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1UNIDADE 1O EstadoRaphael Lima de Abreu (Agradecimento à colaboração de Myriam Righetto) Objetivos de aprendizagem � Conhecer o conceito de Estado, suas finalidades e as teorias sobre o seu surgimento. � Entender a evolução do modelo antigo até a atual concepção de Estado Democrático e de Direito. � Compreender a atual relação entre o Estado Democrático de Direito e os indivíduos. Seções de estudo Seção 1 O Estado, conceito e finalidade Seção 2 Teorias do surgimento originário e derivado do Estado Seção 3 A consolidação do Estado Moderno Seção 4 O Constitucionalismo 18 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade, estudaremos o Estado. Na busca pela justiça, dar a cada um o que é seu, o homem adotou as regras, normas, leis e constituições como forma de atender a este interesse individual. O Direito, portanto, pode ser entendido como resultado natural do convívio humano, de se viver em grupo, e, muitas vezes, por questões de sobrevivência, existindo, antes mesmo que o Estado, como, por exemplo, nas aldeias e clãs primitivos. Em tempos primórdios da humanidade, clãs e aldeias detinham certa organização e, em decorrência, o poder, sobrepujando seus membros notadamente pela força e, mesmo, punindo-os. Podiam banir alguém do convívio do grupo por exemplo, o que, em muitos casos, significava uma sentença de morte, pois a vida na Terra já se apresentou muito difícil para o homem. Quando o homem conhecido como Moisés conduziu o povo israelita à Terra Prometida, detinha real liderança, fundamentada na fé de seus membros, e isto lhe conferia poder para dizer, em nome de Deus, quais caminhos o grupo seguiria até chegar lá. Outras formas de exercer o poder do grupo surgiram ao longo da história, ao ponto de os Parlamentos se anteciparem ao surgimento do Estado. Os conselhos de anciãos, de nobres, de religiosos e daqueles que, de alguma maneira, podiam interferir no exercício do poder de criar regras exerciam o Poder do grupo: suas decisões tornavam-se, deste modo, regras. E é assim que, comprovadamente, antes do surgimento do Estado, já havia o Direito. Pelo Direito, as sociedades, as famílias reunidas ou um determinado povo em um dado território acabaram criando ou reconhecendo a necessidade de haver um ente que exercesse o poder do grupo, capaz de distribuir justiça para todos de maneira democrática. Vale dizer: os integrantes do grupo podem participar do exercício e do controle deste Poder. Como exemplo, destaca-se o fato de que uma das funções dos Parlamentares é a de fiscalizar o uso do Poder, evitando abusos. Essa é a prova 19 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 de que o sistema democrático permite o exercício do Poder de governar os demais, conforme o interesse do povo, dos indivíduos que o compõem. Fustel de Coulanges destaca que o que movimenta os indivíduos são os interesses, e, segundo Sahid Maluf, “são eles que fazem as instituições e que decidem sobre a maneira pela qual uma comunidade se organiza politicamente”. As instituições ajudam a formar um Estado sólido, justamente por força da participação popular, da igualdade, e é através dela que os interesses individuais e coletivos, conforme o autor esclareceu, criam e decidem os rumos de instituições. Ou seja: o Poder do Estado emana do povo, sempre foi assim, embora muitas vezes tal fosse desvirtuado ou mal utilizado. De qualquer maneira, a força principal é o elemento humano, uma vez que não há Estado sem povo. No Brasil de hoje, o reconhecimento da origem do poder do Estado está na Constituição Federal de 1988. Após passar por um regime militar que cerceou direitos e garantias individuais, na contramão da democracia, o país positivou em sua lei mais importante e de maior hierarquia que o poder emana do povo e em seu nome será exercido. O modelo estatal pode ter evoluído a partir do agrupamento de famílias e clãs, por força da fé, isto que é explicado mais pela metafísica, ou, simplesmente, evoluído como a história, em níveis diferentes em determinados territórios, mas, em comum, na busca desse modelo capaz de distribuir justiça para todos, ao menos como um ideal, como é o conceito de Estado. Karl Schmidt diz que “o conceito de Estado não é um conceito geral válido para todos os tempos, mas é um conceito histórico concreto, que surge quando nascem a ideia e a prática da soberania, o que só ocorreu no século XVII”. Defendendo que o Estado só existiu após a reunião de certas características presentes nas sociedades políticas está Giorgio Balladore Pallieri, que indica precisamente o ano em que o Estado nasceu e aduz que “a data oficial em que o mundo ocidental se apresenta organizado em Estados é a de 1648, ano em que foi assinada a paz de Westfália”. A paz de Westfália, que o autor indica como o momento culminante na criação do Estado, e que muitos outros consideram o ponto de separação entre o Estado Medieval e o Estado Moderno, foi consubstanciada em dois tratados, assinados nas cidades westfalianas de Munster e Onsbruck. Pelos tratados de Westfália, assinados em 1648, foram fixados os limites territoriais resultantes das guerras religiosas, principalmente da Guerra dos Trinta Anos, movida pela França e seus aliados contra a Alemanha. A França, governada então pelo Rei Luiz XIV, consolidou por aqueles tratados inúmeras aquisições territoriais, inclusive a Alsácia. A Alemanha, territorialmente prejudicada, beneficiou- se, entretanto, como todos os demais Estados, pelo reconhecimento de limites dentro dos quais teria poder soberano. 20 Universidade do Sul de Santa Catarina Atualmente, o Estado é uma realidade inegável e consolidada, razão pela qual é preciso conhecê-lo e estudá-lo, aperfeiçoando-o para que ele proporcione o crescente desenvolvimento do seu povo. As teorias que explicam seu surgimento podem ser classificadas em formação originária e derivada. Seção 1 - O Estado, conceito e finalidade O Estado moderno pode ser entendido como a sociedade jurídica ou politicamente organizada. Daí decorre, por lógico, que, antes do surgimento do Estado, o ser humano precisou aprender a viver em coletividade, interagindo conforme as necessidades e interesses e organizando-se socialmente. O desenvolvimento do homem deu-se de diversas formas, com destaque para o período que segue as primeiras grandes descobertas, tais como a manipulação e a produção do fogo, as armas de caça, a agricultura, as estratégias de caça em grupo, a orientação para navegação, entre outras muitas, algumas descritas na obra “O Macaco Nu” (2003), de Desmond Morris, e pelo historiador Jaime Pinsky, com “As primeiras civilizações”. Tudo isso demonstra como o ser humano vem evoluindo rapidamente, e que a organização social tem primordial influência nisso. O Estado encontra nas suas origens, com todos os seus elementos, muitas semelhanças com os passos seguidos pelo homem na organização social. A sociedade pode ter-se organizado segundo duas teorias: a primeira considera isto um fato natural, ou seja, consequência espontânea do convívio; já a segunda teoria aposta num acordo de vontades como fator determinante para a organização social. Como fato natural, o surgimento do Estado ter-se-á dado em decorrência da evolução histórica, em razão da evolução natural das famílias. Ou, não excludentemente, como resultante da violência (governo dos vencedores sobre os vencidos). Também 21 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 poderia ter-se originado nos meandros da economia. Ainda: seria fruto de um acordo de vontades (esta corrente defende o contrato social como precursor do Estado). Essas teorias de surgimento do Estado são também divididas em modo originário e derivado. Os modos originários são os classificados como de ordem natural de surgimento. Os modos de origem derivada são classificados como fruto de um acordo de vontades. Como exemploda origem derivada, pode-se apontar o surgimento de um novo Estado pelo seu fracionamento ou pela união de um com outro ou mais Estados, como a extinta União Soviética. Essa classificação ajuda a compreender o modelo do Estado que se estuda, partindo-se da análise do seu surgimento, a finalidade com que ele foi criado e as bases em que ele se fundamenta. Veja, então, prezado(a) aluno(a), que, antes mesmo da organização política da sociedade, o ser humano primeiro organizou o seu convívio e deu solução, pelo Direito, para a problemática dos conflitos inerentes às relações sociais. Daí decorre, logicamente e cronologicamente, que o Estado surge depois da sociedade e depois do Direito. O Direito tornou-se, ao longo da história, a forma de solucionar os conflitos de interesses entre os particulares, e de resolver o problema do abuso do poder. No Estado de Direito, a lei é a forma pela qual o Estado se organiza politicamente. Caso se trate de um Estado Democrático, há participação popular no governo e na distribuição do poder estatal. De outro modo, trata-se de um Estado Democrático de Direito, a lei garante a participação popular no exercício do poder e, ao mesmo tempo, organiza e limita este mesmo poder. 22 Universidade do Sul de Santa Catarina Tradicionalmente, os direitos dos indivíduos são amparados pelo Direito, uma vez que, como veremos, surgiu ou foi descoberto pelo homem para ajudar na ordem social e proporcionar a justiça, funcionando como instrumento de pacificação social, pois o homem não vive sozinho, seja por razões da sua natureza e condição humana, seja por impulso de interesses ou vontades. A doutrina identifica ao menos três elementos essenciais do Estado: � povo, � território, e � soberania. O estudo da soberania é um dos temas mais polêmicos, seja no âmbito interno do Estado, seja em relação a outros Estados internacionais. O atual modelo de Estado brasileiro contém esses três elementos. A população pode ser nacional, como no Brasil, ou plurinacional, como na Grã-Bretanha. Quanto ao seu território, ele pode ser central, sem contato com o mar, ou marítimo. O governo soberano, por seu turno, representa a autonomia política do Estado para sua população e para outros Estados. O governo é, pois, o mandatário do Poder de exercer a soberania, outorgada pelo seu povo e por isso exercida conforme seu interesse. Entenda-se por soberania o poder do Estado de autodeterminação perante outros Estados e de ditar regras e aplicar sanção no contexto das relações sociais. O(a) aluno(a) deve perceber que o indivíduo e seus interesses são a fonte e a razão do atual poder estatal, e que assim o foi desde o seu surgimento. Alerta-se, porém, que nem sempre o Estado serviu para atender os interesses do seu povo, mas de indivíduos ou pequenos grupos, como nos Estados totalitários e nos absolutos. 23 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 O conceito de Estado de Jellinek, adotado por Paulo Bonavides, aponta que o Estado “é a corporação de um povo, assentada num determinado território e dotada de um poder originário de mando”. Por esse conceito, comprova-se como é necessária a existência de indivíduos para a formação de um Estado e como é necessário que eles trabalhem em cooperação, ou seja, participem do surgimento e da organização do Estado. O povo é, portanto, elemento essencial para a formação de um Estado, bem como é de grande importância a participação popular. A participação popular pode-se dar, por exemplo, através do voto e da participação em audiências e consultas públicas, bem como diretamente, para organizar e assumir as funções desse Estado, seja como mandatário ou como funcionário público. Ao final do conceito, Bonavides apresenta o elemento poder originário de mando. Eis aquele que, nesse primeiro momento de estudo mais nos interessa, pois a forma pela qual o homem atribuiu o Poder Estatal ajuda a entender a origem e a justificativa do surgimento do Estado. Norberto Bobbio, na obra “Estado, Governo, Sociedade – Para uma teoria geral da política”, disse que a palavra Estado firmou-se e difundiu-se em virtude da influência da obra de Maquiavel, “O Príncipe”, que utilizou o termo com as seguintes palavras: “Todos os estados, todos os domínios que imperaram e imperam sobre os homens, foram e são repúblicas ou principados”. Porém, sempre conforme Bobbio, isso não significa necessariamente que a palavra Estado tenha sido introduzida por Maquiavel. Ainda, segundo Bobbio, no ano de quatrocentos (século XV) e quinhentos (século XVI), o termo “status”, que significava situação, já havia sido utilizado no sentido moderno de Estado, ou seja, como sinônimo de máxima organização de um grupo de indivíduos sobre um território, em virtude de um poder de comando. Sendo assim, Maquiavel apenas aplicou em sua teoria uma expressão conhecida, isso porque, nos séculos XV e XVI, havia a civitas, a polis e a res publica, que os romanos designavam como o conjunto das instituições políticas de Roma. A expressão civitas correspondia à cidadania do romano, ou seja, o direito e o dever que o cidadão tinha de participar da vida política, uma vez que ele está inserido na polis, ou seja, na cidade que representava o início da organização estatal moderna, e que a soma desses elementos ajuda a compor a coisa pública, a res publica, conjunto de instituições que interessam ao grupo social e político. 24 Universidade do Sul de Santa Catarina Não só Maquiavel, como também outros autores da época, que estudaram o Estado e escreveram sobre ele, utilizaram-se de um conceito já conhecido na época. O(a) aluno(a) deve considerar que, desde a Grécia antiga, com Platão, até os dias de hoje, o conceito de Estado é objeto de estudo e discussão. Também é verdade que o Estado tem a característica de transformar-se constantemente, delineando-se aos interesses individuais. Pode-se concluir, a partir dessas duas premissas, que o conceito de Estado acompanhe essas transformações, mas sempre considerando sua existência como algo também verdadeiro, ou existente de fato numa sociedade. A participação popular na formação e transformação do Estado tem suas peculiaridades, visto que, na democracia grega, a participação popular limitava-se ao cidadão e, além disso, havia escravos e as mulheres tinham sua participação política limitada. Na Roma antiga também havia diferenciação entre os indivíduos que poderiam participar da política. Se considerarmos que um grupo social organizado politicamente através de um poder de mando é um Estado, é possível imaginar um Estado primitivo formado pela união de grupos vencedores e vencidos, pelo qual a perspectiva dos sujeitos que o formam é bem diferente da que possuíam os que viveram em Atenas, na Grécia antiga, berço da democracia. O conceito de Estado deve ser entendido conforme sua época, segundo lembrava Karl Schmidt, pois, na história da humanidade, existiu o Estado absoluto, o Estado liberal, comunista, socialista, nazista. Há o Estado Democrático de Direito, o Estado Ditatorial e um possível Estado Constitucional. A clareza no surgimento e na consolidação do Estado é tarefa árdua, motivo pelo qual Bobbio ressalta: “Daí a fortuna do termo ‘Estado’, que, através de modificações ainda não bem esclarecidas, passou de um significado genérico de situação para um significado específico de condição de posse permanente e exclusiva de um território e de comando sobre os seus respectivos habitantes”. 25 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 Seção 2 - Teorias do Surgimento Originário e Derivado do Estado Como dissemos anteriormente, indivíduos reunidos em torno de interesses específicos conferiram o poder do grupo a uma entidade fictícia, a qual só existia na sua inteligência e no consenso obtido, mas que era exigível pelo direito eleito pelo coletivo, pelo interesse comum a todos. Mas, quando foi, provavelmente,que surgiu a primeira forma de Estado? Pode parecer difícil imaginar que, nos primórdios da humanidade, quando a linguagem era limitada, o homem primata debatesse sobre como organizar o Poder e o seu uso, mas, a partir do convívio de duas ou mais pessoas, o direito pode surgir e, a partir daí, criam-se regras para o melhor convívio daqueles que se submetem a elas. Dizemos que há a possibilidade de nascer o Direito, pois, em um grupamento de homens em que a única forma de solução de conflito é a violência, se não há o Direito, mas há a autotutela, ou seja, aquele que é mais forte sobrepuja o mais fraco e toma o bem da vida para si, tenha ele direito de tê-lo, ou não. A aceitação das leis de um determinado lugar ajuda a visualizar a possibilidade de debates entre grupos de chefes de clãs, ou de religiosos, ou de grupamentos de homens que rapidamente evoluíram. Após a chamada revolução neolítica, quando melhorou sua técnica de construção de armas, o homem tornou-se agricultor e deixou de ser nômade, fixando-se à terra sempre mais. Com isso, os contornos do Estado tornaram-se mais evidentes, principalmente a questão do território. Entretanto não só de terra se faz um Estado: é preciso também o povo organizado em torno de um governo soberano. 26 Universidade do Sul de Santa Catarina Não há consenso doutrinário sobre uma única teoria que explique de maneira completa e inequívoca o surgimento do Estado. Apresentaremos alguns modelos mais recorrentes na doutrina, um sobre a formação originária (teoria da origem familial, contratual, econômica, violenta; e a origem no desenvolvimento interno da sociedade), bem como dois modelos de origem derivada do Estado (fracionamento e união de Estados). Uma certeza você pode ter: a razão pela qual existe o Estado é o indivíduo, muito embora ele já tenha se sustentado pela fé e religião, ou pelo uso da força, ou se submetido à vontade de reis déspotas e tiranos. Porém, no processo democrático moderno, não mais se aceita esse tipo de inversão de interesses, onde o Estado existe por outra razão diferente daquela fundamental, a de atender os interesses individuais. Dizemos surgimento originário por ser o primeiro, pois, antes dele, não haveria qualquer tipo de organização social e política que se assemelhasse ao Estado, você já sabe. São ambas as teorias, formação natural e formação contratual, surgimentos originários, cuja principal diferença reside na causa da formação, pois, na primeira hipótese, não há um conjunto de atos voluntários para a criação do Estado, enquanto que, na segunda hipótese, o acordo de vontades de alguns homens determinaria esse surgimento. Em relação à formação natural do Estado, pode ter tido origem histórica, familial ou violenta, enquanto que a formação do Estado contratual pode ter tido origem no contrato social ou de origem econômica. Para a teoria da formação natural, uma das hipóteses aponta que a família, célula da sociedade, foi a precursora do Estado, em alguns casos a partir da reunião de várias famílias, ora pelo crescimento de uma única família, a qual, acumulando grande patrimônio, acaba por organizar o poder. Leciona Darcy Azambuja: 27 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 As mais antigas teorias sobre a origem do Estado vêem nele o desenvolvimento e a ampliação da família. Baseiam-se essas teorias, hoje adotadas por poucos autores, nas tradições e mitos de civilizações antiqüíssimas. Mas, há um evidente equivoco em identificar a origem da humanidade com a origem do Estado. (AZAMBUJA, 1941). É certo que a ampliação e organização das famílias, em determinado lugar na Terra, deu origem a um modelo primitivo de Estado. Entretanto, conforme leciona Azambuja, esta hipótese não deve ter-se confirmado de modo universal, ocorrendo somente em regiões isoladas do planeta. Para demonstrar por que a hipótese de surgimento do Estado pela família acabou sendo uma das menos aceitas, esclarece Azambuja: Sociedade humana e sociedade política não são termos sinônimos. Exatamente quando o homem, pela maioridade, se emancipa da família, é que, de modo consciente e efetivo, passa a intervir na sociedade política. Esta tem fins mais amplos do que a família, e, nos Estados modernos, a autoridade política não tem sequer analogia com a autoridade do chefe de família. O Estado, além disso, é sempre a reunião de inúmeras famílias. Os novos Estados que se têm constituído em períodos recentes, como os Estados americanos, não foram o desenvolvimento de uma só família, mas de muitas. Segue a mesma linha de raciocínio e com mesmo fundamento a teoria de surgimento do Estado pela origem patriarcal e matriarcal. Diz respeito, pois, à teoria meramente conjetural, sem confirmação histórica, muito embora haja quem sustente a existência de um modelo primário de Estado nas lideranças tribais e religiosas antes do ano zero, ou seja, antes de Cristo. Destaca-se, porém, que, na Antiguidade, as razões religiosas davam razão e fundamento para a existência do Estado, legitimando o poder do governante, como por exemplo, do Faraó no Egito antigo. 28 Universidade do Sul de Santa Catarina Outra causa que pode ter determinado o surgimento do Estado foi a violência, ou atos de força ou de conquista. Não é difícil imaginar que, nos primórdios da civilização, o uso da força não encontrava limites e que ela era frequentemente utilizada para a solução de conflitos. Pela teoria da causa violenta de surgimento do Estado, com algumas variações na doutrina, temos que os povos mais fortes venciam ou sobrepujavam outro povoado ou grupo mais fraco, resultando numa conjunção de dominantes e dominados, a qual originou o Estado. De fato, há uma teoria de surgimento do Estado que o explica dessa maneira, ou seja, da necessidade de organizar a conjunção de grupos sociais de maior força que, por tal razão, venciam e conquistavam grupos sociais mais fracos. Dalmo de Abreu Dallari assim descreve essa teoria: “Com pequenas variantes, essas teorias sustentam, em síntese, que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco, nascendo o Estado dessa conjunção de dominantes e dominados”. Dentre os defensores dessa teoria, figura Franz Oppenheimer, que afirma que o Estado foi criado para regular as relações entre vencedores e vencidos e acrescenta que essa dominação teve por finalidade a exploração econômica do grupo vencido pelo vencedor. Teoria muito semelhante é a de Ludwig Gumplowicz. As teorias que consideram o Estado como nascido da violência e da força são quase contemporâneas das teorias contratuais. Bodin, jurista filósofo, por exemplo, admitia que “o Estado ou nasce da convenção ou da violência dos mais fortes”. Mas, sem dúvida, é no pensamento político contemporâneo que as doutrinas da origem violenta do Estado adquiriram foros de verdades científicas. Quase todos os sociólogos, inspirados nas ideias de Darwin, veem na sociedade política o produto da luta pela vida; nos governantes, a sobrevivência dos mais aptos; na estrutura jurídica dos Estados, a organização da concorrência. Entenda-se por conflito toda disputa entre indivíduos por um mesmo bem da vida, seja ele um alimento, um abrigo ou o resultado de uma caça. 29 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 O darwinismo político seria a expressão científica do maquiavelismo, pois, insensivelmente, inclui no conceito de força não só violência, mas também a astúcia. Gumplowicz diz que “O Estado é um fenômeno social, produto de ações naturais, de que a primeira é ‘a subjugação de um grupo social por outro grupo e o estabe1ecimento, pe1o primeiro, de uma organização que lhe permite dominar o outro’”. Oppenheimer quase que reproduz as palavras de Gumplowicz, quando diz: O Estado é, inteiramente quanto a sua origem e quase inteiramente quanto a sua natureza durante os primeiros vestígios de existência, uma organizaçãosocial imposta por um grupo vencedor a um grupo vencido, organização cujo único objetivo é regular a dominação do primeiro sobre o segundo, defendendo sua autoridade contra as revoltas internas e os ataques externos. [...] E esta dominação não teve jamais outro fim senão o da exploração econômica do vencido pelo vencedor. Nenhum Estado primitivo, em toda a história universal, teve origem diversa. Lester Ward expressa as mesmas teorias, afirmando que [...] o Estado nasce com a conquista de um grupo pelo outro e com o progresso que constitui a escravização e não mais a destruição do vencido pelo vencedor. Organiza-se assim a ordem política, fruto dos interesses econômicos do vencedor e de resignação do vencido. Cornejo apresenta os mesmos argumentos e os resume nesta frase sugestiva: “A sobrevivência ideal do companheiro dá origem ao mito; a sobrevivência real do inimigo dá origem à organização política.” Destaca-se que a primeira forma de solucionar conflitos decorrentes do convívio social foi a força, e isso foi classificado pela doutrina do Direito como autotutela. 30 Universidade do Sul de Santa Catarina Ainda há nas leis brasileiras algumas hipóteses de autotutela, como a legítima defesa. Entretanto é cediço que este modelo de solução de conflitos desfavorece o mais fraco, o qual, mesmo detentor do direito de ter algo, é desrespeitado por não conseguir, sozinho, sobrepujar a violência que sofre. Para evitar esse tipo de injustiça e evitar a barbárie foi que se configurou a necessidade de um ente com força de exigir o respeito aos direitos dos indivíduos. Isto foi resolvido através da jurisdição, que é o poder e o dever do Estado de resolver os conflitos, proporcionando paz social. Já, quanto ao modo originário de formação histórica do Estado, este se confunde com a própria evolução social, uma vez que, à medida que a sociedade se organiza politicamente em um determinado território sob o governo de um ou de poucos, submetendo todos os demais ao poder desse grupo, a presença do Estado se manifesta, segundo a teoria da origem natural. Acontece que essa organização política ocorreu em diversos momentos diferentes na história e, em determinadas épocas, sua força foi relativizada. Os Faraós egípcios, por exemplo, dominavam o Egito antigo, ou seja, havia uma fonte de comando e de ordem, pela qual os demais deveriam submeter-se. Já, na Idade Média, período em que havia o feudalismo como fundamento econômico e social, o poder do rei era relativizado, na medida em que os senhores feudais possuíam poder de mando e de punição sobre as pessoas que viviam sob o seu domínio. Com isso, demonstra-se que a formação histórica do Estado não é linear, pois, na época do feudalismo, por exemplo, o poder estatal estava limitado pelo poder da propriedade privada. Há na doutrina uma espécie de classificação denominada de evolução histórica do Estado, a qual considera os modos originários anteriormente descritos como o conteúdo dessa teoria, bem como os modos derivados, como a união de dois Estados ou o fracionamento de um em dois ou mais. O filósofo Platão, em “Diálogos”, no Livro II de “A República”, esclarece que: Poder atribuído a uma autoridade para aplicar a lei nos casos concretos, aos litígios, e punir quem as infrinja em determinada área; área territorial dentro da qual se exerce esse poder; Vara; Alçada, competência. Atividade do Poder Judiciário ou de órgão que a exerce. Refere-se também à área geográfica abrangida por esse órgão. Fonte: <http://www.centraljuridica. com/dicionario/g/1/l/j/dicionario_ juridico/dicionario_juridico.html>. Acesso em 03 fev. 2011. 31 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 Um Estado nasce das necessidades dos homens; ninguém basta em si mesmo, mas todos nós precisamos de muitas coisas [...] como temos muitas necessidades e fazem-se mister numerosas pessoas para supri-las, cada um vai recorrendo à ajuda deste para tal fim e daquele para tal outro, e quando esses associados e auxiliares se reúnem todos numa só habitação, o conjunto dos habitantes recebe o nome de cidade ou Estado. A partir deste pensamento, Dalmo de Abreu Dallari busca demonstrar que a divisão do trabalho, integrada pelas diversas atividades profissionais, justificaria o motivo econômico do Estado. Dallari destaca que, dentre as teorias que sustentam a origem do Estado por motivos econômicos, a de maior repercussão foi a de Marx e Engels. Eles escreveram a obra “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, na qual, além de negar que o Estado tenha nascido com a sociedade, Engels afirma que “ele é antes um produto da sociedade, quando ela chega a determinado grau de desenvolvimento”. No capítulo do livro de Marx e Engels dedicado à gens grega, após tratar da deterioração do anterior harmônico convívio social em razão da acumulação e diferenciação de riquezas entre os indivíduos e dos males a ela consequentes, lê-se que: Faltava apenas uma coisa: uma instituição que não só assegurasse as novas riquezas individuais contra as tradições comunistas da constituição gentílica; que não só consagrasse a propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fizesse dessa consagração santificadora o objetivo mais elevado da comunidade humana, mas também imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade às novas formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras – a acumulação, portanto, cada vez mais acelerada das riquezas: uma instituição que, em uma palavra, não só perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar a não-possuidora e o domínio da primeira sobre a segunda. E essa instituição nasceu. Inventou-se o Estado. (MARX;ENGELS). 32 Universidade do Sul de Santa Catarina Dois aspectos se destacam dessa teoria. O primeiro é que, por ela, o Estado foi criado como instrumento manejado pela burguesia para a exploração do proletariado; e a segunda, que o Estado pode ser extinto a qualquer tempo, uma vez que seria uma criação artificial para atender o interesse de uma minoria. Até o momento, você pôde perceber que os modos originários de surgimento do Estado tanto podem ser decorrência natural do convívio humano, como pode também ter sido fruto da criação do homem. Neste diapasão, portanto, apresentamos outra teoria de surgimento do Estado, qual seja, a da origem contratual. Que o Estado surgiu do convívio social, isso pouco se questiona. O fundamento da origem contratual do Estado leva em consideração que o homem, livremente, intencionou a criação de um ente fictício o qual receberia o encargo de mandatário do poder do grupo. Sabe-se que a manifestação da vontade é um elemento essencial nos contratos, pelo que se pode deduzir que o contrato social, que pode ter criado o Estado, teria sido o resultado da manifestação da vontade do povo, o qual, por várias razões, decidiu pela outorga do exercício do Poder oriundo do grupo social, a uma pessoa, ou a um conselho delas. Esta teoria não é nova. Aristóteles e Epicuro, dentre outros filósofos da Escolástica, notadamente Santo Tomás, entendiam que a sociedade política se originou de uma convenção entre os membros da sociedade humana. Entenda nessa hipótese a sociedade política como o conceito de Estado. A teoria da origem contratual do Estado encontra força na obra de Hobbes, Spinosa, Grotius, Puffendorf, Tomasius, Locke e Rousseau. Com estes autores, o contrato social ganha primordial relevância. Hobbes afirmava que [...] ante a tremenda e sangrenta anarquia do estado de natureza, os homens tiveram que abdicar em proveito de um homem ou de uma assembléia os seus direitos 33 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 ilimitados, fundando assim o Estado, o Leviatã, o deus mortal, que os submete à onipotência da tirania que eles próprios criaram. Para Spinosa, “os homens se viram forçados a pôr termoao estado de natureza mediante um contrato, com que criaram o Estado, abdicando nele todos os direitos, menos o de pensar, de falar e de escrever”. Em Grotius “os homens, levados pela simpatia recíproca, associaram-se por um pacto voluntário”. Puffendod pensa que “o motivo do contrato foi o receio dos homens maus, por parte dos homens bons”. Locke, por seu turno, baseia o contrato, e portanto o Estado, no consentimento de todos, que desejavam criar um órgão para fazer justiça e manter a paz. Tomasius adota os mesmos pontos de vista, mas acha que a causa do contrato é o amor nacional. Ocorre que, para a teoria de Rousseau, o contrato social deveria ser geral, unânime e fundado na igualdade entre os homens, e essa igualdade nunca é plenamente alcançada. Outro aspecto a ser considerado é o fato de que, se o Estado nada mais é do que um contrato social, seria possível a qualquer um sair desse contrato, o que sem dúvidas resultaria numa crise social ou até mesmo na volta da anarquia. Para Rousseau, o problema da sua teoria era: “Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado e pela qual cada um, unindo-se a todos, não obedeça no entanto senão a si mesmo e permaneça tão livre como antes”. As releituras da teoria do contrato social como origem do Estado terminam por revolver os mesmos argumentos do filósofo de Genebra, que, por seu turno, ainda não resolveram as críticas que essa teoria ainda recebe e que permanecem sem solução. 34 Universidade do Sul de Santa Catarina A teoria marxista trouxe também sua contribuição para as teses sobre a origem do Estado. Aquela teoria é formada pelo que Marx disse, pelo que disseram que ele disse, e foi muito, e pelo que muitos socialistas acharam que ele deveria ter dito, e foi muito mais. Por isso mesmo, pouco antes de morrer, Marx teria dito a famosa frase: “Eu não sou marxista...” A economia como fator determinante do aparecimento do Estado foi tema abordado por Engels, companheiro de Marx, que, na obra Origens da Família, da Propriedade privada e do Estado, afirmou: Como o Estado surgiu da necessidade de pôr fim à luta de classes, mas surgiu também no meio da luta de classes, normalmente o Estado e a classe dominante economicamente mais poderosa, que, por seu intermédio, se converte também em classe politicamente mais forte, adquire novos meios para submeter e explorar a classe oprimida. No tocante aos modos derivados de formação do Estado, a doutrina classificou a união de dois ou mais Estados como uma hipótese possível, como ocorreu com a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a extinta URSS, e pela cisão de um Estado e formação de outro, como ocorreu com a República Oriental do Uruguai, que, até o século XIX, integrava o território brasileiro. É importante lembrar que os blocos econômicos, como a União Europeia, não formam um Estado na concepção atual, por não possuírem um governo central, mas tão somente um conjunto de tratados internacionais pelos quais os Estados signatários se obrigam, podendo, entretanto, sair dele, com fundamento na sua soberania e poder de autodeterminação. 35 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 Seção 3 - A Consolidação do Estado Moderno Para entendermos como a forma moderna de Estado consolidou-se, é preciso estudar as transformações ocorridas desde o Estado medieval até o movimento constitucionalista, com destaque para a criação do Estado norte-americano e a Revolução Francesa. 3.1 Do Estado absolutista ao liberal O marco do início da Idade Média foi a queda do Império romano do Ocidente, sediado em Roma, no século V. Após sucessivas crises econômicas, em muito motivadas pela falta de escravos, bem como por causa do declínio de seu prestígio político, devido a seu enfraquecimento militar e invasões de povos bárbaros aos seus domínios, o antigo Império Romano foi vencido. Os povos germanos (do Norte da Europa), os hunos (da Ásia), os vândalos (da África) além de húngaros e vikings (da Europa oriental) atacaram diversos pontos dos domínios romanos e, no ano de 476, Odoacro, rei de um desses povos invasores, derrubou o imperador de Roma. Desde então, os diversos povos antes conquistados por Roma passaram a se organizar em reinos, condados e povoados isolados, para se protegerem dos ataques dos estrangeiros. Esse isolamento alcançou a economia, transformando o modo de produção no que os historiadores batizaram de feudalismo, principalmente motivados pela subsistência e proteção, notadamente da população mais pobre, que vivia de trabalhos no campo. Poder, naquela época, significava a posse de armas e o comando de soldados. O estabelecimento dessa proteção dos mais poderosos aos pobres, em troca da lealdade, foi adotado pelos povos germanos, os quais passaram a dominar grande parte do extinto Império Romano do Ocidente. Com o passar dos séculos, os camponeses foram tornando-se cada vez mais dependentes desses senhores. Assim, os trabalhadores do campo, além de entregarem os produtos que 36 Universidade do Sul de Santa Catarina cultivavam aos seus protetores, passaram a dar-lhes suas terras e oferecerem seus serviços para outras atividades. Com isso, grande parte dos camponeses se tornou servo. Esse modelo perdurou durante séculos e marcou a Idade Média, que foi transformada, após a guerra dos trinta anos, marco da transição da Idade Média para a Moderna. O século XVI teve como uma de suas manifestações mais profundas o processo de reformas religiosas, responsável por quebrar o monopólio exercido pela Igreja Católica na Europa e pelo advento de uma série de novas religiões as quais, embora cristãs, fugiam aos dogmas e ao poder imposto por Roma: as chamadas religiões protestantes. Mais do que apenas um movimento religioso, as reformas protestantes inseriram-se no contexto mais amplo, que marcou a Europa a partir da Baixa Idade Média, expressando a superação da estrutura feudal tanto em termos da fé como também em seus aspectos sociais e políticos. Da mesma forma, não se pode considerar as reformas religiosas como um processo que se iniciou no século XVI. Ao contrário, elas representaram o transbordamento de uma crise que já vinha manifestando-se na Europa desde o início da Baixa Idade Média, fruto da inadequação da Igreja à nova realidade, marcada pelo declínio do mundo feudal, pelo crescimento do comércio e da vida urbana, pela centralização do poder político nas mãos dos reis e pelo advento de uma nova camada social, a burguesia. Também não se pode deixar de lado a influência do Renascimento Cultural, no sentido de ter rompido o monopólio cultural exercido pela Igreja Católica na Idade Média. O Renascimento teve o efeito de possibilitar a aceitação de conceitos e de visões de mundo diferentes daqueles impostos pela Igreja Católica, ao quebrar o quase monopólio intelectual que a Igreja exercia na Idade Média. 37 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 Num certo aspecto, as Reformas Protestantes são filhas do Renascimento, e representaram, como este, uma adequação de valores e de concepções espirituais às transformações pelas quais a Europa passava -- nos campos econômico, social e cultural. Para contra-atacar esses movimentos contrários aos seus interesses, a igreja católica promoveu a contrarreforma, culminando na Guerra dos 30 anos. Entre 1618 e 1648, na Europa, este conflito, como anotado anteriormente, marcou a transição do feudalismo para a Idade Moderna. A Guerra dos 30 anos envolveu uma série de países em volta da região onde hoje está a Alemanha, e teve como elemento catalisador as disputas religiosas decorrentes das reformas protestantes do século XVI. As causas dessa guerra incluem a luta pela afirmação do poder de monarquias europeias, com disputas territoriais e conflitos pela hegemonia. As causas da Guerra dos Trinta Anos também passam pelosproblemas da aliança da dinastia dos Habsburgo e do Sacro Império Romano-Germânico com a Igreja Católica. Essa aliança de religião com Estado, uma herança medieval, não mais se adaptava a um mundo no qual o poder das monarquias nacionais era cada vez mais forte. A vinculação entre o Império e a Igreja fazia com que os ideais de independência política tivessem um viés religioso, como é o caso da Boêmia, palco dos episódios que se constituíram no estopim do conflito. Por que aconteceu a Guerra? 38 Universidade do Sul de Santa Catarina As tensões religiosas cresceram na Alemanha no último quarto do século XVI. Durante o reinado de Rodolfo II, a ação católica foi extremamente agressiva. Foram destruídas várias igrejas protestantes, além de se tomar uma série de medidas contra a liberdade de culto. Contra essas atitudes, foi fundada em 1608 a União Evangélica. Em resposta, foi fundada, no ano seguinte, a Liga Católica – o que permite imaginar que um conflito não demoraria a aparecer. Na região checa da Boêmia, havia um impasse: a maioria da população era protestante, mas o rei, Fernando II, era católico. Fernando II era da dinastia dos Habsburgo, também duque da Estíria e da Áustria e futuro imperador do Sacro Império. Fervoroso católico, educado pelos jesuítas e herdeiro da aliança entre os Habsburgo e o papado, Fernando reprimiu violentamente os protestantes, destruindo templos e impondo o catolicismo como única religião permitida no reino. Os Defensores da Fé, ramo boêmio da União Evangélica, lideraram a reação a Fernando. Invadiram o palácio real em 23 de maio de 1618, e atiraram os defensores do rei pela janela do segundo andar, episódio conhecido como a "Defenestração de Praga", considerado o marco inicial da guerra. Período palatino-boêmio (1618-1624) Comandados pelo conde Matias von Thurn, s protestantes obtiveram algumas vitórias, estendendo a revolta para outras regiões. A cidade de Viena (hoje capital da Áustria), centro do poder Habsburgo, foi sitiada em 1619. A coroa da Boêmia foi entregue a Frederico V, líder da União Evangélica e eleitor do Palatinado (território administrado por conde palatino). É preciso lembrar que os protestantes não eram um grupo único. Havia divergências entre luteranos e calvinistas, o que enfraqueceu os protestantes e abriu espaço para a contraofensiva católica. 39 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 Em 8 de novembro de 1620, um exército da Liga Católica, liderado pelo germânico João T'Serklaes Von Tilly, venceu os protestantes na Batalha da Montanha Branca. Após essa vitória, muitos rebeldes foram condenados à morte e todos perderam seus bens. O protestantismo foi proibido nos domínios imperiais e a língua checa substituída pela alemã. Em 1623, Fernando II da Germânia, imperador desde 1619, com a ajuda da Espanha e da região alemã da Baviera, conquistou o Palatinado de Frederico V. A coroa da Boêmia, até então escolhida por voto, tornou-se hereditária dos Habsburgo. No final de 1624, o Palatinado, entregue a Maximiliano I, duque da Baviera, era novamente católico. Com isso, teve fim o primeiro período conhecido como Palatino-Boêmio. Período dinamarquês (1624-1629) Esta segunda fase da guerra, que ficou conhecida como período dinamarquês, marcou o início da internacionalização do conflito. Fernando II quis obrigar os protestantes a devolverem as propriedades católicas que haviam sido tomadas. Contra essa medida, os protestantes pediram ajuda a Cristiano IV, rei da Noruega e da Dinamarca e também detentor do ducado de Holstein, no Sacro Império. Protestante e interessado em obter territórios e reduzir o poder Habsburgo sobre seus domínios em Holstein, Cristiano declarou guerra contra os Habsburgo, contando com o apoio de guerreiros holandeses. Cabe lembrar que a Holanda, recém independente do ramo espanhol dos Habsburgo, era predominantemente protestante. Mas a ação militar holandesa, de 1625 a 1627, acabou derrotada. Em 1629, foi publicado o Édito da Restituição, um documento que anulava todos os direitos protestantes sobre as propriedades católicas expropriadas a partir da Paz de Augsburgo. Em 22 de maio de 1629, o rei Cristiano aceitou o Tratado de Lübeck, que o privava de mais alguns territórios germânicos, significando o fim da Dinamarca como potência europeia. O imperador Fernando II alcançou o auge de seu poder. 40 Universidade do Sul de Santa Catarina Período sueco (1630-1635) O terceiro período da guerra, chamado de período sueco (1630 a 1635), marcou o início da ação do Cardeal Richelieu, ministro de Luis XIII e verdadeiro governante da França. Apesar de ligado à Igreja Católica, o Cardeal Richelieu queria barrar o avanço dos Habsburgo na Europa, o que o fez ficar do lado dos protestantes. Richelieu convenceu o rei da Suécia, Gustavo Adolfo, a atacar o império de Fernando II. Gustavo Adolfo queria o domínio sobre o Sund, estreito que separa o mar do Norte e o mar Báltico e que garante controle comercial e estratégico da região. Para tanto, era necessária a obtenção de uma ilha ao norte da Dinamarca, dominada pelos Habsburgo. Depois de uma série de vitórias contra as forças imperiais entre 1630 e 1632, Gustavo Adolfo morreu na batalha de Lutzen. Seus sucessores não tiveram o mesmo sucesso. Derrotados definitivamente na Baviera, em 1634, os suecos tiveram que se retirar do território alemão. O fracasso da tentativa de usar os suecos para derrubar os Habsburgo levou o Cardeal Richelieu a colocar a França diretamente na guerra. Período francês (1635-1648) Em 1635, a França declarou guerra aos Habsburgo, iniciando o quarto e último período, chamado justamente de período francês. O cardeal (católico) Richelieu, que chegou a apoiar protestantes para derrubar a dinastia Habsburgo, abriu guerra contra a Espanha, a Áustria e outros domínios dos Habsburgo dentro da Europa. Richelieu defendia que o Estado deveria pautar-se por parâmetros políticos, e não religiosos. Era partidário também do princípio da razão de Estado, fundamental nas relações internacionais da Europa moderna. Com o apoio dos Países Baixos, da Suécia e das regiões protestantes alemãs, Richelieu chegou a mobilizar um exército de mais de cem mil homens. Além de aniquilar o poder dos Habsburgo, seu objetivo era consolidar a França como principal potência continental europeia. 41 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 Entre 1635 e 1644, os franceses e seus aliados impuseram uma séria de derrotas aos Habsburgo em todos os seus núcleos de poder na Europa, tornando sua posição insustentável. Já em 1645, representantes do Império de Fernando II da Germânia tentaram negociações de paz. As hostilidades estenderam-se até 1648, quando o cerco sueco a Praga e francês a Munique, além da ameaça de ataque a Viena, levaram o imperador a capitular. Os termos de paz foram impostos pelos vencedores no chamado Tratado de Vestfália ou Paz de Vestfália, de 1648. Entre as consequências, o tratado, que marcou o fim da guerra, deu independência aos Países Baixos (sob domínio espanhol) e marcou princípios de acordos entre os países, utilizados até pela diplomacia e pelo direito internacional. Também fortaleceu a importância do poder temporal (político, não religioso) nos Estados e a diminuição da presença de Igreja nas monarquias europeias. Após esse período, pensadores iluministas patrocinados pela burguesia defendiam a menor interferência do Estado na vida privada, notadamente em suas atividades empresariais, emoldurando seu discurso numa tela de respeito a direitos individuais. A Revolução inglesa transformou a sociedade na Europa, de rural para urbana, com grande concentração da população nas cidades, mais próximo das novas indústrias, que, após o surgimento do tear e da máquina a vapor, tornou-se o principal motor da economia naquele continente. Aparece, com grande prosperidade, a figura do empresário, do industrial dono degrande capital, detentor, portanto, de uma influência perceptível ao Estado, boa ou má. O fato é que surge a burguesia. A exploração do trabalho da mulher e da criança bem como as longas e exaustivas jornadas de trabalho caracterizaram esse processo de transformação da economia e dos modos de produção. Surgia o proletariado, a classe trabalhadora. A alta tributação dos reis, o desrespeito aos direitos fundamentais, como a vida, a liberdade, a propriedade, a família, bem como a ilimitada interferência do Estado absolutista nas 42 Universidade do Sul de Santa Catarina relações individuais, motivaram fundamentalmente a Revolução Francesa, pela qual restaram consagrados três princípios fundamentais; a liberdade, a igualdade e a fraternidade. A Revolução Francesa, juntamente com a Carta de Direitos na Inglaterra, que limitava o poder do rei em tributar, motivou outro movimento, cuja teoria teria aplicação universal: o constitucionalismo. Criavam-se na Europa as teorias de divisão do poder estatal em executivo, legislativo e o judiciário, divisão consagrada por Montesquieu e adotada pela maioria dos Estados modernos, como o Brasil, Estados Unidos da América, França, Portugal, dentre vários outros. Por essa teoria, para evitar os abusos decorrentes da concentração do poder na mão de uma só instituição, ou de uma só pessoa, o poder estatal deveria ser dividido em três grandes atribuições: � a de criar leis para um poder, chamado de legislativo, � a de julgar conforme essas leis para outro poder, denominado judiciário, e � a de governar, atividade atribuída ao que se chamou de executivo. Esses três poderes juntos formam o poder estatal, e, pela teoria de Montesquieu, haveria interferência de um poder no outro, com destaque para a finalidade de fiscalização do exercício dos demais poderes. 3.2 A tripartição do Poder e o Estado Democrático de Direito Foi fundamentalmente em Montesquieu que a doutrina de divisão do poder em três atividades se consolidou, ao ponto de, nos Estados Democráticos, essa divisão ser comumente adotada. 43 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 O Brasil teve em 1824 sua primeira Carta Política, outorgada por D. Pedro I, adotando conceitos liberais do Velho Continente ao instituir por aqui a monarquia constitucional. Contudo, a estruturação dos poderes do Estado ao adicionar o Poder Moderador desequilibrava o jogo de forças, colocando nas mãos do Imperador a função de árbitro dos demais Poderes. Desse modo, prestigiava a Carta Política do período os preceitos elaborados por Benjamin Constant, mais consentâneos com as forças políticas aqui presentes. Na Inglaterra dos séculos XII e XIII, o rei João Sem-Terra teve que ceder à pressão de cavaleiros, nobres e religiosos, limitando os tributos, fato que ficou marcado na história como a primeira Carta Política. Vimos que a guerra dos 30 anos, selada no período conhecido como Paz da Vestfália, transformou o mapa da Europa e deu início à fase do Estado nação, das monarquias nacionais, inaugurando o que hoje se concebe por Estado Moderno e consolidando os princípios basilares do direito internacional. Na França do século XVIII, aconteceu a Revolução Francesa, que defendia os direitos individuais, a liberdade, a igualdade e a derrubada da tirania dos monarcas em toda a Europa. Seus ideais iluministas alcançaram o novo continente antes mesmo da tomada da Bastilha — prisão parisiense que guardava presos políticos da época — com as treze Colônias promulgando sua Constituição, consagradora das liberdades, inovando através do presidencialismo, mantendo a divisão tripartite dos Poderes e determinando o respeito do Estado aos direitos individuais. Na França, um triunvirato foi criado para governar no período de transição, porém as ações dos revolucionários não saíram como planejadas; tendo Napoleão Bonaparte assumido o consulado e o comando do exército, emerge na Europa um novo período de escaladas militares. 44 Universidade do Sul de Santa Catarina Devastada, a Europa precisava ser reconstruída, e a Democracia conseguiu se consolidar em boa parte da Europa ocidental. Influenciados pelo pensamento marxista, outras nações se fundamentaram no socialismo e no comunismo como forma de governo, e o período que seguiu a II Grande Guerra Mundial ficou conhecido como Guerra Fria, numa corrida armamentista e de propaganda de guerra que influenciou o cinema, a cultura, a política e a vida de todos no planeta. O primeiro momento de Estado Democrático no Brasil foi a partir da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, até o golpe militar de 1964, retornando a ser democrático a partir da Constituição de 1988 até hoje. Veja que o processo de consolidação da divisão do poder em três esferas, o executivo, o legislativo e o judiciário, é um tema recente na história da humanidade, porém a Democracia como forma de governo já vem do Estado antigo, na Grécia e Roma. Seção 4 - O Constitucionalismo Foi nos Estados Unidos que o constitucionalismo encontrou supedâneo, uma vez que, a partir da Constituição estadunidense, se criaram os Estados Unidos da América. Pela Constituição, seria possível criar-se um novo Estado, de acordo com princípios superiores, que se sustentam nos direitos individuais fundamentais e no pacto federativo, ou seja, pela união de vários estados-membros em torno de uma Federação. A participação popular é o fundamento do Estado Democrático, o qual, por ter na ordem legal o seu fundamento, é um Estado de Direito, ou seja, o estabelecimento da ordem e da paz social ocorre pela força das leis, e não pela simples vontade de um monarca ou um ditador. 45 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 Entenda-se por constitucionalismo o movimento pelo qual se cria um novo Estado a partir de um único texto legal e político, chamado Constituição, que organiza a distribuição do poder estatal, bem como estabelece a transitoriedade no exercício desse poder e, ao mesmo tempo, confere garantias, ou seja, ferramentas legais para a exigência dos direitos individuais fundamentais. Leciona Jorge Miranda, na obra Manual de Direito Constitucional, que: A origem formal do constitucionalismo está ligada às Constituições escritas e rígidas dos Estados Unidos da América, em 1787, após a Independência das 13 Colônias, e da França, em 1791, a partir da Revolução Francesa, apresentando dois traços marcantes: organização do Estado e limitação do poder estatal, por meio da previsão de direitos e garantias fundamentais. (MIRANDA). E o que é o Estado Democrático de Direito? Vimos que o Estado é a sociedade politicamente organizada em um determinado território e com governo soberano. Porém é possível haver um regime ditatorial em um determinado Estado que desrespeita direitos individuais fundamentais. Ainda assim, mesmo violando direitos do povo, o Estado existe. A participação popular, portanto, pode ser afastada, sem que, com isso, o Estado deixe de existir. Para garantir que esse tipo de exceção não ocorra é que existe o Estado de Direito, de modo que somente através da lei o Estado se movimente e, quando o fizer, seu objetivo seja o bem comum, a paz social e o respeito aos direitos individuais fundamentais. Importante destacar que houve, e ainda há na história da humanidade, governos que manipularam a ordem jurídica vigente e tomaram pela força as rédeas do poder estatal, tal como aconteceu no golpe militar de 01.04.1964, no Brasil, pelo qual o regime militar da época, valendo-se de atos institucionais, revogou direitos e atribuiu poderes cada vez mais amplos ao O(a) aluno(a) pode e deve procurar entender o real significado da palavra revolução, para opinar com clareza e fundamento sobre o golpe militar de 1964, pois o regime militar da época fundamentava suas ações na defesa da Constituição de 1946, porém, após uma série de modificações legais através dos atos institucionais aordem constitucional, esta Constituição foi totalmente subvertida, ao ponto de, em 1967, ser editada uma nova carta política. 46 Universidade do Sul de Santa Catarina regime, ao ponto de ter sido revogado o habeas corpus, pelo ato institucional nº 5, período em que mais se prenderam e em que mais desapareceram pessoas neste país. Entretanto, no Estado Democrático, isso não deve ocorrer, uma vez que o seu fundamento é a participação popular, seja diretamente através do voto, ou até mesmo como representante do povo, como mandatário. A democracia teve seu berço na Grécia antiga e pressupõe a participação do homem na vida política do seu Estado, na época, a polis. A grande maioria dos Estados ocidentais vive a democracia, ainda que, para muitos, não signifique um sistema perfeito. Democracia tem origem na palavra grega que significa o governo do povo, demo (povo), cracia (governo). Portanto, no modelo de Estado Democrático, é indispensável a participação popular. Entende-se por Estado de Direito aquele em que a lei determina o comportamento estatal e em que também, pela lei, são garantidos direitos aos indivíduos. Assim, num Estado Democrático de Direito, é preciso haver a participação popular e, somente por meio das leis, se estabelecerem direitos e deveres, tanto para os indivíduos quanto para o Estado. Anteriormente, vimos que a construção de um novo Estado pode acontecer e, modernamente, é o que ocorre através da edição de um texto político denominado Constituição. A revogação de uma Constituição já existente ou a criação de uma inédita conduz, basicamente, ao mesmo resultado técnico: ser considerada a precursora de toda a nova ordem política e jurídica do Estado. 47 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 Daí nasce a fonte jurídica do Estado de Direito, pois é a Constituição o texto legal mais importante e superior de um Estado, razão pela qual deve buscar anotar a afirmação do novo Estado, dos direitos individuais fundamentais, organizar o poder, consagrar o regime democrático e buscar a justiça para todos, conforme a Constituição. Este seria, em tese, o Estado Constitucional de Direito. Síntese Rapidamente, e para fixar os conteúdos desta unidade, reprisamos o conteúdo que abarcou o Estado a partir de teorias que explicam o seu possível surgimento, delineamos algumas situações pelas quais o Estado sofreu modificações significativas até o ponto em que ele se organizou pelo Direito e, através da participação popular, tomou um rumo democrático e que vem confirmando a tradição constitucionalista estadunidense de organização do poder estatal e de garantia dos direitos individuais fundamentais. 48 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de autoavaliação 1) Explique a principal diferença entre o surgimento originário e derivado do Estado. 2) Como vimos nesta unidade, há vários modelos para se explicar o surgimento do Estado. Cite e explique no mínimo três destes modelos. 3) Liste os tipos de surgimento derivado do Estado. 49 Instituições de Direito Público e Privado Unidade 1 Saiba mais � Livros: AZAMBUJA, Darcy. Teoria geral do estado. 26. ed. Rio de Janeiro: Globo, 1941. BOBBIO, Norberto. Estado governo sociedade: para uma teoria geral da política. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. São Paulo: Saraiva, 2003. GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso. Trad. Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999. MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2002. PALLIERI, Giorgio Balladore. A doutrina do estado. Coimbra: Coimbra, 1969. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Os devaneios do caminhante solitário. Trad. Julia da Rosa Simões. Porto Alegre: L&PM, 2008. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Consituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, 152p. SCHMITT, Carl. The concept of political. Trad. George Schwab. Chicago: Chicago University Press, 2007. � Filmes: A Guerra do Fogo (La Guerre du feu, 81, FRA/CAN) Getúlio Vargas (1974) Lamarca (1994) Pra frente Brasil (1983) O que é isso, companheiro?
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