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DIVERSIDADE_ETNICO-CULTURAL II

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EDUCAÇÃO SUPERIOR
Modalidade Semipresencial
Diversidade 
Étnico-Cultural
São Paulo
2017
Diversidade 
Étnico-Cultural
Rodrigo Medina Zagni
Vivian Fiori
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL
Z23d
Zagni, Rodrigo Medina.
Diversidade étnico-cultural. / Rodrigo Medina Zagni, Vivian Fiori. 
São Paulo: Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual, 2017.
100 p.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-8456-213-8
1. Multiculturalismo. 2. Relações culturais. I. Fiori, Vivian. II. 
Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual. III. Título.
CDD 301.2
Pró-Reitoria de Educação a Distância: Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr.
Autoria: Rodrigo Medina Zagni, Vivian Fiori
Revisão Técnica: Vivian Fiori
Revisão Textual: Luciano Vieira Francisco
2017 © Cruzeiro do Sul Educacional. Cruzeiro do Sul Virtual. 
www.cruzeirodosulvirtual.com.br | Tel: (11) 3385-3009
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização 
por escrito dos autores e detentor dos direitos autorais
Diversidade Étnico-Cultural
Plano de Aula
9 Unidade I – Natureza da Cultura
25 Unidade II – Teorias sobre Cultura
41 Unidade III – Diversidade Étnico-Cultural
53 Unidade IV – Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
69 Unidade V – Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
85 Unidade VI – Condição Humana e Diversidade das Culturas em Tempos de Globalização
SUMÁRIO
 
6
PLANO DE
AULA
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da 
sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário 
fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da 
sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
 
7
Objetivos de aprendizagem
Un
id
ad
e I Natureza da Cultura
 » Tratar das características da cultura; 
 » Definir alguns conceitos para cultura; 
 » Evidenciar a relação homem-natureza e a cultura;
 » Tratar da obra de alguns autores sobre população, sociedade e cultura.
Un
id
ad
e I
I
Teorias sobre Cultura
 » Analisar algumas teorias sobre cultura;
 » Discutir alguns teóricos e suas obras sobre cultura.
Un
id
ad
e I
II Diversidade Étnico-Cultural
 » Tratar da diversidade cultural e algumas teorias sobre o assunto;
 » Explicar a visão etnocêntrica;
 » Evidenciar as formas de contracultura.
Un
id
ad
e I
V Cultura Urbana, Rural e as Comunidades Tradicionais
 » Analisar alguns aspectos da cultura urbana, rural e das comunidades tradicionais, principalmente no Brasil;
 » Discutir sobre os povos indígenas e quilombolas.
Un
id
ad
e V Pluralidade Cultural, Educação e Políticas Públicas no Brasil
 » Evidenciar alguns aspectos da cultura brasileira;
 » Tratar das influências multiculturais do Brasil;
 » Discutir a questão da educação e das políticas em relação à pluralidade cultural no Brasil.
Un
id
ad
e V
I
Condição Humana e Diversidade das Culturas em Tempos de Globalização
 » Evidenciar as formas de globalização no mundo atual;
 » Destacar as influências na cultura a partir da globalização.
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
I
Natureza da Cultura
Natureza da Cultura
UNIDADE
I
10
Cultura como Componente Indissociável da 
Condição Humana
A cultura se define, segundo a Antropologia Cultural, como o ato voluntário humano que 
é consciente de sua finalidade; ou seja, trata-se da ação humana consciente de que produzirá 
resultados.
Isso, por si só, permite-nos empreender uma série de reflexões; vamos realizá-las, então, con-
juntamente, após observarmos atentamente a Figura abaixo:
Figura 1
Podemos começar percebendo que o pensar humano se distingue do pensar de outros seres 
em natureza exatamente por seu grau de consciência, ou seja, o homem é consciente de que 
suas ações têm resultados, ou seja, o ser humano tem plena capacidade de consciência de que 
aquilo que fizer trará consequências.
No caso da Figura acima, por exemplo, a consciência de que poderia chover levou nosso 
personagem a decidir por levar consigo um guarda-chuva. Tendo chovido, o resultado de sua 
ação inicial passa a receber um valor; como o resultado foi o esperado, ou seja, evitou tomar 
chuva, o valor atribuído por esse ao resultado foi positivo, foi bom.
Inicialmente, percebamos que em seu pensar, nosso personagem imaginou claramente a 
possibilidade de chover – problema – e imediatamente ponderou em apanhar um guarda-chuva 
– a solução mais adequada ao problema. Ao fazer isso, deu uma espécie de “salto para o futuro” 
em apenas um pensamento; ou seja, não havia chovido ainda, mas foi capaz de projetar essa 
possibilidade de futuro em seu tempo presente; e mais, de mudar o seu próprio futuro, uma vez 
que, apanhando o guarda-chuva, evitou a possibilidade de um futuro indesejado: molhar-se.
Natureza da Cultura
11
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
O pensar humano, portanto, possibilita ao homem se projetar nos futuros possíveis, orientando 
as ações humanas em direção ao futuro mais desejado – e, assim, evitando o menos desejado.
Mais do que isso, se essa situação se repetir no futuro – e invariavelmente se repetirá! –, o 
indivíduo não precisa realizar a mesma reflexão com o mesmo grau de profundidade, uma vez 
que dessa situação retirou aquilo que chamamos de experiência; e mais, pôde partilhá-la com os 
outros, ensinando sobre a experiência vivida e transmitindo o conhecimento gerado para esse 
tipo de situação para aqueles que fazem parte de seu convívio social.
No caso de nosso personagem, como vimos, evitou molhar-se e isso foi percebido por ele 
como algo bom. Esse valor positivo é deslocado pelo indivíduo, do resultado para a própria ação, 
dando-lhe, então, um significado de acordo com a qualidade do resultado, ou seja, tendo sido 
bom o resultado, aquela foi uma boa ação. 
O próprio pensar recebe, portanto, os valores e significados da ação e de seu resultado, 
compondo os sentidos do pensar. Nesse caso, o indivíduo teve bons pensamentos, que o levaram 
a uma boa ação, cujo resultado foi positivo.
Tais valores, significados e sentidos, por sua vez, passam a compor a identidade do próprio 
indivíduo,ou seja, nesse caso, um homem esperto. No campo da valoração, identidades podem 
ser determinadas das formas mais diversas: o homem bom, mau, mentiroso, verdadeiro, justo, 
injusto etc. Identidades sociais são, portanto, determinadas por repertórios de valores, significa-
dos e sentidos.
Ocorre que, quem determina o que é bom ou ruim para os resultados de uma ação? Poderíamos 
estar em uma sociedade na qual a chuva fosse entendida como uma dádiva dos deuses e que, 
portanto, não se deve evitá-la. Poderíamos estar em uma sociedade para a qual a chuva tem um 
valor higiênico, de modo que aqueles que fogem à chuva são entendidos como anti-higiênicos.
Natureza da Cultura
UNIDADE
I
12
Figura 3 - Mulheres indianas em cerimônia religiosa
Fonte: Istock/Getty images
Perceba que valores e morais – tudo aquilo que determina o certo e o errado, o bom e o 
ruim, até mesmo o justo do injusto –, sejam quais forem, são relativos no tempo e no espaço, 
ou seja, o que é bom e ruim para mim, ou moral e imoral, pode ter sido entendido de forma 
completamente diferente por meus antepassados, o que prova que valores e morais mudam de 
acordo com o tempo. Logo, tais condições variam ao longo da história e não são iguais em todas 
as sociedades, nem em todos os lugares. 
O que é certo e errado para mim, muda também em relação a indivíduos que vivam em outra 
parte do mundo, em outra cultura. Para várias sociedades ocidentais, por exemplo, é natural 
ingerir carne bovina, inclusive de vaca; enquanto na Índia esse animal é considerado sagrado; 
provando que valores e morais também estão em transformação no espaço. Enfim, morais e 
valores estão em movimento no tempo e no espaço.
Mas o que isso tem a ver com cultura? Tudo! Isso porque moral, valores, sentidos, significados 
e identidades compõem aquilo que chamamos de sistema cultural. Como todos os itens acima 
são relativos no tempo e no espaço, não se pode dizer que haja uma só cultura; mas complexos 
de distintos sistemas culturais.
Se todos esses itens são relativos, portanto, todas as culturas também são relativas, ou seja, 
não há culturas superiores ou inferiores; mas sim diferentes. Mais do que isso, se esse pensar é 
inerente ao humano e a consciência um potencial de todos os indivíduos – o que ativa todas as 
relações que identificamos e qualificamos acima –, logo, não existe indivíduo sem cultura, todos 
possuem uma cultura: a sua cultura.
Ocorre que a cultura não se localiza, como sistema, apenas no âmbito do indivíduo: assume 
uma dimensão coletiva. Isso porque os valores e morais que mencionamos aqui também são 
partilhados entre indivíduos, no âmbito de suas sociedades ou segmentos sociais; portanto, a 
cultura constitui-se em uma dimensão sempre coletiva, dado que todos os demais itens também 
são partilhados: valores, morais, sentidos, significados e identidades sociais.
Natureza da Cultura
13
Por isso, não apenas inexistem indivíduos sem cultura; mas inexistem sociedades sem cultura; 
da mesma forma como não existem também sociedades mais ou menos avançadas que outras 
em termos culturais, mas sim sociedades distintas entre si. 
Temos de pensar também que esses valores podem ser gerados pelo indivíduo ou grupo – e 
nem sempre podem coincidir. Por exemplo, segundo a moral e os valores do grupo, a ação que 
cometi é errada, ou seja, atenta contra a moral do grupo, portanto, sou alguém imoral para esse 
grupo. Ocorre que, para mim, a ação que empreendi pode ser plenamente aceitável segundo 
os meus valores, o que me permite perceber-me como alguém pleno de moral. Pelo fato de 
haver uma moral dominante e uma moral do indivíduo, é possível que existam duas ou até mais 
identidades sociais para o mesmo indivíduo. Ou seja, para o grupo sou alguém imoral; para mim 
mesmo, sou um indivíduo moral.
As identidades são, então, não somente autoatribuídas; mas também construídas social e 
externamente ao indivíduo, podendo, então, nesses casos, haver conflitos de identidade para o 
mesmo sujeito. Assim, todos têm cultura – dado que basta então ser humano para ser portador 
de sistemas culturais – e não existem sociedades menos ou mais evoluídas, em termos culturais, 
que outras.
Figura 4 
Fonte: iStock/Getty Images
Após essa breve análise, podemos então compreender que a condição existencial humana é 
cultural. Isso porque o homem atribui sentidos às suas ações, constrói símbolos, cumula experiência 
e a transmite por meio da linguagem – oralidade, iconografia e escrita. A atribuição de significados 
às ações coloca as experiências em movimento, podendo ser partilhadas e compor um repertório 
cultural coletivo. Já a situação existencial animal está condicionada ao mundo dos fenômenos; 
obedece a uma programação biológica, instintiva, na qual a experiência se esgota em si.
Natureza da Cultura
UNIDADE
I
14
Importante!
Que iconogra� a se refere ao conjunto de imagens, tais como gravuras, fotogra� as, 
desenhos, esculturas, brasões, quadros, pinturas, entre outros? Existe um ramo da 
iconogra� a, denominado religioso, que se refere às diversas imagens, � guras, esculturas 
com teor religioso.
Você Sabia?
A transmissão da experiência humana se dá por meio de uma linguagem em construção e 
de sistemas culturais em movimento de perene transformação. A linguagem permite ao homem 
acumular a experiência, bem como sua inteligência abstrata lhe permite elaborar símbolos. Já os 
animais obedecem a reflexos condicionados, nos quais há aprendizado, mas por meio de uma 
inteligência concreta, que lhes permite tão somente programar índices.
A linguagem, como instrumento maior de cumulação e difusão de experiências e trocas 
culturais inerentes ao humano, permite-nos identificar também sintomas de desumanização, no 
enfraquecimento da possibilidade de expressão, que revela graus decrescentes de consciência 
sobre os resultados das ações humanas, conformando identidades sociais vazias de sentidos, 
significados e de repertórios morais.
Figura 5 – Erich Fromm
Fonte: Wikimedia/Commons
Trata-se de um sintoma de desumanização, produzido pela sociedade de consumo de massa, 
aquela em que o psicólogo alemão Erich Fromm (1987) identificou, no livro Ter ou ser, como os 
valores do consumo determinando as identidades sociais. O capitalismo ocidental teria falhado 
em criar valores morais, aprofundando processos de desumanização que levam a constituições 
culturais mais de aparência do que de essência, na vigência dos valores acríticos das sociedades 
de consumo de massa e do espetáculo, onde se é aquilo que se tem – que nos leva à frase citada 
comumente pela população: “O que importa é o que temos, e não o que somos”. 
Natureza da Cultura
15
A Cultura como Ação Transformadora
do Meio e do Homem
Outra forma de se compreender a constituição cultural das sociedades é a partir de sua 
função transformadora do meio ambiente, do meio social e do próprio homem. Para isso, 
mais uma vez, analisaremos e refletiremos sobre o seguinte esquema:
Figura 6
Fonte: Adaptado de Istock/Getty images
Já nos dissera Herbert Spencer que o homem não é tal 
qual aquele das pinturas chinesas, ou seja, solto no espaço, 
como se estivesse caindo no nada: o homem existe no meio 
geográfico. Mais do que isso, retira desse meio o necessário à sua 
sobrevivência. Pensemos, então, a dimensão cultural humana a 
partir das relações entre homem e meio ambiente.
Verifiquemos no quadro que o homem, que é dotado de 
necessidades materiais, literalmente obedecendo a programações 
biológicas – comer, evacuar, beber, dormir, procriar etc. –, realiza-
as essencialmente no meio ambiente.
Pensemos no homem que atende às suas necessidades de so-
brevivência no meio ambiente, mas sem interferir no qual. A 
caça e a coleta, por exemplo, foram as atividades econômicas da 
maior parte do tempo de vida humana sobre a Terra – e nessas atividades o homem retirava do 
meio ambiente apenas aquilo que necessitava, sem interferir no qual (ao menos, gravemente).
Figura 7 – Herbert Spencer
Fonte: Wikimedia/CommonsNatureza da Cultura
UNIDADE
I
16
Ocorre que Thomas Malthus identificou que havia um 
descompasso nessa relação. Para esse pensador, se a população 
continuasse aumentando de forma crescente e geométrica, 
faltaria alimentos para todos. Tal discurso, dos séculos XVIII 
e XIX, remete à crescente preocupação dos mais ricos com o 
crescimento populacional dos mais pobres.
Desse descompasso resulta um grave problema à sobrevivência 
humana, que depende, vitalmente, de alimento e água. 
A primeira forma encontrada pelo homem para empreender 
essa ação transformadora do meio foi a agricultura. Aliando um 
bastão de madeira, extraído da natureza, conjugando-o a uma 
lasca de pedra polida com o uso de uma amarra feita com tripas secas de um animal abatido, o 
homem desenvolveu a enxada. Com o uso adequado desse instrumento, passou a arar a terra e 
prepará-la para o plantio de sementes que, por meio da observação, percebeu que poderiam 
germinar e dar frutos. Irrigando periodicamente o terreno plantado, foi possível obter mais 
alimentos e solucionar o problema do descompasso identificado por Malthus, possibilitando a 
própria sobrevivência.
Para que isso ocorresse, foi preciso o desenvolvimento de 
materiais e técnicas: o incremento dos materiais necessários à 
atividade do plantio, bem como das técnicas adequadas à sua 
utilização. Os materiais constituem, segundo o filósofo alemão 
Karl Marx e Engels (1997), os meios de produção da vida 
social, junto do mais importante meio: a terra; as formas ou as 
técnicas para utilizá-los consistem na tecnologia desenvolvida, 
ambos para o trabalho. Segundo a definição marxista, o 
trabalho é a ação transformadora do meio ambiente que tem a 
finalidade de garantir a sobrevivência humana.
Contudo, todas essas relações acabam determinando 
outro aspecto da vida social: a cultura. O desenvolvimento 
da agricultura, que aqui mencionamos, implica em um 
desenvolvimento cultural, nesse caso, da “cultura da enxada”. Não é por acaso que o termo 
“cultura” foi utilizado pela primeira vez para se referir a atividades econômicas na lavoura, 
isso porque, ainda segundo Marx, por meio do trabalho, o homem altera não apenas o meio 
ambiente, mas a si. E como isso ocorre?
Figura 9 – Karl Marx
Fonte: Wikimedia/Commons
Figura 8 – Economista britânico
Thomas Robert Malthus
Fonte: Wikimedia/Commons
Natureza da Cultura
17
Figura 10 – Escravos em plantação de algodão (Ilustração)
Fonte: iStock/Getty images
Não dissemos, citando Spencer, que o homem não existe solto no espaço, que existe no meio 
geográfico? Assim, sua identidade social se constrói na interação do indivíduo com o seu entorno, 
com a natureza, e como esse entorno foi modificado pelo próprio homem.
Nesse sentido, o homem alterou a si, por conseguinte, alterou suas necessidades e, sendo 
novas necessidades, a mesma forma de trabalho não poderia mais dar conta das quais, de modo 
que se tornaram necessárias novas ações transformadoras para atender a esse novo homem e 
suas novas necessidades. 
Por sua vez, o meio foi alterado novamente, criando um novo homem, portador de inéditas 
necessidades, formas de trabalho e, essencialmente, sistemas culturais.
É por isso que não existem sociedades estacionadas, todas estão fadadas à transformação. Mas 
isso dito, parece que estamos, então, contradizendo Malthus – citado no início da análise do quadro 
em questão. Isso porque, tendo alterado o meio ambiente, o homem teria resolvido o descompasso 
entre suas necessidades e aquilo que o meio ambiente poderia lhe oferecer, isso porque suas 
necessidades não mais seriam maiores em relação ao que o meio poderia, transformado, fornecer. 
Assim, por que, então, as sociedades mudam, se o problema do descompasso teria deixado 
de existir?
Mudam e mudarão constantemente, isso porque Malthus demonstrou que o descompasso 
mencionado nunca deixaria de existir. Para defender essa tese, Malthus demonstrou que os 
homens crescem em progressão geométrica – multiplicando-se entre si –, enquanto os meios de 
subsistência cresceriam em progressão aritmética – por somatória, não por multiplicação. 
Desse modo, um novo meio – alterado pela ação humana – traria novos problemas à existência 
também humana, demandando sempre novos tipos de soluções, novas ações transformadoras, de 
modo que novos sistemas culturais vão se formando daí.
Cabe uma pergunta: faltam alimentos ou estes são mal distribuídos? É preciso relativizar o 
discurso de Malthus, considerando de onde veio e da época na qual viveu. 
Natureza da Cultura
UNIDADE
I
18
Thomas Robert Malthus nasceu na Inglaterra, em 1766, � lho de uma família abastada 
e proprietária de terras. É considerado um economista e estudioso de demogra� a, 
bem como foi pastor da igreja anglicana. Publicou sua obra, intitulada Ensaio sobre 
população, em 1798, pela qual se tornou conhecido por de� nir que a população crescia 
geometricamente, enquanto os alimentos aumentavam em uma proporção aritmética, o 
que levaria à escassez dos recursos. Os adeptos de suas teorias � caram conhecidos como 
teóricos do malthusionismo.
Ex
pl
or
Por que sistemas culturais teriam, então, segundo a visão marxista, uma determinação decor-
rente das relações de produção? Ora, para Marx a infraestrutura econômica das sociedades, ou 
seja, sua base econômica, determinaria a superestrutura política e ideológica, sendo a cultura a 
somatória dessas relações, pois se inscreveria no modus vivendi das sociedades.
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), ambos ingleses, produziram 
juntos algumas obras, entre as quais, O capital e o Manifesto do Partido Comunista. Suas 
teorias sobre a sociedade e economia política in� uenciaram várias áreas do conhecimento, 
evidenciando a luta de classes entre a burguesia e o proletariado, a relação entre capital e 
trabalho, bem como a exploração do trabalhador. Conceitos como mais-valia, valor de uso 
e de troca, mercadoria, produção e circulação, divisão social do trabalho, entre outros, são 
usados por esses teóricos, cujo conjunto e pensamento � caram conhecidos como marxismo.
Ex
pl
or
A infraestrutura seria o modo de produção da vida social, ou como aquela sociedade produz o 
suficiente à sua existência material, constituindo também sentidos, significados, valores, morais 
e identidades que mencionamos no início deste Material teórico. O modo de produção da vida 
social seria determinado pelo modo de produção de bens de consumo, este composto, por sua 
vez, pelos meios de produção – instrumentos, terra (incluindo seu regime de propriedade) etc. –, 
força de trabalho – se assalariada, escrava, servil, voluntária etc. –, tecnologia – forma com que a 
força de trabalho opera os meios de produção –, determinando os aspectos políticos, ideológicos 
e culturais dessa sociedade.
Nessa perspectiva, o trabalho é a ação transformadora humana do meio ambiente, geradora 
de cultura – que também pode ser definida como trabalho –, ato exclusivamente humano por ser 
consciente de sua finalidade, no que é, portanto, intencional.
É preciso estar claro que, por meio do trabalho, o homem transforma o mundo e a si, 
porque ao alterar o meio, o homem altera o próprio homem. É necessário ficar claro que, 
transformando o meio e a si, o homem redefine suas dinâmicas culturais, redefinindo valores, 
sentidos, significados e identidades.
A ação transformadora humana na natureza passa a ser mediada pelos símbolos criados pelo 
homem, que dão sentido às suas ações. Desta forma, a cultura pode também ser definida como 
o conjunto desses símbolos, os quais relativos no tempo e espaço, com múltiplas manifestações. 
Com isso, o homem, colocando em movimento o meio, a cultura e, desta forma, a si, é o único 
ser histórico consciente de sua condição e, portanto, produtor de sua própria história.
Natureza da Cultura
19
O Homem, a Natureza e o Meio 
Figura 11 – Theodor W. Adorno e Max Horkheimer
Fonte: Wikimedia/Commons
Indubitavelmente, viver em uma grande cidade é sinônimo, hoje,de alienação e dependência, 
pois, cada vez mais, distanciamo-nos da natureza, à qual exercemos domínio como grupo, nunca 
como seres isolados. 
Assim, tendemos a nos distanciar cada vez mais das relações primordiais geradoras de cultura, 
para assumir repertórios culturais gerados, em essência, pela indústria de consumo de massa, 
conforme identificaram autores da chamada Escola de Frankfurt, primordialmente Theodor 
Adorno, no conceito de indústria cultural, publicado em 1947 no livro Dialética do iluminismo, 
que escreveu junto de Max Horkheimer (SANTOS, 2014; PAIXÃO, 2012). 
O domínio que o homem exerce sobre a natureza nos processos de ocupação do espaço, 
tecnologias, complexas estruturas econômicas e formas de produção, advém de conhecimentos 
que indivíduos distintos e tomados isoladamente desenvolveram ou, por sua vez, adquiriram de 
outros que os precederam, aos quais, de forma cumulativa, foram inseridos novos conhecimentos, 
culminando em tecnologias avançadas que podem ser utilizadas por todos, mas dificilmente 
reconstituídas desde a fase embrionária de seu processo de concepção.
O homem tanto se orgulha de suas grandes obras e monumentos, de sua pretensa 
superioridade com relação ao meio em que vive, que se esquece de que, por si só, não é detentor 
de conhecimento algum que possa garantir sua sobrevivência se deixado sozinho, desprotegido 
em meio a uma densa floresta, cercado por animais selvagens e predadores, precisando prover-
se da caça e da coleta como fizeram nossos antepassados que, por sua vez, já contavam com 
formas de transmissão de conhecimento, como a oralidade, para construção do saber cumulativo.
O distanciamento do homem em relação à natureza é responsável por uma ilusão de falso 
domínio: seu isolamento nos centros urbanos constrói uma sensação de segurança em relação 
ao meio e de pleno domínio da natureza, que exaure não mais para sua sobrevivência, mas para 
atender aos fetiches da acrítica sociedade de consumo de massa.
É perfeitamente possível discordar dessas premissas, pensando o homem como a “obra-
prima” do reino animal, o topo da escala evolutiva e que tudo no passado foi “pior” e “primitivo” 
na perspectiva das “realizações” de uma enganosa condição de pós-modernidade.
Natureza da Cultura
UNIDADE
I
20
Imaginemo-nos seguros em nossas casas ou apartamentos, rodeados de eletroeletrônicos e 
parafernálias que garantem a nossa sobrevivência, trabalho, entretenimento, alimento e até nos 
convencem a não viver a aventura de ser humano, de ousar, de ser errante, fazendo-nos viver as 
aventuras de riscos alheios, nas jornadas domingueiras dos programas televisivos, nas competi-
ções desportivas, em tudo que está fora de nós, na televisão. 
Imaginemos agora se uma voz advinda do além ordenasse: “Acabai a energia elétrica!” E 
assim se fizesse? Seríamos capazes de reinventá-la isoladamente, como aprendemos a viver nos 
grandes centros, sem construir relações sociais profundas e duradouras e detentores de parcial e 
limitado conhecimento?
Vejamos, então, que nosso conhecimento funciona apenas de 
forma cumulativa, portanto, a humanidade funciona enquanto 
grupo – nunca isoladamente. Percebamos o quanto é antinatural 
o atual ciclo sistêmico do capitalismo, construtor do que o histo-
riador inglês Eric Hobsbawm chamou de individualismo associal 
absoluto, responsável pelo surgimento de indivíduos egocentra-
dos, dissociados de sua condição de classe e que competem na 
espiral de produção e consumo apenas por si.
Percebamos ainda que o contato com a natureza, exercido 
nos campos e vilarejos, continua sendo a melhor forma de proporcionar integração entre seus 
indivíduos e de aproximar estes da natureza, à qual devemos nos integrar – e não dominar (mas, 
já nem mesmo no campo essa é uma realidade). 
No Brasil, sob a égide dos Planos de Desenvolvimento Nacional (PND) dos governos mi-
litares (1964-1985), os pequenos produtores rurais tiveram suas propriedades para cultivo 
de subsistência engolidas pelos latifúndios agroexportadores e seus modus-vivendi, tais pro-
priedades foram trocadas pela lógica da mecanização das lavouras, que reduziu os indivíduos 
ali atuantes à condição de boias-frias, obrigando-os a engrossar as fileiras de miseráveis nos 
grandes centros, excedentes populacionais não incorporados à industrialização.
Esse processo foi brilhantemente mapeado pelo renoma-
do antropólogo brasileiro, Antônio Cândido, em sua tese de 
Doutoramento, intitulada Parceiros do Rio Bonito, na qual es-
tudou as mudanças culturais da, então chamada, “cultura rústi-
ca”, a “cultura do caipira”, em relação às transformações que 
estavam em curso e que acabaram por reduzi-lo à condição de 
boia-fria, como dito.
Devemos rever o conceito de relação do homem para com 
o meio ambiente, que haja integração – e não domínio. Implica 
em perceber que o Planeta é um sistema fechado e que o 
consumo desenfreado – que é o combustível de um capitalismo 
aprofundado sobre si e sob a fachada de socialmente responsável 
– é a causa da quase inviabilidade da existência humana sobre 
a Terra, em uma perspectiva de muito pouco tempo.
Figura 13 - Antônio Cândido
Fonte: Divulgação
Figura 12 – Eric Hobsbawm
Fonte: Divulgação
Natureza da Cultura
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Como a Antropologia Conceitua a Cultura
Para a Antropologia, Ciência que estuda o homem e suas obras, em sua área específica 
de estudos culturais – a Antropologia Cultural –, a cultura se define como um processo de 
aprendizagem. Trata-se de um comportamento apreendido, o que se defronta com seu contrário: 
a personalidade, que se pensa como algo já dado. Trata-se de um conjunto de coisas – materiais, 
de existência concreta – e de ideias – imateriais, espirituais, de existência abstrata.
Segundo o que vimos até aqui, conseguimos entender que coisas se refiram aos materiais 
fabricados pelo homem para atender às suas necessidades de sobrevivência, isso porque já 
sabemos que o homem é portador de necessidades biológicas. Mas, e as ideias? A qual tipo de 
necessidades se referem?!
Ora, o homem não é portador apenas de necessidades biológicas, as assim chamadas necessidades 
do corpo ou da matéria. Isso porque o homem é feito também de uma outra substância, de essência 
imaterial e abstrata, que não podemos tocar fisicamente, medir ou pesar: nossa alma; exatamente 
aquilo que preenche o corpo material, dando-nos caráter, personalidade, sentimentos e emoções. 
Trata-se daquilo que nos torna únicos! Essa nossa dimensão imaterial possui também necessidades, 
assim como a dimensão material, mas de outra natureza: amar, ser amado(a), ter amigos, ser 
solidário(a), ser feliz etc.
O que é cultura?
Cultura é o sistema integrado de padrões de comportamento aprendidos, os quais são 
característicos dos membros de uma sociedade e não o resultado de herança biológica. 
A cultura não é geneticamente pré-determinada; é não instintiva. É o resultado da invenção 
social que é transmitida e apreendida somente através da comunicação e da aprendizagem 
(HOEBEL; FROST, 1976, p. 4).
Ex
pl
or
Se a dimensão da existência humana gravita entre material e imaterial, a cultura, produto 
da ação humana, constitui-se também nessa dupla dimensão. Temos então a cultura material – 
concreta, do universo das coisas – e a imaterial – espiritual, do universo das ideias.
Material e imaterial:
Por elementos materiais entendemos, por exemplo, a existência de uma igreja, de um 
templo, de uma sinagoga, de um terreiro de umbanda, de um gra� te em um muro, de um 
monumento, de um teatro, entre tantas outras manifestações que podem ser observadas 
nas paisagens e que são materiais e frutos da cultura. Contudo, há também a música, as 
formas de se expressar, os idiomas e sotaques, a memória, as crenças, as lendas, os discursos 
etc., que são formas e representações imateriais da cultura. 
Ex
pl
or
Natureza da Cultura
UNIDADE
I
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Para entendermos melhor essa distinção, pensemos em dois ambientes essenciais onde se 
desenvolve a vida em sociedade:
Quadro1
Ambiente Locus Características
Primário natural Natureza Necessidades biológicas, físico-orgânicas – excreção, sede, alimentação, reprodução, segurança
Secundário artificial Sociedade
Necessidades socioculturais ou psicossociais – religião, 
educação, política, economia, relacionamento individual 
ligado aos sentimentos
Este Quadro demonstra que a cultura é composta por elementos materiais concretos voltados, 
basicamente, ao atendimento de um conjunto de necessidades de curto prazo; enquanto existe 
aquele conjunto, sobretudo de ordem psicossocial, relacionado às necessidades orientadoras 
do comportamento, apreendidas desde os primeiros anos de existência e que acompanham o 
indivíduo ao longo de sua vida.
A cultura real revela efetivamente as condições concretas e imediatas de existência, compor-
tando aspectos positivos e negativos e, essencialmente, resultantes dos modos como os homens 
produzem e se relacionam em sociedade. Enquanto a cultura ideal representa um parâmetro que 
orienta as condutas no sentido de atingir condições satisfatórias de vida; entretanto, seus elemen-
tos, apenas em casos excepcionais, são atingidos.
Depois de refletir ao longo dessas páginas sobre a cultura, podemos concluir que:
• É universal na experiência do homem; entretanto, cada manifestação local ou regional da 
cultura é única;
• É estável e, não obstante, igualmente dinâmica, evidenciando contínua e constante mudança;
• Inclui e condiciona amplamente o curso de nossas vidas e, no entanto, raramente interfere 
no pensamento consciente.
Natureza da Cultura
23
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Antropologia Cultural
REIS, Nicoli Isabel dos. Resenha de: BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso Castro. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 109 p. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, RS, v. 
10, n. 22, jul./dez. 2004.
https://goo.gl/flaZVF
 Livros
Antropologia Social e Cultural
CHICARINO, Tathiana. Antropologia social e cultural. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014.
Cultura e Diversidade
CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. Cultura e diversidade. Curitiba, PR: Intersaberes, 2012. 
Antropologia
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia. São Paulo: Contexto, 2014. 
Natureza da Cultura
UNIDADE
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24
Referências
CHILDE, V. G. A evolução cultural do homem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1966.
FROMM, Erich. Ter ou ser. São Paulo: LTC, 1987. 
HOEBEL, E. A.; FROST, E. L.Antropologia cultural e social. São Paulo: Cultrix, 1976.
MALTHUS, T. R. Princípios de economia política: e considerações sobre sua aplicação prática; 
ensaio sobre a população. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
MEIRA PENNA, J. O. de. Malthus e o princípio de população. Digesto Econômico, 
nov./dez. 1994.
MELLO, L. G. Antropologia Cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
MOURA, M. M. Nascimento da Antropologia Cultural: a obra de Franz Boas. São Paulo: 
Hucitec, 2004.
PAIXÃO, Alessandro Iziquiel da. Sociologia geral. Curitiba: InterSaberes, 2012. (e-book). 
ROCHA, E. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Col. Primeiros passos).
SANTOS, Tamires Dias dos. Theodor Adorno: uma crítica à indústria cultural. Revista Trágica: 
estudos de filosofia da imanência – 2º quadrimestre, v. 7 – nº 2, 2014, p. 25-36. 
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
II
Teorias sobre Cultura
Teorias sobre Cultura
UNIDADE
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Introdução
O que explicam as diferenças culturais? Ou seja, por que indivíduos demonstram serem 
portadores de sistemas culturais sutis ou completamente distintos uns dos outros, dependendo 
do lugar ou do tempo de sua existência?
A hereditariedade explica? Legaríamos características culturais, valores, caráter e até mesmo 
inteligência aos nossos descendentes?
A origem geográfica é o determinante? Se tivéssemos nascido em outra região, teríamos 
uma cultura completamente diversa da nossa? Ou a questão é a aprendizagem? Ou seja, todo o 
nosso repertório cultural nos foi ensinado por nossos familiares, pelas instituições religiosas, pela 
educação formal, pela própria sociedade na qual vivemos?
Para complicar ainda mais essas questões, imagine a seguinte situação: um casal de franceses 
tem dois filhos gêmeos idênticos, ocorre que o parto acontece na Guatemala. Semanas depois, 
os irmãos são separados dos pais. Um dos quais é criado por uma tribo na Namíbia, o outro é 
criado em Tóquio.
Os irmãos gêmeos terão idênticos sistemas culturais, obedecendo à hereditariedade? Ou seja, 
terão uma cultura primordialmente francesa – ou, em linhas gerais, europeia?
Por terem nascido na Guatemala, mesmo que tenham sido transportados para localidades 
distintas, terão a mesma cultura por conta de uma origem geográfica comum? Ou teriam culturas 
completamente distintas? Um dos quais completamente inserido em uma cultura tribal africana; 
outro na complexa sociedade urbana e cosmopolita de Tóquio?
Nesta Unidade conheceremos as teorias que, de diferentes pontos de vista, tentaram responder 
a questões dessa ordem, na Antropologia, Ciência Social cujo objeto primordial é o homem 
tomado em sua dimensão cultural.
Em busca das respostas às perguntas aqui elaboradas, discutiremos a seguir algumas teorias 
sobre cultura. 
Teorias Antropológicas da Cultura
As teorias antropológicas servem de ferramentas para a aplicação do estudo em Antropologia, 
Ciência Social cujo objetivo é o estudo do homem e de suas obras, ou seja, de sua cultura. Nesse 
contexto, as teorias antropológicas servem diretamente à compreensão das diversas formas de 
manifestação cultural em distintas organizações sociais humanas.
Teorias sobre Cultura
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Os diferentes tipos de organização social, desde os considerados primitivos até os mais 
complexos, estão intimamente relacionados às características culturais ali predominantes, 
para as quais as teorias da cultura servem de instrumento compreensivo. 
A partir da segunda metade do século XIX, período de consolidação de importantes conquis-
tas anteriores, como o advento do Renascimento cultural na Europa (séc. XVI-XVII), das grandes 
navegações (séc. XVI), da conquista do Novo Mundo (séc. XVI), do desenvolvimento do método 
científico (séc. XVI-XVIII), das luzes da razão iluminista (séc. XVIII) e da consolidação do cienti-
ficismo e da corrente de pensamento positivista (séc. XIX), o espírito humano passou de uma 
fase subjetiva de conhecimento, na qual as fundamentações se davam em termos abstratos, hi-
potéticos e especulativos para um conhecimento mais objetivo, visando à constituição de saberes 
científicos calcados na experimentação empírica, na identificação de leis explicativas para seus 
determinantes causais e de sua generalização – transformação das leis científicas em leis gerais 
que explicam a totalidade das possibilidades de ocorrência do fenômeno estudado. 
Essa mudança de postura, da qual provêm praticamente todas as teorias da cultura, foi 
responsável pelo novo status de Ciência, conferido à Antropologia, cujo objeto passou a 
ser tratado como algo observável, mensurável, passível de ser decodificado estatisticamente, 
quantificado, teorizado, experimentado e comprovado, tratando-se o produto desse sistema de 
“conhecimento científico”.
Tiveram fundamental importância entre as teorias culturais, a fim de que a Antropologia 
fosse reconhecida como Ciência, primeiramente o evolucionismo, que tratava seu objeto de 
forma mais ampla, abraçando o estudo de civilizações inteiras, enquanto outras teorias focavam 
organizações sociais quantitativamente menores, lidando com a cultura por meio de aspectos 
entendidos como evolutivos.
Igual importância teve o difusionismo, que buscava a explicação do desenvolvimento cultural 
a partir do processo de difusão de elementos culturais de um sistema para outro.Figura 1 – Chromolithograph of human races of the World
Fonte: RaremapSandbooks ( Material de Divulgação)
Já o funcionalismo, que inovou o campo de interpretação antropológica, focava não mais as 
origens históricas do estudo da cultura; mas sim seu contexto em dado momento, com a lógica 
do sistema focalizado. 
Teorias sobre Cultura
UNIDADE
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Por fim, o estruturalismo, o mais recente movimento em orientação teórica em Antropologia, 
adotou posições próprias de natureza predominantemente subjetivas.
São as ferramentas utilizadas pelos antropólogos estudiosos do “homem e suas obras”, de 
seu produto direto: a cultura humana; nobilíssimo trabalho ao qual se agregam conhecimentos 
de outras tantas ciências afins, com a mesma finalidade: reconstituir o passado cultural humano, 
entender a condição presente e projetar reflexões a respeito dos horizontes do homem.
Evolucionismo Cultural
Com o incremento das navegações no século XVIII, 
resultado do avanço do comércio ultramarino, o transporte 
de produtos agrícolas e riquezas minerais entre territórios 
coloniais na América, África, Ásia e Europa, a civilização 
europeia pôde ter maior contato com povos que até então 
desconhecia; pôde saber de práticas religiosas, hábitos 
cotidianos e comportamentos sociais completamente diversos 
dos seus.
O contato com o diverso possibilitou ao europeu pensar o 
homem em termos evolutivos, ou seja, comparar o homem 
europeu com os novos povos que eram dominados permitiu 
interpretá-los como se estivessem em distintos estágios de 
um mesmo processo: a evolução. De forma etnocentrista e 
eurocêntrica, essas diferenças culturais moveram explicações 
de caráter monogenista e poligenista.
A interpretação monogeísta pressupunha um caminho 
linear e finalista para o processo evolutivo, partindo sempre 
de um estágio menos evoluído – o patamar primitivo – para 
o mais evoluído – a civilização. Essa interpretação encontrava 
respaldo nas teses do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau 
(1712-1778) e sua defesa da perfectibilidade humana, como um estágio possível de ser alcançado 
na esperança que depositava no homem natural, essencialmente bom. 
As diferenças culturais constituiriam, portanto, indicadores de que se encontrariam em etapas 
distintas do mesmo processo evolutivo e nisso consistiu o referencial teórico dos primeiros etnó-
logos que estudavam os homens do passado, então como “homens primitivos”.
Já a poligenia, que não descartava a concepção da evolução, defendia que as diferenças 
provinham essencialmente da existência de distintos centros de criação, onde os homens teriam, 
portanto, diferentes origens, o que explicaria não apenas diferenças físicas, mas também prometia 
elucidar as diferenças morais entre os quais.
Em suas convicções reside ainda a defesa de que mesmo pertencentes a uma origem em co-
mum, as diferenças que se desenvolveriam no processo evolutivo levariam à degeneração da espé-
cie no caso de indivíduos pertencentes a distintas etapas evolutivas que tivessem se entrecruzado.
Figura 2 – The perils of Atlantic navigation – 
the steamship “Columbia’s” encounter with 
an enormous iceberg o� the Newfoundland 
Banks. From a sketch by an O� 
Fonte: Istock/Getty Images
Teorias sobre Cultura
29
Sob vários aspectos, o impacto da publicação da obra de Charles Darwin (1809-
1882), intitulada A origem das espécies, em 1859, fez com que a perspectiva 
evolucionista penetrasse várias áreas de conhecimento, para além da Biologia. Sua 
repercussão nas nascentes Ciências Humanas desdobrou-se no fenômeno do 
darwinismo social.
A dominação colonial ganhava uma justificativa 
biológica: tratava-se do avanço civilizador do homem 
branco sobre a barbárie, que deveria ser civilizada. As 
sociedades também poderiam ser escalonadas segundo 
diferentes graus evolutivos que demonstrassem em 
termos econômicos, tecnológicos, políticos e culturais.
Foi o filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903), 
profundo admirador da obra de  Charles Darwin e 
criador da expressão “sobrevivência do mais apto”, 
quem criou o darwinismo social, em sua busca por 
aplicar as leis da evolução em todos os níveis da 
atividade humana.
Nesse esforço, a partir do darwinismo social 
Spencer erigiu uma teoria sobre as raças; estendendo critérios de comparação 
e diferenciação, utilizados para o estudo de animais, a fim de compreender as 
diferenças entre os homens. Estabelecendo que, tal qual os animais, os homens 
se subdividiriam em raças e que, aplicando as teses darwinistas, poderiam ser 
qualificadas como mais ou menos aptas ou, ainda, primitivas ou civilizadas, de 
modo que estaria anulado o poder de livre arbítrio do homem, uma vez que suas 
escolhas estariam determinadas pelas características étnico-culturais que teriam 
herdado de seus antepassados.
Utilizando esses critérios, o cruzamento inter-racial, a miscigenação, levaria à 
degeneração das espécies, enquanto sua perpetuação seria garantida pela valoriza-
ção das raças “puras”, ou seja, intocadas pela miscigenação.
A dominação de um grupo sobre outro ganhava não só uma explicação sistêmica, 
pseudocientífica; mas, fundamentalmente, ganhava uma legitimação, pois em 
nome da defesa da civilização seria preciso dominar e/ou civilizar a barbárie. 
A Antropologia se desenvolveu, em seu período embrionário, orientada exatamente 
por esses pressupostos teóricos: evolucionistas.
Assim, a tarefa do antropólogo, nesse contexto, não consistiria apenas em 
determinar a antiguidade do homem, utilizando as recentes descobertas da Química, 
senão identificar em que estágio estaria no processo evolutivo. A criação das etapas, 
dos estágios culturais segundo as características dos grupos estudados, constituiu 
também como tarefa primordial desses primeiros antropólogos – a taxiologia. O 
próprio tempo cronológico dava lugar a outra percepção de tempo: o da evolução, 
que permitiria a criação de uma escala para a sua determinação.
Figura 3 – Herbert Spencer
Fonte: Wikimedia/Commons
Teorias sobre Cultura
UNIDADE
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Figura 4 – Lewis Henry Morgan
Fonte: Wikimedia/Commons
Nesse esforço de identificar as etapas evolutivas de distintas 
sociedades, destaca-se o trabalho do antropólogo e etnólogo 
norte-americano Lewis Henry Morgan  (1818-1881), conside-
rado um dos fundadores da Antropologia moderna, tendo sido 
um dos primeiros teóricos da cultura e da sociedade no pensa-
mento antropológico.
Na obra Ancient society (1877), Morgan defendeu a exis-
tência de três estágios evolutivos para as sociedades humanas, 
que permitiriam agrupá-las e estudá-las de acordo com critérios 
rigorosos de análise e qualificação de seus caracteres: selvageria, 
barbárie e civilização.
Outr a contribuição notável, no contexto do evolucionismo na Antropologia, foi dada pelo 
antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1832-1917), considerado o “pai do conceito moderno 
de cultura”. Condensou, em sua principal obra – Primitive culture, de 1871 (HOEBEL, E. A.; 
FROST, 1976) –, ideias que possuem um longo histórico de fluência no Ocidente, remontando aos 
primórdios da Filosofia iluminista e que já faziam a defesa do papel da educação na transmissão 
cultural – fenômeno caracterizado como endoculturação.
Ocorre que, na prática, os “selvagens”, ou seja, o “homem primitivo”, não era estudado in loco. 
Dito de outra forma, se contemporâneos ao estudioso, não eram estudados pelo antropólogo onde 
viviam; mas por meio de documentos escritos: relatos de cronistas viajantes, missionários religio-
sos, mercenários etc.; já para povos do passado, o desafio era ainda maior, uma vez que apenas 
seus artefatos poderiam ser estudados e seu estágio evolutivo determinado comparativamente com 
aqueles mais evoluídos.
Obviamente, a questão do “mais evoluído” ou da “civilização” tinha como modelo o homem 
europeu. Portanto, trata-se de uma visão etnocentrista e eurocêntrica que comprometia a ideia 
de progresso, que perpassa ideologicamente esse arcabouço teórico, como o caminho que levaria 
a selvageriaao modelo europeu de civilização.
Difusionismo
Importante!
“Cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra 
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade” (TYLOR, 1871).
Trocando ideias...
O difusionismo se desenvolveu, na Antropologia, como uma violenta resposta aos pressupos-
tos teóricos do evolucionismo. 
Teorias sobre Cultura
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Figura 5 – William Halse Rivers
Fonte: Wikimedia/Commons
Data do início do século XX a comunicação das posturas mais radicais dessa corrente. 
O primeiro teórico a se engajar na resistência contra o evolucionismo foi o médico, 
psicólogo e antropólogo britânico William Halse Rivers Rivers (1864-1922), cujos 
discípulos – William James Perry (1887-1949) e Grafton Elliot Smith (1871-1937) – 
deram continuidade à sua obra.
Os difusionistas britânicos – Rivers, Perry e Smith – contrapunham-se às explicações evolu-
cionistas para as diferenças e semelhanças culturais recorrendo a fenômenos ignorados por essa 
corrente, como correntes migratórias, deslocamentos populacionais e contatos interculturais.
Particularmente Elliot Smith, egiptólogo, além de antropólogo, defendeu a tese de que a civi-
lização egípcia seria portadora de indícios que revelariam ter sido a África o berço da origem da 
humanidade, e a partir dali teria se difundido.
O movimento de difusão teria se desencadeado naquele ponto – o Egito –, culminando em 
sua difusão por todo o mundo, em ondas de deslocamento que teriam passado a se diferenciar 
umas das outras.
Figura 6 – American Museum of Natural History
Fonte: Wikimedia/Commons
Teorias sobre Cultura
UNIDADE
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Ainda que tenha sido desmontada, em termos teóricos, a tese de que a diversidade cultural 
seria resultado da difusão de características provenientes de um único centro fez com que o 
difusionismo tenha cumprido um relevante papel ao oferecer, no início do século XX, uma 
alternativa explicativa à questão da diversidade cultural, tendo sido a primeira a se defrontar com 
o vigente evolucionismo.
O antropólogo teuto-americano Franz Boas (1858-1942), de-
fensor da corrente denominada histórica, pode-se dizer, esteve en-
tre o difusionismo e o funcionalismo – que veremos a seguir.
Seu trabalho pioneiro, junto de seus discípulos, consiste no mais 
importante ponto de inflexão nos estudos antropológicos, no que 
tange ao declínio da Antropologia Rácica Evolucionista, uma vez 
que sua proposta relativista desmontava a ideia de proximidade en-
tre evolução biológica e cultural.
Seu pioneirismo consiste na construção teórica que assentou 
métodos radicalmente distintos daqueles produzidos nos modos de 
conceber e estudar as culturas humanas, propondo relativizá-las, ao 
invés de escaloná-las hierarquicamente.
Não que estudos comparativos não pudessem ser feitos entre distintas culturas, ou mesmo 
que não se pudesse identificar uma origem comum para ambas. O que Boas propunha era um 
processo indutivo que identificasse as relações que possibilitariam a comparação, para o então 
estabelecimento das conexões históricas pertinentes.
Para Boas o mesmo fenômeno tem sentidos variados em cada cultura. Assim, o fato de 
ocorrências semelhantes serem identificadas em distintas culturas não constitui prova de uma 
origem comum.
Consequentemente, não havendo uma única origem cultural, não se pode mencionar cultura 
no singular, senão culturas. Ou seja, cada cultura teria sua própria história; não uma cultura 
humana universal e originária – como pressupunham os evolucionistas e até mesmo parte dos 
difusionistas. Sendo então autônomas, todas as culturas seriam também dinâmicas em suas 
transformações ao longo do tempo.
Nesse contexto, suas críticas pesavam mais gravemente sobre os determinismos biológicos e 
geográficos, bem como no transporte de categorias explicativas evolucionistas para o tratamento 
das relações culturais, o que havia levado ao fenômeno do evolucionismo cultural.
Contrário a essa explicação evolucionista para a diferenciação das culturas, Boas demonstrou 
que cada sistema cultural constituiria uma unidade integrada, resultado de um desenvolvimento 
histórico específico.
Com isso, determinou a independência dos fenômenos culturais em relação aos condicionantes 
geográficos e biológicos, vigentes como explicação desde o período formativo da Antropologia. 
As dinâmicas culturais estariam desatreladas desses elementos; obedecendo apenas à lógica da 
interação entre os indivíduos, o meio e a sociedade.
Figura 7 – Anthropologist Franz Boas
Fonte: Wikimedia/Commons
Teorias sobre Cultura
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A concepção evolucionista aplicada à cultura, responsável pelo assentamento de uma visão 
etapista linear, na forma de estágios evolutivos pelos quais, obrigatoriamente, todas as sociedades 
passariam, assistia ao surgimento de sua mais severa e consistente crítica.
Esta nova postura teórica deslocou completamente os sentidos gerais da Antropologia, desde 
seus objetos, objetivos até o ofício do antropólogo, que passava a ser o estudo de sistemas 
culturais particulares – e não da identificação de uma cultura universal.
Funcionalismo
Uma das mudanças mais significativas para a determinação do fracasso explicativo do evolu-
cionismo foi o abandono dos relatos de cronistas viajantes e congêneres como base informativa 
para estudos antropológicos e a adoção de métodos de pesquisa de campo.
A excessiva utilização de valores europeus na análise valorativa de povos não europeus para de-
marcar sua posição em uma espécie de “corrida” linear e etapista rumo à civilização, tendo como 
força motriz o progresso, marcou também o abandono do evolucionismo como ferramenta expli-
cativa de diferenças não apenas biológicas ou culturais, mas também psicológicas e intelectuais.
Figura 8 – Bronislaw Malinowski 
(1884-1942), the polish-born 
british anthropologist who studied 
folklore and customs
Fonte: Wikimedia/Commons
Nesse contexto, o evolucionismo de Spencer passou a, grada-
tivamente, dar lugar ao determinismo de uma corrente teórica as-
cendente: o funcionalismo na Antropologia, cujo precursor foi o 
antropólogo polaco Bronislaw Kasper Malinowski (1884-1942), 
considerado um dos fundadores da Antropologia Social.
Apesar de tomar o avanço colonizador como dado, bem 
como justificar a necessidade de estudo dos “povos primitivos” 
pelo avanço do imperialismo europeu, o funcionalismo de Ma-
linowski, ainda que comparando as sociedades estudadas com 
aquela na qual pertencia o estudioso, abandonava a mecanici-
dade da escala evolutiva, focalizando as culturas diversas em 
situação, ou seja, a partir de sua própria contextualização.
O próprio etnocentrismo e o eurocentrismo passaram a dar lugar, na Antropologia, a outra ati-
tude. Malinowski sistematizou o método que passou a tomar a cultura do “homem primitivo” não 
a partir do olhar valorativo europeu, ou seja, do antropólogo; o desafio consistiria em determinar 
o ponto de vista do “homem primitivo” para, então, empreender a análise de sua cultura.
Sua proposta metodológica consistia ainda na compreensão do todo complexo de uma 
sociedade, incluindo sua constituição cultural, identificando suas partes componentes significativas. 
Tais seriam estudadas isoladamente, parte por parte para, em seguida, serem articuladas, 
construindo-se a partir daí a compreensão sobre o todo.
Teorias sobre Cultura
UNIDADE
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Seguindo o exemplo do que fez com as sociedades, dividiu também a existência social, esta a 
partir da identificação da natureza das necessidades humanas. Para Malinowski haveria dois tipos 
primordiais de necessidades:
 · Primárias, que seriam as necessidades biológicas;
 · Secundárias, as necessidades culturais.
Ocorre que as necessidades primárias é que determinariam as secundárias, ou seja, a 
cultura estaria ligada à satisfação das necessidades biológicas, até que se desenvolveriam 
dinâmicas tão complexas que passariam a constituir, por si só, necessidades. 
Para empreenderesses estudos, o antropólogo necessitaria de um rigoroso procedimento 
metodológico. Dada a complexidade dos objetos da Antropologia, a importação pura e simples 
dos métodos das Ciências da Natureza e das Ciências Formais não resolveria, de modo que seria 
necessário criar novos métodos para as nascentes Ciências Humanas.
Assim, o método proposto por Malinowski consiste em três etapas/tarefas:
1. Observar todos os costumes dos nativos;
2. Apreender suas narrativas orais;
3. Utilizar métodos estatísticos. 
A observação do comportamento social dos povos estudados possibilitaria ao antropólogo 
identificar as referências dos nativos, exatamente o que permitiria ao pesquisador dessa área estudar 
uma cultura com o uso de suas próprias referências – e não as do antropólogo. Tais referências 
captadas receberam o nome de imponderáveis da vida real, o cerne de toda a pesquisa.
Isso possibilitaria abandonar as pré-concepções que caracteriza-
vam as abordagens evolucionistas e as atitudes que possibilitavam 
valorar negativamente os nativos, comparando-os aos europeus. As 
comparações seguiriam possíveis; mas a extensão dos valores eu-
ropeus aos nativos não seria mais viável. O afastamento das ideias 
preconcebidas, os preconceitos, possibilitaria à Antropologia galgar, 
por meio de maior rigor metodológico, maior grau empírico.
O cientista social britânico Alfred Reginald Radcliffe-Brown 
(1881-1955), tido como um dos maiores expoentes da Antropologia 
por ter desenvolvido a teoria do funcionalismo estrutural, imbuído 
da defesa de Malinowski à pesquisa de campo, propunha combiná-
-la também ao trabalho de gabinete. Isso possibilitaria abrir novos 
horizontes à Ciência Antropológica, uma vez que o risco era o 
de a Antropologia, estudando culturas isoladamente, tornar-se 
exaustivamente descritiva. Os novos horizontes constituiriam as possibilidades de se estudar 
comparativamente as culturas descritas. 
A tarefa seria articular os métodos histórico e comparativo nos estudos antropológicos. O 
estudo comparado possibilitaria, por sua vez, a identificação de regularidades e a proposição de 
leis gerais para fenômenos recorrentes ou similares. 
Figura 9 – Alfred Reginald 
Radcli� e-Brown
Fonte: Wikimedia/Commons
Teorias sobre Cultura
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Entre as possibilidades, então, de identificação de fenômenos gerais, uma lei geral identificada 
por Radcliffe-Brown consistiria da natureza e funcionamento das relações e estruturas sociais 
baseadas em “oposição”. Enfatizando seus aspectos funcionais, fenômenos recorrentes como os 
de hostilidade intergrupal, violência, estupro, entre outros.
Figura 10 – Engraving by Theodor de Bry after a 
weroans or great lord of Virginia by John White
Fonte: Wikimedia/Commons
Problemas do Relativismo
Comparativamente ao evolucionismo, o funcionalismo permitiu a adoção de uma postura 
diversa daquela de superioridade entre o estudioso e a cultura estudada.
O desdobramento dessa postura consiste no relativismo que, por sua vez, distancia o investigador 
dos questionamentos valorativos sobre os nativos, que passam a ser meros comunicadores de 
suas práticas culturais.
Normas e valores, para os relativistas, não devem ser objeto de nenhuma ordem de questionamen-
to e a postura do antropólogo em campo, portanto, é a de mero coletor e analista de informações.
O relativismo é radicalmente contrário à tendência universalista do evolucionismo; ou seja, 
contra seu ímpeto de estender um mesmo repertório cultural – o europeu, entendido como 
civilizado – à totalidade das sociedades, taxadas como inferiores – bárbaras.
Nada a universalizar, tudo a relativizar! 
Ocorre que, assim, ao tratar de costumes como o do apedrejamento de mulheres adúlteras 
no Irã; o estupro aceito e legalizado no âmbito do matrimônio no Afeganistão; a condenação à 
morte de homossexuais em Uganda; a prática da excisão – mutilação do clitóris e dos pequenos 
lábios do órgão sexual feminino – em Djibuti, Etiópia, Somália, Sudão, Egito e Quênia; o racismo 
desvelado no Sul dos Estados Unidos; o machismo na sociedade brasileira; a pena de morte 
atualmente praticada em diversos países no mundo; não poderiam ser criticados por cientistas, 
isso porque valores como a liberdade, igualdade, o direito à vida e à inviolabilidade do corpo não 
poderiam ser universalizados.
Teorias sobre Cultura
UNIDADE
II
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Ainda hoje essa postura consiste em um problema: parte dos cientistas defende que se tratam, 
as práticas de violência acima descritas, de práticas culturais, de modo que qualquer tentativa de 
universalização de valores – incluindo a liberdade, igualdade, o direito à vida e à inviolabilidade 
do corpo – seria um atentado contra a autonomia cultural. Outra parte significativa defende que 
alguns valores devem ser universalizados.
Ocorre que, da mesma forma, sociedades que historicamente foram compreendidas 
como civilizadas, são também portadoras de culturas violentas e que atentam contra direitos 
básicos. Vide o histórico de guerras religiosas, intolerância, torturas, execuções em fogueiras 
e enforcamentos que atravessa a história do cristianismo na Europa. Vide a violência com que 
negros são tratados pela polícia nos Estados Unidos de hoje. Para não nos demorarmos nas 
incontáveis possibilidades de exemplos que demonstram que culturas de ódio e intolerância são 
também fenômenos universais.
Importante pergunta a ser feita é: reconhecido o direito à autonomia cultural e à necessidade 
de se relativizar valores, não seria necessário universalizar a liberdade, igualdade, o direito à vida 
e à inviolabilidade do corpo?
Estruturalismo
Figura 11 – French philosopher Claude Lévi-Strauss
Fonte: Wikimedia/Commons
O antropólogo, professor e filósofo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009) foi o fundador 
da chamada Antropologia Estrutural, corrente que se conformou a partir de seus estudos 
sobre os povos indígenas do Brasil. Durante o período em que aqui permaneceu, integrou a 
missão francesa que teve como objetivo estruturar as áreas de Ciências Humanas da recém-
criada Universidade de São Paulo (USP), no período que se estendeu de 1935 a 1939. Durante 
esses quatro anos, estudando aspectos sobre a língua, costumes e lendas de povos indígenas, 
coletou os dados que permitiram criar uma nova teoria antropológica, elaborada e apresentada 
entre o final da década de 1940 e início de 1950.
Estudou os Kaingang, no Norte do Paraná. Os pressupostos dessa nova corrente teórica 
foram publicados em duas de suas principais obras: As estruturas elementares do parentesco, 
de 1949; e Tristes trópicos, de 1955; que o notabilizaram mundialmente.
Teorias sobre Cultura
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Lévi-Strauss fez uso da chamada teoria estruturalista francesa, a qual pressupunha que “estruturas 
universais” estariam por trás de todas as ações humanas, dando forma às culturas em suas mais 
variadas manifestações: linguagem, mitos, religiões etc.
Distinguiu-se gravemente dos demais antropólogos que buscavam revelar as diferenças 
entre povos e culturas, nas mais das vezes valorativas; enquanto Lévi-Strauss procurava as 
estruturas universais, chamadas também de estruturas profundas.
Sem se preocupar com as diferenças, os estudos de Lévi-Strauss 
colaboraram na relativização entre povos e culturas, estreitando seus 
laços pela via da aceitação do diverso exatamente porque, para esse 
pesquisador, as diferenças entre os povos não constituíam o objeto cen-
tral de interesse antropológico.
Para Lévi-Strauss a maior parte dos antropólogos estava preocu-
pada com o que nominou de “aparência”. Obviamente, utilizou-se de 
um dos fundamentos do estruturalismo para fazer tal afirmação, exata-
mente a oposição entre essência e aparência. Suas pesquisas estavam 
dirigidas aos sentidos profundos das ações humanas e de seus produ-
tos, na busca pela essência, encontrando-se com a Psicologia, a Lógica 
e a Filosofia das sociedades estudadas. A mera descrição das práticas 
rituais de uma determinada sociedade, a aparência, não lhe interessa-va. Essa nova e revolucionária abordagem encontrou contornos teóricos acabados na obra O 
pensamento selvagem, de 1962.
Sobre o impacto que representou, para além da Antropologia, implicava em como tratar o, 
até então denominado, homem primitivo. Seu método estruturalista permitia compreender 
que sociedades tribais revelavam sistemas lógicos notáveis, de qualidades mentais, racionais tão 
sofisticadas quanto às de sociedades até então tidas como superiores.
Sua teoria desmontava as convicções comumente aceitas de que as sociedades primitivas 
seriam intelectualmente deficitárias e temperamentalmente irracionais, e que suas ações e obras, 
que constituiriam seus “pobres” repertórios culturais, tinham por finalidade a satisfação de 
necessidades imediatas, como as de alimento, vestimenta e abrigo. Sob esses novos pressupostos 
teóricos, a visão pejorativa sobre as tribos primitivas estava fadada a desaparecer.
Finalizando esta Unidade, é importante perceber que existem diferentes teorias que explicam 
a cultura e a visão sobre a existência do homem. 
Figura 12
Teorias sobre Cultura
UNIDADE
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
O Nascimento da Antropologia Americana e o Difusionismo: “Franz Boas como Protagonista.”
O nascimento da Antropologia americana e o difusionismo: Franz Boas como protagonista, do 
site Nações do Mundo
https://goo.gl/eEZUZU
Difusionismo e Evolucionismo
Difusionismo e evolucionismo, de Dilaze Mirela Fonseca e Marina Rute Pacheco, no site ant1mcc
https://goo.gl/uD3quY
História e Etnologia. Lévi-Strauss e os embates em região de fronteira
História e Etnologia. Lévi-Strauss e os embates em região de fronteira, de Lilia K. Moritz 
Schwarcz, no portal Scielo
https://goo.gl/zPTfMa
 Filmes
Brincando nos campos do Senhor
Brincando nos campos do Senhor. Dir. Héctor Babenco, Estados Unidos, drama, 
colorido, 1991.
Dança com lobos
Dança com lobos. Dir. Kevin Costner. Estados Unidos, drama, colorido, 1990.
O último dos moicanos
O último dos moicanos. Dir. Michael Mann, Estados Unidos, drama, colorido, 1992.
Teorias sobre Cultura
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Referências
CHICARINO, Tathiana. Antropologia social e cultural. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 
2014. (e-book).
FONSECA, Dilaze Mirela; PACHECO, Marina Rute. Difusionismo e evolucionismo. ant1mcc, 
7 abr. 2009. Disponível em: <http://ant1mcc.blogspot.com/2009/04/difusionismo-e-
evolucionismo.html>. Acesso em: 15 jan. 2017.
HOEBEL, E. A.; FROST, E. L. Antropologia cultural e social. São Paulo: Cultrix, 1976.
REIS, Nicoli Isabel dos. [Resenha de] BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso Castro. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 109 p. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, RS, 
v. 10, n. 22, jul./dec. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
71832004000200015&script=sci_arttext>. Acesso em: 15 jan. 2017.
SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. História e Etnologia. Lévi-Strauss e os embates em região de 
fronteira. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 42, n. 1-2, 1999. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77011999000100011&script=sci_arttext>. Acesso em: 
15 jan. 2017.
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Rodrigo Medina Zagni
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
III
Diversidade Étnico-Cultural
Diversidade Étnico-Cultural
UNIDADE
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Diversidade Cultural
Registros históricos e artefatos possibilitaram aos arqueólogos encontrar evidências de que os 
diversos grupos humanos, em sua relação com a natureza e com o meio no qual viviam, criaram 
e produziram modos de vida que os diferenciavam dos demais.
Em contraponto à dimensão biológica e racial, é importante ressaltar que a cultura diz respeito 
a uma construção humana, elaborada ao longo do tempo histórico da existência do homem, em 
suas diferentes condições do meio geográfico no qual vivia. 
O processo de renovação cultural é, por instância, dialético, de forma que não se pode pensar 
cultura dos povos – com seus hábitos, costumes, crenças, religiões, formas de alimentação etc. 
– sem trazer a sua relação com a sociedade de cada época, com o meio geográfico e com as 
condições dos diversos grupos humanos. Nesse processo há sempre permanências, tradições na 
cultura, ao mesmo tempo em que também vai se renovando. 
A Antropologia é a Ciência que vem estudando essa dimensão cultural desde o século XIX, de 
forma mais pormenorizada, caracterizando-a da seguinte maneira:
A cultura não pode ser confundida com caracteres genéticos e/ou biológicos, como algo que já 
nascemos; mas sim como aprendizado que adquirimos de diferentes formas ao longo de nossas vidas; 
A cultura é uma dimensão humana, já que algumas espécies também vivem em sociedade – 
como formigas ou abelhas –, mas não produzem cultura como o ser humano; 
O homem e demais animais adaptam-se ao meio no qual vivem, mas o homem, conforme 
sua cultura, adapta-se e transforma o meio, produzindo novas formas de vida – de moradia, 
vestimenta, explicação do mundo, meios de produção – mediante técnicas;
A cultura produzida pelos povos e sociedades de cada época cria certas padronizações, tabus, 
normas – caso das normas da língua, da religião, entre outras. Tais normas e preceitos das 
religiões, por exemplo, definem o comportamento de um indivíduo de determinada religião, 
diferindo-o de outro. De modo similar, as normas de linguagem – de como falar e escrever – são 
também padronizadas. Há discursos hegemônicos, que ditam os valores do que deve ser o certo 
e errado, moldando partes das características de uma determinada cultura;
Há interação da sociedade, economia, cultura, proporcionando transformação constante e 
integrada, de forma dialética, ou seja, com a permanência de contradições.
As formas de alimentação são exemplos de como os comportamentos sociais evoluíram à 
medida que a sociedade se tornava mais complexa. De homens e mulheres coletores, pescadores 
e caçadores, que tinham grande grau de dependência da natureza e cujas técnicas eram 
rudimentares e locais, o ser humano passou a domesticar animais e plantas, de forma sistemática 
e em escala mais ampla, no que viria a ser chamado de agricultura e de pecuária. 
Daí vem a palavra agricultura, que era, de fato, uma expressão da cultura dos povos que, 
ao domesticarem plantas, em sua relação com a natureza, criaram as diversas culturas alimen-
tares que distinguem um povo dos outros, mesmo hoje em dia. Quando mencionamos, por 
exemplo, culinária italiana, indiana, japonesa, mineira etc., estamos tratando dessa dimensão 
Diversidade Étnico-Cultural
43
da cultura alimentar. Logo, a palavra cultura foi usada primeiramente com o termo agricultu-
ra – como prática do campo –, tais como cultura do trigo, do milho e assim usada no sentido 
dessa prática primordial. 
Posteriormente, passou a ser empregada como conceito que exprimia o modo de vida, em 
um primeiro momento dos camponeses – do homem que produzia e praticava agricultura – e 
depois em um sentido e conotação mais ampla, como a cultura dos homens e seus modos de 
vida, hábitos e costumes. 
As diversas tradições da cultura alimentar foram hibridizadas, misturadas, mescladas, com novas 
descobertas, que surgiam à medida que havia migrações dos povos. Igualmente pelo processo de 
colonização e outros movimentos da população ao longo da história, houve maior contato entre 
povos que tinham diferentes hábitos e produtos alimentares.
Foi o caso da batata e do tomate, por exemplo, que são oriundos do Continente americano e 
foram levados à Europa mediante o processo de colonização. Sua cultura foi tão bem absorvida pelos 
europeus, que é impossível hoje pensar na culinária italiana sem considerar o molho de tomate, ou 
na portuguesa sem o bacalhau com batatas.
E hoje, com uma cultura mais globalizada, vemos alguns hábitos alimentares tornarem-
se hegemônicos, devido à estandardização – padronização – dos costumes, veiculadospela 
propaganda, pela mídia em geral, pelas redes sociais e pela indústria de alimentos. 
A Revolução Técnico-Científica, empreendida a partir da segunda metade do século XX, 
com o avanço das ciências – Química, Biotecnologia –, das técnicas – sobretudo da Engenharia 
Genética –, promoveu transformações nas formas de se alimentar e também de produzir sinteti-
camente, de maneira artificial e/ou por meio de hibridizações e da criação de novos alimentos. 
Portanto, não existe uma só cultura, mas uma diversidade de culturas pelo mundo, que vão 
sempre mudando ao longo do tempo, considerando as mediações da família, da sociedade de 
cada época, da natureza, da escola, entre outras interações, as quais acabam por alterar os 
modos de vida, as formas de existência e, assim, a própria cultura.
Logo, um indivíduo imerso em uma determinada cultura nunca tem total conhecimento da 
qual, tanto porque esta muda, quanto porque certos traços lhe escapam. Mesmo fazendo parte 
de um grupo com o qual nos identificamos, não somos todos iguais em todos os aspectos dessa 
cultura, principalmente no mundo de hoje e aos que vivem nas grandes metrópoles, onde há 
multiplicidade de informações que nos chegam, diversidade de eventos que nos trazem diferentes 
maneiras de pensar, de viver.
Do mesmo modo que a cultura não passa sempre por uma transformação total, por isso 
é dialética, há sempre um pouco do passado em tudo que fazemos, ao mesmo tempo em 
que também vamos inovando. Vejamos um exemplo: as formas de nos expressar na língua 
portuguesa não são as mesmas desde o século XIX, pois isto foi sendo modificado; mas, ao 
mesmo tempo, não é uma linguagem inteiramente nova, por isso incorporamos novidades 
a nossa linguagem, mas também outras normas da língua permanecem. Ou seja, há sempre 
permanências e tradições na cultura, ao mesmo tempo em que esta é constantemente recriada.
Diversidade Étnico-Cultural
UNIDADE
III
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As bases materiais e técnicas vão também mudando e isso faz com que a cultura também 
se altere. O nosso modo de vida urbano, por exemplo, trouxe aos homens e mulheres novas 
formas de sobreviver, mas os que vivem na cidade perderam a cultura do campo, das formas 
de plantar, de modo que se você pergunta para uma criança que vive em meio urbano de onde 
vem uma fruta, é comum que responda: “Do supermercado”, que é a visão imediata da cultura 
que cada um possui. 
Assim, afirmamos que a cultura tem relação com o tempo histórico, produzido pelos 
grupos, povos e sociedade de cada época, como também tem relação com o espaço e meio 
geográfico, porque é diferente e diversa nos distintos lugares do mundo. 
Desse modo, as transformações pelas quais determinada cultura passa se processam sempre 
em um movimento dialético – interno e externo –, a saber: 
 · Interno, endógeno, dentro da mesma cultura, vai se alterando ao longo da história;
 · Externo, exógeno, devido ao contato com outras culturas, de forma amigável ou por meio 
de guerras, saques, domínios etc. 
Ambos os modos são condições integradas e ocorrem em um processo contínuo. 
Explicações para as Diferenças 
Étnico-Culturais
Ao tratar do tema das diferenças étnico-culturais, é fundamental conceituar etnia. Trata-se de 
um termo que deriva de ethos, palavra grega, e pode ser definido como um grupo biológico e 
culturalmente mais homogêneo, que tem o mesmo ethos, ou seja, costumes, religião, crenças, 
língua, hábitos, entre outras características comuns. Dito de outra forma, partilhando certos cos-
tumes, tradições, técnicas, comportamentos em comum. 
Tal termo não é sinônimo de raça, já que raça é relacionada exclusivamente ao sentido bioló-
gico, da cor da pele, dos traços físicos – do cabelo, do nariz, das formas físicas etc. –, sendo um 
componente do biótipo humano. 
Ao longo da história humana, o homem, em sua relação com o meio geográfico, com a 
natureza e com outros grupos humanos, foi elaborando formas de viver e de cultura.
Mediante o processo de colonização, neocolonização ou outros movimentos migratórios, os 
diversos grupos humanos foram colocados em maior contato entre si, levando a questionamentos 
em relação às diferenças raciais, do biótipo – características físicas, cor da pele, formato do corpo, 
do cabelo etc. –, bem como aspectos étnico e socioculturais, tais como formas de organização 
social, crenças, religiões, técnicas usadas, relações familiares, formas de moradia, entre outros.
O surgimento de civilizações em algumas regiões do mundo – caso do Oriente Próximo 
(Egito Antigo, Mesopotâmia, Fenícia etc.) e dos vales fluviais na China e Índia – ocasionou o 
surgimento de maior separação entre diferentes tipos de trabalhadores – artesãos, agriculto-
Diversidade Étnico-Cultural
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res, escribas, construtores. Essa evolução favoreceu o surgimento das primeiras cidades, nas 
quais ocorriam contatos entre diferentes grupos humanos, superando aquela condição na qual 
os povos viviam somente em aldeias. 
Mesmo entre os que permaneceram em aldeias, as guerras e os saques promoviam o contato 
entre diferentes grupos humanos, o que levava sempre aos questionamentos em relação às 
diferenças étnico-culturais, bem como das origens dos seres humanos. Surgiam, assim, mitos e 
religiões. Em geral, os povos da Antiguidade buscavam nos mitos, nas crenças animistas, ou nas 
ideias filosóficas as explicações para as diferenças raciais, étnico-culturais entre os homens. 
Importante!
Que se entende por crenças animistas aquelas que acreditam na força espiritual de 
objetos, tais como pedras, plantas, animais etc., atribuindo-lhes poder espiritual, ou 
como amuletos?
Você Sabia?
Era comum os povos considerarem que estavam no centro do mundo, e a própria cartografia 
e seus mapas refletiam tal concepção, no que se define como visão etnocêntrica. 
Na China Antiga, por exemplo, os mapas eram produzidos colocando as dinastias chinesas 
no centro do mundo e os demais povos mais distantes eram definidos como selvagens. Já os 
esquimós, da mesma forma, colocavam-se no centro do mundo e se não conheciam outros 
povos, era porque estes não eram importantes, diziam. 
O etnocentrismo não se resume à produção de desenhos e mapas a partir da visão de um 
povo, mas tem relação com a forma de pensar, na qual as pessoas ou grupos humanos interpre-
tam e leem o mundo a partir da própria ótica, da cultura, do modo de pensar e de vida – como 
se a própria cultura fosse o centro do mundo, a forma correta de agir, o modo de vida adequado. 
Conforme afirma o pesquisador Everardo Rocha (1988, p. 18), no livro O que é etnocentrismo, 
sobre o conceito do termo: “Etnocentrismo é uma visão de um mundo onde o nosso próprio 
grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos 
nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência”.
Desse modo, a visão etnocêntrica acaba por levar a extremos de xenofobia – aversão a estran-
geiros –, intolerância social e étnico-cultural e especificamente religiosa, por aqueles que reconhe-
cem apenas sua cultura como legítima. 
O etnocentrismo pode levar à exacerbação de movimentos sociopolíticos que acabam se 
tornando intolerantes, perseguindo outras etnias, religiões e/ou manifestações culturais, discri-
minando outros povos, podendo, inclusive, constituir-se em partidos políticos ou entidades que 
buscam valorar sua etnia e cultura em julgar a cultura do “outro”, em um movimento de negação 
das demais culturas. 
Termos como cultura “atrasada”, “inferior”, foram usados ao longo da história para justificar 
repressões, ataques, guerras ou, de forma subliminar, discriminações que aparentemente não são 
violentas, mas que escondem preconceitos com outros povos que não têm a mesma cultura do 
opressor. Pauta-se em um juízo de valor do que é certo e o que é errado, depreciando e mediado 
Diversidade Étnico-Cultural
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por impressões sobre a cultura alheia. Quando alguns europeus vieram colonizar a América, por 
exemplo, houve várias situações

Outros materiais