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Regulação da Temperatura Corporal e Febre

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1 Stephane D’arc – Módulo de Febre, Inflamação e Infecção 
 FEBRE 
Perda de calor - Grande parte do calor produzido pelo corpo é gerada nos órgãos profundos, especialmente no fígado, 
no cérebro e no coração, bem como nos músculos esqueléticos durante o exercício. A seguir,esse calor é transferido 
dos órgãos e tecidos profundos para a pele, onde ele é perdido para o ar e para o meio ambiente. 
REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL — O PAPEL DO HIPOTÁLAMO 
A temperatura do corpo é regulada quase inteiramente por mecanismos de feedback neurais e quase todos esses 
mecanismos operam por meio de centros regulatórios da temperatura, localizados no hipotálamo. Para que esses 
mecanismos de feedback operem, deve haver detectores de temperatura para determinar quando a temperatura do 
corpo está muito alta ou muito baixa. 
A área hipotalâmica anterior pré-óptica contém grande número de neurônios sensíveis ao calor, bem como cerca de 
um terço de neurônios sensíveis ao frio. Acredita-se que esses neurônios atuem como sensores de temperatura para 
o controle da temperatura corporal. Quando a área pré-óptica é aquecida, a pele de todo o corpo imediatamente 
produz sudorese profusa, enquanto os vasos sanguíneos da pele de todo o corpo sofrem vasodilatação periférica. Essa 
resposta é uma reação imediata que causa perda de calor, ajudando a temperatura corporal a retornar aos níveis 
normais. 
Mecanismos de diminuição da temperatura quando o corpo está muito quente: 
1. Vasodilatação dos vasos sanguíneos cutâneos (causada pela inibição dos centros simpáticos no hipotálamo 
posterior que causam vasoconstrição). 
2. Sudorese 
3. Diminuição da produção de calor 
Porção posterior do hipotálamo (centro promotor de calor): quando for ativada promoverá a produção e conservação 
de calor por meio da vasoconstrição periférica, aumento da atividade metabólica e aumento do tônus muscular. Esse 
último explica o porquê dos calafrios quando se tem febre. 
Mecanismos de aumento da temperatura quando o corpo está muito frio: 
1. Vasoconstrição da pele por todo o corpo (causada pela estimulação dos centros simpáticos hipotalâmicos 
posteriores). 
2. Piloereção 
3. Aumento na produção de calor 
A Febre se dá quando a temperatura corporal encontra-se acima da faixa de variação – ela pode ser provocada por 
anormalidades no cérebro ou por substancias toxicas que afetam os centros reguladores da temperatura. 
Efeito dos Pirogênios 
Os pirogênios são substâncias, como por exemplo, proteínas, produtos de degradação proteica, toxinas de 
lipossacarídeos das membranas celulares de bactérias, que fazem com que o ponto de ajuste do termostato 
hipotalâmico se eleve. Os pirogênios liberados por bactérias tóxicas ou os liberados por tecidos corporais em 
degeneração, causam febre durante condições patológicas. 
Mecanismo de Ação dos Pirogênios na Causa da Febre — O Papel das Citocinas 
Quando as bactérias ou os produtos da degradação das bactérias estão nos tecidos ou no sangue, eles são fagocitados 
pelos leucócitos do sangue, pelos macrófagos teciduais e pelos grandes linfócitos “killers” granulares. Todas essas 
células digerem os produtos bacterianos e, em seguida, liberam citocinas, grupo diferenciado de moléculas peptídicas 
de sinalização, participantes das respostas imunes e adaptativas. Uma das mais importantes dessas citocinas para 
causar febre é a interleucina 1 (IL-1), também chamada pirogênio leucocitário ou pirogênio endógeno. 
 
2 Stephane D’arc – Módulo de Febre, Inflamação e Infecção 
→ A IL-1 é liberada pelos macrófagos para os líquidos corporais e, ao chegar ao hipotálamo, quase 
imediatamente ativa os processos produtores de febre. 
Vários experimentos sugeriram que a IL-1 inicialmente cause febre pela indução da formação de prostaglandinas, 
principalmente a prostaglandina E2 ou substância similar, que atua no hipotálamo para desencadear a reação da 
febre. 
Quando a formação de prostaglandinas é bloqueada por fármacos, a febre pode ser abortada ou diminuída. De fato, 
esta pode ser a explicação para o mecanismo de atuação da aspirina na redução da febre, pois a aspirina impede a 
formação de prostaglandinas, a partir do ácido araquidônico. Fármacos como a aspirina, que reduzem a febre, são 
chamados antipiréticos. 
PATOGENIA DA FEBRE 
Existem hipertermias na pratica clinica que não são febres verdadeiras. 
1. Hipertermias após exercícios físicos ou trabalho muscular 
exaustivo 
2. Portadores de displasia ectodérmica, em que há ausência de 
glândulas sudoríparas, sequelas de grandes queimaduras 
3. Lesões no SNC, principalmente no hipotálamo 
As febres verdadeiras são causadas pela produção de pirogênios 
endógenos (PE) e se acompanham de elevação do set-point hipotalâmico. 
Embora muitas células sejam capazes de produzir citocinas pirogênicas 
(CP), os monócitos, os polimorfonucleares neutrófilos, os macrófagos em 
geral, os histiócitos, as células gigantes parecem ser as fontes principais; 
eles têm em comum o fato de serem células fagocíticas. Os PE, para serem 
produzidos e liberados, precisam de um estímulo, como por exemplo: 
• infecções, toxinas, reações imunológicas, produtos químicos, 
colagenoses, infartos viscerais, traumas e queimaduras. 
As CP principais envolvidas: 
1. interleucinas-1 e 6 (IL-1 e IL-6) 
2. o fator de necrose tumoral (FNT) 
3. interferona alfa (INF). 
Estas CP ganham a circulação, vão agir no hipotálamo, elevando o set-point. 
Após a elevação do set-point hipotalâmico, vários eventos são desencadeados pelo hipotálamo, objetivando aumentar 
a produção de calor e ao mesmo tempo diminuir a sua eliminação, como por exemplo: 
→ aumento da atividade muscular, calafrios, tremores e piloereção, aumento do metabolismo celular 
generalizado e vasoconstrição periférica 
Ao mesmo tempo que existe a produção dos PE, o organismo também produz substâncias que funcionam como 
antitérmicos naturais, chamados por alguns autores de criogênios endógenos. Estes criogênios atuam de maneira 
articulada com os PE e parecem impedir o surgimento de hiperpirexias (febre acima dos 41°C). Quando a infecção é 
controlada e cessa o estímulo de produção dos PE, o set-point volta ao seu normal e a T endógena se normaliza. 
 
 
 
 
 
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Semiologia da Febre 
 
 
 
Abordagem clinica geral do paciente febril 
Quanto a duração a febre pode ser classificada em curtas e prolongadas; As curtas são aquelas com menos de 3 
semanas, enquanto as prolongadas têm 3 ou mais semanas. Além disso, podem ser divididas em fácil e difícil 
diagnóstico ou febres de origem obscura. 
A abordagem de um paciente febril começa com uma boa anamnese. Na história da doença atual não devem ser 
esquecidas as características semióticas da febre e queixas gerais 
Nos enfermos febris, quando não há informação espontânea de manifestações que permitam o diagnóstico de 
localização ou sindrômico, a anamnese dirigida cresce de importância. Devem ser investigadas as principais 
manifestações clínicas das doenças habitualmente presentes como causa de febres de curta duração, tais como tosse, 
coriza, dor de garganta, espirros, otalgia, fotofobia, sensação de chiado no peito, dor torácica, dispneia ou cansaço; 
queixas digestivas como náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia, prisão de ventre e hiporexia; disúria, polaciúria, 
dor lombar, corrimento vaginal, alterações menstruais, além de dor no baixo ventre não podem ser esquecidas; 
cefaleia, mialgias, artralgias, lesões de pele e exantemas estão entre as queixas mais comumenteapuradas. 
A história epidemiológica constitui fonte importante de dados para as doenças febris e comumente tem falhas que 
podem complicar casos simples. A área geográfica em que se trabalha, a idade do paciente, o seu contexto social, 
principalmente as condições de saneamento básico de sua moradia, viagens para áreas endêmicas de doenças 
infecciosas conhecidas, contato ou existência de casos semelhantes entre os familiares, uso de medicamentos ou de 
drogas ilícitas, tipo de trabalho e se há exposição a agentes infecciosos, práticas que envolvam maior risco de doenças 
sexualmente transmissíveis, história alimentar e história vacinal comumente dão informações relevantes. 
Exame Físico 
Deve ser minucioso, começando pela constatação da febre; Embora a maioria das doenças febris seja benigna, devem-
se avaliar as repercussões da atual doença no estado geral do paciente para se separar aqueles que deverão ser 
investigados laboratorialmente de saída ou mesmo internados. 
Febre alta, calafrios ou tremores intensos, elevação rápida da T, queda do estado geral, apatia, sonolência excessiva, 
intensa hiporexia, irritabilidade, prostração e astenia intensas, desidratação, pouca melhora das queixas mesmo após 
o uso dos antitérmicos, sinais de toxemia, em crianças choro contínuo, gemência e perda do humor são alterações 
que podem sugerir mais gravidade, independentemente da infecção que as estejam causando. 
No restante do exame físico buscam-se sinais que levem a diagnóstico anatômico ou sindrômico da doença febril, 
como faringite, amigdalite, otite, sinusite, pneumonia, traqueobronquite, infecções dentárias, piodermites, áreas de 
celulite ou erisipela, feridas infectadas, exantemas e outras erupções cutâneas, sinais de desidratação, anemia, 
icterícia, dor abdominal à palpação, hepatomegalia, esplenomegalia, adenomegalias, dor lombar e na região 
 
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hipogástrica, corrimento vaginal ou uretral, artralgias ou artrites, miosites, sinais de hipertensão craniana e sinais de 
irritação meníngea, entre outras. Estas alterações em geral estão presentes nas infecções mais comumente 
encontradas na prática médica e junto com a história em geral permitem fazer o diagnóstico. 
 Quando há dúvida ou maior risco de doenças graves estarem presentes, alguns exames costumam ser indicados pelos 
autores. O hemograma pode indicar se a doença parece ser causada por vírus ou por bactérias. Em geral leucocitoses 
acima de 15.000 por mm3 , desvios para a esquerda acima de 1.500 bastões, elevação da hemossedimentação acima 
de 30 mm na primeira hora, e aumento da proteína C reativa acima de 5 mg/d.t', piúria ou bacterioscopia positiva da 
urina não centrifugada ou infiltrados na radiografia do tórax são alterações que aumentam a possibilidade de 
infecções bacterianas que poderão exigir tratamento antibiótico. 
 
Principais Antitérmicos e o seu mecanismo de ação 
Os antitérmicos agem de com o intuito de: 
redução da produção de mediadores inflamatórios, como as citocinas ou aumento da produção local de 
moléculas anti-inflamatórias • redução na produção de prostaglandina E2 por meio da inibição da ciclo-
oxigenase • produção de antipiréticos naturais aumentada • redução da adesão de células produtoras de PE 
no foco inflamatório. 
Sabemos que a prostaglandina E2, fundamental para a produção da febre, é sintetizada a partir do ácido araquidônico, 
com a participação da ciclo-oxigenase (Cox 1eCox2). A maioria dos AT age na síntese de prostaglandinas, inibindo a 
Cox 1 e a Cox 2, tanto periférica como centralmente. 
Paracetamol ou Acetaminofeno 
- Possui ação antitérmica, anti-inflamatória e analgésica; Atualmente é a droga mais usadas no combate da febre. 
Dose indicada: 
▪ Crianças: a dose recomendada é de 10-15 mg/kg de 6/6 horas ou até de 4/4 horas, tomando-se o cuidado de 
não ultrapassar a dose de 75 mg/kg/dia. 
▪ × Adultos: a dose é de 1 comprimido (de 500mg ou de 750 mg) de 6/6 horas ou até de 4/4 horas, tendo-se 
em consideração que não se deve ultrapassar a dose total diária de 4 gramas. 
Reações adversas: 
O paracetamol é considerado o antitérmico mais seguro, com pouquíssimos eventos adversos como erupções 
cutâneas, urticária, angioedema e anafilaxia. A hepatotoxicidade é rara e pode ocorrer geralmente associada à 
superdosagem. Por isso recomenda-se usar nas doses preconizadas, não excedendo os limites estipulados. Precaução 
deve ser tomada, não usando o paracetamol com outros produtos que também o contenham, pois pode ocorrer 
toxicidade por superdosagem. 
Dipirona 
A dipirona pertence ao grupo das fenilpirazolonas. Tem boa ação AT e analgésica, embora sendo um anti-inflamatório 
mais fraco, disponível por via oral e injetável 
Dose indicada: 
× Crianças: a dose indicada é de 10-12 mg/kg, o que equivale a 0,4-0,6 gota/kg, três a quatro vezes ao dia. Na prática 
tem-se observado que a dose usada é de uma gota por/kg, o que vale dizer, quase que o dobro da dose preconizada, 
o que constitui um erro grosseiro, com suas inevitáveis conseqüências. 
 × Adultos: a dose é de 0,5-1g três vezes ao dia. 
 
 
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Reações adversas: 
hipotensão, broncoespasmo, urticária, rash cutâneo, sonolência, cansaço, cefaléia, anafilaxia. A mais importante e 
temível reação adversa é a agranulocitose, de ocorrência rara, porém preocupante. 
 
Aspirina 
- Possui ação antitérmica, anti-inflamatória e analgésica. 
Dose indicada: 
× Crianças: a dose utilizada é de 50-75 mg/kg/dia, de 4/4 horas ou de 6/6 horas. Quando se pretender melhor ação 
antiinflamatória, recomenda-se a dose de 75-100 mg/kg/dia, de 6/6 horas. 
 × Adultos: a dose indicada é de 300-900 mg, de 4/4 horas ou de 6/6 horas. 
Reações adversas: 
Úlcera gástrica, hemorragia digestiva e perfuração, quadros de anafilaxia, asma, rinite, urticária. A Síndrome de Reye, 
caracterizada por uma grave disfunção hepatocerebral, é uma entidade importante, com letalidade de 
aproximadamente 30%, observada em indivíduos acometidos por certas doenças virais agudas (varicela, influenza) e 
que recebiam aspirina. Na atualidade, raramente, a aspirina é utilizada para o combate à febre em crianças. Com a 
diminuição do seu uso, praticamente não mais se observa a Síndrome de Reye 
 
Ibuprofeno 
O ibuprofeno é um antiinflamatório não hormonal que possui, além da ação antiinflamatória, ação antitérmica e 
analgésica. Foi liberado nos EUA para uso em crianças maiores de seis meses de idade. 
Doses Crianças a dose recomendada é de 5-10 mg/kg de 6/6 horas. 
Reações Adversas: 
úlcera gástrica, hemorragia digestiva e perfuração tem sido relatadas, sendo, entretanto, raras na criança. Outras 
reações são a inibição reversível da função plaquetária, anafilaxia, asma, necrose papilar renal levando ao quadro de 
nefrite analgésica, e falência renal quando a droga é utilizada em crianças com desidratação importante. Aplasia 
medular é outra complicação grave, porém rara.

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