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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DE TRÊS LAGOAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO CAMPO TRISTE (BHRCT) – TRÊS LAGOAS/MS MARCOS LEON MEGIAS JUNIOR TRÊS LAGOAS 2018 2 FOLHA DE APROVAÇÃO MARCOS LEON MEGIAS JUNIOR DIAGNÓSTICO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO RIBEIRÃO CAMPO TRISTE (BHRCT) – TRÊS LAGOAS/MS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Geografia do Campus de Três Lagoas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul em 2018 – Mestrado em Geografia/CPTL/UFMS – Área de Concentração Análise Geoambiental e Produção do Território, como exigência final para obtenção do Título de Mestre em Geografia, sob orientação do Profº Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto Coorientador: Profº. Dr. Vitor Matheus Bacani Resultado: _________________________________ Três Lagoas, MS, ____ de __________________ de 2018. BANCA EXAMINADORA __________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto Universidade Federal de Mato Grosso do Sul 3 __________________________________________ Professor Dr. Mauro Henrique Soares da Silva Universidade Federal de Mato Grosso do Sul __________________________________________ Professor Dr. Frederico dos Santos Gradella Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Suplente: _______________________________________________ Dr. Cesar Cardoso Ferreira 4 AGRADECIMENTOS Agradeço ao bom Deus pela oportunidade de aprendizado constante e de poder contar sempre com pessoas generosas. Sou grato a meus pais, minha família e aos meus bons amigos, meus irmãos de caminhada. Minha mãe Zenaide, incansável. Meu pai, de onde estiver, mando-lhe uma saudação de gratidão. Minha irmã Soyla, meu cunhado, sobrinha, meu tio Zé... todos... Minha tia Vilma que já fez sua passagem, mas que colaborou com muitas coisas até aqui, igualmente devo minha gratidão. Não deixo de agradecer aos meus amigos/ colegas mestrandos/mestres, Renan, Rafael (Tripa), Mateus, Erivelton, enfim muitos nomes que aqui não estão... Dias hilários de estudos de campo... Desculpem se esqueci-me de alguém... Me lembro sempre do meu amigo Nivaldo Elias, que exemplo! Gratidão imensa. Não deixo de agradecer à Sandrinha que tenho muito carinho e, à Dona Regina, Marlene, que me auxiliaram demais desde o princípio. A passagem de vocês por minha vida, me enriqueceu muito. Quantos almoços bem feitos! Valeu mesmo! Agradecimento especial à CAPES, sem este programa de bolsa, em determinados momentos, seria impossível levar este projeto adiante. Sem dúvida que saio deste projeto, muito melhor do que quando entrei. Muito obrigado ao Professor Dr. Arnaldo Yoso Sakamoto, sempre solícito, atencioso e compreensivo. Acreditou em mim desde o começo. Ao Professor Dr. Mauro Henrique Soares da Silva, por toda aprendizagem. As disciplinas em que fiz estágio de docência, mudaram meus conceitos... Levarei de bagagem comigo. Ressalto as colaborações para este trabalho também. Mais obrigados... Professor Dr.Frederico dos Santos Gradella, pelas dicas, observações e convívio... Professor Dr. Vitor Matheus Bacani, pela incansável prontidão e dedicação. Seus ensinamentos em geoprocessamento representam algo muito efetivo no entendimento de questões de planejamento. Ao Dr. Cesar Cardoso Ferreira, pela gentileza, camaradagem e ensinamentos. Guardo sempre boas recordações dos momentos de Master Chef na grelha em dias de jogos. 5 RESUMO Esta pesquisa tem como objetivo, a elaboração de um diagnóstico ambiental para fins de Ordenamento Territorial, com base na análise empírica da fragilidade ambiental da Bacia Hidrográfica do Córrego Ribeirão Campo Triste (BHRCT), localizada no município de Três Lagoas-MS. Este é afluente do Rio Sucuriú, o qual é contribuinte à bacia do Rio Paraná. Representa uma vasta porção espacial e territorial, relativamente distante do distrito sede do município, porém dispõe de duas áreas urbanizadas, que são o distrito de Arapuá (localizado no afluente homônimo ao distrito) e o distrito de Garcias. Além destes, encontra-se o núcleo residencial “Bom Jardim” na região da foz do córrego e em área rural. Para tal tarefa, procurou-se compreender o impacto da dinâmica de ocupação antrópica ao longo da cabeceira, vertente principal, afluentes e por fim em sua foz, onde há forte tendência de concentração de sedimentos oriundos de todas as partes da bacia. Os resultados mostraram que, apesar de corresponder a apenas pouco mais de 5%da área total, as áreas em alta fragilidade ambiental concentram os maiores problemas relacionados aos processos erosivos nas planícies de inundação. Em geral, predominam as áreas com baixa fragilidade, ocupando quase a metade da bacia, ressaltando-se que a média fragilidade alcançou mais ou menos um terço da BHRCT. A utilização de geotecnologias tais como o Sensoriamento Remoto e o geoprocessamento como um todo foram fundamentais no processo de elaboração de diagnóstico ambiental para a BHRCT. RESUMÉN Esta investigación tiene como objetivo, la elaboración de un diagnóstico ambiental para fines de Ordenación Territorial, con base en el análisis empírico de la fragilidad ambiental de la Cuenca Hidrográfica del Córrego Ribeirão Campo Triste (BHRCT), ubicada en el municipio de Três Lagoas-MS. Este es afluente del Río Sucuriú, el cual es contribuyente a la cuenca del río Paraná. Se trata de una amplia porción espacial y territorial, relativamente distante del distrito sede del municipio, pero dispone de dos áreas urbanizadas, que son el distrito de Arapuá (ubicado en el afluente homónimo al distrito) y el distrito de Garcias. Además de estos, se encuentra el núcleo residencial "Bom Jardim" en la región de la desembocadura del arroyo y en el área rural. Para tal tarea, se intentó comprender el impacto de la dinámica de ocupación antrópica a lo largo de la cabecera, vertiente principal, afluentes y por fin en su desembocadura, donde hay una fuerte tendencia de concentración de sedimentos oriundos de todas las partes de la cuenca. Los resultados mostraron que, a pesar de corresponder a apenas poco más del 5% del área total, las áreas en alta fragilidad ambiental concentran los mayores problemas relacionados con los procesos erosivos en las planicies de inundación. En general, predominan las áreas con baja fragilidad, ocupando casi la mitad de la cuenca, resaltando que la media fragilidad alcanzó más o menos un tercio de la BHRCT. La utilización de geotecnologías tales como la Sensibilización Remota y el geoprocesamiento como un todo fueron fundamentales en el proceso de elaboración de diagnóstico ambiental para la BHRCT. 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Localização da BHRCT ............................................................................................ 12 Figura 2. Esquema de Geócoros Elementares A (Simples) e B (Complexo) ........................... 16 Figura 3. Esquema organizado de paisagem – Geócoros e geômeros taxonomicamente demonstrados por Cavalcanti.................................................................................................... 16 Figura 4. Formação do Solo ..................................................................................................... 23 Figura 5. Modelo conceitual sobre fatores causais e indicadores de Pressão- Estado- Respostan..................................................................................................................................32 Figura 6. Exemplo de estrutura adotada para o planejamento de recursos hídricos sob o enfoque ambiental .................................................................................................................................34 Figura 7. Fases do Planejamento Estruturado Organizacionalmente ........................................ 40 Figura 8. Ações de planejamento correlacionados à elaboração de produtos de planejamento territorial/ambiental ................................................................................................................. 41 Figura 9. Interatividade do diagnóstico ambiental com o planejamento e gerenciamento ambientais ................................................................................................................................ 42 Figura 10. Fluxograma estruturante desta pesquisa .................................................................. 46 Figura 11. Exemplo de estrutura adotada para o planejamento de recursos hídricos sob o enfoque ambiental (metodológico) .......................................................................................... 47 Figura 12. Mapa de espacialização dos pontos visitados em campo na BHRCT ..................... 49 Figura 13. Critérios de representação cartográfica do uso da terra e cobertura vegetal adotados para a BHRCT .......................................................................................................................... 54 Figura 14. Mapa com os tipos de Solos disponíveis na BHRCT .............................................. 63 Figura 15. Croqui - Esboço do perfil litoestratigráfico da região da BHRCT e o município de Três Lagoas .............................................................................................................................. 69 Figura 16. Serrinha de Garcias em segundo plano ................................................................... 71 Figura 17. Mapa da Geologia presente na BHRCT .................................................................. 71 Figura 18. Mapa de Declividades da BHRCT .......................................................................... 74 Figura 19. Mapa de Pluviosidade na BHRCT .......................................................................... 78 Figura 20. Mapa com as áreas prioritárias de conservação na BHRCT ................................... 81 7 Figura 21. Região do anfiteatro na BHRCT ............................................................................. 83 Figura 22. Mapa de Fragilidade Potencial da BHRCT ............................................................. 85 Figura 23. Amostras de Classes Temáticas presentes na BHRCT no ano de 2017 .................. 87 Figura 24. Uso e Cobertura da Terra na BHRCT em 2017 ...................................................... 85 Figura 25. Mapa dos Pontos Visitados na BHRCT .................................................................. 91 Figura 26. Mapa de Fragilidade Ambiental da BHRCT ........................................................... 93 Figura 27. Aspectos da Paisagem do Alto RCT ....................................................................... 95 Figura 28. Vista aérea do Distrito de Garcias - Arruamento em terra com baixa proteção de solo .................................................................................................................................................100 Figura 29. Margem direita do Córrego Brejo Comprido .........................................................101 Figura 30. Aspectos da Paisagem do Médio RCT (Pontos 11 a 20) ....................................... 104 Figura 31. Aspectos da Paisagem do Médio RCT (Pontos 21 a 26) ....................................... 105 Figura 32. Vista aérea do Distrito de Arapuá .......................................................................... 113 Figura 33. Vista aérea do Assentamento 20 de Março. Proximidade dos córregos Arapuá/ afluente Córrego Cab. Da Turma ........................................................................................... 113 Figura 34. Aspectos da Paisagem do Baixo RCT (Pontos 27 ao 36......................................... 115 Figura 35. Vista aérea do Loteamento Bom Jardim em área rural .......................................... 123 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1. Curva Espectral por Componente da Superfície Terrestre - Energia refletida (%) x Comprimento de ondas (m) ..................................................................................................... 51 Gráfico 2. Chuva Anual no Bolsão de Mato Grosso do Sul ................................................... 75 Gráfico 3. P75 da Chuva Mensal do Bolsão de Mato Grosso do Sul ..................................... 77 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Sotchava – Sistema Taxonômico de Classificação de Paisagem conforme a Dimensão Espacial .................................................................................................................................... 17 8 Tabela 2. Taxonomia das Unidades de Paisagem em função da Escala Têmporo – Espacial – Exemplos de Unidades Elementares ........................................................................................ 19 Tabela 3. Dados técnicos do Satélite Landsat 8 – Sensor OLI ................................................. 30 Tabela 4. Categorias de Fragilidade e Pesos atribuídos a cada tipo de variável analisada ......57 Tabela 5. Atribuição de pesos para a Análise da Fragilidade Potencial para Solos ................. 57 Tabela 6. Atribuição de pesos para a Análise da Fragilidade Potencial em Áreas Prioritárias .58 Tabela 7. Atribuição de pesos para a escala de Vulnerabilidade/Fragilidade de acordo com os autores ...................................................................................................................................... 58 Tabela 8. Atribuição de pesos para a Pluviosidade na BHRCT ............................................... 59 Tabela 9. Categorias Hierárquicas de Fragilidade para Declividade ........................................ 59 Tabela 10. Pesos atribuídos as Classes de Declividade da BHRCT ......................................... 60 Tabela 11. Pesos atribuídos para as Classes de Uso e Ocupação da Terra da BHRCT ............ 60 Tabela 12. Áreas ocupadas por tipos de solo na BHRCT ......................................................... 62 Tabela 13. Áreas da BHRCT por classe de declividade ........................................................... 72 Tabela 14. Variabilidade das chuvas em (mm) na Região do Bolsão de Mato Grosso do Sul ..76 Tabela 15. Ponderação de pesos conforme a pluviometria na BHRCT .................................... 79 Tabela 16. Áreas Prioritárias de Conservação na BHRCT por Classe de Fragilidade Potencial .................................................................................................................................................. 80 Tabela 17. Áreas totais por Classes de Fragilidade Potencial na BHRCT ............................... 84 Tabela 18. Análise quantitativa do uso da terra e cobertura vegetal na BHRCT no ano de 2017 .................................................................................................................................................. 86 Tabela 19. Graus de proteção do solo por classe temática na BHRCT .................................... 89 Tabela 20. Áreas de Fragilidade Ambiental da BHRCT .......................................................... 92 Tabela 21. Pontos Visitados no Alto RCT ................................................................................ 96 Tabela 22. – Pontos Visitados no Médio RCT .........................................................................106 Tabela 23. Pontos visitados no Baixo RCT ............................................................................ 116 9 SUMÁRIO CAPÍTULO I .................................................................................................................................................11 1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................11CAPÍTULO II ...............................................................................................................................................14 2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................................14 2.1 ABORDAGEM SISTÊMICA E A CONCEPÇÃO DE SOTCHAVA .................................................................... 14 2.1.1 Evolução no conceito de Geossistema ............................................................................................. 17 2.1.2 Unidades Ecodinâmicas .................................................................................................................. 20 2.2 ANÁLISE E CLASSIFICAÇÃO DE PAISAGENS .......................................................................................... 26 2.2.1 Fragilidade Ambiental ..................................................................................................................... 26 2.2.2 A importância do Geoprocessamento .................................................................................................. 29 2.2.3 Diagnóstico Ambiental ........................................................................................................................ 31 2.3 PLANEJAMENTO TERRITORIAL EM BACIAS HIDROGRÁFICAS ................................................................ 35 2.3.1 BASES PARA ORDENAMENTO TERRITORIAL ............................................................................................. 35 2.3.2 Bacias Hidrográficas como Unidade de Planejamento ....................................................................... 38 CAPÍTULO III ..............................................................................................................................................43 3. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS .....................................................................................................43 3.1 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS .......................................................................................................... 50 3.1.1 Delimitação da Área da BHRCT ..................................................................................................... 51 3.1.2 Elaboração de Mapa de Uso da Terra e Cobertura Vegetal ........................................................... 52 3.1.3 Elaboração dos Mapas Temáticos por Dados Secundários ............................................................ 54 3.1.4 Utilização da Álgebra de Mapas ..................................................................................................... 56 CAPÍTULO IV ..............................................................................................................................................61 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .........................................................................................................61 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA BHRCT ............................................................................................................ 61 4.2 PEDOLOGIA NA BHRCT ....................................................................................................................... 62 4.2.1 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA DA BHRCT ......................................................................................... 68 4.3 ASPECTOS CLIMÁTICOS NA BHRCT ..................................................................................................... 75 4.4 ÁREAS PRIORITÁRIAS DE CONSERVAÇÃO .................................................................................................... 80 4.5 FRAGILIDADE POTENCIAL NA BHRCT ......................................................................................................... 81 4.6 FRAGILIDADE AMBIENTAL ................................................................................................................... 86 4.6.1 Análise do Uso da Terra e Cobertura vegetal da BHRCT .............................................................. 86 CAPÍTULO V .............................................................................................................................................. 126 5. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................................................ 126 10 5.1 CORRELAÇÕES FÍSICAS E SUBJETIVAS ................................................................................................. 126 CAPÍTULO VI ............................................................................................................................................ 129 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 129 11 CAPÍTULO I 1. INTRODUÇÃO A questão da preservação ambiental e a destinação dos recursos naturais em nossa sociedade, por conta das incertezas a respeito do futuro de toda sociedade humana, passaram paulatinamente, ganhar cada vez mais as atenções nos debates do meio acadêmico-científico. Dentre os recursos naturais, a água exerce papel fundamental na preservação dos ecossistemas, na manutenção da vida por todo o planeta. Neste contexto, as bacias hidrográficas, consideradas como unidades básicas de planejamento, bem como a análise e classificação de paisagens, ganham importância significativa nas tratativas e tentativas de organizar, ordenar o território para que se faça presente a máxima utilização eficiente dos recursos naturais, minimizando-se de maneira significativa os impactos gerados pela sociedade humana para com a natureza. Este presente trabalho apresenta como objeto de estudo, a Bacia Hidrográfica do Córrego Ribeirão Campo Triste (BHRCT), cuja área é de aproximadamente 933,41 km². O Córrego é afluente da margem esquerda do Rio Sucuriú, que por sua vez é afluente do Rio Paraná, constituindo-se em uma sub bacia do Rio da Prata. A BHCRCT está localizada no município de Três Lagoas em Mato Grosso do Sul, entre as latitudes 20º37’57” S e 20º 40’55’’ S, e, longitudes 51º49’03” W e 52º14’39’’ W (figura1). Dispõe de uma área oficialmente loteada para ranchos de lazer (em área rural) e dois núcleos de urbanização localizados respectivamente na região da foz do córrego (Residencial Bom Jardim) e nos distritos de Arapuá e Garcias, contextualizados em uma extensa rede de drenagem, cujo os problemas ambientais já vinham sendo estudadas por Souza, (2007) e também por (QUEIROZ,2011). Na oportunidade do trabalho de Souza (2007), a cultura da cana de açúcar ocupava um espaço importante na BHRCT, importância esta que foi progressivamente substituída pela silvicultura, como atesta Queiroz (2011), implicando em transformações na dinâmica de uso e cobertura da terra e seus respectivos efeitos. O distrito de Arapuá está localizado na sub bacia do maior afluente da BHRCT, (homônimo), que dispõe também de um assentamento rural denominado “20 de Março”, igualmente importante do ponto de vista da ocupação e uso do solo. 12 Figura 1. Localização geográfica da BHCRCT. Org. Megias Junior, M.L (2017). O objetivo principal deste estudo é a elaboração de um diagnóstico ambiental da BHRCT. Outros objetivos específicos integrantes deste trabalho são: 1. Analisar a distribuição espacial dos atributos físico-naturais da BHRCT e, compreender a fragilidade potencial. 2. Identificar os aspectos de uso e cobertura da terra e analisar a fragilidade ambiental na BHRCT. Todavia, denota-se uma “atenção insuficiente”, ou pouco adequada ao mesmo, no que tange ao Plano Diretor Municipal de Três lagoas em sua estrutura atual, que fora revisado recentemente. Para os distritos de Arapuá e Garcias, a revisão do Plano Diretor Municpalde Três Lagoas (PDTL), por meio da Lei Municipal nº 3.211 de 06 de dezembro de 2016, prevê a adoção de leis específicas para o uso e ocupação, mas somente dentro da perspectiva de elaboração futura (e indefinida) de um Plano de Desenvolvimento Distrital para ambos. 13 As descrições das zonas que enquadram estas áreas no PDTL limitam-se a descrever tais porções espaciais como são usadas na atualidade, consolidando o cenário constituído ao longo dos últimos anos, repleto de comentários de entrelinhas sócio econômicas, porém, sem proposições mais explícitas. Assim, a importância das análises e diagnósticos da paisagem na BHRCT como fonte de subsídios para eventuais elaborações, reforçando a importância deste trabalho. Para realizar-se com êxito tais tarefas, o emprego de imagens de satélite, técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto são fundamentais, em paralelo aos relatórios de campo com base nas observações in loco. Destaca-se o caráter inédito das análises de fragilidade ambiental, que norteiam as proposições para embasar, potencializar um ordenamento territorial na BHRCT compatível com diversas finalidades de planejamento e/ou gestão. 14 CAPÍTULO II 2. Referencial Teórico 2.1 Abordagem Sistêmica e a Concepção de Sotchava A estruturação teórica deste trabalho parte do conceito da Teoria Geral dos Sistemas de Betalanfy (1975), da qual a Geografia, como ciência, passou a fazer uso de maneira mais intensiva a partir da segunda metade do século XX. É a partir da década de 60 do século passado que surge o conceito de Geossistema, quando diversos autores pertencentes às principais escolas epstemológicas do pensamento geográfico, tanto a anglo americana, mais alinhada à escola francesa, quanto a alemã, com características mais comuns à corrente soviética, conforme preceitua Abreu (2003), contribuíram para o seu desenvolvimento em termos de pesquisas e de aprofundamento teórico. Foi com o soviético Victor Sotchava que o conceito foi de fato, introduzido a partir de pesquisas elaboradas desde a segunda metade da década de 60 do século passado. Poucos anos depois, na década de 70, o assunto foi discutido e aprimorado por Georges Bertrand, como uma maneira de aplicar a teoria geral de sistemas ao estudo das paisagens naturais, sejam estas identificadas com certa modificação antrópica, ou não, cuja interação entre seus componentes físicos (sistemas) representa uma organização espacial resultante, a qual pode denominar-se geossistema. O termo “paisagem” pode adquirir significados diversos. Neste caso, a ideia de meio natural intacto ou de transformação pela ação do homem, direta ou indiretamente, está associada, objetivamente, a este trabalho. Santos (1997) coloca em evidência a complexidade do termo e a necessidade de uma análise integral e integrada: “[...] tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc.” (SANTOS, 1997, p. 61). 15 Quando se trata de “geosssitema”, podem-se abarcar diferentes concepções, envolvendo um sistema terrestre qualquer, ou uma formação física e funções correlacionadas à natureza de maneira geral, como, também, em relação a uma população, abranger aspectos culturais, bem como aspectos socioeconômicos, conforme a visão de (ROCHA, 2013). Para Sotchava (1977 apud Rodriguez, 1998), o geossistema trata-se de uma poliestrutura, onde se inclui uma geoestrutura morfolitogênica, hidroclimatogênica e biopedogênica, cuja abrangência desenvolve-se na articulação hierárquica de sistemas abertos em vários níveis e ordens, pelas quais as geofácies se subdividem, assim, em geossistemas elementares, onde ocorra a menor “ciclagem” de substâncias, ou ciclo elementar. Denota-se, até então, o embrião de uma proposição taxonômica geral, dentro de uma concepção sistêmica, quando Sotchava (1977, p.21) descreve: “O geossistema elementar (biogeocenose), como um geômero, já é indivisível pois que, ao dividir elementos do sistema isoladamente, não estamos lidando com o sistema como um todo. O geossistema elementar é inesgotável quando dividido em elementos mas, como tal é limitado por espaço terrestre e padrões funcionais definidos. [...] Supomos que haja um critério universal para o estabelecimento de uma unidade espacial mínima para geossistema de diferentes categorias. Esse critério tem por base a rotação de susbstãncias correspondentes à cada categoria de geossistema. Assim, a unidade espacial de uma biogeocenose, como parte de uma fácie, é o espaço terrestre no qual a rotação de substãncias ocorre.” (SOTCHAVA,1977 - p.21) Sotchava (1977) procurou estabelecer certos parâmetros taxonômicos, admitindo a dificuldade de se estabelecer limites essenciais entre componentes e elementos, tanto horizontalmente quanto verticalmente, elencando diversos fatores determinantes para tal e apoiando-se no conceito de menor unidade corológica do biólogo soviético N.V.Timofeev- Resovky (1973). Para Sotchava (1977), essa concepção era considerada como a biogeocenose elementar, dadas as inúmeras delimitações, sejam de ordem biocenótica, geomorfológica, hidrológica, microclimática ou pedo-geoquímica. Nesse contexto, o problema da regionalização dentro da classificação de geossistemas é abordado no reconhecimento do princípio dual, caracterizado pela classificação bilateral sistematizada nos conceitos de geômero e de geócoro (1972; 1974 apud SOTCHAVA, 1977), cujo termo geômero está associado à estruturação homogênea do geossistema, e geócoro diz respeito ao princípio das diferentes qualidades integrativas. 16 Ambos os conceitos estão correlacionados à maneira de se analisar e de se classificar uma paisagem. Nesse ponto, como bem observa Cavalcanti (2014), os geômeros estão classificados em categorias com base em uma tipologia, enquanto os geócoros estão classificados em ordens com base em sua correlação ou associação espacial, conforme ilustrado nas figuras 2 e 3 abaixo. Figura 2. Esquema de Geômeros Elementares A (Simples) e B (Complexo). Recortado de (CAVALCANTI, 2014). 17 Figura 3. Esquema organizado de paisagem - Geócoros e geômeros taxonomicamente demonstrados por (CAVALCANTI, 2014). A taxonomia constituída a partir do princípio dual mencionado acima pode ser vista a seguir na Tabela 1. Tabela 1 - Sotchava - Sistema Taxonômico de Classificação de Paisagem conforme a dimensão espacial Fonte: (Sotchava, 1978, p.92 apud CAVALCANTI, 2014). Os táxons dessa taxonomia da paisagem correspondem aos níveis hierárquicos expostos por Sotchava (1978) na Tabela 1, a qual, na prática, apresenta certas dificuldades de representação em termos de limites dentro de escalas e, mesmo, em relação à sua precisão. Acerca disso, Rocha (2013) destaca a noção de que o geossistema é um todo dialético, com multiplicidade de relações e de contradições, absorvendo os complexos bioecológicos e manifestando, simultaneamente, os processos da dinâmica transformadora e estabilizadora (homeostasia), priorizando as análises do geossistema natural, porém sem desconsiderar os valores sociais e econômicos. 2.1.1 Evolução no conceito de Geossistema 18 O pesquisador francês Bertrand (2002) apresentou uma taxonomia distinta de Victor Sotchava e concepções diferentes para geossistema. Os pontos que diferenciam a teoria de ambos são a incorporação e a fusão dos fatores antrópicos, em consideração às análises e às classificações de paisagem, estabelecendo, portanto, uma crítica ao trabalho de Sotchava, ainda que a dimensão antrópica fosse mencionada ao longo do trabalho do autor soviético. Nessa complementação teórica, as compartimentaçõespaisagísticas não se detêm mais, somente e majoritariamente, apenas aos fatores naturais (análise integrada), embora se mantivessem importantes as diferenciações e as compartimentações de homogeneidade no âmbito paisagístico. Ainda que haja uma um caráter de complementaridade entre os autores, parece não haver contato entre as perspectivas de ambos. Assim, o autor francês apresenta o conceito de sourse, que é a fonte; o geossistema natural, considerando-se os mesmos fatores da natureza (elementos físicos, químicos e biológicos), por meio do qual se permite compreender a estrutura e o funcionamento biofísico de um espaço geográfico em uma dada escala de tempo, graduando-se os níveis de antropização. Quando esse recurso fonte deixa de ser natural, torna-se o resourse, dando origem ao termo resoursement, que expressa o conceito de uma paisagem já configurada em termos de ocupação de um território sociocultural ou, mesmo, economicamente. Para Bertrand (2007), os diferentes estratos ou camadas geográficas terrestres (crosta terrestre, hidrosfera, troposfera, cobertura vegetal e animais) apresentam caráter interativo e dinâmico, acabando por definir o ambiente em que os homens vivem. O sucesso das análises desse estrato geográfico depende da correta inserção dos efeitos dos meios de produção sobre a natureza. A taxonomia proposta e adotada por Georges Bertrand para análise da paisagem, de acordo com Rocha (2013), ressalta a importância da dinâmica das diferentes unidades da paisagem sob o ponto de vista fisionômico, no qual a cartografia também exerce um papel importante, considerando a vegetação como principal elemento integrador. Porém, o geossistema aparece em uma escala temporo-espacial integrando um nível intermediário em tal taxonomia, ou seja, o geossistema passa a ser apenas um nível de categorização da paisagem. Há uma hierarquia de seis níveis, partindo da Zona, que está associada a uma escala de grandeza GI e ao conceito de zonalidade planetária. 19 Já o Domínio está associado à escala de grandeza GII; a Região associa-se às escalas de grandeza GIII e GIV; a unidade de paisagem Geossistema corresponde às grandezas GIV e GV; as Geofácies, à GVI; e o Geótopo (unidade básica), GVII, conforme exemplifica-se na Tabela 2, a seguir, elaborada por Bertrand (2004). Tabela 2 – Taxonomia das Unidades da Paisagem em função da Escala Temporo-Espacial – Exemplos de Unidades Elementares Fonte: (BERTRAND, 2004, p.145). A ordem de grandezas elaborada pelo autor parte da maior para a menor escala temporo-espacial e passou por alterações quanto ao vocabulário em relação a seu próprio trabalho anterior (Esquisse biogéographique de la Liébana, La dynamique actuelle des paysages, R.G.P.S. – O, 1964, fasc. 3, p. 225-262), em razão de críticas oriundas de diversos especialistas. A partir daí, Bertrand (2004) passa a delimitar as ordens de grandeza reconhecendo a dificuldade de representação cartográfica associada à taxonomia (variável). “O geossistema situa-se entre a 4ª e a 5ª grandeza temporo-espacial. Trata-se, portanto, de uma unidade dimensional compreendida entre alguns quilômetros quadrados e algumas centenas de quilômetros quadrados. É nesta escala que se situa a maior parte dos fenômenos de interferência entre os elementos da paisagem e que evoluem as combinações dialéticas mais interessantes para o geógrafo. Nos níveis superiores a ele só o relevo e o clima importam e, 20 acessoriamente, as grandes massas vegetais. Nos níveis inferiores, os elementos biogeográficos são capazes de mascarar as combinações de conjunto” (BERTRAND, 2004, p.146). Dentro do nível hierárquico da categoria do geossistema, têm-se outras duas subdivisões (geofácies e geótopos), as quais estão contextualizadas dentro de parâmetros de homogeneidade e correlacionadas às nuances de variações entre o potencial ecológico e a exploração biológica, que, por sua vez, estão sujeitos, ou não, a atingir o clímax, isto é, o equilíbrio entre ambos. “Com efeito, o geossistema é um complexo essencialmente dinâmico mesmo em um espaço-tempo muito breve, por exemplo, de tipo histórico. O “clímax” está longe de ser sempre realizado. O potencial ecológico e a ocupação biológica são dados instáveis que variam tanto no tempo como no espaço. A mobilidade biológica é bem conhecida (dinâmica natural da vegetação e dos solos, intervenções antrópicas, etc” (BERTRAND, 2004, p.147) Diante disso, ressaltam-se as definições de Bertrand (2007), que ilustram como o fator tempo e a noção de espaço não podem ser dissociados destas análises, cada qual com o papel melhor retratado dentro da perspectiva dos componentes: “O tempo do geossistema é aquele da natureza antropizada: é o tempo da fonte, das caracterósticas bio-físico-químicas de sua água e de seus ritmos hidrológicos. O tempo do território é aquele do social e do econômico, do tempo do mercado ao tempo do “desenvolvimento durável”: é o tempo do recurso, da gestão, da redistribuição, da poluição-despoluição. O tempo da paisagem é aquele do cultural, do patrimônio, do identitário e das representações: é o tempo do retorno às fontes, aquele do simbólico, do mito e do ritual” (BERTRAND, 2007, p. 284). Em função dos objetivos desta pesquisa, tomando-se em conta a ordem de grandeza da área total da BHRCT (entre nove e dez centenas de quilômetros quadrados de área) e a metodologia, não serão abordados detalhes, ou seja, não se denota a necessidade de classificações individualizadas de unidades de paisagem (em escala maior). Embora a escala adotada em termos cartográficos se refira à BHRCT como um todo (dentro da perspectiva escalar de um geossistema nestas circunstâncias) e a estrutura taxonômica conceitual temporo-espacial seja indispensável à compreensão dos fenômenos e tenha servido de base para as análises. 21 2.1.2 Unidades Ecodinâmicas De maneira complementar e, também, valendo-se da abordagem sistêmica e das feições da teoria do geossistema, Tricart (1977) propôs uma classificação analítica para os problemas relacionados aos ambientes, sob a perspectiva de um conceito ecológico, isto é, de uma classificação Ecodinâmica, calcada sobre a perspectiva ecológica, relacionada ao estudo dos seres vivos e das suas relações mútuas com o meio ambiente. Assim, corroborando ao conceito detalhado pelo autor, o qual foi sintetizado e definido previamente, pelo botânico inglês Arthur George Tansley, em 1934, da seguinte maneira: “O ecossistema é um conjunto de seres vivos mutuamente dependentes uns dos outros e do meio ambiente no qual eles vivem.” (TRICART, op. cit, p.17). Nesse caso, a concepção sistêmica, apoia-se, metodologicamente, na ideia a seguir. “Lembramos somente que um sistema é um conjunto de fenômenos que se processam mediante fluxos de matéria e energia. Estes fluxos originam relações de dependência mútua entre os fenômenos. Como consequência, o sistema apresenta propriedades que lhe são inerentes e diferem da soma das propriedades dos seus componentes. Uma delas é ter dinâmica própria, específica do sistema” (TRICART, op. cit, p. 19). Dessa maneira, o conceito de unidades ecodinâmicas integra-se ao conceito dinâmico de ecossistema, distinguindo-se da estaticidade de um inventário, como ressalta Tricart (op. cit) ao contextualizar a utilidade de ambos, cada qual em particular: “Um inventário pode ser útil para ordenação e administração do território, mas somente quando se trata de recursos não renováveis, como os minerais. Não é adequado para os recursos ecológicos. Com efeito, a gestão de recursos ecológicos deve ter por objetivo a inserção da tecnologia humana no ecossistema. Isso significa determinar a taxa aceitável de extração de recursos, sem degradação do ecossistema, ou determinar quais as medidas que devem ser tomadas parapermitir uma extração mais elevada, sem degradação” (TRICART, op.cit, p.32). Constata-se que os dois conceitos de geossistema e de ecossistema fundem-se, parcialmente. Segundo Rocha (2013, p.24), ecossistema refere-se à associação de organismos vivos e de substâncias abióticas, cujas propriedades são estudadas para se conhecer as 22 propriedades do centro do sistema (seja constituído por organismos vivos, ou pelo homem), apresentando um caráter, geralmente, monocêntrico, diferentemente do termo geossistema, que está associado ao caráter policêntrico e poliestrutural, apresentando maior número de componentes e de relações do que o ecossistema, além do caráter espacial ou territorial do sistema. Christopherson, define esse aspecto da diferenciação particular da dimensão e o caráter espacial-territorial de um ecossistema: “ecossistemas naturais são sistemas abertos tanto para a energia solar como para matéria, com praticamente todos os limites seus funcionando como zonas de transição e não como demarcações nítidas” (CHRISTOPHERSON, 2012). A classificação ambiental, conforme as unidades ecodinâmicas preconizadas por Tricart (1977), implica na distinção de três tipos de meios morfodinâmicos, em função dos processos atuais sobre a modelagem e a interface atmosfera-litosfera, que são meios estáveis, intergrades (em transição) e fortemente instáveis. Segundo Tricart (op.cit), os meios morfodinâmicos estáveis são, basicamente, caracterizados em cobertura vegetal densa, dissecação moderada do relevo e ausência de manifestações vulcânicas suscetíveis de desencadear paroxismos morfodinâmicos relevantes. Nesses ambientes, há uma predominância dos processos pedogenéticos sobre os morfogenéticos, ou seja, prevalece a pedogênese, que é o processo de formação do solo advindo de ações físicas que transformam o material original. Nesse processo, a rocha matriz, o clima, a biosfera, o tempo e o relevo são os agentes formadores, ou seja, de acordo com Lepsche (2002, p. 62), o solo é, outrossim, o resultante cuja função responde à equação-modelo conforme essas variáveis. “[...] uma unidade ecodinâmica se caracteriza por certa dinâmica do meio ambiente que tem repercussões mais ou menos imperativas sobre as biocenoses. Geralmente a morfodinâmica é o elemento determinante. A morfodinâmica depende do clima, da topografia (formas das vertentes), do material rochoso. Ela permite a integração desses vários parâmetros” (TRICART, 1977, p. 32). Nesse processo, que dura de centenas a milhares de anos para se completar, depois que a rocha aflora e está exposta na superfície (início do ciclo repetitivo, podendo ocorrer inúmeras vezes), há um desenvolvimento de musgos líquens que se estabelecem ali, alimentando-se da 23 água armazenada (delgada camada de rocha decomposta), e, caso não haja erosão acelerada, o desenvolvimento in situ prossegue. O solum começa a ganhar altura, e o espaçamento entre os horizontes vai aumentando progressivamente (LEPSCHE, 2011), passando por estágios que vão de patamares intermediários ao de maturação (caso dos argissolos). Daí por diante, em caso de bioturbação1, outro estágio de solo bem desenvolvido poderá ser formado na localidade, o de latossolos (figura 5). A laterização dos solos é um processo pedogenético característico de regiões de climas tropical e intertropical condicionado pela lixiviação2 de bases e de sílica. A ação de animais, insetos como formigas, cupins e minhocas, por exemplo, ao escavarem pequenos buracos na terra, propicia a entrada de água da chuva, acarretando a penetração em maiores profundidades. Assim, a porosidade do solo é alterada, mesmo em casos de concentrações maiores do teor de argila (como pode ser notado em argissolos), aumentando, assim, a capacidade de drenagem. Desse modo, nota-se que solos mais velhos, normalmente, são mais espessos que solos mais jovens. Nas etapas subsequentes de repetição do próprio ciclo de formação do solo, Lepsche (op. cit) descreve o processo como sendo contínuo e complexo. “Quando a rocha recém exposta, ou o sedimento recém depositado, entra em contato com a atmosfera, ocorre o intemperismo dos minerais primários que constituem a rocha, dando origem a formas mais estáveis, na busca pela manutenção do equilíbrio nessas novas condições ambientais [...] Com o tempo, outras mudanças ocorrem, tais como adição de húmus, formação e translocação de argila e remoção de sílica e bases” (LEPSCHE, 2011, p.289) 1 Processo de remoção de solo por parte de animais e insetos, com novo e posterior depósito ocasionado por erosões aceleradas (fator biológico). 2 É a extração ou solubilização dos constituintes químicos de uma rocha, mineral, solo, depósito sedimentar entre outros. 24 Figura 4. Elaborado por (LEPSCHE,2011, p.289). Já os meios fortemente instáveis, ainda de acordo com os critérios de Tricart (1977), caracterizam-se pelo inverso das características do meio estável, ou seja, neles há a predominância dos processos de morfogênese em relação aos de pedogênese (balanço negativo). Os aspectos que denotam as condições para a existência desses meio ambientes são ausência de cobertura vegetal densa, condições agressivas do bioclima, com fortes oscilações de intensidade de chuvas e ventos, dissecações marcantes no relevo, presença de solos rasos, locais em planícies e fundos de vale que estão sujeitos a inundações, além de atividades proeminentes na esfera dos processos endógenos que acarretam em dinâmicas mais intensas por questões de ordem geológica (TRICART, op.cit). O fator climático pode interferir, direta e indiretamente, tanto na formação do solo quanto nos processos de denudação do mesmo. A ação direta nos processos pedogenéticos, como fora descrito por Lepsche (2011), está relacionada à variação de temperatura e às condições de umidade, interferindo na taxa de metabolismo dos micro-organismos decompositores. “Climas quentes e úmidos aumentam essa taxa de metabolismo, permitindo que a maior parte do C presente nos tecidos animais e vegetais seja oxidada esse transforme em CO2, que vai para a atmosfera. Por esta razão, menores quantidades de C são incorporados ao solo na forma de húmus. Já nos climas mais frios, em razão da menor taxa de metabolismo dos micro-organismos decompositores, há menor oxidação do C, que passa a ser incorporado ao solo em quantidades maiores, muitas vezes mal decomposto. Isso gera solos mais ricos em húmus. Estes processos estão intimamente relacionados à pedogênese, pois a incorporação de húmus faz parte dos processos de formação (adição e transformação) e modifica significativamente os demais atributos químicos, físicos e morfológicos do solo.” (LEPSCHE,op.cit,p.283) 25 Grande parte dos inconvenientes ambientais, em termos de instabilidade, está correlacionada aos processos erosivos. Dentre estes, a movimentação de sedimentos, o assoreamento e, consequentemente, a qualidade da água são afetados pela taxa de infiltração água-solo, pois, quanto maior for a capacidade de um solo absorver a água da chuva, menor será a intensidade do escoamento superficial e, por conseguinte, menor será a erosividade desse fenômeno (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990). Para Bortolozzo (2001 apud De Morais, 2012), o tipo de cobertura vegetal determina as condições de drenagem superficial do solo e a dinâmica hídrica de uma determinada área. Pelo fato de constituir-se em um elemento de proteção do efeito splash3 das gotas de chuva nos horizontes superficiais do solo, acarreta um aumento indireto da macro-porosidade, e, dessa maneira, atenua a compactação e o encrostamento/selamento. Nas áreas que são mais densamente florestadas, a absorção de energia é maior, ou seja, há um maior retardo na retenção dessa água, devido tanto à evapotranspiraçãoquanto à absorção aquosa nos dosséis superiores e ao longo dos corpos dos indivíduos arbóreos, como ressalta Tricart (1977). Assim, é possível associar os processos erosivos mais agressivos a uma menor pedogênese, quando, na medida em que há menor infiltração da água no solo, ocorrem maiores escoamentos superficiais. Devido à maior concentração de energia, podem, ainda, estar relacionados a dois fatores principais: as precipitações mais intensas e por períodos maiores, ou seja, uma alta concentração de chuvas (clima), ou em razão da declividade topográfica mais elevada, associada, frequentemente, a uma maior erodibilidade4 de um determinado tipo de solo (fisiográfico), porém com menor tempo de entrada (input), como preconiza Tucci (1993). Para Filizola et al (2011), o desmatamento para fins de produção agrícola e a falta de manejo do solo adequado, em áreas mais frágeis à erosão, têm aumentado os processos erosivos, fato que se desencadeia o assoreamento dos cursos d’água, dos reservatórios e dos açudes, ocasionando, inclusive, a perda das matas galerias. Além dos solos mais suscetíveis aos processos erosivos, como os arenosos, também as áreas de trechos de vertentes em porções territoriais mais elevadas se constituem noutro foco de concentração (dependendo também da erosividade do agente – água), as quais estão mais 3 Absorção da energia cinética pelo gotejamento no solo. 4 Característica inerente a um tipo de solo de susceptibilidade em sofrer erosão. 26 propensas à formação de erosões lineares, chegando a abrir fendas de maneira a permitir a exposição do lençol subterrâneo, conforme elucida o autor. “Os principais processos erosivos lineares (ravinas e voçorocas) estão geralmente associados aos solos arenosos e às cabeceiras dos cursos d’água de primeira ordem. O controle da erosão exige a caracterização dos fatores e mecanismos relacionados às causas do desenvolvimento dos processos erosivos. Assim, o primeiro ponto a ser considerado são os locais onde há maior concentração de erosões lineares, pois esses locais consistem em zonas de convergência dos fluxos superficial e subterrâneo (no caso de cabeceiras de cursos d’água), havendo assim uma interação sinergética favorável aos processos causadores de incisões sobre vertentes. Em função dessa característica, áreas de cabeceira de drenagem devem ser consideradas como áreas de risco de erosão e, portanto, de formação de voçorocas.” (FILIZOLA et al, p. 1). Diversos autores divergem sobre a caracterização de erosões lineares, dentre as quais estão as ravinas e as voçorocas. De acordo com Bacellar, (2006 apud TEIXEIRA; GUIMARÃES, 2012, p. 2), “as voçorocas podem ser formadas através de erosão superficial, erosão subsuperficial e movimentos de massa”. Ainda acrescenta que, “além disso, seu grau de desenvolvimento determina sua atividade; assim, voçorocas com baixos níveis de vegetação e com encostas mais íngremes são classificadas como ativas” (PEREIRA et al, s. d. apud TEIXEIRA; GUIMARÃES, 2012, p. 2). Os desdobramentos do escoamento subsuperficial, de acordo com Florenzano (2008, p. 21), são, assim, descritos na formação de voçorocas: “O escoamento subsuperficial refere-se ao movimento lateral da água na subsuperfície, nas camadas superiores do solo. Ele controla o intemperismo e afeta diretamente a erodibilidade dos solos, influenciando no transporte de minerais em solução. Quando o escoamento ocorre em fluxos concentrados, em túneis ou dutos, ele provoca o colapso da superfície situada acima, resultando na formação das voçorocas” (FLORENZANO, 2008, p. 21). Percebe-se, então, que os processos erosivos se dividem em três fases, segundo Galeti (1973), sendo: desagregação, transporte e deposição. Para Bertoni e Lombardi Neto (1990 apud TEIXEIRA; GUIMARÃES, 2012), as voçorocas são classificadas como profundas, ao apresentarem mais de 5m de profundidade; se enquadram em médias as que dispõem fendas de 1 a 5m; e, finalmente, pequenas as que aparecem menores do que 1m. Já em função da área em uma bacia e sua área de drenagem, são consideradas pequenas quando a área é menor do que 2 hectares; como médias, de 2 a 20 hectares; e grandes ao serem maiores que 20 hectares. 27 Para o Instituto de Pesquisa Tecnológicas – IPT (1989), erosões na forma de grandes sulcos, com tamanho inferior a 50cm tanto de profundidade quanto de largura, são consideradas ravinas, já em tamanhos maiores que 50 cm, são consideradas voçorocas. 2.2 Análise e Classificação de Paisagens 2.2.1 Fragilidade Ambiental Baseado na Teoria Ecodinâmica desenvolvida por Tricart (1977), Ross (1990) estabeleceu procedimentos e parâmetros para uma Análise Empírica da Fragilidade Ambiental, cujo ponto de partida é, igualmente, a Teoria Geral de Sistemas incorporada às análises do ambiente e pressupõe que, na natureza, as trocas de energia e de matéria se processam por meio de relações estabelecidas em equilíbrio dinâmico, o qual é, frequentemente, alterado pelas ações humanas, gerando, assim, desequilíbrios temporários ou, mesmo, permanentes. Considerando-se os critérios de classificação ambiental de Tricart (op. cit)5, esses conceitos foram ampliados por Ross (1990 apud Ross, 1994) e revisados, posteriormente, em Ross (2012), introduzindo-se uma nova classificação ampliada em cinco estágios de fragilidade, os quais seguem a escala que se estende de muito fraca, fraca, média, forte, até muito forte. Assim, diferenciam-se a instabilidade e a estabilidade em função de o meio ter sofrido ação antrópica ou não, bem como são atribuídos novos estágios de estabilidade/instabilidade emergente (ambientes que apresentam instabilidade potencial qualitativamente previsível em diferentes graus). Essa análise empírica da fragilidade ambiental do meio, de acordo com Ross (1994, p.66), em seus procedimentos operacionais: “(...) toma em consideração diversos fatores, demandando-se estudos básicos do relevo, subsolo, solo, do uso da terra e do clima, assim como também a elaboração de cartas temáticas sobre a geologia local, geomorfologia, climatologia, pedologia, bem como do uso da terra /vegetação”. (ROSS, 1994, p. 66) 5 Meios dinamicamente estáveis, instáveis ou intergrades (transição entre os dois estágios). 28 Essa metodologia difere, em alguns pontos, da concepção elaborada por Crepani et al (2001), uma vez que, embora tenha, igualmente, sido desenvolvida a partir do mesmo conceito a respeito das unidades ecodinâmicas teorizadas por Jean Tricart, o aspecto geológico adquire uma importância específica na ponderação de valores e na concretização de análises de Vulnerabilidade Ambiental, em função do grau de coesão das rochas ou da intensidade de ligação entre os minerais, ou as partículas que as compõem, e a história da evolução geológica. Essa variante é importante, segundo Crepani et al (1996), por tratar-se de um fator determinante no balanço pedogênese versus morfogêse. “O grau de coesão das rochas é a informação básica da Geologia a ser integrada a partir da Ecodinâmica, uma vez que em rochas pouco coesas prevalecem os processos modificadores das formas de relevo, enquanto que nas rochas bastante coesas prevalecem os processos de formação de solos.” (CREPANI et al, 1995, p. 14). Para Crepani et al (1996), o cálculo da vulnerabilidade apoia-se em Unidades Territoriais Básicas – UTBs, a partir da metodologia desenvolvida no INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, com o objetivo de subsidiar o Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia. Baseado na elaboração de mapas de vulnerabilidade natural à erosão associados a unidades homogêneas de paisagem, o cálculo está formulado a partir das variáveis da expressão de uma médiaaritmética e da análise integrada dos temas. Vulnerabilidade = (G + R+ S+ V + C) 5 Onde: G = Geologia; R = Relevo (geomorfologia); S = Solo; V = Vegetação e C = Clima. Cada tema dessa expressão recebe uma pontuação conforme a sua natureza, dentro de uma escala idêntica à da metodologia de Ross (1994), variando, qualitativamente, do mais fraco ao mais forte, baseada em cinco graus de avaliação de fragilidade (vulnerabilidade). Para Tricart (1962), toda a gênese de formação do solo e do subsolo, ou seja, todos os processos endógenos e, também, a morfometria resultante, incluindo-se os reflexos das ações da camada biológica, apontam, de certa maneira, para um desdobramento da consumação dos fatores geológicos de uma determinada localidade em termos ambientais, quando se faz referência ao relevo como a “epiderme da terra”. 29 Portanto, os desdobramentos factuais geológicos poderiam ser contemplados numa análise das unidades ecodinâmicas, por meio do estudo pedológico integrado a outros temas de análise de uma determinada porção espacial. Desta maneira, compatibiliza-se o emprego da metodologia do trabalho de Ross (1994, 2012), nesse caso, em toda a área da BHRCT, do ponto de vista da metodologia da análise empírica de fragilidade ao invés da adoção do conceito/metodologia de vulnerabilidade. Spörl (2004) comparou os dois modelos, o de Ross (1994) e o de Crepani et al (2001), concluindo ser uma tarefa difícil apontar qual dos temas assumiria o papel predominante na ponderação de pesos específicos a cada tema e ressaltando a vantagem dos dois modelos em termos de rapidez de tomada de decisão, a despeito das deficiências de ambos. De qualquer modo, nesta pesquisa, optou-se pela adoção do modelo de análise empírica de fragilidade estabelecida por Ross (1994), na qual todos os temas apresentam pesos iguais de ponderação, uma vez que o fator geologia não oferece nenhuma variante dissonante no conjunto, em termos de análise integrada. Sendo assim, não se identificou nenhum atributo geológico (nenhum atributo litoestrutural) que não pudesse ser retratado nas análises do tema pedológico, denotando-se a ausência de indícios de falhas geológicas mais significativas, como, por exemplo, sinuosidade acentuada (que fosse alheio ao padrão dendrítico de formação da rede de drenagem) de vertente ou afloramentos rochosos peculiares, que tornassem indispensável essa atenção na BHRCT. Os tipos de solos bem desenvolvidos e presentes de maneira geral na bacia (dados preliminares), também influenciaram o critério de escolha metodológica, uma vez que a variável “geologia” oferece uma tendência de suavizar os resultados do mapeamento de fragilidades potenciais e consequentemente também de fragilidades ambientais. Um outro modelo elaborado por Ross (1994) a partir de uma matriz de dissecação de relevo, um terceiro modelo para efeito de comparação, que atribui quatro estágios qualitativos de fragilidade, variando entre os graus: fraco, médio, forte e muito forte, foi descartado. Esse padrão colocaria o tema relevo, ou a declividade, apresentando-se como preponderante, e, segundo Spörl (2004, p. 48), nem sempre isso reflete a realidade local, pois “[...] nem sempre o relevo mais dissecado é de fato o mais frágil, ou ao contrário, nem sempre o relevo pouco dissecado é o mais estável. Pois a fragilidade depende também do tipo de rocha, dos solos, do uso da terra”. Em outros termos, os demais temas podem atenuar a fragilidade da área estudada, ou, simplesmente, 30 agravá-la conforme as demais características locais encontradas representem um fator sensível de fragilidade potencial, a despeito do grau de dissecação geomorfológico. 2.2.2 A importância do Geoprocessamento O estágio atual das geotecnologias permite combinar mapeamento dos problemas urbanos atrelado às informações físicas, geográficas, topográficas, demográficas ou mesmo de infraestrutura, para a elaboração de uma análise espacial. Esta concepção tem levado os técnicos de todas as áreas recentemente, a obterem critérios de análises mais racionais em um intervalo de tempo impensável anteriormente (Teodoro, 2012). Em um país que possui uma dimensão continental de tamanha proporção como a do Brasil, com uma enorme carência de informações as quais julgamos serem as mais adequadas para que sejam tomadas decisões sobre os problemas urbanos, rurais e ambientais, o geoprocessamento apresenta e dispõe de um enorme potencial, principalmente quando se diz respeito às tecnologias de custo relativamente baixo, em que o conhecimento seja adquirido no local (Teodoro, op cit, 2012). Essa importância considerada no âmbito ambiental por sua vez, é referida pelo próprio autor da seguinte maneira: “Na área ambiental, o geoprocessamento é uma das ferramentas mais utilizadas para monitoramento, por exemplo, da cobertura vegetal e uso das terras, níveis de erosão do solo, poluição da água e do ar, disposição irregular de resíduos, e assim por adiante. Da mesma forma, essa tecnologia pode ser usada em análises de qualidade de habitat e fragmentação” (TEODORO,2012). Neste contexto de gratuidade de serviços, baixo custo de aquisição e facilidades de acesso às informações, encontram-se disponíveis as imagens das Missões Landsat. De acordo com Embrapa (2013), a série Landsat teve início em meados da década de 60 do século XX, promovida por meio de um projeto da National Aeronautics and Space Administration (NASA), a Agência Espacial Americana, dedicando-se inicialmente, à exclusiva observação de recursos naturais da Terra. 31 Essa missão foi denominada de Earth Resources Technology Satellite (ERTS) e em 1975 passou a se chamar Landing Remote Sensing Satellite (Landsat), passando por diversos aperfeiçoamentos tecnológicos e lançamentos em série, ao longo das décadas seguintes. Lançado em 02 de Fevereiro de 2013, o Landsat 8 apresenta tempo de revisita de 16 dias, opera em uma órbita distante cerca de 705 km. A tabela 3 mostra as bandas espectrais do satélite que estão disponíveis e as resoluções espectrais correspondentes em micrômetros para o sensor OLI: Tabela 3 – Dados técnicos do Satélite Landsat 8 – Sensor OLI. Fonte: (NASA,2013). Há ainda, sistemas sensores que são ativos, ou seja, carregam a própria fonte de radiação eletromagnética, como é o caso por exemplo de câmaras fotográficas com flash e o radar, podendo funcionar inclusive a noite, sem restrições de resolução temporal, como é caso da missão SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), geradora de Modelos Digitais de Elevação (MDE), registrando-se a energia por eles emitida e refletida pelo alvo, independentemente da presença de nuvens (LOURENÇO,2008). Igualmente de fácil acesso e disponibilidade compatível com a maioria dos softwares de manipulação de dados em SIG, sua resolução é considerada média. 32 Nos sistemas sensores de varredura, a imagem de cena é formada pela aquisição sequencial de imagens elementares do terreno ou elemento de resolução (pixel). Cada alvo, apresenta uma assinatura espectral, ou seja, uma maneira peculiar de refletir a radiação eletromagnética (REM) ou comportamento espectral, daí a importância de se conhecer tais assinaturas para a extração de informações em sensoriamento remoto. A variação espectral magnética abarca desde as ondas de rádio, até os raios gama (invisíveis ao olhar humano), onde a faixa espectral visível a olho nu é muito estreita. 2.2.3 Diagnóstico Ambiental Um diagnóstico ambiental de uma determinada área escolhida, passa pelas análises ambientais dos diversos aspectos do meio físico, biótico e sócio econômico, distinguindo-se de maneira clara e organizada por meio de um modelo (dentre inúmeros possíveis), suas fragilidades e suas vocações.Pautado no conceito de causalidade, é necessário identificar as pressões que as atividades humanas exercem sobre este referido ambiente. Neste contexto, a Organization for Economic Co-Operation and Development - OECD (1993) oferece o modelo Pressure – State – Response ou Pressão – Estado – Resposta (P-E-R). Identificam-se as pressões múltiplas, sejam de maneira direta ou indireta, orientando uma correta descrição do estado atual do ambiente em função destas pressões, por meio de indicadores condicionados a um horizonte temporal de monitoramento. Denotam-se no monitoramento, aspectos qualitativos e quantitativos (ambiente e recursos naturais), cujas análises serão importantes por fim, na elaboração de uma resposta à sociedade, em função dos dois fatores anteriores (pressões + estado). A estrutura dos fatores de causalidade pressão- estado – resposta, frente aos usos e tipos de indicadores ambientais pode ser compreendida no esquema a seguir (figura5). 33 Figura 5. Modelo conceitual sobre fatores causais e indicadores de Pressão- Estado-Resposta. Adaptado de OECD (1993). A elaboração de diagnósticos para fins de análises e elaboração de zoneamento em uma bacia hidrográfica, passa pelas seguintes etapas, dentro da proposta de análise empírica de fragilidade de Ross (1994) adaptada por Crepani et al. (2001) em termos de lógica ponderada, corroborada na modelo de zoneamento adaptado de Pivello et al (1998). Parte desta referência serviu de base na proposição da criação de unidades de conservação no passado, contextualizado dentro da perspectiva de se estabelecer unidades de paisagem baseadas em aspectos físicos, biológicos e institucionais, identificando-se tais níveis de fragilidade ambiental, com a elaboração dos seguintes produtos cartográficos para a BHRCT: Mapa intermediário de Geomorfologia; Mapa de declividades; Mapa da espacialização da variabilidade pluviométrica; 34 Mapa do Uso da Terra e Cobertura Vegetal; Mapear e Avaliar a Fragilidade Potencial (Mapas de Declividades + Intensidade Pluviométrica + Pedologia); Mapear e Avaliar a Fragilidade Ambiental (combinação de mapas – álgebra de campo Fragilidade Potencial + Mapa de Uso da Terra e Cobertura Vegetal); Mapear as planícies de inundação com base em Ross (2012); Mapeamento das áreas com prioridade de preservação; Analisar a perspectiva de todo o arcabouço legal, em especial o Plano Diretor Municipal de Três Lagoas revisado ao final de 2016; Adotar como base a taxonomia proposta por Ross (1992) e as unidades de paisagem. Para este trabalho, tal taxonomia, pode ser contextualizada no esquema de estruturação de estudos voltados ao planejamento hídrico (figura 6), trabalhando escalas regionais e locais, bem como puntutais (excetuando-se análise de qualidade/quantidade das águas), mas relatando os impactos nas planícies de inundação (avaliação multidimensional) e identificando unidades de paisagem, correlacionando-as aos resultados obtidos na sobreposição de mapas (SANTOS, p.27, 2004). Figura 6. Fonte: (SANTOS, p.27.2004). 35 Três áreas inseridas na BHRCT demandaram atenção especial, no caso dos distritos de Arapuá e Garcias e a área dos lotes residenciais em área rural, na região da foz do córrego Ribeirão Campo Triste. Para os distritos, inseridos no Médio e Alto Curso do Córrego respectivamente, o Plano Diretor Municipal, recentemente revisado pela Prefeitura Municipal de Três Lagoas, em seu Art-54-C, divide o município em Macroáreas Urbanas e define em parágrafo único, a criação de Planos Distritais, ainda que não haja especificações de parâmetros nem de prazos para tais empreitadas. Já para a área do “loteamento rural” Bom Jardim, por meio da lei Municipal nº 3.211/2016, criou-se a Zona especial de Ranchos, como pode ser visto a seguir PMTL (2016). A ausência de zonas estabelecidas sob o maior nível de detalhamento possível em relação às possibilidades e conflitos para com os usos do solo são uma questão que torna saliente a importância do diagnóstico ambiental para a obtenção de subsídios para um pré ordenamento a ser elaborado na BHRCT, considerando-se obviamente as alíneas I, II e V: “A Macroárea Urbana se subdivide em: I - Macroárea Urbana - Garcias; II - Macroárea Urbana - Arapuá; III - Macroárea Urbana - Sede; VI - Macroárea Urbana - Distrito Industrial; V - Zona Especial de Ranchos. Parágrafo único. O perímetro urbano das macroáreas urbanas de Garcias e Arapuá serão definidos quando da elaboração dos respectivos Planos Distritais. (Redação acrescida pela Lei nº 3211/2016)” 2.3 Planejamento Territorial em Bacias Hidrográficas 2.3.1 Bases Para Ordenamento Territorial O Ordenamento Territorial ainda é uma prática que passa por processos que culminam em um amadurecimento, ou seja, implica na discussão e reflexão de um conjunto de leis, técnicas e pressupostos teóricos/metodológicos que ainda não se constituem em processos 36 acabados, tanto em função das mudanças comportamentais da sociedade, quanto em relação à melhor e paulatina compreensão de fenômenos, ideias, conceitos e mesmo técnicas científicas. Técnicas estas, que atribuem novas maneiras de se lidar com o ambiente sob forte antropização (consolidação que se opõe à mitigação de impactos ambientais) ou não (preservação que se opõe aos anseios de produção antrópica do espaço), para elaboração tanto de estratégias, quanto de ações concretas no controle e gerenciamento do território. Estas ações fundem-se com o gerenciamento ambiental de maneira geral, constatando- se aplicações desenvolvidas com planejamento voltado para o ordenamento territorial em estágio ainda incipiente pelos mais diversos órgãos de planejamento no Brasil, seja em qual esfera governamental federativa adote-se como exemplo. Neste avanço de maturação das ferramentas de planejamento, o geoprocessamento acompanha esta tendência na busca de soluções e novas concepções mais adequadas aos objetivos e desafios que a sociedade impõe ao interagir e pressionar o meio-ambiente. Para Silva e Santos (2011), o ordenamento territorial significa: “Dividir uma área em unidades territoriais (ou zonas) específicas, em função da interpretação das características e estruturas funcionais do meio, que na tomada de decisão são destinadas a determinadas atividades, quer seja para uso humano, para conservação de um conjunto de elementos ou para preservação dos recursos naturais” (SILVA e SANTOS, 2011). Em outras palavras, ao estabelecer-se zonas espaciais específicas, delimita-se concomitantemente áreas definidas para a gestão ambiental, observando-se e mensurando-se os impactos advindos das atividades humanas presentes, mas atribuindo tarefas gerenciais igualmente específicas para a área, partindo do pressuposto de descentralização da tomada de decisões. Segundo IMASUL (2014 apud Ferreira, 2016, p.47), a gestão ambiental formalmente institucionalizada de maneira abrangente e integrada no Estado do Mato Grosso do Sul inicia- se ao final da década de 70 do século passado, com atribuições e competências legais bem definidas: “No Estado de Mato Grosso do Sul a gestão ambiental iniciou-se formalmente em 1º de janeiro de 1979 quando foi criado o Instituto de Preservação e Controle Ambiental (Inamb), por meio do Decreto-Lei nº 09, autarquia está vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico. A competência e a estrutura básica do Inamb foram estabelecidas no Decreto estadual nº 23, de 1º de janeiro de 1979. Em 2 37 de junho de 1980 foi aprovada a Lei estadual nº 90, dispondo sobre as alterações do meio ambiente e 48 estabelecendo normas de proteção ambiental, atribuindo ao Inamb a competência de orientar, fiscalizar e controlar as atividades econômicas (IMASUL, 2014 apud FERREIRA,2016, p47.)”. Pouco mais tarde, cerca de 10anos depois da criação do Inamb, Vilas Boas (2001), destaca que foi desenvolvido no estado, o “Macrozoneamento Geoambiental do Estado de Mato grosso do Sul” (IBGE; FIPLAN/MS,1989 apud VILAS BOAS, 2001), fruto de experiências anteriores em estudos ambientais integrados, que teve início com o próprio projeto RADAM- BRASIL. Além do trabalho integrado, o enfoque sistêmico para mapeamento de sistemas naturais representou um avanço metodológico para a época, por todas as áreas do estado e em uma escala longe do detalhamento em razão do caráter mais abrangente. A Lei Federal no 6.938, de 31/08/81, instituiu o zoneamento no Brasil por meios de uma política nacional de meio ambiente por parte do Ministério do meio Ambiente - MMA, e a institucionalização do Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil – ZEE sob Decreto nº 4.297, ocorreu em 10 de julho de 2002, assim, outros Planos de Zoneamento foram elaborados para o Estado de Mato Grosso do Sul posteriormente ao ano de 1989, ainda que com dados secundários na maior parte dos casos. Porém, cada vez mais adotando-se escalas que se enquadraram melhor em termos de eficiência para o cumprimento dos objetivos do documento para cada mesorregião, mas ainda assim, dentro da perspectiva abrangente de todo o Mato Grosso do Sul, como no ano de 2006. Neste ano, foi elaborado o Zoneamento Ecológico Econômico de Mato Grosso do Sul em três volumes, com uma setorização mais específica dos desafios sociais e das atividades econômicas e uma avaliação sistêmica mais enriquecida que em outras oportunidades, fruto dos avanços tecnológicos e das geotecnologias consolidadas como ferramenta de compreensão e organização do espaço. “É importante destacar que o ZEE tem um caráter que vai além de indicativo de aptidões, ficando mais próximo de regulamentador do uso do solo, “estabelecendo vedações, restrições e alternativas de exploração do território” (Art. 3)” (SANTOS & RANIERI, p. 45.2013). 38 Sob esta perspectiva de se elaborar um ordenamento territorial estabelecido por zoneamento, que seja capaz de estabelecer a incumbência de tarefas gerenciais com acurácia, de maneira integrada aos recursos de representação da cartografia, respeitando não somente os aspectos físicos e econômicos, mas também os aspectos culturais, sociais da paisagem, deve-se levar em conta outros campos do conhecimento e da formação humana. Dado o caráter interdisciplinar da tarefa, um zoneamento deve considerar aspectos que abarquem outras disciplinas além da geografia, o que em um certo sentido, constitui-se em um fator limitante, quando se considera a elaboração de tal ordenamento completo. A concepção mínima, metodológica de um ordenamento territorial, deve passar por seis fases distintas que são: Fase de Organização (definição de objetivos, delimitação da área de estudo, esboço da pesquisa), Inventário (caracterizações, levantamentos de gabinete e de campo), Análises (avaliação de potencial, estrutura, organização e diversidade, dinâmica temporal, etc.); Diagnóstico (avaliações de utilização das áreas, risco e deterioração, áreas potencialmente sub exploradas – métodos espaciais e análises multivariadas) Fase Propositiva e de Execução. A etapa da fase Propositiva, deve contemplar um modelo de ordenamento territorial (tipos funcionais, regime de uso, etc.), a partir de um prognóstico constituído em um plano e programa de manejo, normas e o ordenamento delimitado, constituído propriamente dito. 2.3.2 Bacias Hidrográficas como Unidade de Planejamento A demanda pela elaboração de planos de recursos hídricos de bacias hidrográficas se faz cada vez mais crescente, por questões sociais, ambientais e políticas, já que a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), instituída pela Lei Federal n º 9.433 de 1997 trata a bacia hidrográfica como a unidade básica de planejamento. A PNRH define a bacia como a área física para a implementação de suas políticas e para atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, sendo o Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica seu principal instrumento de gestão. Em 2002, o Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da aprovação Lei Estadual nº 2.406/2002, definindo parâmetros para sua Política Estadual de uso dos recursos hídricos no estado (NETO, 2013). Já para o ano de 2009, foi aprovado o Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH/MS), o qual diagnosticou a situação atual das águas, realizou um prognóstico 39 considerando um possível cenário para um desenvolvimento macroeconômico e, principalmente, estabeleceu diretrizes e programas. (NETO, op cit., 2013). Visando o fortalecimento sistêmico institucional do ponto de vista político para o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos em seu “Programa 1”, o documento passou a ter como um de seus objetivos específicos, um maior estímulo à criação e fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas e Agências de Águas, apoiando a elaboração e atualização de Planos Diretores de Bacias Hidrográficas. No PERH/MS, a BHRCT está inserida na Unidade de Gerenciamento e Planejamento (UPG) Sucuriú, que ocupa uma área bastante extensa, abarcando porções importantes (cujo distrito sede esteja inserido na UPG) de outros sete municípios além de Três Lagoas, totalizando uma área de 27.192,974 km². A UPG Sucuriú vai da divisa de Mato Grosso do Sul com o estado de Goiás (município de Costa Rica) até o município de Três Lagoas, na foz do rio Sucuriú, já na divisa com o estado de São Paulo, ou seja, uma área extremamente grande para o completo monitoramento e controle das ações antrópicas. Assim, torna-se uma tarefa extremamente difícil quando se compreende o propósito da elaboração de um plano específico de uma bacia hidrográfica, que visa justamente projetar cenários a curto, médio e longo prazos, as demandas populacionais e de usuários locais, traçando-se paralelos de ações em horizontes temporais para a manutenção de tais recursos hídricos em quantidade e qualidade, evitando-se conflitos relacionados ao uso (DELEVATI et al, 2005). Com território pouco recortado do ponto de vista político-administrativo e pequenos contingentes populacionais, de maneira geral o estado de Mato Grosso do Sul carece de melhores resultados. Mesmo com modelos de gerenciamento descentralizados e participativos que foram inspirados no modelo francês de gestão de águas, o fator escalar do território é ainda um desafio. Na França, o modelo descentralizado de gerenciamento das águas foi criado pela Lei nº 64.1245 (16/12/1964), que tratou do regime e da repartição das águas, da luta contra a sua poluição, do controle da qualidade da água, do estabelecimento de padrões aceitáveis e da criação de perímetros de proteção de mananciais (Fracalanza & Campos, 2010), onde os franceses gozam de maior autonomia administrativa e maturidade institucional incorporada em arranjos e ferramentas mais flexíveis e específicas, que culminam em maior poder de ação: 40 “A lei adota a bacia hidrográfica como unidade de gerenciamento, o plano plurianual de ação na bacia e a cobrança direta dos usuários da água, visando à autonomia financeira do sistema. Foram criados organismos responsáveis pelo modelo em nível nacional (Estado francês e Comitê Nacional das Águas) e em nível regional (comitês e agências de bacias)” (MESQUITA,p.62,2018). Para (Mesquita, p.60, 2018), espera-se constar num plano de recursos hídricos; “Os planos de recursos hídricos são planos diretores de longo prazo que estabelecem as diretrizes de gerenciamento dos recursos em nível de bacia hidrográica, estado ou país. O conteúdo desses planos deve conter: I) os usos múltiplos e prioritários dos recursos hídricos; II) o diagnóstico e a estimativa do balanço de disponibilidade de água e demandas futuras; III) as metas de racionalização de uso e melhoria de
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