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PRÁTICA PEDAGÓGICA EM FILOSOFIA I Bárbara Lucchesi Ramacciotti , 2 SUMÁRIO 1 ENSINO DE FILOSOFIA COMO PROBLEMA FILOSÓFICO ........................... 3 2 POLÍTICA EDUCACIONAL E O ENSINO DE FILOSOFIA .............................. 17 3 VERTENTES PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E O ENSINO DE FILOSOFIA ....... 28 4 ESPECIFICIDADE DO ENSINO DE FILOSOFIA: CONTEÚDOS, OBJETIVOS E RECURSOS ................................................................................................ 43 5 HISTÓRIA DAS IDEIAS PEDAGÓGICAS: MODERNAS E ILUMINISTAS ....... 54 6 CONTRIBUIÇÕES DO POSITIVISMO PARA A EDUCAÇÃO ......................... 68 , 3 1 ENSINO DE FILOSOFIA COMO PROBLEMA FILOSÓFICO Olá! Boas-vindas à disciplina Prática Pedagógica em Filosofia. Ao longo deste bloco, vamos refletir sobre o ensino de Filosofia como um problema filosófico, pondo em foco a prática pedagógica em Filosofia, a formação específica do professor de Filosofia, a relação ensino-aprendizagem, a questão dos conteúdos dos currículos e a abordagem didática da “repetição criativa”. Esperamos que, depois deste percurso, você possa identificar alguns argumentos importantes do debate sobre o ensino de Filosofia postos por especialistas no tema. O reconhecimento dessas concepções didáticas e práticas sobre o ensino de Filosofia poderá servir como alicerce para a elaboração de atividades em sala de aula que possibilitem uma aproximação significativa entre o aprender e o ensinar filosoficamente. Vamos começar! Refletir filosoficamente a prática do ensino de Filosofia não é um atributo específico do professor dessa disciplina, no entanto a reflexão é por si uma prática do filósofo. Se esse professor ensina Filosofia, torna-se inevitável não pensar sua prática de ensino de maneira filosófica. Em outras palavras, torna-se inevitável adotar uma atitude filosófica diante de sua prática, é preciso refletir tanto sobre o próprio ato reflexivo quanto sobre a sua metodologia de ensino. Dividimos essa reflexão sobre o ensino de Filosofia em três tópicos: 1. Reflexão sobre a prática pedagógica como atitude filosófica; 2. A formação do professor e a relação ensino-aprendizagem ativa; 3. A repetição criativa e o currículo de Filosofia. , 4 1.1 Reflexão sobre a prática pedagógica como atitude filosófica O que é uma prática pedagógica pensada por meio da reflexão filosófica ou da atitude filosófica? É preciso intervenção filosófica sempre que se ensina Filosofia? Como garantir o ensino de Filosofia em contextos diversos? O que é o ensino de Filosofia pensado na prática? O primeiro problema que o professor de Filosofia encontra é do distanciamento entre a prática pedagógica comumente adotada do ensino de conteúdos e a prática específica da reflexão filosófica. Em geral, a prática filosófica perde espaço diante do conteúdo a ser ensinado. Sendo assim, o texto, o filósofo e a história da Filosofia parecem ter mais importância do que a prática da reflexão ou a atitude filosófica. Mas o que significa a reflexão filosófica aqui enquanto sinônimo de atitude filosófica? Uma das maiores filósofas e professoras de Filosofia do Brasil, Marilena Chaui (2000, p. 12), afirma que: a atitude filosófica pode ser entendida, em um primeiro momento, como toda atitude questionadora diante da vida, que surge a partir de um distanciamento crítico da vida cotidiana, quando passamos “a indagar sobre o que são as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência”. Chauí (2000) ainda observa que a atitude filosófica ou questionadora pode ser entendida como uma primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?”. Para entender o que é a atitude filosófica, precisamos identificar quais são as características desse comportamento, completa a professora-filósofa: A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido. A segunda característica da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. [...] O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude filosófica. A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico (CHAUÍ, 2000, p. 12). , 5 A formação do professor, especificamente, as disciplinas sobre a Prática Pedagógica em Filosofia são um lugar privilegiado para refletir de modo crítico e filosófico sobre os temas centrais para a prática do ensino de Filosofia. Nesse espaço podemos refletir criticamente sobre o processo de formação de professores de Filosofia, refletindo sobre as metodologias, as didáticas e as práticas pedagógicas mais adequadas ao ensino de Filosofia. O primeiro ponto para refletir diz respeito ao papel do professor como aquele que tem a tarefa de “ensinar Filosofia” tendo por conteúdo o pensamento dos filósofos, ou seja, o próprio ato de filosofar na prática. É preciso considerar também que muitos filósofos foram os primeiros e mais renomados professores de Filosofia de seu tempo, seja esse ensino ligado a uma instituição de ensino ou não. A sala de aula do patrono da Filosofia, Sócrates, eram as ruas de Atenas, onde ensinou muitos cidadãos atenienses a pensar, pondo em prática seu método dialético, que por meio de perguntas e respostas, demonstrava a incoerência e a fragilidade das opiniões do senso comum. Pondo em prática essa atitude filosófica questionadora, Sócrates fazia com que seus interlocutores reconhecessem que não sabiam o que pensavam saber. Apesar disso, Sócrates nunca se colocou como o detentor da verdade, ao contrário, seu lema era: “Sei que nada sei”. O ensinar Filosofia nos coloca diante desses desafios, sobretudo diante da tarefa de pensar a Filosofia ou os temas e problemas da História da Filosofia de modo filosófico. Nesse sentido, todo professor de Filosofia assume também o papel do professor- filósofo, não no sentido de ser ele o autor de uma obra filosófica, pois nem sempre isso é possível, mas no sentido de precisar adotar a atitude filosófica diante dos conteúdos que ensina. A docência em filosofia convoca os professores e as professoras como pensadores e pensadoras, mais do que como transmissores acríticos de um saber que supostamente dominam, ou como técnicos que aplicam estratégias didáticas ideadas por especialistas para ser empregadas por qualquer um, em qualquer lugar (CERLETTI, 2009, p. 9). , 6 Pensar nesse caminho demanda rediscutir a relação ensino-aprendizagem a partir de práticas pedagógicas e didáticas que coloquem o professor e o aluno em um papel ativo, ou seja, de protagonista diante dos conteúdos ensinados-aprendidos. Adotar uma abordagem didática ativa implica em recusar a didática tradicional, na qual apenas o professor é ativo-protagonista, enquanto transmissor de conteúdos, e os alunos meros receptores passivos. A filosofia [...] depende de uma atitude tão vivencial e ativa do sujeito que aquele que se situa como suposto transmissor da filosofia se coloca num não lugar filosófico. Mesmo – ou melhor, sobretudo – quando o assunto é a história da filosofia ou a filosofia de outro filósofo, a transmissão é um não lugar da filosofia, porque ela não pode ser enfrentada externamente, como aquilo que um outro faz: ou ela se exerce, se pratica, ou se faz outra coisa. Todos os filósofos da história fazem isto, por isto são os ao mesmo tempo filósofos e educadores, os melhores ensinantes de filosofia! (GALLO; KOHAN, 2000, p. 182). A formação e a prática pedagógica dos professores de Filosofia deveriam sempre privilegiar asmetodologias e didáticas ativas, que possibilitem a reflexão crítica ou a atitude filosófica como base da relação ensino-aprendizagem ativa. Para isto é necessário que o docente pense a sua prática de ensino como o próprio ato de filosofar. Isso permite que o ensinar não seja meramente uma repetição pela transmissão de conteúdos prefixados, dando espaço para refletir sobre o próprio ato de ensinar, sobre as escolhas dos conteúdos e das metodologias ativas, aquelas que melhor favoreçam o despertar da atitude filosófica reflexiva no aluno. Em outras palavras, trata-se de pensar a prática pedagógica sob a ótica da atitude filosófica reflexiva. A prática educativa tem sido inerente à Filosofia ao longo da história; em nome de que a desprezamos quando se trata de formar professores de Filosofia? Será essa uma tarefa menor? O professor de filosofia não deve ser, de alguma maneira, filósofo? (isto é, alguém que pratica a filosofia)? Faz sentido, no caso da filosofia e de seu ensino, essa separação entre a teoria e prática? Nos últimos anos os filósofos professores de Filosofia brasileiros vêm se preocupando com questões como essas. Trata-se, quer me parece, de um movimento de pensar filosoficamente o ensino de Filosofia. Um movimento em que os filósofos têm tomado para si a responsabilidade de pensar a prática docente, em seus vários níveis (GALLO; DANELON; CORNELLI, 2004, p. 10). , 7 Mesmo o ensino de Filosofia sendo institucionalizado e correspondendo às experiências de aprendizagem do docente, abre-se como um campo de maiores possibilidades, a partir do momento que se compreende o ato de ensinar Filosofia como uma prática pedagógica pensada filosoficamente. Ensina-se a filosofar enquanto se aprende-ensina a refletir de modo filosófico sobre todos os temas selecionados, incluindo a própria “prática pedagógica” do ato de ensinar. Nesse caso, há contextos reflexivos e práticas pedagógicas específicas no ato de ensinar Filosofia. Conforme observa Gallo e Kohan (2000, p. 25): Há diversas razões que nos levam a pensar que o ensino de Filosofia faz parte da própria Filosofia. Uma delas é a importância que, para o ensino de Filosofia, tem algumas perguntas filosóficas como: “o que é a Filosofia?”, “o que significa pensar?” e “para que ensinar a aprender”? Pelo menos parece claro que não é possível ensinar Filosofia sem ensinar alguma Filosofia [...]; também não é possível fazê-lo habitar certo espaço para o pensamento e sem configurar determinados sentidos para seu ensino e sua aprendizagem. A reflexão sobre a prática do ensino de Filosofia deve levar em conta tanto a pluralidade de temas e de Filosofias que podem ser selecionadas para o currículo, pois não há um conteúdo predefinido, quanto a possibilidade de ter ou não muitos recursos pedagógicos. A qualidade do ensino de Filosofia nunca dependeu da existência de muitos recursos materiais, mas o texto dos filósofos, o texto de comentadores dos filósofos e a atitude filosófica – esses são os principais recursos que devem ser levados em conta no planejamento didático. A prática pedagógica pode depender dos recursos disponíveis, mas depende, sobretudo, da própria mediação do professor como aquele que coloca o aluno em contato com o universo de ideias, conceitos e questões postas pelos filósofos em uma história de mais de 2.500 anos. Portanto, nesse sentido, a disciplina Filosofia é muito rica em recursos, talvez uma das mais privilegiadas. E a mediação do professor deve sempre visar colocar o aluno em contato com esse universo de Filosofias enquanto um caminho de construção de sentidos e significados para a vida, trazendo essa reflexão para a própria experiência de vida dos alunos. , 8 A mediação filosófica é construtora de sentidos num mundo sem significado. É uma proposição de compreensão para construir um horizonte significativo para a vida. Por conseguinte, meditar sobre as respostas que a história construiu constitui um caminho interpretativo do presente que pode “iluminar” nossa compreensão (GHEDIN, 2009, p. 39). 1.2 A formação do professor e a relação ensino-aprendizagem ativa A formação do professor por meio da especificidade filosófica pode produzir competências a serem adotadas na prática cotidiana do ensino-aprendizagem, pois trata-se de privilegiar a atitude filosófica e reflexiva como base do ato de ensinar e do ato de aprender. Nesse caso, podemos falar de uma perspectiva filosófica da prática que não pode ser pensada como um caminho distinto e separado do próprio ato de reflexão teórica enquanto momentos da atitude filosófica reflexiva e crítica. Há na ação pedagógica e nas estratégias metodológicas o pressuposto reflexivo da atitude filosófica como uma atitude ativa no sentido de questionadora da existência e da própria realidade vivida. A metodologia da Filosofia pode ser caracterizada como ato questionador da existência, da realidade de si mesmo. A metodologia do ensino de Filosofia é o próprio filosofar enquanto ato reflexivo, crítico e dialógico. Partir das problemáticas, dos desafios, das dúvidas ou até das certezas é o movimento natural da metodologia filosófica (FERREIRA et al., 2016, p. 22). A formação teórica com base nos conteúdos da História da Filosofia é a primeira parte da formação do professor de Filosofia, mas não pode ser a única, posto que a atitude filosófica e questionadora precisa ser posta em prática para que se perceba o potencial dessa metodologia ativa como didática de ensino-aprendizagem. A atitude reflexiva não é, portanto, apenas uma habilidade de analisar tecnicamente os conteúdos e temas filosóficos, mas uma atitude questionadora diante da vida, de modo que os saberes práticos e as experiências vividas também precisam fazer parte do processo ensino-aprendizagem. Isso dá ao ensino de Filosofia uma identidade de abertura para a reflexão criativa e criadora de sentidos para a vida, pois os próprios temas postos pelos filósofos são temas que dizem respeito a todos nós, nos mais variados campos do conhecimento. , 9 Mensurar aquilo que se espera da formação do professor de Filosofia não está relacionado apenas à especificidade do conhecimento de conteúdos teórico- filosóficos. Refere-se também, sobretudo quando se trata da formação em licenciatura, à perspectiva de uma prática didática ativa do ensino de Filosofia. O mais importante nesse processo de formação é fazer com que o licenciando coloque em sua prática pedagógica a reflexão filosófica ou a atitude filosófica como a melhor metodologia didática de acesso ao estudante à experiência do aprender a pensar e refletir a partir de uma atitude ativa, crítica e responsável diante da vida, diante de suas escolhas, dos valores adotados em sua visão de mundo, dos sentidos que orientam suas ações, afetos e pensamentos. É preciso que o professor entenda que ele mesmo e o aluno são constituídos de história e que as experiências vividas devem fazer parte de um processo ativo de ensino-aprendizagem. Muitas vezes para manter coerência com certa “impessoalidade” em seu processo de ensino, o professor acredita que sua reflexão crítica paradoxalmente deve ser acrítica e descontextualizada da história e da realidade vivida. Contudo, não se pode esquecer que todo filósofo é filho do seu tempo, reflete sobre os problemas postos pelo seu contexto histórico e social. Assim, toda Filosofia tem como pano de fundo a biografia do filósofo que a sustenta. O professor deve considerar que há, simultaneamente, muito de pessoal e de universal no ato da reflexão filosófica. Essa ponderação permite que a prática pedagógica durante o ensino de Filosofia corresponda a situações compartilhadas, abrindo margem para metodologias libertadoras e ativas. Isso nos permite dizer que o professor, o aluno e os conteúdos fazem parte de um mesmo processo dinâmico. O professorpode mediar o processo de ensino-aprendizagem, fazendo com que as experiências individuais sejam refletivas e ressignificadas à luz dos conceitos e métodos filosóficos. A fala de Silva ajuda nessa reflexão: , 10 O aluno traz para escola parte da sua cultura, logo, a unidade escolar não deve impor o currículo como única alternativa. É necessária uma relação conjunta entre o trabalho do professor, os conteúdos curriculares e a compreensão do sentido que o componente curricular terá para esse aluno (SILVA, 2018, p. 66). Em outras palavras, falamos da atitude filosófica e reflexiva como o caminho, ou melhor, como método que integra aluno, conteúdo e professor em uma relação ativa de ensino-aprendizagem. Essas observações indicam que não se forma um professor apenas pelo contato com os conteúdos, os recursos e com as metodologias e didáticas de ensino. O professor de Filosofia se torna professor na medida em que adota a práxis filosófica como guia, ou seja, quando busca reunir a teoria e a prática, os conteúdos e as experiências vividas, os conceitos filosóficos e a atitude filosófica em um mesmo processo. O professor quando adota didáticas ativas, ou seja, quando coloca um tema filosófico a partir de uma pergunta, de uma dúvida, de um problema para ser debatido abre para os alunos a possibilidade de participar de modo ativo da atitude filosófica ou da reflexão filosófica como um processo de busca ativa de conhecimentos vivos e contextualizados e não como um processo passivo de transmissão de conhecimentos dados e ultrapassados. Essa atitude de busca ativa pelo conhecimento é fundamental, pois é o que quer dizer a própria palavra philo-sophia: amor e respeito pela sabedoria. Historicamente, o filósofo não é aquele que tem o conhecimento e a posse das verdades, mas aquele que busca o conhecimento e a verdade, porque é o amigo ou o amante (philo) da sabedoria (sophia). Mas como ensinar um professor de Filosofia o ensinar de maneira filosófica? Em outras palavras, como se ensina a ser professor de Filosofia? A primeira questão sobre a formação desse profissional já apontamos: “como ensinar Filosofia”. Chegamos à resposta da atitude filosófica como um bom método, que em grego quer dizer caminho guiado por uma meta. , 11 O passo seguinte reside em desmistificar o ato de filosofar ou de pensar filosoficamente como se fosse algo possível apenas para os filósofos do Panteão da História da Filosofia. A partir de então, é possível traçar propostas levando em consideração a complexidade da questão, uma vez que a autonomia do professor “filósofo” é colocada à tona. Isso coloca o professor a todo momento em um processo de reavaliação de sua atuação formativa, tanto pela didática que ele adota em sua prática de ensino, quanto pela especificidade da sua própria formação filosófica. Dar essa autonomia ao professor de autoavaliar-se durante sua formação permitirá que o próprio professor de Filosofia possa mensurar qual o melhor caminho para aprender aquilo que se pretende ensinar. Ao adotar a postura crítica e reflexiva como guia para a sua prática pedagógica, o professor de Filosofia constrói uma didática marcada pela abertura e pela autonomia sem abrir mão do papel de direcionamento e de mediador do processo ensino-aprendizagem. 1.3 A repetição criativa e o currículo de Filosofia Existe alguma relação entre o conteúdo básico do currículo de Filosofia que se pretende ensinar e o despertar da atitude filosófica no aluno do ensino básico? Como vincular o conteúdo do currículo com a experiência da reflexão filosófica em sala de aula? Estas questões convergem para o que entendemos como aprendizagem ativa em Filosofia. É importante analisar o que se pode ensinar criticamente a partir do currículo, seja ele proposto pelas políticas educacionais que estabelecem diretrizes para o currículo básico para a disciplina de Filosofia seja o currículo proposto pela direção da escola ou o adotado na prática de ensino em sala de aula pelo professor. Como fazer com que a prática de ensino seja ativa de modo que o currículo a ser ensinado não seja apenas uma mera repetição de conteúdos, mas uma experiência de repetição criativa? Para que isso ocorra, é preciso levar em conta os dois elementos analisados anteriormente, a saber: i) adotar a atitude filosófica questionadora como principal metodologia didática; , 12 ii) possibilitar o protagonismo, ou seja, a participação ativa dos alunos de Filosofia na educação básica para que coloquem em prática o pensamento crítico. Mas o que se entende aqui por “repetição criativa”? Essa metodologia de ensino foi proposta por Cerletti (2009), significa fazer com que os alunos reflitam sobre os problemas e temas postos pelos filósofos de modo filosófico, ou seja, aprender a pensar de modo filosófico com o próprio estudo crítico e reflexivo das ideias dos filósofos. De acordo com o que viemos sustentando, ensinaríamos filosofia no ato de filosofar e aprender-se-ia filosofia começando a filosofar. Portanto, em função da caracterização que fizemos da filosofia, a “repetição criativa” deveria ter lugar no ensino e na aprendizagem. Isto é, se os alunos começam a filosofar, eles começam também a levar adiante algum tipo de repetição criativa (CERLETTI, 2009, p. 36, aspas do autor). Se entendermos que Filosofia é também aquilo que a História de Filosofia traz como o lugar da reflexão ao longo do tempo, passaremos a pensar que a Filosofia é aquilo que os filósofos fazem a seu tempo. O professor, ao selecionar os temas e problemas a serem abordados na sala de aula, deve selecionar também textos dos filósofos que reflitam sobre eles. Entender a partir da leitura crítica dos textos como os filósofos formulam suas ideias e sustentam seus argumentos por meio de conceitos, de teorias e de métodos é um bom caminho para pôr em prática a repetição criativa. O aluno, entendendo o processo e as ferramentas para a construção de ideias, conceitos e teorias por meio de uma argumentação lógica, aprende a técnica e os métodos de como pensar filosoficamente de modo autônomo. Nesse sentido, o currículo, ao estabelecer determinados conteúdos e disciplinas como básicos, tendo a História da Filosofia Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea como fio condutor, possibilita uma enorme gama de filosofias, temas e problemas filosóficos para serem analisados à luz da repetição criativa. A própria flexibilidade dos conteúdos do currículo de Filosofia abre espaço para que o ensino dessa disciplina se mostre como lugar de formação reflexiva e crítica para o aluno. , 13 Afinal, em Filosofia sempre há um ponto de partida na reflexão filosófica, sempre há um problema ou uma tese. Quando falamos em educação básica, é necessário, para além do ponto de partida, uma direção. “A crítica é um meio que faculta ler a realidade como um crivo de julgamentos e juízos valorativos” (GHEDIN, 2009, p. 58). É esse caminho direcionador posto pelo currículo básico que permitirá uma compreensão organizada e crítica do que se espera ensinar e aprender em Filosofia. É na própria História da Filosofia que se encontram os conceitos fundamentais a serem desenvolvidos de forma organizada para que se desenvolva a competência da atitude filosófica reflexiva e crítica. No que diz respeito à Filosofia podemos argumentar que ela é uma área singular de reflexão que se ocupa de temas fundamentais na experiência humana e que sua ausência no currículo escolar priva o estudante de um espaço de formação a que ele tem direito, sem o qual surge uma lacuna em sua vida (ROCHA, 2008, p. 34). A lacuna a ser preenchida pelo ensino de Filosofia na formação integral do aluno deve ser debatida em vários aspectos de sua contribuição, considerando que, a partir do conhecimento organizado que dá espaço para reflexão,o estudante possa por si mesmo (como uma autorreflexão direcionada) aprender a pensar de modo autônomo, ou seja, aprender como formular e sustentar de modo consistente uma ideia, um conceito, um tema, um problema, uma interpretação da realidade. Uma vez que isso passa a ser compreendido durante o processo de ensino- aprendizagem, daremos aos protagonistas desse processo a liberdade de escolher a “Filosofia que se quer aprender” sem abrir mão daquilo que deve ser ensinado. Essa prática, quando efetivada, fará surgir a desconstituição do ensino enquanto “sistema fechado”, como bem nos alertou Paulo Freire, pois a proposta da repetição criativa abre espaço para autonomia do professor e do aluno por meio de um compartilhar reflexivo. , 14 Ser professor é ter o domínio sobre determinados conteúdos específicos e metodológicos. Tais competências e habilidades precisam ser postas em prática por uma didática ativa na relação ensino-aprendizagem que adote a própria reflexão filosófica e crítica como guia. No ensino de Filosofia vemos que refletir sobre o tipo de didática e metodologia a adotar são de grande relevância, o que mostra a importância das disciplinas da pedagogia e da reflexão filosófica sobre esses conteúdos para um bom exercício profissional. A Filosofia, no espaço da educação escolar, não pode negligenciar ou deixar de considerar as conquistas e proposições oriundas do campo pedagógico. Há uma relação muito próxima entre a Filosofia como conteúdo de ensino e a Didática como reflexão sobre os modos pelos quais o ensino se efetiva (GHEDIN, 2009, p. 114). O ensino de Filosofia na educação básica deve ter como planejamento mais do que o recorte dos conteúdos filosóficos a partir dos temas específicos, pois o professor encontra nas disciplinas de formação pedagógica e didática as respostas do que e como “encaminhar” o processo ensino-aprendizagem de modo satisfatório. Conclusão Nesta reflexão, examinamos alguns elementos norteadores da prática de ensino em Filosofia, a saber: i) a reflexão ou a atitude filosófica como característica central do próprio pensar filosófico ou do que se entende como filosofar ao longo da História da Filosofia; ii) a atitude filosófica reflexiva e crítica como um método ou caminho para uma abordagem didática ativa, que possibilite uma relação ensino-aprendizado na qual professor e alunos assumem o papel de protagonistas; iii) a repetição criativa como uma metodologia de ensino, que seleciona conteúdos postos pelo currículo básico de Filosofia, para que, por meio da análise de como os filósofos pensam determinados temas-problemas, ou seja, por meio dessa “repetição”, o aluno aprenda a pensar e a refletir filosoficamente com autonomia, fazendo com que, portanto, essa repetição seja criativa e criadora de sentido para a vida do próprio aluno. , 15 Agora que você já conhece alguns dos elementos-chave para pôr em prática metodologias ativas no ensino de Filosofia, a partir dessas considerações, vamos refletir filosoficamente sobre a seguinte situação-problema que pode surgir na prática docente. Quando um estudante diz que não é capaz de pensar filosoficamente, essa atitude reativa pode ser o ponto de partida para efetivar a atitude filosófica e reflexiva. O que fazer e como fazer? Em vez de confirmar o mito ou o senso comum segundo o qual pensar filosoficamente é uma habilidade apenas dos grandes filósofos, o docente pode aproveitar essa experiência vivida em sala para praticar a atitude filosófica reflexiva e crítica. Usando o método dialético de Sócrates por meio de perguntas e respostas, e o lema de sua filosofia “sei que nada sei”, seria possível estimular esse aluno a pensar em respostas e sair dessa posição de passividade para uma posição ativa, compreendendo na prática que só se aprende a filosofar, filosofando. Contudo, esse processo precisa ser orientado, pois nem todo diálogo, ou nem todo processo de pergunta-resposta, significa uma reflexão filosófica e crítica. É preciso ter claro nesse processo que os preconceitos, as opiniões sem fundamento, as ideias contraditórias precisam ser postas à prova e afastadas. É preciso demonstrar que nem toda ideia pode ter o estatuto de opinião fundamentada ou de ideia ou conceito filosófico. Para que atinja esse nível, precisa ser demonstrada como uma ideia clara, coerente, precisa e rigorosa. Poderíamos começar acolhendo o educando, dizendo que refletir filosoficamente é algo que se aprende fazendo, que não há apenas um tipo de pensar correto, mas regras lógicas e argumentativas que podem ser aplicadas para dar coerência e correção àquilo que pensamos. Daí a importância de analisar um tema em profundidade a partir da reflexão filosófica. Para compreender como fazer isso, o professor pode propor verificar como um filósofo pensou sobre um tema/problema para aprender como se constroem ideias e argumentos adotando um método, com coerência e lógica. , 16 Nesse momento, é possível ver com esse aluno e com toda a turma quais são os temas/problemas de interesse, colocar em votação e chegar a uma lista com os temas de interesse para a maioria. Dividir os temas por grupos, conforme o interesse, e propor que os alunos pesquisem sobre eles a partir de certo filósofo/escola filosófica. Adotando essa didática ativa, o professor envolve os alunos no processo de escolha dos temas a serem estudados, desperta neles o interesse de estudar/pesquisar e trazer os resultados desse processo para o debate em sala. O professor tem a tarefa de conduzir e de mediar todo o processo, portanto, esse tipo de aula dialogada não significa colocar os alunos para dar aula. As aulas na forma de debates conduzidos pelo professor podem ser alternadas com aulas expositivas, nas quais o professor pode analisar com mais profundidade um tema/conceitos filosóficos. Antes de adotar esse tipo de prática pedagógica ativa, reflita: o que você pensa sobre a autonomia da reflexão filosófica feita pelos alunos da educação básica? REFERÊNCIAS CERLETTI, A. O ensino de Filosofia como problema filosófico. Tradução: Ingrid Müller Xavier. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. FERREIRA, A. et al. Filosofia. São Paulo: Blucher, 2016. (Coleção A reflexão e a prática no ensino médio, v. 13 / Márcio Rogério de Oliveira Cano, coord.) GHEDIN, E. Ensino de Filosofia no Ensino Médio. São Paulo: Cortez, 2009. GALLO, S.; KOHAN, W. O. Filosofia no Ensino Médio. Petrópolis: Vozes, 2000. ______.; DANELON, M.; CORNELLI, G. (orgs.). Ensino de Filosofia: teoria e prática. Ijuí, RS: UNIJUÍ, 2004. ROCHA, R. D. Ensino de Filosofia e currículo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. , 17 2 POLÍTICA EDUCACIONAL E O ENSINO DE FILOSOFIA Neste bloco, vamos analisar as políticas educacionais que regulamentam e traçam as diretrizes curriculares para o ensino de Filosofia, entre elas destacam-se: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/1996), as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Filosofia e o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. O objetivo reside em fazer uma breve revisão desses marcos legais para que o professor de Filosofia, sobretudo os alunos dos cursos de Licenciatura, tenham claro quais são os objetivos postos pelos documentos que regulam o ensino dessa disciplina. Esses documentos não devem ser compreendidos como os únicos caminhos que devem ser seguidos para a escolha de conteúdos, objetos e abordagens didáticas. Existem outros aspectos e elementos importantes e específicos para o ensino de Filosofia. Contudo, o conhecimento e a reflexão sobre tais políticas educacionais são de grande relevância para que o professor de Filosofia se sinta seguro, amparado e consciente das escolhas e caminhos adotadosem sua prática pedagógica. 2.1 Políticas Educacionais e a regulamentação da disciplina de Filosofia A Lei nº 9.394 de 1996 que estabelece Diretrizes e Bases educacionais é considerada a lei maior da educação no Brasil, sendo chamada de “carta magna da educação”, por situar-se logo abaixo da constituição. Conforme Saviani (2007), a LDB define as linhas mestras do ordenamento geral da educação brasileira e, por ser uma lei geral, muitos de seus dispositivos necessitam de regulamentação específica. Portanto, é esta legislação que delineia a política educacional em um determinado governo e para uma determinada área do conhecimento. , 18 A partir da nova LDB de 1996, regulamentada no Governo FHC, o ensino de Filosofia vai pouco a pouco ganhando uma maior importância na política educacional até tornar-se disciplina obrigatória no Ensino Médio a partir de 2009, quase no final do segundo mandato do governo Lula. É preciso considerar que o retorno da Filosofia como disciplina obrigatória, depois de mais de 20 anos exilada dos currículos escolares durante o Regime Militar, resultou de uma ampla luta política da sociedade civil organizada pela redemocratização da educação. A LDB de 1996 representou uma primeira conquista dos movimentos sociais por maior espaço para o ensino de Filosofia na política educacional, pois o artigo 36 destaca que “o domínio dos conhecimentos de Filosofia e Sociologia” é “necessário ao exercício da cidadania”. A fim de regulamentar essa política educacional aliada com o espírito da redemocratização, o Parecer CNE/CEB nº 3/1998 afirma no §2º que “as propostas pedagógicas das escolas deverão assegurar tratamento interdisciplinar e contextualizado para: b) Conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania”. Se, de um lado, a LDB de 1996 foi um marco ao recomendar a importância do ensino de Filosofia; de outro, o Parecer de 1998 não garantiu mecanismos eficazes para que esses profissionais retomassem o espaço perdido no sistema educacional, já que os conteúdos necessários à formação da cidadania poderiam ser abordados por outras disciplinas de modo transversal. A Filosofia conquistou um pequeno espaço na política educacional, pois na prática não houve nenhuma alteração na composição curricular, o que se evidencia com o Parecer CNE/CEB nº 22/2003 que, ao tratar dos “currículos da Educação Básica, das escolas públicas e particulares”, reafirma que “não há, dentro da legislação pertinente, obrigatoriedade de oferecer Filosofia e Sociologia como disciplinas”. , 19 Essa situação foi alterada radicalmente com o Parecer CNE/CEB nº 38/2006 que, ao tratar da “alteração das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio” determinou a “inclusão de componentes curriculares obrigatórios de Filosofia e Sociologia”. Esse documento reconhece textualmente que, então, não havia como garantir que tais “conhecimentos necessários ao exercício da cidadania” fossem “tratados efetivamente pelas demais disciplinas escolares” ao recomendar apenas a abordagem interdisciplinar (MEC, CNE/CEB nº 38/2006). O Parecer de 2006 foi decisivo para que a Filosofia finalmente se tornasse disciplina obrigatória no ensino médio no Brasil, sobretudo, a partir de 2009, com a Lei nº 11.684/2008 que altera o art. 36 da LDB de 1996. Podemos verificar com esse breve histórico que a Lei nº 11.684/2008 e a Resolução/CNE de 2009, ao tornar a Filosofia uma disciplina obrigatória no currículo do Ensino Médio, instituíram dois grandes campos de atividade para o ensino de Filosofia. De um lado, o ensino de Filosofia como disciplina escolar, presente na formação de todos os jovens brasileiros; de outro, o ensino de Filosofia nos cursos universitários, sobretudo, a Licenciatura em Filosofia, que tem como principal missão formar os futuros professores para atuar no Ensino Médio. Com o objetivo de subsidiar a discussão e estabelecer Diretrizes Curriculares aos Cursos de Filosofia, o MEC publicou o Parecer CES nº 492 de 2001 e sua retificação, o Parecer nº 1.363 de 2002. Em dezembro de 2007, surge outro marco importante para o ensino de Filosofia, o Plano nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), que foi elaborado com ampla participação popular. Examinaremos algumas possibilidades e desafios postos para o ensino de Filosofia nos cursos de Bacharelado e Licenciatura, tendo por referência a análise desses dois documentos derivados da recente política educacional no Brasil. , 20 2.2 Diretrizes Curriculares dos Cursos de Filosofia (Parecer CES nº 492/2001) As Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Filosofia (CNE/CES nº 492 de 2001) apresentam os principais objetivos esperados com a formação em Filosofia no item “perfil dos formandos”: “sólida formação em história da filosofia, que capacite para a compreensão e a transmissão dos principais temas, problemas, sistemas filosóficos, assim como para a análise e reflexão crítica da realidade social em que se insere” (2001, p. 3). Podemos verificar que a base de sustentação da formação reside na “sólida formação em história da filosofia”. Espera-se que esta base capacite para o desdobramento de duas atividades também nucleares: a) “a compreensão e a transmissão” dos temas/problemas e dos sistemas filosóficos acumulados pela história da Filosofia; b) contextualização/inserção do aprendido em termos de “análise e reflexão crítica da realidade social” da qual o sujeito faz parte. Carbonari (2010, p. 156) observa que “a formação em Filosofia investe, portanto, num sujeito cuja atitude é fundamentalmente de compreensão, de análise e de reflexão informadas historicamente e contextualizadas à realidade”. O termo “transmissão” é o mais polêmico nesse tópico, na medida em que é foco da crítica das abordagens pedagógicas sociocríticas e construtivistas, que identificam a “transmissão de conteúdos” como característica central das vertentes pedagógicas tradicionais, pois adotam métodos didáticos que não estimulam as capacidades críticas e reflexivas do aluno, ao contrário, estimulam a passividade, limitando a aprendizagem à mera reprodução. Contudo, o uso desse termo “transmissão”, apesar de problemático, aqui está descontextualizado, pois não aponta uma contradição entre as duas principais tarefas da formação: compreensão do legado da tradição e análise e reflexão crítica. , 21 Os cursos de licenciatura visam qualificar para o ensino: O licenciado deverá estar habilitado para enfrentar com sucesso os desafios e as dificuldades inerentes à tarefa de despertar os jovens para a reflexão filosófica, bem como transmitir aos alunos do Ensino Médio o legado da tradição e o gosto pelo pensamento inovador, crítico e independente (BRASIL, 2001, p. 3). A dimensão pedagógica do aprender Filosofia, comenta Carbonari (2010), “se expressa como compromisso voltado para a formação de sujeitos concretos (jovens)”, pois o professor deverá ajudar no “despertar [...] para a reflexão filosófica”. Em termos didáticos, cabe-lhe “transmitir o legado da tradição e o gosto pelo pensamento inovador, crítico e independente”. Novamente o termo “transmitir” levanta polêmicas, mas a sequência do documento relativiza quando relaciona o transmitir ao “gosto pelo pensamento inovador, crítico e independente”. A palavra “transmitir” aqui não aponta para um sentido de uma prática pedagógico- didática do ensino de Filosofia, mas para o aspecto da Filosofia como um tipo de conhecimento, que acumulou ao longo da história da civilização ocidental por mais de 2.500 anos: conceitos, teorias, temas, problemas, sistemas. Tais conteúdos constituem o legado da História da Filosofia como produção cultural. Portanto, as Diretrizes põem em relevo o duplo aspecto indissociável da formação em Filosofia a partir do duplo registro do conhecimento:o cognitivo e o crítico. Enquanto, a formação teórico-cognitiva capacita para a compreensão da História da Filosofia, a formação crítica-axiológica possibilita a contextualização do aprendido à realidade vivida. Podemos observar o nexo entre essas duas tarefas formadoras nas competências e habilidades esperadas. No bacharelado, a formação tem como núcleo a pesquisa acadêmica: “o bacharel deverá estar credenciado para a pesquisa acadêmica e eventualmente para a reflexão transdisciplinar” (BRASIL, 2001, p. 3). A qualificação como pesquisador implica na síntese entre as duas tarefas da formação, ou seja, a pesquisa filosófica não deve se limitar à reprodução da História da Filosofia, como observa Carbonari (2010), mas efetivar-se como exercício crítico e reflexivo contextualizado à realidade social. O , 22 bacharel também deve ser qualificado para a “reflexão transdisciplinar” (BRASIL, 2001). O caráter transdisciplinar remete para a própria natureza da Filosofia, enquanto conhecimento que não se circunscreve a um único objeto. Portanto, capacitar para uma reflexão transdisciplinar significa que o formando em Filosofia pode cooperar significativamente no trabalho de articulação dos diversos sistemas teóricos e áreas do conhecimento que constituem as malhas curriculares. São elencadas nas Diretrizes Curriculares dos Cursos de Filosofia (BRASIL, 2001) oito competências e habilidades, que devem traduzir em termos de aprendizagem os objetivos trabalhados na formação em Filosofia (bacharéis e licenciados): 1. Capacitação para um modo especificamente filosófico de formular e propor soluções a problemas, nos diversos campos do conhecimento; 2. Capacidade de desenvolver uma consciência crítica sobre conhecimento, razão e realidade sócio-histórico-política; 3. Capacidade para análise, interpretação e comentário de textos teóricos, segundo os mais rigorosos procedimentos de técnica hermenêutica; 4. Compreensão da importância das questões acerca do sentido e da significação da própria existência e das produções culturais; 5. Percepção da integração necessária entre a filosofia e a produção científica, artística, bem como com o agir pessoal e político; 6. Capacidade de relacionar o exercício da crítica filosófica com a promoção integral da cidadania e com o respeito à pessoa, dentro da tradição de defesa dos direitos humanos; 7. Capacidade de leitura e compreensão de textos filosóficos em língua estrangeira; 8. Competência na utilização da informática (BRASIL, 2001, p. 3). , 23 A lista das competências e das habilidades é ampla, colocando uma série de desafios concretos para a graduação em Filosofia. Alcançar os objetivos de formação e de capacitação esperados implica em estruturar o curso em um Projeto Político- Pedagógico consistente. O elemento estruturador de todo o curso são as disciplinas básicas, que compõem o currículo. As Diretrizes destacam cinco disciplinas básicas presentes nos currículos dos melhores cursos de Filosofia do país: “História da Filosofia, Teoria do Conhecimento, Ética, Lógica, Filosofia Geral/Problemas Metafísicos” (BRASIL, 2001, p. 4). Além destas, outras disciplinas despontam na última década: “Filosofia Política, Filosofia da Ciência (ou Epistemologia), Estética, Filosofia da Linguagem e Filosofia da Mente”. No curso de licenciatura, deverão ser incluídas disciplinas que trabalhem os conteúdos definidos para a educação básica, as didáticas próprias de cada conteúdo e as pesquisas que as embasam. O que se pretende com as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Filosofia (BRASIL, 2001) é propor um modelo de formação e de ensino de Filosofia que observe os seguintes pontos: 1. Permitir o diálogo interdisciplinar entre os diversos campos do saber, abandonando a estrutura disciplinar fechada das disciplinas e dos cursos por área específica; 2. Proporcionar uma formação mais humanista e crítica aos novos cientistas, pesquisadores, professores e alunos que recebem, no modelo tradicional, uma formação muito especializada em sua área e pouca capacitação para a reflexão crítica e contextualizada aos problemas de ordem ética, política e social, implicados em uma realidade em constante mudança com as novas tecnologias. A política educacional do Ministério da Educação, ao reconhecer a relevância do ensino e da pesquisa em Filosofia, abre para essa disciplina a possibilidade de retomar a tarefa pedagógica de formação (paidéia) que teve em sua origem como filha da polis grega, ou seja, coloca para a prática do ensino de Filosofia a tarefa de formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres para a busca do bem comum na cidade (polis), sobretudo quando as novas Diretrizes Curriculares se somam ao Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos – PNEDH. , 24 2.3 Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH/2007) O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) foi elaborado com ampla participação da sociedade civil organizada. A versão revisada foi publicada em 2007, tornando-se uma referência para o planejamento da educação em direitos humanos, tanto no Ensino Médio quanto no Ensino Superior. O PNEDH contribui para ampliar a compreensão da educação em direitos humanos, que é uma das competências e habilidades vinculadas ao ensino de Filosofia pelas Diretrizes Curriculares, especificamente no item 6 citado acima: “capacidade de relacionar o exercício da crítica filosófica com a promoção integral da cidadania e com o respeito à pessoa, dentro da tradição de defesa dos direitos humanos” (BRASIL, 2007). Como transformar esse desafio proposto ao ensino de Filosofia em uma atividade consistente de formação? Como elaborar os planos de ensino? Como selecionar temas/problemas, materiais, metodologias etc.? O PNEDH torna-se, por isso, uma referência importante quando estabelece algumas diretrizes básicas. Examinaremos algumas: A educação em direitos humanos é compreendida como um processo sistemático e multidimensional que orienta a formação do sujeito de direitos, articulando as seguintes dimensões: a) apreensão de conhecimentos historicamente constituídos sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos internacional, nacional e local; b) afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade; c) formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente em níveis cognitivos social, ético e político; d) desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens, materiais didáticos contextualizados; e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das violações. […] , 25 Desse modo, a educação é compreendida como um direito em si mesmo e um meio indispensável para o acesso a outros direitos (BRASIL, 2007, p. 25, grifos nossos). Os termos grifados no texto acima são chaves para compreender o conceito de “educação em direitos humanos”. Carbonari (2010) observa que a educação em direitos humanos é compreendida como um “processo”, isto significa que tem duração no tempo e se posiciona no espaço, ou seja, deve ser contextualizada historicamente e localmente, levando em conta as diferenças dos valores, das práticas, dos comportamentos dos sujeitos envolvidos. Não se limita a um evento, mas à realização de um processo sistemático e multidimensional, ou seja, trata-se de um processo que deve articular vários momentos, várias estratégias e várias dimensões para obter êxito. As várias dimensões implicadas são detalhadas nas cinco capacitações que devem ajudar na formação de “sujeitos de direitos”, pois sujeitos de direitos devem ser formados, nãoestão prontos na sociedade, resultando dessa historicidade constitutiva do ser homem a necessidade de uma educação voltada para a construção da dignidade humana na relação com outros sujeitos. Os princípios orientadores estabelecidos no PNEDH colaboram para o planejamento consistente do ensino de Filosofia seja no Ensino Médio ou na Graduação em Filosofia, pois privilegia no processo de educação a promoção da compreensão da tradição e a reflexão crítica ante a realidade social, ou seja, os dois eixos constitutivos da atividade e da atitude filosóficas. Conclusão Findada a luta política para que a Filosofia retornasse aos currículos das escolas brasileiras, depois de 20 anos de ostracismo, inicia-se o grande desafio para definir parâmetros para o ensino de Filosofia na dupla frente de trabalho: no ensino médio e nos cursos de graduação em Filosofia. Houve uma significativa mudança na política educacional do MEC em relação ao ensino de Filosofia, posto que a importância atribuída à Filosofia pela LDB/1996 traduziu-se com a alteração do art. 36 em 2006/09 na criação de dispositivos legais (Leis, Resoluções, Pareceres, Parâmetros Curriculares), , 26 que instituíram um amplo campo profissional e educacional para o desdobramento do ensino e da docência em Filosofia. As Diretrizes Curriculares Nacionais de 2001/02 e o PNEDH de 2007 são documentos que expressam a importância do papel do ensino de Filosofia nas novas políticas educacionais do Brasil. Cabe aos profissionais da Filosofia assumir esse enorme desafio e abraçar com responsabilidade a grande tarefa de desenvolver projetos políticos pedagógicos que respondam a necessidade de assegurar a formação de uma atitude crítica, reflexiva, de uma consciência cidadã aos jovens brasileiros. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio; Ciências Humanas e suas tecnologias, v. 4. Brasília: MEC/SEMTEC, 2000. Disponível em: <https://bit.ly/2ycFWAK>. Acesso em: 11 set. 2019. ______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CES nº 492 de 3 de abril de 2001. Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Filosofia, História, Geografia, Serviço Social, Comunicação Social, Ciências Sociais, Letras, Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia. Diário Oficial da União, Brasília, DF, seção 1e, p. 50. 9 jul. 2001. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES0492.pdf. Acesso em: 1 jun. 2019. ______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 22 de 2 de junho de 2003. Questionamento sobre currículos da educação básica, das escolas públicas e particulares. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 jul. 2003. Disponível em: <https://bit.ly/2kshhGx>. Acesso em: 11 set. 2019. ______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 38 de 7 de julho de 2006. Inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 14 ago. 2006. Disponível em: <https://bit.ly/2lR3yZV>. Acesso em: 11 set. 2019. , 27 ______. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2007. Disponível em: <https://bit.ly/2RUzNUg>. Acesso em: 4 jun. 2019. ______. Senado Federal. LDB: Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2lDG0HP>. Acesso em: 1 jun. 2019. CARBONARI, P. C. Filosofia e direitos humanos: desafios à graduação em filosofia. In: NOVAES, J. L. C.; AZEVEDO, M. A. O. de (orgs.). A filosofia e seu ensino: desafios emergentes. Porto Alegre: Sulinas, 2010. v. 1, p. 153-166. SAVIANI, D. Da nova LDB ao Fundeb: por uma outra política educacional. Campinas: Autores Associados, 2007. , 28 3 VERTENTES PEDAGÓGICAS, DIDÁTICAS E O ENSINO DE FILOSOFIA Este bloco tem por objetivo analisar algumas das principais abordagens teóricas da pedagogia e da didática com foco na relação ensino-aprendizagem. Esperamos que, depois deste percurso, você possa identificar quais são as principais concepções sobre a pedagogia e a didática que norteiam as metodologias que são mais adequadas ao ensino de Filosofia e que possam contribuir para que sua prática pedagógica como professor de Filosofia atinja os objetivos e metas desejados. A reflexão sobre o ensino de Filosofia coloca-nos inevitavelmente o problema da relação entre Filosofia e Educação, observa Silva (1993), posto que a inserção da Filosofia como disciplina básica no currículo das escolas de Ensino Médio implica a definição dos conteúdos a serem lecionados e a escolha da metodologia mais adequada para atingir os objetivos pedagógicos visados. Assim como não há uma Filosofia no singular, pois só podemos falar de filosofias no plural, também não podemos pensar em teorias consensuais da pedagogia e da didática, pois cada vez mais os estudiosos da área reconhecem a necessidade de pensar a didática em termos da interdisciplinaridade (FAZENDA, 1998), dado o próprio caráter multidimensional e ambíguo do fenômeno da educação, o seu objeto. A educação como um fenômeno multidimensional e ambíguo significa que, de um lado, implica o ensino de conteúdos e a consideração dos aspectos epistemológicos do conhecimento, a busca de critérios de validade e de métodos adequados; de outro lado, implica também a formação de uma consciência crítica, reflexiva e questionadora dos conteúdos aprendidos, dos valores herdados e das ideologias dominantes, dos discursos hegemônicos, da experiência e contextos vividos. , 29 Nesse sentido, a análise preliminar das teorias ou vertentes da pedagogia brasileira é importante para compreender quais abordagens didáticas mais contribuem para que o ensino da Filosofia atinja seus objetivos centrais. Alguns objetivos são destacados por diversos filósofos-professores, especialistas no tema e nos documentos que regulamentam o ensino de Filosofia, como as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Filosofia (CNE/CES nº 492/2001) e nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (2001). Entre esses objetivos destacam-se: a) ensinar a pensar de modo crítico e autônomo; b) ensinar o conteúdo das obras filosóficas no contexto da história da Filosofia; c) ensinar a importância da contextualização dos temas e dos problemas filosóficos nos processos históricos e sociais; d) ensinar a importância da consciência de cidadania, ou seja, da responsabilidade social e do agir ético visando ao bem comum e à defesa dos direitos humanos fundamentais. Portanto, o ensino de Filosofia, assim como de qualquer disciplina, implica adotar como referência uma certa concepção de pedagogia e de didática. Quais teorias, vertentes ou abordagens da pedagogia e da didática têm contribuído mais para que o ensino de Filosofia atinja seus objetivos? Para responder a essa pergunta, faremos neste bloco uma breve revisão do pensamento pedagógico brasileiro a partir do esquema proposto por Libâneo (2011), que aponta duas grandes vertentes pedagógicas: a Liberal e a Progressista. Cada uma delas é composta por diferentes abordagens pedagógico-didáticas. Em seguida, aprofundaremos um pouco mais o conhecimento sobre as vertentes pedagógicas a partir das teorias didáticas que tratam da relação ensino-aprendizagem, tendo por referência a tipologia proposta por Mizukami (1986). Por fim, verificaremos quais abordagens pedagógico-didáticas contribuem mais para o ensino de Filosofia no Brasil. , 30 Este bloco está dividido nos seguintes tópicos: 1. Vertentes pedagógicas; 2. Abordagensdidáticas e a relação ensino-aprendizagem; 3. As contribuições das abordagens crítico-sociais para o ensino de Filosofia. 3.1 Vertentes pedagógicas A definição do conteúdo programático das disciplinas, assim como a escolha da metodologia a ser aplicada ao ensino, é tema tratado pelas teorias da didática, que por sua vez derivam de diferentes teorias ou vertentes pedagógicas. Entretanto, para examinar as diferentes teorias pedagógicas e didáticas, encontramos uma primeira dificuldade: não há entre os estudiosos do tema no Brasil uma nomenclatura comum para as diversas vertentes que formam o pensamento pedagógico brasileiro. Apesar de não haver uma nomenclatura única, vários estudiosos concordam que o pensamento pedagógico brasileiro entre o final do século XIX e ao longo do século XX pode ser dividido em dois grandes grupos: Pedagogias Liberal e Progressista, subdivididos em várias vertentes. Para Libâneo (2011), a Pedagogia Liberal é composta pelas vertentes: Liberal-Tradicional; Liberal-Renovada (pragmática e não diretiva); Liberal-Tecnicista. A Pedagogia Progressista abarca as vertentes: Libertadora; Libertária; Crítico-Social dos Conteúdos. A classificação de Libâneo tem por critério- chave o papel social da escola e dos conteúdos. 3.1.1 Vertentes da Pedagogia Liberal Liberal Tradicional: para Libâneo (2011), a tendência da Pedagogia Liberal Tradicional acentua o ensino de conteúdos de cultura geral e das ciências considerados importantes para o desenvolvimento do ser humano, com ênfase à perspectiva do liberalismo econômico, político e social. Os conteúdos ensinados não têm muita relação com o cotidiano do aluno e “muito menos com as realidades sociais”; são passados como se houvesse uma única realidade dada, ou seja, não se promove o senso crítico e questionador, mas a repetição dos conteúdos de modo mecânico. Na , 31 relação professor-aluno predomina a palavra do professor, as regras impostas visam ao cultivo exclusivamente intelectual. Liberal renovada (pragmática e não diretiva): a tendência liberal renovada enfatiza o sentido da cultura como desenvolvimento das aptidões individuais, pois parte das necessidades e interesses individuais necessários para a adaptação ao meio. Essa tendência está na base da chamada Escola Nova ou Escola Renovada, a qual valoriza um modelo de ensino que considere o aluno como sujeito do conhecimento, valorizando também a experiência sobre o meio através de atividades dirigidas. Segundo Libâneo (2011), a tendência liberal renovada desenvolve-se no Brasil em duas versões distintas: a renovada pragmática, difundida pelos pioneiros da Escola Nova, com destaque para Anísio Teixeira, cujos teóricos de referência são: Montessori e Piaget; a renovada não diretiva orientada para os objetivos de desenvolvimento pessoal e para as relações interpessoais, sendo a principal referência teórica o psicólogo norte-americano Carl Rogers. Liberal Tecnicista: esta vertente, conforme Libâneo (2011), subordina a educação à sociedade, cuja função é a preparação de “recursos humanos”, ou seja, de “mão de obra para a indústria” e demais profissões. Esta tendência pedagógica valoriza a sociedade industrial e tecnológica como modelo de progresso, devendo a ciência e a tecnologia estar a serviço do seu desenvolvimento. Portanto, não visa formar um aluno com senso crítico que questione esse modelo dominante de sociedade. O ensino é condicionado pelas metas econômicas, sociais e políticas do modelo de sociedade industrial e de mercado, pois esta realidade é considerada como a única possível, contendo em si suas próprias leis, bastando aos homens e aos alunos descobri-las e aplicá-las. , 32 3.1.2 Vertentes da Pedagogia Progressista Para Libâneo (2011), a Pedagogia Progressista manifesta-se em três vertentes: a libertadora, mais conhecida como pedagogia de Paulo Freire; a libertária, que reúne os defensores da autogestão pedagógica; a crítico-social dos conteúdos, que é a proposta pelo próprio Libâneo, sendo diferente das anteriores, porque parte da primazia dos conteúdos no seu confronto e contextualização com as realidades sociais. Progressista Libertadora: a pedagogia libertadora tem como marca a educação “não formal”, ou seja, aquela que ultrapassa os limites da educação formal, tendo em vista que Paulo Freire, seu principal teórico, desenvolveu essa concepção pedagógica para ser aplicada, sobretudo, ao ensino de grande parte dos adultos analfabetos, sem acesso à educação formal. Essa pedagogia questiona a realidade concreta das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação – daí ser uma educação crítica. Nesse viés, recusa tanto a educação tradicional, denominada “bancária”, por Freire, “que visa apenas depositar informações sobre o aluno –, quanto à educação renovada – que pretenderia uma libertação psicológica individual” (2011, p. 34). Ambas, a tradicional e a renovada, são consideradas pedagogias domesticadoras, pois não contribuem para revelar as contradições e opressão da realidade social. Progressista Libertária: a pedagogia libertária defende a escola como um espaço de participação e aprendizado político no sentido da autogestão e da formação de cidadãos ativos e conscientes de seu papel de agentes das transformações sociais. A escola valoriza os mecanismos de gestão participativa e democrática, como: assembleias, conselhos, eleições, reuniões, associações etc., de tal forma que o aluno aprenda na prática o que significa a cidadania plena. Há, portanto, um sentido expressamente político, à medida que se afirma o indivíduo como produto do social e que o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo. A autogestão é, assim, o conteúdo e o método; resume tanto o objetivo pedagógico quanto o político. A pedagogia libertária, na sua modalidade mais conhecida entre nós, a "pedagogia ins- titucional", pretende ser uma forma de resistência contra a burocracia como instrumento da ação dominadora do Estado, que tudo controla (professores, programas, provas etc.), retirando a autonomia (LIBÂNEO, 2011, p. 37-8). , 33 Progressista Crítico-Social dos Conteúdos: a tendência da Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos foi proposta por Libâneo no livro Democratização da escola pública: pedagogia crítico-social dos conteúdos (2011). Para o autor, essa vertente busca operar uma síntese superadora das pedagogias tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na prática social concreta. Entende a escola como mediação entre o individual e o social, exercendo aí a articu- lação entre a transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por parte de um aluno concreto (inserido num contexto de relações sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente reelaborado (LIBÂNEO, 2011, p. 34). Em outro texto, Libâneo define nas seguintes palavras a Pedagogia Crítico-Social: No Brasil a pedagogia crítico-social é uma das correntes da pedagogia crítica que propõe uma educação vinculada à realidade econômica e sociocultural dos educandos, ligando ensino e ação transformadora da realidade, ação e reflexão, prática e teoria. Sustenta a ideia de que o conhecimento está comprometido com a emancipação das pessoas, com a liberdade intelectual e política. Por isso, associa as tarefas do ensino a uma análise crítica sócio- histórico-cultural do contexto em que as pessoas vivem. A pedagogia crítico-social defende, com muita determinação, que o papel da escola é o de formação cultural, de difusão do conhecimento científico. Formula princípios e orientações para a conversão do saber científico em saber escolar. Entende que a ação pedagógica está carregada de intencionalidade e que o ensino da ciência pressupõe interesses que são sociais, políticos, daí a ideia de aprender uma cultura crítica (LIBÂNEO, 2009). 3.2Abordagens didáticas e a relação ensino-aprendizagem As atividades de ensino e aprendizagem constituem o núcleo do processo de educação. Na literatura sobre o tema, duas grandes abordagens didáticas são apontadas: a abordagem tradicional e as progressistas. A referência ao ensino e a aprendizagem como atividades separadas e distintas reunidas pelo conectivo “e” remete à abordagem da didática tradicional. Em contrapartida, as abordagens contemporâneas, em geral, empregam o par-conceitual ensino-aprendizagem para enfatizar a relação dinâmica e dialética entre essas duas atividades-agentes do processo da educação. Isso porque as abordagens contemporâneas adotam como ponto de partida a crítica à pedagogia tradicional, ou seja, destacam a importância da participação ativa do aluno no processo de construção do conhecimento, criticam o modelo tradicional de ensino como transmissão de conteúdos pelo professor, pois , 34 concebem a dinâmica ensino-aprendizagem como uma via de mão dupla entre o educador e o educando. Portanto, as teorias pedagógicas e didáticas consideradas progressistas enfatizam a mútua implicação entre ensino-aprendizagem, atribuindo um papel ativo aos dois agentes do processo (LIBÂNEO, 2002). Para examinar o processo ensino-aprendizagem e suas implicações na docência da Filosofia, vamos primeiramente apresentar um breve resumo das principais vertentes pedagógicas, segundo a tipologia proposta por Mizukami (1986), que adota como critério para sua classificação a posição dos elementos da relação ensino-aprendizagem, tais como: o primado do objeto, o primado do sujeito e a interação sujeito-objeto. A partir desse critério, distingue a abordagem tradicional das abordagens progressistas, divididas em: comportamentalista, humanista, cognitivista e sociocultural. Abordagem tradicional: de acordo com Mizukami (1986), na visão tradicional o ensino e a aprendizagem estão dissociados, pois parte-se do primado do objeto, do conhecimento, ou melhor, da transmissão do conhecimento pelo professor. Evidencia- se o caráter cumulativo do conhecimento, as informações que devem ser armazenadas pelo aluno, que deve adotar uma posição receptiva/passiva. A relação professor-aluno é vertical, o professor assume o papel de autoridade, tem pleno controle da metodologia, dos conteúdos, das avaliações etc. Não há nenhuma relação entre o que é ensinado e o cotidiano do aluno ou as questões sociais. O aluno ou o sujeito da aprendizagem tem um papel insignificante no processo de aquisição e elaboração do conhecimento ensinado, cabendo-lhe apenas a reprodução em forma de memorização das sínteses oferecidas pelo professor. A didática é entendida como um conjunto de regras e preceitos que privilegiam a matéria a ser ensinada. Adota, em geral, a aula expositiva e oral para ensino dos conteúdos, e o aluno deve submeter-se aos métodos e à autoridade do professor. , 35 Abordagem comportamentalista: essa abordagem também privilegia o objeto, o conhecimento, só que a experiência ou a experimentação planejada torna-se a base do conhecimento. O objetivo do ensino não é apenas a transmissão dos conhecimentos acumulados pela cultura, mas o desenvolvimento da ciência. As teorias comportamentalistas transformam o comportamento humano em objeto científico por meio da experimentação controlada de estímulo-resposta, incluindo as ações de ensino e aprendizagem para o desenvolvimento de tecnologias da educação. Para Skinner, um dos fundadores do Behaviorismo, a realidade é objetiva, o homem é um produto do meio e um produto do processo evolutivo; logo, seu comportamento pode ser controlado e manipulado para fins de “desenvolvimento” social. O professor tem o papel de planejar e/ou aplicar as metodologias e tecnologias desenvolvidas para maximizar o desempenho do aprendizado dos alunos. O modelo de educação e controle de comportamento de Skinner tem sido considerado excessivamente mecanicista e determinista por abordagens mais críticas da pedagogia. Abordagem humanista: Mizukami (1986) observa que a abordagem didática humanista enfatiza o papel do sujeito como principal elaborador do conhecimento, a educação está centrada no desenvolvimento da personalidade do indivíduo. A obra de Rogers é o principal referencial teórico dessa corrente. O professor não transmite o conteúdo, deve apenas dar assistência sendo facilitador da aprendizagem. O conteúdo advém das próprias experiências do aluno e o professor não ensina, mas cria condições para que os alunos aprendam. Não há modelos prontos, o objetivo do ser humano e da educação é a autorrealização de cada indivíduo pelo uso máximo de suas capacidades e potencialidades. O processo ensino-aprendizagem está centrado no aluno, pois a educação tem por função criar as condições para a aprendizagem como via para o desenvolvimento intelectual e emocional do aluno, que deve atingir a autodeterminação e aperfeiçoamento de suas capacidades. A escola deve respeitar o aluno e criar condições para sua autonomia. Há uma relação de parceria entre professor e aluno, as metodologias de ensino são individualizadas, os alunos devem se responsabilizar também pelos objetivos que devem ter significado para eles. As avaliações são flexíveis e não diretivas, mas participativas. , 36 Abordagem cognitivista: tem como principal referencial teórico os psicólogos ou psicopedagogos como Piaget, que estudam os “processos centrais” dos indivíduos, tais como a organização do conhecimento, o processamento de informações, estilos de pensamento, estilos de comportamento etc. O conhecimento é baseado na interação entre sujeito e objeto, sendo um processo contínuo produzido na interação entre o homem e o mundo ou o meio. A educação tem um papel central na promoção das condições necessárias para o aprendizado decorrente da assimilação do conhecimento pelo sujeito e da modificação da estrutura mental já existente. A relação professor-aluno é horizontal, ao professor cabe criar situações para propiciar o desenvolvimento da inteligência intelectual e do comportamento moral e social dos alunos. Piaget, um dos principais teóricos da abordagem cognitivista, conhecida como interacionista-construtivista, concebe o pensamento como a base da aprendizagem, sendo o conhecimento o resultado de um processo dinâmico e contínuo de mecanismos que o indivíduo emprega para se adaptar ao meio. Nesses termos, o ensino deve privilegiar o desenvolvimento da inteligência por meio do “construtivismo interacionista”. A teoria de Piaget forneceu um importante referencial teórico para a vertente pedagógica da Escola Nova, conforme destaca Libâneo (2002). A interação do aluno com o meio é considerada o núcleo do processo do conhecimento, por isso são valorizadas as metodologias de ensino que propiciam tais experiências e observações, como os estudos do meio natural e social, o método da solução de problemas. Toda metodologia de ensino deve ser adequada às etapas de desenvolvimento cognitivo do aluno. As avaliações devem verificar se o aluno desenvolveu as capacidades e habilidades esperadas para cada etapa: sensório-motora (0-2 anos); intuitiva ou pré- operatória (2-7 anos); operatório-concreta (7-11 anos); operatório-formal (11-14 anos), na qual o pensamento abstrato desenvolve-se plenamente. O importante dessa teoria pedagógica não é aprender, mas aprender a aprender. , 37 Abordagem crítico-social, histórico-social ou sociocultural: Mizukami (1986) define a abordagem sociocultural como aquela que tem na obra de Paulo Freire sua principal referência teórica, como uma abordagem interacionista entre sujeito e objeto, com ênfase no papel crítico e criador do sujeito do conhecimento. A educação não é considerada um fenômeno restrito à escola ou à educação formal, mas a um processo amplo de ensino e aprendizagemdifundido por toda a sociedade. A educação é definida como um ato político que deve criar condições para a formação de uma atitude reflexiva e de uma consciência crítica no aluno/indivíduo, que deve atuar como agente transformador de sua realidade social. A relação professor-aluno deve ser horizontal, ambos como sujeitos históricos e produtores do conhecimento. O processo ensino-aprendizagem é dinâmico, devendo pautar-se na transmissão/assimilação crítica dos conhecimentos, que devem ser inseridos no movimento da prática social e histórica concreta dos homens. A educação possui tanto o papel de emancipação e libertação quanto o da formação pelo ensino de conteúdos. Outros autores podem ser incluídos na abordagem sociocultural além da pedagogia libertária de Paulo Freire. O enfoque crítico-social defendido por José Carlos Libâneo (2011, 2002) e o enfoque histórico-crítico de Demerval Saviani (1984) podem ser considerados variações da abordagem sociocultural, na medida em que visam integrar os aspectos material/formal do ensino, articulando-os com os movimentos concretos tendentes à transformação da sociedade. 3.3 As contribuições das abordagens crítico-sociais para o ensino de Filosofia As abordagens didáticas – sociocultural, crítico-social e histórico-social – passam a ser identificadas aqui, para efeito de resumo, como abordagens crítico-sociais, no plural. As abordagens didáticas progressistas que adotam metodologias ativas, tais como as vertentes Humanista, Cognitivista e as Crítico-Sociais, priorizam a relação horizontal entre professor-aluno no sentido de uma relação ativa de ensino-aprendizagem, sendo mais adequadas ao ensino de Filosofia. Contudo, as abordagens crítico-sociais se alinham muito aos objetivos gerais do ensino de Filosofia, sobretudo, com a perspectiva da formação de uma atitude crítica e questionadora voltada para o exercício da cidadania plena, da emancipação, da transformação social e da prática da , 38 liberdade, objetivos apontados nas próprias Diretrizes Curriculares da disciplina Filosofia. Nas orientações educacionais aos Parâmetros Curriculares Nacionais, volume IV, que abordam as Ciências Humanas e suas tecnologias, a Filosofia é destacada como uma das disciplinas formadoras do caráter humanista da educação: “a nova legislação educacional brasileira parece reconhecer, afinal, o próprio sentido histórico da atividade filosófica e, por esse motivo, enfatiza a competência da Filosofia para promover, sistematicamente, condições indispensáveis para a formação de cidadania plena!” (BRASIL, 1998, p. 45). As teorias pedagógico-didáticas que partem do paradigma crítico-social têm em comum o fato de considerarem a Filosofia uma disciplina nuclear para a formação do senso crítico e questionador dos estudantes enquanto agentes históricos e sociais. Portanto, o ensino de Filosofia é privilegiado não em termos do fabuloso conteúdo da história do pensamento ocidental, mas, sobretudo, em função das características que fazem da Filosofia um conhecimento reflexivo, crítico, questionador, argumentativo. Para o enfoque crítico, o ensino deve abordar contextos sociopolíticos de interesses e valores em conflito. A realidade social é o ponto de partida dos fenômenos educativos, a pesquisa deve estar comprometida diante dos conflitos para conseguir a mudança e a libertação da opressão. Busca-se construir uma teoria que trate de orientar a ação baseada na reflexão da ação, na práxis como encontro crítico entre teoria e prática. O ensino de Filosofia à luz das abordagens crítico-sociais permite ao educando não apenas compreender ou reproduzir conteúdos, mas participar ativamente do processo de ensino-aprendizagem compreendendo como os conhecimentos são produzidos, justificados, reproduzidos, criados e recriados. Compreendendo como a realidade é produzida, pensada, justificada e transformada em termos das abordagens e valores éticos, metafísicos, teóricos, ideológicos, políticos, científicos, religiosos e estéticos. O ensino de Filosofia na atualidade busca situar o aluno em uma realidade contextualizada, pondo em debate os avanços, os limites e os problemas do mundo , 39 contemporâneo à luz das questões clássicas e atuais do debate do pensamento filosófico. A tese da “educação como prática da liberdade” foi defendida por Paulo Freire, sendo sua “Pedagogia do Oprimido” (FREIRE, 2012) uma das principais vertentes do pensamento pedagógico brasileiro contemporâneo. Freire parte do referencial teórico marxista para desdobrar sua teoria pedagógica, que pode ser resumida em três elementos centrais: a) a crítica da alienação sustenta o projeto pedagógico da educação como prática da liberdade; b) a categoria pedagógica da “conscientização”, criada por Freire, visa à formação da autonomia intelectual por meio da educação como um ato político e não neutro do educador; c) a aplicação da teoria dialética do conhecimento como prática pedagógica, que implica a relação dinâmica entre ensino- aprendizagem como uma via de mão dupla entre o educador e o educando. No Brasil, a partir dos anos 1980, surgem outros desdobramentos desse pensamento pedagógico-crítico: Demerval Saviani (1983) denomina sua concepção pedagógica de histórico-crítica;Libâneo defende o projeto de uma pedagogia crítico-social dos conteúdos, enquanto versão da pedagogia histórico-crítica voltada para a didática: Na prática, significa uma abordagem crítica dos conteúdos, crítica no sentido de tratar os conteúdos escolares dentro de uma análise concreta das relações econômicas, sociais, culturais que envolvem a prática escolar. A pedagogia crítico-social quer contribuir efetivamente para a formação de sujeitos pensantes e críticos. Por isso, compreende que o ensino cria modos e condições para o desenvolvimento da capacidade do sujeito para colocar- se ante a realidade a fim de pensá-la e nela atuar, visando à transformação. Ensinar a pensar criticamente é fazer a ação docente incidir sobre a capacidade do aluno de apropriar-se de forma crítica dos objetos de conhecimento, a partir de um enfoque totalizante da realidade e de sua problematização (LIBÂNEO, 2009, p. 3). Portanto, adotar para o ensino de Filosofia as abordagens pedagógico-didáticas crítico- sociais significa buscar metodologias ativas de ensino-aprendizagem, por meio das quais o ensino não se limita à reprodução de conteúdos. Nessa abordagem, o aluno assume o papel de sujeito-ativo, pois adota a atitude filosófica crítica e reflexiva para compreender os conteúdos contextualizados à realidade vivida, aprendendo a exercer sua cidadania com liberdade, responsabilidade e plenitude. Essa perspectiva teórica e pedagógica está em pleno acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais que, no , 40 volume IV, apontam como objetivo do ensino da Filosofia “promover, sistematicamente, condições indispensáveis para a formação de cidadania plena”. Conclusão Vimos neste bloco as principais vertentes do pensamento pedagógico brasileiro, segundo a tipologia proposta por Libâneo (2011), que destaca duas vertentes centrais: Liberal e Progressista. A primeira é subdividida em outras: Liberal-Tradicional; Liberal- Renovada (progressivista e não diretiva); Liberal-Tecnicista. Já a Pedagogia Progressista abarca as vertentes: Libertadora; Libertária; Crítico-Social dos conteúdos. Podemos observar que a principal diferença entre as vertentes Liberais e Progressistas reside nas diferentes concepções do papel ou da função da educação e da escola na sociedade; as primeiras visam apenas ao ensino formal e à transmissão de conteúdos, e à reprodução da estrutura social, enquanto as segundas vêm na educação um processo de formação do senso crítico ativo e transformador da sociedade. Vimos que as vertentes pedagógicas implicam determinadas abordagens didáticas que são divididas segundo
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