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ALICE NO PAÍS DA MENTIRA

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 M
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TI
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A
Depois de brigar com seu melhor amigo, Alice 
viaja ao maluquíssimo País da Mentira, desco-
brindo que as mentiras não são todas iguais. 
Há algumas até engraçadinhas, como a Men-
tira Caridosa, mas outras horrorosas, como a 
Calúnia e a Mentira Cabeluda. Fugindo desta, 
Alice acaba chegando ao País da Verdade e 
ali descobre que falar a verdade nem sempre 
é bom: há algumas, como a Verdade Absolu-
ta, que podem ser tão feias quanto a Mentira 
Cabeluda! Depois de muito humor, confusões, 
perigos e descobertas, a menina volta pra casa 
tendo aprendido a importância do perdão...
PEDRO BANDEIRA
PE
DR
O
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Ilustrações 
Osnei Rocha
MANUAL DO PROFESSOR
Capa_alice_no_pais_da_mentira_PNLD2002_LP.indd 1 6/29/18 5:17 PM
f!)PITA
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NGUA PNLD 2020 REPRODU<;AO E VENDAS PROIBIDAS 
-- EDITORA 7� PITANGUA PNLD 2020 REPRODU<;AO E VENDAS PROIBIDAS 
f!) PITARNGUA PNLD 2020 REPRODU<;AO E VENDAS PROIBIDAS 
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-- EDITORA 7� PITANGUA PNLD 2020 REPRODU<;AO E VENDAS PROIBIDAS 
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-- EDITORA 7� PITANGUA PNLD 2020 REPRODU<;AO E VENDAS PROIBIDAS 
f!) PITARNGUA PNLD 2020 REPRODU<;AO E VENDAS PROIBIDAS 
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-- EDITORA 7� PITANGUA PNLD 2020 REPRODU<;AO E VENDAS PROIBIDAS 
f!) PITARNGUA PNLD 2020 REPRODU<;AO E VENDAS PROIBIDAS 
f!) PITARNGUA PNLD 2020 REPRODU<;AO E VENDAS PROIBIDAS 
ALICE NO PAÍS 
DA MENTIRA
Ilustrações Osnei Rocha
1a EDIÇÃO, 2018
PEDRO BANDEIRA
MANUAL DO PROFESSOR
Professor, 
confira no final
do livro a seção
“Para saber mais”
Miolo_alice_no_pais_da_mentira_PNLD2020_LP.indd 1 6/29/18 5:18 PM
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Bandeira, Pedro
 Alice no País da Mentira : manual do professor / Pedro 
Bandeira ; ilustrações Osnei Rocha. – 1. ed. – São Paulo : 
Editora Pitanguá, 2018.
ISBN 978-85-60805-77-8
1. Literatura infantojuvenil I. Rocha, Osnei. II. Título. 
18-17836 CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura infantojuvenil 028.5
2. Literatura juvenil 028.5
Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427
Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Todos os direitos reservados
EDITORA PITANGUÁ LTDA.
Rua Padre Adelino, 758, sala 4 – Quarta Parada
São Paulo – SP – Brasil – CEP 03303-904
2018
 COORDENAÇÃO EDITORIAL Maristela Petrili de Almeida Leite
 EDIÇÃO DE TEXTO Marília Mendes
 COORDENAÇÃO DE EDIÇÃO DE ARTE Camila Fiorenza
 DIAGRAMAÇÃO Isabela Jordani, Cristina Uetake
 ILUSTRAÇÕES DE CAPA E MIOLO Osnei Rocha
 COORDENAÇÃO DE REVISÃO Elaine Cristina del Nero
 REVISÃO Andrea Ortiz, Renata Brabo
 COORDENAÇÃO DE BUREAU Rubens M. Rodrigues
 PRÉ-IMPRESSÃO Everton L. de Oliveira, Vitória Sousa
 COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL Wendell Jim C. Monteiro
 IMPRESSÃO E ACABAMENTO
 LOTE
© PEDRO BANDEIRA, 2018
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Para Melis
sa,
Michele, J
úlia
e Beatriz, 
 
minhas ne
tas.
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 1. A calúnia calunienta 8
 2. Diga a mentira! 15
 3. Verdade é uma mentira mal contada 21
 4. Mentiras de todo jeito 27
 5. A Boa Mentira 34
 6. O Zoológico das Piores Mentiras 40
 7. A Mentira Cabeluda 47
 8. Uma Verdade de peso 54
 9. Verdade de guarda-chuva 59
10. Tem gente que não gosta de ouvir a Verdade 65
11. O ataque da Dúvida 71
12. A cueca do seu avô subiu no telhado 77
13. O Calabouço das Piores Verdades 87
14. A melhor e a pior comida do mundo 94
15. O biscoito de chocolate 103
SUMÁRIO
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6
Apresentação 
dos personagens
A Mentira Cabeluda
Esta é mais horrível do que 
o pior dos pesadelos! Todo 
mundo foge dela!
A Boa Mentira 
Essa daí só mente pra fazer 
bem às pessoas, e por 
isso todo mundo gosta das 
mentirinhas dela!
Alice
É uma menina cheia de 
ideias, quer saber de tudo 
e vive inventando novas 
brincadeiras, novos mundos. 
Mas está muito zangada com 
Juninho, seu melhor amigo.
Barão Mimi 
ou Barão de 
Minch-ráuzen
Esse é o comandante 
do País da Mentira. 
Mente tanto que 
deixa Alice maluca!
Juninho
Vizinho e melhor 
amigo de Alice. 
Os dois brincam 
juntos e o garoto 
nem sabe por que 
sua amiga está 
brava com ele.
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7
Verdade Absoluta
É tão horrorosa que todo mun-
do prefere ouvir uma mentira 
mais ou menos cabeluda a se-
quer ouvir falar dessa verdade!
Bruxa da Dúvida
Que horror de bruxa! Voa 
numa vassoura e seus 
ataques são destruidores! As 
pobres das Verdades têm de 
viver fugindo dessa malvada!
Sábio Didi ou 
Diógenes de Sínope
Além de sábio, é muito simpáti-
co, embora só tenha mãos direi-
tas. Sabe tudo, tudinho mesmo!
Filósofo Totó ou 
Filósofo Aristóteles
Esse daí é tão importante 
que nem aparece nesta 
história!
Cozinheira da 
Duquesa
Essa vive cozinhando o 
tempo todo e tem uma boa 
receita para biscoitos de 
fazer as pazes.
E mais algumas Verdades e uma 
porção de Mentiras!
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8
A CALÚNIA 
CALUNIENTA
Eu queria que você conhecesse a Alice.
A Alice, assim nos seus melhores dias, com a corda 
toda, perguntadeira, cheia de ideias, sempre disposta a 
inventar alguma nova maneira de ser feliz. Não a Alice 
deste dia, assim tão triste e tão zangada.
Por que ela está assim tão triste e tão zangada? Por-
que ela foi caluniada.
Pobre Alice! Até aquele dia ela nem tinha ideia do que 
significasse a palavra “calúnia”, mas acabou recebendo a 
calúnia em cheio, bem no rosto, como uma bofetada.
“Ai, que calúnia mais calunienta!”, remoía ela.
E foi caluniada no quintal da Casa da Vovó, justo 
o lugar onde ela mais gostava de estar, de inventar, de
dividir alegrias com o Juninho, seu melhor amigo, que
morava bem ao lado. Qual foi a calúnia? Nem vou con-
tar. Basta você ficar sabendo que o Juninho acusou Ali-
ce de ter feito uma coisa bem feia, coisa que ela nunca
fez nem nunca faria. Entendeu? Então basta você ima-
ginar agora alguma calúnia bem horrorosa que alguém
poderia fazer pra você, porque a calúnia do Juninho foi
exatamente igual à que você pensou.
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9
Como? Você também não sabe o que quer dizer “ca-
lúnia”? Deixa ver... Hum... Eu acho que é um tipo de 
mentira que... Bom, acho que não sei direito... Olha, é 
melhor nós dois passearmos junto com a Alice nesta 
história pra ficar sabendo. Vamos lá.
Pobre Alice! A surpresa dela foi tão grande ao ouvir 
essa mentira (justo vinda da boca do Juninho!) que ela 
nem tentou se defender, nem saiu aos berros, chamando 
o Juninho de mentiroso. Não. O que ela fez foi entrar na 
Casa da Vovó, calada, vermelha como um tomate. Ela 
queria fugir de tudo.
Pra onde fugir? Lugar melhor não poderia haver do 
que o Sótão da Casa da Vovó.
O que é “Sótão”? Bom, eu nunca estive em nenhum, 
mas já ouvi falar. É um lugar que quase não existe mais, 
só em casa de velhinhas. É um espaço grande, entre o 
forro e o telhado, onde as velhinhas deixam suas lem-
branças ficarem cobertas de poeira.
Chegar ao Sótão era fácil: no andar de cima da Casa 
da Vovó, no final do corredor, uma pequena escada leva-
va a um alçapão que se abria para o Sótão, um lugar mal 
iluminado, cheio de móveis sem uso,pacotes, caixas, 
tudo bem empoeirado.
Alice sabia há muito tempo da existência daquele 
lugar, mas nunca tinha decidido xeretar ali. Desta vez, 
porém, ela pensou que aquele seria um bom lugar pra se 
ficar só. Não subiu lá pra chorar. Ela só queria ficar so-
zinha um pouco, pra pensar na mentira do Juninho. Na 
calúnia. Não, ela não achava que o Juninho era o culpado 
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pela mentira. Aos poucos, ela foi chegando à conclusão de 
que a mentira do Juninho é que era a culpada.
– Ah, se eu pudesse, eu esganava essa mentira!
Bom, esganar de verdade acho que ela não esgana-
ria, pois tinha aprendido que esganar significa apertar 
um pescoço até o dono do pescoço perder a respiração. 
Isso ela não queria, pois a mentira do Juninho não 
respirava – ela ca-lu-ni-a-va, o que era muito pior.
No Sótão, no meio dos trastes, lá estava um espe-
lhão refletindo a Alice e boa parte dos trastes espalha-
dos pelo Sótão. Quase encostado no Espelho, havia um 
grande Baú todo cheio de taxões e enfeites de metal que 
teriam sido dourados um dia, mas que já estavam escu-
recidos. Devia ter-se passado mesmo um tempão pra es-
curecer tanto dourado.
Alice sentou-se no chão, sobre as tábuas empoeira-
das. Abraçou as pernas e ficou remoendo a mentira do 
Juninho, aquela coisa horrorosa, feia mesmo.
“Ah, que mentira cabeluda!”
Do outro lado, dava pra ver o Sótão do Espelho, 
igualzinho ao Sótão da Vovó. Só que tudo ao contrário. 
Na parede do Sótão do Espelho, ela viu um quadrinho 
pendurado, onde estava escrito “Lar doce lar” e, no seu 
lado, no Sótão da Vovó, no quadrinho pendurado esta-
va escrito: 
lar doce lar
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“Não deveria ser ao contrário?”, estranhou a meni-
na, mas logo se esqueceu daquilo e pôs a mão no fecho 
do Baú.
“Ah, se eu pegasse a mentira do Juninho!”
O que haveria dentro do Baú? Bom, se ela desse 
uma espiadinha, acho que não faria mal algum, até 
porque, pelo jeito, como a Vovó era velhinha mesmo, há 
muito tempo não subia no Sótão pra fuxicar dentro do 
Baú. Fuxicar era com a Alice.
O fecho abriu-se facilmente, logo que Alice me-
xeu nele. Levantou a tampa, com esforço. Lá dentro, só 
viu uma porção de roupas velhas. Foi aí que ela perce-
beu uma luz fraquinha, azulada, logo ao seu lado. Olhou 
para o Espelho. Lá estava o Baú do Sótão do Espelho, 
também de tampa aberta. Era de dentro do Baú do Es-
pelho que vinha a luz!
“Que coisa mais estranha...”, estranhou ela, lem-
brando-se de que também tinha estranhado a frase 
invertida do quadrinho. Estava até estranhando tanta 
estranheza.
Estendeu o dedo, devagar, para o Espelho...
Mais uma coisa estranha! A face do Espelho era 
mole como gelatina, não dura como devem ser os es-
pelhos.
“Ah, aí dentro do Baú do Sótão do Espelho acho que 
tem coisas maravilhosas de encontrar!”
Estendeu o braço, que atravessou molemente a face 
do Espelho. Em seguida enfiou a cabeça e logo se viu do 
outro lado.
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Na bagunça do Sótão, encontrou jogados pelo chão 
um grande baralho de cartas e um tabuleiro de xadrez, 
com todas as suas peças espalhadas. Depois, uma cai-
xa cheia de fotografias. Fotos antigas, amareladas. Uma 
delas mostrava uma menina de cabelo escorrido como o 
dela, descalça, encostada em um muro todo manchado 
e com um vestidinho branco, bem antigo. A menina era 
a cara da Alice.
E o Baú do Sótão do Espelho? Quanta coisa tinha lá 
dentro! Roupas de alguma menina assim da idade dela, 
mas de um tempo em que roupa de menina era cheia de 
babados e laçarotes. Havia até um chapéu todo enfeita-
do, cheio de plumas, que coube direitinho na cabeça da 
Alice.
Encontrou uma pilha de livros. Bonitos, coloridos, 
de histórias. Alice abriu o primeiro. Estava escrito em 
inglês e você pode escolher: ou esta história se passa 
na Inglaterra, ou a Vovó da Alice era neta de alguma 
inglesa que tinha se mudado para o Brasil há muito 
tempo.
Junto das roupas embabadadas, havia um aven-
talzinho com um bolso do lado. Alice experimentou o 
avental por cima de sua calça e blusa modernas. Com 
o avental e com o chapéu, mirou-se no grande Espelho
e achou-se uma coisa mais ou menos assim como duas
pessoas, uma antiga e uma moderna.
“Como alguém pode viver no antigamente e no hoje 
em dia ao mesmo tempo? Bom, acho que é só querer, 
não é?”
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Continuou remexendo no Baú. Havia uma garrafi-
nha com uma etiqueta amarrada no gargalo, onde esta-
va escrito “Beba-me”. Mas nada havia dentro dela pra 
beber. Logo achou uma caixinha onde estava escrito 
“Coma-me” na tampa. Mas também estava vazia.
Descobriu uma pimenteira que também trazia uma 
etiqueta: “Pimenta da Cozinheira da Duquesa”.
“Quem será essa Duquesa?”, cismou a menina. “E 
por que a cozinheira dela veio guardar esta pimenteira 
justo no Baú da Vovó?”
A pimenteira não estava vazia e, ao ser sacudida 
quando a menina a tirou do Baú, pelos buraquinhos da 
tampa saiu uma nuvenzinha de pimenta em pó. E a nu-
venzinha flutuou até atingir o nariz da Alice!
E, quando pimenta em pó entra por algum nariz 
adentro, o que acontece é um...
– ... AAAA...
... um grande...
– ... AAA...
... bem grande...
– ... AAA ...
... maior ainda...
– ... AAAATTTCHIMMMM!
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DIGA A 
MENTIRA!
Você já viu alguém espirrar de olhos abertos? É cla-
ro que não. Pra espirrar, todo mundo fecha os olhos bem 
fechados, bem apertados, não é? Pois foi isso que Alice 
fez. Mas, quando abriu novamente os olhos...
Estava num lugar muito diferente do Sótão do 
 Espelho!
Diferente como? Diferente demais, pois Alice viu-
-se dentro de uma caverna! Uma caverna úmida, al-
tíssima e larguíssima, iluminada apenas por algumas 
lanternas penduradas ao longo das paredes de pedra.
Ao seu redor, percebeu uma porção de pequenos 
movimentos, uma agitaçãozinha que logo desapareceu 
pelas escuridões em volta, atrás das pedras, em cada bu-
raco ou desvão que houvesse. Dos cantos onde a agitação 
havia desaparecido, Alice ouvia uma porção de murmú-
rios. Um coro de cochichos.
Não sentiu medo nenhum. Ela não era de sentir 
medos assim, só por causa de uma coisa boba como de 
repente ter saído de um sótão empoeirado e ver-se no 
meio de uma caverna escura, cercada por uma multidão 
de cochichadores misteriosos.
2
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E perguntou bem alto, para os murmúrios ouvirem:
– Quem é que está se escondendo por aí e cochichando 
ao mesmo tempo? É brincadeira de esconde-esconde? 
Pois pra brincar de esconde-esconde a gente tem de ficar 
bem quietinho no esconderijo, senão a brincadeira não 
tem graça.
O eco de sua voz reboou pelas paredes de pedra. 
Os cochichos pararam por um segundo e logo voltaram, 
ainda mais excitados, como se discutissem alguma coi-
sa entre eles. Eles? Quem eram esses “eles”?
– Quem são vocês? – perguntou Alice, falando 
bem alto.
Os cochichos pararam e uma voz veio do fundo da 
caverna:
– E quem não é você?
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– Quem eu não sou? Eu não sou uma porção de gen-
te. Sou uma só. Eu sou Alice.
– Alice? – continuou a voz. – Que tipo de Mentira
não se chama Alice?
– Tipo de mentira?! Que história é essa? Eu não sou
mentira nenhuma. Sou uma menina.
Dos cantos, de todos os vãos e esconderijos, várias 
figuras começaram a aparecer. Mas continuaram a dis-
tância, ressabiadas, estranhando a recém-chegada. Mes-
mo de longe, Alice notou que se tratava de uma porção 
de gentes, de gentinhas e de gentonas, mas umas gentes 
estranhas, cada uma diferente da outra. De comum, só 
tinham duas coisas: todas exibiam narizes compridos e 
pernas muito curtas, tãocurtas que os pés vinham quase 
logo depois da barriga, como os pinguins. 
À frente das gentes, destacou-se um personagem 
narigudo, de bigode espetado, roupa antiga cheia de ga-
lões e com um chapéu de três bicos. Suas pernas eram 
curtinhas e segurava uma velha lanterna.
– Entendi. Agora diga a mentira.
Alice achou que seria mais educado chamar aquele 
engalanado tão pomposo de “senhor” e corrigiu:
– O senhor quer dizer “diga a verdade”, não é?
– Ora, você não entende de lógica? – devolveu o enga-
lanado. – Se você é uma mentira, está mentindo quando 
diz que se chama Alice e que é uma menina. Pra saber 
quem você é, eu tenho de pedir que você fale a mentira, 
porque assim você será obrigada a fazer o contrário, que 
é falar a verdade, porque você é uma mentira mentirosa, 
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e nós ficaremos sabendo que tipo de mentira você é. Isso 
porque, se você for uma verdade, é nossa inimiga e temos 
de botar você pra fora daqui.
– Não estou entendendo nada – protestou Alice. – O 
senhor deve ser o chefe de todos, não é? Quem é o senhor?
– Eu não sou o chefe e não sou o Barão de Minch-
-ráuzen, e você não pode me chamar de Barão Mimi.
Alice fez um “puf” de chateação:
– Eu não perguntei quem o senhor não é. Já sei que 
o senhor não é qualquer pessoa que eu já vi antes. Quero 
saber quem o senhor é.
– Eu sou uma verdade.
Alice entendia cada vez menos:
– Uma verdade? Mas o senhor não disse que as ver-
dades são suas inimigas?
– Não disse.
“Vim parar numa terra de malucos!”, pensou a 
menina. “Bom, se eles são loucos, eu tenho de fazer o 
que ele pediu: pensar com a lógica dos loucos. Pra mim, 
que não sou nem um pouquinho louca, é lógico que esse 
sujeito é um grande mentiroso. Hum... deixe-me ver... 
Ele me mandou ‘falar a mentira’ e disse que eu sou uma 
mentira que precisa ser mandada falar a mentira pra 
ser obrigada a falar a verdade verdadeira. Acho que é 
isso. Vou jogar o jogo dele.”
Voltou-se para o engalanado e ordenou:
– Diga a mentira, toda a mentira, somente a menti-
ra, nada mais que a mentira. Quem é o senhor? Quem 
são vocês? Que lugar maluco é este?
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O engalanado tirou um lenço rendado da manga do 
casaco e enxugou a testa:
– Muito bem, eu sou o governador de todas as mentiras 
do País da Mentira. Sou o famoso Barão de Minch-ráuzen, 
mas você pode me chamar de Barão Mimi.
A boca de Alice não se escancarou como a minha 
se escancararia se, de repente, eu estivesse em uma ca-
verna escura e úmida, em pleno País da Mentira e na 
frente do mentiroso-chefe, porque Alice não era de se 
escancarar à toa:
– E por que vocês estavam querendo brincar de es-
conde-esconde comigo?
– Nós, as Mentiras, vivemos brincando de esconde-
-esconde, porque mentira vive escondida. É por isso que 
moramos nesta caverna, porque mentira tem de se es-
conder em esconderijos, senão todo mundo descobre. 
Esconde-esconde é conosco mesmo. A gente só não 
pode brincar direito é de pegador.
– Por quê?
– Porque mentira tem perna curta e todo mundo 
pega a gente fácil, fácil.
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21
VERDADE É 
UMA MENTIRA 
MAL CONTADA
Alice estava começando a achar que a maluquice 
do Barão até que tinha a sua lógica. A menina começava 
a entender que a coisa era bem simples: bastava fazer 
aquele pessoal falar mentira falando a verdade. Ou falar 
a verdade falando mentira, ou... sei lá. A Alice estava 
entendendo direito. Eu é que não entendi nada!
– Quer dizer, então, Barão Mimi, que todas essas 
gentes estranhas daqui são mentirosas?
A expressão do Barão mudou e o mentiroso veio 
com esta:
– Não. Essas pessoas são incapazes de dizer uma 
mentira. Aqui tudo o que se diz é verdade verdadeira.
– Como?!
– Você jamais ouvirá uma mentira por aqui. Eu, por 
exemplo, quando estava caçando nas estepes da Rússia, 
encontrei de repente um lobo que abria a boca, faminto, 
prestes a pular em cima de mim. Mas minha espingarda 
estava descarregada. Foi então que eu...
“Ai, ai, ai!”, pensou a menina. “Pelo jeito, a ordem 
que eu dei pra que ele parasse de mentir como um doido 
já perdeu o efeito...”
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E reforçou:
– Barão Mimi: diga a mentira, toda a mentira, so-
mente a mentira, nada mais que a mentira.
Na mesma hora, a expressão do Barão voltou ao 
normal (ou ao anormal, sei lá!) e ele mudou o discurso:
– Isso. Todos nós somos mentiras. E olhe que toda 
hora aparece por aqui alguma mentira nova, como você. 
O que esse povo inventa de mentira você não faz ideia! 
Por isso, temos por aqui todo tipo de mentira. Mentiras 
diferentes, mentiras de todo jeito.
– Ora, Barão! Mentira é sempre igual. É uma coisa 
feia, muito ruim, muito má!
– Espere um pouco, menina, espere um pouco. 
Você ainda não viu nada, se pensa que mentira é só coi-
sa feia. Eu sei que, lá no mundo das gentes que pregam 
mentiras e nos inventam, todos são hipócritas e vivem 
falando mal de nós, as Mentiras. Mas dizer a verdade 
nem sempre é possível. A vida, só com a Verdade, torna-
-se insuportável!
– Não! – impacientou-se a menina. – Só a Verdade 
é lógica! Só a Verdade é justa! Vocês não sabem o que é 
a Verdade!
– Sabemos sim!
A discussão entre os dois começava a esquentar 
e várias Mentiras em volta começaram a cercar Alice, 
palpitando.
– Sabemos sim! Sabemos sim! Sabemos sim!
Uma delas, com cara de menino travesso, puxou 
Alice pela manga e disse, rindo:
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– Verdade é uma Mentira mal contada!
Outra, com cara de cigana, virou Alice para o seu 
lado e afirmou, cara a cara:
– Verdade é a Mentira que está acontecendo!
Uma mentira engraçada, igualzinha a uma bone-
ca de pano, puxou o avental de Alice, fazendo a menina 
baixar a cabeça para ouvi-la:
– Verdade é uma Mentira bem pregada, dessas que 
ninguém desconfia!
Pelo jeito, eram todas as Mentiras contra Alice, 
mas ela não se entregava, porque não conseguia se es-
quecer da mentira do Juninho:
– Vocês estão querendo é me confundir! Mentira é 
uma coisa que faz mal às pessoas!
O Barão afastou delicadamente as Mentiras que 
cercavam Alice e continuou, com a calma de um pro-
fessor:
– Ora, Mentira Alice, nós não queremos fazer mal 
às pessoas. Podemos até ajudá-las!
Alice não aceitou:
– Ajudar?! Mentiras prejudicam, não ajudam!
O Barão sacudiu a cabeça, insistindo:
– Raciocine comigo: já pensou se os jogadores de 
cartas não usassem o Blefe?
– Blefe? O que é isso?
– É aquele ali, veja!
Alice viu um sujeito de bigode fininho e colete 
 colorido, com as pontas de uma porção de cartas de 
 baralho aparecendo em todos os bolsos.
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– O Blefe – continuou o Barão – é uma mentirazinha 
desafiadora que serve pra fazer os adversários pensarem 
que o blefador tem nas mãos um jogo melhor do que o 
deles, caem no engano e acabam perdendo a partida.
Alice tocou o queixo com um dedo, pensou um 
pouco e respondeu:
– Bom, quando eu jogo mico-preto com o Juninho e 
os outros amigos, eu sempre finjo que o mico não está co-
migo para o Juninho pensar que o danado está na mão 
de algum outro jogador. Isso é um blefe?
– É exatamente isso.
– Nesse caso, acho que os jogos de carta iam perder 
toda a graça sem o senhor Blefe...
– É claro! E já pensou se as crianças reinadoras 
sempre confessassem suas peraltices?
– Hum... Aí, todas as crianças iam ter de ficar de 
castigo o tempo todo...
– Que coisa mais triste, não é? – continuou o Barão. 
– E já pensou se os médicos dissessem sempre a verdade 
para seus pacientes que estão prestes a bater as botas? 
Verdades do tipo “Mas com que cara mais pálida o se-nhor está! Garanto que não passa de hoje à noite!”.
– Coitados! – lamentou a menina. – Aí os moribundos 
iam calçar as botas do desespero antes de bater as outras...
– Está vendo? Você tem de concordar comigo que as 
mentiras podem ser uma escolha muito boa. E já pensou se...
Alice achou que o Barão estava tentando enganá-la, 
na certa porque o efeito da ordem de dizer a mentira já 
estivesse enfraquecendo, e reforçou:
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– Não me enrole, Barão Mimi! Diga a mentira, toda 
a mentira, somente a mentira, nada mais que a mentira!
– Eu não estou falando verdade nem mentira, Men-
tira Alice. Eu estou ar-gu-men-tan-do!
– Pois eu não aceito esses argumentos. Mentira é o 
contrário da verdade e pronto!
– Que nada! As mentiras são diferentes como as 
pessoas são diferentes. Aqui, no esconderijo do País da 
Mentira, tem a mentira que você quiser.
Alice não tinha se esquecido da mentira do Juni-
nho e reclamou:
– Eu não quero mentira nenhuma, Barão Mimi. Só 
estou interessada num tipo de mentira. É uma mentira 
horrível, uma mentira que...
– Não, não, não! Não escolha ainda, sem ter co-
nhecido todas nós. Você vai ficar até tonta com a nossa 
 variedade!
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MENTIRAS DE 
TODO JEITO
O Barão levantou um pouco mais a lanterna, ilumi-
nando melhor a menina, e falou, bem alto:
– Queridas Mentiras, quero apresentar uma nova 
Mentira que foi inventada ainda agorinha. O nome dela 
é Alice. A Mentira Alice, que é bem bonitinha, não deve 
prejudicar ninguém.
As gentes, as gentinhas e as gentonas já estavam 
por ali mesmo e não faziam outra coisa senão examinar 
a recém-chegada. E a recém-chegada pôs-se a observar 
atentamente aquele povo tão estranho: havia uns feiosos, 
barbudos, e outros até pareciam pessoas comuns. Havia 
alguns bonitinhos, como um bebê de pernas curtinhas 
que era a cara do Juninho, se o Juninho ainda fosse 
um bebezinho.
– Mas, Barão Mimi, mentira é coisa feia. Aqui tem 
umas que não são lá essas belezas, mas mentira tem de 
ser muito pior que isso. Por que vocês não são tão feios 
como as mentiras devem ser? – perguntou a menina.
– Ora, Alice! Quando eu estava lutando na Guerra da 
Crimeia e os russos avançavam com seus canhões, eu...
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“Ai, ai, ai!”
– Diga a mentira, toda a mentira, somente a mentira, 
nada mais que a mentira.
Imediatamente, o Barão mudou o assunto:
– Como eu ia dizendo, não são todas as mentiras 
que são feias. Ah, não! Depende da mentira – e o Barão 
apontou um deles, com cara de gaiato. – Examine, por 
exemplo, nosso amigo ali.
– Aquele que não para de rir? Quem é ele?
– É o Primeiro de Abril. Vive fazendo brincadeiras,
mas tudo coisa pequena, sem má intenção nenhuma. É 
parente da Potoca, aquela ali, miudinha, que só preten-
de divertir.
– E aquele ali, com cara de bobo?
– Aquele é o Engano. É parente da Bobagem. Gente 
boa, que não faz mal a ninguém. É como o Mal-Entendi-
do, que, no fundo, não passa de um distraído.
A atenção de Alice foi atraída por uma outra, uma 
mulherzinha que batia com a palma da mão na testa a 
toda hora.
– Estranhou essa? – riu-se o Barão. – Essa é a Gafe. É
casada com o Fora. Nem são bem mentiras. A Gafe, por 
exemplo, é sobrinha do Engano. Todos uns bobalhões!
Havia duas mentiras ridículas, com línguas com-
pridas, que não paravam de cochichar uma no ouvido 
da outra. O Barão apresentou-as, com um sorriso:
– Essas são quase gêmeas. Uma é a Fofoca e a outra 
é o Fuxico. São quase iguais, mas têm de tomar cuidado...
– Por que cuidado?
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– Porque, se exagerarem nas fofocas e nos fuxicos, 
elas podem virar uma mentira muito perigosa... Bom, 
mais tarde você vai ficar sabendo.
Antes que Alice insistisse pra ficar sabendo em que 
as duas se transformariam, uma mentira com cara de 
boba tropeçou e estatelou-se no chão.
– Ha, ha! – riu-se o Barão. – Essa é uma estabanada! 
É a Patacoada! Ninguém acredita nela. É igual à Lorota, 
uma brincadeirinha à toa!
– E aquela ali?
A menina apontava para uma gordona, toda altiva, 
supermaquiada e empetecada como se estivesse pronta 
para o Baile da Cafonice.
– Aquela? Oh, ninguém simpatiza com ela. É a Ma-
dame Vanglória. Pensa que é melhor do que as outras! 
Ela até tem um filho. É aquele jovenzinho ali, todo em-
polado. O nome dele é Bravata. Vive se bacaneando!
No fundo do grupo havia uma figura com jeito de 
professora, vestindo uma túnica branca. Conversava 
com outra mulher, que tinha um olhar sonhador e a 
toda hora mergulhava uma pena de ganso num tinteiro 
e punha-se a escrever num caderno bem grande. O Ba-
rão notou que Alice examinava as duas e apresentou-os:
– Essas são duas joias do País da Mentira. Aquela 
com cara de grega é a Fábula e a outra é a Ficção, que 
vive criando todo tipo de história, de conto, de poesia, de 
novela, coisas assim.
Alice aproximou-se da personagem que escrevia 
com a pena de ganso e notou que escorriam lágrimas 
em seu rosto.
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– Diga a mentira – ordenou, já se prevenindo de 
mais alguma maluquice. – Por que a senhora está cho-
rando?
– Não estou chorando – respondeu a escrivinhadora, 
sem parar de escrever. – Estou escrevendo um poe ma 
muito triste e tenho de fingir tão completamente, que 
chego a fingir que é dor a dor que deveras sinto...
“Ai! Nem adiantou mandar que ela falasse a menti-
ra...”, concluiu a menina. “Até falando a verdade essa tal 
de Ficção vem com maluquices!”
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O Barão comentou:
– Está vendo, Mentira Alice? Nem esta nem a Fá-
bula dizem a verdade, assim, na batata, pois tudo o que 
elas contam não aconteceu.
Alice discordou:
– Ora, mas fábulas e histórias não são mentiras! 
São coisas inventadas pra agradar os outros. Eu adoro 
histórias e acho um desaforo chamar isso de mentira!
– Não é mesmo? – concordou o Barão. – Mas, como 
o que elas dizem é tudo inventado, as pobres têm de vi-
ver aqui, no País da Mentira.
– Pois eu acho isso uma coisa muito errada – pal-
pitou a menina. – Em vez de morar no País da Mentira, 
essas senhoras deviam se mudar para o País da Ima-
ginação, onde elas ficariam muito mais confortáveis do 
que nessa caverna maluca!
O Barão fez um gesto com a cabeça, concordando:
– Você disse “Imaginação”? Então isso é com aque-
la menina ali. Veja.
O que Alice viu foi uma garotinha que flutuava no 
ar, como um anjo, feliz da vida, sempre contente.
– E que tal esta outra? É a Imaginação das Crian-
ças. O nosso xodó.
A menininha Imaginação era uma doçura mesmo, 
e Alice aproveitou pra apontar para o bebezinho que era 
a cara do Juninho:
– E este, Barão?
– Outra doçura, Alice. Esta é a Mentira Inocente. 
A gente se diverte demais com ela, e todo mundo quer 
pegar a Mentira Inocente no colo.
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Alice olhou bem para o bebezinho e franziu as so-
brancelhas:
“Será?...”
Mas seu pensamento foi interrompido pelo Barão 
Mimi, que apresentava uma senhora, toda enrugadinha, 
de touca e saia rodada, com os olhos mais bondosos que 
Alice já tinha visto.
– Veja esta, Mentira Alice. É o Conto de Fadas!
Alice olhava fascinada para a aparição sorridente 
do símbolo de tantas histórias emocionantes que a Vovó 
sabia contar, enquanto o Barão continuava:
– Já sei que você vai dizer que Conto de Fadas não é 
mentira, Mentira Alice. Mas gente adulta vive sorrindo 
com superioridade e dizendo que lobos que falam com 
meninas de chapeuzinho vermelho e mocinhas que dei-
xam o cabelo crescer mais que a altura de uma torre não 
passam de bobagens. E, se a Bobagem tem de viver aqui, 
no País da Mentira, o Contode Fadas também, não é?
– Não é não, Barão Mimi – protestou Alice. – Boba-
gem é dizer que Chapeuzinho Vermelho e Rapunzel são 
bobagens!
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A BOA 
MENTIRA
A cara do Barão, como já vinha acontecendo de 
vez em quando, mudou completamente, e o engalana-
do personagem empolou-se, retomando suas velhas 
mentiras:
– Aproveitando a ocasião, agora eu queria lhe con-
tar sobre o dia em que os russos estavam bombar deando 
nossas tropas na Guerra da Crimeia e eu tinha de atra-
vessar as linhas inimigas pra pedir reforço ao nosso ge-
neral. Daí, como eu vi uma bala saindo de um de nossos 
canhões, não tive dúvida: agarrei-me na bala e...
“Ai, ai, lá vamos nós de novo!”
– Diga a mentira, toda a mentira, somente a menti-
ra, nada mais que a mentira.
– Como eu ia dizendo, nós somos mesmo muito dife-
rentes. Eu, por exemplo, além de Barão de Minch-ráusen 
sou conhecido como a Bazófia, um tipo de mentira que se 
conta pra todo mundo pensar que a gente é mais do que 
realmente é.
Nessa hora, Alice percebeu uma senhora, com a 
cara mais bondosa do mundo, dizendo para a exagerada 
Mentira Vanglória:
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– Como a senhora está elegante! Como está bonita!
O Barão notou que Alice sorria vendo a senhora 
mentir para a outra, que suspirava com o elogio, feliz da 
vida, e explicou:
– Esta senhora é muito querida por aqui, Mentira 
Alice. É a Mentira Caridosa.
– Caridosa? Não entendi...
– É fácil: vamos dizer que a sua vizinha acabou de 
ganhar nenê. Mas um nenê – sabe? – do tipo feinho, todo 
amassadinho, de orelha de abano, mais parecendo um 
joelho enrugado. E lá vem sua vizinha, toda lampeira, 
mostrar o filhinho pra você. O que você vai dizer? Acha 
que é justo dizer a verdade: “Mas que porcaria de bebê a 
senhora tem”?
Alice torceu o nariz:
– Ora, é claro que não! Num caso como esse, eu ia 
fazer um agradinho no queixo do bebê e dizer “Mas que 
gracinha! Bilu-bilu-bilu!”. 
O Barão riu-se às gargalhadas:
– Ha, ha! Está vendo? Nessa hora você usa os servi-
ços de nossa amiga ali, a Mentira Caridosa!
Alice teve de confessar que o Barão estava certo:
– É... acho que várias vezes eu usei essa Mentira Ca-
ridosa. Semana passada, minha tia apareceu em casa de 
roupa nova, uma blusa roxa com bolas cor de abóbora 
e uma calça verde-alface, toda justa. A coitada veio se 
exibindo, crente que estava elegantérrima e... o senhor 
sabe o que eu tive de dizer?
– Acho que sei...
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– Eu tinha vontade de dizer que ela estava horro-
rosa, mas engoli em seco e disse: “Mas como a senhora 
está... hum... elegaaaante, tchi-tchi-a...”
– Está vendo? Você é uma Mentira Mentirosa das 
boas! Não deve ser uma mentira muito forte, das bem 
pregadas, porque seu narizinho é muito pequeno e suas 
pernas não são curtas o bastante. Só precisamos desco-
brir direitinho qual é o tipo exato de mentira que você é, 
pra saber como usá-la na hora certa.
O grupo, de repente, abriu-se, dando passagem a 
uma visão deslumbrante: apesar de ter um nariz um 
pouco espetado, era a mais linda fada que Alice jamais 
tinha visto desenhada em seus livros de histórias. Usava 
um vestido leve como o ar, que brilhava como se um céu 
azul claro pudesse mostrar-se estrelado feito noite de lua 
nova.
A menina ficou maravilhada! Nunca poderia ima-
ginar que haveria de encontrar uma beleza daquelas 
justo no País da Mentira!
– Barão! Quem é essa?
Orgulhosamente, o Barão fez uma mesura em dire-
ção à fada e apresentou:
– Mentira Alice, conheça a nossa rainha: a Boa 
Mentira!
– Boa Mentira? Que nem a Mentira Caridosa?
– Ainda melhor. Ela é usada quando alguém falta 
com a verdade pra ajudar outro alguém sem prejudicar 
ninguém. A Fada Boa Mentira mente pra proteger pes-
soas e salvá-las das dificuldades.
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– Ela é linda mesmo, Barão Mimi!
O Barão fez que sim com a cabeça e continuou:
– Dizem que, do Outro lado, há uma jovem que pa-
rece uma cópia desta, mas isso só pode ser inveja desse 
povo sem graça lá do Outro Lado!
– Outro lado? Que outro lado é esse? Hum... já sei. 
Deve ser o País da Verdade, não?
– Sim, o nosso grande inimigo! É como a “cara” da 
“coroa” e a “coroa” da “cara”. As duas vivem grudadas, 
mas nunca se encontram. E é mesmo muito melhor que 
nunca se encontrem! Mas, infelizmente, essas danadas 
do País da Verdade vivem querendo nos dominar. Mais 
que isso: vivem querendo acabar com a gente!
À frente de Alice, a Boa Mentira resplandecia, 
enchendo de luz a imensa caverna.
– Ah... – suspirou a menina. – Seria muito triste 
se alguém acabasse com uma fada assim, tão maravi-
lhosa...
Alice lembrou-se daquela vez em que, sem querer, 
tinha quebrado um bibelô na sala da casa do Juninho e 
o menino, para protegê-la, acusou-se para a mãe, dizen-
do que tinha sido ele mesmo o culpado.
“Puxa... Naquele dia, o Juninho usou a Fada Boa 
Mentira pra me ajudar...”
O Barão Mimi continuava orgulhoso, apresentando 
seus governados:
– Está vendo, Mentira Alice? É por isso que nós, 
as Mentiras, vivemos em guerra com as Verdades. As 
Mentiras são muito mais interessantes. Nós damos um 
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jeito nos problemas, nós disfarçamos as dificuldades e 
ajudamos o mundo a ser um lugar mais tranquilo, mais 
interessante de viver. Nós...
– Ora, senhor Barão – cortou Alice. – Quer dizer 
então que neste país maluco só tem mentira boazinha? 
Essas mentirinhas que o senhor me apresentou nem po-
dem ser chamadas de Mentiras. São Falsas Mentiras. E 
as Mentiras de Verdade? Hum... quer dizer... e as men-
tiras mesmo, as MENTIRAS com letras grandes? Aque-
las que fazem mal a todo mundo? Aquelas que...
O Barão sorriu amarelo e confessou:
– Sei, Mentira Alice. Sei muito bem do que você está 
falando. Mas essas são tristemente especiais. Você tem 
certeza de que quer conhecê-las? Então, venha comigo. 
Vamos conhecer o Zoológico das Piores Mentiras! Mas 
prepare-se, porque o negócio não é brincadeira não!
“Ah, aposto que agora eu pego a Mentira do Juni-
nho!”, pensou Alice, na mesma hora.
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O ZOOLÓGICO 
DAS PIORES 
MENTIRAS
O Barão ergueu a velha lanterna e guiou a menina 
para os fundos da caverna, seguido por um cortejo es-
tranhíssimo, formado por uma multidão de mentiras de 
pernas curtas.
Quanto mais andavam, mais frio ficava o ar, e o lu-
gar pareceria assustador para qualquer pessoa que não 
fosse a Alice. Não. Ela não iria ficar assustada como 
uma boba, justo na hora em que estava perto de encon-
trar a Mentira do Juninho. Além disso, ela queria ter o 
prazer de provar ao Barão que mentira é uma coisa feia 
e pronto.
Chegaram a um ponto em que a caverna se afunila-
va e dava numa porta maciça, de ferro.
O Barão tirou da cinta uma grande chave e enfiou-a 
na fechadura.
Nhéééc... – fez a porta, abrindo-se pesadamente.
Logo depois do nhéééc, ouviu-se um urro assombro-
so, reboando do outro lado da porta.
– Ai! – exclamou o Barão. – Deve ser a Mentira Ca-
beluda, furiosa novamente!
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Ao ouvir falar “Mentira Cabeluda”, a maior parte 
das mentiras de pernas curtas que acompanhavam a du-
pla recuou, apavorada:
– A Mentira Cabeluda! A Mentira Cabeluda!
E essa maior parte escafedeu-se dali. Só uma meia 
dúzia das mais corajosas continuou junto dos dois.
O Barão pegou no braço da menina e procurou 
acalmá-la:
– Não tenha medo, Mentira Alice. As grades das
jaulas são bem fortes.
– Não estou com medo, Barão – tranquilizou Alice.
– Estou é ansiosa pra conhecer essa fera. Vamos!
E passou na frente do Barão, entrando corajo-
samente no Zoológicoda Piores Mentiras do País da 
Mentira.
– Cuidado, Mentira Alice! – avisou o mentiroso-
-chefe. – Não chegue perto das grades!
A Menina viu-se num corredor largo e comprido, 
ladeado por jaulas, como seria em um zoológico co-
mum, se os zoológicos comuns fossem instalados dentro 
de cavernas.
O urro assustador vinha do fundo do corredor, mas, 
quando os visitantes foram percebidos pelos ocupantes 
das outras jaulas, um coro de urros medonhos juntou-se 
ao urro inicial.
Foi um pandemônio! As poucas mentiras que ti-
nham tido a coragem de entrar com o Barão e com Alice 
deram meia-volta e desapareceram na mesma hora.
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– Que bagunça, Barão! – protestou Alice, sem medo 
nenhum. – Com esse barulho todo, nem vai dar pra gen-
te conversar!
Por sorte, naquele país esquisito o comando mági-
co funcionava para enfrentar qualquer dificuldade, e o 
Barão gritou:
– Digam a mentira! Toda a mentira! Somente a 
mentira! Nada mais que a mentira!
Na mesma hora, os urros cessaram e Alice sentiu-
-se aliviada com o silêncio:
– Ufa! Agora melhorou. Mas eu não entendi uma coi-
sa, senhor Barão. O que é que tem a ver mentira com urros?
O Barão sorriu:
– Fácil, Mentira Alice! As mentiras perigosas ur-
ram urros de mentira, é claro. E ordenar que elas só 
falem a mentira obriga que as danadas fiquem quietas, 
porque, se o urro é de mentira, o silêncio é de verdade, 
compreendeu?
– Não.
– Ótimo! Se você disse “não”, e é uma mentira men-
tirosa, quer dizer que você diria “sim” se fosse verdade e 
isso mostra que você entendeu tudo direitinho.
– Mas eu não entendi nada!
– Está bem, Mentira Alice, está bem. Já entendi 
que você entendeu. Não precisa mentir mais.
“Esse Barão ainda vai acabar passando a loucura 
dele pra mim!”, pensou a menina. “Ele está convencido 
de que eu sou uma mentira como todas as outras. Bom, 
o jeito vai ser aceitar a maluquice dele...”
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– Venha, Mentira Alice. Venha conhecer as menti-
ras de que todo mundo tem medo! Aposto que você vai 
reconhecer algumas, sem que eu tenha de apresentar. 
Veja, esta aqui, na primeira jaula.
Alice olhou para dentro da jaula e lá viu um ho-
mem de terno e gravata e charuto na mão que, ao perce-
ber que tinha plateia, começou a discursar:
– Meus queridos eleitores! Vocês sabem que eu 
sempre dediquei minha vida à felicidade de vocês! Vo-
tem em mim, que eu prometo construir três pontes, uma 
em cima da outra, sobre o rio que atravessa vossa cida-
de. Se não houver nenhum rio atravessando a cidade, 
podem deixar que eu construo também o rio! Prometo 
que... prometo que... prometo que...
O Barão chegou bem perto de Alice e perguntou:
– E então? Preciso contar quem é esta daqui?
– Não – respondeu a menina. – Esta é fácil. É a 
Mentira de Político.
– Fácil mesmo. Ela tem uma irmã gêmea, a Dema-
gogia, muito parecida com ela.
Ao lado havia uma jaula ocupada por uma figura ma-
gra, encovada, barbada, que dava desprezo só de olhar.
– Essa daí, Mentira Alice, é o risco que correm a 
Fofoca e o Fuxico. Se exagerarem, as duas podem ficar 
como ela. É a Difamação!
– Que horrível, Barão Mimi! Mas que cheiro tão 
ruim é esse? Puf! Vem daquela ali. Parece até que nun-
ca tomou banho na vida. Por que vocês não a obrigam a 
tomar um banho?
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– Não é possível, Mentira Alice – respondeu o Ba-
rão. – Essa é a Mentira Deslavada. Se a gente der um 
banho nela ela vira Mentira Lavada e perde a razão de 
continuar mentindo.
– E esta outra? – apontou Alice, procurando ficar lon-
ge da outra mentira tão fedida. – Gozado... uma hora ela pa-
rece uma coisa, mas logo fica diferente! Por que isso?
– Porque ela é a Falsidade, Mentira Alice. Vive mu-
dando de aspecto. E note a companheira de jaula dela: é a 
Fraude, que volta e meia a gente encontra abraçada com a 
Mentira de Político. A Fraude, por sua vez, é irmã gêmea 
daquela figura horrorosa ali: é a Corrupção.
Alice ainda examinava o desprezível aspecto da 
Corrupção quando, da próxima jaula, duas vozes roucas 
começaram a berrar insultos. Cada tipo mais tremendo 
do que o outro, e o Barão, segurando a menina pelo bra-
ço, ajudou-a a afastar-se dali.
– Vamos pra longe, Mentira Alice. Essas duas nem 
dá pra aguentar! Tape os ouvidos. Essas são a Injúria e 
a Calúnia!
Alice parou de repente e fez força pra livrar-se das 
mãos do Barão:
– Espere um pouco, Barão Mimi! Essa Calúnia eu 
quero ver de perto. Acho que é a ela que eu procuro!
Tapou os ouvidos pra não ouvir tantos xingamentos 
e falsas acusações e encarou o bicho feio que o mentiroso-
-chefe tinha apresentado como sendo a Calúnia. Mas 
achou estranho: aquela Mentira não tinha o menor jeito 
do Juninho...
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– Está bem, Barão. Acho que não deve ser esta. Va-
mos em frente.
A próxima era uma personagem com ar bem sério, 
que olhou firme nos olhos da visitante:
– Pode confiar em mim! Pode confiar em mim!
– Que coisa maluca! – comentou Alice. – Por que eu
deveria confiar nela? Que mentira é essa?
O Barão baixou a cabeça. Mesmo sendo um menti-
roso de pai e mãe, ele tinha seus princípios:
– Essa é uma vergonha, Mentira Alice. É a Traição...
– Ah, dessa eu quero distância – disse a menina.
– Vamos conhecer a próxima.
Enquanto se afastava da Traição, Alice não parava 
de pensar:
“Até agora, nem uma dessas se parece com a Men-
tira do Juninho. Onde é que essa danada se escondeu?”
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A MENTIRA 
CABELUDA
Logo adiante, uma mentira franzina encolhia-se. 
Assim que percebeu a aproximação dos dois visitantes 
do Zoológico das Piores Mentiras, furtivamente procu-
rou esconder-se nos fundos da jaula.
– E essa daí, tão tímida? Quem é?
– Tímida? Traiçoeira, você deveria dizer. Dessa 
ninguém gosta. Vive escondida aí, sem amigos nem en-
tre as mais horrorosas das mentiras. É a Mentira Covar-
de que, por desleixo ou preguiça, procura esconder res-
ponsabilidades não assumidas. Uma coisa doida que... 
ahran... ahum... Coisa doida aconteceu quando eu che-
guei a São Petersburgo, depois da maior nevasca que o 
mundo já viu!
– Ai, ai, ai! Barão, diga a men...
– Eu estava exausto, amarrei o cabresto do meu 
cavalo na ponta de uma vareta de ferro que estava es-
petada na neve e acomodei-me pra passar a noite. De 
manhã, quando acordei, estava deitado na praça de uma 
cidadezinha e... nada do meu cavalo! Teria sido roubado 
durante a noite?
– Diga a ment...
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– Que nada! É que eu havia parado pra descansar 
justo em cima de uma cidadezinha que tinha sido 
 totalmente coberta pela neve no dia anterior. Com o sol 
da manhã, a neve derretera sem que eu percebesse e, 
adormecido, fui descendo suavemente, até continuar 
dormindo no chão firme da praça. Mas o meu cavalo 
relinchava de desconforto – coitado! –, amarrado como 
estava na cruz do campanário da igreja, cuja ponta eu 
tinha confundido com uma vareta de ferro espetada na 
neve. Daí, não tive outro jeito senão...
Como você já percebeu, o comando de dizer somente 
mentiras pra parar com a confusão daquele país tão ma-
luco tinha uma validade temporária. Por isso, naquele 
instante, enquanto o Barão punha-se a contar suas po-
tocas, urros ameaçadores novamente levantaram-se de 
todas as jaulas! O efeito do comando havia se esgotado, 
tanto para o Barão quanto para as outras mentiras.
E Alice tomou as devidas providências, berrando 
com toda a força:
– Digam a mentira, toda a mentira, somente a men-
tira, nada mais que a mentira!
Como você já esperava, os urros cessaram na mes-
ma hora e o Barão retomou o assunto, como se nada ti-
vesse acontecido:
– Como eu ia dizendo, a MentiraCovarde é...
Alice cortou, apontando pra uma nova jaula:
– Barão Mimi, veja que interessante: esta daqui fi-
cou quietinha enquanto todas as outras mentiras urra-
vam. Por quê?
– Pif! – fez o Barão, com desdém. – Dessa aí eu pas-
so longe!
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– Por que, Barão? Quem é ela?
– É a mais desprezada por todas nós, Mentira Alice.
É a Mentira por Omissão, uma mentira muda, a Menti-
ra que mente mesmo sem falar!
“Puxa, numa coisa pelo menos esse mentiroso- 
-chefe tem razão”, raciocinou Alice. “Aqui tem mentira
pra todo gosto! Ou pra todo desgosto...”
Os dois continuavam avançando através do longo
corredor úmido e mal iluminado, entre as jaulas que
aprisionavam os mais tremendos monstros. À medi-
da que avançavam, um fedor começava a empestear
tudo em volta. Já estava se tornando insuportável,
e Alice ia protestar com o Barão, quando, desta vez
bem de perto, ouviu-se novamente o tremendo urro.
E que urro!
– Barão! – exclamou a menina. – O que é isso?
Antes que o mentiroso-chefe pudesse responder, 
Alice viu-se ao pé de uma jaula imensa e, do outro lado 
das grades, bem pertinho dela, lá estava uma figura as-
sustadora de verdade!
Alice deu um pulo pra trás, refugiando-se atrás do 
Barão, e viu que até mesmo o mentiroso-chefe, governa-
dor do País da Mentira, estava tremendo de medo.
E ninguém teve de apresentar a figura monstruosa 
para Alice...
Era um bicho enorme, peludo, barbado, com uma 
cabeleira comprida e desgrenhada, de onde pululavam 
piolhos e baratas... Tinha os olhos esbugalhados e a 
bocarra aberta, de onde escorria uma baba grossa e 
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 esverdeada. E, além da baba, daqueles beiços bafejava-se 
um mau hálito capaz de infeccionar quem chegasse 
mais perto!
Não, o monstro não precisava ser apresentado. Só 
poderia ser...
– A Mentira Cabeluda!
Que horror! Aquilo deveria representar a soma de 
todas as barbaridades que Alice tinha conhecido no 
Zoológico das Piores Mentiras. Aquela era a Pior Menti-
ra, nada poderia ser tão horrendo quanto ela!
“A Mentira do Juninho?”, pensou a menina, tre-
mendo de emoção.
Não, não poderia ser, nem de longe. Da fala do seu 
amigo querido jamais poderia sair alguma coisa medo-
nha como aquela!
“Será... será que eu estou errada?”, continuava ela a 
matutar. “Então, qual será a Mentira do Juninho?”
Horror! Nesse momento, as garras peludas da Men-
tira Cabeluda sacudiram as grades da jaula. Sua força 
era tremenda!
– Não fuja! Não fuja, Mentira Alice! – gritou o Ba-
rão, que já estava mentindo de novo e dizia tudo ao con-
trário do que queria. – Fique onde está!
Mas o aviso veio tarde demais! A Mentira Cabeluda 
já conseguira entortar as grades e seu corpanzil medo-
nho espremia-se entre elas, procurando escapar! Seus 
olhos injetados de sangue fixavam-se em Alice. A meni-
na era seu alvo!
Apavorado, o Barão gritava suas mentiras:
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– Ela não pensa que você não é uma mentira porque 
suas pernas não são compridas e seu nariz não é peque-
no! Ela não quer destruir você! Não fuja!
Sem perder a calma, Alice logo viu que era só ti-
rar os “nãos” do que o Barão Mimi falava pra entender 
que a fera babante estava prestes a arrebentar a jaula e 
devorá-la!
O braço peludo da Mentira Cabeluda estendeu-se 
para Alice. A menina safou-se e correu na direção da 
grande porta de entrada do Zoológico das Piores Men-
tiras.
Atrás de si, ouviu um CRÁS! e adivinhou que a jau-
la viera abaixo! Passos pesados ressoavam pelas paredes 
e pelo piso de pedra, correndo pra pegá-la!
Mais forte ainda, porém, no meio daquela barulhei-
ra toda, a menina ouviu a voz do Barão, agora mudada, 
que, estranhamente, passava a gritar:
– Alice, aprenda a escolher o seu caminho! Você 
tem de descobrir a diferença! Aprenda a escolher o seu 
caminho, Alice!
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Alice atravessou a porta e viu-se de novo na imensa 
caverna, lotada por todas as mentiras, que se puseram a 
correr feito baratas tontas ao ver que, atrás da menina em 
fuga, a Mentira Cabeluda vinha babando de ódio!
Como fugir do monstro? Não parecia haver qual-
quer porta ou abertura que servisse para escapar daquela 
caverna. Tudo continuava bem escuro, sem indicação de 
uma luz de saída.
Repentinamente, a multidão de mentiras abriu-se, 
formando uma longa ala entre todos eles, como se indi-
cassem um caminho para a fugitiva. Alice olhou e, no 
fim daquela passagem, um grande Espelho flutuava a 
meio metro do chão!
“O Espelho do Sótão da Vovó!”
Já sentindo o bafo da Mentira Cabeluda e vendo 
atrás de si refletida no Espelho a carantonha da fera, 
prestes a agarrá-la, Alice não hesitou: deu um pulo e 
atirou-se na direção do Espelho!
Enquanto seu corpo atravessava molemente o Es-
pelho, como se ele fosse feito de gelatina incolor, a meni-
na pensava, aliviada:
“Ufa! Que bom voltar para o Sótão da Vovó! Chega 
da maluquice dessas mentiras!”
Fiuuuum...
Lá atrás, do fundo da caverna do País da Mentira, 
continuava a ressoar a voz do Barão Mimi:
– Aprenda a escolher o seu caminho! Você tem de 
descobrir a diferença! Aprenda a escolher o seu cami-
nho, Alice!
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UMA VERDADE 
DE PESO
O salto de Alice não terminou no Sótão da Vovó. 
Ah, que lugar mais diferente do País da Mentira, aquele 
onde Alice aterrissou!
Era uma campina vasta, ensolarada, sem uma só 
nuvem no céu, brilhando de tanta luz! Toda aquela sen-
sação de liberdade, porém, tinha um estranho limite: a 
distância, para todos os lados que olhasse, a menina via 
grades muito altas, uma fileira de grades, cercando tudo, 
completamente.
Um pouco à frente de onde a menina tinha chegado, 
havia um caminho de pedras que dava numa encruzilha-
da. E ali estava um sujeito obeso, sentado num banquinho. 
Por incrível que pudesse parecer à menina, o sujeito prote-
gia-se debaixo de um guarda-chuva, apesar do bom tempo.
Alice andou até ele. Logo que chegou perto, viu 
que o peso exagerado do gordão forçava o banquinho, 
que se quebrou, derrubando-o no chão, numa queda 
espetacular!
– Ooops! – fez o sujeito, levantando-se e pegando ou-
tro banquinho em uma pilha de banquinhos que tinha 
atrás de si.
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Voltou a sentar-se e o novo banquinho vergou-se e 
esfacelou-se, novamente derrubando o pobre homem.
– Oooops! – fez ele, sacudindo-se da poeira e ar-
mando mais um banquinho, que se arrebentou outra 
vez, e o desastrado caiu no momento em que Alice per-
guntava:
– Desculpe, meu senhor. Por que insiste em sentar-
-se, se sabe que o banquinho vai quebrar?
– Porque sou uma Verdade. E a Verdade tem de es-
tar sempre bem assentada – respondeu o gordo, arman-
do mais um banquinho do estoque atrás de si e caindo 
novamente. – Oooops!
– Mas então por que o senhor se senta em banqui-
nhos fracos como esses? 
– Porque as bases da Verdade são muito frágeis. 
Oooops!
Desta vez Alice ajudou o caído a levantar-se, 
 comentando:
– Mas é que, com o seu peso...
O homem interrompeu-lhe a frase:
– Este é o Peso da Verdade. Ooops!
Alice perdeu a paciência: como ia poder perguntar 
alguma coisa ao homem, se ele não parava de cair?
– Espere um pouco! Fique caído aí só por um minu-
tinho. Preciso saber uma coisa. Onde está todo mundo?
– Todo mundo está no mundo inteiro.
– Ora, o senhor entendeu o que eu perguntei. Não 
quero saber do “mundo inteiro”. Isso é só um modo de 
dizer. Onde estão as pessoas deste lugar?
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– Só há um modo de dizer a Verdade – respondeu
o outro, levantando-se, sacudindo-see armando um
novo banquinho. – E neste lugar não há pessoas. Só
há Verdades.
– Neste caso, onde estão essas “Verdades”?
– Estão na reunião com o Sábio. É pra lá que eu
estou indo – levantou-se, sentou-se no banquinho e... – 
Oooops!
– Mas o senhor não está indo para lugar nenhum!
O senhor está é tentando ficar sentado nesses banqui-
nhos. E devo lhe dizer que não está sendo muito bem 
sucedido...
– É que eu não sei qual desses dois caminhos da en-
cruzilhada leva ao Sábio. Por isso, não posso ir pra lugar 
nenhum! Oooops!
Alice desistiu. O gordão era maluco demais. E, já 
que não tinha mesmo mais nada pra fazer, decidiu que 
o melhor seria ir para onde estava o povo daquele lugar.
O maluco tinha dito que havia uma reunião com um
certo “Sábio”. Bom, se o tal Sábio fosse sábio mesmo,
talvez pudesse indicar a ela como voltar para o Sótão
da Vovó.
Mas qual dos caminhos escolher?
“Aprenda a escolher o seu caminho, Alice!”, tinha 
dito o Barão Mimi. 
“Mas como eu vou conhecer a diferença entre um 
caminho e outro?”, pensava ela.
– É fácil – intrometeu-se o homem, como se tives-
se adivinhado seu pensamento. – Há o caminho da 
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 esquerda e o caminho da direita. É só decidir no par ou 
ímpar. A sua mão esquerda é ímpar e a direita é par. Jo-
gue par ou ímpar consigo mesma e vá pela estrada que 
ganhar o jogo.
A menina achou boa a sugestão, mas perguntou:
– E por que o senhor não fez a mesma coisa pra es-
colher como chegar à reunião com o Sábio?
– Porque as minhas duas mãos são direitas!
– Ué... Então não tem ninguém canhoto neste lugar?
– É claro que tem. Eles usam a outra mão direita.
Resposta mais maluca do que esta Alice nunca ti-
nha ouvido, mas achou boa a sugestão do gordo, pois ela 
sim tinha duas mãos, uma direita e uma esquerda.
– Par! Ímpar!
Ganhou a direita e para lá encaminhou-se Alice.
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VERDADE DE 
GUARDA-CHUVA
O caminho subia por uma pequena ladeira. Che-
gando no alto dela, Alice viu um vale com uma multi-
dão de guarda-chuvas e sombrinhas coloridas cobrindo 
quase todos os verdes da paisagem. Bem no centro da 
multidão, havia um grande tonel deitado sobre a relva.
Desceu naquela direção, abrindo caminho entre o 
mar de uma gente esquisitíssima que, debaixo de seus 
guarda-chuvas, olhava-a de lado, pelo jeito achando-a 
muito mais esquisita.
A multidão cercava o grande tonel.
De dentro dele, Alice viu sair um velho de barbas 
brancas, vestindo um camisolão surrado e sandálias 
mais gastas ainda. E o mais engraçado é que o velho saía 
do tonel já de guarda-chuva aberto numa das mãos e, na 
outra, uma lanterna acesa, igualzinha à do Barão Mimi!
– Bom dia – cumprimentou ela, timidamente.
O velho olhou-a firme, examinando-a de alto a baixo:
– Quem é você?
– Sou Alice...
– Alice? Você não é nenhuma Verdade conhecida. 
Então, deve ser uma Mentira.
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Alice fez uma cara desanimada:
– Ai, ai, ai! Mais um que me chama de “mentira”! Já 
estou ficando cansada dessa história. Meu nome é Alice. 
E eu sou uma menina. Igual às outras!
O velho levantou um pouco mais a lanterna e olhou-
-a de perto:
– Igual às outras?! Pelo que estamos vendo, você é 
muito pior do que as outras, pois tem pernas compridas. 
Deve então ser a Mentira de Perna Longa. Se todas as 
mentiras começarem a ser inventadas do seu jeito, nós 
nunca mais poderemos pegá-las! Mentiras de Perna 
Longa! Era só o que nos faltava!
Aí Alice protestou:
– Escute aqui, seu sábio: em vez de ficar pensando 
que eu sou uma mentira de perna longa, por que não 
conclui que, se eu não tenho pernas curtas, eu não sou 
uma mentira? Não seria mais lógico?
– Não – respondeu o velho. – O lógico é concluir que, 
se as mentiras têm pernas curtas, o aparecimento de 
uma de perna comprida significa que você é uma menti-
ra pior que as outras, pois é uma mentira que mente até 
o comprimento das pernas, só pra nos enganar!
– Isso não é lógico. A lógica é que...
O velho levantou uma de suas mãos direitas, inter-
rompendo:
– Não nos venha falar de lógica! De lógica entende-
mos nós!
– Ah, é? Bom, eu já me apresentei: sou uma menina e 
meu nome é Alice. E quem é o senhor? Que lugar é este?
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O velho acalmou-se subitamente e respondeu, de 
um modo gentil:
– Nosso nome é Diógenes de Sínope, mas pode nos 
chamar de Sábio Didi, se você quiser.
Alice olhou em volta, procurando outro velho de 
camisola e barbas brancas, pra entender quem eram 
aqueles “nós” a quem o velho se referia. Como não en-
controu nenhum, a menina só poderia mesmo chegar a 
uma conclusão:
“Pronto! Fui cair no meio de mais gente maluca! 
Esse velho fala de si mesmo como se fosse uma porção 
de pessoas! Bom, o jeito é aceitar o jogo.”
– Prazer, Sábio Didi. E por que os senhores ficam 
segurando essa lanterna acesa, se o tempo não poderia 
ficar mais claro do que está?
– Estamos procurando um homem honesto, que só 
fale a verdade! – respondeu o velho sábio. – Mas está di-
fícil, menina, está difícil...
– Oh, então os senhores já aceitaram que eu sou uma 
menina, não é? Que alívio!
– Hum... uma menina? Não é lógico. Por aqui, só 
quem tem pernas normais somos nós, as Verdades, ou 
mentiras tão mentirosas que mentem até a própria apa-
rência, como as mulheres vaidosas...
As suspeitas de Alice confirmavam-se, então. A 
menina tinha atravessado o Espelho para o Outro Lado. 
Estava no País da Verdade. Ufa! Agora não precisava 
mais ficar mandando os outros falarem a mentira, pra 
que falassem a verdade e deixassem que ela entendesse 
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pelo menos um pouquinho daquela loucura toda aonde 
seu próprio espirro a tinha levado.
– Este é o País da Verdade, não é?
– Verdade – respondeu o Sábio Didi. – Aqui você só 
vai encontrar verdades das mais verdadeiras. Mentira, 
aqui, não tem vez. Nós, as Verdades, ficamos o tempo todo 
tentando acabar com as mentiras, assim como as mentiras 
ficam procurando nos destruir. Mas o problema é que nem 
nós nem elas podemos ganhar essa guerra...
– Por quê?
– Porque, pra continuarmos sendo Verdades, pre-
cisamos da existência do Outro Lado. Se não houver 
o inverso da moeda, nós não existiremos mais. Para 
existirmos, é preciso que haja o avesso de nós mesmos. 
Do mesmo modo que a Mentira, pra existir, precisa 
contrastar com a Verdade, a Verdade precisa da exis-
tência da Mentira. Se nós destruirmos as mentiras, va-
mos ser o quê, já que não teremos nada com que nos 
comparar?
Alice teve de concordar. Era um raciocínio bem 
maluco, mas parecia lógico.
O velho olhava cismado para a menina. Coçou a 
barba, pensou muito e concluiu:
– Hum... acho que agora descobrimos: você é menti-
rosamente uma mentira!
A menina sacudiu a cabeça, desanimada, sem sa-
ber mais o que fazer pra convencer o sábio:
– Ai, ai, já cansei de dizer aos senhores que não sou 
verdade nem mentira, sou uma menina e pronto!
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– Você é uma mentira, das mais mentirosas! Sabe 
como nós descobrimos? Por que você não usa guarda- 
-chuva. E todas as verdades usam guarda-chuva!
– Eu só uso guarda-chuva quando está chovendo! 
– protestou Alice. – Além do mais, quando eu espirrei, 
estava sem guarda-chuva.
– Quando espirrou? Não entendemos o que tem a 
ver espirro com guarda-chuva...
– Deixem pra lá, Sábio Didi. Mas a minha curiosi-
dade é esta mesmo: por que vocês, as Verdades, estão 
sempre de guarda-chuva aberto, se nem está ameaçando 
chover?
– Se você fosse uma de nós, menina, saberia muito 
bem que é por causa dela!
– Dela? Quem é essa?
– Nem adianta contar. Só uma Verdade de verdade 
poderia compreender o perigo que ela significapara nós!
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TEM GENTE QUE 
NÃO GOSTA DE 
OUVIR A VERDADE
A visita forçada de Alice ao País da Verdade estava 
sendo bem mais difícil de compreender do que a aven-
tura no País da Mentira. Além da história do guarda-
-chuva, havia mais dois outros pontos que precisavam 
ser tirados a limpo:
– Sábio Didi, por que tudo aqui é tão iluminado? 
Por que não há nem nuvens no céu?
– Porque a Verdade, pra ter valor, tem de viver às 
claras.
– Hum... é um lugar muito claro mesmo, mas não 
entendi por que tudo está cercado por grades tão altas...
O velho encolheu-se e baixou a cabeça:
– Verdade é uma coisa perigosa de se dizer... Por 
isso, ficamos todas presas aqui, porque tem muita gente 
que não gosta de ouvir a verdade. Todo mundo adora ser 
enganado...
Alice enlaçou o braço do velho, como se ele fosse 
um vovô carinhoso.
– Oh, Sábio Didi, não fiquem tristes. Podem estar cer-
tos de que ninguém pode viver sem a Verdade. Eu mes-
ma vim parar aqui porque estava muito triste com uma 
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mentira. Pois acabei de visitar o País da Mentira e des-
cobri que elas são todas diferentes, nem todas são más. 
Mas agora, conhecendo o seu país, estou vendo que, ao 
contrário, a Verdade é uma só e...
O Velho pôs a mão sobre a mãozinha de Alice:
– Uma só? Que nada! Nós somos tão diferentes 
quanto as Mentiras. Venha. Vamos lhe mostrar.
Levantou-se com a agilidade de um jovem e, levan-
do a menina pela mão, guiou-a por entre aquele munda-
réu de Verdades cobertas com guarda-chuvas:
– As Verdades, menina, dependem do ponto de vis-
ta, das necessidades, das oportunidades. Por isso, elas 
sempre são diferentes.
Alice viu uma mulher luminosa, radiante. Até o 
guarda-chuva dela era iluminado!
– Esta é a Sinceridade...
– Linda!
– Aquela ali é a Autenticidade...
– Puxa, dessa não dá pra duvidar!
– Esta outra é a Exatidão...
A Exatidão, ao ser apresentada, aproximou-se de 
Alice e mediu-a com uma fita métrica. Depois, mediu a 
barba do Sábio Didi. Por fim, afastou-se, dizendo:
– Exato!
Chegaram a um sujeito muito elegante, vestido de 
fraque e cartola.
– Este é o Rigor...
Ao lado do Rigor, estava outra Verdade, com a cara 
mais emproada possível.
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– É o Caráter. Não muda nunca de expressão.
Em seguida, Alice notou uma jovem sentada à 
frente de um bastidor, desligada de tudo, sem olhar pra 
ninguém, que bordava caprichosamente uma linda ta-
peçaria.
– Esta é uma das mais respeitadas Verdades que te-
mos aqui, Alice – explicou o Sábio Didi. – É a Fidelida-
de. Nós a chamamos de Penélope.
– Esta tem nome próprio? Por quê?
– É uma bela história. Uma vez, o marido dela, cha-
mado Ulisses, saiu para a guerra e ninguém mais tinha 
notícias dele. Todo mundo dizia que ele havia morrido 
em uma batalha contra os troianos. Daí, como o reino 
de Ulisses era muito rico e como Penélope era muito 
bonita, vários pretendentes começaram a se aproximar 
da suposta viúva, querendo se casar com ela. Penélope, 
muito pressionada pelos pretendentes à sua mão, pro-
meteu que escolheria um deles para esposo logo que 
acabasse de tecer uma tapeçaria. Mas, como ela amava 
muito o marido e não aceitava que ele tivesse morrido, 
toda noite desfazia tudo aquilo que havia bordado de dia, 
de modo que a tapeçaria nunca ficava pronta. E ela es-
tava certa: um dia Ulisses voltou da guerra, acabou com 
os cobiçosos pretendentes e os dois continuaram sendo 
felizes para sempre!
Alice aplaudiu:
– Que história linda, Sábio Didi! Essa Penélope ser-
viria pra representar a Dedicação, ou o Amor Verdadei-
ro, ou...
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– Não, Alice. Isso tudo fica no País dos Bons Sen-
timentos. Já fomos lá, quando éramos criança. Mas de-
pois acabamos caindo no País dos Maus Sentimentos e 
deu um trabalhão pra sair de lá. Tinha o Ódio, a Inveja, 
a Cobiça, a Ganância... Nem queira saber!
Chegaram perto de uma outra Verdade, que ficava 
o tempo todo com o indicador apontando para os outros.
– Esta é uma das nossas mais necessárias Verda-
des, menina – apresentou o Sábio Didi. – É a Denúncia. 
Mas vive sempre meio insegura, coitada...
– Insegura? Por quê?
– Porque, se for confundida com a Delação, ela se 
torna uma das Piores Verdades!
– Não digam, Sábio Didi! Quer dizer que vocês aqui 
também têm um zoológico?
– Não.
– E onde estão essas Piores Verdades?
– Estão na cadeia.
– Puxa... cadeia é pior que zoológico, não é?
O Sábio Didi parou subitamente o passeio:
– Se elas são piores, têm de ficar num lugar pior. 
Ficam no Calabouço das Piores Verdades!
Alice lembrou-se do sufoco que tinha sido a visita 
ao Zoológico das Piores Mentiras e já ia perguntar mais 
sobre o tal calabouço, quando o que viu à sua frente dei-
xou-a de boca aberta:
– Sábio Didi, quem é essa? Que coisa espetacular!
Destacando-se na multidão de Verdades, a menina 
via a fada mais linda deste mundo! Se não tivesse duas 
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mãos direitas e um narizinho tão delicado, Alice podia 
jurar que era a irmã gêmea da Boa Mentira! E se não 
estivesse de guarda-chuva aberto, é claro...
Da linda fada, seus olhos se voltaram para o sábio, 
que sorria, enlevado:
– O que você está vendo, Alice?
– Estou vendo a fada mais deslumbrante deste e de 
todos os mundos...
Os olhos do Sábio Didi encheram-se de lágrimas, 
emocionado:
– Ah, estamos felizes de saber disso, Alice! Se o 
que você está vendo é mesmo tão maravilhoso assim, 
isso significa que você é uma ótima menina! Agora te-
mos certeza de que você não é uma mentira, pois esta é 
a Verdade-de-cada-um. A aparência dessa Verdade de-
pende de como cada um vê a sua própria Verdade... É 
você mesma que, no seu íntimo, é tão linda quanto ela!
Alice ia até corando com o elogio, quando, de re-
pente, aquela festa terminou!
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O ATAQUE 
DA DÚVIDA
Uma jovem Verdade vinha correndo de longe, esba-
forida, e gritando:
– Sábio Didi! Sábio Didi! Ela está nos atacando 
 novamente!
Foi uma balbúrdia! Todas as Verdades começaram 
a correr de um lado pra outro, a encolher-se debaixo de 
seus guarda-chuvas e sombrinhas, gritando:
– Ela! É ela novamente! Estamos perdidos!
O velho sábio imediatamente puxou Alice pra bai-
xo do seu guarda-chuva:
– Proteja-se, menina! Ela é mortal!
Alice olhou para o céu. Que coisa mais impressio-
nante! Uma revoada de corvos negros cercava uma bru-
xa mais horrenda do que a bruxa da Branca de Neve! 
Cavalgando uma vassoura e dando voos rasantes como 
um bombardeiro, a danada gargalhava...
– Qui-qui-qui-qui! Ca-ca-ca-ca-cá!
... enquanto lançava bolas de fogo na direção das 
Verdades, que corriam sem direção, desesperadas!
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As bolas explodiam em cima dos guarda-chuvas, 
numa sucessão de explosões coloridas como fogos de 
artifício!
O barulho era demais, e Alice teve de gritar no ou-
vido do velho:
– Sábio Didi, quem é essa? O que está acontecendo?
– É a Dúvida! Ela vive tentando abalar a confiança 
de nossas Verdades! Se não resolvermos as dúvidas que 
aparecem, como vamos afirmar que o que representa-
mos é Verdade?
“Ah...”, concluiu a menina. “Então é por isso que as 
Verdades usam guarda-chuva... Pra se protegerem da 
Dúvida!”
– São as Bolas de Fogo da Dúvida! – uma das Verda-
des gritava. – Protejam-se!
Uma Verdade mais estabanada tropeçou e seu guar-
da-chuva caiu-lhe de uma das mãos direitas. Na mesma 
hora, a Bruxa da Dúvida percebeu a oportunidade e não 
perdeu tempo, acertando a cabeça da vítima em cheio!
“Bum!”
Como numa mágica, a pobre Verdade desapareceu 
feito uma bolha de sabão, estourando noar!
– Sábio Didi! Sábio Didi! – imploravam as Verdades 
mais próximas. – O que vamos fazer? Ela vai destruir a 
todas nós ! Já pegou algumas de nós!
O velho sábio assumiu o comando:
– Vamos resistir, Verdades! Coragem! Corram ao 
Arsenal da Verdade! Tragam os Axiomas! Vamos jogar 
pesado com essa danada!
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Alice viu algumas Verdades mais fortes e mais dis-
postas saírem correndo pra cumprir a ordem e perguntou:
– Aquiciômas?! O que é isso?
– Artilharia antiaérea! – explicou o Sábio Didi, aos 
berros. – São as poucas afirmações que ninguém discute 
e todo mundo aceita.
– Ainda não entendi direito...
– Axiomas são Verdades Indiscutíveis. Um amigo 
nosso nos deu um exemplo: “Nada pode ser e não ser ao 
mesmo tempo”. É como você, que não pode ser Alice e 
não ser Alice ao mesmo tempo. O nome desse amigo é 
Aristóteles, mas, se você o encontrar, pode chamá-lo de 
Filósofo Totó, que ele não liga.
As Verdades que tinham ido buscar as armas já es-
tavam de volta e corajosamente começavam a lançar os 
tais Axiomas na direção da Bruxa da Dúvida. Os Axio-
mas subiam como raios e estalavam em fagulhas ao des-
truir as Bolas do Fogo da Dúvida! Os corvos perdiam o 
equilíbrio, soltando penas negras pra todo lado!
Vendo-se cercada pelos Raios-Axiomas, a Bruxa 
da Dúvida sacudia o punho fechado para o lado do Sá-
bio Didi:
– Ah, miseráveis Verdades! Vou embora, mas vol-
tarei! Eu voltarei! Qui-qui-qui-qui! Ca-ca-ca-ca-cá! Vocês 
não se livram de mim! Nunca se livrarão de mim! Nunca 
se livrarão da Dúvida!
E voou em retirada, seguida pelos corvos, enquanto as 
Verdades gritavam de alegria e abraçavam-se, vitoriosas!
Alice batia palmas:
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– Essa batalha foi demais! Por sorte, vocês tinham 
muitos Axiomas no arsenal.
– Nada disso, menina – informou o sábio. – Os 
Axiomas são muito poucos.
– São poucos? – admirou-se Alice. – E agora? E se a 
Bruxa da Dúvida voltar? Vai faltar munição!
– Não. Os Axiomas são poucos, mas são indestru-
tíveis. Podem ser usados vezes sem fim! Logo, o nosso 
pessoal vai recolher tudo o que a gente usou e guardar 
de novo no arsenal, até a próxima provocação da Dúvi-
da. E a Dúvida, minha menina, pode atacar a qualquer 
hora! A luta contra a Dúvida nos fortalece!
Nessa altura, o Sábio Didi resolveu impedir que a co-
memoração durasse muito e mandou fazer o levantamento 
das baixas da batalha. Quando recebeu os resultados, sa-
cudiu a cabeça, desanimado, comentando com a menina:
– É sempre assim! Tem gente cabeça-dura que se 
sente tão segura do que sabe que nem teme a Dúvida! 
Olhe só: perdemos duas Verdades Teimosas que es-
tavam fazendo doutorado e sentiam-se tão certas das 
ideias que defendiam que ficaram em campo aberto sem 
guarda-chuva! Coitadas...
Havia também mais duas Verdades Inseguras que 
tinham desaparecido sob as Bolas de Fogo da Bruxa da 
Dúvida por não se defenderem direito, mas o resto es-
tava bem, fora um ou outro arranhão ou queimadurazi-
nha de nada.
A glória de todos foi encontrar uma Verdade Hu-
milde que, apesar de ter sido fortemente bombardeada, 
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tinha conseguido defender-se de todas as bolas de fogo 
da Dúvida, rebatendo uma a uma e saindo com suas 
Verdades ainda mais fortalecidas.
Com lágrimas nos olhos, emocionada, a jovem Ver-
dade Humilde perfilou-se para receber uma medalha de 
bravura das próprias mãos do Sábio Didi. Muito compe-
netrado, o velho sábio alfinetou a medalha na roupa da 
Verdade Humilde, dizendo:
– Receba com orgulho esta condecoração, Verdade 
Humilde, pois tua coragem mais uma vez demonstrou 
que uma Verdade de verdade só pode provar a si mes-
ma se não tiver medo da Dúvida! Você soube aproveitar 
o ataque da Dúvida pra provar a força da sua Verdade. 
Pra você, a Dúvida foi uma fada e não uma bruxa. De 
agora em diante, você será conhecida como a Verdade 
Provada!
– Viva! – gritavam todos, que não conseguiam bater 
palmas, mas batiam palma com dorso da mão, pois to-
das só tinham mãos direitas. – Viva a Verdade Provada!
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A CUECA DO SEU 
AVÔ SUBIU 
NO TELHADO
Alice não tinha compreendido direito o discurso:
– Mas como pode a Dúvida ser uma bruxa perigosa 
para alguns e uma fada maravilhosa para outros?
O velho encolheu os ombros:
– Não é a Dúvida que é uma coisa ou outra. Na bata-
lha de hoje, duas Verdades Teimosas, esnobes como elas 
só, viraram fumaça com o ataque da Dúvida, enquanto 
a Verdade Humilde até ficou mais forte com o mesmo 
ataque. Depende do modo que cada um recebe a Dúvida, 
menina. É preciso saber escolher os caminhos!
– Gostei da explicação e da aventura, Sábio Didi – 
confessou Alice. – Ninguém pode com a Verdade! Agora 
eu sei que dá pra enfrentar a Dúvida quando ela é bruxa 
e até o mau hálito de qualquer Mentira Cabeluda: é só 
jogar uma Verdade, assim, na lata!
O velho levantou a mão, discordando:
– Não é assim, menina. A Verdade não pode ser jo-
gada assim, como você diz, “na lata”. Verdade é como 
homeopatia: tem de ser dita aos poucos, em pequenas 
doses, pra não assustar.
– Ué! Não entendi...
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– É simples. Vamos mostrar pra você.
Chamou uma jovem Verdade que passava por perto 
e perguntou:
– Amiga Verdade, vamos supor que você acabou de 
saber que o avô de um amigo seu tinha subido no telha-
do pra fazer um conserto, caiu de lá e morreu. Você sabe 
que esse amigo gosta muito do avô e que ele poderia ficar 
desesperado quando recebesse a notícia de uma só vez. 
Como você agiria?
A Verdade convocada nem pestanejou:
– É simples. Primeiro, pra preparar o espírito do 
meu amigo, eu enviaria uma mensagem dizendo: “A 
cueca do seu avô subiu no telhado”.
– Sim?
– Em seguida, eu mandaria outra mensagem as-
sim: “A cueca do seu avô caiu do telhado”.
– E depois?
– Fácil! E eu terminaria a comunicação dizendo: “O 
seu avô estava dentro da cueca”!
Alice caiu na gargalhada:
– Ah, mas que coisa sem jeito! E depois, o que você 
ia dizer? Que a cueca morreu? E, depois, que o avô mor-
reu junto com a cueca?
– Está bem, está bem – concordou o velho. – Vamos 
dizer que o exemplo não ficou bem claro. Então vamos 
chamar um especialista. Verdade Cuidadosa, venha cá, 
por favor!
Um sujeitinho com cara de sonso apresentou-se, 
sorrindo timidamente.
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– Agora você, Verdade Distraída. Venha cá. Você 
será a Mulher do Fazendeiro e a Verdade Cuidadosa 
fará o papel do Capataz. Vamos representar para a visita 
a pecinha “Verdade é como homeopatia”.
E o próprio velho começou, assumindo o papel de 
narrador:
A mulher de um fazendeiro,
muito rica na verdade,
tinha ido fazer compras
lá nas lojas da cidade.
Bem na praça principal,
a olhar pra um cartaz,
de repente deparou
com seu velho capataz.
Ora vejam quem encontro!
Que me contas, capataz?
Como está nossa fazenda?
Tudo vai na santa paz?
Eu de lá cheguei agora,
pra contar para a patroa:
na fazenda tudo bem,
lá vai tudo numa boa!
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Já comprei o que queria
e pra lá quero voltar.
Mas trocando em miúdos
nada mais tens pra falar?
A não ser por um detalhe,
incidente bem vulgar,
coisa pouca, uma bobagem,
pouco tenho pra contar...
Coisa pouca, tu me dizes?
Ora, fala-me depressa!
O que houve de verdade,
Que coisinha será essa?
Uma coisa bem pequena,
foi o que aconteceu.
Pra falar bem a verdade,
foi seu burro que morreu...
Mas afora o ocorrido,
vou contar para a patroa:
na fazenda tudo bem,
lá vai tudo numa boa!
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