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Instrumentação Científica e Tratamento de Dados Experimentais Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Paulo Cezar Frangiosa Revisão Textual: Mateus Gonçalves Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica • Introduzir conceitos fundamentais sobre os métodos de análise térmica; • Definir a propriedade física a ser medida, expressando-a em função da temperatura; • Interpretar criteriosamente termogramas de modo a extrair o maior número de informa- ções possíveis; • Estudar a preparação das amostras em termos de estado físico, forma, quantidade, dilui- ção, pureza e histórico; • Discutir os fatores que afetam as análises; • Exemplificar as aplicações de acordo com situações que impactam no nosso dia a dia. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução às Técnicas Termoanalíticas; • Análise Termogravimétrica (TGA); • Termogravimetria Derivada (DTG); • Análise Térmica Diferencial (DTA); • Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC). UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Introdução às Técnicas Termoanalíticas Definições e Nomenclatura Setor de Produção O que os materiais biológicos de construção civil, farmacêuticos, polímeros, cerâmicas, com- bustíveis, metais, minerais, tecidos, vidros e gorduras têm em comum? Muitas respostas cria- tivas surgem dessa indagação. Certamente uma das mais interessantes é o fato de que todos esses materiais sofrem alterações de suas propriedades quando resfriados ou aquecidos. De acordo com Vogel (2002), denominam-se métodos térmicos de análises todas as técnicas nas quais as variações das propriedades físicas ou químicas de uma substância são medidas em função da temperatura. Dentro dessa definição, enquadram-se os mé- todos que envolvem mudanças na massa ou na energia. A Confederação Internacional de Análise Térmica e Calorimetria (ICTAC: International Confederation for Thermal Analysis and Calorimetry) define análise térmica como: “Grupo de técnicas nas quais se acompanham as variações em uma propriedade física de uma substância e/ou de seus produtos de reação, enquanto a mesma é submetida a uma programação de temperatura.” As técnicas termoanalíticas, como era de se esperar, são interdisciplinares, haja vista serem de extrema importância em vários setores, destacando-se o Químico, Metalurgia, Materiais de Engenharia (polímeros, metais e cerâmicas), Geologia, Mineralogia, Botâni- ca, Oceanografia, Agronomia, Ecologia, Farmacêutico e Alimentos. A Figura 1 destaca as técnicas de análise térmica mais conhecidas e suas respectivas aplicações. Análises Térmicas Termogravimetria (TG) Análise Térmica Diferencial (DTA) Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) Processos físicos e químicos envolvendo variação de energia. Análise Termo-mecânica (TMA) Análise Dilatométrica (DIL) Análise Dinamo-Mecânica (DMA) Mudanças nas dimensões, deformações, propriedades viscoelásticas e transições. TPP – (Laser/Light Flash Analysis) (LFA) Propriedades termofísicas (TPP). Cálculo da difusividade térmica, condutividade térmica e Cp Mudanças de massa devido à interação com a atmosfera, vaporização e decomposição. Figura 1 – Análises Térmicas: Classificação e Aplicações Temos, ainda, a Análise de Gás Envolvido (ou desprendido) (EGA), em que se mede qualitativa e quantitativamente os produtos voláteis formados durante uma análise térmi- ca, e a Termoptometria que, por meio de características ópticas, é empregada no estu- do de mudanças de fase, reações de superfície e mudanças de coloração de substâncias. 8 9 Importância e Aplicações As técnicas termoanalíticas permitem ao profissional em química obter informações relevantes sobre o material sob investigação: variação da massa, estabilidade térmica, efeitos da solvatação e hidratação, pureza, ponto de fusão e de ebulição, transições ví- treas, reatividade química, constantes térmicas; diagramas de fase; cinética da reação; comportamento de catalisadores, para citar apenas algumas. Quando uma amostra é submetida a aquecimento, dependendo se a intensidade do calor fornecido for maior ou menor que suas energias de ligação, mudanças físicas ou químicas em sua estrutura são esperadas. A Tabela 1 ilustra os principais eventos térmi- cos que uma substância pode sofrer. Tabela 1 – Classifi cação de eventos térmicos Reagentes Reação Produtos Evento Térmico A1(s) → → → → → A2(s) A(l) A(g) B(s) + gases Gases Mudança de fase Fusão Sublimação Decomposição Decomposição A(vítreo) → A(emborrachado) Transição vítrea A(s) + B(g) → C(s) Oxidação Redução A(s) + B(g) → Gases Combustão Volatilização/Subli- mação A(s) + gases(1) → A(s) + gases(2) Catálise heterogênea A(s) + B(s) → AB(s) Adição AB(s) + CD(s) → AD(s) + CB(s) Decomposição dupla Fonte: Adaptado de DENARI, 2012, p. 2 Na prática, a correta compreensão das propriedades térmicas de uma substância que será empregada na confecção de uma determinada peça – para a indústria automobilís- tica, por exemplo – acarretará uma série de informações estratégicas, de importância tanto industrial como mercadológica: otimização de processos de moldagem (visando redução de custos de produção); melhoria na aplicação (gama de utilização); degradação durante seu uso (tempo de vida útil sob condições normais de utilização); aspectos de corrosão (retardando ou prevenindo), bem como ação biológica e impactos ambientais. Importante! Nosso estudo sobre técnicas termoanalíticas será direcionado para a TGA/DTG e DSC/DTA. Informações sobre outras análises térmicas poderão ser encontradas em nossa seção “Ma- terial Complementar”. Um pouco de história Embora os fundamentos teóricos já se encontrassem solidamente estabelecidos desde o final do século XIX, com a Termodinâmica Clássica, ao estudarmos o desenvolvimento 9 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica dos métodos termoanalíticos, percebemos que sua evolução foi demasiadamente lenta, sendo impulsionada somente a partir da segunda metade do século XX. Giolito e Ionashiro (2004) nos ensinam que as técnicas termoanalíticas estão, his- toricamente, diretamente ligadas à manipulação do fogo e ao advento da mineralogia e metalurgia. A partir do momento em que o homem primitivo começou a dominar o fogo (por volta de 400.000 anos atrás) para seu próprio bem-estar e produção de ferramentas de caça, surgiam as lareiras e os fornos fechados: era o início do que hoje conhecemos por metalugia. É certo que, naquela época, todas as manipulações tinham caráter meramente empírico. Os filósofos entram em cena e, entre eles, Heráciclo (540 a.C.-470 a.C.) afirmando que o fogo seria o elemento fundamental da matéria, por ser imaterial, místico. Empódocles (495 a.C.-430 a.C.) trouxe a ideia dos quatro elementos fundamentais constituintes da matéria: ar, água, fogo e terra. A metalurgia e a mineralogia – além de outras ciências - obtiveram grande desenvol- vimento com a Expansão Árabe (após a morte de Maomé em 632 d.C.), surgindo os alquimistas que, com a incessante busca da pedra filosofal (substância milagrosa capaz de transformar qualquer sólido em ouro) e do elixir da vida (substância mágica que nos daria vida eterna), fizeram com que os fornos fossem cada vez mais utilizados nos laboratórios. Os processos de combustão e calcinação foram explicados pelos alquimistas, quando em 1723 o químico e metalúrgico alemão Georg Ernst Sthal (1659-1734) propôs que os materiais seriam compostos por cinzas e flogisto – entendido como o espírito ígneo liberado quando os materiais eram aquecidos. Pela teoria do flogisto, o processo de oxidação sofrido por um material seria a perda do flogisto, enquanto que a redução, a absorção do flogisto expelido por outro corpo. Percebe-se que, até esse momento, os poucos avanços em relação ao calor tinham caráter meramente qualitativo. No século XVIII, entretanto, o “pai da química moderna”, Antoine Lavoisier (1743- 1794), foi um dos primeirosa realizar análises quantitativas. Valendo-se de balanças analíticas para medir massas dos produtos da combustão, imortalizou-se pela famosa frase: “Em uma reação química feita em recipiente fechado, a soma das massas dos reagentes é igual à soma das massas dos produtos” - era o início da química moderna. Em 1887, o químico industrial Le Chatelier (1850-1936), estudioso nas áreas de mineralogia e pirometria, desenvolveu um termopar combinado de Pt/Pt-Rh, tendo in- troduzido o emprego de curvas apresentando variações nas taxas de aquecimento como função do tempo (dTs/dt versus t) na identificação de argilas. Em 1889, o engenheiro e metalurgista inglês, Roberts-Austen (1843-1902), foi o precursor da técnica hoje conhecida como Análise Térmica Diferencial (DTA). Ele aperfeiçoou o método diferencial de Le Chatelier quando introduziu um segundo termopar em uma substância inerte utilizada como referência: a diferença de temperatura (ΔT ou T-Ti) da referência era observada diretamente em um galvanômetro, enquanto o segundo galvanômetro registrava a temperatura da amostra. Na sequência, vieram Sladin e Kurnakov (1904) que, isoladamente, desenvolveram e aperfeiçoaram gravadores fotográficos de ΔT versus Ti, úteis no estudo de argilas e minerais de silicato nos quarenta anos seguintes. 10 11 O ano de 1951 é tido como o início da era moderna no desenvolvimento de instru- mentação para DTA. Nesse ano, Stone introduziu um instrumento de controle dinâmico de atmosferas, de modo que os efeitos de diferentes atmosferas sobre uma reação po- diam ser avaliados. A segunda metade do século XX foi marcada pelo desenvolvimento e aperfeiçoamen- to de novos materiais – como os polímeros, cerâmicas e compósitos – acarretando uma corrida no desenvolvimento de instrumentos voltados para análises térmicas. Empresas como a TA Instruments, Mettler-Toledo, Perkin-Elmer Co, NETZCH, DuPont, para citar apenas algumas, estão cada vez mais fortes no mercado até hoje. No Brasil, de acordo com Denari (2012), as técnicas termoanalíticas foram introdu- zidas pelo professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), Ernesto Giesbrecht (1921-1996), na segunda metade da década de 1960, tendo como colaboradores, entre outros, o professor Doutor Ivo Giolito – principal divulgador das técnicas. Desse momento em diante, as técnicas termoanalíticas tiveram grande impul- so, como ferramentas fundamentais em pesquisas nas mais diversas áreas do conheci- mento humano, tanto no meio acadêmico quando industrialmente. Análise Termogravimétrica ( TGA) Origens As pesquisas de Giolito e Ionashiro (2004) mostram que a Análise Termogravimé- trica (TGA) foi empregada pela primeira vez por P. Tuchot, em 1907, quando registrou uma série de curvas de decomposição térmica de piritas. Cinco anos depois, G. Urbain e C. Boulange desenvolveram uma balança com dispositivo de compensação eletro- magnética, utilizada para acompanhar a eflorescência de alguns sais hidratados. A primeira termobalança foi idealizada e construída pelo pesquisador japonês Kotara Honda, em 1915, tendo sido utilizada no estudo de curvas de decomposição térmica do sulfato manganoso (MnSO4.4H2O), do gesso (CaSO4.2H2O) e do anidrido crômico. Sua invenção permitiu, pela primeira vez, acompanhar a pesagem contínua da amostra com o aquecimento. Em 1923, na França, Marcel Guichard iniciou uma série de estudos sobre termogra- vimetria, tendo como objetivo central desenvolver um dispositivo que tornasse possível uma elevação linear da temperatura em função do tempo. Inicialmente, Guichard cons- truiu uma termobalança cujo forno era aquecido por meio de um bico de Bunsen. Três anos mais tarde, em 1926, passou a utilizar fornos aquecidos eletricamente, em atmos- feras constituídas por diferentes gases. Dois outros importantes marcos a serem destacados no desenvolvimento da TGA moderna ocorreram em 1958 e 1964. Em 1958, F. Paulik e colaboradores descreveram um instrumento multifuncional (batizado como Derivatograph), capaz de registrar simul- taneamente curvas TG, DTG e DTA. Em 1964, H. G. Wiedemann descreveu o sistema termoanalisador Mettler como sendo capaz de registrar simultaneamente as curvas TG, DTG, DTA e T versus t, em atmosferas estáticas, dinâmicas ou sob vácuo. 11 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Definição e Princípios Gerais A Análise Termogravimétrica (TGA) pode ser definida como: Técnica termoanalítica que acompanha a variação da massa da amostra, sob atmos- fera controlada, em função da programação de temperatura. Um gráfico que representa a massa (ou percentual da massa) em função do tempo é chamado “curva de decomposição térmica”, ou simplesmente termograma. Quando a análise termogravimétrica envolve uma mistura de materiais que apresen- tam comportamentos distintos de decomposição térmica, é possível detectar e quan- tificar os diferentes materiais ali presentes. No ensaio térmico mostrado na Figura 2, observam-se as perdas de massa por decomposição de amostras puras do polietileno (PE), polipropileno (PP) e mistura (50/50,%). As curvas termogravimétricas são quantitativas, podendo-se calcular a estequiome- tria do composto em um determinado intervalo de temperatura. Informações sobre a umidade presente na amostra e resíduo (cinzas) também serão disponíveis. 100 75 50 25 0 100 200 Temperatura (ºC) Pe rd a d e p es o ( % ) 400 500 600 0 Matéria volátil Umidade Cinzas Polietileno (100%) Polipropileno (100%) PP + PE (50/50%) Figura 2 – Curvas de TGA do Polipropileno (PP), Polietileno (PE) e Mistura (50/50%) As regiões horizontais dos termogramas (platôs) representam intervalos de temperatura nos quais os polímeros são termicamente estáveis, ou seja, não ocorre perda de massa. Aplicações • Estudo da decomposição térmica de substâncias orgânicas e inorgânicas, e das mais variadas classes de materiais: minerais, solos e argilas; petróleo, combustíveis e lubrificantes; madeira; polímeros, cerâmicas e vidros; tecidos e fi- bras; gorduras, alimentos e aditivos; fármacos e materiais biológicos; explosivos; • Calcinação e torrefação de minerais; • Corrosão de metais em atmosferas controladas; • Curvas de adsorção e dessorção; 12 13 • Degradação térmica-oxidativa de polímeros; • Desenvolvimento de processos gravimétricos analíticos; • Estudo de velocidades de destilação e evaporação de líquidos e de sublimação de sólidos; • Estudo da cinética de reações envolvendo espécies voláteis; • Ensaios de desidratação e higroscopicidade; • Propriedades magnéticas como temperatura de Curie e suscetibilidade magnética; • Reações no estado sólido com liberação de produtos voláteis, para citar as principais. Equipamento Independentemente do fabricante, os equipamentos para análise termogravimétrica consistem basicamente de uma termobalança, que é um instrumento que possibilita a pesagem de forma contínua de uma determinada amostra em função de um gradiente de temperatura (aquecimento ou resfriamento). Os principais componentes de uma termoba- lança são: balança registradora, forno, suporte de amostra, sensor de temperatura, pro- gramador de temperatura do forno, sistema registrador e controle da atmosfera do forno. A Figura 3 representa um diagrama de um equipamento de termogravimetria genérico. Figura 3 – Representação simplifi cada de uma termobalança Fonte: Adaptado de VOGEL, 2002, p. 267 Uma termobalança moderna é integralmente controlada por computador, permitindo uma gama enorme de programas de aquecimento, resfriamento e isotermas. O com- putador controla, inclusive, a atmosfera da amostra, que pode ser estática, dinâmica, à pressão ambiente ou pressão reduzida. A temperatura do forno e/ou da amostra é determinada por meio de um par ter- moelétrico. Via de regra, os fornos são construídos para operar em temperaturas entre 100 e 1200ºC. Alguns fabricantes, entretanto, disponibilizam fornos que podem atingir 2400ºC. O material de suportede amostra é escolhido em função da natureza da amos- tra e da temperatura máxima em que ela deverá ser aquecida: platina, tungstênio, níquel, alumínio, quartzo, alumina e grafite estão entre os mais utilizados. Dependendo do fabricante, a razão de aquecimento normalmente situa-se no inter- valo de 1°C/min até 100°C/min. A sensibilidade da balança – normalmente com capa- cidade de até 1,0 g – é da ordem de 0,1 μg. 13 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Fatores que afetam as análises de TGA Os fatores que podem influenciar as medidas de TGA pertencem a dois grandes gru- pos: fatores instrumentais e fatores ligados às características da própria amostra. Tabela 2 – Fatores que afetam as análises de TGA Fatores Instrumentais Fatores Inerentes À Amostra Razão de aquecimento do forno Quantidade de amostra Atmosfera do forno Tamanho das partículas Geometria do suporte de amostra Solubilidade dos gases envolvidos Composição do suporte de amostra Calor de reação Geometria do forno Natureza e compactação da amostra Sensibilidade da balança Condutividade térmica Considerações interessantes por ser feitas sobre alguns dos fatores listados: Fatores Instrumentais De um modo geral, a diminuição da razão de aquecimento do forno resulta em uma diminuição nas temperaturas aparentes das reações de decomposição. O efeito da atmos- fera do forno depende do tipo de reação envolvida e da natureza dos produtos de decom- posição. Uma atmosfera dinâmica de gás inerte, por exemplo, é utilizada para remover os produtos gasosos liberados durante a decomposição térmica. Por outro lado, se o gás de purga for o mesmo que o desprendido na reação, reações reversíveis serão afetadas. Alterações na forma das curvas TGA também podem ser verificadas pela ação de outros fatores instrumentais como: geometria e composição do cadinho, geometria do forno e sensibilidade da balança. Entretanto, esses fatores são controlados pelo fabrican- te dos equipamentos termoanalíticos. Fatores inerentes à amostra De um modo geral, quanto maior a massa de amostra, maior será a temperatura inicial de decomposição térmica, bem como a temperatura final (exceção ocorre para reações de decomposição exotérmicas). Se o objetivo for detectar a presença de com- postos intermediários, prefere-se utilizar quantidades reduzidas de amostra. O calor envolvido nas reações também pode afetar o aspecto das curvas TGA, pois desequilibra a igualdade entre as temperaturas do forno e da amostra, que devem ser iguais. Há casos em que esta defasagem – que em parte depende da razão de aqueci- mento - pode ser da ordem de 10ºC a maior (se a reação for exotérmica) ou a menor (se a reação for endotérmica). Importante! As três atmosferas mais comuns em termogravimetria são: ar estático (o ar ambiente difunde-se pelo forno); ar dinâmico (o ar comprimido de um cilindro passa pelo forno em vazão conhecida) e nitrogênio (livre de oxigênio, constitui-se num meio inerte). 14 15 Interpretando Termogramas Oxalato de Cálcio Observe a curva de TGA mostrada a seguir, relativa a uma amostra de oxalato de cálcio monohidratado (CaC2O4.H2O) pesando aproximadamente 8,0 mg, submetida a uma taxa de aquecimento de 5ºC/min até 1000°C, em atmosfera dinâmica de ar sin- tético (150 mL/min). A decomposição do composto ocorre de acordo com três eventos térmicos bem de- finidos, que são representados por patamares. As reações balanceadas de cada evento são tais que: Evento Térmico 1: → Intervalo de temperatura: 100 – 226°C CaC2O4.H2O(s) → CaC2O4(s)+ H2O(v) Evento Térmico 2: → Intervalo de temperatura: 346 – 420°C CaC2O4(s) → CaCO3(s) + CO(g) Evento Térmico 3: → Intervalo de temperatura: 660 – 840°C CaCO3(s) → CaO(s) + CO2(g) CaC2O4 H2O. CaC2O4 CaCO3 CaO 100º 226º 346º 420º 660º 840º 980º Ca2+ O O O CC O 2– Temperatura ºC M as sa g Figura 4 – Decomposição térmica de CaC2O4.H2O com taxa de aquecimento de 5ºC/min até 1000°C, em atmosfera dinâmica de ar sintético (150 mL/min) Mistura de Oxalatos de Cálcio e Magnésio A Figura 5 mostra a determinação automática de uma mistura de oxalatos de cálcio o magnésio (curvas 3 e 4). Podemos observar uma diferença significativa no compor- tamento entre os dois oxalatos: o oxalato de cálcio perde seu carbono e excesso de oxigênio em duas etapas (eventos “b” e “c”, na Tabela 3), enquanto o composto de mag- nésio não passa pelo estágio do carbonato. Assim, o oxalato de cálcio monohidratado apresenta três regiões bem distintas de decomposição térmica, enquanto o oxalato de magnésio dihidratado apresenta apenas duas. 15 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Tabela 3 – Decomposição Térmica de Oxalatos de Cálcio e Magnésio Evento Térmico Região de Decomposição a CaC2O4.H2O(s) → CaC2O4(s)+ H2O(v) 100-250°C b CaC2O4(s) → CaCO3(s) + CO(g) 400-500°C c CaCO3(s) → CaO(s) + CO2(g) 650-850°C d MgC2O4.2H2O(s) → MgC2O4(s)+ 2H2O(v) 100-250°C e MgC2O4(s) → MgO(s) + CO(g) + CO2(g) 400-500°C Fonte: Adaptado de VOGEL, 2002, p. 269 A curva de pirólise de uma mistura dos dois oxalatos deve, portanto, apresentar três etapas de decomposição. Figura 5 – Curvas de TGA de Compostos Inorgânicos Fonte: Adaptado de EWING, 1972, p. 352 A etapa final é inteiramente devida à eliminação de dióxido de carbono do carbonato de cálcio, o que permite o cálculo do teor de cálcio presente na mistura. Materiais Poliméricos Padrões de decomposição característicos de polímeros são usados com propósitos de identificação. As forças inter e intramoleculares presentes nesses materiais são responsá- veis por suas propriedades físicas. Se por um lado os polímeros termofixos (cadeias com ligações cruzadas ou crosslinking: infusíveis e insolúveis) não apresentam alterações no seu comportamento mecânico quando aquecidos, os termoplásticos (cadeias lineares ou ramificadas: fusíveis e solúveis), por outro lado, podem ser convenientemente processados. 16 17 0 20 40 60 80 0 200 400 Temperatura (ºC) PTFE PE PVC PP M as sa (% ) 600 100 Figura 6 – Curvas de TGA de Termoplásticos: Politetrafl uoretileno (PTFE); Cloreto de Polivinila (PVC); Polietileno (PE) e Polipropileno (PP) Fonte: Adaptado de STUART, 2002. p. 203 Da análise dos perfis dos termogramas, algumas conclusões interessantes surgem: • A cadeia ramificada do PP contribui para menor temperatura de decomposição em relação à temperatura de decomposição do PE ; • O PTFE se decompõe em temperatura maior que o PE, pois a energia da liga- ção C-F é maior que a energia da ligação C-H ; • O patamar observado na curva do PVC deve-se à liberação de HCl, sendo este fato uma preocupação no seu processo de reciclagem. O comportamento térmico de polímeros é essencial no que tange às suas aplicações, haja vista determinar seu comportamento termodinâmico. A temperatura tem influência decisiva sobre o comportamento mecânico dos plásticos, impac- tando diretamente no projeto de peças técnicas, bem como em sua reciclagem. Cerca de 20% dos produtos de plástico são descartados no intervalo de apenas um ano de uso. Encabecem essa lista o PP, PE, PVC e PS (poliestireno), a partir dos quais as embalagens são confeccionadas. Termogravimetria Derivada ( DTG) Definição e princípios gerais A Termogravimetria Derivada (DTG) nada mais é que um arranjo matemático a partir do qual a derivada da variação da massa em função do tempo (dm/dt) é registrada em função da temperatura ou tempo. Em suma, a DTG é a derivada primeira da TGA, pon- to a ponto. As termobalanças modernas, comercialmente disponíveis, possuem circuitos eletrônicos para obtenção automática da derivada, o que permite, em tempo real, a comparação direta entre as duas curvas, TGA e DTG. 17 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Interpretando Termogramas Oxalato de Cálcio A partir da curva de DTG, observamos claramente as temperaturas correspondentes ao início e final de cada um dos três eventos térmicos,juntamente à temperatura na qual a velocidade da reação é máxima (representada pelos picos no termograma). Adicional- mente, os picos agudos indicam claramente as reações sucessivas – o que, em alguns experimentos, não são passíveis de identificação via TGA. Figura 7 – Curvas de TGA (em preto) e DTG (em vermelho) de CaC2O4.H2O com taxa de aquecimento de 5ºC/min até 1000°C, em atmosfera dinâmica de ar sintético (100 mL/min) Fonte: DENARI, 2012, p. 15 Conhecendo-se as etapas de decomposição da amostra (item 2.6.1), cálculos relativos às perdas de água de hidratação (Evento Térmico 1), CO (Evento Tér- mico 2) e CO2 (Evento Térmico 3), além da percentagem de resíduo, podem ser realizados. Partindo-se de uma massa molar aproximada de 146 g/mol para o CaC2O4.H2O, resultam os seguintes cálculos de perda de massa (%): Evento Térmico 1 → Intervalo de temperatura: 96,8 – 186,4°C CaC2O4.H2O(s) → CaC2O4(s) + H2O(v) Perda = (H2O)/(CaC2O4.H2O) Perda(%) = 18/146 = 12,3% Evento Térmico 2 → Intervalo de temperatura: 380,4 – 491,9°C CaC2O4(s) → CaCO3(s) + CO(g) Perda = (CO)/(CaC2O4.H2O) Perda(%) = 28/146 = 19,2% Evento Térmico 3 → Intervalo de temperatura: 579,9 – 734,9°C CaCO3(s) → CaO(s) + CO2(g) Perda = (CO2)/(CaC2O4.H2O) Perda(%) = 44/146 = 30,1% 18 19 Resíduo (CaO): Intervalo de temperatura: 734,9°C (%) = 56/146 = 38,4% Dados experimentais obtidos no Laboratório de Análise Térmica, Eletroanalítica e Química das Soluções (LATEQS) do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP), utilizando um módulo simultâneo TGA/DTG-DTA, modelo SDT Q600 da marca TA Instruments, revelam valores muitos próximos aos calculados teoricamente, com variações de percentagem de perda de massa inferiores a 2%. As curvas de TGA/DTG representam parâmetros qualitativos e quantitativos. Pode- mos dizer que, na pirólise do oxalato de cálcio monohidratado, a 500°C o carbonato de cálcio é estável, enquanto que a 900°C o cálcio existe apenas como óxido simples. As faixas de temperatura de cada uma das reações dependem das condições experi- mentais, como razão de aquecimento e atmosfera do forno. Bagaço de cana-de-açúcar Gambarato (2012) realizou um estudo térmico interessante utilizando o bagaço da cana- -de-açúcar para descontaminação de soluções contendo zinco. A curva termogravimétrica (TGA) obtida para o bagaço da cana-de-açúcar in natura e sua primeira derivada (DTG), ilus- tradas na Figura 8, deixam claras as informações que podem ser obtidas por essas técnicas. Figura 8 – Comportamento térmico do bagaço de cana-de-açúcar in natura: TGA/DTG Fonte: GAMBARAT; SILVA; 2017 19 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Quadro 1 Evento Térmico 1 → Intervalo de temperatura: até cerca de 100°C Perda de água pelo material, fato inerente a todas as biomassas vegetais. Evento Térmico 2 → Intervalo de temperatura: 120 a 220°C Perda de massa de 6,8%: associada à termodegradação dos ex- trativos presentes no material, da hemicelulose e de compostos de baixa massa molar. Evento Térmico 3 → Intervalo de temperatura: 220 a 320°C Perda de massa de 31,1%: resultado da degradação da hemice- lulose e de parte da celulose do material. Evento Térmico 4 → Intervalo de temperatura: 320 a 380°C Perda de massa de 31,8%: ocorre a degradação da fração mais resistente de celulose e da lignina. Complementarmen- te observa-se, na curva de DTG, a temperatura onde ocorre a máxima degradação do material: 349°C. Nessa temperatura a velocidade de termodegradação é máxima. Evento Térmico 5 → Intervalo de temperatura: a partir de 380°C Perda de massa de 10,82%: degradação da fração final da ligni- na, sendo obtido o carvão residual em 800°C. Caracterização de Fármacos: Ácido Acetilsalicílico (Aspirina®) A industria farmacêutica beneficia-se dos ensaios termogravimétricos na medida em que eles podem ser empregados tanto para estudo de matérias-primas quanto produtos acabados: avaliação da estabilidade térmica; perfil de decomposição; teor de umidade; grau de pureza; intervalo de fusão e compatibilidade entre o fármaco e o excipiente es- tão entre as principais informações que podem ser obtidas. A Figura 9 ilustra os resultados obtidos de TGA/DTG para controle da qualidade de uma amostra de Aspirina® (Bayer). Figura 9 – Curvas de TGA/DTG da Aspirina® com razão de aquecimento de 10°C/min até 1000°C, com fluxo de ar sintético de 100 mL/min Fonte: Adaptado de DENARI, 2012, p. 37 20 21 Tabela 4 – Decomposição Térmica da Aspirina® Evento Térmico Intervalo de temperatura (°C) 1 23,2 – 101,4 2 e 3 101,4 - 219,4 - 264,7 4 264,7 - 438,6 5 438,6 – 589,6 Resíduo 589,6 Fonte: Adaptado de DENARI, 2012, p. 36 Análise Térmica Diferencial ( DTA) Definição e princípios gerais A Análise Térmica Diferencial (DTA) pode ser definida como: A técnica que determina continuamente a diferença entre as temperaturas da amostra e de um material de referência termicamente inerte, à medida que ambos vão sendo aquecidos ou resfriados em um forno. Na DTA, de acordo com Vogel (2002), a amostra e um material inerte de referência (normalmente α-alumina) são aquecidos ou resfriados segundo um protocolo usualmente linear em relação ao tempo. Se não há alteração química ou física da amostra, nenhuma diferença de temperatura entre a amostra e a referência será observada. Por outro lado, se uma reação ocorrer, uma diferença de temperatura, ΔT (entre a referência “Tr “ e a amostra “Ta”) será detectada, ou seja, ΔT = Tr – Ta. A Figura 10 representa uma curva típica de DTA, onde graficou-se ΔT versus tempe- ratura (ou tempo), dado que o aquecimento ou resfriamento são sempre feitos em ritmo linear (dT/dt = Constante). 1 2 Temperatura Δ T En do te rm a Ex ot er m a Figura 10 – Curva Idealizada de DTA. Pico 1: Exotérmico; Pico 2: Endotérmico Fonte: Adaptado de VOGEL, 2002, p. 271 21 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Importante destacar que a forma e a área dos picos fornecem informações sobre a na- tureza da amostra que está sendo analisada: picos endotérmicos agudos correspondem comumente a mudanças de cristalinidade ou a processos de fusão; picos endotérmicos largos referem-se a reações de desidratação. Mudanças físicas originam normalmente curvas endotérmicas, porém reações químicas, especialmente as de natureza oxidativa, geram curvas predominantemente exotérmicas. Aplicações A DTA é ferramenta poderosa e amplamente usada na investigação do compor- tamento térmico e composição tanto de produtos manufaturados quanto os de ocor- rência natural: caracterização de polímeros e blendas, comportamento térmico de compostos inorgânicos puros ou minerais como silicatos, ferritas, argilas, óxidos, ce- râmicas e vidros. Entre as informações obtidas via DTA, destacam-se: • Alívio de tensões; • Catálises; • Capacidade calorífica; • Condutividade térmica; • Controle de qualidade; • Pureza; • Entalpia das transições; • Estabilidade térmica e oxidativa; • Grau de cristalinidade; • Intervalo de fusão. Equipamento O equipamento para DTA (Figura 11) constitui-se, basicamente, por um forno aque- cido eletricamente (ritmo linear: dT/dt = Constante), contendo um suporte ou bloco dotado de duas cavidades (câmaras ou células), unidas por um termopar: em uma das câmaras coloca-se a amostra; na outra, o material termicamente inerte (referência). Figura 11 – Aparelhagem de DTA Convencional Fonte: Adaptado de VOGEL, 2002, p. 272 22 23 Fatores que afetam as análises de DTA Os fatores que podem influenciar as medidas de DTA estão representados na Tabela 5, a seguir: Tabela 5 – Fatores que afetam as análises de DTA Fatores Instrumentais Fatores Inerentes À Amostra Razão de aquecimento do forno Quantidade de amostra Atmosfera do forno Tamanho das partículas Geometria do forno Densidade de empacotamento Geometria do porta-amostra Calor específico Natureza da amostra Condutividade térmica InterpretandoTermogramas Geração de Diagramas de Fase e Estudos de Transição de Fase A Figura 12 mostra o perfil de DTA para o enxofre. Figura 12 – Termograma Diferencial para o Enxofre Fonte: J.Chiu. Anal.Chem.,1963, 35, 933 Tabela 6 Temperatura Evento Térmico 113°C Mudança da fase sólida: forma rômbica para monoclínica 124°C Ponto de fusão 179°C Transições das formas líquidas do enxofre (3 formas) 446°C Ponto de ebulição Determinação de pontos de fusão de fármacos Amostras puras de cafeína e paracetamol foram analisadas via TGA/DTA sob as seguintes condições: massa das amostras em torno de 4 mg; atmosfera de ar com vazão de 30 mL/min; razão de aquecimento de 10°C/min até 300°C em cadinho de platina. 23 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Figura 13 – Curvas simultâneas de TGA (em vermelho) e DTA (em azul) da cafeína pura Fonte: Adaptado de abq.org.br O ponto de fusão da cafeína pura obtido da curva DTA foi 236,8°C. Figura 14 – Curvas simultâneas de TGA (em vermelho) e DTA (em azul) do paracetamol puro Fonte: Adaptado de abq.org.br O ponto de fusão do paracetamol puro obtido da curva DTA foi 170,9°C. Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) Definição e princípios gerais A Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) pode ser definida como: A técnica termoanalítica na qual são monitoradas as variações de energia (entalpia) da amostra em relação a um material de referência termicamente inerte, à medida que ambos são submetidos a uma programação controlada de temperatura. A diferença básica entre as técnicas termoanalíticas DSC e DTA é que, a primeira, consiste em um método onde se medem as diferenças de energia (entalpia), enquanto na segunda são registradas diferenças em temperatura. O objetivo do desenvolvimento do DSC foi o de evitar ou compensar as dificuldades inerentes à DTA, quantificando a energia envolvida nas reações. 24 25 Aplicações A Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) apresenta muitas aplicações semelhan- tes à Análise Térmica Diferencial (DTA), já listadas no item 4.2. Método preferencial para análises térmicas quantitativas, a DSC pode ser usada para investigar sólidos compactos (granulados, componentes, moldes, etc.) assim como plás- ticos, borrachas, resinas ou outros materiais orgânicos, cerâmicas, vidros, compósitos, metais, materiais de construção, pós como fármacos ou minerais, fibras, tecidos, amos- tras líquidas ou viscosas como pastas, cremes ou gel. Equipamento O mercado dispõe de duas modalidades de equipamentos. Entretanto, embora for- neçam informações diferentes, calibrações adequadas levam a resultados semelhantes: Quadro 2 DSC por Compensação de Potência Possui um arranjo no qual referência e amostra são mantidos na mesma temperatura por meio de aquecedores elétricos individuais. DSC por Fluxo de Calor O arranjo mais simples (Figura 16) traduz-se num sistema onde a amostra e a referência – cada uma em seus respectivos suportes – são colocadas sobre um disco termoelétrico, por onde ocorrem as trocas de calor entre o forno e os materiais (referência e amostra). Figura 15 – Aparelhagem de DSC com fl uxo de calor Fonte: VOGEL, 2002, p. 272 Fatores que afetam as análises de DSC Os fatores que podem influenciar as medidas de DSC estão representados na Tabela 7, a seguir: Tabela 7 – Fatores que afetam as análises de DSC Fatores Instrumentais Fatores Inerentes à Amostra Razão de aquecimento do forno Quantidade de amostra Atmosfera do forno Forma da amostra: corpo único, pó, fibras, pasta, etc. Tipo de cápsula Natureza da amostra Material da cápsula Condutividade térmica 25 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Interpretando Termogramas Garrafa PET (politereftalato de etileno) O PET é um copolímero termoplástico, obtido por mecanismo de policondensação entre o etilenoglicol e o ácido tereftálico, na presença de catalisadores tipo óxidos metálicos ou sais, a 275°C, sob vácuo. Sua massa molar situa-se entre 15.000 e 20.000 g/mol, sendo predominantemente amorfo. Muito utilizado no dia a dia, conhecer sua história térmica é importante para os processos de produção de peças e reciclagem. Curva DSC de uma amostra de garrafa PET, disponível em: https://bit.ly/3koWqww Observa-se que a temperatura de transição vítrea (Tg) para a amostra analisada é de 79°C, enquanto que seu ponto de fusão equivale a 248°C. Sua cristalização ocorre em 149,86°C. Guaraná em Pó O guaraná é uma das bebidas mais consumidas do mundo, não somente pelo seu sabor agradável, mas também devido às suas propriedades terapêuticas. Apresenta composição química rica em derivados de xantina, como a teofilina, a cafeína e a teobromina (Figura 16). cafeína R3 R1 R2 N N N N O O R1 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 H H R2 R3 teo�lina teobromina Figura 16 – Representação da estrutura Química Geral das Metilxantinas A Figura no link abaixo ilustra a avaliação do perfil termoanalítico (via DSC, TG e DTG) de amostra de guaraná em pó, fornecida pelo Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Ocidental da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Perfil Termoanalítico de amostra de guaraná em pó: Curvas de DSC em Atmosfera Dinâmica de N2 (10°C/min) e TG/DTG em Atmosfera de Ar (50 mL/min), disponível em: https://bit.ly/3eSSgMa Tabela 8 Temperatura DSC - Evento Térmico 25 a 150°C ENDOTÉRMICO: Liberação de água (umidade) 150 a 250°C ENDOTÉRMICO: Início da decomposição térmica A partir de 250°C EXOTÉRMICO: Final da decomposição térmica 26 27 A análise das curvas TG/DTG, obtidas em atmosfera de ar, revelam: Quadro 3 Evento Térmico 1 → Intervalo de temperatura: 25 a 150°C Perda de massa de 9,5%: associada à perda de água superficial (umidade). Evento Térmico 2 → Intervalo de temperatura: 150 a 390°C Perda de massa de 59,6%: relativa à decomposição térmica dos carbohidratos e demais compostos orgânicos (cafeína, teofilina, ácido málico, entre outros). Evento Térmico 3 → Intervalo de temperatura: 390 a 480°C Perda de massa de 22,9%: ocorre a formação de material carbonáceo. Evento Térmico 4 → Intervalo de temperatura: 480 a 600°C Perda de massa de 9,8%: queima do material carbonáceo da etapa anterior. Evento Térmico 5 → Intervalo de temperatura: a partir de 600°C Teor de cinzas: corresponde aos sais minerais ou impurezas contidas na amostra. 27 UNIDADE Fundamentos e Aplicações de Métodos de Análise Térmica Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Interpretação de Curvas Calorimétricas (DSC) https://youtu.be/RrAPoSLGSqo Leitura Análise Termomecânica de Nanocompósito Polimérico de Resina Epóxi Reforçado com Nanotubos de Dióxido de Titânio Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e Tecnologia de Materiais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca CEFET/RJ. https://bit.ly/3nqJAjr Determinação dos teores de umidade e cinzas de amostras comerciais de guaraná utilizando métodos convencionais e análise térmica ARAÚJO. A. A. de S.; MERCURI. L. SEIXAS. P.; S. R. S.; STORPIRTIS. S.; MATOS. S., J. do R. Determinação dos teores de umidade e cinzas de amostras comerciais de guaraná utilizando métodos convencionais e análise térmica. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. vol. 42, n. 2, abr./jun., 2006. https://bit.ly/2IxxZji Caracterização de cálculos renais por análise térmica BRANCO. C. H. D.; SILVA, A. L.; LUIZ J. M.; MERCURI L. P.; MATOS. J. R. Caracterização de cálculos renais por análise térmica. Eclet. Quim. vol. 34, n.,1 São Paulo, 2009.0 On-line version ISSN 1678-4618 Eclet. Quím. vol.34 no.1 São Paulo 2009 https://bit.ly/38EJVuA Análise térmica aplicada à cosmetologia SILVA. E. C. da; PAOLA. M. V. R. V. de; MATOS, J. do R. Análise térmica aplicada à cosmetologia. Rev. Bras. Cienc. Farm. vol. 43, n. 3, São Paulo July/ Sept. 2007. https://bit.ly/36xqKjR Tratamento Organosolv Aplicadoao Bagaço de Cana-de-Açúcar para Utilização na Descontaminação de Soluções Contendo Zinco GAMBARATO, B. C. Tratamento Organosolv Aplicado ao Bagaço de Cana- de-Açúcar para Utilização na Descontaminação de Soluções Contendo Zinco. Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA Edição 33. Abril de 2017 https://bit.ly/3nmVHhu 49° Congresso Brasileiro de Química – Porto Alegre (RS), 2009 Estudo do comportamento térmico e analíse dos gases liberados por tg-dta-ms do ácido 2-metoxicinamalpirúvico. https://bit.ly/2IAoUGB 28 29 Referências BROWN, M. E. Introduction to Thermal Analysis: Techniques and Applications. London: Chapman and Hall, 1988. DENARI, G. B.; CAVALHEIRO, E. T. G. Princípios e aplicações de análise térmica. Material de apoio teórico/prático. São Carlos: IQSC, 2012. EWING, G. W. Métodos instrumentais de análise química. São Paulo: Edgard Blücher, 1972. v.2. GAMBARATO, B. C. Isolamento e caracterização de ligninas de palha de cana de açúcar. 106 f. Tese (Doutorado em Ciências). Universidade de São Paulo. 2014. HAGE, D. S.; CARR, J. D. Química analítica e análise quantitativa. São Paulo: Pearson, 2012. (e-book) HARRIS, D. C. Análise química quantitativa. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. (e-book) IONASHIRO, M.; GIOLITO, I. Fundamentos da Termogravimetria, Análise Térmica Di- ferencial e Calorimetria Exploratória Diferencial. 1. ed. São Paulo: Giz Editorial, 2004. SKOOG, D. A.; HOLLER, F. J. Princípios de análise instrumental. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. SKOOG, D. A. et al. Fundamentos de química analítica. 9. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. (e-book) VOGEL, A. I. et al. Análise química quantitativa. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. WENDLANDT, W. W. Thermal Analysis. 3. ed. Toronto: John Wiley & Sons, 1986. 29
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