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COMUNICAÇÃO E LINGUAGENS Faraídes M. Sisconeto de Freitas Ivanilda Barbosa Leitura e produção de textos na graduação Faraídes M. Sisconeto de Freitas Ivanilda Barbosa COMUNICAÇÃO E LINGUAGENS Leitura e produção de textos na graduação Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE Freitas, Faraídes M. Sisconeto de. F884c Comunicação e linguagens: leitura e produção de textos na graduação [livro eletrônico] / Faraídes M. Sisconeto de Freitas, Ivanilda Barbosa. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2020. 175 p. : il. color. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 1. Comunicação – Estudo e ensino. 2. Comunicação escrita. 3. Comunicação – Metodologia. 4. Linguagem – Estudo e ensino. I. Barbosa, Ivanilda. II. Universi- dade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. III. Título. CDD 302.207 © 2020 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Ensino Superior Marco Antônio Nogueira Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinoto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Ilustrações Depositphotos. Acervo Uniube. Getty Images. Acervo Uniube. Preparação dos originais Márcia Regina Pires Revisão ortográfica, gramatical, textual e de estilos Erlane Silva Nunes Editoração eletrônica Matheus Kaneko da Silva Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Faraídes M. Sisconeto de Freitas Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba – Uniube. Especialista em Linguística Aplicada e em Avaliação Educacional pela Universidade de Uberlândia – UFU. Licenciada em Letras (Português/Inglês) pela Universidade de Uberaba e em Pedagogia pela Faculdade de Educação Antônio A. Reis Neves. É docente da Universidade de Uberaba nas modalidades de ensino presencial e na Educação a Distância. Possui experiência na área de Linguagens, com ênfase em Linguística e Língua Portuguesa. Desenvolve pesquisa em: educação a distância, práticas educativas e formação de professores, com enfoque em metodologias ativas. Ivanilda Barbosa Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília – UnB. Especialista em Linguística Aplicada e em Literatura Brasileira Contemporânea pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Licenciada em Letras, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino – Fista, de Uberaba. Pertenceu ao corpo docente da Universidade de Uberaba – Uniube, onde atuou como professora dos cursos de graduação em Letras e Comunicação Social, entre 1979 a 2006, e coordenou a implantação do Programa de Educação a Distância no período de 2000 a 2007. Foi consultora de projetos educacionais na Universidade Tuiuti do Paraná e na Uniube de 2008 a 2011. Exerceu o cargo de diretora da Biblioteca Pública Municipal Bernardo Guimarães de Uberaba e de Superintendente de Bibliotecas Públicas da Fundação Cultural de Uberaba entre os anos 2013 a 2017. É uma das organizadoras do livro Brasil à luz do espelho: sombras, conflitos e reflexões, publicado pela Editora Humanitas – USP, 2019. Sobre as autoras Sumário Apresentação ................................................................................................................................XI Capítulo 1 - Ação comunicativa: leitura, interpretação e expressão ....................... 1 1.1 Introdução .............................................................................................................................................2 1.2 Os atos de falar e de escrever ........................................................................................................4 1.3 Fatores que interferem na ação comunicativa .......................................................................6 1.3.1 Conhecimento de mundo ....................................................................................................7 1.3.2 Informatividade ........................................................................................................................9 1.3.3 Intencionalidade e receptividade .................................................................................. 11 1.4 Elementos que interagem na comunicação oral ............................................................... 13 1.5 Aspectos que contribuem para a legibilidade do texto escrito ................................... 19 1.6 O prazer de ler e escrever ............................................................................................................. 24 1.7 Resumo ................................................................................................................................................ 25 Capítulo 2 - Comunicação e textos acadêmicos ............................................................29 2.1 Introdução .......................................................................................................................................... 30 2.2 Comunicação verbal no contexto acadêmico..................................................................... 31 2.2.1 A noção de texto ................................................................................................................... 31 2.2.2 Texto e hipertexto ................................................................................................................. 34 2.3 O texto acadêmico.......................................................................................................................... 41 2.4 A organização de textos orais .................................................................................................... 44 2.4.1 A entrevista ............................................................................................................................. 45 2.4.2 O debate ................................................................................................................................... 48 2.5 A organização de textos escritos .............................................................................................. 50 2.5.1 Primeiro grupo: resumo e resenha ................................................................................ 51 2.5.2 Segundo grupo: relatório e portfólio ............................................................................ 58 2.5.3 Terceiro grupo: comunicação, artigo científico e monografia ............................ 60 2.6 Resumo ................................................................................................................................................ 65 Capítulo 3 - Procedimentos para leitura de textos dissertativos ............................73 3.1 Introdução .......................................................................................................................................... 74 3.1.1 Recuperando a noção de dissertação .......................................................................... 74 3.2 Procedimentos para a leitura do texto dissertativo .......................................................... 75 3.2.1 Ler para identificar ................................................................................................................75 3.2.2 Ler para delimitar as partes ............................................................................................... 77 3.2.3 Ler para analisar ..................................................................................................................... 80 3.2.4 Ler para reconhecer argumentos ...................................................................................81 3.2.5 Ler para estabelecer relação ............................................................................................ 86 3.2.6 Ler para avaliar e emitir um julgamento...................................................................... 86 3.3 Resumo ................................................................................................................................................ 89 Capítulo 4 - Linguagem, trabalho e prática social ........................................................93 4.1 Introdução .......................................................................................................................................... 94 4.2 A escrita no cotidiano das organizações ............................................................................... 96 4.2.1 A identificação profissional – requerimento, carta de apresentação e currículo ...............................................................................................................................................100 4.2.2 A circulação de informação interna – memorando, avisos, ordem de serviço, instrução normativa, parecer técnico, pauta e ata de reunião ....................................106 4.2.3 Comunicação externa – ofício, declaração, contrato e procuração ...............119 4.3 Comunicação e imagem da organização ............................................................................123 4.4 Resumo ..............................................................................................................................................126 Capítulo 5 - Linguagem técnica e competência comunicativa ............................ 133 5.1 Introdução ........................................................................................................................................134 5.2 Adequação textual e produção de sentidos ......................................................................136 5.3 O uso da imagem em textos informativos, técnicos e científicos ....................................................................................................................... 140 5.4 Ação comunicativa e desempenho profissional ..............................................................146 5.5 Escrita e imagem em projetos e memorial descritivo ...................................................152 5.5.1 O projeto e a organização textual ................................................................................154 5.5.2 O memorial descritivo ......................................................................................................163 5.6 Resumo ..............................................................................................................................................171 XI A liberdade, a autoconfiança, o desejo consistente e o olhar curioso movem as criaturas na grande aventura da comunicação por milênios e milênios. A interação humana vem concretizando-se nas linguagens dos costumes, do mito, da arte, da ciência e do trabalho, articuladas e diluídas por e entre tênues fios de gestos, sons, imagens e sentidos − eis a linguagem ou as linguagens humanas. Eis o homem em sua aventura. Seria, então, cada linguagem uma aventura? E o “que pode uma criatura senão, entre criaturas”, dizer e, nesta fala mesma − do contador e do poeta, do dançarino, do músico e do inventor, do grafiteiro, do místico, do filósofo e do cientista − protestar, dispersar, cantar e dançar, não dizer e ousar ouvir, ler e escrever? “Cada ser humano é palavra inédita” − anuncia o antropólogo Juvenal Arduini. Na palavra se irmanam as crenças, os saberes, os costumes, a ação e a realização dos homens, dos povos, das sociedades. Também se articulam o dentro e o fora, o rígido e o fugidio, a tirania e a esperança, o medo e a solução na alegria do aprender, do construir e do conhecer o mundo, o outro e a si mesmo. Como um atuante cidadão brasileiro, em casa, na escola ou no trabalho, você usa a língua portuguesa ou a língua brasileira de sinais, cotidianamente, na condição de filha(o), irmã(o), companheira(o), amiga(o), consumidor(a), cliente ou profissional. Ao realizar um curso superior de graduação, você está sendo convidado a aventurar-se pela linguagem e pelas situações de comunicação do contexto acadêmico. Comunicação e linguagens – leitura e produção de textos na graduação pretende ser um instrumento de uso diário que poderá auxiliá-lo a aprimorar sua comunicação oral e escrita em diferentes situações no circuito de sua vida acadêmica. Apresentação https://www.youtube.com/watch?v=9ga4DcNqQl4 https://www.youtube.com/watch?v=9ga4DcNqQl4 http://academiadeletrastm.com.br/juvenalarduini.php XII Em cinco capítulos, estão desenvolvidos temas relacionados à ação comunicativa, à comunicação verbal no contexto acadêmico, aos procedimentos para leitura de texto didático-científico, à linguagem e trabalho, à prática comunicacional no contexto das organizações e às relações entre linguagem, sociedade e comunicação. Os capítulos estão organizados de forma didática: uma introdução, os objetivos do estudo, um esquema inicial do conteúdo, um texto explicativo que inclui conceitos, exemplos, questionamentos, reflexões, links e indicação de leituras para ampliação dos seus conhecimentos e, ainda, um breve resumo do conteúdo e as obras de referências, isto é, as que foram mencionadas ao longo do texto. No percurso de estudo destes cinco capítulos, estaremos junto a você, com a certeza de que falar/ouvir, contar/interpretar, ler/escrever são jogos de linguagem, e suas regras são socialmente estabelecidas e pactuadas na ousada aventura da comunicação humana, em cada tempo e em cada contexto histórico. As autoras XIII Capítulo 1 Ação comunicativa: leitura, interpretação e expressão Objetivos • Identificar os fatores que interferem na comunicação oral e escrita. • Reconhecer a adequação da linguagem em diferentes situações de interação social. • Identificar os elementos que asseguram a legibilidade do texto escrito. • Utilizar a Língua Portuguesa com adequação em situações comunicativas. 2 1.1 Introdução Não basta falar bem. É preciso saber ler e escrever. Monteiro Lobato, no início do século XX, afirmou que “Um país se faz com homens e livros”. Seria essa afirmação ainda impactante, no século XXI? Livros são necessários para o desenvolvimento social, econômico e cultural de um país? Falamos mais do que escrevemos e lemos menos do que ouvimos. Isto é um fato para a maioria das pessoas com as quais convivemos em casa, no trabalho e na escola. Sendo assim, em que falar e escrever contribuem para maior ou menor realização pessoal e profissional das pessoas? A pessoa que transita com facilidade entre as múltiplas formas da fala e da escrita tem mais oportunidade de alcançar os objetivos a que se propõe? Qual é mesmo a relação que há entre falar e escrever com propriedade e adequação e o grau de satisfação das pessoas em suas relações familiares, amorosas, escolares e profissionais? As nossas respostas podem ser bastante variadas para todas essas indagações. E, possivelmente, muitos estudiosos já se dedicaram a essa polêmica tão presente no diálogo de pais, alunos e professores, profissionais liberais e comunicadores. Restringindo um pouco nosso espaço de observação, o exercício de pensar no contexto da escola tem se mostrado exigente quanto à aplicação destas duas modalidades da linguagem verbal − a oralidade e a escrita. Estamos no reinoda palavra, e tudo que aqui sopra é verbo. Ferreira Gullar https://www.ebiografia.com/monteiro_lobato/ 3 Iniciando os estudos, propomos que você exercite suas habilidades de ler e de falar, ouvir e escrever, a partir de textos que são produzidos no cotidiano da vida universitária. Esses textos têm por finalidade incentivar a produção e registro das reflexões, das leituras, das indagações e da pesquisa nos cursos, por alunos e professores. Ao exercitar sua capacidade de expressão oral e escrita, sinta-se um ser de linguagens múltiplas e confie: quanto mais conhecer as variedades da linguagem humana e as utilizar em uma perspectiva de interação, com uma visão crítica, criativa e ética, mais empreendedor do conhecimento científico e tecnológico e dos valores culturais você se tornará. 4 As grandes narrativas que hoje temos nas bibliotecas e nos livros sagrados de diferentes povos nos mostram que elas tiveram origem na paciência histórica de alguém que contou o que viu e o que imaginou a um outro que, curiosa e pacientemente, o ouviu. E, assim, esse registrou e distribuiu a muitos outros aquilo que um dia esteve guardado na memória ou na imaginação das pessoas, dos povos e das civilizações. Embora saibamos que fala e escrita guardam, cada uma, sua identidade, têm características próprias, elas permaneceram, ao longo da história dos homens e de seus feitos, lado a lado, sem nenhuma relação de superioridade, como faces da mesma linguagem. Podemos afirmar que falar e escrever são práticas que se estabelecem em diferentes tempos, em diferentes espaços sociais e geográficos, e que se complementam na busca do conhecimento, da compreensão, da convivência e da criação humana. As formas da fala e da escrita que ganham vida em cada espaço familiar, de trabalho, de lazer, de estudo se conjugam em diferentes combinações de sinais, de cores, de sons, de códigos e de sentidos – diferentes linguagens próprias dos grupos familiares, religiosos, sociais, culturais, artísticos, científicos e profissionais. Nessa perspectiva, podemos dizer que os espaços social, cultural e geográfico interferem na forma de expressão tanto da fala quanto da escrita e se constituem em fatores determinantes na comunicação em qualquer situação de interação humana. As pessoas das sociedades letradas que têm o privilégio de se manifestarem pela fala e pela escrita constatam que estão sujeitas a regras em uma e outra situação de comunicação. 1.2 Os atos de falar e de escrever 5 • Em cada situação de comunicação, escrita ou oral, existem variados fatores que interferem na escolha do modo de falar e de escrever, seja da pessoa ou de um grupo social. • Os fatores geográficos, sociais e culturais destacam-se como determinantes da comunicação. • A motivação da pessoa e sua função ou lugar social, no momento em que fala ou escreve, interferem na seleção que faz de enunciados, de palavras, de entonação e de ritmo. Sintetizando A escrita de um bilhete para um amigo, por exemplo, é bem diferente de um comunicado de um diretor aos seus colaboradores afixado no mural da empresa. Ou, ainda: um artigo de jornal sobre um acidente ecológico se difere de um laudo técnico do biólogo para fins de avaliação de responsabilidades e também do depoimento que o mesmo biólogo possa dar a um repórter sobre o assunto. Muitas outras situações poderiam ser aqui relacionadas, apresentando as diferenças entre formas de expressão oral e formas de expressão escrita. Porém, basta observarmos os contatos entre os diversos grupos de pessoas para entendermos que os exemplos poderiam ser infinitos, como infinitas podem ser as situações de comunicação humana. Fala e escrita são atos contínuos por meio dos quais temos o privilégio de nos relacionar na dinâmica da vida em sociedade. Assim sendo, nas sociedades letradas, desenvolveu-se as noções de variedade e de adequação da ação comunicativa. Isto é, em cada situação é necessário que se harmonizem os diferentes tipos de linguagens verbais e não verbais para que se obtenha uma comunicação eficiente e eficaz. 6 A Universidade é um dos espaços de produção de escritas, leituras e releituras, direcionadas para a formação do cidadão. Nesse sentido, caracteriza-se pela prática da leitura e da escrita como um princípio motivador da manutenção dos valores culturais, da pesquisa científica, da construção do conhecimento e das relações que mantém com a comunidade na qual está inserida. Entendemos que a leitura, porque traz benefícios incontestáveis ao indivíduo e à sociedade, é um direito humano que se efetiva na forma de lazer e de prazer, de aquisição de conhecimentos e de produção cultural, de humanização do convívio e de interação social. Nesse sentido, os atos de ouvir e falar, de ler e escrever são práticas indispensáveis à formação integral do indivíduo, interferindo no seu desenvolvimento emotivo, • O conhecimento de mundo dos interlocutores determina também o modo de organizar a fala e a escrita. • A receptividade dos ouvintes e leitores motiva a escolha dos estilos próprios que cada pessoa vai construindo ao longo de sua história de vida. • O domínio que cada pessoa tem das técnicas de falar e de escrever, de acordo com a situação de comunicação, possibilita alcance dos objetivos nas situações sociocomunicativas. 1.3 Fatores que interferem na ação comunicativa 7 1.3.1 Conhecimento de mundo Conto ao senhor é o que eu sei e o senhor não sabe; mas principalmente quero contar é o que eu não sei se sei e que pode ser que o senhor saiba. João Guimarães Rosa Entende-se por conhecimento de mundo o saber que a pessoa tem sobre a natureza e a cultura de diferentes povos: sobre a geografia, as ciências, as artes, a política, as religiões, a tecnologia, as linguagens, os costumes, formas de trabalho, rituais religiosos, formas de convívio, entre outros conhecimentos que a humanidade vai acumulando no curso da sua história. Ao mesmo tempo em que o convívio com as diversidades culturais - artística, social, linguística, religiosa - possibilita o diálogo e a interação entre pessoas, o conhecimento de mundo delas se amplia. Assim, as pessoas passam a ter mais possibilidade de buscar novos conhecimentos e de compreenderem a realidade. A importância da linguagem verbal revela-se no contínuo uso das formas da fala e da escrita por diferentes povos, em diversificados suportes, de maneira a aprimorar incessantemente os sistemas de linguagens e processos de comunicação humana. Dos registros em pedras aos mais sofisticados processos tecnológicos, a linguagem verbal está presente, testemunhando as descobertas no campo das ciências, da filosofia e da arte. Podemos afirmar que cada pessoa põe em prática todo o conhecimento de mundo que já lhe pertence, ao ouvir e entender, ler e compreender, sentir e expressar, ao intelectual, social e profissional e proporcionando-lhe, dia após dia, a ampliação de seu conhecimento de mundo. 8 escrever e comunicar, ao aprender e traduzir, para si e para o outro, o que já sabe. O conhecimento de mundo, portanto, interfere na forma da pessoa dialogar, ler, interpretar e compreender a realidade, o outro e a si mesmo. O conhecimento de mundo é um fator que interfere na expressão oral e escrita, na leitura compreensiva e crítica do ser humano. Sendo assim, considerando que as práticas de linguagem são pessoais e coletivas, podemos afirmar que a formação da identidade do indivíduo-cidadão, enquanto agente social transformador da comunidade em que vive, exige conhecimento de mundo. 8 9 1.3.2 Informatividade A informatividade está presente nos textos orais, escritos e visioespaciais, tais como nos anúncios, poema, teatro, pinturas, esculturas, debates, entrevistas, conferências e se relaciona ao grau de novidade contida no texto. O que seria então informatividade? Quando a pessoa que fala provoca na outra uma expectativa a partir do que está dizendo, significa quehá algo novo sobre o assunto. Ou seja: o ouvinte fica esperando tomar conhecimento de algo que ele ainda não sabe. Se o que ouve já lhe é conhecido, a sua expectativa não é atendida. Dizemos, então, que quem falou não trouxe nada de novo. Não deu informação àquele ouvinte. 10 A informatividade é, assim, um fator que se mede pela quantidade de novidade que chega ao ouvinte. O grau de informatividade do texto pode variar de ouvinte para ouvinte, ou de leitor para leitor, se o texto for escrito. Por qual motivo? Vejamos. Relacionando as afirmações anteriores com a noção de conhecimento de mundo, podemos dizer que, para determinadas pessoas, o grau de informação de um texto é alto, pois, para elas, o texto está repleto de novidade. Enquanto para outras, o mesmo texto pode ter um baixo grau de informação. E isso pode decorrer de dois fatores: ou a pessoa não possui conhecimentos anteriores, repertório, que lhe possibilite compreender o que está sendo informado; ou porque ela já tem um grande conhecimento sobre o assunto, portanto, pouco lhe foi acrescentado. Por isso, ao falar ou escrever, devemos cuidar de saber para quem estamos falando ou escrevendo, uma vez que nossa intenção é sempre manter o elo comunicativo com as pessoas. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. O nosso interlocutor precisa de pistas para que encontre, em nosso texto, o sentido novo, a novidade, a informação. A eficácia de uma comunicação encontra-se também no controle do grau de informação, por parte de quem se dispõe a comunicar. Observando os textos que circulam nos canais de TV aberta - propagandas, publicidades, reportagens ou notícias - podemos constatar que eles apresentam um grau médio de informatividade. Eles se dirigem a um público diversificado e conseguem manter a atenção do telespectador, pois calculam a média do conhecimento de mundo da audiência, naquele horário, e acrescentam informações de interesse geral. 11 Em sala de aula, laboratórios, congressos, seminários científicos, programação cultural, o desafio é para todos: assegurar, em cada situação de estudo, um grau de informação que permita aos interlocutores o entendimento, a interação e a produção do conhecimento pela comunidade acadêmica. 1.3.3 Intencionalidade e receptividade A intencionalidade e a receptividade interferem na comunicação, uma vez que ambas têm origem nos propósitos das pessoas envolvidas na ação comunicativa. Se a intenção de quem produz um texto escrito é provocar no leitor uma reação, para que isso aconteça, é necessário que o leitor tenha a disposição de ler o texto que lhe está sendo oferecido. Exemplificando Os textos produzidos para os canais de TV aberta são elaborados tendo como base o conhecimento geral do grande público que os assiste, ou seja, das pessoas que formam sua audiência, para que essas possam compreendê-los. Entretanto, pensemos em outra situação: em um congresso de nefrologia por exemplo. Nesse caso, os produtores dos textos orais e escritos considerariam que o público do congresso, possivelmente composto por médicos nefrologistas e urologistas, sabe os termos científicos dessa área, por isso esses termos seriam usados. Observe que, como o congresso é destinado a um público restrito, a linguagem e a escolha das palavras podem ser mais específicas e com aprofundamento na temática. 12 O êxito da ação comunicativa implica intencionalidade, informatividade, conhecimento de mundo e receptividade. Esses fatores encontram-se associados às situações de comunicação. Para promover o interesse pela leitura, o texto precisa conter elementos motivadores. O leitor se interessa por ler à medida que ele encontra no texto dados, referências que já são do seu conhecimento, isto é, do seu repertório, e que vão ser acrescidos de algo novo sobre o assunto. A receptividade do texto depende da motivação do leitor, da capacidade de o autor usar a linguagem, favorecer o prazer estético, acrescentar conhecimento, promover a interpretação e a compreensão no ato da leitura. Por isso, que todo texto contém em si um possível recebedor. Exemplificando Na publicidade de automóveis, ganha relevância o conforto, a segurança, o preço, o status social. Esses aspectos são de grande interesse da classe média brasileira. As campanhas publicitárias da maioria das marcas automobilísticas se dirigem a essa classe social. 13 O teatro é uma forma milenar de narrativa oral. Para contar a história, faz-se uma encenação, na qual se conjugam vozes e gestos, movimento corporal, expressão fisionômica, cenário e figurino. Você já teve a oportunidade de assistir a peças teatrais – tragédias, comédias, musicais, monólogos? Pôde observar o fascínio que o teatro exerce sobre as pessoas? A situação de comunicação no teatro pressupõe a proximidade espacial entre atores e público. As pessoas se sentem participando da cena, testemunhando o que ocorre no palco. Isso é envolvente. 1.4 Elementos que interagem na comunicação oral 14 Francisco Marques, o Chico dos Bonecos, identifica com maestria os recursos da expressão oral no ato de narrar: [...] narrar é um ato inventivo, seja para contar o acontecido ou apalavrar o imaginado. E toda a sua invenção reside no detalhe: evidenciar uma palavra, iluminar uma pausa, desdobrar um gesto, incorporar a participação dos ouvintes, buscar um tom de voz, encaixar um comentário, introduzir uma personagem, arquear as sobrancelhas... Desenrolar o enredo e enredar as palavras são as duas páginas da mesma folha. O ouvinte não se envolve apenas com o rumo dos acontecimentos, mas também com o rumor das palavras. (MARQUES, 2005, p. 54). Observe que, embora esteja escrito, o autor se expressa de forma bastante espontânea: o ritmo cadenciado é indicado pelos sinais de pontuação (vírgulas, dois pontos, reticências) e imprime ao texto um efeito de fala, de oralidade. A sensação que temos é a de que estamos ouvindo a voz do autor, vendo seus gestos. No teatro, como na dança, a linguagem do corpo ganha visibilidade. Talvez esse seja o motivo do permanente interesse de gerações e gerações por essas formas de comunicação artística. No vídeo A arte de ensinar e aprender, o artista Chico dos Bonecos mescla humor e brincadeiras. Ele faz uma expressiva apresentação de seu trabalho com o livro Muitas coisas, poucas palavras. Assista ao vídeo a seguir. https://www.editorapeiropolis.com.br/biografia/?autor=132&nome=Francisco+Marques+%28Chico+dos+Bonecos%29 15 A linguagem corporal não está presente apenas nas expressões artísticas. Em cada situação de comunicação oral, que se realiza de maneira mais ou menos formal, constata-se que o tom e o volume da voz, o movimento do corpo, os gestos, a expressão facial e o deslocamento do olhar se complementam para motivar e manter o interesse dos interlocutores. 16 Não é sem motivo que especialistas em comunicação têm dispensado tempo para a pesquisa da linguagem corporal e os seus efeitos nas relações de trabalho. No livro O corpo fala, Pierre Well e Roland Tompakow oferecem ao leitor um detalhado estudo do comportamento humano a partir da linguagem silenciosa do corpo, abordando temas como: harmonia e desarmonia, origem dos gestos, o amor e sua expressão corporal, entre outros. Esse estudo ressalta a importância da gestualidade, da postura e da adequação do vestuário como fatores que interferem na comunicação oral. O livro tem sido indicado para profissionais de diferentes áreas de atuação. Os autores abordam, de maneira simples, prática e divertida, a silenciosa linguagem do corpo. No vídeo Como falar bem: gestos, a fonoaudióloga Leny Kyrillos nos traz informações e orientações de como usar os gestos para uma comunicação mais eficaz. Veja-o. https://docs.google.com/file/d/0B5CK2xfgallpeWJQMHpvY05DR28/edit?pli=1 17 No vídeo Comunicação verbal, a autora Eunice Mendes esclarece dúvidas acerca de quais aspectos são importantes edevem ser considerados para o desenvolvimento da habilidade de falar em público. Indicação de leitura Os autores: Eunice Mendes, Lena Almeida e Marco Polo Henriques também nos oferecem um texto agradável sobre a linguagem do corpo no livro Falar bem é fácil: um superguia para uma comunicação de sucesso. 1818 19 Os dois textos sugeridos anteriormente para leitura, O corpo fala e Falar bem é fácil, nos permitem observar que há entre fala e escrita mais semelhanças do que diferenças, quando nos colocamos no lugar de interlocutores. Ou seja: a compreensão do pensamento do autor (falante ou escritor) é facilitada pelos elementos gráficos, os espaços que foram utilizados para marcar o ritmo e a sequência e progressão do pensamento. As pausas breves marcadas pelas vírgulas entre as palavras e expressões permitem a visualização de detalhes: “evidenciar uma palavra, iluminar uma pausa, desdobrar um gesto, incorporar a participação dos ouvintes, buscar um tom de voz, encaixar um comentário, introduzir uma personagem, arquear as sobrancelhas...” (MARQUES, 2005, p.55). As reticências sugerem que mais detalhes poderiam ser enumerados. O autor Francisco Marques (Chico dos Bonecos) conta com a atenção e a imaginação do seu leitor, que mais se aproxima a um ouvinte ou a um espectador. Em O corpo fala, o leitor está presente no texto por meio das formas verbais do imperativo e pelas formas pronominais de segunda pessoa: “Seja coerente, procure ser você ao se expor para um grupo de pessoas. Nessa exposição dê atenção a todos, Catar feijão se limita com escrever: jogam-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. João Cabral de Melo Neto 1.5 Aspectos que contribuem para a legibilidade do texto escrito 20 - Pontuação Vejamos um caso em que a pontuação (ou a falta dela) interfere na compreensão do texto. Para quem é a refeição que está na mesa? Uma senhora responsável pela limpeza e organização de uma república de estudantes escreveu um bilhete antes de sair. No bilhete estava escrito: deixe o seu olhar dançar entre eles, mas nunca olhe fixamente para nenhum deles.” (MENDES, 2008). Na comunicação escrita, assim como na oral, existem aspectos formais que contribuem para que o texto se torne legível (compreensível) – pontuação ortografia, concordância e regência verbal e nominal, adequação do vocabulário ao assunto e ao conhecimento de mundo do leitor e a organização textual. Importante lembrar que esses aspectos formais, que interferem na comunicação escrita, seguem normas especiais em cada tipo de texto. Um poema se organiza espacialmente de forma diferente de um texto científico. Espaçamento, divisão de parágrafos, por exemplo, são utilizados conforme a situação comunicativa. A forma de escrever um texto jornalístico é diferente da composição de um texto publicitário. Embora possam estar publicados em uma mesma página do jornal ou da revista, a leitura requer atenção diferenciada de um mesmo leitor, pois os elementos que entram na composição dos textos são diferentes. O mesmo ocorre quando a pontuação e a ortografia concorrem para a clareza do texto. 21 Essa encomenda é para o João não para a sua namorada também não é para o Álvaro entregar ao síndico jamais para o José do quarto 2 não é para a Rosa. Fátima Situação A O João lê o bilhete. Essa encomenda é para o João. Não para a sua namorada. Também não é para o Álvaro entregar ao síndico. Jamais para o José do quarto 2. Não é para a Rosa. Fátima Essa encomenda é para o João? Não! Para a sua namorada? Também não. É para o Álvaro entregar ao síndico? Jamais. Para o José do quarto 2? Não. É para a Rosa. Fátima Situação B A Rosa leu o bilhete 22 - Ortografia Ortografia significa escrita correta – orto = certo + grafia = escrita. Em 1990, foi assinado um acordo de unificação da ortografia em Língua Portuguesa entre todos os países lusófonos, isto é, países em que Português é a língua oficial. No Brasil, o acordo entrou em vigor em 2016. Os argumentos que justificaram o acordo incluem razões de ordem comercial e de identidade cultural entre esses países. As alterações abrangem o uso do trema, do hífen, do acento gráfico em ditongos abertos e hiatos e a inclusão, no caso do Brasil, das letras w, k, y no alfabeto. No Guia prático da Nova Ortografia, de Douglas Tufano, você pode saber mais sobre o que mudou na ortografia brasileira. Sugerimos essa leitura! Essa encomenda é para o João? Não. Para a sua namorada? Também não. É para o Álvaro entregar ao síndico? Jamais. Para o José do quarto 2. Não é para a Rosa. Fátima PENSE! Se você fosse o José do quarto 2, como leria este bilhete? A pontuação interfere na compreensão dos textos escritos. Diante disso, ao escrever um texto, devemos nos lembrar de que os sinais de pontuação auxiliam o leitor a entender e encontrar sentido no que escrevemos. https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/188/Guia_Reforma_Ortografica_CP.pdf 23 Retomando os versos de João Cabral de Melo Neto, necessitamos “catar feijão” – catar palavras, recolher, retirar o que não é bom, o que não é palavra adequada não é palavra boa, para que o texto fique bom. Em seguida, “jogam-se os grãos na água do alguidar”, na intenção de escolher, “e as palavras na folha de papel” que, associadas aos fatores aqui apresentados, certamente resultarão em escrita coesa e coerente, e será bem recebida pelos seus interlocutores. 24 Continho Era uma ver um menino triste, magro e barrigudinho, do sertão de Pernambuco. Na soalheira danada do meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho, imaginando bobagem, quando passou um gordo vigário a cavalo: – Você aí, menino, para onde vai essa estrada? – Ela não vai não, nós é que vamos nela. – Engraçadinho duma figa! Como se chama? – Eu não me chamo não, os outros é que me chamam de Zé. (CAMPO, 1998, p. 24.) Há pessoas que conseguem ver e escrever histórias em todo lugar. Como a oralidade precede a escrita, ou seja: quando aprendemos a ler e a escrever já sabíamos ouvir e falar ou ver e representar, boas histórias têm origem nos ‘causos’, nas prosas, histórias populares, narradas em situações de descanso e lazer. Paulo Mendes Campos escreveu o texto Continho, apropriando-se de uma história oral. Veja-o a seguir. 1.6 O prazer de ler e escrever https://ims.com.br/titular-colecao/paulo-mendes-campos/ 25 O estudo, a partir deste capítulo, permitiu a reflexão sobre o uso da linguagem oral e escrita, identificando os aspectos de aproximação e distanciamento nessas duas modalidades da linguagem verbal. Refletimos sobre a importância de ter domínio das variedades de técnicas de falar e escrever, para que se consiga uma comunicação eficiente. A partir da leitura de alguns textos, observamos os fatores que devem ser considerados na produção de textos orais e escritos, com o objetivo de adequar as formas de linguagem à situação, aos interesses do falante/escritor e do ouvinte/leitor. 1.7 Resumo Agora é a sua vez Agora é a sua vez de ser escritor. Escolha uma história popular que você ouviu e gostou. Crie um ‘continho’. Compartilhe sua escrita com colegas e amigos. 26 Referências ACADEMIA de Letras do Triângulo Mineiro. Monsenhor Juvenal Arduini. Disponível em: <http://academiadeletrastm.com.br/juvenalarduini.php>. Acesso em: 20 jan. 2020. ANDRADE, Carlos Drummond de. Amar. Interpretado por Paulo José. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9ga4DcNqQl4>. Acesso em: 20 jan. 2020. CAMPOS, Paulo Mendes. Continho. In: ANDRADE, C. Drummond de et all. Para gostar de ler. v.1. p. 24. ed. São Paulo: Ática, 1998. IMS – Instituto Moreira Salles. Paulo Mendes Campos. Disponível em: <https:// ims.com.br/titular-colecao/paulo-mendes-campos/>. Acesso em: 20 jan. 2020. CHICO dos bonecos. Francisco Marques. Editora Peirópolis. São Paulo. Disponível em: <https://www.editorapeiropolis.com.br/biografia/?autor=132&nome=Francisco+Marques+%28Chico+dos+Bonecos%29>. Acesso em: 21 jan. 2020. CHICO dos Bonecos. A arte de ensinar. Vídeo. Estevão Marques. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ONRLr6RIQGs>. Acesso em 20 jan. 2020. COMO falar bem: gestos. Leny Kyrillos. Revista eletrônica Você S/A. Vídeo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Wa0UIGPTcio>. Acesso em: 21 jan. 2020. EBIOGRAFIAS. Monteiro Lobato. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/ monteiro_lobato/>. Acesso em: 20 jan. 2020. FALAR bem em público: dom ou aprendizado? Professores Eunice Mendes e Edmundo Conde. Videoaula (2 min.). Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=ZnfjKl151o8>. Acesso em: 21 jan. 2020. http://academiadeletrastm.com.br/juvenalarduini.php https://ims.com.br/titular-colecao/paulo-mendes-campos/ https://ims.com.br/titular-colecao/paulo-mendes-campos/ https://www.youtube.com/watch?v=ONRLr6RIQGs 27 GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1998. ______. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1999. LOBATO, Monteiro. América. Obras Completas de Monteiro Lobato. Vol. 9. São Paulo: Brasiliense, 1957, p.45. MARQUES, Francisco. Muitos dedos, enredos. Um rio de palavras deságua num mar de brinquedos. São Paulo: Peirópolis, 2005. MENDES, Eunice. Comunicação verbal. Entrevistador: Ronie Von. Entrevista concedida ao programa Todo Seu. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=IaQ5G6aiwUU>. Acesso em: 21 jan. 2020. MENDES, E.; HENRIQUES, M. P.; ALMEIDA, L. Falar bem é fácil: um superguia para uma comunicação de sucesso. 2. ed. São Paulo: AGWM, 2008. ROSA, Guimarães. Grande Sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. TUFANO. Douglas. Guia prático da nova ortografia. Saiba o que mudou na ortografia brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 2008. Disponível em:<https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/188/ Guia_Reforma_Ortografica_CP.pdf> . Acesso em: 21 jan. 2020. WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não verbal. 65. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. https://www.youtube.com/watch?v=IaQ5G6aiwUU https://www.youtube.com/watch?v=IaQ5G6aiwUU https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/188/Guia_Reforma_Ortografica_CP.pdf https://www.escrevendoofuturo.org.br/EscrevendoFuturo/arquivos/188/Guia_Reforma_Ortografica_CP.pdf Capítulo 2 Comunicação e textos acadêmicos Objetivos • Ler e relacionar texto e situação de comunicação. • Diferenciar textos usuais no contexto acadêmico. • Identificar as diferenças e semelhanças entre entrevista e debate. • Reconhecer as diferenças entre resumo, resenha, relatório e outras formas de comunicação científica. 30 2.1 Introdução A leitura de textos científicos, jornalísticos, jurídicos, publicitários e literários faz parte do cotidiano do universitário. A variedade de suportes, nos quais esses textos circulam hoje, propicia a cada um escolher o que melhor se adapta aos seus hábitos de leitura: tela do computador, páginas dos livros impressos, revistas especializadas e jornais. O certo é que, nesses suportes, o texto põe o leitor em contato com as informações sobre economia e política, com as discussões sobre as questões ambientais, invenções tecnológicas, acontecimentos reais e ficcionais que nos situam no dinâmico universo da sociedade em que vivemos. A leitura, portanto, faz parte da nossa agenda diária, se nos sentimos motivados a aprender, a criar, a manter diálogos sobre os mais variados temas, com as mais diversas pessoas. Se quiser fazer uma torta de maçã a partir do zero, primeiro você terá de inventar o universo. Carl Sagan https://www.infoescola.com/biografias/carl-sagan/ 31 2.2 Comunicação verbal no contexto acadêmico 2.2.1 A noção de texto A comunicação entre os humanos se faz com gestos, movimentos, sinais e palavras. As pessoas se comunicam em diferentes situações, produzindo textos desde a infância. Mas é na escola, quando aprendemos a ler e a escrever, que a palavra texto passa a ocupar um bom espaço em nosso dia a dia. Ouvimos as pessoas dizerem “leia o texto”, “escreva um texto”, “gostei de seu texto”, “foi publicado um texto no jornal”, “o texto constitucional garante”. Ouvindo essas expressões, relacionamos texto a uma sequência articulada de palavras escritas que, em maior ou menor extensão, nos permite: • conhecer histórias de ficção; • obter informações; • aprender física, química, biologia; Neste capítulo, trataremos de textos que nascem de outros textos com a finalidade de registrar os estudos no dia a dia do curso de graduação, ou seja, vamos observar as formas de textos acadêmicos. O que pretendemos é mostrar a você alguns caminhos que possam auxiliá-lo(a) na prática da leitura e da escrita durante o processo de formação universitária. Por isso, ao demonstrar os modos de organização de alguns textos, faremos comentários sobre os recursos de linguagem verbal neles utilizados. Esperamos que esse estudo possa lhe ser útil, quando for expressar suas ideias, opiniões e apresentar-se em situação de comunicação acadêmica. 32 • saber as leis de uma sociedade, sobre a política e os costumes dos povos; • conhecer a geografia e a história de um país, o pensamento do colega, do cientista ou do poeta; • expressar o que pensamos e o que sentimos. Construímos relações humanas com gestos, desenhos e falas; mas também as construímos por meio da escrita. Em ambas situações, o texto é a morada da palavra que tem sentido. Entre os povos que não adotaram a escrita, as comunidades ágrafas, existem textos? Como são passadas as tradições, os costumes, as normas de convivência, o conhecimento de geração em geração? À medida que essas questões vão sendo respondidas, a imagem de texto vai se diversificando. Empregamos a palavra TEXTO para nomear diferentes objetos, por exemplo, sequências de: • gestos nos rituais; • formas, linhas e cores, em uma tela plana; • sons, nos diálogos e músicas; • sinais gráficos sobre um papel; • de imagens em quadrinhos. Veja a imagem a seguir. 33 Podemos indagar: o que há de comum entre uma fotografia, um poema, uma história em quadrinho, um filme, uma letra de música, um ritual indígena e uma sequência musical, para que todos sejam denominados TEXTO? Observando, podemos constatar que todos eles: • surgem de uma necessidade: a pessoa (o autor) quer se expressar para intencionalmente se relacionar com outra pessoa; • trazem as marcas do seu autor (falante ou escritor) e do seu destinatário: leitor, espectador, ouvinte; • ocorrem em uma certa situação; • são produzidos com base em um código, um sistema de sons, cores, movimentos ou sinais gráficos; • suas partes ou sequências remetem umas às outras formando uma unidade. Essa unidade ganha sentido porque mantêm relação com o mundo do autor e do destinatário. UNIDADE DE SENTIDO TEXTO 34 2.2.2 Texto e hipertexto Na elaboração de um texto, como os fios de uma trama, os elementos verbais e não verbais estabelecem as relações internas e externas, organizam-se, unem-se e produzem uma unidade de sentido – o texto. O texto é, portanto, construído em situação de interlocução e necessita de condições para sua existência. Entre essas condições, destacam-se: • a intencionalidade; • a organização interna de suas partes; • as relações de sentido entre as partes (coesão); • as relações de sentido do texto com o contexto externo (coerência); • a receptividade. Texto Hipertexto 35 Por entre os fios da trama, há muitos nós, ligando um fio ao outro como em uma rede. A imagem da rede auxilia a entender que é preciso tecer o texto, escolhendo os recursos linguísticos de que dispomos para expressar sentimentos e saberes. Um texto, por exemplo, pode ter muitos nós, ou seja, entrada ou saída para outros textos:os denominados links. Links textuais não são uma novidade dos tempos da cibernética. Eles sempre existiram nos textos orais e escritos. Em uma conversa, as pessoas se apropriam das falas umas das outras para dar continuidade ao diálogo; nos textos escritos, com as notas de rodapé, referências bibliográficas, citações, o escritor põe o leitor em contato com outras escritas. Então o que há de novidade sobre o link? O vocábulo em inglês significa ligação, conexão, laço, elo, vínculo. A novidade é a mudança dos suportes para as mídias digitais e a velocidade com que a tecnologia da informação multiplica links e constrói os grandes textos – os chamados hipertextos. Os hipertextos compõem-se de uma multiplicidade de textos, de vozes e de linguagens que circulam nas hipermídias. No cenário da escrita, no passado ou no estimulante presente das tecnologias na comunicação, há diferença entre a maneira de ler um artigo de jornal ou um poema, um romance ou um tratado científico? Quem ou o quê determina o modo de leitura de um texto? Vamos buscar respostas para essas perguntas, fazendo a leitura de dois pequenos textos que têm finalidades diferentes. https://hipermidias.wordpress.com/2007/10/05/hipermidia-o-que-e-isso/ 36 Esta narrativa é uma fábula. As fábulas nos remetem a questões complexas da vida, que são apresentadas de uma forma simples e concisa. Algumas circulam há séculos, mas, em cada época em que são lidas, elas se renovam. Texto 1 A assembleia dos ratos Um gato de nome Faro -Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casa velha que os sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome. Tornando -se muito sério o caso, resolveram reunir -se em assembleia para o estudo da questão. Aguardaram para isso certa noite em que Faro Fino andava aos miados pelo telhado, fazendo sonetos à Lua. – Acho – disse um deles – que o meio de nos defendermos de Faro -Fino é lhe atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia, e pomo -nos ao fresco a tempo. Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia. O projeto foi aprovado com delírio. Só votou contra um rato casmurro, que pediu a palavra e disse: – Está tudo muito direito. Mas quem vai amarrar o guizo no pescoço de Faro -Fino? Silêncio geral. Um desculpou- se por não saber dar nó. Outro, porque não era tolo. Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu -se no meio de geral consternação. Dizer é fácil; fazer é que são elas! (LOBATO, 1994, p.190). 37 Observe: 1. as partes dessa fábula: • uma situação inicial: os estragos de Faro Fino; • a mudança nessa situação: a assembleia; • o desenvolvimento (desdobramentos): a reflexão e a decisão da assembleia; • uma situação final: a impossibilidade de pôr em prática a decisão. 2. alguns elementos garantem a conexão entre as partes da narrativa: a pontuação, os tempos verbais (deu, resolveram, disse), as expressões “para isso”, “assim que”, “um e outro”. São elementos de coesão. Estando articuladas e bem conectadas, a história vai progredindo e as partes formam um texto único. Um todo coeso, um todo que faz sentido para o leitor. 3. com o conhecimento de mundo que temos, relacionamos a situação vivenciada pelos ratos com as situações cotidianas, valores culturais e pontos de vista de pessoas de nosso convívio social. 4. encontramos uma coerência na história narrada, embora saibamos que animais não falam. 5. entendemos que, em textos literários, a coerência advém de um pacto do leitor com a criação, com a inventividade, com a imaginação do autor. 6. nessa fábula, o autor faz uso da criatividade para, simbolicamente, apresentar valores morais das sociedades humanas. 38 Esse texto foi retirado de uma publicação dirigida a pessoas que se interessam por construir conhecimentos básicos sobre Direito. Lendo -o, podemos observar que o autor: Texto 2 O Termo Direito Não é fácil perceber todas as significações encerradas no termo “Direito”, ou tirar desse termo o conteúdo que possa nos aproximar da compreensão do que seja a finalidade da ciência que pretendemos conhecer: direito, do latim directus, adj. colocado em linha reta; direito, reto; certeiro; direto; preciso. O vocábulo ora significa: a) ordenamento ou norma conjunto de normas ou sistema jurídico vigente num país: o Direito da Alemanha; b) autorização ou permissão de fazer o que a norma não proíba, ou o que a norma autorize, ou seja, certo poder de exigir ou dispor de uma ação: isso é direito meu; c) qualidade do que atende a um anseio de justiça e retidão, do que é justo e reto: isso não é direito; d) prerrogativa que alguém possui de exigir de outrem a prática ou abstenção de certos atos: defendo -me porque alguém põe em risco o meu direito; e) ciência de norma coercitivamente imposta (obrigatória): o Direito é a ciência normativa; f ) conjunto de conhecimentos acerca dessa ciência: essa regra de Direito. Também pode significar um conjunto de conhecimentos englobantes, que se ocupa de uma série de disciplinas diferentes: “a filosofia do Direito, a sociologia do Direito, a história do Direito e a Jurisprudência (“dogmática jurídica”), para se referir somente às mais importantes. (NERY, 2002, p. 21). 39 Cada texto tem existência própria e surge sempre de uma situação de comunicação. Toda situação comunicativa pressupõe a existência de interlocutores. A escolha e a organização dos elementos linguísticos pelo autor e o conhecimento de mundo do leitor interferem na construção e compreensão do texto. Importante Com base nos aspectos abordados anteriormente, podemos inferir que a comunicação verbal, nas formas da oralidade ou da escrita, encontra-se presente na quase totalidade das ações humanas, sejam elas individuais ou coletivas. Ao contar, interpretar, dialogar, produzir, registrar e difundir conhecimentos, as pessoas produzem textos com os recursos e conhecimento de mundo que têm disponíveis em seu repertório. • situa -se como alguém solidário ao leitor, quando usa as expressões "...nos aproximar ...pretendemos"; • fornece pistas para o leitor ampliar seu conhecimento acerca do assunto quando fundamenta suas explicações, recorrendo a outros autores; • usa termos técnicos e preocupa- se em traduzir, nos parênteses, cada palavra que possa impedir a compreensão do significado do termo Direito. O leitor se sente amparado pelo autor que parece compreender suas dificuldades de se relacionar com um assunto novo. Podemos afirmar que o objetivo do autor, nesse texto, é didático, ou seja, facilitar a compreensão do significado do termo Direito. 40 Embora seja uma unidade de sentido, o texto relaciona-se com tantos outros textos que o antecederam ou que poderão surgir a partir dele. Pela sua forma de organização, é o próprio texto que aponta os caminhos para que o leitor o interprete, o compreenda, encontrando os seus sentidos. A noção de texto não se restringe ao texto escrito; assim, o ato de ler deve também ser entendido em seu sentido mais amplo. O ato de ler consiste no momento em que o leitor age com a intenção de compreender a unidade de sentido que é o texto. 41 Grupos Gêneros Necessidades/ Objetivos Variantes 1 Literário Expressar criativa e esteticamente pela escrita. Poemas e narrativas: trovas, sonetos, romance, crônica, novela e conto. 2 Oficial (legal, jurídico e comercial) Estabelecer comunicação formal e registros em ambientes de trabalho público e privado. Memorando, ofício, parecer, requerimento, lei, regimento, carta comercial. Quadro 1: Gêneros textuais e variantes 2.3 O texto acadêmico Alguns tipos de textos são reconhecidamente apropriados às situações de aprendizagem e ensino na universidade. Mas, como a universidade é um espaço de pesquisa, de diálogos e reflexão, de circulação de informações, de produção e difusão de conhecimentos acumulados, em princípio, os textos que circulam no contexto acadêmico são os mesmos que se encontramdisponíveis para os cidadãos na sociedade, em Bibliotecas e bancos de dados na internet, por exemplo. Considerando as funções sociais da escrita, é possível identificar, basicamente, cinco grupos de gêneros de textos: 1- literário; 2- oficial; 3- filosófico/científico; 4- jornalístico/ publicitário; 5- religioso. Os gêneros surgem na prática do uso da linguagem verbal e não verbal e atendem a certas necessidades, em diferentes situações de comunicação. Cada gênero tem suas variantes como indicado no quadro seguinte. 42 A leitura de textos científicos, técnicos e didáticos pode ser realizada para: • subsidiar as reflexões em sala de aula; • incentivar a pesquisa e produção de novos conhecimentos; • promover a ampliação do conhecimento de mundo e a formação do profissional nas diferentes áreas. Esses textos encontram-se acessíveis em livros, boletins, revistas especializadas e jornais, em mídia impressa ou on-line. Os textos produzidos pela comunidade acadêmica podem ser motivados pelas circunstâncias sociais, históricas e situacionais, vivenciadas na sociedade. Grupos Gêneros Necessidades/ Objetivos Variantes 3 Filosófico, científico (técnico e didático) Registrar e divulgar reflexões, fenômenos naturais, processos sociais, resultados de investigação científica. Tratado, artigo, resumo, resenhas, relatórios, monografia, dissertação 4 Jornalístico e publicitário Divulgar informações, produtos e formar opinião. notícias, publicidades, reportagens, editoriais 5 Religioso Difundir princípios religiosos; doutrinar. parábolas, sermões, evangelho, cânticos e orações. Fonte: Adaptado de Santos ( 2001. p. 33). 43 No ambiente universitário, você é solicitado a registrar o que ouve e lê, a dizer o que leu, a opinar sobre o assunto que pesquisou. Você produz textos para apresentar ao professor e aos colegas em sala de aula, em eventos científicos ou para publicar em periódicos. A escola adota, então, alguns modelos de textos, adequando -os aos estudos que os alunos e os professores desenvolvem para a progressiva ampliação e partilha de conhecimentos necessários à formação profissional. O debate, a entrevista, o artigo, a resenha, o resumo, o projeto, o relatório, a monografia, o portfólio são produzidos com a finalidade de alimentar o processo de ensinar e de aprender. 44 2.4 A organização de textos orais A produção dos textos orais é tão variada quanto variadas são as situações de encontros entre as pessoas. Ainda assim, podemos identificar uma estrutura de base em todos os textos orais. É a estrutura do diálogo. • Há sempre a suposição de que uma pessoa se dirige a outra. • A fala pode ser mais espontânea ou mais formal, conforme a pessoa esteja mais ou menos à vontade na situação. • Há gestos, expressões faciais, hesitações, que complementam a fala. • As pessoas falam a mesma língua. Nessa perspectiva, denominamos textos acadêmicos ao conjunto da produção textual, nas modalidades oral ou escrita, formalmente utilizado por alunos e professores e que têm por finalidade ampliar os conhecimentos sobre um assunto, registrar as reflexões e gerar novos conhecimentos no contexto da Universidade. 45 2.4.1 A entrevista Você já foi entrevistado(a)? Já entrevistou alguém? Já assistiu a uma entrevista de algum grupo musical ou de uma equipe esportiva? Certamente, em todas essas situações, reconhecemos dois papéis distintos, presentes em toda entrevista: o papel do entrevistador, que é o responsável por abrir o diálogo, fazer as perguntas, dar continuidade ao assunto, controlar os rumos da conversa e encerrar a entrevista; e o papel do entrevistado, que é o de responder às perguntas. A entrevista se organiza a partir de um esquema padrão: • situação inicial: apresentação dos interlocutores e as razões da entrevista (INTRODUÇÃO). • desenvolvimento do diálogo: sequência de perguntas, respostas e comentários que estabelecem a relação entre um e outro ponto da conversa (DESENVOLVIMENTO). 46 • finalização da entrevista: palavras finais, despedidas, agradecimentos que nem sempre vêm transcritos quando a entrevista é publicada (FECHAMENTO). Embora sigam um esquema básico, são diferentes a entrevista que o profissional da saúde faz com o paciente da entrevista que o repórter realiza com o político; ou aquela entrevista que o candidato a um emprego concede ao gerente da empresa. Essa variação decorre dos propósitos das pessoas em cada situação. Em todas elas, as habilidades de comunicação oral do entrevistador e do entrevistado contribuem para o êxito da entrevista e, consequentemente, para o alcance dos objetivos. Observe o vídeo, a seguir, em que o apresentador Antônio Ambujamra entrevista a filósofa Viviane Mosé. Essa primeira entrevista faz parte de uma série, disponibilizada na TV Cultura Digital. Vale a pena ver toda a série! 47 Agora é a sua vez Experimente ler uma entrevista impressa, do começo ao fim, observando as partes do texto. Pesquise em jornais e revistas de circulação nacional, que são direcionados a um grande número de leitores, as sessões denominadas entrevistas. Encontre pistas no texto para responder às seguintes indagações: • entrevistador e o entrevistado estão cientes de que a finalidade da entrevista é ser divulgada, na mídia impressa? • a linguagem varia de um tom mais formal a menos formal, chegando a informal? • é possível identificar um roteiro (esquema) da entrevista? • há momentos em que o leitor se descontrai e logo retoma o ritmo da leitura? Há programas na mídia televisiva que se sustentam no ar, há anos, e são cuidadosamente direcionados a um público mais restrito, por exemplo, o Roda Viva. O nome Roda viva evoca a ideia de movimento, que é confirmada no cenário do programa: o entrevistado ao centro, os entrevistadores em volta e, à medida que é cedida a palavra a um e a outro entrevistador, o entrevistado se volta para um ou outro lado, movimentando a cadeira giratória. Para assistir alguns dos melhores momentos das mil primeiras entrevistas do programa Roda Viva, você poderá acessar o site da TV Cultura. Na oportunidade, você terá um passeio histórico acerca das reflexões de importantes intelectuais de nosso país. https://tvcultura.com.br/videos/13878_edicao-dos-melhores-momentos-das-mil-primeiras-entrevistas-do-roda-viva.html 48 2.4.2 O debate O debate é uma situação de comunicação motivada pela necessidade de esclarecimento sobre temas polêmicos, pela existência de novas descobertas científicas e pelo interesse em buscar soluções para questões sociais, econômicas e políticas. A realização de um debate, no espaço acadêmico, requer: • uma definição dos objetivos: para quê? Qual a finalidade do debate? • o estabelecimento de normas: os debatedores devem conhecer e concordar com as regras estabelecidas, relacionadas ao tempo para a exposição, para a formulação de perguntas e respostas; Em síntese, pode-se afirmar que a entrevista corresponde a uma situação de comunicação em que estão envolvidos o entrevistador e o entrevistado e: a. se organiza com base na apresentação dos motivos, na sequência de perguntas e respostas, no fechamento; b. apresenta -se em estilos diferentes: entrevista jornalística, médica, empresarial, científica; c. deve ser adequada ao suporte (meio utilizado para divulgação), conforme o público que se quer alcançar: ao vivo, transmitida pela TV e rádio; publicada, em periódicos impressos ou on-line; d. é realizada com finalidades diversas: selecionar candidatos; conhecer o paciente ou dar um diagnóstico; esclarecer a população sobre determinado assunto; divulgar conhecimentos científicos; colher dados para pesquisa. Sintetizando 49 • a presença do moderador: aquele que coordena o debate e é o responsável por garantir a progressão das ideias em torno do tema que está em questão. No espaço da sala de aula, essa função normalmente é exercida pelo professor. Nada impede que seja desempenhadapor um aluno; • a presença dos debatedores: eles podem se servir de documentos, anotações para fundamentar o seu ponto de vista ou comprovar suas afirmações. Com a inovação tecnológica e a acessibilidade aos recursos digitais, o debate no meio acadêmico tem ocorrido em diferentes espaços virtuais, com grande potencial para a reflexão e a discussão sobre os mais variados temas. O estudo, a pesquisa e a leitura dos temas a serem debatidos são necessários à preparação prévia dos argumentos que validarão o ponto de vista dos debatedores. Importante • Podemos distinguir dois tipos de diálogos: os informais (bate -papos) e as conversas dirigidas (entrevistas e debates). Uma entrevista, que pode ser de coleta de dados para uma pesquisa ou para a realização de uma matéria jornalística. • Essas situações de comunicação oral podem ser adequadas ao exercício do ensinar e do aprender. • O debate tem um esquema básico de organização: pessoas se reúnem para apresentar suas razões a favor ou contra uma ideia ou acontecimento. • Quem participa de um debate usa argumentos para defender um ponto de vista sobre determinado assunto e pode levar o seu interlocutor, o público ouvinte ou espectador, a pensar como ele, isto é, pode formar opinião. 50 2.5 A organização de textos escritos Quanto mais temos contato com as formas de textos, mais fácil se torna reconhecê -las e utilizá-las com adequação em benefício próprio e coletivo. Vamos mostrar a seguir a organização de alguns textos mais frequentes, tanto para a leitura, como para a redação de trabalhos que desenvolvemos na Universidade. As universidades, no mundo todo, têm sido um lugar privilegiado para a produção, validação e certificação do conhecimento. Outro compromisso da comunidade acadêmica é o de difundir o conhecimento científico. Com essa finalidade, são criados os periódicos especializados e os livros didáticos. O intuito é tornar o conhecimento disponível mais acessível para os pesquisadores iniciantes. Colaboram para essa prática algumas formas de textos que se tornaram recorrentes no desenvolvimento dos estudos na Universidade. Se considerarmos a organização e as finalidades, podemos identificar três grupos distintos entre as formas de textos acadêmicos mais frequentes nos cursos de graduação. • No meio acadêmico, o debate contribui para a ampliação das reflexões e para a divulgação dos conhecimentos científicos. A situação de debate é vivenciada em seminários, aula dialogada e mesa redonda, fóruns de discussão on-line, entre outras. 51 2.5.1 Primeiro grupo: resumo e resenha O resumo e a resenha têm origem em outros textos, pois a finalidade deles é apresentar obras já prontas, sejam elas jornalísticas, artísticas, científicas. São práticas textuais que exigem habilidades de observação e análise. Em determinadas situações, exigem mais de seu autor: são necessários consistentes conhecimentos sobre o assunto tratado na obra, para identificar o pensamento do autor e saber traduzi -lo. Em uma resenha, vamos além: é preciso saber situar a obra e o pensamento do autor em comparação com outras obras e emitir um julgamento sobre ela. A organização textual da resenha e do resumo pode variar em decorrência: • do gênero da obra que lhes dá origem; • dos objetivos com que são produzidos; • do suporte para sua publicação. - Resumo É um texto explicativo, de dimensões menores do que o texto que lhe dá origem. Sua finalidade é traduzir, em menos palavras, o pensamento que está no texto de origem, mas cuidando de preservar as intenções do autor e realçar os pontos para os quais esse autor dispensou maior atenção. 52 Importante Interessante lembrar: um mesmo texto pode dar origem a diferentes resumos, pois cada pessoa que resume considera relevantes os aspectos que estão relacionados ao motivo pelo qual está lendo a obra. Exemplos de resumos de comunicação científica Título Autoria Resumo/texto As publicações eletrônicas dentro da comunicação científica Marcelo Sabbatini Instituição: UMESP O presente trabalho caracteriza e descreve o surgimento das publicações eletrônicas científicas na Internet, traçando o histórico de seu desenvolvimento e abordando também as principais questões envolvidas na transição do modelo de publicação baseado no papel para o modelo eletrônico... IN TR OD UÇ ÃO DE SE NV OL VI ME NT O CO NC LU SÃ O 1ª parte situa o tema ...dentre as quais se destacam as questões dos direitos autorais, a questão econômica, a legitimidade acadêmica, a percepção de qualidade e o acesso e preservação destas publicações, que são tratadas na revisão da literatura sobre o tema. 2ª parte Destaca as questões da transição entre os modelos de publicação Dentro destas questões, uma grande relevância é dada em relação ao papel que as publicações eletrônicas terão dentro do sistema sociotecnológico presente atualmente na sociologia e nos processos comunicacionais da ciência. 3ª parte Conclui, situando a relevância do tema para a ciência Fonte: Sabbatini (2019). Exemplo 1 53 Título Autoria Resumo/texto Um olhar sobre o humor em Dom Casmurro Acadêmica: Márcia Regina Pires Orientador(a): Profa. Me. Ivanilda Barbosa Instituição/curso: Universidade de Uberaba Uniube/Curso de Letras Uma característica marcante do discurso literário de Machado de Assis é o humor, que se evidencia, sobretudo, em seus romances da segunda fase. O romance Dom Casmurro, publicado em 1899, é uma das obras mais discutidas pela crítica literária ainda nos dias de hoje. Esta obra participa da segunda fase da produção machadiana e se distingue pela abordagem psicológica, pela análise crítica dos sentimentos e intervenções do narrador que dialoga, constantemente, com os leitores. IN TR OD UÇ ÃO DE SE NV OL VI ME NT O CO NC LU SÃ O 1ª parte situa o tema, o autor e a obra O objetivo deste estudo foi observar o humor que é configurado na narração deste romance sob o foco do personagem protagonista, Bentinho. Uma análise semântica e estilística permitiu-nos observar o humor sob três perspectivas: o humor-graça, o humor-intimidade e o humor-ironia. Percebeu- -se que o humor foi instituído, não de forma evidente e despojada, mas sutilmente, provocando o envolvimento do leitor, de maneira quase imperceptível, porém gradativa. Constatou-se que a maturidade do narrador possibilita uma visão mais ampla de sua história e, assim, Bentinho assume a posição de quem assiste cenas de sua existência, construindo uma narração crítica como quem, a distância, observa, comenta e ironiza situações. 2ª parte Apresenta o objetivo, os pressupostos e a metodologia para análise Concluiu-se que o humor em Dom Casmurro foi propositalmente empregado, ora para estabelecer uma intimidade com o leitor, ora para surpreendê-lo, ora para chamar-lhe a atenção e convidá- lo a refletir sobre a condição humana. Área de conhecimento: Linguística, Letras e Artes Palavras-chave: humor, romance, literatura 3ª parte Conclui, explicitando o humor como recurso de interlocução Fonte: Pires (2000). Exemplo 2 54 Resumo Texto sem subdivisões, embora apresente três partes situa o assunto do texto que está sendo resumido.1ª parte Introdução apresenta o conteúdo das partes do texto que está sendo resumido. 2ª parte Desenvolvimento apresenta as conclusões do autor do texto que foi resumido.3ª parte Conclusão Veja um breve resumo do romance Caim, do escritor português José Saramago: Resumo do romance Caim, de José Saramago. portaldaliteratura.com Para redigir um resumo, é preciso ter compreendido detalhadamente o texto. Vale lembrar: um aluno do curso de Teologia e outro do curso de Letras, tendo lido esse romance, provavelmente vão destacar em seu resumo os aspectos de acordo com a sua área de estudos. Mas, uma coisa é fundamental: é importante que os dois mantenham as informações ou o ponto de vista do autor sobre cada aspecto que indicarão como relevantes.- Resenha É um texto que tem por finalidade apresenta, com detalhes, uma obra que lhe dá origem. Ou seja: fornece dados de identificação da obra; descreve o conteúdo e a http://www.portaldaliteratura.com/livros.php?livro=4689#ixzz0fHXcjhXf 55 composição; analisa os recursos utilizados; analisa a pertinência do pensamento do autor em relação ao conhecimento já disponível; avalia a importância da obra e sua contribuição para o desenvolvimento do contexto social, científico e cultural. Exemplificando Resenha de livro publicada em revista impressa A Questão Ambiental – Diferentes abordagens de Sandra Baptista da Cunha e Antônio José Teixeira Guerra (orgs.) Bertrand Brasil, 252 p. Ecologia virou moda, disciplina de escola, programa de TV, bandeira política e campo profissional. O assunto envolve vários discursos arriscados: o reducionismo do senso comum, o tecnicismo dos burocratas, a demagogia dos governantes de plantão. Como entender as causas econômicas e políticas das agressões à natureza e, ao mesmo tempo, capacitar-se para enfrentá-las no campo dos conceitos históricos, filosóficos e políticos? Esta coletânea de ensaios tenta encontrar um equilíbrio entre ideologização e prática, causa e consequência, técnicas e leis. É o sétimo de uma série de obras da Bertrand Brasil sobre o meio ambiente. Fonte: Fluxos - Revista do Instituto de Humanidades da Universidade de Uberaba. p. 46, 1º/2003. 56 Agora, observe outro exemplo, com o detalhamento de sua organização. Exemplificando Autor da resenha: Renato Muniz Barreto de Carvalho* BARBOSA, Ivanilda; ELIAS, Silvana; RESENDE, Vania Maria (Orgs.). Brasil à luz do espelho – sombras, conflitos e reflexões. São Paulo: Humanitas, 2019. Brasil à luz do espelho – sombras, conflitos e reflexões. São Paulo: Humanitas, 2019. BARBOSA, Ivanilda; ELIAS, Silvana; RESENDE, Vania Maria (Orgs.). Brasil à luz do espelho: sombras, conflitos e reflexão é uma coletânea de artigos nos quais se discutem temas relacionados a política, educação, literatura, arte, mídias, questões de gênero, espiritualidade, informação, economia, contexto jurídico e meio ambiente. Livros são sempre necessários. Fazem parte da nossa cultura há séculos e, ao contrário do que alguns alegam, não estão condenados ao desaparecimento. Os livros reúnem ideias, práticas e reflexões sobre as questões humanas em suas dimensões social, cultural, política, artística e científica. Constituem parte indissociável da memória da humanidade, anunciam o porvir e a esperança e não é possível caminhar rumo ao futuro sem eles. Estas foram algumas das proposições levadas em conta para a reunião dos textos que compõem esse livro. Identificação da obra Autoria Apresentação da obra, destacando o tema 57 Trata-se de uma obra coesa e repleta de diversidade: 54 autores de diversas regiões do país, convidados para pensar a realidade brasileira do século XXI, resultando em 46 artigos. Na ordenação dos artigos considerou-se a ordem alfabética dos nomes dos autores. Com um explícito compromisso humanista e plural, a obra conta com a colaboração de profissionais de diferentes áreas do conhecimento e história de trabalho dedicado à vida pública, para contribuírem com o que o momento exige: um diálogo aberto, democrático, sobre os rumos e as possibilidades da democracia no tempo presente. Afinal, tempos implicados em contradições políticas e culturais acirradas pedem análises múltiplas e que suscitem o pensamento crítico. A coletânea organizada por três professoras com destacada trajetória intelectual ligada à política educacional e cultural em Uberaba (MG), desponta como iniciativa privilegiada na busca pelo entendimento da crise que desgasta as relações sociais no mundo e, especificamente, no Brasil neste início de século. Apresentando uma pluralidade instigante e imprescindível de temas para a compreensão da realidade atual, o livro também oferece subsídios a atividades pedagógicas em diferentes áreas do conhecimento e pode ser lido, compreensivamente, por alunos do Ensino Médio e de cursos superiores. * Renato Muniz Barreto de Carvalho é mestre em Geografia, foi professor de cursos universitários, é autor de livros de contos e romance, tem publicado crônicas e artigos sobre temas do cotidiano em Jornais de circulação diária. Organização da obra Resumo comentado sobre o assunto Análise e avaliação da obra Indicação de leitura Dados do autor da resenha 58 Relatório de pesquisa Introdução Apresentação do tema da pesquisa, importância científica, social e cultural: como o assunto foi problematizado, os objetivos do pesquisador. Referencial teórico Apresentação das teorias nas quais se sustentaram as reflexões desenvolvidas, discutindo o tratamento científico que já havia sido dado ao tema. Metodologia Descrição detalhada dos instrumentos, métodos e procedimentos utilizados para coleta e seleção do material (ou corpus) a ser estudado e do processo de tratamento dos dados obtidos. Se compararmos os quadros aqui apresentados, podemos afirmar que os textos acadêmicos escritos contêm uma estrutura básica: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Quando redigidos e enviados para publicação, devem conter os dados de identificação do autor e do tipo de texto que está sendo apresentado. 2.5.2 Segundo grupo: relatório e portfólio O relatório e o portfólio têm origem em um trabalho já realizado ou que está realizando- se. A finalidade é contar o que se desenvolveu ou o que foi observado em uma experiência ou o que se realizou em um período ou fases de um estudo. São documentos de grande importância, pois fornecem dados e informações relevantes para o desenvolvimento de pesquisa, a gestão de recursos humanos e para a destinação de recursos financeiros, seja no meio acadêmico ou no setor público ou empresarial. Embora apresentando algumas variações, são organizados de forma muito semelhante. Verifique os esquemas a seguir. D es en vo lv im en to 59 Relatório de pesquisa Apresentação dos resultados Exposição dos resultados obtidos, ordenados conforme os objetivos da pesquisa. Análise dos resultados Exame e interpretação dos dados, relacionando -os ao referencial teórico de forma a levar à aceitação ou à refutar as hipóteses estabelecidas. Conclusão Breve retomada dos aspectos desenvolvidos em cada um dos itens anteriores, comparando os resultados obtidos aos objetivos que nortearam a pesquisa. Apresentação de sugestões ou recomendações, sobretudo quando a pesquisa tem por objetivo a resposta imediata a uma situação- problema. Sugestões e/ou recomendações são necessárias quando a pesquisa realizada visa a solução de um problema concreto ou a resposta a uma necessidade imediata. De se nv ol vi m en to - PORTFÓLIO A palavra portfólio é de origem latina e significa coleção daquilo que está ou pode ser guardado em um porta-folhas. Bastante adequado para registro de experiência nas áreas de Artes e Arquitetura, revelou-se adequado para a reunião das diferentes produções do aluno, baseada nos registros de suas reflexões, de suas leituras, de suas indagações e de suas criações. Com as características de um hipertexto, comporta muitos outros textos de diferentes linguagens, que se relacionam entre si para formar uma narrativa. Mostra o movimento do autor em seu processo de formação, expressando o desenvolvimento de sua própria aprendizagem. 60 Portfólio: conceito e construção uniube.br 2.5.3 Terceiro grupo: comunicação, artigo científico e monografia Comunicação (paper), artigo científico e monografia são textos geralmente elaborados para publicação em periódicos especializados ou em anais de eventos científicos. Têm por objetivo apresentar e avaliar as novidades em pesquisas ou refletir sobre fatos de relevância científica e cultural. Eles se apresentam como um texto integral, organizados em introdução, desenvolvimento (corpo) e conclusão. Os dois
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