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AURA - Aula 3

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MÉTODOS ADEQUADOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
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Professora Amanda de Lima Vieira
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O ACESSO À JUSTIÇA COMO FUNDAMENTO DOS MÉTODOS ADEQUADOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITO
“Acesso à justiça” como “garantia fundamental de direitos” - é possível garantir a efetivação de um direito se for garantido o acesso ao Poder Judiciário. Essa acepção volta-se ao resultado da atuação do Poder Judiciário na efetivação de direitos e tem foco na efetividade dos instrumentos jurídico-processuais voltados a reduzir as dificuldades no acesso à justiça estatal e a propor novos instrumentos jurídico-processuais mais aptos a tal finalidade;
“Acesso à justiça” como “acesso ao direito” – procura-se deslocar o eixo de atuação da proteção estatal para a participação do próprio jurisdicionado na solução de seus conflitos. Nesse sentido, compreende medidas preventivas de conflitos, baseadas no conhecimento dos direitos pela população em seu grau mais abrangente (direito de acesso a informações relevante a suas decisões particulares e de ser informado sobre seus direitos); o direito de participar das decisões do Estado em relação à implementação de tais direitos, por via direta ou por representantes (o que pode ter caráter preventivo ou repressivo, conforme o direito posto em causa) e o reconhecimento do direito de buscar solução para os conflitos existentes por meios não-estatais (por exemplo, por mediação, arbitragem ou técnicas psicológicas, como a constelação familiar).
ACESSO À JUSTIÇA
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O Princípio do Acesso à Justiça, balizado pelo artigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal de 1988, garante a todos nós a possibilidade de ir ao Estado-Juiz com o fito de garantir Direitos. 
 
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Os Métodos adequados de solução de conflitos se enquadram nessa forma da sociedade garantir o seu acesso à justiça?
Acesso à justiça como princípio essencial do Estado Democrático de Direito – Estado deve garantir isonomia substancial a todos os cidadãos. 
Cândido Rangel Dinamarco - cobertura geral do sistema de direitos, destinada a entrar em operação quando haja queixa de direitos ultrajados.
ACESSO À JUSTIÇA
Tradicionalmente: o acesso à justiça estava atrelado aos direitos individuais, limitado ao direito formal de ajuizar uma ação e de apresentar defesa na condição de réu. O acesso à Justiça seria um direito natural e, portanto, não demandaria uma atuação estatal para assegurá-lo, permanecendo o Estado passivo em relação à situações, como, a aptidão, ou não, de uma pessoa para reconhecer seus direitos e defendê-los adequadamente.
ACESSO À JUSTIÇA
Passagem do Estado Liberal para o Estado Social:o acesso à Justiça passou a ser reconhecido como requisito fundamental para assegurar – e não apenas proclamar – direitos . Porém, não havia uma preocupação com sua efetividade. Era preciso reconhecer que a técnica processual atenderia funções sociais; que os tribunais não eram a única forma de solucionar conflitos e que a regulamentação processual, inclusive a criação ou o encorajamento de alternativas ao sistema judiciário.
ACESSO À JUSTIÇA
Sempre lembrado através do Projeto Florença
acesso à justiça” como “inafastabilidade da jurisdição”, em que se adota como premissa a possibilidade dada a qualquer pessoa de ter seu litígio apreciado pelo Estado. Tal ideia decorre especialmente da ênfase dada à estatalidade da justiça e da primazia do Poder Judiciário como solucionador de conflitos. Assim, os estudos dessa natureza se vinculam a identificar os instrumentos pelos quais a população pode (pelo menos em teoria) acessar o Poder Judiciário;
ACESSO À JUSTIÇA
Projeto Florença: Mauro Cappelletti, em colaboração com Bryant Garth e Nicolò Trocker, publicada em 4 (quatro) volumes. O objetivo do estudo era delinear o surgimento e desenvolvimento de uma abordagem nova e compreensiva do acesso à Justiça na sociedade contemporânea, baseada na ruptura com a crença tradicional da confiabilidade das instituições jurídicas e no desejo de tornar efetivo o direito de todos os cidadãos , especialmente porque, na época de desenvolvimento do projeto, eram frequentemente denegados o acesso à Justiça para o reconhecimento de direitos relacionados ao meio ambiente e aos consumidores . O projeto de pesquisa resultou em um relatório comparativo sobre o acesso à Justiça, com escala mundial, preparado em Florença, na Itália, a partir do outono de 1973, envolvendo 100 experts de 27 países.
ACESSO À JUSTIÇA
Primeira Onda Renovatória: nos países ocidentais envolveu os hipossuficientes. Na maioria dos países, o auxílio de um advogado é essencial, se não for indispensável, para a compreensão do formalismo das leis e dos tribunais. Porém, a assistência judiciária gratuita foi constada como insuficiente, porque os advogados mais experientes tenderiam a concentrar seu tempo e esforços em causas que receberiam honorários, sendo a advocacia pro bono, em geral, realizada por advogados menos experientes . 
ACESSO À JUSTIÇA
Segunda Onda Renovatória: interesses difusos. A concepção tradicional do processo civil não deixava espaço para a proteção dos direitos difusos e torna latente a preocupação com uma representatividade adequada, já que não haveria participação individual na demanda e a noção de coisa julgada necessitava ser redimensionada . A pesquisa constatou que, embora seja a principal forma de proteção dos direitos difusos e coletivos, a atuação governamental, especialmente nos países de common law, não tinha sido capaz de fazê-lo . Apesar de haver grupos tutelando o interesse coletivo, através de advogados privados, eles não eram bem organizados em todos os setores, havendo uma razoável organização na área trabalhista, mas não em matéria consumerista ou para a defesa ambiental.
ACESSO À JUSTIÇA
Terceira Onda Renovatória: baseou-se na obtenção de reformas na assistência judiciária, com a disponibilização de advogados para os que não poderiam custear esse serviço, e com os progressos na reivindicação de direitos, tanto dos tradicionais como dos novos, com mecanismos para a tutela de direitos coletivos, especialmente dos consumidores, preservacionistas e sociais. A última onda de reformas incluiu o conjunto geral de instituições e mecanismos, pessoas e procedimentos utilizados para processar e prevenir disputas. Esse enfoque encorajou uma ampla variedade de reformas, incluindo alterações no procedimento, mudanças na estrutura dos tribunais, o uso de pessoas leigas ou paraprofissionais, modificações no direito substantivo a fim de prevenir litígios e a utilização de mecanismos extrajudiciais de solução de litígios. Reconheceu, ainda, a necessidade de adequar o processo civil ao tipo de litígio. 
ACESSO À JUSTIÇA
Jurisdição: busca alcançar a pacificação social, concretiza o poder estatal e busca a realização do direito material por meio de um processo justo. 
ACESSO À JUSTIÇA
Kazuo Watanabe: 
Direito à informação e perfeito conhecimento do direito substancial e à organização de pesquisa para aferir a adequação entre a ordem jurídica e a realidade socioeconômica;
Direito de acesso à justiça adequadamente organizada e formada por juízes inseridos na realidade social;
Direito à pré-ordenamento dos instrumentos sociais, capazes de promover a efetiva tutela de direitos;
Direito à remoção dos obstáculos que anteponham o acesso à justiça.
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Paulo Cezar Pinheiro Carneiro: 
Acessibilidade – arcar com os custos financeiros e manejar os intrumentos legais, judiciais e extrajudiciais, para efetivar direitos. É composto pelo direito à informação, adequação do legitimado e estipulação de custos financeiros;
Operosidade – atuar de forma mais eficiente possível. Aspecto subjetivo: atuação ética de todos os sujeitos do processo, para a democratização do processo, evitando atos procrastinatórios. Aspecto objetivo: necessidade de utilização de instrumentos eficazes pelas partes, pautados na efetividade.
Utilidade – o processo deve
assegurar ao vencedor tudo o que lhe é de direito, de modo mais rápido e proveitoso, com o menor sacrifício da parte vencida.
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A exigência de prévio requerimento administrativo viola o acesso à justiça?
1. A instituição de condições para o regular exercício do direito de ação é compatível com o art. 5º, XXXV, da Constituição. Para se caracterizar a presença de interesse em agir, é preciso haver necessidade de ir a juízo.
2. A concessão de benefícios previdenciários depende de requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise. É bem de ver, no entanto, que a exigência de prévio requerimento não se confunde com o exaurimento das vias administrativas.
3. A exigência de prévio requerimento administrativo não deve prevalecer quando o entendimento da Administração for notória e reiteradamente contrário à postulação do segurado.
(STF. RECURSO EXTRAORDINÁRIO 631.240 MINAS GERAIS. Rel. Min. Luis Roberto Barroso. Plenário. DJ: 28/08/2014)
ACESSO À JUSTIÇA
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DESJUDICIALIZAÇÃO
Artigo 5º, inciso XXXV, CRFB e artigo 3º CPC – a garantia do acesso à justiça extrapola a jurisdição estatal.
Desjudicialização: racionalização da prestação jurisdicional e ajuste ao cenário contemporâneo.
Via judicial precisa estar sempre aberta, mas não é a única solução. 
EX: - Lei nº 6.015/73 – procedimentos que não dependiam de decisão.
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DESJUDICIALIZAÇÃO
Lei 8.560/1992 – reconhecimento de paternidade direto no registro de Nascimento, em qualquer Serventia de Registro de Pessoas Naturais do Brasil
Lei 8951/1994 – consignação em pagamento extrajudicial
Lei 9514/97 – registro em alienação fiduciária em garantia
Lei 10.931/2004 – correção de erros no registro prescindem de decisão judicial.
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DESJUDICIALIZAÇÃO
Lei nº 11.441/2007 – divórcio e inventário extrajudiciais
Lei 11.790/2008 – desjudicialização do procedimento de registro de nascimento após o prazo legal.
Lei 11.977/2009 – Programa Minha Casa Minha Vida – detentores de posse registrada, após cinco anos, podem converter em propriedade por usucapião, sem necessidade de processo judicial.
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DESJUDICIALIZAÇÃO
Código de Processo Civil:
- Art. 571. A demarcação e a divisão poderão ser realizadas por escritura pública, desde que maiores, capazes e concordes todos os interessados, observando-se, no que couber, os dispositivos deste Capítulo.
- Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.
§ 1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
§ 2 oO tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.
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  - Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731 .
§ 1º A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
§ 2º O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.
- Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 216-A: (Vigência)
“Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com:
A leitura contemporânea do acesso à justiça não significa apenas acesso ao Judiciário, mas sim acesso a uma ordem jurídica justa. Consequentemente, o Poder Judiciário não é o único cenário para a solução de conflitos, reconhecendo-se que outros meios podem ser adequados. Pode-se, então, afirmar que a concepção de acesso à justiça contemporânea: 
incentiva e perpetua a crise do Poder Judiciário.
incentiva a litigiosidade exacerbada. 
reconhece a impossibilidade de se prestar uma justiça célere.
deslegitima as formas de solução de conflitos.
incentiva a utilização dos métodos de solução de conflitos. 
02) O acesso à justiça não é uma preocupação recente, mas sua concepção foi se modificando ao longo da história. Pode-se apontar como perspectivas do acesso à justiça na contemporaneidade, EXCETO:
o desenvolvimento das formas de solução online de solução de conflitos; 
a constante interface entre as garantias constitucionais e a solução de conflitos; 
a formação dos futuros profissionais a partir de uma cultura cooperativa e colaborativa;
a ênfase a uma solução multiportas de conflitos;
a afirmação do Poder Judiciário enquanto único espaço de solução de conflitos.
APRENDA MAIS
PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A releitura do princípio do acesso à justiça e o necessário redimensionamento da intervenção judicial na resolução dos conflitos na contemporaneidade. R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, t. 1, p. 241-271, set.-dez., 2019. Disponível em https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista_v21_n3/tomo1/revista_ v21_n3_tomo1_241.pdf. Acesso em 16 jan. 2021
ASSISTA
- Seminário digital: A Pandemia e o acesso à Justiça: impactos, transformações e novos
desafios?. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=k2vJ0Q-Pqts. Acesso em
16 jan. 2021.
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