (HOSSEN et al., 2019). Lipossomas São substâncias, com tamanho de 50 a 1000 nm, que podem ser produzidos através do colesterol e fosfolipídios naturais. No méto- do de síntese após a utilização de fosfolipídios, sob agitação, revelou que ao se juntar com a água, constituem uma esfera de bicamadas fosfolipídicas. Esse processo acontece, pois, uma molécula possui uma ponta que é solúvel em água, sendo a outra hidrofóbica, formada por lipídios. Eles são biocompatíveis e biodegradáveis, podendo encapsu- lar drogas hidrofílicas em seu interior. O medicamento hidrossolúvel encontra-se encapsulados no interior da cavidade do lipossoma, já os lipossolúveis são agregados na bicamada lipídica, assim facilitando a Fármacos Nanocarregadores Tipo de câncer Status Doxorrubicina Lipossoma Tumores Sólidos Aprovado Docetaxel Micela Carcinoma Hepatocelular Fase I Vincristina Lipossoma Leucemia linfoblástica aguda Aprovado Paclitaxel Micela Câncer de estômago Fase II Aptâmeros Micela Vários tipos de câncer Fase I 152 sua eficácia nas células e tecidos do organismo (MACHADO et al., 2015 e REIS, 2018). São consideradas estruturas biocompatíveis por proporcionar uma diminuição da toxidade a substância ativa, fazendo com que os medicamentos presentes tenham uma maior eficácia associado ao efeito terapêutico. No entanto o mesmo é selecionado por ter um maior acúmulo no local de ação, diminuindo assim, os efeitos colate- rais e fazendo com que o tempo de duração do fármaco seja maior tornando-se com uma menor toxicidade e uma menor dosagem para causar o mesmo efeito terapêutico, em um período de duração menor do tratamento (REIS, 2018). Os Lipossomas convencionais, logo que são aplicados por via endovenosa, o medicamento é apanhado pelos macrófagos do sistema fagocitário mononuclear (SFM) especialmente do fígado, do baço e da medula óssea, o que resulta o aumento da sua concentração nesses órgãos. O método fagocitário geralmente é ocasionado à uma cobertura de lipossomas com opsoninas que é encontrada no plasma, o que facilita o reconhecimento pelos macrófagos do material a ser fagocitado. No entanto os lipossomas são degradados por enzimas e liberam o conteúdo encapsulado (CASTRO e LIMA, 2015). Há relatos na literatura sobre o desenvolvimento de liposso- mas funcionalizados,os mesmos são compostos de uma cabeça polar e uma cadeia lateral apolar. O revestimento hidrofílico superficial dos polímeros aumenta o período da circulação dos lipossomas, assim evitando que o mesmo seja associado com as opsoninas e seja fagoci- tado pelos macrófagos. O polímero polietilenoglicol (PEG), é uma molécula mais utilizada para funcionalizar os lipossomas. Os lipos- somas podem ser funcionalizados com outros compostos, como: anti- corpos, proteínas, lipídeos e etc. No entanto a figura 2, mostra os lipossomas sendo funcionalizados com colesterol e anticorpo encapsu- lado (CASTRO e LIMA, 2015). 153 Figura 2: Estrutura de lipossomas convencional e funcionalizada. Fonte: SIMÔES, 2015. Micelas Micelas são compostos por moléculas anfifílicas que constitu- em uma nanocápsula em meio aquoso. A mesma contém uma parte hidrofóbica que consiste no seu interior que é utilizado para o trans- porte de fármacos, e contém uma cápsula exterior hidrofílica que fica no interior hidrofóbico e transforma os polímeros solúveis em água. No entanto as micelas são estudadas como sistema de liberação de drogas para administração oral e intravenosa (GARCIA, 2014 e GUANGPING, 2019) A nanopárticula também é considerada solúvel no sangue, as- sim sendo aplicado na via intravenosa. O tamanho das micelas é de aproximadamente 100 nm, facilitando assim o transporte dos medi- camentos através das fenestrações dos vasos tumorais, e sua maior concentração está na localidade do tumor. Dentro do núcleo da mice- la pode se armazenar fármacos hidrofóbicos, que são guardados por uma cápsula hidrofílica, até o momento do transporte para o tecido tumoral, como é mostrado na Figura 3. Um exemplo de medicamento é o Paclitaxel que utiliza a micela como meio de transporte para o tratamento de câncer. Além disso, macromoléculas hidrofílicas que possuem carga, ácidos nucleicos e proteínas, podem ser encapsulados no núcleo micelar. A superfície desse portador pode ser modificado para alcançar locais desejáveis e tornando o adequado para novas aplicações (JOHANNA, 2016; GUANGPING, 2018 e GUANG- PING, 2019). 154 Figura 3: Representação de uma micela em meio aquosa. Fonte: JOHANNA, 2016 As moléculas ao serem misturadas com água por meio de uma agitação, elas se aglomeram e criam estruturas esféricas. Nesse procedimento as cabeças hidrofílicas se revertem para a água, ao mesmo tempo a cauda hidrofóbica se curva para dentro, criando uma proteção contra a água, assim formando as micelas. Essa estrutura tem a capacidade para criar barreiras de permeabilidade (SANTOS 2014). Dendrímeros Os dendrímeros são moléculas ramificadas de polímeros sin- téticos, são constantes e possuem uma superfície adaptável, que po- dem ser funcionalizados com fármacos específicos. O medicamento é capaz de se encapsular no núcleo adaptável do dendrímeros. É manti- do pela ampla ramificação, além disso, ele pode ser visto não só em sistemas abiótico, mas também na forma de relâmpago, cristais de neve, e no sistema biológico, como ramos de arvore e neurônios. A figura 4 apresenta a forma identificada de um dendrímero com um fármaco encapsulado. No entanto ele é separado em três regiões: regi- ão central, região de superfície e ramificações (SANTOS 2014 e BORRALHO 2014) 155 Figura 4: Encapsulação do fármaco no dendrímeros. Fonte: TOPAN, 2016. Dendrímeros são separados em gerações que produzem ca- madas ao redor do núcleo, comparado com as cascas de uma cebola envolvida de dentro para fora em três dimensões, em cada capa entre o núcleo e a periferia, encontra-se a geração. A figura 5 apresenta as gerações que compõem os dendrímeros. Em cada interação adicional aumenta a geração dendrítica, por meio de reações repetitivas. Sem- pre que uma camada é sintetizada, surge uma nova geração, normal- mente com o dobro de sítios ativos e com peso molecular aumentado, e quase que duplicado se comparado a geração anterior (MENACHO, 2012) A síntese dos dendrímeros causa uma repetição de reações desenvolvidas por duas etapas: etapa do crescimento de geração e ativação. Estas duas moléculas podem ser sintetizadas através de duas formas: síntese divergente e síntese convergente. Síntese divergente é a inclusão de monômeros que se dirigem para o exterior começando-se do núcleo central, e o mesmo irá definir a quantidade de pontos de ramificação. Quanto mais adicionar monômeros, mais será o aumen- to do peso molecular dos grupos funcionais da superfície do dendrí- meros (MENACHO, 2012 e MOREIRA, 2013). No processo de síntese convergente, o crescimento da nano- molécula começa das extremidades da cadeia, juntando-se primeiro 156 aos variados pontos de ramificação no qual irá constituir os dendríme- ros e por fim essas ramificações serão unidas a um núcleo central (FRANTIESCOLI, 2013 e MOREIRA, 2013). Figura 5: Formação de dendrímeros do núcleo para geração G 4, identificando o tama- nho linear de diâmetro. Fonte: moreira, 2013. Considerações finais. A pesquisa abordada destaca as vantagens no novo sistema de transportes de fármacos, como a diminuição da dose administrada, evitando um tratamento com uma menor toxidade. Tais procedimen- tos evitam agressão das células saudáveis e melhoram a solubilidade das drogas. No entanto uso de nanocarregadores como forma de en- trega de fármacos, pode desenvolver as qualidades farmacológicas e dos compostos, que é usado no tratamento de câncer. Alguns desses foram aprovados para uso clínicos já outros se encontram em estágio de testes clínicos. Alguns nanomedicamentos foram aprovados para o uso de terapia em variados tipos de câncer, porém outros estão em fase de desenvolvimento. Os quimioterápicos são direcionados até o local de ação através de nanocarregadores, que levam o fármaco de forma específica até as células malignas. No entanto o benefício considerado nesse novo sistema de entrega de drogas é a baixa degradação de célu- las sadias, afetando assim somente o tecido lesionado. 157 Portanto a utilização de nanocarreadores como transporte de fármacos pode ser um tratamento do câncer promissor e que mostra eficiência que não são mostradas por outros tipos de tratamentos, como a radioterapia e quimioterapia. Assim devendo haver investi- mento para mais desenvolvimento tecnológico, de modo que melhore o tratamento aplicados atualmente a qualidade dos pacientes. Referências bibliográficas ALAM A, FAROOQ U, SINGH R, DUBEY VP, KUMAR S, KU- MARI R, NAIK KKN, TRIPATHI BD, DHAR AK. 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Estes fatores passam pelo crescimento demográfico dos centros urbanos, a inadequada infraes- trutura urbana, o aumento na produção de resíduos não orgânicos, modo de vida da população, e a intensa descoordenação dos órgãos públicos. Estes fatores, muitas vezes associados, são cruciais para o favorecimento na proliferação do agente vetor dessa doença, que ate- moriza a população com os índices elevados de casos (MENDONÇA et al, 2009). De acordo com Silva Junior et al (2002), existem relatos de epidemias de dengue a partir do século XIX no Brasil, desde então o A. aegypti ficou erradicado inúmeras vezes, reaparecendo nos anos seguintes em função de sua persistência no país vizinho, e assim mani- festando também no Brasil. Não bastando às ações humanas estarem relacionadas aos fa- tores que agravam ao aparecimento da dengue, as condições ambien- tais também influenciam na incidência da mesma, principalmente no 162 Brasil por ser um país tropical, propiciando condições ambientais favoráveis à propagação vetorial e circulação viral, com registros roti- neiros de picos epidêmicos, em períodos do ano onde as altas tempe- raturas e índices pluviométricos, criam condições para proliferação dos vetores. Essa doença localiza-se em todos os vinte e sete estados da Federação, com movimentação simultânea de diversos sorotipos e ocorrência de casos graves, tornando o Brasil o principal responsável pelas notificações nas Américas, com cerca de 60% dos agravos (SOUZA, 2007; BRASIL, 2011). Nos dias atuais, a dengue tem se destacado dentre as enfer- midades endêmicas, pois é considerada a mais importante das doen- ças virais transmitidas por um artrópode, sendo, portanto, a mais comum e a mais distribuída (BRAGA et al, 2007; WHO,2016). Até o momento são admitidos quatro sorotipos de dengue. Que segundo Tauil (2001), destaca que a dengue é uma doença febril aguda, que tem como influente etiológico um vírus sendo ele do gêne- ro Flavivírus. Atualmente são conhecidos quatro sorotipos, antagoni- camente caracterizados em: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. E conforme Torres (2008), dentre os quatro sorotipos, qualquer um pode causar formas consideradas perigosas da doença. Os sorotipos associ- ados a casos clínicos mais sérios são o DEN-2 e DEN-3, sorotipos esses que podem evoluir para casos graves ao óbito. Já para Massullo (2015), o aumento da urbanização provoca alterações no ambiente, gerando diversos impactos na água, solo, atmosfera, biodiversidade, provocando o surgimento de doenças veto- riais, dessa forma, trazendo graves consequências para a população. As mudanças na cobertura da vegetação e, no uso da terra, consistem em importantes fatores que induzem as variações climáticas e socio- ambientais em distintas escalas, resultando em significativas altera- ções nos ecossistemas e clima. Desse modo, o clima tropical predominante da região, bene- ficia a propagação do vetor A. aegypti, pois a dengue é uma doença tipicamente deste clima, e essa agregação de fatores, tanto socioambi- entais quanto climáticos são imprescindíveis para tornar o vetor in- vencível. No período chuvoso, as fêmeas se deparam com uma quan- tidade maior de água parada e armazenada deforma imprópria, facili- tando assim a desova e a eclosão dos ovos na estação quente. O espa- 163 ço urbano parece proporcionar o aparecimento e a proliferação do vetor. (CORRÊA et al 2013). Ao analisar esses crescentes índices de casos de dengue nos estados brasileiros questiona-se a correlação entre os fatores socioam- bientais e fatores climáticos como proporcionadores do desenvolvi- mento e proliferação de vetores, em pequenas comunidades, como o município de Pedro Afonso no estado de Tocantins. Portanto, ao observar essas variáveis, objetiva-se identificar essa correlação entre os fatores expostos, evidenciando a relevância deste trabalho como instrumento de alerta para futuras ações que possam amenizar as condições que hoje levam a dengue ser conside- rada problema de saúde pública na região. Metodologia Este trabalho caracteriza-se como um estudo epidemiológico observacional com a abordagem qualitativa. A pesquisa decorreu-se no município de Pedro Afonso no es- tado do Tocantins, entre os meses de junho a agosto de 2019. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do município foi estimada em 11.539 habitantes no ano de 2010. O período chuvoso da região estende-se de outubro a abril, tendo meses de chuvas mais intensas entre os meses de dezembro a março (PINTO et al, 2017). O clima é classificado como tropical, de acordo com Köppen (1948, p.479, apud Neto, 2013, p.218) as temperaturas médias anuais variam entre 27 a 37°C, essa variação climática dar-se pelo fato de estar localizado entre as margens dos rios Tocantins e Rio Sono. Segundo Köppen (1948, p.478, apud Sá júnior, 2009, p.11), os fatores climáticos são as condições encontradas na atmosfera, fazendo com que a superfície da terra seja habitável por todos os seres vivos. A cidade de Pedro Afonso é dividida administrativamente em 15 bairros, durante a pesquisa foram todos analisados pelo critério de maior número de notificações de dengue por bairro, sendo possível realizar a análise através da coleta de dados disponibilizados pela secretaria municipal de saúde, podendo distingui-los pelos números de notificações de dengue. 164 165 Figura 1: Mapa da cidade de Pedro Afonso Fonte: Google maps. Para a realização da pesquisa e coleta de dados, apresentou-se a Secretaria municipal de saúde o termo de solicitação para autoriza- ção da pesquisa (TSA), onde através de dados do Sistema de Informa- ções de Agravos de Notificações (SINAN), os dados foram obtidos e agrupados por medidas de frequência em relação às variáveis demo- gráficas (faixa etária, sexo, bairros e meses do ano). Os dados obtidos através do SINAN foram disponibilizados em duas etapas, a primeira na forma on-line e a segunda apresentada em pastas de arquivos, com várias notificações de agravos preenchidas por profissionais da saúde, manualmente organizados, podendo assim, serem copilados possibili- tando prosseguir com a pesquisa. Resultados e discussão Na década de 80 aproximadamente a maioria das cidades do litoral do Brasil exibiam notas de ocorrências de casos do vetor A. aegypti que, nos anos consecutivos, aumentaram-se igualmente para o interior do País. Associando às fraquezas prestadas dos serviços de saúde oferecidos, constatou-se a vulnerabilidade de atuações particu- lares para a assistência da saúde grupal, pois, com o alargamento da fabricação de sobejos e vários vasilhames e lixos espalhados a céu aberto (em terrenos baldios, quintais e ruas) concentra água no perío- do chuvoso e beneficiam a procriação dos vetores (MENDONÇA et al,2009). O período atual corresponde a um enorme número de ações humanas no solo, modificando cada vez mais a natureza. Ao utilizar 166 esse conceito, é coesivo compreender a ocorrência de casos do dengue bem como intrinsecamente relacionando as ações no ambiente, com sua agilidade, o seu amplo número de elementos e sua diferença. Do- ença essa, composta por uma seletividade espacial, de alguma resolu- ção igualitária, afeiçoa-se ao atual meio, e está continuamente em constante evolução, diferentemente da dengue de décadas atrás (CA- TÃO, 2011). A saúde humana é intensamente estimulada pelo clima por meio das condições térmicas que o país apresenta, de disseminação (poluição e ventos), umidade do ar, cumprindo destacada influência sobre o aparecimento de inúmeros achaques, endemias e epidemias, designando condições adeptas ao desenvolvimento favorável a trans- missão de doenças contagiantes (MENDONÇA, 2000). E os aspectos climatológicos desempenham papéis fundamen- tais na ecologia, influenciam no processo evolutivo e na supervivência dos agentes etiológicos e dos vetores dirigidos por eles, e consequen- temente, também atestam uma enorme influência sobre a precipitação em relação à transmissão da dengue (REITER, 2001). Os mosquitos do arbovírus pertencente ao gênero Flavivirus e considerada a mais importante das arboviroses que afetam o ser hu- mano. O vetor coloca seus ovos em lugares que contêm água, aonde surgem às larvas, nas quais tornarão novos propagadores da doença. A dengue tem transmissão de pessoa para pessoa, pois o mosquito A.aegypti é somente um intermediário que necessita contrair de al- guém já infectado. Consequentemente, as principais áreas endêmicas são as cidades por existirem um maior fluxo de pessoas (LUPI et al, 2007; FERREIRA, 2012). A Dengue é transmitida ao homem pela picada da fêmea do A. aegypti, que precisa do sangue humano para aperfeiçoar o processo de maturação dos seus ovos, onde o mosquito infectado faz a trans- missão do vírus ao lancear uma pessoa saudável. Para que a transmis- são aconteça é necessário que o mesmo se alimente do sangue de uma pessoa infectada, e assim pode se tornar hábil a conduzir o vírus du- rante toda sua vida, que em média varia de 6 a 8 semanas (BRASIL, 2005). Sendo considerada uma doença febril aguda, e possuir mui- tas variações nos seus quadros clínicos, desde a Dengue Clássica, que 167 por apresentar o desenvolvimento em muitas ocasiões benignas, pro- voca grande desconforto podendo se muitas vezes incapacitante para o trabalho, ou até os quadros clínicos mais graves, tais como a Den- gue com Complicação (DCC), a Febre Hemorrágica do Dengue (FHD) valendo ressalvar que o quadro hemorrágico pode levar a óbito em questões de dias, e a Síndrome de Choque do Dengue (SCD) (CATÃO, 2011). Segundo coelho (2008), um aspecto importante para o contro- le efetivo desse agravo, consiste na existência de uma vacina eficaz, disponível na rede pública de saúde, possível possibilidade do caso de obstinação do vetor aos inseticidas em uso, e a restrição das atualiza- das técnicas de avaliação entomológica para o prognóstico de ocor- rência da transmissão de dengue. E assim com base nesse estudo podemos observar que a den- gue sempre fez parte da história, se espalhando no mundo em regiões tropicais e subtropicais com índices menores ao comparado com a realidade de hoje. O crescimento demográfico, a falta de infraestrutu- ra, ocupação desordenada e aumento de consumo, proporcionam condições favoráveis ao vetor da doença, causando sérias dificuldades para a saúde da população. Além disso, o clima presente no Brasil é propicio para a proliferação desse vetor, com relevância principalmen- te nos meses de maior pico de temperaturas, o mosquito utiliza-se desse fator para a reprodução, com isso a população deve estar sempre atenta sobre as variações climáticas. Esta pesquisa pretende apresentar os resultados obtidos em levantamentos apontados no SINAN, utilizado pela prefeitura muni- cipal de Pedro Afonso para indicar notificações de casos de dengue no município. Espera-se com o levantamento destas informações melho- rarem a compreensão da relaçãoda doença com os fatores socioambi- entais e climáticos na região estudada. Conforme a tabela 1, quanto à prevalência de casos entre os sexos, o masculino obteve uma reiteração maior, apresentando uma frequência de 60,6%, ou seja, 44 casos notificados de janeiro de 2018 a junho 2019. Segundo o SINAN, no município foi registrado apenas 1 caso de dengue em estágio avançado, aonde o paciente do sexo mas- culino veio a óbito. 168 Este resultado diverge de determinados achados da literatura, quanto ao estudo epidemiológico efetivado no município de São Luís – MA, que demonstrou que os casos de dengue ficaram mais eviden- tes entre o sexo feminino (FORATTINI, 2000). O estudo de Gonçal- ves (2004) além de corroborar com o trabalho de Forattini (2000) aponta que esta predominância de ocorrências no sexo feminino pode estar associada ao fato destes indivíduos, permanecerem a maior parte do período em seus domicílios, local preferido pelo mosquito vetor Aedes aegypti. Tabela : Casos de dengue distribuídos por gênero (sexo) no ano 2018 e 1/2019 SEXO ADULTO E CRIANÇAS FREQUENCIA Feminino 29 39,4% Masculino 44 60,6% Total 73 100% Fonte: Os autores Os resultados do estudo podem estar relacionados com o fato de grande parte de massa trabalhadora de a cidade estar alocada em apenas uma única grande empresa que opera em três turnos, fazendo que haja uma distribuição de indivíduos do sexo masculino nas resi- dências. Como representado na tabela 2, à predominância de notifica- ções de casos de dengue por faixa etária no período do estudo, são de 72,3% amplamente dos 13 a 68 anos de idade. O estudo alinha-se com os achados de Rodriguez-Morales (2015) e Ferreira (2018), onde os autores também constataram altos índices de ocorrências nesta faixa etária populacional. Estes autores foram além, ao afirmar que estes números de casos notificados estão diretamente relacionados ao de- sempenho de atividades economicamente ativas, como trabalhar ou estudar durante o dia. Tabela 2: Casos de dengue distribuído por faixa etária ano de 2018 e 1/2019. FAIXA ETÁRIA NOTIFICAÇÃO FREQUENCIA 0 a 12 anos (crianças) 20 27,7% 13 a 68 anos (adulto) 53 72,3% Total 73 100% Fonte: Os autores 169 Observa-se na tabela 3, que no bairro Aeroporto II a frequên- cia de notificações de dengue é maior que nos outros distritos, apre- sentando uma predominância de 32%, seguido pelos bairros: centro com 28% e Santo Afonso com 10%. A maior incidência de casos do bairro Aeroporto II, em relação aos demais bairros do município, pode estar relacionado às condições pouco satisfatórias de infraestru- tura, pois o bairro conta com um alto número de pessoas irregular- mente instaladas, ou seja, fazem uso do local por meio de invasões, é provável que os mesmo vivam em situação precária, proporcionando assim, condições favoráveis para o desenvolvimento do vetor. Tabela 3: Notificação de casos de dengue por bairro ano 2018 e1/2019. Bairro Número de Notificações Frequência de Notificações 2018 2019 ∑ bairros 2018 2019 frequências Centro 6 15 21 60% 24% 28% Aeroporto II 2 21 23 20% 33% 32% Bela Vista 1 5 6 10% 8% 9% Santo Afonso 0 7 7 0% 11% 10% Joaquim M. Lima 0 2 2 0% 3% 3% Zacarias Campelo 0 3 3 0% 5% 3% Aeroporto 0 5 5 0% 8% 6% Outros 1 5 6 10% 8% 9% Totais 10 63 73 100% 100% 100% Fonte: Os autores Os casos do Centro da cidade apresentou uma elevada inci- dência de casos, provavelmente, devido ao alto fluxo de pessoas circu- lando, números de estabelecimentos comerciais, casas desapropriadas, terrenos baldios, onde o lixo é descartado de forma inadequada, é que também contribui para os possíveis alagamentos nas ruas em períodos mais chuvosos, facilitando assim o acúmulo de água e a instalação do vetor. Quanto ao bairro Santo Afonso, embora apresente os índices um pouco menores em relação aos demais, as condições apresentadas não deixam de ser favoráveis ao vetor, pois a falta de saneamento 170 básico e a deficiência no escoamento de água nos períodos chuvosos tornam propícias às condições para o surgimento da dengue, onde Silva et al (2007), ressalva que as condições socioambientais dos bair- ros são as maiores responsáveis pelo aumento de casos de dengue, devido ao próprio homem criar condições para a disseminação do mosquito, ao jogar lixo em terrenos baldios, como pneus, garrafas e outros materiais que acumulam água da chuva, corroborando com (ROSEGHINI, 2013), que a água acumulada de forma imprópria, se conserva no sistema urbano tornando-se o foco de proliferação de insetos favorecendo a incidência da dengue. Segundo Philippi e Malheiros (2005), possuir saneamento bá- sico seria uma medida preventiva para diminuir o índice de casos de dengue, a execução do projeto inclui sistemas de coleta, limpeza pú- blica, drenagem, tratamento de águas residuais e abastecimento de água potável, sendo assim, colaborando com o serviço da saúde e o bem-estar da comunidade, sem contar que é dever do município de- senvolver um planejamento que incentive a população, formas de prevenção da doença juntamente com os serviços públicos disponí- veis. Ainda de acordo com a pesquisa acima, é imprescindível o poder público efetuar campanhas de sensibilização, sendo de suma importância à participação e contribuição da população, pois assim os resultados serão eficazes. Segundo Itabuna, (2010), o controle dos surtos de dengue é diferente de outras doenças, que são de cargo total do estado, o processo preventivo deve ser feito pelo conjunto de forças desde o poder público ao setor privado e essencialmente por cada indivíduo, especialmente para atingir o elo mais suscetível no período da doença que é a proliferação do mosquito vetorial. Os estados brasileiros dispõem de órgãos municipais que tra- balham com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Combate a Endemias (ACE), em total parceria com a população, estes trabalhadores públicos estão designados para atuar no controle mecânico e químico do mosquito vetor, a área de atuação é centrali- zada em detectar, aniquilar ou sugerir açudes naturais, ou artificias de água que podem vir a servir de armazém para os ovos do A.aegypti. Mais uma tática complementar recomendada pelo Ministério da Saú- de é a solicitação de atos educativos no decorrer da visita domiciliar 171 pelos Agentes Comunitários, que tem como finalidade de garantir a sustentabilidade da abolição dos depósitos de vetores do mosquito pelos donos dos imóveis, no ato de eliminar a ponte de difusão das doenças (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Os dados apresentados na tabela 4 representam os meses em que maior prevaleceu o índice de suspeita de casos de dengue no mu- nicípio, sendo eles os meses de janeiro, fevereiro, março, abril e de- zembro. Quando comparados, as diferenças dos índices são mais contundentes entre o ano de 2018 e o primeiro semestre de 2019, ob- serva-se, que o ano de 2018 obteve menor número de notificações em relação ao primeiro semestre de 2019, vale ressaltar que, este semestre alcançou-se o topo de incidentes, inclusive apresentando um caso de óbito.Essas prevalências de casos ocorreram no período mais chuvoso da região, ou seja, nos três primeiros meses do ano, levando em con- sideração que os fatores socioambientais e climáticos que possuem grande contribuição para a proliferação do mosquito. Tabela 04: Notificação de dengue por meses. Meses Notificações Frequência 2018 2019 2018 2019 janeiro 1 6 10% 9% fevereiro - 26 0% 41% março 1 31 10% 50% abril 1 - 10% - maio 1 - 10% - agosto 2 - 20% - outubro 1 - 10% - novembro 1 - 10% - dezembro 2 - 20% - Totais 10 63 100% 100% Fonte: Os autores O gráfico (1) representa os índices de precipitação pluviomé- tricos do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil –(INMET), foipossível confirmar que no primeiro semestre de 2019 houve um tempo mais prolongado e constante de chuvas, em relação ao mesmo perío- 172 do de 2018, contribuindo para o avanço do número de casos. Souza (2010) relata em seus estudos que existe uma maior incidência de dengue na estação chuvosa e no período de altas temperaturas, estes cenários são favoráveis para uma maior proliferação do A. aegypti e consequentemente possibilitando a transmissão da doença. Gráfico 1: Índice de precipitação pluviométrica em milímetros durante o intervalo do estudo (01/2018 a 06/2019). Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil – INMET. Acessado em 14 de outubro de 2019. Com este estudo, foi possível observar que no mês de feverei- ro de 2018, houve um pico de chuva mais alto em relação aos demais meses do ano, foi observado que no decorrer do mês não houve noti- ficações, isto pode estar relacionado que casos de dengue podem ocor- rer de forma tardia em relação ao pico de chuvas. Assim Silva (2016), afirma que a coexistência dos indicadores pluviométricos com o caso da dengue expressou acréscimos de passagens nos meses seguintes ao período chuvoso. Dessa forma a literatura aconselha o monitoramento rotinei- ro do mosquito na estação mais chuvosa do ano, para assim identifi- car as áreas mais propícias à infestação, possibilitando desencadear as medidas de controle necessárias, além de dar seguimento aos estudos 0 20 40 60 80 100 120 140 ja n e ir o , 2 0 1 8 fe v e re ir o , 2 0 1 8 m a rç o , 2 0 1 8 a b ri l, 2 0 1 8 m a io , 2 0 1 8 ju n h o , 2 0 1 8 ju lh o , 2 0 1 8 a g o s to , 2 0 1 8 s e te m b ro , 2 0 1 8 o u tu b ro , 2 0 1 8 n o v e m b ro ,… d e z e m b ro ,… ja n e ir o , 2 0 1 9 fe v e re ir o , 2 0 1 9 m a rç o , 2 0 1 9 a b ri l, 2 0 1 9 m a io , 2 0 1 9 ju n h o , 2 0 1 9 PRECIPITAÇÃO 173 de observação da tendência das condições climáticas, com a finalida- de de subsidiar as ações de vigilância da dengue (VALADARES, 2013). Ainda conforme os resultados expressos na tabela 04 nota-se claramente a relação entre os períodos mais chuvosos com o surgi- mento dos casos de dengue. O acréscimo expressivo dos casos de dengue no primeiro semestre do ano de 2019 em Pedro Afonso está correlacionado à maior passagem de chuvas que beneficiou as condi- ções ideais na propagação do vetor. Este padrão estacional assemelha- se ao observado em pesquisas realizadas em outros estados brasileiros (MONTEIRO 2009; RIBEIRO 2006; ROCHA 2009). Visto que ainda não há disponível na rede pública de saúde um meio eficaz na prevenção da dengue, tais como a vacina, tornando assim difícil de ter um controle nacional até mesmo mundial. Então Cardoso et al, (2012), ressalva que dessa expectativa de controle, a realização de atividade casa a casa é de inúmera importância, mas não podendo ser vista isoladamente e nem fundamentada somente na aplicação de larvicidas. Sendo assim seria fundamental estimular à participação da comunidade em geral para que o sistema de controle possa vir a ser de qualidade e eficaz. Considerações finais Através do presente estudo, foi possível observar a influência de fatores socioambientais e climáticos sobre a incidência de dengue no município de Pedro Afonso-TO, uma vez que estes fatores estão diretamente interligados a proliferação do mosquito Aedes aegypti, proporcionando ambiente ideal para a transmissão da dengue. A pesquisa mostrou que neste município, no decorrer do ano de 2018 para o primeiro semestre de 2019 ocorreram 73 notificações, sendo mais significativo entre os homens, discordando com alguns estudos que evidenciaram a prevalência dos casos de dengue maior entre as mulheres, em função do vetor ser altamente domiciliado. As chuvas exerceram influência significativa obedecendo a um padrão sazonal, onde os maiores números de notificações estiveram relacio- nados ao período correspondente maior na constância das chuvas em relação ao mesmo período que o ano anterior. Foi possível também 174 observar através da análise do gráfico pluviométrico, que os casos de dengue podem ocorrer de forma tardia em relação ao pico de chuvas. Através da análise das notificações da dengue entre os bair- ros, podemos inferir que a falta de saneamento básico, infraestrutura e o crescimento demográfico, a falta de informação, influenciam dire- tamente no número de notificações, onde o bairro Aeroporto II apre- sentou-se como o mais afetado. Enquanto se aguarda a vacina pelo sistema único de saúde (SUS) contra a dengue, a melhor forma de controlar a doença é a prevenção, onde através do esclarecimento, vislumbramos a grande importância na capacitação, operacionalização e execução de ações educativas, informando a população juntamente com o apoio do mu- nicípio, evitando a proliferação do vetor, sendo a participação da sociedade de suma importância para a obtenção dos resultados. Os fatores ambientais e climáticos estão alheios a nossas vontades, porém os fatores sociais em Pedro Afonso podem sofrer intervenções huma- nas de modo a melhorar o sistema de saneamento básico, como a coleta de lixo, separação do lixo reciclado, galerias pluviais, e sistema de esgoto. 175 Referências bibliograficas BRAGA, I.A; VALLE, D. Aedes aegypti: histórico do controle no Brasil. Epidêmico Serviço Saúde. n.16, p.113- 118. 2007. BRASIL Guia de vigilância epidemiológica. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. (Série A: Normas e Manuais Téc- nicos) Brasília. 816 p.2005. BRASIL, Ministério da Saúde. Balanço dengue Informe Janeiro a Março/2011. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/informe_dengue_201 1_ janeiro_e_marco_13_04. pdf. CATÃO, R. De. C. Dengue no Brasil: abordagem geográfica na escala nacional. 2011. CARDOSO, F. D. P; BATISTA, H.L; ARAUJO, B.M; NUNES, R.M. Observações sobre a epidemiologia de dengue em Araguaína, Tocantins. 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World Health Organization, 2016. 180 AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES CITOTÓXICAS E ANTICI- TOTÓXICAS DA Brugmansia suaveolens EM CAMUNDONGOS Mateus Silva Santos5 Gustavo Oliveira Silva6 Liberta Lamarta Favoritto Garcia Neres7 Paulo Roberto de Melo-Reis8 Introdução As plantas psicoativas contêm substâncias químicas que pre- sumivelmente evoluíram como aleloquímicos (capazes de afetar o crescimento de outras espécies), mas visam determinados receptores neuronais quando consumidos pelos seres humanos, alterando a per- cepção, a emoção e a cognição. Curiosamente, a população têm ex- plorado usos alternativos para plantas que contêm substâncias psicoa- tivas, como medicamentos e no contexto de rituais religiosos para os seus vários efeitos, incluindo: alucinógenos que distorcem a realidade, sedativos / narcóticos que induzem sono, calmante ou ansiolíticos que diminuem a tensão e a ansiedade, antidepressivos e estimulantes que despertam a mente (SPINELLA, 2001; RATSCH, 2005; VAN WYK & WINK, 2014). Ainda existe a crença de que essas plantas possuem proprie- dades medicinais e que por serem utilizadas a milhares de anos, apre- sentam eficácia comprovada e ausência de efeitos colaterais e riscos à saúde. Entretanto, sabe-se que determinadas plantas apresentam subs- tâncias potencialmente perigosas. Do ponto de vista científico, pesqui- 5 Mestre em genética pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO) 6 Graduando em biomedicina pelo Instituto Educacional Santa Catarina/Faculdade Guaraí (IESC/FAG 7 Mestre em ciências ambientais pela Universidade Brasil 8 Doutor em biologia celular e molecular pela Universidade Federal de Goiás (UFG) 181 sas mostraram que muitas delas possuem substâncias potencialmente tóxicas e/ou genotóxica e, por esta razão, devem ser utilizadas com cuidado, respeitando seus riscos toxicológicos (VEIGA, 2005; DE BONA et al., 2014). O Brasil possui uma grande quantidade de plantas com pro- priedades psicotrópicas e uma boa parte delas podem ser encontradas facilmente no meio urbano. A Brugmansia suaveolens (Solanaceae) ou trombeteira, também chamada no Brasil de cartucheira e copo de leite é uma planta originária da América tropical e amplamente distribuída em ambientes úmidos da América do Sul. É comumente observada em jardins, quintais ou até mesmo em parques, como espontânea, tendo sido provavelmente cultivada por antigos moradores (OLI- VEIRA et al., 1991; SOARES, 2008). Normalmente a população utiliza as flores frescas ou secas da B. suaveolens para a produção de uma bebida com propriedades psicoa- tivas, que é utilizada em rituais místicos ou religiosos. No entanto outro uso para essa planta, especialmente entre a população mais jovem, é a ingestão intencional ou consumo via cigarro para induzir alucinações (OLIVEIRA et al., 2003). Apesar de alguns estudos mostrarem que o Extrato AquosoBruto - EAB da B. suaveolens afeta o sistema de neurotransmissores, poucas informações foram relatadas sobre suas propriedades genotó- xicas, antigenotóxicas, citotóxicas ou anticitotóxicas (DICKEL et al., 2010). O presente estudo se objetivou em avaliar os possíveis efeitos citotóxicos/anticitotóxicos da Solução Aquosa Bruta – SAB da B.suaveolens. Materiais e métodos Materiais: Material Botânico Flores da Brugmansia suaveolens (Trombeta) As flores da B. suaveolens foram coletadas em setembro de 2017 na cidade de Santana do Araguaia, estado do Pará. 182 Controles e Reagentes a) – Controle negativo: H2O estéril – Fabricado por Equiplex, Lote nº 1731060, com validade para 07/2019. b) - Controle positivo: Doxorrubicina – Fabricado por Libbs Farmacêutica Ltda. Lote nº 17A0663, fabricado em janeiro de 2017, com validade igual a 2 anos. c) – Soro fetal bovino - Fabricado por Laborclin Farmacêutica Ltda. Lote nº 60428001, com validade 14/04/18. Animais Para realizar os testes de citotoxicidade e anticitotoxicidade foram utilizados 48 camundongos, de ambos os sexos, saudáveis, da espécie Mus musculus “out bread” linhagem Swiss Webster, oriundos do biotério da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, apresentan- do peso corpóreo entre 30 a 40 gramas e faixa etária entre 45 a 60 dias no dia do experimento. Os animais foram alojados em gaiolas de polipropileno de dimensões 30x20x13cm, forradas com maravalha, conforme padrões internacionais. Cada gaiola acomodou no máximo 06 (seis) animais. Receberam água e ração ad libitum. A maravalha foi trocada a cada dois dias. Os camundongos ficaram em sala de experimentação arejada com temperatura média de 21°C, com sistema de ventilação, ciclo de claro – escuro (claridade 07:00 – 19:00, escuro 19:00 – 07:00). Foram necessários 36 camundongos para os testes de citoto- xicidade e de anticitotoxicidade, 6 para o controle negativo e 6 para o controle positivo. Metodologias utilizadas Preparação do Solução Aquosa Bruta das flores de B. suaveolens As flores coletadas foram secas em estufa à temperatura de 37ºC, sendo conservadas durante 5 dias. Após a secagem, foi realiza- do a maceração do material com auxílio de almofariz com pistilo, a 183 fim de se obter um pó. A SAB foi obtido através da decocção de 30g do pó de flores secas da B. suaveolens em 300mL de água destilada durante 5 minutos. Um extrato de 40mg/g de água destilada foi obti- do e utilizado para os estudos9. 184 Procedimento para avaliação da Atividade citotóxica e an- ticitotóxica da b. Suaveolens pelo teste do micronúcleo. Foram realizados ensaios “in vivo”, em camundongos através do teste de micronúcleo. O procedimento experimental deste estudo se concentrou principalmente em analisar as doses de 1000, 500 e 250 mg/kg do SAB da B. suaveolens (Tabela 1), as quais foram injetadas em camundongos via intraperitoneal. Após 24 horas, os camundon- gos foram submetidos a anestesia por tiopental (30 mg/kg), em segui- da, a eutanásia por deslocamento cervical e os fêmures retirados. A epífise proximal do fêmur foi cortada e a medula óssea hematopoiéti- ca, aspirada com soro fetal bovino. Após a homogeneização da medu- la no soro, foi centrifugada a 1000rpm por cinco minutos. O sobrena- dante foi descartado e a preparação laminar foi feita com o precipita- do. Em seguida, após a secagem das lâminas, as mesmas foram cora- das em soluções de Giemsa tamponada. A análise das lâminas foi realizada em microscópio óptico comum Nikon com a finalidade de se detectar possíveis alterações e/ou perdas cromossômicas (micronúcleos) nos eritrócitos policromá- ticos (EPC) da medula óssea dos animais submetidos aos diferentes tratamentos. As células foram visualizadas em objetiva de imersão de 100x, usando três lâminas para cada animal, avaliando-se 2.000 EPC por lâmina. Foi utilizada a média de três lâminas como resultados. Para a avaliação da citotoxicidade, foram contados eritrócitos poli- cromáticos (EPC) e eritrócitos normocromáticos (ENC). A razão EPC/ENC foi determinada conforme Schmid (1975). Na avaliação da atividade anticitotóxica dessa planta a solu- ção da B. suaveolens foi administrada simultaneamente com a Doxor- rubicina - DXR, que já possui ação genotóxica conhecida, o procedi- mento experimental seguido foi similar a metodologia já descrita ante- riormente. Foi incluído também o controle positivo. Análise Estatística A análise estatística do presente estudo foi realizada com o auxílio do software BioEstat v. 5.3, desenvolvida pela Universidade Federal do estado do Pará, os dados foram tabulados com o auxílio do software Excel 2016, desenvolvido pela empresa Microsoft. 185 Para verificar se os dados seguiam os padrões de distribui- ção normal, foi realizado o teste de Kolmogorov-Smirnov com Índice de Confiabilidade – IC a 99%. A análise de ação citotóxica, foi avaliada com a relação das frequências de EPC e ENC de cada grupo tratado com o SAB da B. suaveolens com o grupo negativo e positivo pelo teste ANOVA, com- plementado pelo teste de Tukey. Também foram considerados signifi- cativos valores de p<0,01. Ética A excicata da planta foi depositada no Herbário da Univer- sidade Federal do Goiás – UFG, Goiânia – Goiás, com o número de registro #65798. O presente estudo foi revisado e aprovado pela CEUA – Comissão de Ética de Uso de Animais da PUC/GO sob o número de protocolo 8878200617 para o período de 08/2017 a 12/2018. Após o processo de eutanásia, as carcaças dos animais que participaram do experimento foram descartadas para serem incinera- das. Foi contratada uma empresa comercial, que presta serviços nesta área INCINERA - TRATAMENTO DE RESÍDUOS – Home page: www.incinera.com.br, telefone: 62 3224-0005. Revisão bibliográfica: Ação genotóxica e citotóxica de vegetais Frequentemente os seres vivos estão expostos à diversos agentes físicos, químicos e biológicos que podem interagir com o ma- terial genético levando a alterações genéticas. Essas alterações podem ser a nível gênico ou cromossômico podendo alterar ou não os proces- sos fisiológicos. Entretanto, os seres vivos possuem um sistema de reparo de DNA o qual é responsável por detectar, controlar e corrigir as alterações sofridas pelo código genético garantindo assim sua a estabilidade e a sobrevivência da célula ou organismo (CARVALHO, 2014; TERRAZAS, 2013; FAGUNDES, 2012). Os vegetais desenvolveram meios naturais que lhes fornece- ram defesa contra o ataque de predadores, fungos, bactérias e insetos. 186 Muitos desses recursos são substâncias químicas sintetizadas e que possuem atividade citotóxica e genotóxica (FERRER et al.,2009). Alcaloides Os alcaloides são compostos orgânicos cíclicos contendo ni- trogênio em um estado de oxidação negativo e de distribuição limita- da entre os seres vivos (Figura 1). Estima-se que esta classe abranja mais de 4000 compostos, que correspondem a cerca de 15% a 20% dos produtos naturais conhecidos e que está dividida em diferentes grupos como: tropânico, quinolínico, piperidínico, entre outros. O grupo dos alcaloides indólicos, se destaca, devido à sua grande diver- sidade em termos de estrutura e de propriedades farmacológicas, prin- cipalmente antitumorais (VERPOORTE, 1986; CORDELL, 2001; PELLETIER, 2001). Figura 1. Exemplos de alcaloides Fonte: PERES, 2004 Os principais alcaloides de valor medicinal encontratos em B. suaveolens são membros da família dos tropanos principalmente esco- polamina e hioscinamina, mas também atropina e hioscina. Esses compostos inibem os receptores muscarínicos de acetilcolina e agem no sistema parassimpático. São utilizados na medicina para o trata- mento de espasmos e para sedação, dentre outros procedimentos (GRIFFIN & LIN, 2000). O grupo dos alcaloidessão bastante promissores, uma vez que têm sido importantes fontes de substâncias que podem ser utiliza- 187 das como protótipos na pesquisa de novos fármacos com atividade antitumoral. Flavonoides Os flavonoides representam um dos grupos de compostos fe- nólicos mais importantes e diversificados entre os produtos de origem natural. Atualmente são conhecidas mais de 4200 variedades desse grupo. Diversas funções podem ser atribuídas aos flavonoides encon- trados em vegetais. Dentre elas, destaca-se a capacidade de proteção contra raios ultravioletas, defesa contra insetos, fungos, vírus e bacté- rias, e a capacidade de atração de animais polinizadores (AGRA- WAL, 2011; BHATTACHARJEE, 2013; SIMÕES et al., 2007; FLAMBÓ, 2013). A estrutura química básico dos flavonoides não possui ativi- dade antioxidante (Figura 2). Acredita-se que essa capacidade advém da presença de radicais hidroxil nos anéis A e B e pelo grau de conju- gação dos anéis B e C. Figura 2. Estrutura fundamental dos flavonoides Fonte: SANTOS, RODRIGUES, 2017 Quimicamente, a maioria dos flavonoides baseia-se em uma estrutura fundamental que possui um esqueleto formado por de 15 átomos de carbono constituído por dois anéis de benzeno (A e B co- mo mostrado na Figura 3), ligado por meio de uma cadeia três carbo- 188 nos entre elas e um oxigênio co-mo heteroátomo (C) (SIMÕES et al., 2007). Os flavonoides têm sido caracterizados como inibidores de células tumorais, pro apresentarem propriedades farmacológicas co- nhecidas como antioxidante, possibilitando o controle da proliferação celular desempenhando assim, um papel importante no bloqueio da oncogênese. Nesse sentido a atividade antitumoral dos flavonoides passou a ser estudado com o objetivo de esclarecer a interação desse composto com o organismo e a sua relação com a inibição do cresci- mento celular (AMADO et al., 2011; HUNG et al., 2009; JADVAR; ALAVI; GAMBHIR, 2009). Brugmansia suaveolens A B. suaveolens é um arbusto de grande porte, podendo alcançar 3 m de altura. Possui ramos cilíndricos, inermes, glabrescentes, raro com tricomas simples. Suas folhas são isoladas, com ausência de acúleos e podendo medir de 6 a 11 cm (FELICIANO, 2011) (Figura 4). Figura 3. Brugmansia Suaveolens A – Arbusto; B – Folhas e flores maduras. Fonte: Acervo do autor A B. suaveolens pode ser facilmente distinta das demais espé- cies estudadas pelas flores grandes e pêndulas de cerca de 30cm (Figu- ra 4), de coloração branca ou amarelada, às vezes rosada, com corola 189 infundibuliforme, lacínias com ápice longamente caudado e estames com filetes longos, pilosos na metade proximal e anteras laminares (FELICIANO, 2011; SOARES et al., 2008). Figura 4. Flor da B. suaveolens Fonte: Acervo do autor A B. suaveolens possui efeitos semelhantes a outras plantas psi- cotrópicas, e comumente é comparada com os efeitos da Cannabis sativa. Estudos relataram a afinidade com receptores serotoninérgicos (5-HT1A e 5-HT2C) e dopaminérgicos (D1 e D2) e, associando resul- tados de trabalhos anteriores (CAPASSO & De FEO, 2002), sugeri- ram a sua capacidade de atuar como antagonista dopaminérgico (NENCINI et al., 2006). Resultados Avaliação da atividade citotóxica e anticitotóxica da SAB da B. suave- olens pela relação EPC/ENC.Os resultados da relação EPC/ENC para as atividades citotóxicas e anticitotóxicas estão representados na tabela 1. 190 Tabela 1. Relação EPC/ENC da medula óssea de camundongos tratados em 24 horas com três doses da solução aquosa bruta de Brugmansia suaveolens. Tratamentos EPCMN Grupos No de animais EPC/2000 ENC/2000 Relação EPC/ENC 1 Controle negativo * 6 94a 106 a 0,89 2 C+ ** 6 68 b 132 b 0,52 b 3 SAB da B. suaveolens (1000 mg.kg p.c.) 6 72 b 128 b 0,56 b 4 SAB da B. suaveolens (500 mg.kg p.c.) 6 76 b 124 b 0,61 b 5 SAB da B. suaveolens (250 mg.kg p.c.) 6 77b 123 b 0,63 b 6 SAB da B. suaveolens (1000 mg.kg p.c.) + DXR (2 mg/kg) 6 70 c 130 c 0,54 c 191 7 SAB da B. suaveolens (500 mg.kg p.c.) + DXR (2 mg/kg) 6 75 c 125 c 0,60 c 8 SAB da B. suaveolens (250 mg.kg p.c.) + DXR (2 mg/kg) 6 88d 112 d 0,79 d a (P>0,01) não houve diferença significativa quando comparado ao controle nega- tivo; b: (P <0,01) houve diferença significativa quando comparado ao controle negativo. c P>0,01 não houve diferença significativa quando comparado ao con- trole positivo; d P<0,01 diferença significativa quando comparado ao controle positivo. *Controle negativo: substância veículo (H2O estéril) (0,1 ml/10g p.c.); **Controle Positivo: (Doxorrubicina: 2 mg/kg p.c.). A relação EPC/ENC para citotoxicidade nas doses de (250, 500 e 1000 mg/kg), da SAB de B. suaveolens, quando comparadas ao controle negativo apresentaram diferença significativa (p<0,01). Em relação aos testes empregados no grupo de anticitotoxici- dade, ocorreu semelhança na relação EPC/ENC e o controle positivo (DXR). A dose 250mg/kg, apresentou uma redução significativa (P<0,01) na relação EPC/ENC, quando comparado com o controle positivo. Discussão Os resultados obtidos através do teste do MN apresentaram atividades citotóxicas do SAB da B. suaveolens nas três doses adminis- tradas (250, 500 e 1000 mg/kg). Foi possível observar diferença signi- 192 ficativa na relação de frequências EPC/ENC quando comparados ao grupo negativo. Mesmo sendo uma planta comumente conhecido no território brasileiro, poucos estudos foram realizados utilizando a B. suaveolens, não comprovando completamente a dimensão de seus efeitos (positi- vos e negativos) no organismo. Dickel et al (2010) promoveu um es- tudo com aspectos parecidos com o presente relato, na qual através de testes utilizando ratos Wistar conseguiu identificar a capacidade cito- tóxica e neurotóxica da planta além de, também a relacionar a possí- veis danos ao material genético e a promoção do estresse oxidativo que contribuem para a patogenicidade de algumas doenças ao danifi- car importantes biomoléculas. Os resultados obtidos na relação EPC/ENC podem ser justi- ficados pela alta concentração de alcaloides que a B. suaveolens possui, substância na qual promove a proteção da planta contra agentes ex- ternos como insetos e pragas e que possui capacidade tóxica conheci- da. Griffin e Lin (2002), observaram a capacidade tóxica desses com- postos, principalmente escopolamina e hioscinamina, mas também atropina e hioscina que podem ser letais as células mesmo em concen- trações baixas, como na dose 250mg/kg que foi administrada para os experimentos do presente estudo. Em contrapartida a dose de 250 mg/kg do grupo de anticito- toxicidade apresentou atividade anticitotóxica, diferente do grupo da citotoxicidade, outro composto pode ser responsável por esse resulta- do. Os flavonoides, que também estão presentes na planta, são relata- dos na literatura e foram caracterizados por Amado et al (2011) e Hung et al (2009) como inibidores de células tumorais por apresenta- rem propriedades farmacológicas antioxidantes, possibilitando o con- trole da proliferação celular desempenhando assim, um papel impor- tante no bloqueio da oncogênese. Não foram encontrados mais estudos que testaram o potencial citotóxico e anticitotóxico da B. suaveolens, em condições parecidas com a desse experimento. Portanto, vê-se a necessidade de novos estu- dos referentes as respectivas possíveis atividades dessa planta alucinó- gena, tais como estudos genotóxicos, embriotóxicos e mutagênicos a fim de melhor entender esses processos. 193 Conclusão A solução aquosa bruta da Brugmansia suaveolens através da relação EPC/ENC apresentou: - Atividade citotóxica nasdoses de 250, 500 e 1000 mg/kg. - Não apresentou atividade anticitotóxica nas doses de 500 e 1000 mg/kg. - Apresentou atividade anticitotóxica na dose de 250 mg/kg. Conflito de interesse Não há conflito de interesses. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRAWAL, A.D. Pharmacological activities of flavonoids: a review. International Journal of Pharmaceutical Sciencies and Nanotechnology, v.4 p.1394-8, 2011. AMADO, N.G; et al. Flavonoids: potential wnt/beta-catenin signaling modulators in cancer. Life Science, v.89 n.15 p.545-54, 2011. BHATTACHARJEE, C. 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O fato da ausência de informação, impede que esta doença tenha sua devida caracterização, o que pode acabar prejudicando os menos favorecidos sobre a doença (KUCHENBEC- KER et al., 2015). A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que a ado- lescência se inicia entre 10 a 19 anos, porém, existem casos em que esta etapa da vida pode se iniciar até mesmo antes, entre 10 a 14 anos de idade. A adolescência é uma etapa da vida onde a pessoa encontra- se em um cenário de aprendizagem, estando mais acessível que os adultos à adoção de novas condutas, o que explica a pessoa com me- nos de 20 anos ser considerada parte de um público com maior priori- dade a educação para a saúde (OMS, 2014). 199 Neste período da vida, é o momento em que são definidas as ca- racterísticas sexuais secundárias, o desenvolvimento de processos psicológicos e também de padrões de identificação que ocorre a evo- lução da fase infantil para a fase adulta, por via de uma transição de um estado para outro de relativa autonomia. Contudo, a fase da pu- berdade pode não ser considerada apenas uma simples faixa etária, devido à mesma tratar-se de uma transição para a vida adulta, na qual é permeada por decisões biológicas, sociais e até psicológicas, que será uma busca constante para encontrar sua real personalidade, onde irá manifestar o comportamento negligente com o cuidado à saúde, ca- racterizando este grupo como suscetível ao vírus (RIBEIRO et al., 2010).Assim a vulnerabilidade é caracterizada por um conjunto de fatores de natureza biológica, epidemiológica, cultural e social, podendo ainda minimizar ou aumentar o risco e a proteção de uma pessoa por algu- ma determinada doença. Estes riscos a enfermidades são oriundos das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), que têm se discutido mundialmente, em que, atualmente é considerado uma das mais im- portantes preocupações de saúde pública. Na adolescência a não utili- zação de medidas preventivas contra as IST’s, tem sido associada ao início precoce da sexualidade (CARVALHO et al., 2018). Ao longo dos anos a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Huma- na (HIV) aumentou consideravelmente. No ano de 2016 foram notifi- cados cerca de vinte mil novos casos de adolescentes vivendo com HIV, inclusive, alguns indivíduos com faixa etária entre 10 a 19 anos. Estes adolescentes convivem diariamente submetidos a questões com- plexas, como por exemplo, a adesão à terapia antirretroviral, relações familiares, o silêncio e a revelação do diagnóstico, a orfandade, e outras (SEHNEM et al., 2018). Contudo, a sexualidade pode estar relacionada a várias implicações análogas à soropositividade vivenciadas pelos adolescentes que são portadores do HIV, os quais podem estar conectados ao medo da revelação do diagnóstico ao parceiro, ao preconceito advindo por parte da sociedade, as questões reprodutivas e outros fatores associa- 200 dos (LABRA, 2015). Com relação ao alto índice de epidemia de soro- positivos entre adolescentes, dar-se se a real importância para este estudo, com o intuito de intervenção nos planos de promoção, pre- venção e assistência à saúde sexual e reprodutiva. Portanto, diante das informações citadas a cima, a problemática do trabalho está pautada na real situação dos casos de infecção por HIV em adolescentes em território brasileiro. O presente trabalho tem por objetivo, retratar os desafios e as conse- quências que são encontradas por adolescentes HIV positivos no Bra- sil. Esta pesquisa aborda a reação do indivíduo ao descobrir à soropo- sitividade, bem como, à aceitação dos familiares, amigos e comunida- de em geral, as principais dificuldades encontradas pelo adolescente no período de adesão ao tratamento, os eventos de preconceito enfren- tados pelo indivíduo, a prática da relação sexual vulnerável e os índi- ces apresentados pelas regiões afetadas. Enfatiza ainda, as medidas preventivas para evitar a contaminação por este vírus ou melhorar o estilo de vida dos que já foram infectados. Metodologia Estratégia de busca Esse estudo constituiu-se de revisão sistemática da literatura sobre HIV na adolescência. Para elaboração da pesquisa foi realizada uma busca nos bancos de dados Scientific Eletronic Library Online (Sci- ELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saú- de (LILACS) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Foram pesquisados artigos publicados entre os anos de 2014 a 2019, usando as seguintes palavras-chave: HIV AND ADOLESCENCIA, sem limitações de idiomas. Os pesquisado- res revisaram os títulos e resumos dos artigos identificados na pesqui- sa inicial para determinar a relevância destas publicações. Critérios de elegibilidade Os artigos escolhidos foram considerados elegíveis se atendessem aos critérios de inclusão utilizados: (1) artigos que avaliaram a incidência 201 de casos de adolescentes vivendo com HIV; (2) trabalhos que discor- rem sobre o diagnóstico; (3) pesquisas que apresentaram resulta- dos para infecção de acordo com o gênero, e que atendessem a faixa etária padronizada como adolescência. Como critérios de exclusão, não foram incluídas publicações que fugiam do tema abordado. Os seguintes dados foram extraídos: título, primeiro autor, ano de publicação, desenho de estudo, etc. Seleção dos trabalhos No total foram avaliados 285 trabalhos sobre HIV na adoles- cência, em que, inicialmente foram localizados através da busca de dados eletrônica (Figura 1). Após cuidadosa leitura das informações contidas nestes artigos, foram excluídos 276 estudos que não atende- ram aos critérios de inclusão, restando 9 estudos selecionados. Figura 1. Etapas da seleção de artigos nas bases de dados do presente estudo 202 Análise dos dados Os dados obtidos por meio da revisão de literatura foram ta- bulados em forma de tabela para uma melhor compreensão das carac- terísticas dos estudos. Informações importantes como a metodologia aplicada e resultados obtidos, também foram descritos. Resultados e discussões Análise das publicações Analisando a literatura foram encontrados nove estudos que atendiam os critérios de inclusão do presente trabalho (Figura 1). Dentre as publicações selecionadas, duas (22,2%) se encontravam na região Nordeste do país, sendo os estados da Bahia e Ceará alvo des- tas pesquisas. Na região Sudeste, cinco estudos (55,5%) foram encon- trados, sendo quatro (44,4%) no estado do Rio de Janeiro e um (11,1%) no estado de São Paulo. A região Sul apresentou apenas um trabalho (11,1%) realizado no estado do Rio Grande do Sul. Não foram encontrados trabalhos para a região Norte e Cen- tro-Oeste que abrangesse os critérios de inclusão pré-estabelecidos para o presente estudo. Para justificar o motivo na qual foram encon- trados mais artigos na região Sudeste, pode estar relacionado ao fato de que essa região apresenta um maior número de pessoas e conse- quentemente pode apresentar um maior número de adolescentes in- fectados, o que torna a região um ótimo local para a realização de trabalhos desse gênero. 203 Figura 1. Concentração de publicações encontradas entre 2014 a 2019 No entanto, estudos como o de Maia et al. (2019), relatam que à região nordeste foi uma das mais afetadas pelo vírus no interva- lo de 2004 à 2016. Quando se analisa por estado o Pernambuco lidera o ranking com o maior número de casos notificados (23,53%) no perí- odo analisado, o que confirma os dados que indicam que à maior ocorrência de HIV está nas cidades litorâneas nordestinas, por haver maior número de turistas e exploração sexual na região. Característica dos estudos Os dados dos artigos que atenderam os critérios de elegibili- dade foram revisados de forma qualitativa e quantitativa e descritos na tabela à seguir. Tabela 1. Caracterização das publicações selecionadas. Autores, local e data. Objetivos do estudo Metodologia do estudo Principais resultados ALANO et al. São Paulo, Procurar os signifi- cados designados pelos jovens a “viver Pesquisa de natureza qualita- tiva, com 20 Viver a adolescência com o HIV envolve dimensões delicadas, 204 Brasil, 2016 a adolescência com o HIV” em uma turma de pacientes que contraiu a infec- ção ao nascer e os elementos sugeri- dos na adesão ao tratamento antirre- troviral. sujeitos (13 a 20 anos), acompa- nhados em servi- ços especializa- dos no tratamen- to da Aids pediá- trica em São Paulo, Brasil. que necessitam ser reco- nhecidas e legitimadas pelos profissionais que acompanham a trajetória desses jovens. Trata‐se de possibilitar um espa- ço no qual o adolescente possa refletir e encontrar apoio para as questões relacionadas à constru- ção de sua sexualidade e cuidados com seu pró- prio corpo. MOTTA et al. Rio Grande do Sul, Brasil, 2014 Desvelar a percep- ção do famili- ar/cuidador em relação ao cotidiano medicamento- so na perspectiva da criança e do adoles- cente que vivem com HIV/AIDS A pesquisa é qualitativa, reali- zada nos muni- cípios de Porto Alegre e Santa Maria/RS, com a participação de 12 familia- res/cuidadores, no período de 2006 a 2010. A partir da análise temá- tica emergiram as cate- gorias:implicações do cotidiano medicamento- so para as famílias e cuidado famili- ar na convivência com a doença. No cotidiano da criança ou adolescente que vive com HIV/AIDS a famí- lia percebe as dificulda- des do uso de antirretro- virais, a transição da fase infância/adolescência, as múltiplas faces do viver com HIV/AIDS. 205 PINHEI- RO et al. Ceará, Brasil, 2017 Compreender como crenças e valores das famílias de adoles- centes soropositivos para o HIV influen- ciam na dinâmica familiar. Pesquisa qualita- tiva realizada com sete familia- res de adolescen- tes com Vírus da Imunodeficiência Humana, desen- volvido num hospital de refe- rência em doen- ças infecciosas. Utilizou-se en- trevista semies- truturada para a coleta de infor- mações. Os familiares informa- ram que os adolescentes não se percebem suscetí- veis à infecção pelo Vírus da Imunodeficiên- cia Humana; considera- ram a aids uma doença grave e rodeada de dis- criminação e preconcei- tos; identificam como benefícios as orientações sobre saúde e o apoio familiar; já as barreiras foram: dificuldade de adesão ao tratamento, gravidez na adolescên- cia, “desobediência” e convivência familiar desarmonizada. TA- QUETTE a et al. Rio de Janeiro, Brasil, 2015 Conhecer as fragili- dades do sexo femi- nino que propicia- ram a contaminação pelo HIV e investi- gar os problemas enfrentados depois do diagnóstico. Estudo qualitati- vo por meio de entrevistas com mulheres jovens soropositivos em tratamento, cujo diagnóstico foi feito na adolescência. Foram entrevis- tadas 23 mulhe- res, cuja identifi- cação da doença ocorreu entre 11 e 19 anos sendo que a infecção A investigação expôs que as adolescentes acreditavam ser vulnerá- veis infecções, apesar de manterem relações se- xuais desprotegidas. Expôs também a neces- sidade de buscar pacien- tes de diversos níveis sociais, para melhor compreender os diversos contextos de vulnerabi- lidade. 206 em 21 casos foi através de rela- ções sexuais e 2 através de trans- missão sanguí- nea. PEREIRA et al. Ba- hia, Brasil 2014 O estudo procura investigar fatores associados à infec- ção pelo HIV entre adolescentes e adul- tos jovens, registra- dos no Centro de Testagem e Aconse- lhamento/CTA de Feira de Santana, Bahia. Foram processa- das informações de 3.768 indiví- duos. No período estudado, 73 jovens estavam infectados pelo HIV (1,94%). Na população feminina, foram identificadas associações, estatistica- mente significantes, para soropositividade e con- sumo de drogas, consu- mo de bebidas alcoólicas e outras drogas; estar casada ou em união estável. No sexo mascu- lino, associaram-se com a soropositividade o consumo de outras dro- gas e orientação homos- sexual/bissexual. Em ambos os sexos, na categoria com parceiro estável, a soropositivi- dade mostrou associação com companheiro usuá- rio de drogas e/ou por- tador de DST e/ou HIV. TA- QUETTE b et al. Rio de Janeiro, Brasil 2015 Entender a instabili- dade de adolescen- tes do sexo masculi- no que possibilitou na infecção pe- lo HIV e analisar os problemas enfrenta- dos depois do diag- nóstico. Pesquisa qualita- tiva através de entrevistas com homens que contraíram o HIV na adoles- cência. Foram entrevistados 16 homens jovens, que contraíram o HIV entre 11 e Esta pesquisa mostra a grande necessidade do uso de políticas públicas em relação a saúde sexual de nossos adoles- centes do sexo masculi- no, tendo que trabalhar a masculinidade em toda a sua amplitude junta- mente com diversidade sexual. 207 19 anos através de relações sexu- ais desprotegi- das, sendo 12 homo e 4 hete- rossexuais. FAVERO et al. Rio Grande do Sul, Brasil, 2016 Conhecer a vivência do uso de terapia antirretroviral para adolescentes que têm HIV/AIDS. Estudo descriti- vo-exploratório de abordagem qualitativa, de- senvolvido em um Serviço de Assistência Es- pecializada (SAE) em HIV/AIDS. Os participantes foram adolescen- tes portadores de HIV/AIDS, conhecedores de seus diagnósti- cos. Foi utilizada a técnica do grupo focal para a coleta de da- dos. O estudo demonstrou adolescente relatando como vivenciam o coti- diano terapêutico, quais as estratégias que utili- zam para facilitar adesão à terapia medicamento- sa. Conviver na adoles- cência com HIV/AIDS, assim como presenciar a adesão à terapia antirre- troviral, são vivências culturais dos participan- tes enfatizadas por valo- res e crenças. TA- QUETTE et al. Rio de Janeiro, Brasil, 2017 Conhecer a percep- ção de jovens com Aids diagnosticada na adolescência, sobre o aconselha- mento recebido na ocasião do teste. Foram realizadas 39 entrevistas em profundidade, 23 em pacientes do sexo feminino e 16 do masculino e analisamos os dados com leitu- ra exaustiva. Os resultados mostraram que menos de um terço recebeu aconselhamento pré-teste (30,8%) e 51,2% foi aconselhado no pós-teste. A maioria encontrava se desacom- panhada na comunica- ção da soropositividade. 208 CRUZ et al. Rio de Janeiro, Brasil, 2015 O estudo tem por objetivo analisar fatores associados à adesão ao tratamen- to antirretroviral entre crianças e adolescentes que adquiriram HIV a partir da infecção materna e em acompanhamento em serviços de refe- rência localizados nas cinco macrorre- giões do Brasil Foram investiga- dos: O momento da descoberta do diagnóstico, o histórico do acesso aos servi- ços de saúde e da adesão ao trata- mento e o con- texto social e familiar de 260 crianças e ado- lescentes vivendo com HIV e de seus cuidadores. Os resultados foram expostos através de três artigos distintos. Sendo o primeiro voltado para análise quantitativa de dados. O segundo que evidenciou as implica- ções no momento da descoberta do diagnósti- co. O terceiro apresen- tou dados quantitativos e qualitativos partindo da vulnerabilidade até a caracterização da natu- reza individual, institu- cional e social de cada indivíduo. Através das análises expostas con- clui-se que a melhor aceitação do diagnóstico se deve ao reconheci- mento da importância do diagnóstico, das eficácias do tratamento para a sobrevida do futuro das crianças e adolescentes. Conforme observado na literatura, são inúmeros os estudos que evidenciam o HIV desde o momento na qual o indivíduo desco- bre a doença até o período do tratamento. A adolescência de maior exposição ao vírus, pois, muitos indivíduos estão iniciando a sua fase sexual e, na maioria das vezes, acreditam que, a infecção trata-se de uma realidade distante, não aceitando o risco ao qual podem estar expostos. Estudos realizados por Galano et al. (2019), evidenciam os cuidados especializados para que os adolescentes possam se sentir seguros e ao mesmo tempo livres para descobrirem sua sexualidade e cuidados com o corpo. Além de também demonstrar a percepção da 209 normalidade devido a doença não apresentar características físicas. O que pode também ser evidenciado nos estudos de Motta et al. (2014), e Pinheiro et al. (2017), na qual é observado a ausência de sintomas em indivíduos HIV positivos, o que pode levar a não realização do trata- mento. A incidência de casos de adolescentes soropositivos no Brasil apresenta números bastantes elevados, seja no sexo masculino e/ou feminino. No entanto, Pereira et al. (2014), apresenta em seus estudos a feminização e heterossexualização da AIDS, onde diz que o HIV ocorremais em adolescentes do sexo feminino ou, em indivíduos inseridos em relacionamentos estáveis, deixando seus parceiros com uma falsa sensação de segurança, onde ocorrem relações sem o uso de preservativo. Taquette et al. (2015), entrevistou mulheres contamina- das pelo vírus HIV na qual relataram que não acreditavam que pode- riam se contaminar, apesar da falta de autocuidado e de segurança nas relações sexuais. O sexo masculino também foi alvo de estudos no trabalho de Taquette et al. (2015), onde observou por meio de entrevistas, que a falta de informação e de disponibilidade de insumos de prevenção, foram alguns dos principais fatores que contribuem para a contamina- ção desses indivíduos. Ressaltou ainda, a importância de programas de prevenção nas escolas, independente da escolaridade dos adoles- centes, vivência essa, que é comumente observada em países como a França, onde a prevalência da AIDS na faixa na adolescente é três vezes menor do que no Brasil. Muitos estudos descrevem a interação dos indivíduos infecta- dos com os tratamentos pelos quais eram submetidos. Favero et al. (2016), acreditava que o tratamento antirretroviral não deveria ser visto com algo anormal, pois, não proporciona a aceitação no meio social. A adesão do tratamento muitas vezes pode ser uma questão de difícil aceitação pelos adolescentes e suas famílias. Portanto, métodos de adesão ao tratamento são importantes para uma melhor qualidade de vida dos indivíduos infectados. Motta et al. (2014), relatou em seu estudo, casos de adolescentes que aderiram ao tratamento aceitando as medicações sem nenhuma resistência, mesmo quando o tratamento é realizado fora de casa. Além de evidenciar que, para melhor se ade- quar ao medicamento algumas famílias usam um método rotineiro no 210 horário das refeições, o que facilita na adesão à medicação, devido aos efeitos que o mesmo causa durante a ingestão. Para Taquette et al. (2015), a adolescência é uma fase onde o aconselhamento sobre a doença é de maior importância, pois é uma etapa da vida onde se adquire novas formas de pensar e viver, que irão auxiliar para a garantia de uma vida adulta ponderada. Entender o mais rápido possível a sorologia positiva para o HIV ajuda na expecta- tiva de vida dos indivíduos HIV positivos, isso faz com que o mesmo entenda a importância do tratamento para a boa qualidade de vida. A AIDS sendo uma doença crônica e incurável, acaba sendo um fato bastante impactante para um adolescente, visto que podem ocorrer alterações na sua rotina estudantil, social, devido aos sintomas e sinais que o tratamento acaba desencadeando, porém, priorizam o cuidado com a doença. A família tem um papel fundamental no período do diagnós- tico, tal como no tratamento. Ela servirá de apoio e suporte para o indivíduo, porém, o não acolhimento por parte da família, pode dei- xá-lo mais vulnerável. De acordo com Pinheiro et al. (2017), deixou evidente que as famílias que escondem o diagnóstico de outras pesso- as por terem medo do preconceito, acabam deixando o indivíduo mais vulnerável às mudanças no estilo de vida. Segundo Motta et al. (2014), relata em seus estudos que à família é primordial no processo desde o diagnóstico até o tratamento, o oferecimento do seu apoio associado ao afeto pode gerar nos adolescentes mais tranquilos, sendo essencial na busca do bem-estar dos mesmos. Entre os problemas enfrentados está em prognosticar um adolescente com HIV, portanto, especialistas na área da saúde acabam criando vínculos com alguns pacientes o que faz com que deem prognósticos mais otimistas. Apesar de qualquer indivíduo poder contrair o vírus do HIV, o grupo mais afetado são os representantes do sexo masculino, inclu- indo aqueles que fazem relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo ou com mulheres transexuais. A justificativa não está em uma questão fisiológica, mas sim porque muitos destes adolescentes não receberam apoio familiar, e uma educação voltada para o seu au- tocuidado. Excepcionalmente a transfobia e a homofobia acabam acarretando na falta de informação sobre o assunto, onde esses indiví- duos se tornam mais suscetíveis ao HIV. No estudo de Pereira et al. 211 (2014), verifica-se um número mais elevado em indivíduos soropositi- vos em grupo de bissexuais e homossexuais do sexo masculino. Adolescentes que contraíram o vírus por meio de práticas descuidadas temem ser rejeitados, hostilizados ou até mesmo serem vítimas da violência por parte da sociedade. Essas questões são mais visíveis em adolescentes gays, do sexo masculino e usuários de dro- gas, pois essa problemática e mais voltada para intimidade não reve- lada aos pais. Os especialistas devem estar preparados para auxiliar os adolescentes nessa fase de amadurecimento, que acaba sendo bem delicada no período da revelação. De acordo com Motta et al. (2014), em seus estudos, afirma que, existe por parte dos adolescentes um certo cuidado em divulgar seu estado, para se preservar do preconcei- to e discriminação, isso faz com que haja uma omissão do diagnóstico e tratamento. O preconceito afeta diretamente o adolescente portador do ví- rus, causa alterações psicológicas, desconfortos, depressão, traumas, e como consequência o indivíduo acaba ignorando o tratamento. O estudo de Cruz et al. (2015), evidencia que a não aceitação do diag- nóstico está relacionada à discriminação e ao isolamento social, o que causa dificuldades também na adesão do tratamento. Há ainda casos em que o indivíduo soropositivo acaba cometendo suicídio por não aguentar à rejeição e exclusão da sociedade. Conclusão Considerando o exposto a cima, é possível verificar que, os adolescentes representam um grupo social vulnerável ao HIV pois na maioria dos casos, estes indivíduos não possuem informações relevan- tes a respeito da aquisição da infecção, principalmente, aquelas in- formações necessárias que são oriundas do ambiente familiar. Para os casos em que o adolescente já foi diagnosticado HIV positivo, é notó- rio que a maior dificuldade em aceitar o diagnóstico e o tratamento da infecção está intimamente relacionado ao fato da não aceitação social e familiar, pois, muitos destes adolescentes sofrem preconceito ao revelarem o diagnóstico da aquisição viral. A autoconfiança por parte de alguns destes adolescentes, também representa um agravante para os autos índices da infecção na população, pois no decorrer do trabalho foi possível observar que 212 alguns autores relatam que, a maioria dos adolescentes acreditam que nunca poderiam contrair a infecção através da relação sexual, fazendo com que os mesmos, se expusessem a um ato sexual desprotegido e assim, aumentando as possibilidades de contração da infecção e con- sequentemente a não aceitação. Portanto, acredita-se que, é necessário intensificar as campa- nhas de combate ao HIV em todas as instâncias sociais possíveis, como por exemplo, realizar trabalhos com o soropositivo e os familia- res com acompanhamento psicológico, de assistência social e médica a fim de mediar a aceitação de ambas as partes com relação ao diag- nóstico desta infecção. Outra ação que poderia auxiliar a reduzir os números de soropositividade para o HIV entre os adolescentes seria, a intensificação de campanhas de combate ao vírus de forma geral, maximizando a quantidade de palestras, distribuição de preservativos em pontos estratégicos, oferta de oficinas e minicursos voltados a prevenção, aceitação e tratamento do HIV, assim como, a disponibili- dade de testes rápidos em vários eventos do ano para o maior número de indivíduos possíveis e com maior periodicidade, mesmo fora das datas destinadas a campanhas nacionais. Referências bibliográficas CARVALHO, G.R.O.; PINTO, R.G.S.; SANTOS, M.S. Conheci- mento sobre as infecções sexualmente transmissíveispor estudantes adolescentes de escolas públicas. Revista Adolesc. Saúde, v. 15, n. 1: p. 7-17, 2018. CRUZ, S. L. M. Crianças e adolescentes vivendo com HIV em acom- panhamento em serviços brasileiros: análise dos fatores de vulnerabi- lidade na adesão ao tratamento antirretroviral. 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A Constituição Federal de 1988 dedica o seu Capítulo VI ao Meio Ambiente e, em seu Art. 225, determina que: “Todos têm direi- to ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações”. Portanto, um meio ambiente equilibra- do é um direito fundamental do indivíduo, sendo dever do Estado implementar políticas públicas que promovam o desenvolvimento econômico de forma sustentável. É possível dizer assim, que a Consti- tuição Federal de 1988 sugere a criação de um instrumento que viesse a contribuir para o desenvolvimento dessas políticas públicas, surgin- do assim o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços Eco- lógicos (ICMS Ecológico). Trata-se de um instrumento de compensação fiscal, onde os recursos financeiros do ICMS são rateados entre os municípios de acordo com as ações realizadas em prol do meio ambiente, sendo 216 estas condicionantes do valor a ser recebido. É partindo desse enten- dimento que se estuda neste artigo o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços Ecológicos (ICMS Ecológico) na implementa- ção de políticas públicas ambientais. Entende-se que as políticas ambientais juntamente com as po- líticas econômicas, como pressuposto de um desenvolvimento susten- tável, tem a função de reduzir a problemática do desenvolvimento econômico e da sustentabilidade. Por meio desta articulação podem ser desenvolvidas as cha- madas receitas sustentáveis, onde segundo nosso entendimento insere- se o ICMS Ecológico. Os estudos teóricos realizados apontam a ine- xistência de legislação federal que determine qualquer obrigatoriedade referente à aplicação do montante de ICMS Ecológico recebido pelos municípios, com isso, os valores arrecadados através de projetos soci- oambientais geradores do ICMS-Ecológico (na sua totalidade) não têm destinação específica, ficando sua aplicação a critério do gestor. Considerando a realidade contemporânea e a urgência de es- tratégias que possam contribuir com a preservação, recuperação e educação ambiental, neste artigo apresentamos o estudo do ICMS Ecológico como um instrumento capaz de incentivar a implementa- ção de políticas públicas nos municípios. ICMS-Ecológico Desde a década de 1990, os processos de transferência fiscal ambiental (TFA) foram implementados como parte de um conjunto integrado de incentivos para recompensar os esforços dos governos locais na busca de estratégias para o desenvolvimento sustentável. Estes processos estão sendo amplamente utilizados para redistribuir as receitas públicas aos governos locais. Desta forma, a TFA pode ser entendida como uma forma de responder as preocupações emergentes sobre conservação de recursos, expansão e biodiversidade. Em resposta aos requisitos de governança estabelecidos pela Constituição de 1988, no início dos anos 90 o estado do Paraná criou o ICMS-E como uma medida para compensar os municípios que enfrentaram custos de oportunidade de perda de receita devido à pro- teção das bacias hidrográficas para maior área metropolitana de Curi- 217 tiba. Em vez de tornar essa compensação restrita a essa área, legisla- dores determinados a estendê-lo a todo o Estado, e incluir uma parte igual para outras áreas protegidas. Ring et al. (2011) mencionam que essas áreas incluem áreas públicas e privadas protegidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), bem como áreas de florestas de propriedade comum localmente relevantes conhecidas como faxinais. Para Tacconi et al. (2011), as transferências fiscais intergo- vernamentais foram identificadas como um instrumento inovador para compensação das jurisdições locais pelos bens e serviços ecológi-cos. É neste contexto que desde seu surgimento o ICMS Ecológico que, de acordo com Souza e Aragão (2012), vem sendo implementado como parte de uma estratégia para criar um conjunto integrado de incentivos para apoiar o desenvolvimento sustentável. Da perspectiva das finanças públicas, as transferências fiscais são um instrumento capaz de incluir os custos causados pelas externa- lidades do espaço geográfico e fortalecer a capacidade financeira in- tergovernamental. No entanto, de acordo com Ring et al. (2011), a maioria dos Estados usa este instrumento predominantemente para recompensar as áreas social e econômica do setor público, em vez promover atributos ecológicos ou esforços de proteção e/ou educação ambiental. O Brasil foi o primeiro país a introduzir transferências fiscais ecológicas, através da adoção de o “ICMS Ecológico” (ICMS-E) em vários estados para compensar os municípios pelo uso da terra com restrições impostas por áreas protegidas. Considerando com base em Myszczuk e Souza (2016), que as questões ambientais são tidas como ativos de política pública, a gestão pública de entidades federais tam- bém deve levar em conta a política ambiental orientada pela Consti- tuição Federal de 1988. Além disso, existem outros dois princípios estabelecidos na constituição que precisam ser observados: a) sustentabilidade, que estabelece o dever do governo e da comunidade de defender e preservar o ambiente natural para as gera- ções atuais e futuras; b) responsabilidade ambiental, responsabilizando o ônus dos impactos e a recuperação de danos causados pelo agente causador do meio ambiente. 218 Entretanto, Quintas (2006) aponta que no cotidiano, o pro- cesso de apropriação e uso dos recursos naturais não ocorre de forma harmônica. Existem conflitos potenciais ou explícitos entre atores sociais, classes sociais e setores da sociedade para controlar sua defesa e proteção, apesar do princípio constitucional de que “todos têm direi- to a um ambiente ecologicamente equilibrado”. Ainda assim, de acor- do com o autor, o governo é o principal responsável pela proteção ambiental no Brasil, e é seu dever intervir em processos conflitantes para garantir a qualidade de vida, intervindo como mediador para conflito de interesses inclusive nas questões ambientais. Com base no artigo 2º, inciso I da Lei Federal 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambi- ente, compete à administração pública em relação ao meio ambiente: atuação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, con- siderando o meio ambiente como bem público a ser necessariamente garantido e protegido com vistas ao uso coletivo. Nesse sentido, a gestão pública municipal tem papel impor- tante na gestão e destinação de recursos. Observa-se especialmente que nos municípios de pequeno e médio porte; aqueles com baixa população e diferentes realidades territoriais; os extremamente hete- rogêneos, cuja principal característica é a diversidade de situações socioeconômicas, estruturas administrativas e modos de governança. Segundo Neves (2006), as maiores dificuldades são encontra- das no nível do governo local e, especialmente, nos municípios de baixo índice populacional. A esse respeito, Arretche (2006) apresenta que um dos grandes problemas é a “oligarquia regionalista” contro- lando a despesa pública, algo que a Constituição de 1988 não conse- guiu extinguir totalmente. Do ponto de vista de Abrucio (2005), os municípios, até a Constituição de 1988, não estavam imunes aos re- manescentes de uma cultura política local resistente à accountability democrática, práticas de criação centralizadas na administração pú- blica, denominadas por Oliveira (2004) “executivismo” ou “prefeitu- ralização”, embora haja assessores políticos. Os governos Estaduais e Municipais são obrigados a criar de- partamentos e conselhos capazes de responder às preocupações ambi- entais da população. 219 O ICMS-E já foi adotado por lei em 16 estados brasileiros: Paraná (1990), São Paulo (1993), Minas Gerais (1995), Rondônia (1996), Amapá (1996), Rio Grande do Sul (1997), Mato Grosso (2000), Mato Grosso do Sul (2000), Pernambuco (2000), Tocantins (2002), Acre (2004), Rio de Janeiro (2007), Ceará (2007), Piauí (2008), Paraíba (2011) e Goiás (2011); todos incluíram um fator de conservação na alocação da fórmula, variando de 2 a 25% da partici- pação das receitas de ICMS dos municípios. Segundo Campos (2000), em muitos casos, o valor da transferência do ICMS ecológico repre- senta uma parcela significativa do orçamento municipal, variando de 28% a 82% do total de recursos recebidos (CAMPOS, 2000; RIVA; FONSECA; HASENCLEVER, 2007). GUARAÍ-TO: Fragilidades Ambientais Emergenciais Consideramos como universo desta pesquisa a cidade de Guaraí, que está localizada a 178 quilômetros de Palmas, capital do Estado do Tocantins, a uma latitude 08º50’03’’ Sul e a uma longitude 48º30'37’’ Oeste, estando a uma altitude de 259 metros. Sua popula- ção estimada em 2010 era de 23.200 habitantes. Podemos citar que a mesorregião onde Guaraí se encontra é denominada de Ocidental do Tocantins. Sua microrregião é a de Miracema do Tocantins. Conforme dados da Secretaria do Planejamento e Coordena- ção (SEPLAN, 2017), Guaraí ocupa a 743ª posição, em 2010, em relação aos 5.565 municípios do Brasil, sendo que 742 (13,33%) mu- nicípios estão em situação melhor e 4.823 (86,67%) municípios estão em situação igual ou pior. Em relação aos 139 outros municípios de Tocantins, Guaraí ocupa a 5ª posição, sendo que 4 (2,88%) municí- pios estão em situação melhor e 135 (97,12%) municípios estão em situação pior ou igual. No estudo do perfil ambiental do município conseguimos compreender as necessidades presentes no cotidiano da gestão e da população, ligadas à questão ambiental, que carecem de maior atenção e vêm ganhando destaque e primazia nas políticas públicas e ações ambientais. Esclarecemos que foram utilizados dados de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), pois se trata de dados oficiais e se constitui no registro utilizado como 220 parâmetro para o governo local. De acordo com o IBGE (2010) esgotamento sanitário instalado em apenas 22,6% das residências. O município conta com uma Estação de Tratamento de Esgotamento (ETE) que já se encontra em funcionamento desde o ano de 2005. Em relação à arborização das vias públicas é possível verificar um bom percentual, com 84,7% das vias públicas arborizadas, somente 1,2% das vias públicas do município em estudo são urbanizadas (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio). Quanto aos problemas ambientais verificados no município de Guaraí – TO, de acordo com o documento de perfil socioeconômico dos municípios do Tocantins de 2017, tem destaque as queimadas na localidade, verificando-se um crescimento significativo, principalmente de 2014 para 2015, conforme é possível observar no Gráfico 1. Gráfico 2: Evolução dos pontos de queimadas em Guaraí - TO Fonte: Tocantins (2017). Outra problemática identificada é referente à destinação do lixo, que quando inadequada traz significativos impactos ambientais, verificando-se evolução positiva na destinação, conforme é possível verificar na Tabela 1. 221 Tabela 1: Destinação do lixo em Guaraí - TO Fonte: Tocantins (2017). Em relação à destinação do lixo, vale destacar a problemática dos lixões de Guaraí até o ano de 2017, onde observava-se um campo fértil de geração de doenças, com acúmulo de pneus, fácil acesso de catadores de materiais recicláveis, entre outros fatores, conforme demonstra a Figura 1. Figura 1: Lixão em Guaraí - TO Fonte: Dados primários da pesquisa. 222 Para modificar essa realidade, a Prefeitura tem desenvolvidoações como o Plano Municipal de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos de Guaraí (PMGIRS), que foi aprovado no ano de 2018 a Minuta e aguarda neste ano de 2019 a aprovação do Projeto de Lei pela Câmara. Intervenções já vêm sendo realizadas e estão encontrando resultados positivos, conforme é possível observar na Figura 2. Figura 2: Lixão em Guaraí – TO após início das intervenções Fonte: Dados primários da pesquisa. Em relação à destinação cabe destacar o Subprograma Passo Limpo do Programa Cataguará da Secretaria Municipal do Meio Ambiente que tem promovido uma parceria com catadores da cidade para a coleta seletiva e destinação de resíduos para reciclagem, alcançando resultados positivos em relação ao assunto. A poluição tem sido vista também como uma problemática, não sendo encontrados dados estatísticos sobre o assunto, todavia, reportagens apontam poluição sonora e das águas de rios, sendo esta última decorrente, principalmente, de crimes ambientais. Dessa forma, ratifica-se a demanda da cidade em relação às políticas ambientais. Material e Método Realizamos pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa com base em revisão de literatura e investigação documental, conside- rando a construção do cenário sociopolítico econômico e legal do país acerca do tema estudado. A partir de revisão de literatura pode-se 223 compreender a organização política do país e a relação interdependen- te dos entes federados. Desta forma, consolidamos conhecimento sobre a constituição das receitas públicas no Brasil, bem como os mecanismos para a sua aplicação, destinação e mecanismos de fiscali- zação. Realizamos o procedimento da coleta de dados por meio de análise documental do município de Guaraí - TO e do Estado de To- cantins. Tomamos como base documental a legislação estadual nº 1.323/02, criada com a perspectiva de garantir o repasse do ICMS-E. Salienta-se que a referida lei dispõe sobre os índices que compõem o cálculo da parcela do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos Municípios, para a qual se justifica a composição dos cálculos no artigo 3º desta lei, fica a cargo do município demonstrar as ações rea- lizadas e os dados consolidados sobre a pontuação dos critérios do ICMS-E. Destacamos que na pesquisa buscamos fonte documental oficial do período de 2007 a 2017. A pesquisa classifica-se como um estudo de caso. Na posição de Lüdke e André (1986), o estudo de caso como estratégia de pesqui- sa. Pode ser semelhante a outros, mas é também distinto, pois tem um interesse próprio, único, particular e representa um potencial na edu- cação. Destacam em seus estudos as características de casos naturalís- ticos, ricos em dados descritivos, com um plano aberto e flexível que focaliza a realidade de modo complexo e contextualizado. Para atingir os objetivos da pesquisa foi utilizada a Análise documental como instrumentos de coleta de dados, a partir de docu- mentos publicados no município em estudo, desde o perfil socioeco- nômico do município até as legislações que envolvem o assunto, fa- zendo uma leitura seletiva dos documentos, considerando os objetivos traçados nesta pesquisa para seleção dos dados que seriam tratados e analisados. Tratamento De Dados e Discussão Panorama atual da arrecadação do ICMS Ecológico no município de Guaraí O Estado do Tocantins instituiu o seu ICMS Ecológico por meio da Lei nº 1.323, de 04 de abril de 2002, deixando claro, logo em seu artigo 1°, a intenção do legislador em beneficiar municípios que se mostrem engajados nas causas ambientais. A metodologia utilizada 224 pelo estado para o cálculo premia os municípios que comprovam atuação nas áreas de política municipal de Meio Ambiente, combate e controle às queimadas, unidades de conservação e terras indígenas e saneamento básico. Todo o cálculo do ICMS Ecológico é baseado no ICMS normal. Do ICMS normal arrecadado pelo Estado, 25% são repassados aos municípios. A forma de distribuição desses 25% aos municípios é feita com a aplicação do Índice de Participação dos Municípios (IPM). A composição do IPM segue cinco critérios: (1) o Valor Adicionado (75%), que é resultante da movimentação econômica (adição de riqueza) do município; (2) a Quota igual (8%) para todos os municípios; (3 e 4) o Número de Habitantes e a Área Territorial, com percentuais de 2% cada, (5) o ICMS ecológico, que representa os 13% restantes destinados aos municípios segundo critérios quantitativos e qualitativos. O percentual do ICMS Ecológico é dividido em relação aos seguintes temas: Política Municipal de Meio Ambiente (2%); Unidades de Conservação e Terras Indígenas (3,5%); Controle de queimadas e combate a incêndios (2%); Conservação do solo (2%); Saneamento básico, conservação da água, coleta e destinação do lixo (3,5%). Do exposto, entende-se que o ICMS Ecológico é utilizado no município de Guaraí para referenciar critérios de divisão de ICMS ligados à manutenção da qualidade do meio ambiente. Bastante abrangente, como se vê, a lei atenta para critérios que vão além das áreas de reserva, incentivando a preocupação com a manutenção desses espaços por meio do controle de queimadas, bem como com questões de saneamento urbano, como a coleta e destinação de lixo, o que demanda uma atuação direta das prefeituras. Como em outros estados, a legislação tocantinense previu a implantação gradativa dos critérios ambientais até, no ano de 2007, haver a implementação total com o repasse de 13% (treze por cento) do ICMS dos municípios, somados todos os critérios ambientais, como mostra o anexo da Lei n° 1.323: Tabela 2: Critérios ambientais e ano de implementação em Tocantins Critérios Ano de Implantação / Índices de Cálculos 225 2003 2004 2005 2006 2007 Valor Adicionado 82,5 80,2 78,9 75,6 75,0 Quota Igual 9,0 8,5 8,0 8,0 8,0 Número de habitantes 2,5 2,4 2,3 2,2 2,0 Área territorial 2,5 2,4 2,3 2,2 2,0 Política Municipal do Meio Ambiente 0,5 1,0 1,5 2,0 2,0 Unidades de Conservação e Terras Indígenas 1,0 1,5 2,0 2,5 3,5 Controle e combate a queimadas 0,5 1,5 1,5 2,0 2,0 Conservação dos Solos 0,5 1,0 1,5 2,0 2,0 Saneamento Básico e Conservação da Água 1,0 1,5 2,0 3,5 3,5 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: Anexo único à lei nº 1.323, de 4 de abril de 2002. Importa esclarecer o cálculo da parcela do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios fica sob a responsabilidade do Instituto Natureza do Tocantins (NATURANTINS), autarquia estadual criada em 1996, que tem por função a execução de políticas públicas voltadas para a preservação e conservação dos recursos naturais, propiciando o seu aproveitamento de forma a assegurar sua disponibilidade para a atual e futura geração. A legislação estadual nº 1.323/02 dispõe sobre os repasses do ICMS-E, que acontecem em decorrência das ações aplicadas ao meio ambiente, em atendimento aos critérios do ICMS-E tais como: política Municipal de Meio Ambiente (2%); Unidades de Conservação e Terras Indígenas (3,5%); Controle de queimadas e combate a incêndios (2%); Conservação dos Solos (2%); e ainda, Saneamento Básico e Conservação da Água (3,5%). Para Sachs (2009), em consequência das ações ambientais aplicadas desencadeia-se um processo de desenvolvimento sustentável que melhora as condições de vida da população e, ao mesmo tempo, respeita os limites e a capacidade dos ecossistemas, preservando e recuperando a biota. Essa etapa de distribuição de percentuais e critérios definidos pela legislação estadual nº 1.323/2002 é o resultado de anos de 226 estudo; consulta à sociedade civil e discussões que definiram o índice de 13% para repasse do ICMS-E. Após a análise dos índices de repasse do ICMS-E, estes representam ações ambientais que no entendimento de Sachs (2009) colaboram parao desenvolvimento sustentável e, ainda, são considerados um equilíbrio de sintonia entre as cinco diferentes dimensões: social, ambiental, territorial, econômica e política. Nesses pilares evidencia-se a necessidade da participação efetiva das organizações privadas e públicas. Desta forma a receita total distribuída aos municípios com os critérios ambientais são os seguintes: Tabela 3: Receita total distribuída aos municípios conforme critérios ambientais VA e IBGE ICMS Ecológico Valor Total Ano 2007 2.616.973,43 167.892,94 2.784.866,37 Ano 2008 3.099.056,66 102.037,87 3.201.094,53 Ano 2009 2.539.226,40 100.348,23 3.278.790,29 Ano 2010 3.159.306,46 119.483,83 3.276.661,28 Ano 2011 3.857.049,08 198.205,63 4.055.254,71 Ano 2012 4.265.304,97 178.338,62 4.443.643,59 Ano 2013 5.218.972,89 385.426,80 5.604.399,69 Ano 2014 6.762.433,11 964.516,46 7.726.949,57 Ano 2015 6.565.571,46 446.276,32 7.011.847,78 Ano 2016 5.880.637,15 324.934,88 6.205.572,03 Ano 2017 9.823.735,70 701.727,74 10.525.463,44 Fonte: Tocantins (2018). Ao analisar a distribuição do ICMS Ecológico a partir de vi- sualização gráfica é possível perceber o significativo crescimento de repasse entre 2007 e 2017 (Gráfico 2 e 3). Gráfico 2: ICMS Ecológico 227 Fonte: Tocantins (2018). Gráfico 3: ICMS Ecológico Guaraí – R$ Fonte: Tocantins (2018). Ressalta-se, com base em Silva (2007) que o município de Guaraí, contemplado com um acréscimo dos valores repassados do ICMS Ecológico anos após anos, o qual começou a receber este recur- so desde o ano de 2004, neste mesmo ano recebeu um valor equiva- lente a R$ 35.498,76, já em 2010 o valor foi de R$ 426.242,74, isso graças às inúmeras e diversificadas ações que foram realizadas pela Coordenadoria Municipal do Meio Ambiente (CMMA). Nota-se ainda que a grande diferença de valores comparados aos anos é devi- do à implantação de políticas voltadas ao meio ambiente, garantido uma melhor qualidade de vida a todos os envolvidos. A adoção do ICMS Ecológico instala o critério ambiental na redistribuição do imposto. A partir desse mecanismo cria-se uma oportunidade para o Estado influir no processo de desenvolvimento 25% ICMS COTA PARTE MUNICIPIOS COTA PARTE ICMS ECOLOGICO DOS MUNICIPIOS Ano2007 Ano2008 Ano2009 Ano2010 Ano2011 Ano2012 228 dos municípios, premiando algumas atividades e coibindo outras. A ideia do ICMS Ecológico é proporcionar aos municípios o investi- mento em saneamento ambiental, por exemplo, e/ou compensar aqueles que sofrem restrições de ocupação e uso de parte de seus terri- tórios, em função das unidades de conservação. De acordo com Fiúza (2003), o ICMS Ecológico tem como funções principais estimular os municípios a adotarem iniciativas de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável e recompensar os municípios que possuam áreas protegidas em seu território. Se- gundo o autor, o ICMS Ecológico surgiu como uma forma de com- pensar os municípios pela restrição de uso do solo em locais protegi- dos. Explica-se que o ICMS Ecológico é calculado a partir do pro- duto entre dois índices, um qualitativo e outro quantitativo, conforme previsto no Decreto n. 1.666, de 26 de dezembro de 2002, com seu Anexo III trazendo as formas de cálculo. Resumidamente é possível dizer que o índice qualitativo é analisado a partir da prestação de contas realizada para a NATURANTINS, sendo atribuída uma nota para esse quesito, enquanto o índice quantitativo considera os gastos feitos em suas funções na dotação orçamentária, também atribuindo nota conforme previsto em lei. As notas qualitativa e quantitativa são multiplicadas e o produto é considerado para cálculo do repasse. A partir do levantamento documental realizado foi possível verificar que o melhor caminho para aumentar a arrecadação de ICMS Ecológico do município é focar nas funções 17 (Saneamento Básico) e 18 (Gestão Ambiental), que considera como fundamentais nesse processo. Ele explica que no município de Guaraí – TO, as Secretarias de Infraestrutura e Obras e Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos não possuem recursos específicos para essas políti- cas, sendo campos potenciais de aumento da arrecadação. Isso porque essas secretarias realizam atividades que podem ser empenhadas nas funções 17 e 18, o que já aumentaria a arrecadação de ICMS Ecológi- co. A partir dessa possibilidade levantada, esta pesquisadora bus- cou se aprofundar no assunto, analisando as legislações e o portal da transparência do município. Essa possibilidade pode ser confirmada a partir da Lei Complementar n. 008, de 22 de dezembro de 2017, que 229 traz em seu corpo entre as funções da Secretaria Municipal Infraestru- tura e Obras: “VI- executar obras de saneamento básico, em articula- ção com as Secretarias Municipais de Saúde e de Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos; VII- promover os serviços de reposi- ção, construção, conservação e pavimentação das vias públicas; IX- manter a rede de galerias pluviais limpas e fiscalizar a limpeza dos cursos d’água; [“...]”. Verifica-se, portanto, funções que podem ser empenhadas nas funções 17 e 18 o que confirma essa possibilidade. Na letra da mesma lei também foi identificada essa possibilidade nas funções da Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Turismo, quando diz: “VI- executar obras de saneamento básico, em articulação com as Secreta- rias Municipais de Saúde e de Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos; VII- promover os serviços de reposição, construção, conservação e pavimentação das vias públicas; IX- manter a rede de galerias pluviais limpas e fiscalizar a limpeza dos cursos d’água; [...]”. A partir da leitura das legislações acredita-se ser importante mencionar a Lei Municipal n. 602, de 16 de dezembro de 2015, que criou o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável, tendo dentre suas funções: “participar na definição das políticas para o desenvolvimento rural, o abastecimento alimentar e a defesa do meio ambiente; [...] zelar pelo cumprimento das leis municipais e das questões relativas ao meio ambiente, sugerindo, inclusive, mudanças visando ao seu aperfeiçoamento; [...]”, o que lhe habilita como figura importante para aumento da arrecadação do ICMS Ecológico. Outra possibilidade de aumentar essa arrecadação é a melho- ria da prestação de contas, com todos os comprovantes das funções empenhadas com registro na Receita e entrega ao NATURANTINS, aumentando a pontuação qualitativa. Dessa forma, verifica-se as pos- sibilidades de uso do ICMS Ecológico nas políticas ambientais, desta- cando-se as demandas de saneamento básico e redução das poluições e queimadas. Conclusão Apesar de o instituto ser o mesmo, o ICMS Ecológico tem contornos diferentes em cada estado, gerando resultados também diferentes. A falta de informações acerca dos resultados obtidos por alguns deles torna ainda mais difícil a identificação de um padrão de desempenho. Assim, tem-se que, de maneira geral, a implementação do ICMS Ecológico trouxe benefícios a diversos municípios dos estados 230 adotantes. Entretanto, esses resultados não foram lineares, sendo mais significantes em determinados estados do que em outros, além disso, se mostrou um ótimo meio de incentivar os municípios a criar ou defender a criação de mais áreas de preservação e a melhorar a quali- dade das áreas já protegidas com o intuito de aumentar a arrecada- ção.. Tais diferenças podem ser produto de uma série de variáveis, sendo interessante levantar algumas explicações para esses resultados, ressaltando-se que, até então, tratam-se apenas de novas hipóteses originadas durante a execução deste trabalho. Para análise das possibilidades de aumento da arrecadação de ICMS Ecológico para implementação de políticas socioambientais em Guaraí – TO foinecessário considerar a legislação do município relacionada ao assunto, além de analisar no Portal da Transparência as despesas e o empenho realizado, considerando especificamente as áreas da Secretaria de Infraestrutura e Obras e da Secretaria de Agri- cultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, as quais foram identifi- cadas durante a pesquisa como aquelas que não possuem recursos próprios, realizando suas ações a partir de receitas da Prefeitura, abrindo caminho para redirecionamento do empenho e, consequen- temente, para aumento do ICMS Ecológico. O estudo verificou como possibilidade de aumento de sua arrecadação a maior qualidade na prestação de contas entregue ao NATURATINS e o empenho nas funções 17 e 18 de ações realizadas por secretarias que não contam com recursos específicos, como a Secretaria de Infraestrutura e Obras e da Secretaria de Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, sendo essas possibilidades res- paldadas em lei. Espera-se que com isso, o interesse de novos pesqui- sadores seja despertado, estimulando a realização de novas pesquisas em busca de melhores conclusões, sempre buscando o aperfeiçoamen- to do instituto, em prol da sociedade. Referências bibliograficas ABRUCIO, FL Os Avanços e os Dilemas do Modelo Pós- Burocrático: A reforma da administração pública à luz da experiência 231 internacional recente. In: Bresser Pereira, LC e Spink, PK, Eds., Re- forma do Estado e Administração Pública Gerencial. 6.ed. FGV: Rio de Janeiro, 173-200, 2005. ARRETCHE, MTS. 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O vírus da anemia infecciosa equina (VAIE), agente causador da infecção, pertence à família Retroviridae, gênero Lentivirus (ISSEL & COGGINS, 1979; CLABOUGH, 1990; COOK et al., 2001). Segundo McClure et al. (1982), a doença foi descoberta em território francês no final do século XX e atualmente está distribuída em todo o globo. No Brasil os primeiros diagnósticos também surgi- ram no século XX, nos Estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janei- ro (GUERREIRO et al., 1968). Carlson (2006) ressalta que AIE é uma doença infectoconta- giosa incurável, a partir de uma virose fácil de se disseminar por entre a população, restringida apenas a equinos, asininos e muares, causan- do sintomas como febre, anemia hemolítica, icterícia, depressão, e- dema e perda de peso recorrente. Existem particularmente dois meios de transmissão da doen- ça, através do sangue, principal forma de transmissão; e por meio da utilização de equipamentos (esporas e arreios). Entretanto, ainda pode dar-se por excreções e secreções (incluindo colostro, leite, saliva, urina e sêmen), por agulhas contaminadas, material cirúrgico, material de 235 casquear, e outros objetos contaminados com o vírus (COOK et al., 2001), contaminados por um animal soropositivo e através da picada dos possíveis vetores, a mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans) e mutucas, pertencentes ao gênero Tabanus (ISSEL & FOIL, 1984; NOGUEIRA et al., 2017). O VAIE pertence à família Retroviridae que é composta pelos gêneros Alfaretrovírus, Spumavírus, Epsilonretrovírus, Deltaretrovírus, Ga- maretrovírus e o Lentivírus (CUENCA, 2011). As caraterísticas encon- tradas na VAIE são semelhantes na imunodeficiência humana (HIV), no vírus da imunodeficiência suína (SIV), o agente da Maed-Visna (MV), vírus imunodeficiência felina (FIV), vírus da imunodeficiência bovina, e as bactérias da artrite encefalite caprina (CAE) lesando a saúde dos animais, característico da família viral (FIELDS & KNIPE, 1990; OLMSTED et al., 1989). A transmissão do VAIE se dar por meio de insetos artrópodes da ordem díptera, que são insetos hematófagos, entre eles os tabaní- deos: Crysops flavidus (Mosca veado), Hybromitra spp, Simulium vitta- tum (borrachudos), S. calcitrans (mosca do estábulo), e especialmente o da espécie Tabanus sp. (mosca do cavalo) (SELLON, 2008; RIBEI-