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[7306 - 21122]unidade1_OEstado

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1UNIDADE 1O EstadoRaphael Lima de Abreu 
(Agradecimento à colaboração de Myriam Righetto)
Objetivos de aprendizagem
 � Conhecer o conceito de Estado, suas finalidades e as 
teorias sobre o seu surgimento. 
 � Entender a evolução do modelo antigo até a atual 
concepção de Estado Democrático e de Direito.
 � Compreender a atual relação entre o Estado Democrático 
de Direito e os indivíduos. 
Seções de estudo
Seção 1 O Estado, conceito e finalidade 
Seção 2 Teorias do surgimento originário e derivado do 
Estado
Seção 3 A consolidação do Estado Moderno
Seção 4 O Constitucionalismo
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Nesta unidade, estudaremos o Estado.
Na busca pela justiça, dar a cada um o que é seu, o homem adotou 
as regras, normas, leis e constituições como forma de atender a 
este interesse individual. 
O Direito, portanto, pode ser entendido como resultado natural 
do convívio humano, de se viver em grupo, e, muitas vezes, por 
questões de sobrevivência, existindo, antes mesmo que o Estado, 
como, por exemplo, nas aldeias e clãs primitivos. 
Em tempos primórdios da humanidade, clãs e aldeias detinham 
certa organização e, em decorrência, o poder, sobrepujando seus 
membros notadamente pela força e, mesmo, punindo-os. Podiam 
banir alguém do convívio do grupo por exemplo, o que, em 
muitos casos, significava uma sentença de morte, pois a vida na 
Terra já se apresentou muito difícil para o homem.
Quando o homem conhecido como Moisés conduziu o povo 
israelita à Terra Prometida, detinha real liderança, fundamentada 
na fé de seus membros, e isto lhe conferia poder para dizer, em 
nome de Deus, quais caminhos o grupo seguiria até chegar lá. 
Outras formas de exercer o poder do grupo surgiram ao longo 
da história, ao ponto de os Parlamentos se anteciparem ao 
surgimento do Estado. Os conselhos de anciãos, de nobres, de 
religiosos e daqueles que, de alguma maneira, podiam interferir 
no exercício do poder de criar regras exerciam o Poder do grupo: 
suas decisões tornavam-se, deste modo, regras. E é assim que, 
comprovadamente, antes do surgimento do Estado, já havia o 
Direito.
Pelo Direito, as sociedades, as famílias reunidas ou um 
determinado povo em um dado território acabaram criando ou 
reconhecendo a necessidade de haver um ente que exercesse 
o poder do grupo, capaz de distribuir justiça para todos de 
maneira democrática. Vale dizer: os integrantes do grupo podem 
participar do exercício e do controle deste Poder. Como exemplo, 
destaca-se o fato de que uma das funções dos Parlamentares é 
a de fiscalizar o uso do Poder, evitando abusos. Essa é a prova 
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
de que o sistema democrático permite o exercício do Poder de 
governar os demais, conforme o interesse do povo, dos indivíduos 
que o compõem. 
Fustel de Coulanges destaca que o que movimenta os indivíduos 
são os interesses, e, segundo Sahid Maluf, “são eles que fazem 
as instituições e que decidem sobre a maneira pela qual uma 
comunidade se organiza politicamente”. 
As instituições ajudam a formar um Estado sólido, justamente 
por força da participação popular, da igualdade, e é através 
dela que os interesses individuais e coletivos, conforme o autor 
esclareceu, criam e decidem os rumos de instituições. Ou seja: 
o Poder do Estado emana do povo, sempre foi assim, embora 
muitas vezes tal fosse desvirtuado ou mal utilizado. De qualquer 
maneira, a força principal é o elemento humano, uma vez que 
não há Estado sem povo.
No Brasil de hoje, o reconhecimento da origem do poder do 
Estado está na Constituição Federal de 1988. Após passar por 
um regime militar que cerceou direitos e garantias individuais, 
na contramão da democracia, o país positivou em sua lei mais 
importante e de maior hierarquia que o poder emana do povo e 
em seu nome será exercido.
O modelo estatal pode ter evoluído a partir do agrupamento de 
famílias e clãs, por força da fé, isto que é explicado mais pela 
metafísica, ou, simplesmente, evoluído como a história, em 
níveis diferentes em determinados territórios, mas, em comum, 
na busca desse modelo capaz de distribuir justiça para todos, ao 
menos como um ideal, como é o conceito de Estado. 
Karl Schmidt diz que “o conceito de Estado não é um conceito 
geral válido para todos os tempos, mas é um conceito histórico 
concreto, que surge quando nascem a ideia e a prática da 
soberania, o que só ocorreu no século XVII”.
Defendendo que o Estado só existiu após a reunião de certas 
características presentes nas sociedades políticas está Giorgio 
Balladore Pallieri, que indica precisamente o ano em que o 
Estado nasceu e aduz que “a data oficial em que o mundo 
ocidental se apresenta organizado em Estados é a de 1648, ano 
em que foi assinada a paz de Westfália”.
A paz de Westfália, que 
o autor indica como o 
momento culminante na 
criação do Estado, e que 
muitos outros consideram 
o ponto de separação 
entre o Estado Medieval 
e o Estado Moderno, foi 
consubstanciada em dois 
tratados, assinados nas 
cidades westfalianas de 
Munster e Onsbruck. Pelos 
tratados de Westfália, 
assinados em 1648, 
foram fixados os limites 
territoriais resultantes 
das guerras religiosas, 
principalmente da 
Guerra dos Trinta Anos, 
movida pela França e 
seus aliados contra a 
Alemanha. A França, 
governada então pelo 
Rei Luiz XIV, consolidou 
por aqueles tratados 
inúmeras aquisições 
territoriais, inclusive a 
Alsácia. A Alemanha, 
territorialmente 
prejudicada, beneficiou-
se, entretanto, como todos 
os demais Estados, pelo 
reconhecimento de limites 
dentro dos quais teria 
poder soberano. 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Atualmente, o Estado é uma realidade inegável e consolidada, 
razão pela qual é preciso conhecê-lo e estudá-lo, aperfeiçoando-o 
para que ele proporcione o crescente desenvolvimento do seu 
povo. As teorias que explicam seu surgimento podem ser 
classificadas em formação originária e derivada. 
Seção 1 - O Estado, conceito e finalidade
O Estado moderno pode ser entendido como a sociedade jurídica 
ou politicamente organizada. Daí decorre, por lógico, que, antes 
do surgimento do Estado, o ser humano precisou aprender a 
viver em coletividade, interagindo conforme as necessidades e 
interesses e organizando-se socialmente.
O desenvolvimento do homem deu-se de diversas formas, 
com destaque para o período que segue as primeiras grandes 
descobertas, tais como a manipulação e a produção do fogo, as 
armas de caça, a agricultura, as estratégias de caça em grupo, a 
orientação para navegação, entre outras muitas, algumas descritas 
na obra “O Macaco Nu” (2003), de Desmond Morris, e pelo 
historiador Jaime Pinsky, com “As primeiras civilizações”. Tudo 
isso demonstra como o ser humano vem evoluindo rapidamente, 
e que a organização social tem primordial influência nisso.
O Estado encontra nas suas origens, com todos os 
seus elementos, muitas semelhanças com os passos 
seguidos pelo homem na organização social. 
A sociedade pode ter-se organizado segundo duas teorias: a 
primeira considera isto um fato natural, ou seja, consequência 
espontânea do convívio; já a segunda teoria aposta num acordo de 
vontades como fator determinante para a organização social.
Como fato natural, o surgimento do Estado ter-se-á dado em 
decorrência da evolução histórica, em razão da evolução natural 
das famílias. Ou, não excludentemente, como resultante da 
violência (governo dos vencedores sobre os vencidos). Também 
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
poderia ter-se originado nos meandros da economia. Ainda: seria 
fruto de um acordo de vontades (esta corrente defende o contrato 
social como precursor do Estado).
Essas teorias de surgimento do Estado são também divididas 
em modo originário e derivado. Os modos originários são os 
classificados como de ordem natural de surgimento. Os modos 
de origem derivada são classificados como fruto de um acordo de 
vontades.
Como exemploda origem derivada, pode-se 
apontar o surgimento de um novo Estado pelo seu 
fracionamento ou pela união de um com outro ou 
mais Estados, como a extinta União Soviética. 
Essa classificação ajuda a compreender o modelo do Estado que 
se estuda, partindo-se da análise do seu surgimento, a finalidade 
com que ele foi criado e as bases em que ele se fundamenta.
Veja, então, prezado(a) aluno(a), que, antes mesmo da 
organização política da sociedade, o ser humano primeiro 
organizou o seu convívio e deu solução, pelo Direito, para a 
problemática dos conflitos inerentes às relações sociais.
Daí decorre, logicamente e cronologicamente, que o 
Estado surge depois da sociedade e depois do Direito.
O Direito tornou-se, ao longo da história, a forma de solucionar 
os conflitos de interesses entre os particulares, e de resolver o 
problema do abuso do poder.
No Estado de Direito, a lei é a forma pela qual o Estado 
se organiza politicamente. Caso se trate de um Estado 
Democrático, há participação popular no governo e na 
distribuição do poder estatal. De outro modo, trata-se de um 
Estado Democrático de Direito, a lei garante a participação 
popular no exercício do poder e, ao mesmo tempo, organiza e 
limita este mesmo poder.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Tradicionalmente, os direitos dos indivíduos são amparados pelo 
Direito, uma vez que, como veremos, surgiu ou foi descoberto 
pelo homem para ajudar na ordem social e proporcionar a justiça, 
funcionando como instrumento de pacificação social, pois o 
homem não vive sozinho, seja por razões da sua natureza e 
condição humana, seja por impulso de interesses ou vontades.
A doutrina identifica ao menos três elementos essenciais do Estado: 
 � povo, 
 � território, e 
 � soberania. 
O estudo da soberania é um dos temas mais polêmicos, seja 
no âmbito interno do Estado, seja em relação a outros Estados 
internacionais.
O atual modelo de Estado brasileiro contém esses três 
elementos.
A população pode ser nacional, como no Brasil, ou plurinacional, 
como na Grã-Bretanha. Quanto ao seu território, ele pode 
ser central, sem contato com o mar, ou marítimo. O governo 
soberano, por seu turno, representa a autonomia política do 
Estado para sua população e para outros Estados. 
O governo é, pois, o mandatário do Poder de exercer a soberania, 
outorgada pelo seu povo e por isso exercida conforme seu 
interesse. Entenda-se por soberania o poder do Estado de 
autodeterminação perante outros Estados e de ditar regras e 
aplicar sanção no contexto das relações sociais.
O(a) aluno(a) deve perceber que o indivíduo e seus 
interesses são a fonte e a razão do atual poder estatal, 
e que assim o foi desde o seu surgimento. Alerta-se, 
porém, que nem sempre o Estado serviu para atender 
os interesses do seu povo, mas de indivíduos ou 
pequenos grupos, como nos Estados totalitários e nos 
absolutos. 
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
O conceito de Estado de Jellinek, adotado por Paulo Bonavides, 
aponta que o Estado “é a corporação de um povo, assentada 
num determinado território e dotada de um poder originário 
de mando”. Por esse conceito, comprova-se como é necessária a 
existência de indivíduos para a formação de um Estado e como é 
necessário que eles trabalhem em cooperação, ou seja, participem 
do surgimento e da organização do Estado.
O povo é, portanto, elemento essencial para a formação de um 
Estado, bem como é de grande importância a participação popular.
A participação popular pode-se dar, por exemplo, 
através do voto e da participação em audiências e 
consultas públicas, bem como diretamente, para 
organizar e assumir as funções desse Estado, seja 
como mandatário ou como funcionário público.
Ao final do conceito, Bonavides apresenta o elemento poder 
originário de mando. Eis aquele que, nesse primeiro momento 
de estudo mais nos interessa, pois a forma pela qual o homem 
atribuiu o Poder Estatal ajuda a entender a origem e a justificativa 
do surgimento do Estado. 
Norberto Bobbio, na obra “Estado, Governo, Sociedade – Para 
uma teoria geral da política”, disse que a palavra Estado firmou-se 
e difundiu-se em virtude da influência da obra de Maquiavel, “O 
Príncipe”, que utilizou o termo com as seguintes palavras: “Todos 
os estados, todos os domínios que imperaram e imperam sobre os 
homens, foram e são repúblicas ou principados”. Porém, sempre 
conforme Bobbio, isso não significa necessariamente que a palavra 
Estado tenha sido introduzida por Maquiavel.
Ainda, segundo Bobbio, no ano de quatrocentos (século XV) e 
quinhentos (século XVI), o termo “status”, que significava situação, 
já havia sido utilizado no sentido moderno de Estado, ou seja, como 
sinônimo de máxima organização de um grupo de indivíduos sobre 
um território, em virtude de um poder de comando.
Sendo assim, Maquiavel apenas aplicou em sua teoria uma 
expressão conhecida, isso porque, nos séculos XV e XVI, havia a 
civitas, a polis e a res publica, que os romanos designavam como 
o conjunto das instituições políticas de Roma. 
A expressão civitas 
correspondia à cidadania 
do romano, ou seja, o 
direito e o dever que o 
cidadão tinha de participar 
da vida política, uma vez 
que ele está inserido na 
polis, ou seja, na cidade 
que representava o início 
da organização estatal 
moderna, e que a soma 
desses elementos ajuda 
a compor a coisa pública, 
a res publica, conjunto 
de instituições que 
interessam ao grupo social 
e político.
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Não só Maquiavel, como também outros autores da época, que 
estudaram o Estado e escreveram sobre ele, utilizaram-se de um 
conceito já conhecido na época.
O(a) aluno(a) deve considerar que, desde a Grécia 
antiga, com Platão, até os dias de hoje, o conceito 
de Estado é objeto de estudo e discussão. Também 
é verdade que o Estado tem a característica de 
transformar-se constantemente, delineando-se aos 
interesses individuais. Pode-se concluir, a partir dessas 
duas premissas, que o conceito de Estado acompanhe 
essas transformações, mas sempre considerando 
sua existência como algo também verdadeiro, ou 
existente de fato numa sociedade.
A participação popular na formação e transformação do Estado 
tem suas peculiaridades, visto que, na democracia grega, a 
participação popular limitava-se ao cidadão e, além disso, havia 
escravos e as mulheres tinham sua participação política limitada. 
Na Roma antiga também havia diferenciação entre os indivíduos 
que poderiam participar da política.
Se considerarmos que um grupo social organizado politicamente 
através de um poder de mando é um Estado, é possível imaginar 
um Estado primitivo formado pela união de grupos vencedores 
e vencidos, pelo qual a perspectiva dos sujeitos que o formam é 
bem diferente da que possuíam os que viveram em Atenas, na 
Grécia antiga, berço da democracia.
O conceito de Estado deve ser entendido conforme sua 
época, segundo lembrava Karl Schmidt, pois, na história 
da humanidade, existiu o Estado absoluto, o Estado liberal, 
comunista, socialista, nazista. Há o Estado Democrático de 
Direito, o Estado Ditatorial e um possível Estado Constitucional.
A clareza no surgimento e na consolidação do Estado é tarefa 
árdua, motivo pelo qual Bobbio ressalta: “Daí a fortuna do termo 
‘Estado’, que, através de modificações ainda não bem esclarecidas, 
passou de um significado genérico de situação para um significado 
específico de condição de posse permanente e exclusiva de um 
território e de comando sobre os seus respectivos habitantes”.
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
Seção 2 - Teorias do Surgimento Originário e Derivado 
do Estado
Como dissemos anteriormente, indivíduos reunidos em torno 
de interesses específicos conferiram o poder do grupo a uma 
entidade fictícia, a qual só existia na sua inteligência e no 
consenso obtido, mas que era exigível pelo direito eleito pelo 
coletivo, pelo interesse comum a todos.
Mas, quando foi, provavelmente,que surgiu a primeira 
forma de Estado?
Pode parecer difícil imaginar que, nos primórdios da 
humanidade, quando a linguagem era limitada, o homem 
primata debatesse sobre como organizar o Poder e o seu uso, 
mas, a partir do convívio de duas ou mais pessoas, o direito pode 
surgir e, a partir daí, criam-se regras para o melhor convívio 
daqueles que se submetem a elas. 
Dizemos que há a possibilidade de nascer o Direito, pois, em 
um grupamento de homens em que a única forma de solução de 
conflito é a violência, se não há o Direito, mas há a autotutela, ou 
seja, aquele que é mais forte sobrepuja o mais fraco e toma o bem 
da vida para si, tenha ele direito de tê-lo, ou não.
A aceitação das leis de um determinado lugar ajuda a visualizar 
a possibilidade de debates entre grupos de chefes de clãs, ou 
de religiosos, ou de grupamentos de homens que rapidamente 
evoluíram.
Após a chamada revolução neolítica, quando melhorou sua 
técnica de construção de armas, o homem tornou-se agricultor 
e deixou de ser nômade, fixando-se à terra sempre mais. Com 
isso, os contornos do Estado tornaram-se mais evidentes, 
principalmente a questão do território. Entretanto não só de terra 
se faz um Estado: é preciso também o povo organizado em torno 
de um governo soberano.
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Não há consenso doutrinário sobre uma única teoria que explique 
de maneira completa e inequívoca o surgimento do Estado. 
Apresentaremos alguns modelos mais recorrentes na doutrina, 
um sobre a formação originária (teoria da origem familial, 
contratual, econômica, violenta; e a origem no desenvolvimento 
interno da sociedade), bem como dois modelos de origem 
derivada do Estado (fracionamento e união de Estados).
Uma certeza você pode ter: a razão pela qual existe 
o Estado é o indivíduo, muito embora ele já tenha se 
sustentado pela fé e religião, ou pelo uso da força, ou 
se submetido à vontade de reis déspotas e tiranos. 
Porém, no processo democrático moderno, não mais 
se aceita esse tipo de inversão de interesses, onde 
o Estado existe por outra razão diferente daquela 
fundamental, a de atender os interesses individuais. 
Dizemos surgimento originário por ser o primeiro, pois, antes 
dele, não haveria qualquer tipo de organização social e política 
que se assemelhasse ao Estado, você já sabe. 
São ambas as teorias, formação natural e formação contratual, 
surgimentos originários, cuja principal diferença reside na causa 
da formação, pois, na primeira hipótese, não há um conjunto 
de atos voluntários para a criação do Estado, enquanto que, 
na segunda hipótese, o acordo de vontades de alguns homens 
determinaria esse surgimento.
Em relação à formação natural do Estado, pode ter tido origem 
histórica, familial ou violenta, enquanto que a formação do 
Estado contratual pode ter tido origem no contrato social ou de 
origem econômica.
Para a teoria da formação natural, uma das hipóteses aponta 
que a família, célula da sociedade, foi a precursora do Estado, 
em alguns casos a partir da reunião de várias famílias, ora 
pelo crescimento de uma única família, a qual, acumulando 
grande patrimônio, acaba por organizar o poder. Leciona Darcy 
Azambuja:
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
As mais antigas teorias sobre a origem do Estado 
vêem nele o desenvolvimento e a ampliação da 
família. Baseiam-se essas teorias, hoje adotadas por 
poucos autores, nas tradições e mitos de civilizações 
antiqüíssimas. Mas, há um evidente equivoco em 
identificar a origem da humanidade com a origem do 
Estado. (AZAMBUJA, 1941).
É certo que a ampliação e organização das famílias, em 
determinado lugar na Terra, deu origem a um modelo primitivo 
de Estado. Entretanto, conforme leciona Azambuja, esta hipótese 
não deve ter-se confirmado de modo universal, ocorrendo 
somente em regiões isoladas do planeta.
Para demonstrar por que a hipótese de surgimento do Estado 
pela família acabou sendo uma das menos aceitas, esclarece 
Azambuja:
Sociedade humana e sociedade política não são termos 
sinônimos. Exatamente quando o homem, pela 
maioridade, se emancipa da família, é que, de modo 
consciente e efetivo, passa a intervir na sociedade política. 
Esta tem fins mais amplos do que a família, e, nos 
Estados modernos, a autoridade política não tem sequer 
analogia com a autoridade do chefe de família. O Estado, 
além disso, é sempre a reunião de inúmeras famílias. 
Os novos Estados que se têm constituído em períodos 
recentes, como os Estados americanos, não foram o 
desenvolvimento de uma só família, mas de muitas. 
Segue a mesma linha de raciocínio e com mesmo fundamento 
a teoria de surgimento do Estado pela origem patriarcal e 
matriarcal. Diz respeito, pois, à teoria meramente conjetural, 
sem confirmação histórica, muito embora haja quem sustente 
a existência de um modelo primário de Estado nas lideranças 
tribais e religiosas antes do ano zero, ou seja, antes de Cristo.
Destaca-se, porém, que, na Antiguidade, as razões religiosas 
davam razão e fundamento para a existência do Estado, 
legitimando o poder do governante, como por exemplo, do Faraó 
no Egito antigo.
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Outra causa que pode ter determinado o surgimento do Estado 
foi a violência, ou atos de força ou de conquista. Não é difícil 
imaginar que, nos primórdios da civilização, o uso da força não 
encontrava limites e que ela era frequentemente utilizada para a 
solução de conflitos. 
Pela teoria da causa violenta de surgimento do Estado, com 
algumas variações na doutrina, temos que os povos mais fortes 
venciam ou sobrepujavam outro povoado ou grupo mais fraco, 
resultando numa conjunção de dominantes e dominados, a qual 
originou o Estado.
De fato, há uma teoria de surgimento do Estado que o explica 
dessa maneira, ou seja, da necessidade de organizar a conjunção 
de grupos sociais de maior força que, por tal razão, venciam e 
conquistavam grupos sociais mais fracos.
Dalmo de Abreu Dallari assim descreve essa teoria: “Com 
pequenas variantes, essas teorias sustentam, em síntese, que a 
superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter 
um grupo mais fraco, nascendo o Estado dessa conjunção de 
dominantes e dominados”.
Dentre os defensores dessa teoria, figura Franz Oppenheimer, 
que afirma que o Estado foi criado para regular as relações entre 
vencedores e vencidos e acrescenta que essa dominação teve 
por finalidade a exploração econômica do grupo vencido pelo 
vencedor. Teoria muito semelhante é a de Ludwig Gumplowicz.
As teorias que consideram o Estado como nascido da violência 
e da força são quase contemporâneas das teorias contratuais. 
Bodin, jurista filósofo, por exemplo, admitia que “o Estado ou 
nasce da convenção ou da violência dos mais fortes”. 
Mas, sem dúvida, é no pensamento político 
contemporâneo que as doutrinas da origem violenta 
do Estado adquiriram foros de verdades científicas. 
Quase todos os sociólogos, inspirados nas ideias de Darwin, 
veem na sociedade política o produto da luta pela vida; nos 
governantes, a sobrevivência dos mais aptos; na estrutura jurídica 
dos Estados, a organização da concorrência. 
Entenda-se por conflito toda disputa 
entre indivíduos por um mesmo 
bem da vida, seja ele um alimento, 
um abrigo ou o resultado de uma 
caça.
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
O darwinismo político seria a expressão científica do 
maquiavelismo, pois, insensivelmente, inclui no conceito de força 
não só violência, mas também a astúcia.
Gumplowicz diz que “O Estado é um fenômeno social, produto 
de ações naturais, de que a primeira é ‘a subjugação de um grupo 
social por outro grupo e o estabe1ecimento, pe1o primeiro, de 
uma organização que lhe permite dominar o outro’”.
Oppenheimer quase que reproduz as palavras de Gumplowicz, 
quando diz: 
O Estado é, inteiramente quanto a sua origem e 
quase inteiramente quanto a sua natureza durante os 
primeiros vestígios de existência, uma organizaçãosocial 
imposta por um grupo vencedor a um grupo vencido, 
organização cujo único objetivo é regular a dominação 
do primeiro sobre o segundo, defendendo sua autoridade 
contra as revoltas internas e os ataques externos. [...] 
E esta dominação não teve jamais outro fim senão o 
da exploração econômica do vencido pelo vencedor. 
Nenhum Estado primitivo, em toda a história universal, 
teve origem diversa.
Lester Ward expressa as mesmas teorias, afirmando que 
[...] o Estado nasce com a conquista de um grupo pelo 
outro e com o progresso que constitui a escravização 
e não mais a destruição do vencido pelo vencedor. 
Organiza-se assim a ordem política, fruto dos interesses 
econômicos do vencedor e de resignação do vencido.
Cornejo apresenta os mesmos argumentos e os resume nesta frase 
sugestiva: “A sobrevivência ideal do companheiro dá origem ao mito; 
a sobrevivência real do inimigo dá origem à organização política.” 
Destaca-se que a primeira forma de solucionar conflitos 
decorrentes do convívio social foi a força, e isso foi classificado 
pela doutrina do Direito como autotutela.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Ainda há nas leis brasileiras algumas hipóteses de 
autotutela, como a legítima defesa. Entretanto é 
cediço que este modelo de solução de conflitos 
desfavorece o mais fraco, o qual, mesmo detentor do 
direito de ter algo, é desrespeitado por não conseguir, 
sozinho, sobrepujar a violência que sofre.
Para evitar esse tipo de injustiça e evitar a barbárie foi que se 
configurou a necessidade de um ente com força de exigir o 
respeito aos direitos dos indivíduos. Isto foi resolvido através 
da jurisdição, que é o poder e o dever do Estado de resolver os 
conflitos, proporcionando paz social.
Já, quanto ao modo originário de formação histórica do Estado, 
este se confunde com a própria evolução social, uma vez que, 
à medida que a sociedade se organiza politicamente em um 
determinado território sob o governo de um ou de poucos, 
submetendo todos os demais ao poder desse grupo, a presença do 
Estado se manifesta, segundo a teoria da origem natural.
Acontece que essa organização política ocorreu em diversos 
momentos diferentes na história e, em determinadas épocas, 
sua força foi relativizada. Os Faraós egípcios, por exemplo, 
dominavam o Egito antigo, ou seja, havia uma fonte de comando 
e de ordem, pela qual os demais deveriam submeter-se.
Já, na Idade Média, período em que havia o feudalismo como 
fundamento econômico e social, o poder do rei era relativizado, 
na medida em que os senhores feudais possuíam poder de mando 
e de punição sobre as pessoas que viviam sob o seu domínio.
Com isso, demonstra-se que a formação histórica do Estado não 
é linear, pois, na época do feudalismo, por exemplo, o poder 
estatal estava limitado pelo poder da propriedade privada.
Há na doutrina uma espécie de classificação denominada 
de evolução histórica do Estado, a qual considera os modos 
originários anteriormente descritos como o conteúdo dessa teoria, 
bem como os modos derivados, como a união de dois Estados ou 
o fracionamento de um em dois ou mais.
O filósofo Platão, em “Diálogos”, no Livro II de “A República”, 
esclarece que: 
Poder atribuído a uma autoridade 
para aplicar a lei nos casos 
concretos, aos litígios, e punir quem 
as infrinja em determinada área; 
área territorial dentro da qual se 
exerce esse poder; Vara; Alçada, 
competência. Atividade do Poder 
Judiciário ou de órgão que a exerce. 
Refere-se também à área geográfica 
abrangida por esse órgão. 
Fonte: <http://www.centraljuridica.
com/dicionario/g/1/l/j/dicionario_
juridico/dicionario_juridico.html>. 
Acesso em 03 fev. 2011.
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
Um Estado nasce das necessidades dos homens; ninguém 
basta em si mesmo, mas todos nós precisamos de muitas 
coisas [...] como temos muitas necessidades e fazem-se 
mister numerosas pessoas para supri-las, cada um vai 
recorrendo à ajuda deste para tal fim e daquele para tal 
outro, e quando esses associados e auxiliares se reúnem 
todos numa só habitação, o conjunto dos habitantes 
recebe o nome de cidade ou Estado.
A partir deste pensamento, Dalmo de Abreu Dallari busca 
demonstrar que a divisão do trabalho, integrada pelas diversas 
atividades profissionais, justificaria o motivo econômico do 
Estado.
Dallari destaca que, dentre as teorias que sustentam a origem do 
Estado por motivos econômicos, a de maior repercussão foi a de 
Marx e Engels. Eles escreveram a obra “A Origem da Família, da 
Propriedade Privada e do Estado”, na qual, além de negar que o 
Estado tenha nascido com a sociedade, Engels afirma que “ele é 
antes um produto da sociedade, quando ela chega a determinado 
grau de desenvolvimento”.
No capítulo do livro de Marx e Engels dedicado à gens grega, 
após tratar da deterioração do anterior harmônico convívio social 
em razão da acumulação e diferenciação de riquezas entre os 
indivíduos e dos males a ela consequentes, lê-se que:
Faltava apenas uma coisa: uma instituição que não só 
assegurasse as novas riquezas individuais contra as 
tradições comunistas da constituição gentílica; que não 
só consagrasse a propriedade privada, antes tão pouco 
estimada, e fizesse dessa consagração santificadora o 
objetivo mais elevado da comunidade humana, mas 
também imprimisse o selo geral do reconhecimento da 
sociedade às novas formas de aquisição da propriedade, 
que se desenvolviam umas sobre as outras – a 
acumulação, portanto, cada vez mais acelerada das 
riquezas: uma instituição que, em uma palavra, não só 
perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes, 
mas também o direito de a classe possuidora explorar 
a não-possuidora e o domínio da primeira sobre a 
segunda. E essa instituição nasceu. Inventou-se o Estado.
(MARX;ENGELS).
32
Universidade do Sul de Santa Catarina
Dois aspectos se destacam dessa teoria. O primeiro é que, 
por ela, o Estado foi criado como instrumento manejado pela 
burguesia para a exploração do proletariado; e a segunda, que 
o Estado pode ser extinto a qualquer tempo, uma vez que seria 
uma criação artificial para atender o interesse de uma minoria.
Até o momento, você pôde perceber que os modos 
originários de surgimento do Estado tanto podem 
ser decorrência natural do convívio humano, como 
pode também ter sido fruto da criação do homem. 
Neste diapasão, portanto, apresentamos outra teoria 
de surgimento do Estado, qual seja, a da origem 
contratual.
Que o Estado surgiu do convívio social, isso pouco se questiona. 
O fundamento da origem contratual do Estado leva em 
consideração que o homem, livremente, intencionou a criação 
de um ente fictício o qual receberia o encargo de mandatário do 
poder do grupo.
Sabe-se que a manifestação da vontade é um elemento essencial 
nos contratos, pelo que se pode deduzir que o contrato social, que 
pode ter criado o Estado, teria sido o resultado da manifestação 
da vontade do povo, o qual, por várias razões, decidiu pela 
outorga do exercício do Poder oriundo do grupo social, a uma 
pessoa, ou a um conselho delas.
Esta teoria não é nova. Aristóteles e Epicuro, dentre outros 
filósofos da Escolástica, notadamente Santo Tomás, entendiam 
que a sociedade política se originou de uma convenção entre 
os membros da sociedade humana. Entenda nessa hipótese a 
sociedade política como o conceito de Estado.
A teoria da origem contratual do Estado encontra força na obra de 
Hobbes, Spinosa, Grotius, Puffendorf, Tomasius, Locke e Rousseau. 
Com estes autores, o contrato social ganha primordial relevância. 
Hobbes afirmava que 
[...] ante a tremenda e sangrenta anarquia do estado de 
natureza, os homens tiveram que abdicar em proveito 
de um homem ou de uma assembléia os seus direitos 
33
Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
ilimitados, fundando assim o Estado, o Leviatã, o deus 
mortal, que os submete à onipotência da tirania que eles 
próprios criaram. 
Para Spinosa, “os homens se viram forçados a pôr termoao 
estado de natureza mediante um contrato, com que criaram o 
Estado, abdicando nele todos os direitos, menos o de pensar, de 
falar e de escrever”. 
Em Grotius “os homens, levados pela simpatia recíproca, 
associaram-se por um pacto voluntário”. Puffendod pensa que “o 
motivo do contrato foi o receio dos homens maus, por parte dos 
homens bons”. 
Locke, por seu turno, baseia o contrato, e portanto o Estado, no 
consentimento de todos, que desejavam criar um órgão para fazer 
justiça e manter a paz. Tomasius adota os mesmos pontos de 
vista, mas acha que a causa do contrato é o amor nacional. 
Ocorre que, para a teoria de Rousseau, o contrato social deveria 
ser geral, unânime e fundado na igualdade entre os homens, e 
essa igualdade nunca é plenamente alcançada. Outro aspecto 
a ser considerado é o fato de que, se o Estado nada mais é do 
que um contrato social, seria possível a qualquer um sair desse 
contrato, o que sem dúvidas resultaria numa crise social ou até 
mesmo na volta da anarquia.
Para Rousseau, o problema da sua teoria era: “Encontrar uma 
forma de associação que defenda e proteja com toda a força 
comum a pessoa e os bens de cada associado e pela qual cada um, 
unindo-se a todos, não obedeça no entanto senão a si mesmo e 
permaneça tão livre como antes”. 
As releituras da teoria do contrato social como origem do Estado 
terminam por revolver os mesmos argumentos do filósofo de 
Genebra, que, por seu turno, ainda não resolveram as críticas que 
essa teoria ainda recebe e que permanecem sem solução.
34
Universidade do Sul de Santa Catarina
A teoria marxista trouxe também sua contribuição 
para as teses sobre a origem do Estado. Aquela teoria 
é formada pelo que Marx disse, pelo que disseram 
que ele disse, e foi muito, e pelo que muitos socialistas 
acharam que ele deveria ter dito, e foi muito mais. Por 
isso mesmo, pouco antes de morrer, Marx teria dito a 
famosa frase: “Eu não sou marxista...” 
A economia como fator determinante do aparecimento do Estado 
foi tema abordado por Engels, companheiro de Marx, que, na obra 
Origens da Família, da Propriedade privada e do Estado, afirmou: 
Como o Estado surgiu da necessidade de pôr fim à 
luta de classes, mas surgiu também no meio da luta de 
classes, normalmente o Estado e a classe dominante 
economicamente mais poderosa, que, por seu intermédio, 
se converte também em classe politicamente mais forte, 
adquire novos meios para submeter e explorar a classe 
oprimida. 
No tocante aos modos derivados de formação do Estado, a 
doutrina classificou a união de dois ou mais Estados como 
uma hipótese possível, como ocorreu com a antiga União das 
Repúblicas Socialistas Soviéticas, a extinta URSS, e pela cisão de 
um Estado e formação de outro, como ocorreu com a República 
Oriental do Uruguai, que, até o século XIX, integrava o território 
brasileiro.
É importante lembrar que os blocos econômicos, como a União 
Europeia, não formam um Estado na concepção atual, por não 
possuírem um governo central, mas tão somente um conjunto 
de tratados internacionais pelos quais os Estados signatários se 
obrigam, podendo, entretanto, sair dele, com fundamento na sua 
soberania e poder de autodeterminação.
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
Seção 3 - A Consolidação do Estado Moderno 
Para entendermos como a forma moderna de Estado 
consolidou-se, é preciso estudar as transformações ocorridas 
desde o Estado medieval até o movimento constitucionalista, 
com destaque para a criação do Estado norte-americano e a 
Revolução Francesa.
3.1 Do Estado absolutista ao liberal
O marco do início da Idade Média foi a queda do Império 
romano do Ocidente, sediado em Roma, no século V.
Após sucessivas crises econômicas, em muito motivadas pela falta 
de escravos, bem como por causa do declínio de seu prestígio 
político, devido a seu enfraquecimento militar e invasões de povos 
bárbaros aos seus domínios, o antigo Império Romano foi vencido.
Os povos germanos (do Norte da Europa), os hunos (da Ásia), 
os vândalos (da África) além de húngaros e vikings (da Europa 
oriental) atacaram diversos pontos dos domínios romanos e, no 
ano de 476, Odoacro, rei de um desses povos invasores, derrubou 
o imperador de Roma. 
Desde então, os diversos povos antes conquistados por Roma 
passaram a se organizar em reinos, condados e povoados isolados, 
para se protegerem dos ataques dos estrangeiros. 
Esse isolamento alcançou a economia, transformando o modo 
de produção no que os historiadores batizaram de feudalismo, 
principalmente motivados pela subsistência e proteção, notadamente 
da população mais pobre, que vivia de trabalhos no campo.
Poder, naquela época, significava a posse de armas e o comando 
de soldados. O estabelecimento dessa proteção dos mais 
poderosos aos pobres, em troca da lealdade, foi adotado pelos 
povos germanos, os quais passaram a dominar grande parte do 
extinto Império Romano do Ocidente. 
Com o passar dos séculos, os camponeses foram tornando-se 
cada vez mais dependentes desses senhores. Assim, os 
trabalhadores do campo, além de entregarem os produtos que 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
cultivavam aos seus protetores, passaram a dar-lhes suas terras e 
oferecerem seus serviços para outras atividades. Com isso, grande 
parte dos camponeses se tornou servo.
Esse modelo perdurou durante séculos e marcou a 
Idade Média, que foi transformada, após a guerra dos 
trinta anos, marco da transição da Idade Média para a 
Moderna.
O século XVI teve como uma de suas manifestações mais 
profundas o processo de reformas religiosas, responsável por 
quebrar o monopólio exercido pela Igreja Católica na Europa e 
pelo advento de uma série de novas religiões as quais, embora 
cristãs, fugiam aos dogmas e ao poder imposto por Roma: as 
chamadas religiões protestantes. 
Mais do que apenas um movimento religioso, as reformas 
protestantes inseriram-se no contexto mais amplo, que marcou a 
Europa a partir da Baixa Idade Média, expressando a superação 
da estrutura feudal tanto em termos da fé como também em seus 
aspectos sociais e políticos.
Da mesma forma, não se pode considerar as reformas religiosas 
como um processo que se iniciou no século XVI. Ao contrário, 
elas representaram o transbordamento de uma crise que já vinha 
manifestando-se na Europa desde o início da Baixa Idade Média, 
fruto da inadequação da Igreja à nova realidade, marcada pelo 
declínio do mundo feudal, pelo crescimento do comércio e da 
vida urbana, pela centralização do poder político nas mãos dos 
reis e pelo advento de uma nova camada social, a burguesia. 
Também não se pode deixar de lado a influência do 
Renascimento Cultural, no sentido de ter rompido o monopólio 
cultural exercido pela Igreja Católica na Idade Média. O 
Renascimento teve o efeito de possibilitar a aceitação de conceitos 
e de visões de mundo diferentes daqueles impostos pela Igreja 
Católica, ao quebrar o quase monopólio intelectual que a Igreja 
exercia na Idade Média.
37
Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
Num certo aspecto, as Reformas Protestantes são 
filhas do Renascimento, e representaram, como 
este, uma adequação de valores e de concepções 
espirituais às transformações pelas quais a Europa 
passava -- nos campos econômico, social e cultural.
Para contra-atacar esses movimentos contrários aos seus 
interesses, a igreja católica promoveu a contrarreforma, 
culminando na Guerra dos 30 anos.
Entre 1618 e 1648, na Europa, este conflito, como anotado 
anteriormente, marcou a transição do feudalismo para a Idade 
Moderna. A Guerra dos 30 anos envolveu uma série de países em 
volta da região onde hoje está a Alemanha, e teve como elemento 
catalisador as disputas religiosas decorrentes das reformas 
protestantes do século XVI. 
As causas dessa guerra incluem a luta pela afirmação 
do poder de monarquias europeias, com disputas 
territoriais e conflitos pela hegemonia. 
As causas da Guerra dos Trinta Anos também passam pelosproblemas da aliança da dinastia dos Habsburgo e do Sacro 
Império Romano-Germânico com a Igreja Católica. Essa aliança 
de religião com Estado, uma herança medieval, não mais se 
adaptava a um mundo no qual o poder das monarquias nacionais 
era cada vez mais forte. 
A vinculação entre o Império e a Igreja fazia com que os ideais de 
independência política tivessem um viés religioso, como é o caso 
da Boêmia, palco dos episódios que se constituíram no estopim 
do conflito.
Por que aconteceu a Guerra?
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Universidade do Sul de Santa Catarina
As tensões religiosas cresceram na Alemanha no último quarto 
do século XVI. Durante o reinado de Rodolfo II, a ação católica 
foi extremamente agressiva. Foram destruídas várias igrejas 
protestantes, além de se tomar uma série de medidas contra a 
liberdade de culto. 
Contra essas atitudes, foi fundada em 1608 a União Evangélica. 
Em resposta, foi fundada, no ano seguinte, a Liga Católica – o 
que permite imaginar que um conflito não demoraria a aparecer.
Na região checa da Boêmia, havia um impasse: a maioria da 
população era protestante, mas o rei, Fernando II, era católico. 
Fernando II era da dinastia dos Habsburgo, também duque 
da Estíria e da Áustria e futuro imperador do Sacro Império. 
Fervoroso católico, educado pelos jesuítas e herdeiro da 
aliança entre os Habsburgo e o papado, Fernando reprimiu 
violentamente os protestantes, destruindo templos e impondo o 
catolicismo como única religião permitida no reino. 
Os Defensores da Fé, ramo boêmio da União Evangélica, 
lideraram a reação a Fernando. Invadiram o palácio real em 23 
de maio de 1618, e atiraram os defensores do rei pela janela do 
segundo andar, episódio conhecido como a "Defenestração de 
Praga", considerado o marco inicial da guerra.
Período palatino-boêmio (1618-1624)
Comandados pelo conde Matias von Thurn, s protestantes 
obtiveram algumas vitórias, estendendo a revolta para outras 
regiões. A cidade de Viena (hoje capital da Áustria), centro do 
poder Habsburgo, foi sitiada em 1619. A coroa da Boêmia foi 
entregue a Frederico V, líder da União Evangélica e eleitor do 
Palatinado (território administrado por conde palatino).
É preciso lembrar que os protestantes não eram um 
grupo único. Havia divergências entre luteranos e 
calvinistas, o que enfraqueceu os protestantes e abriu 
espaço para a contraofensiva católica. 
39
Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
Em 8 de novembro de 1620, um exército da Liga Católica, liderado 
pelo germânico João T'Serklaes Von Tilly, venceu os protestantes 
na Batalha da Montanha Branca. Após essa vitória, muitos rebeldes 
foram condenados à morte e todos perderam seus bens. 
O protestantismo foi proibido nos domínios imperiais e a 
língua checa substituída pela alemã. Em 1623, Fernando II da 
Germânia, imperador desde 1619, com a ajuda da Espanha e da 
região alemã da Baviera, conquistou o Palatinado de Frederico 
V. A coroa da Boêmia, até então escolhida por voto, tornou-se 
hereditária dos Habsburgo.
No final de 1624, o Palatinado, entregue a Maximiliano I, 
duque da Baviera, era novamente católico. Com isso, teve fim o 
primeiro período conhecido como Palatino-Boêmio.
Período dinamarquês (1624-1629)
Esta segunda fase da guerra, que ficou conhecida como período 
dinamarquês, marcou o início da internacionalização do conflito.
Fernando II quis obrigar os protestantes a devolverem as 
propriedades católicas que haviam sido tomadas. Contra essa 
medida, os protestantes pediram ajuda a Cristiano IV, rei da 
Noruega e da Dinamarca e também detentor do ducado de 
Holstein, no Sacro Império. 
Protestante e interessado em obter territórios e reduzir o poder 
Habsburgo sobre seus domínios em Holstein, Cristiano declarou 
guerra contra os Habsburgo, contando com o apoio de guerreiros 
holandeses. Cabe lembrar que a Holanda, recém independente 
do ramo espanhol dos Habsburgo, era predominantemente 
protestante.
Mas a ação militar holandesa, de 1625 a 1627, acabou derrotada. 
Em 1629, foi publicado o Édito da Restituição, um documento 
que anulava todos os direitos protestantes sobre as propriedades 
católicas expropriadas a partir da Paz de Augsburgo. 
Em 22 de maio de 1629, o rei Cristiano aceitou o Tratado de 
Lübeck, que o privava de mais alguns territórios germânicos, 
significando o fim da Dinamarca como potência europeia. O 
imperador Fernando II alcançou o auge de seu poder.
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Período sueco (1630-1635)
O terceiro período da guerra, chamado de período sueco (1630 a 
1635), marcou o início da ação do Cardeal Richelieu, ministro de 
Luis XIII e verdadeiro governante da França. 
Apesar de ligado à Igreja Católica, o Cardeal Richelieu queria 
barrar o avanço dos Habsburgo na Europa, o que o fez ficar 
do lado dos protestantes. Richelieu convenceu o rei da Suécia, 
Gustavo Adolfo, a atacar o império de Fernando II.
Gustavo Adolfo queria o domínio sobre o Sund, estreito que separa 
o mar do Norte e o mar Báltico e que garante controle comercial e 
estratégico da região. Para tanto, era necessária a obtenção de uma 
ilha ao norte da Dinamarca, dominada pelos Habsburgo.
Depois de uma série de vitórias contra as forças imperiais entre 
1630 e 1632, Gustavo Adolfo morreu na batalha de Lutzen. 
Seus sucessores não tiveram o mesmo sucesso. Derrotados 
definitivamente na Baviera, em 1634, os suecos tiveram que se 
retirar do território alemão.
O fracasso da tentativa de usar os suecos para derrubar os 
Habsburgo levou o Cardeal Richelieu a colocar a França 
diretamente na guerra. 
Período francês (1635-1648)
Em 1635, a França declarou guerra aos Habsburgo, iniciando o 
quarto e último período, chamado justamente de período francês.
O cardeal (católico) Richelieu, que chegou a apoiar protestantes 
para derrubar a dinastia Habsburgo, abriu guerra contra a 
Espanha, a Áustria e outros domínios dos Habsburgo dentro da 
Europa. Richelieu defendia que o Estado deveria pautar-se por 
parâmetros políticos, e não religiosos. Era partidário também 
do princípio da razão de Estado, fundamental nas relações 
internacionais da Europa moderna.
Com o apoio dos Países Baixos, da Suécia e das regiões 
protestantes alemãs, Richelieu chegou a mobilizar um exército 
de mais de cem mil homens. Além de aniquilar o poder dos 
Habsburgo, seu objetivo era consolidar a França como principal 
potência continental europeia.
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Unidade 1
Entre 1635 e 1644, os franceses e seus aliados impuseram uma 
séria de derrotas aos Habsburgo em todos os seus núcleos de 
poder na Europa, tornando sua posição insustentável. Já em 1645, 
representantes do Império de Fernando II da Germânia tentaram 
negociações de paz.
As hostilidades estenderam-se até 1648, quando o cerco sueco 
a Praga e francês a Munique, além da ameaça de ataque a 
Viena, levaram o imperador a capitular. Os termos de paz foram 
impostos pelos vencedores no chamado Tratado de Vestfália ou 
Paz de Vestfália, de 1648.
Entre as consequências, o tratado, que marcou o fim da guerra, deu 
independência aos Países Baixos (sob domínio espanhol) e marcou 
princípios de acordos entre os países, utilizados até pela diplomacia 
e pelo direito internacional. Também fortaleceu a importância do 
poder temporal (político, não religioso) nos Estados e a diminuição 
da presença de Igreja nas monarquias europeias.
Após esse período, pensadores iluministas patrocinados pela 
burguesia defendiam a menor interferência do Estado na vida 
privada, notadamente em suas atividades empresariais, emoldurando 
seu discurso numa tela de respeito a direitos individuais.
A Revolução inglesa transformou a sociedade na Europa, de 
rural para urbana, com grande concentração da população 
nas cidades, mais próximo das novas indústrias, que, após o 
surgimento do tear e da máquina a vapor, tornou-se o principal 
motor da economia naquele continente. Aparece, com grande 
prosperidade, a figura do empresário, do industrial dono degrande capital, detentor, portanto, de uma influência perceptível 
ao Estado, boa ou má. O fato é que surge a burguesia.
A exploração do trabalho da mulher e da criança bem 
como as longas e exaustivas jornadas de trabalho 
caracterizaram esse processo de transformação 
da economia e dos modos de produção. Surgia o 
proletariado, a classe trabalhadora.
A alta tributação dos reis, o desrespeito aos direitos 
fundamentais, como a vida, a liberdade, a propriedade, a família, 
bem como a ilimitada interferência do Estado absolutista nas 
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relações individuais, motivaram fundamentalmente a Revolução 
Francesa, pela qual restaram consagrados três princípios 
fundamentais; a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
A Revolução Francesa, juntamente com a Carta de Direitos 
na Inglaterra, que limitava o poder do rei em tributar, motivou 
outro movimento, cuja teoria teria aplicação universal: o 
constitucionalismo.
Criavam-se na Europa as teorias de divisão do poder 
estatal em executivo, legislativo e o judiciário, divisão 
consagrada por Montesquieu e adotada pela maioria 
dos Estados modernos, como o Brasil, Estados Unidos 
da América, França, Portugal, dentre vários outros.
Por essa teoria, para evitar os abusos decorrentes da concentração 
do poder na mão de uma só instituição, ou de uma só pessoa, o 
poder estatal deveria ser dividido em três grandes atribuições: 
 � a de criar leis para um poder, chamado de legislativo, 
 � a de julgar conforme essas leis para outro poder, 
denominado judiciário, e 
 � a de governar, atividade atribuída ao que se chamou de 
executivo.
Esses três poderes juntos formam o poder estatal, e, pela teoria 
de Montesquieu, haveria interferência de um poder no outro, 
com destaque para a finalidade de fiscalização do exercício dos 
demais poderes.
3.2 A tripartição do Poder e o Estado Democrático de Direito
Foi fundamentalmente em Montesquieu que a doutrina de 
divisão do poder em três atividades se consolidou, ao ponto de, 
nos Estados Democráticos, essa divisão ser comumente adotada.
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
O Brasil teve em 1824 sua primeira Carta Política, 
outorgada por D. Pedro I, adotando conceitos liberais 
do Velho Continente ao instituir por aqui a monarquia 
constitucional. Contudo, a estruturação dos poderes do 
Estado ao adicionar o Poder Moderador desequilibrava 
o jogo de forças, colocando nas mãos do Imperador 
a função de árbitro dos demais Poderes. Desse modo, 
prestigiava a Carta Política do período os preceitos 
elaborados por Benjamin Constant, mais consentâneos 
com as forças políticas aqui presentes.
Na Inglaterra dos séculos XII e XIII, o rei João Sem-Terra teve 
que ceder à pressão de cavaleiros, nobres e religiosos, limitando 
os tributos, fato que ficou marcado na história como a primeira 
Carta Política.
Vimos que a guerra dos 30 anos, selada no período conhecido 
como Paz da Vestfália, transformou o mapa da Europa e deu 
início à fase do Estado nação, das monarquias nacionais, 
inaugurando o que hoje se concebe por Estado Moderno e 
consolidando os princípios basilares do direito internacional.
Na França do século XVIII, aconteceu a Revolução Francesa, 
que defendia os direitos individuais, a liberdade, a igualdade e 
a derrubada da tirania dos monarcas em toda a Europa. Seus 
ideais iluministas alcançaram o novo continente antes mesmo 
da tomada da Bastilha — prisão parisiense que guardava presos 
políticos da época — com as treze Colônias promulgando sua 
Constituição, consagradora das liberdades, inovando através do 
presidencialismo, mantendo a divisão tripartite dos Poderes e 
determinando o respeito do Estado aos direitos individuais.
Na França, um triunvirato foi criado para governar no período de 
transição, porém as ações dos revolucionários não saíram como 
planejadas; tendo Napoleão Bonaparte assumido o consulado e 
o comando do exército, emerge na Europa um novo período de 
escaladas militares.
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Devastada, a Europa precisava ser reconstruída, e a Democracia 
conseguiu se consolidar em boa parte da Europa ocidental.
Influenciados pelo pensamento marxista, outras nações se 
fundamentaram no socialismo e no comunismo como forma de 
governo, e o período que seguiu a II Grande Guerra Mundial 
ficou conhecido como Guerra Fria, numa corrida armamentista 
e de propaganda de guerra que influenciou o cinema, a cultura, a 
política e a vida de todos no planeta.
O primeiro momento de Estado Democrático no Brasil foi a 
partir da proclamação da República, em 15 de novembro de 
1889, até o golpe militar de 1964, retornando a ser democrático a 
partir da Constituição de 1988 até hoje.
Veja que o processo de consolidação da divisão 
do poder em três esferas, o executivo, o legislativo 
e o judiciário, é um tema recente na história da 
humanidade, porém a Democracia como forma de 
governo já vem do Estado antigo, na Grécia e Roma.
Seção 4 - O Constitucionalismo
Foi nos Estados Unidos que o constitucionalismo encontrou 
supedâneo, uma vez que, a partir da Constituição estadunidense, 
se criaram os Estados Unidos da América.
Pela Constituição, seria possível criar-se um novo Estado, de 
acordo com princípios superiores, que se sustentam nos direitos 
individuais fundamentais e no pacto federativo, ou seja, pela 
união de vários estados-membros em torno de uma Federação.
A participação popular é o fundamento do Estado Democrático, 
o qual, por ter na ordem legal o seu fundamento, é um Estado 
de Direito, ou seja, o estabelecimento da ordem e da paz social 
ocorre pela força das leis, e não pela simples vontade de um 
monarca ou um ditador.
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Unidade 1
Entenda-se por constitucionalismo o movimento pelo qual se 
cria um novo Estado a partir de um único texto legal e político, 
chamado Constituição, que organiza a distribuição do poder 
estatal, bem como estabelece a transitoriedade no exercício desse 
poder e, ao mesmo tempo, confere garantias, ou seja, ferramentas 
legais para a exigência dos direitos individuais fundamentais. 
Leciona Jorge Miranda, na obra Manual de Direito 
Constitucional, que:
A origem formal do constitucionalismo está ligada às 
Constituições escritas e rígidas dos Estados Unidos 
da América, em 1787, após a Independência das 13 
Colônias, e da França, em 1791, a partir da Revolução 
Francesa, apresentando dois traços marcantes: 
organização do Estado e limitação do poder estatal, por 
meio da previsão de direitos e garantias fundamentais.
(MIRANDA).
E o que é o Estado Democrático de Direito?
Vimos que o Estado é a sociedade politicamente organizada em 
um determinado território e com governo soberano. Porém é 
possível haver um regime ditatorial em um determinado Estado 
que desrespeita direitos individuais fundamentais. Ainda assim, 
mesmo violando direitos do povo, o Estado existe. A participação 
popular, portanto, pode ser afastada, sem que, com isso, o Estado 
deixe de existir.
Para garantir que esse tipo de exceção não ocorra é que existe o 
Estado de Direito, de modo que somente através da lei o Estado 
se movimente e, quando o fizer, seu objetivo seja o bem comum, 
a paz social e o respeito aos direitos individuais fundamentais.
Importante destacar que houve, e ainda há na história da 
humanidade, governos que manipularam a ordem jurídica 
vigente e tomaram pela força as rédeas do poder estatal, tal como 
aconteceu no golpe militar de 01.04.1964, no Brasil, pelo qual 
o regime militar da época, valendo-se de atos institucionais, 
revogou direitos e atribuiu poderes cada vez mais amplos ao 
O(a) aluno(a) pode e 
deve procurar entender 
o real significado da 
palavra revolução, para 
opinar com clareza e 
fundamento sobre o golpe 
militar de 1964, pois o 
regime militar da época 
fundamentava suas ações 
na defesa da Constituição 
de 1946, porém, após 
uma série de modificações 
legais através dos 
atos institucionais aordem constitucional, 
esta Constituição foi 
totalmente subvertida, 
ao ponto de, em 1967, ser 
editada uma nova carta 
política.
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regime, ao ponto de ter sido revogado o habeas corpus, pelo ato 
institucional nº 5, período em que mais se prenderam e em que 
mais desapareceram pessoas neste país.
Entretanto, no Estado Democrático, isso não 
deve ocorrer, uma vez que o seu fundamento é a 
participação popular, seja diretamente através do 
voto, ou até mesmo como representante do povo, 
como mandatário.
A democracia teve seu berço na Grécia antiga e pressupõe a 
participação do homem na vida política do seu Estado, na época, 
a polis.
A grande maioria dos Estados ocidentais vive a democracia, 
ainda que, para muitos, não signifique um sistema perfeito. 
Democracia tem origem na palavra grega que significa o governo 
do povo, demo (povo), cracia (governo).
Portanto, no modelo de Estado Democrático, é 
indispensável a participação popular.
Entende-se por Estado de Direito aquele em que a lei determina 
o comportamento estatal e em que também, pela lei, são 
garantidos direitos aos indivíduos.
Assim, num Estado Democrático de Direito, é preciso 
haver a participação popular e, somente por meio das leis, se 
estabelecerem direitos e deveres, tanto para os indivíduos quanto 
para o Estado.
Anteriormente, vimos que a construção de um novo Estado pode 
acontecer e, modernamente, é o que ocorre através da edição de 
um texto político denominado Constituição.
A revogação de uma Constituição já existente ou a criação de 
uma inédita conduz, basicamente, ao mesmo resultado técnico: 
ser considerada a precursora de toda a nova ordem política e 
jurídica do Estado.
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
Daí nasce a fonte jurídica do Estado de Direito, pois é a 
Constituição o texto legal mais importante e superior de um 
Estado, razão pela qual deve buscar anotar a afirmação do novo 
Estado, dos direitos individuais fundamentais, organizar o 
poder, consagrar o regime democrático e buscar a justiça para 
todos, conforme a Constituição. Este seria, em tese, o Estado 
Constitucional de Direito. 
Síntese
Rapidamente, e para fixar os conteúdos desta unidade, 
reprisamos o conteúdo que abarcou o Estado a partir de teorias 
que explicam o seu possível surgimento, delineamos algumas 
situações pelas quais o Estado sofreu modificações significativas 
até o ponto em que ele se organizou pelo Direito e, através 
da participação popular, tomou um rumo democrático e que 
vem confirmando a tradição constitucionalista estadunidense 
de organização do poder estatal e de garantia dos direitos 
individuais fundamentais.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Atividades de autoavaliação
1) Explique a principal diferença entre o surgimento originário e derivado 
do Estado.
2) Como vimos nesta unidade, há vários modelos para se explicar o 
surgimento do Estado. Cite e explique no mínimo três destes modelos.
3) Liste os tipos de surgimento derivado do Estado.
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Instituições de Direito Público e Privado
Unidade 1
Saiba mais
 � Livros:
AZAMBUJA, Darcy. Teoria geral do estado. 26. ed. Rio de 
Janeiro: Globo, 1941.
BOBBIO, Norberto. Estado governo sociedade: para uma teoria 
geral da política. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do 
estado. São Paulo: Saraiva, 2003.
GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao 
avesso. Trad. Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999.
MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 2. ed. São Paulo: 
Saraiva, 1990.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 12. ed. São 
Paulo: Atlas, 2002.
PALLIERI, Giorgio Balladore. A doutrina do estado. Coimbra: 
Coimbra, 1969.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Os devaneios do caminhante 
solitário. Trad. Julia da Rosa Simões. Porto Alegre: L&PM, 2008.
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e 
direitos fundamentais na Consituição Federal de 1988. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2001, 152p.
SCHMITT, Carl. The concept of political. Trad. George 
Schwab. Chicago: Chicago University Press, 2007.
 � Filmes:
A Guerra do Fogo (La Guerre du feu, 81, FRA/CAN)
Getúlio Vargas (1974)
Lamarca (1994)
Pra frente Brasil (1983)
O que é isso, companheiro?

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