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Direito ao Gênero

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Prévia do material em texto

UNIDADE CURRICULAR: Direito Civil I 
PROFESSOR: Victor Cavallini 
CURSO: Direito - Noturno 
 ALUNOS: Agatha Morgana 
 Carlos Mendes 
 Elielson Santos 
 Elizabeth Nunes 
 Emanuella Chaves 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO AO GÊNERO: 
CORPO E ORDENAMENTO JURÍDICO EM MUTAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JOINVILLE, 27/11/2018 
1. Introdução 
 
No Brasil, o movimento social de representatividade e luta pelos direitos de minorias 
ligadas à sexualidade é chamado de ​LGBT​​ (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). A 
nomenclatura foi adotada em 2008 e modificou o termo GLS (Gays, Lésbicas e 
Simpatizantes). A mudança de nomenclatura incide nas demais alterações e avanços que esta 
comunidade vem alcançando. 
O debate a respeito da questão de gênero passa necessariamente pela discussão a 
respeito da razão pela qual tal debate existe. Maria Berenice Dias, em “​Homoafetividade e os 
direitos LGBT​” discorre a respeito de uma motivação sobre este fato, quando menciona que a 
classificação das sexualidades é pautada por normas heterossexistas, tornando anormal 
qualquer comportamento divergente. Vê-se, portanto, que em relação ao tema da identidade, 
considerada como elemento de singularização da pessoa, relativamente aos seus traços e 
características essências, prevalece uma concepção essencialmente normativa, marcada pela 
noção biológica. 
Por essa razão, por muitos anos foram negados direitos àqueles que possuíam 
identidade de gênero ou orientação sexual fora dos padrões mencionados. Podemos observar 
que a manutenção deste ​status quo é pautada na moralidade, e sobretudo, na ilusão de que 
tudo pode ser nomeado. No entanto, a regra maior da Constituição brasileira é o respeito à 
dignidade humana, servindo de norte ao sistema jurídico nacional. Desta forma se faz 
necessário adotarmos os princípios da igualdade e da isonomia de potencialidade 
transformadora na configuração de todas as relações jurídicas, incluindo questões ligadas ao 
conflito entre o sexo biológico e a identidade de gênero; onde os transgêneros tentam muitas 
vezes adequar sua aparência e identidade para aquela com que se sentem confortáveis, o que 
gera problemas e discussões no plano do Direito. 
Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo explicar as áreas relacionadas ao 
gênero, a fim de adquirir conhecimento base para a discussão central, o Direito enquanto 
ferramenta de transformação social , sua adequação para atender aos direitos dos transsexuais 
e análise jurisprudêncial acerca do tema. 
 
 
2. Conceitualização & Classificações Sociais 
 
 
Para que se entenda de forma geral e ao mesmo tempo especifica o termo 
transgêneros é necessário que se faça um apanhado de forma geral de conceitos que 
englobam essas classificações sociais. 
 
2.1 Sexo biológico 
O sexo biológico é a formação do corpo genético; diz respeito aos órgãos genitais e 
capacidades reprodutivas. No sexo biológico existe, ainda, a intersexualidade. Nesse caso, 
ocorre uma variação nas características genéticas, o que faz com que a anatomia reprodutiva 
não se ajuste às definições de feminino ou masculino. 
 
2.2 Orientação sexual 
Corresponde à capacidade que cada um possui em sentir atração emocional, afetiva ou 
sexual por outros indivíduos. De acordo com uma cartilha divulgada pelo MPF (Ministério 
Público Federal), as orientações sexuais mais comuns são: 
● Homossexualidade: atração emocional, afetiva ou sexual por pessoa do mesmo 
gênero. 
● Heterossexualidade: atração emocional, afetiva ou sexual por pessoa de gênero 
diferente. 
● Bissexualidade: atração emocional, afetiva ou sexual por por pessoas dos dois 
gêneros. 
● Assexualidade: ausência de atração sexual por pessoas de ambos os gêneros. 
 
2.3 Identidade de gênero 
A identidade de gênero está relacionada à identificação do indivíduo, sua 
autopercepção. Quando ele nasce, é designado como menino ou menina. Cisgênero e 
transgênero são tipos de identidades de gênero, ou seja, são formas como as pessoas 
identificam-se. 
● Cisgênero​​ é o indivíduo que se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu. 
Um exemplo de cisgênero é uma pessoa que nasceu com genitália feminina e cresceu 
com características físicas de “mulher”, além disso adotou padrões sociais ligados ao 
feminino, comumente expressados em roupas, gestos, tom de voz. 
 
● Transgênero​​ é uma pessoa que nasceu com determinado sexo biológico, e não se 
identifica com o seu corpo. Um exemplo é o indivíduo que nasceu com genitália 
masculina, cresceu com as transformações causadas pelos hormônios masculinos, mas 
sua identificação é com o físico feminino. 
 
Dentro dos transgêneros, estão inclusos os ​transexuais​​ e as ​travestis​​: 
➢ Travesti é um termo tipicamente dos países da América Latina, Espanha e 
Portugal. É uma identidade de gênero feminina. O conceito de travesti ainda 
causa divergência. Mas, para grande parte da comunidade LGBT, a travesti, 
ainda que invista em roupas e hormônios femininos, tal qual as mulheres 
transexuais, não sente desconforto com sua genitália e, de maneira geral, não 
tem a necessidade de fazer a cirurgia de redesignação sexual. 
➢ O termo transexual deriva da classificação “transexualismo, transtorno de 
identidade sexual”, descrita na Classificação Estatística Internacional de 
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), publicada pela 
Organização Mundial de Saúde (OMS) e que não é atualizada desde 1989. 
Segundo a OMS, o transexualismo é “um desejo de viver e ser aceito enquanto 
pessoa do sexo oposto. Esse desejo se acompanha em geral de um sentimento 
de mal-estar ou de inadaptação por referência a seu próprio sexo anatômico e 
do desejo de submeter-se a uma intervenção cirúrgica ou a um tratamento 
hormonal a fim de tornar seu corpo tão conforme quanto possível ao sexo 
desejado”. 
 
 
3. Sobre o Direito ao Gênero 
 
 
3.1 Analogia ao Direito 
 
Antes que se entre no mérito em questão é necessário que se faça uma analogia 
prévia, a qual serve como base para o entendimento desta pesquisa, do que vem a ser o 
direito e como essa definição engloba a escolha de gênero. 
A palavra ​direito é considerada uma palavra polissêmica, ou seja, existem inúmeras, 
definições que dispõe desse termo, porém nesse contexto Imannuel Kant define a palavra 
direito como sendo ​“o conjunto de condições pelas quais o arbítrio de um pode conciliar-se 
com o arbítrio do outro, segundo uma lei geral de liberdade”. ​Ele se refere uma dada 
liberdade e de um arbítrio, inteiramente ligado, ao mesmo tempo em que limitado, a 
sociedade. Um exemplo disso está expresso Constituição em seu artigo 3° (inciso IV), que diz 
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação. Ou seja, é nos dada um direito, uma liberdade, mas na medida em 
que essa liberdade não afete o arbítrio alheio. 
 
3.3 Caracterização do termo “gênero” 
 
Maisdo que o caráter biológico, o gênero baseia-se na performance, na prática 
cotidiana dos papéis sociais, em uma visão binária, que homem e mulher desenvolvem. 
Sendo assim, o gênero carrega marcas de cultura e agrega direitos e deveres, privilégios e 
desvantagens aos seres. Parafraseando Simone de Beauvoir, autora base da questão polêmica 
do Enem 2015: “​Ninguém nasce mulher, torna-se mulher​”, podemos adaptar também para 
homens, visto que gênero é uma construção social. 
Na ordem de gênero, a desigualdade e a opressão têm levado repetidamente a 
demandas por reformas, discuti-lo é transitar sobre um conjunto de definições do que é ser 
masculino ou feminino, dentro de um espaço de lutas marcado por interesses múltiplos, como 
os religiosos de engessar o ​status de família, não tendo haver com o tipo de genitália que a 
pessoa possui. 
 
3.3 Direitos da Personalidade em Face da Transgeneridade 
 Os direitos da personalidade são aqueles que se encontram na esfera 
dos direitos subjetivos da pessoa a partir de seu nascimento. Eles são assegurados pela 
Constituição Brasileira, no entanto, há ainda grupos sociais que lutam por seus direitos. Entre 
eles destacam-se os transexuais. Os direitos de personalidade, são compostos por três 
elementos: psíquicos, físicos e morais. É possível defini-los como inalienáveis, pois não há 
possibilidade de transferi-los a outra pessoa e, como a própria personalidade, são infindáveis 
ao indivíduo. 
Observemos o artigo 3º da CF, em seu inciso IV: 
“Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e 
quaisquer outras formas de discriminação.” 
 
Tal fundamento garante o direito à igualdade do indivíduo, devendo ser respeitando o 
direito à identidade de gênero e orientação sexual da mulher transgênero, dessa forma, o 
direito de realizar intervenções corporais, mudanças nas vestimentas e comportamentais, 
configura o exercício expresso da personalidade, logo, deve o Estado fomentar pelo bem estar 
social desse segmento da sociedade. 
 
O artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil trata desses direitos: 
V – É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem; 
X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das 
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente 
de sua violação; ” 
 
Os direitos personalíssimos, dentro da Constituição Federal, estão fundamentados 
pelo princípio da dignidade da pessoa humana presente no artigo 1º, inciso III, que também é 
salvaguardada pelo Código Civil de 2002. Dentre os artigos do código, destacam-se: 
 
Art. 11: Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são 
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação 
voluntária. 
 
Art. 16: Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendido o prenome e o 
sobrenome. 
 
Art. 17: O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou 
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja 
intenção difamatória. 
 
No entanto, é impossível afirmarmos que todos os cidadãos brasileiros tenham 
igualitariamente seus direitos de personalidade. Exemplo disso são os próprios transexuais, 
pois o ordenamento não foi capaz de acompanhar o avanço da medicina no entendimento 
deste transtorno de identidade. 
A Constituição não prevê mudança de sexo. Mas, constitucionalmente, todo cidadão 
tem assegurado o direito à liberdade de dispor do próprio corpo de forma plena. Ele só não 
pode dispor da própria vida, não pode cometer o suicídio. Pelas nossas leis, o que não é 
proibido é permitido. E não é proibido mudar o sexo. Assim, observamos que o direito à 
busca do equilíbrio corpo-mente do transexual, ou seja, à adequação de sexo e prenome, 
ancora-se no direito ao próprio corpo, não só no princípio da dignidade humana, mas também 
no direito à saúde e no entanto, o Estado negou por tanto tempo o artigo 196 da CF, que 
coloca como obrigação do Estado a promoção de saúde. 
 
● No Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ocorreu uma jurisprudência onde os 
desembargadores decidiram que uma transgênero teria seu sexo jurídico mudado para 
transexual e utilizaram do princípio da equidade para respaldar sua decisão: 
“ não é uma mulher como igual às outras. É desigual, embora possa ser até 
esteticamente superior a muitas mulheres. Contudo, deve suportar o ônus de sua 
desigualdade. Se esta a transformou num ser diferenciado, primeiro um homem, 
depois um homem com alma feminina, depois uma mulher aparentemente perfeita, é 
justamente a essa desigualdade que se deve todo o fenômeno. B.B. não é mesmo igual 
às demais mulheres”. 
No entanto, para eficácia, de fato, dos direitos personalíssimos dos 
transgêneros, a mudança do prenome deve estar atrelada à mudança do sexo jurídico, 
no entanto, expor a condição de transexual em documentos da autora é deixá-la a 
mercê do preconceito alheio e não a classifica como pessoa, fere sua dignidade. 
É importante ressaltar, ainda, que tal utilização do princípio da equidade é 
errônea, pois, na verdade, se deve tratar desigualmente os desiguais a fim de torná-los 
iguais. Tendo em vista que essa decisão marginalizou-a, e deu-lhe o encargo de 
conviver nessa condição, já que ela não poderia ter tratamento idêntico às demais 
mulheres. 
 
 
 
 
4. Os transgêneros e a legislação 
 
O Brasil não possui legislação específica sobre os transgêneros. Entretanto, algumas 
decisões reconhecem os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e 
transgêneros, que formam o grupo LGBT. 
No caso das escolas e também outros ambientes públicos, os transgêneros devem ter 
garantido o direito de usar banheiros, vestiários e espaços segregados por gênero, quando 
houver, de acordo com a identidade de gênero de cada aluno ou pessoa. Se houver distinção 
de uniformes, o transgênero poderá usar aquele mais adequado à sua identificação. A decisão 
sobre as escolas também determina que a garantia de reconhecimento de identidade de gênero 
deve ser atribuída a estudantes adolescentes, mesmo sem a autorização dos pais ou 
responsáveis. 
A decisão faz parte do texto da Resolução n° 12 do Conselho Nacional de Combate à 
Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e 
Transexuais da Secretaria de Direitos Humanos. Tais itens conflitam com o artigo 5° da 
Constituição Federal. 
Um dos marcos em relação a este grupo é a resolução 1484/1997, aprovada pelo 
Conselho Federal de Medicina (CFM), que autorizou a realização de cirurgias de mudança de 
sexo no Brasil (também conhecida como transgenitalização), além do fato dessa intervenção 
poder ser realizada em no Serviço Único de Saúde (SUS) e em hospitais universitários, 
diversos transexuais puderam adequar sua anatomia ao seu gênero psicológico. Anterior à 
aprovação da transgenitalização, essa era considerada crime no Brasil e os médicos que a 
realizavam poderiam ter seus númerosdo Conselho Regional de Medicina (CRM) cassados. 
Assim como evitou que muitos transexuais fossem para fora do país para passar pela cirurgia 
(COUTO, 1999). 
Todavia, para um transexual realizar a cirurgia, era necessário obter uma autorização 
judicial, ou seja, ainda assim não estava ao alcance de todos, mas após a Resolução 
1653/2002 do CRM, “​o procedimento de adequação de sexo não necessitaria mais de 
autorização judicial, desde que atendesse aos padrões e requisitos pré-estabelecidos​” 
(VIEGAS; RABELO; POLI, 2013). Ainda assim, a cirurgia só foi amplamente 
regulamentada após a Resolução 1955/2010 do CRM que revogou a Resolução 1653/2002. 
“​Esta considerou ser o paciente transexual portador de desvio psicológico permanente de 
identidade sexual​” (VIEGAS; RABELO; POLI, 2013). Estabeleceu-se, assim, os 
pré-requisitos para a realização da cirurgia. 
M​udanças de prenome e de gênero já eram concedidas, predominantemente pelos 
Tribunais de Justiça do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Ato contínuo, e consolidando 
a jurisprudência, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a alteração do prenome e 
da designação de sexo de um transexual de São Paulo que realizou cirurgia de mudança de 
sexo. Diante da demanda de tutela a respeito do tema, ocorreu a ​Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (​ADI) ​4.275, que reconhece aos transgêneros, que assim o desejarem, 
independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da realização de tratamentos 
hormonais ou patologizantes. Dada a importância deste ato, explanaremos mais a respeito a 
seguir. 
 
4.1 Transgêneros e Lei Maria da Penha 
As proteções da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) resguardam quem exerce o 
papel social de mulher, seja biológica, transgênero, transexual ou homem homossexual​. 
Com base nesse entendimento, a Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de 
São Gonçalo (RJ) aceitou pedido da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e estabeleceu 
medidas para proteger uma mulher transgênero de sua mãe. 
Processo 0018790-25.2017.8.19.0004 
 
4.2 Comparativo com o âmbito internacional 
 
Sobre esse tema, é importante que se faça também uma consideração da legislação de 
outros países a respeito, do tema transgêneros. A legislação sobre pessoas LGBT varia de 
acordo com a cultura de cada país. 
A cultura Russa, por exemplo, é um dos países mais homofóbicos do mundo. Um 
novo ​decreto russo​, promulgado pelo primeiro-ministro do país Dmitri Medvedev em 29 de 
dezembro de 2014, classifica transexuais e transgêneros como inaptos para tirar e possuir 
carteiras de motorista, para eles pessoas transgêneros, são consideradas como pessoas que 
possuem transtornos mentais, a lei também nesse sentido visa impedir pessoas com quadros 
depressivos, bipolares, de dirigir , assim como viciados em jogos, pessoas com transtornos 
mentais de forma geral, segundo a visão deles. Ou seja, transgêneros são comparados com 
pessoas que possuem doenças e transtornos sérios, quando na verdade se trata de uma escolha 
, ou melhor, de um direito inerente a sua identidade de gênero. 
Em contrapartida, temos países avançados legislativamente; na Europa ocidental, a 
primazia pertence à Alemanha, por força de legislação de 2013, a Personenstandsgesetz 
(PStG). Outros países, como Portugal (lei n. 7/2011) legislam sobre a possibilidade de 
mudança de sexo e do respectivo nome; outros, como Malta, possuem uma legislação sobre 
identidade de gênero, expressões de gênero e características sexuais (GIGESC Act, de 
2015)19. 
No direito sul americano, merece referência a legislação argentina sobre Identidade de 
Gênero, Lei 26.743, de 2012 e a legislação uruguaia. Em especial, as leis uruguaias foram 
aprovadas em novembro de 2018, e possuem uma legislação bem específica no que diz 
respeito ao direito de transgêneros. A Câmara dos Deputados do Uruguai aprovou uma 
legislação que estabelece medidas para combater a discriminação contra transgêneros e 
avançar na garantia de seus direitos, como o acesso ao trabalho e à moradia. Já aprovada no 
Senado, a lei será promulgada pelo executivo. 
http://government.ru/media/files/A5X9GSAYrpA.pdf
 
Entre as medidas aprovadas estão: 
● Menores de 18 anos não precisarão da autorização dos pais para mudar seu nome ou 
receber tratamento hormonal; 
● facilidade para mudança de nome no Registro Civil; 
● 1% das vagas de trabalho público ficará reservado para trans; 
● indenização para vítimas de violência institucional ou privada para quem nasceu até 
fim de 1975. 
 
 
5. Manutenção do nome em documentos públicos 
 
 
Todo cidadão tem direito de escolher a forma como deseja ser chamado. Assim 
definiu o STF no dia 1º de Março de 2018, ao reconhecer que pessoas trans podem alterar o 
nome e o sexo no registro sem a necessidade de passar por cirurgia. A ​Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (​ADI) ​4.275, reconhece aos transgêneros, que assim o desejarem, 
independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da realização de tratamentos 
hormonais ou patologizantes, o direito à substituição de prenome e sexo diretamente no 
registro civil. Todos os ministros da Corte reconheceram o direito, e a maioria entendeu que, 
para a alteração, não é necessária autorização judicial. 
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n. 4275, decidiu dar 
interpretação conforme a Constituição e o Pacto de São José da Costa Rica ao art. 58 da Lei 
6.015/73, que dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providências. 
 
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por 
apelidos públicos notórios. (Redação dada pela Lei nº 9.708, de 1998) 
Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de 
fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por 
determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público. 
(Redação dada pela Lei nº 9.807, de 1999) 
 
A alteração pode ser realizada diretamente no cartório onde o assento foi lavrado e 
será realizado com base na autonomia da pessoa requerente, ou seja, o (a) interessado (a) irá 
declarar, perante o registrador, a sua vontade de proceder à adequação da identidade mediante 
a averbação do prenome, do gênero ou de ambos. 
 
5.1 Sobre a alteração 
 
Exige-se a apresentação dos seguintes documentos junto ao cartório: 
 
I – certidão de nascimento 
atualizada; 
II – certidão de casamento 
atualizada, se for o caso; 
III – cópia do registro geral de 
identidade (RG); 
IV – cópia da identificação civil 
nacional (ICN), se for o caso; 
V – cópia do passaporte brasileiro, 
se for o caso; 
VI – cópia do cadastro de pessoa 
física (CPF) no Ministério da 
Fazenda; 
VII – cópia do título de eleitor; 
IX – cópia de carteira de identidade 
social, se for o caso; 
X – comprovante de endereço; 
XI – certidão do distribuidor cível 
do local de residência dos últimos 
cinco anos (estadual/federal); 
XII – certidão do distribuidor 
criminal do local de residência dos 
últimos cinco anos 
(estadual/federal); 
XIII – certidão de execução 
criminal do local de residência dos 
últimos cinco anos 
(estadual/federal); 
XIV– certidão dos tabelionatos de 
protestos do local de residência dos 
últimos cinco anos; 
XV – certidão da Justiça Eleitoral 
do local de residência dos últimos 
cinco anos; 
XVI – certidão da Justiça do 
Trabalho do local de residência dos 
últimos cinco anos; 
XVII – certidão da Justiça Militar, 
se for o caso. 
 
Concluída a alteração cartorária, o cartório comunicará o ato oficialmente aos órgãos 
expedidores do RG, ICN, CPF e passaporte, bem como ao TRE. Cabe o (a) interessado (a) 
providenciar a alteração nos demais registros que digam respeito, direta ou indiretamente, a 
sua identificação e nos documentos pessoais. 
 
5.2 Casos Notórios 
Exemplo de uma das pessoas que conseguiram a troca de nome foi a Servidora 
pública do Governo do Distrito Federal, a maranhense Bianca Moura de Souza, de 47 anos. 
Bianca nasceu José Moura de Souza Filho e, nos últimos 20 anos, abandonou essa identidade 
para assumir o gênero feminino. Conseguiu a alteração em setembro de 2011, um ano e meio 
depois de dar entrada em toda a documentação. 
Houve também o caso da primeira criança trans a conseguir a alteração do nome em 
registro,é o caso de Joana, de 11 anos. Nos novos registros, atualizados há dois anos, constam 
o nome, que ela mesma escolheu, e o gênero: feminino. Joana tornou-se a primeira criança 
transgênero no Brasil a conseguir autorização na Justiça para que pudesse mudar seus 
documentos. A permissão para que a criança alterasse seus registros foi concedida após os 
pais da garota pleitearem a mudança ao longo de três anos na Justiça. A decisão que autorizou 
a alteração dos documentos foi dada em 2016 pelo juiz Anderson Candiotto, da Terceira Vara 
da Comarca de Sorriso. Joana nasceu Juliano. Mas desde os cinco anos de idade, a criança 
utilizava 'Joana' como nome social na escola, conquista obtida após os pais recorrerem ao 
Ministério Público de Mato Grosso. ​A família vive no município de Sorriso (MT). Na região, 
somente os mais próximos sabem que a criança é transgênero. Para muitos, trata-se de uma 
garota que nasceu com o mesmo gênero com o qual se identifica, pois desde os quatro anos 
ela sai às ruas vestida como menina. 
 
6. Jurisprudência Local 
 
6.1 Transexual ressarcido por plano de saúde que negou cirurgia para retirada de seios 
 
A Justiça decretou o ressarcimento de transexual porque seu plano de saúde se negou 
a cobrir despesas com procedimento de retirada dos seios, por considerá-lo de cunho estético. 
Na decisão, o desembargador Jorge Luís Costa Beber, do Tribunal de Justiça de Santa 
Catarina, ressaltou que o procedimento cirúrgico de mudança de sexo aumenta o bem-estar 
psicológico do indivíduo por aproximá-lo da sua identidade de gênero. 
Para o magistrado, como todas as práticas necessárias à transformação são ofertadas 
pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e como o sistema público não oferece aos seus usuários 
cirurgias apenas embelezadoras, o caráter do procedimento não restringe-se apenas ao 
aspecto estético. 
“É óbvio que existe, também, uma faceta estética no resultado da cirurgia, mesmo 
porque o abalo psicológico impingido a quem sofre os efeitos da transexual idade 
relaciona-se a divergências entre a forma como o indivíduo se enxerga e suas características 
físicas e anatômicas”, argumentou o desembargador Costa Beber, completando ainda: “Mas 
ela é absolutamente secundária ao seu objetivo maior, que é a adaptação ampla – psicológica, 
social, legal, biológica e física – do paciente ao gênero adotado.” 
 
 
6.2 Tratamento de redesignação sexual e o sistema único de saúde 
 
Apenas em agosto de 2008 é que o governo brasileiro optou por oficializar as 
chamadas cirurgias de redesignação sexual. Nesta oportunidade, foi instituído o "Processo 
Transexualizador" por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), com a publicação da 
Portaria nº 457. 
O termo mudança de sexo foi empregado para fazer referência à modificação dos 
traços físicos sexuais, mediante tratamento hormonal ou cirurgias propriamente ditas. Tal 
terminologia também abarcou o tratamento de mudança de sexo, no que se refere aos 
procedimentos da medicina postos à disposição de transexuais, não se limitando apenas à 
cirurgia genital. Nesse sentido, demonstram-se usuais as mudanças à base de medicação, no 
sentido de viabilizar a alternância de gênero em âmbito social e também auxiliar a autoestima 
do transgênero. 
Foi então que a Advocacia-Geral da União (AGU) posicionou-se a favor da 
imprescindibilidade do atendimento às exigências do Sistema Único de Saúde (SUS) para 
realização de cirurgia de troca de sexo. Defendem os advogados da União ser necessário o 
enquadramento do paciente em todas as exigências. O fato de ser um procedimento 
irreversível requer a sua maioridade, um mínimo de dois anos de acompanhamento 
psicoterapeuta, laudos psicológico e psiquiátrico favoráveis, bem como diagnósticos 
verossímeis de transexualidade. 
 
7. Conclusão 
 
A sociedade delimita papéis tomando como base o sexo jurídico para daí construir um 
sexo social. Este, por sua vez, decorre da educação familiar e social que a criança recebe de 
acordo com seu sexo jurídico. No que tange ao papel sexual, há uma expectativa do grupo 
social para que o indivíduo represente seu papel em conformidade com as linhas traçadas 
para o papel de homem e mulher. 
Nas sociedades ocidentais, o protótipo de normalidade traçado para os papéis sexuais 
é o do heterossexual. Dessa forma, a identidade de gênero irá se traduzir como sentimento 
individual quanto à identificação ao sexo masculino ou feminino, posto que a sociedade só 
concebe essas duas versões dicotômicas, não dando espaço para aqueles que não se 
enquadram numa dessas categorias. 
Como fruto do desenvolvimento tecnológico, a questão da mudança de sexo está cada 
vez mais viva e controversa, tanto na doutrina quanto nos tribunais. A grande problemática 
que afeta o tema é o fato de que, para a obtenção de um resultado fruto da liberdade e da 
vontade de um indivíduo, é necessário que se viole, em parte, direitos da personalidade até 
então indisponíveis, ou relativamente disponíveis sobre outros aspectos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8. Referências 
 
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