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Conceitos: Racionalismo é a corrente de pensamento caracterizada por admitir na Razão o fundamento e as condições para o conhecimento. No contexto da disciplina, destaca-se, especialmente, a figura de Descartes e a contribuição de suas questões para o impulso da filosofia de Kant. Empirismo é a corrente de pensamento que toma a experiência e os dados sensíveis como o fundamento do conhecimento. No contexto da disciplina, é dado maior destaque às críticas realizadas por Hume à ideia de causalidade e à ideia de identidade individual e sua contribuição para o impulso da filosofia de Kant. Criticismo Kantiano é a posição metodológica de Kant que considera que o ponto de partida para a reflexão racional deve ser a análise crítica dos limites da Razão, buscando identificar a possibilidade, a origem, o valor e as leis do conhecimento racional. O Idealismo Hegeliano significa que o movimento da realidade e sua tessitura passam a se identificar com o próprio movimento que se encontra na realização do pensamento, em sua materialização na História. Uma das teses centrais do Idealismo - o real é racional e o racional é real - encontra sua maior expressão porque a história universal passa a ser compreendida como a manifestação da própria razão. O Materialismo Dialético de Marx é conceito dotado de múltiplos sentidos, ainda que se possa identificar como sentido geral o reconhecimento da matéria como a única realidade efetiva, única substância que constitui o real. A perspectiva materialista sustenta, portanto, uma tese monista da realidade. Em oposição a todo idealismo e, especificamente ao idealismo de Hegel, o mundo material é admitido como anterior ao espírito, como causa de todo movimento, inclusive como fonte do pensamento. A consciência passa a ser reflexo das determinações materiais. No século XX temos a Escola de Frankfurt (Adorno e Horkheimer Conceitos: Indústria Cultural, razão instrumental, Marcuse e outros herdeiros: Benjamin e Habermas) e os marxistas (Althusser, Lukács e Gramsci). Positivismo é o conceito que possui significados distintos. No contexto da disciplina, é dado destaque ao significado extraído de Comte. Sob o nome desse autor, representa corrente que visa a reforma da sociedade e de seus valores a partir da compreensão do desenvolvimento do conhecimento científico. A ciência apresenta-se como o estado mais evoluído do desenvolvimento da inteligência humana e deve guiar a formação da nova sociedade. Os saberes que, de acordo com essa posição, já alcançaram o estado científico encontram-se classificados e relacionados por uma hierarquia. A Fenomenologia é uma abordagem filosófica que também se apresenta como um método de interpretação da realidade, vários nomes da Filosofia podem ser associados a essa abordagem. No contexto da disciplina, toma-se o pensamento de Husserl que, realizando uma crítica ao Positivismo e ao naturalismo implicado na visão positivista, defende a necessidade de se reconhecer a especificidade da Consciência enquanto fenômeno, dotada de intencionalidade e doadora de sentido ao mundo. O desafio da Fenomenologia será a descrição, compreensão e interpretação dos atos constituintes da consciência e dos seus correlatos objetos. Ainda temos como herdeiros de Husserl: Heidegger, Sartre e Merleau-Ponty entre outros. Círculo de Viena (Positivismo Lógico) é o encontro informal entre filósofos e cientistas, que durou entre 1922 a 1936, o círculo de Viena inicialmente se reuniu em torno do nome de Schlick. O círculo de Viena congregou vários nomes com bastante pontos em comum, ainda que também com pontos em desacordo. Apesar do nome que carrega "Positivismo" só se pode reconhecer uma influência muito remota do positivismo comteano. O livro de Wittgenstein é recebido por Schlick com enorme entusiasmo e suas ideias tornam-se uma referência para o grupo. Vale a pena lembrar que a associação do nome de Wittgenstein a esse grupo deve ser considerada como passageira, pois o pensador mudará suas ideias posteriormente, chegando, mesmo, a rejeitar teses presentes em seu primeiro livro. A continuidade da sua produção dará margem, nos comentários de alguns, de um "Segundo Wittgenstein" que continuará examinando o problema da linguagem, mas a partir de outros conceitos. Falsificacionismo é o termo liga-se a Karl Popper. Inicialmente próximo do Círculo de Viena, mas afastando-se desse grupo posteriormente, Popper rejeitará o critério da verificabilidade como critério de validação da ciência. Aponta para o limite da verificação empírica e do método da indução e propõe considerar como critério a possibilidade de refutação de uma teoria para a mesma ser considerada científica. O critério ficou conhecido como "critério da falseabilidade". Com essa perspectiva, ele indica a transitoriedade de toda teoria científica, pois uma teoria permanece sendo verdadeira até que sua falsidade seja demonstrada. Todo cientista deve se preocupar mais com o reconhecimento de teorias que o refutem do que em justificar a própria teoria. A resistência a uma refutação é reforçadora da teoria. Revoluções Científicas é o termo ficou associado ao físico e filósofo Thomas Khun desde a publicação de seu livro: A estrutura das revoluções científicas. Identificando que toda ciência é orientada por "paradigmas", Khun não aceita que o desenvolvimento da ciência tenha sido impulsionado pelo ideal da refutação. Ao contrário, enquanto uma ciência se consolida e desenvolve, a comunidade científica dessa ciência permanece em torno de um 'paradigma' que determina um conjunto de elementos tais como: métodos aceites; teorias compartilhadas; tipos de problemas a serem investigados e etc. Quando, por um conjunto de não-soluções, esse modelo, esse paradigma que orienta a ciência, se enfraquece, essa ciência entra num período de crise e um outro paradigma irá aparecer. A Epistemologia histórica é associada aos nomes de Bachelard e Canguilhem, a perspectiva da Epistemologia Histórica também se encontra numa linha de crítica ao Positivismo. Bachelard reclama que a compreensão da racionalidade implica no reconhecimento do valor da própria História da Ciência. A análise dessa história irá mostrar que a ciência não evolui linearmente, mas ao contrário se dá por rupturas epistemológicas. Tais rupturas ocorrem quando são superados os obstáculos epistemológicos. Canguilhem, discípulo de Bachelard, irá examinar como o percurso de um conceito na história de uma determinada ciência - ou ainda por meio do empréstimo a outras ciências - poderá oferecer obstáculos epistemológicos e, portanto, essa história do conceito deve ser examinada. Foucault, herdeiro de Bachelard e Canguilhem, irá propor outras categorias a partir das quais se pode pensar o desenvolvimento da ciência e dos saberes. Na fase inicial de sua obra, dedica-se a identificar as condições históricas que permitiram a emergência de um determinado saber. Essa questão encontra-se relacionada, por exemplo, com a publicação de seu primeiro livro: A História da Loucura. Nesse livro, sua tese de doutorado, Foucault mostra que a formação de um campo de saber não pode ser explicada a partir das referências exclusivas daquele campo de saber. A história levantada por Foucault no livro citado vai mostrar que a produção de um determinado saber é resultado de uma rede de interferências tanto de ordem econômica, política, cultural, religiosa e etc. No entanto, o exame da formação de um determinado campo de saber vai colocando em evidência um outro problema articulado ao saber, o problema do poder que se torna um dos temas centrais na obra de Foucault. Tomando esse conceito a partir de um ponto de vista inovador, Foucault vai mostrar que as relações de poder não se encontram concentradas nas figuras centrais do Estado, por exemplo, nem numa compreensão abstrata da questão, mas, nas relações quese efetivam, numa 'microfísica do poder', onde se encontram estratégias de dominação por meio de práticas discursivas, dispositivos, que sujeitam corpos e dirigem comportamentos. Deve-se procurar examinar, captar o poder a partir de suas extremidades e ramificações. Termos (conceitos) importantes: moderno (lat. tardio modernus, do lat. modo: recentemente, agora mesmo) 1. Termo que se opõe a clássico. tradicional. Considera-se que, do ponto de vista histórico, a filosofia moderna inicia-se com Descartes e Francis Bacon, caracterizando-se por sua ruptura com o pensamento medieval, sobretudo com a escolástica. O pensamento moderno valoriza o indivíduo, a consciência, a subjetividade, a experiência e a atividade crítica. em oposição às instituições, à hierarquia. ao sistema e à aceitação dos dogmas e verdades estabelecidas, que caracterizam a ordem social medieval com o pensamento escolástico. 2. Historicamente, o desenvolvimento da economia mercantilista, o descobrimento do Novo Mundo e as grandes navegações, a reforma protestante, as novas teorias científicas no campo da física e da astronomia (Galileu e Copérnico). fatos que ocorrem em torno dos sécs.XV a XVII, marcam uma nova visão de mundo que se contrapõe à visão medieval, caracterizando assim o surgimento do mundo moderno. "Moderno" identifica-se, neste sentido, à ideia de progresso e de ruptura com o passado. racionalismo 1. Doutrina que privilegia a razão dentre todas as faculdades humanas, considerando- a como fundamento de todo conhecimento possível. O racionalismo considera que o *real é em última análise racional e que a razão é portanto capaz de conhecer o real e de chegar à verdade sobre a natureza das coisas. Segundo Hegel: "Aquilo que é racional é real, e o que é real é racional" (Filosofia do direito, Prefácio). Oposto a ceticismo, misticismo. Ver empirismo. 2. Racionalismo crítico: doutrina kantiana dos limites internos da razão em sua aplicação no conhecimento do real. Ver crítica; transcendental. 3. Contrariamente ao * empirismo (valorizando a experiência) e ao fideísmo (valorizando a *revelação religiosa), o racionalismo designa doutrinas bastante variadas suscetíveis de sub-meter à razão todas as formas de conhecimento. Em seu sentido filosófico, ele tanto pode ser uma visão do mundo que afirma o perfeito acordo entre o racional e a realidade do universo quanto uma ética que afirma que as ações e as sociedades humanas são racionais em seu princípio, cm sua conduta e em sua finalidade. 4. O racionalismo muda de figura segundo se opõe a outras filosofias. Ele se opõe ao pensamento arcaico por seu estilo argumentativo e crítico. Opõe-se ao empirismo fazendo-se metódico, recorrendo à lógica e à matemática (p. ex., em Leibniz). Opõe-se ao fideísmo, fazendo-se sistemático; ao misticismo, fazendo-se positivo e critico. Pode ainda limitar-se a um domínio ou aspecto da experiência humana: racionalismo moral. racionalismo religioso (Feuerbach), racionalismo político (Montesquieu) etc razão (lat. ratio) 1. Faculdade de julgar que caracteriza o ser humano. "A capacidade de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que é o que propriamente se denomina o bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens" (Descartes, Discurso do método, I)Ter bom senso. 2. Em um sentido mais específico, a razão é a capacidade de, partindo de certos princípios a priori, isto é, estabelecidos independentemente da experiência, estabelecer determinadas relações constantes entre as coisas, permitindo as-sim chegar à verdade, ou demonstrar, justificar, uma hipótese ou uma afirmação qualquer. Nesse sentido, a razão é discursiva, ou seja, articula conceitos e proposições para deles extrair conclusões de acordo com princípios lógicos. Ver lógica; raciocínio. 3. A razão identifica-se ainda com a luz natural, ou o conhecimento de que o homem é capaz naturalmente, por oposição à fé e à revelação. "A razão é o encadeamento de verdades; mais particularmente, ao ser comparada com a fé. das verdades que podem ser atingidas pelo espírito humano naturalmente sem o auxílio das luzes da fé" (Leibniz, Teodicéia). 4. Razão suficiente: em Leibniz, o princípio da razão suficiente estabelece que para todo fato que ocorre há uma razão pela qual esse fato ocorre, e ocorre de determinada maneira e não de outra. Ver determinismo. 5. Razão teórica ou especulativa: em Kant, trata-se da faculdade dos princípios a priori, que em sua função crítica tem o papel de estabelecer as condições de possibilidade do conhecimento. "Distinguimos a razão do entendimento, definindo-a como a faculdade dos princípios ... Se o entendimento pode ser definido como a faculdade de dar aos fenômenos unidade por meio de regras, a razão é a faculdade de dar unidade às regras do entendimento sob forma de princípios" (Crítica da razão pura). 6. Razão prática: a razão tal qual aplicada no campo da ação humana, permitindo que o homem tome suas decisões ao agir baseado em princípios. Para Kant, é a razão prática que responde à pergunta "que devo fazer?", estabelecendo os princípios morais que regem a ação humana. Ver imperativo; prática. representação (lat. repraesentatio) Operação pela qual a mente tem presente em si mesma uma imagem mental, uma ideia ou um conceito correspondendo a um objeto externo. A função de representação é exatamente a de tornar presente à consciência a realidade externa, tornando-a um objeto da consciência, e estabelecendo assim a relação entre a consciência com o real. A noção de representação geralmente define-se por analogia com a visão e com o ato de formar uma imagem de algo, tratando-se no caso de uma "imagem não-sensível, não-visual". Esta noção tem um papel central no pensamento moderno, sobretudo no racionalismo cartesiano e na filosofia da consciência. Sob vários aspectos, entretanto, a relação de representação parece problemática, sendo por vezes entendida como uma relação causal entre o objeto externo e a consciência, por vezes como uma relação de correspondência ou semelhança. A principal dificuldade parece ser o pressuposto de que a consciência seria incapaz de apreender diretamente o objeto externo. sensação (lat. medieval sensatio) I. Impressão subjetiva e interior advinda dos sentidos e causada por algum objeto que os excita ou estimula (ex.: sensação de frio). Impressão vaga ou imprecisa que temos acerca de algo (ex.: sensação de medo). 2. Para o empirismo, a sensação é funda - mental para o processo de conhecimento. pois fornece sua matéria bruta através dos sentidos. Kant usa esse conceito ) Empfindung) para designar as modificações na consciência subjetiva causada pela presença de algum objeto. Ver impressão; percepção. sensibilidade (lat. vulgar sensihilitas) 1. Em um sentido genérico, capacidade de sentir. de ser atestado por algo. de receber através dos sentidos impressões caudadas por objetos externos (ex.: sensibilidade auditiva). Percepção aguçada (ex.: sensibilidade musical). 2. Kant usa esse termo (Sinnlichkeit) para designar a receptividade da consciência, a capa-cidade de formarmos representações dos objetos graças à maneira pela qual estes nos afetam. A sensibilidade nos fornece assim a matéria dos fenômenos. Kant considera o espaço e o tempo como formas puras da sensibilidade, ou seja, condições de possibilidade de termos impressões sensíveis. Ver intuição. ser (do lat. sedere) Podemos dizer que toda a metafísica constitui, num certo sentido, uma meditação sobre o sentido do verbo ser. "Ser, ser puro. nenhuma determinação. Em sua imediatez indeterminada, ele só é igual a si mesmo, sem ser desigual de outra coisa ... Ele é a indeterminação pura e o vazio puro. O ser, o imediato indeterminado é, na realidade, nada, nem mais nem menos que nada" (Hegel). As-sim. o ser pode ser entendido de várias maneiras: a) como substância: "O ser toma múltiplossentidos: num sentido, significa aquilo que é a coisa. a substância" (Aristóteles); b) afirma a existência, a realidade atual de uma coisa. o fato ou ato de ser. "Esta proposição: Eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a pronuncio ou que a concebo em meu espírito" (Descartes); c) como essência, ou seja. aquilo que a coisa é: "Sou apenas uma substância cuja essência ou natureza é apenas a de pensar" (Descartes); d) como ser-em-si, ou seja. como uma região particular do ser (Sartre); e) como ser-no-mundo: condição necessária da existência humana. do Dasein (ser-aí de Heidegger) ou como ser-em-situação: o fato de todo existente estar profundamente engajado numa historicidade. Num sentido que aparece já na filosofia grega. o ser se opõe ao devir. Toda coisa que é. é em virtude de duas forças: o set-e o devir. Uma coisa não cessa de mudar no tempo (crescimento, envelhecimento etc.). Só o ser é estável na coisa, pois sob a multiplicidade das formas que torna essa coisa no tempo_ podemos continuar dizendo que ela é. E nesse sentido que, na filosofia grega. o devir é sempre identificado como o não ser. o não-ser não é a ausência de ser. o nada. mas aquilo que não é o ser. aquilo que é mutável e diverso. enquanto que o ser é imutável e único. Fala-se ainda do ser de razão, quer dizer, do ser só existindo no pensamento. No singular, e com inicial maiúscula, e por vezes acompanhado de qualificativos como "perfeito". "supremo". "absoluto". o Ser é sinônimo de Deus: Ser em si. e para si, Ser absoluto. ter metafísica; ontologia. subjetividade Característica do sujeito; aquilo que é pessoal, individual, que pertence ao sujeito e apenas a ele, sendo portanto, em última análise, inacessível a outrem e incomunicável. Interioridade. Vida interior. A filosofia chama de "subjetivas" as qualidades segundas (o quente, o frio, as cores), pois não constituem propriedades dos objetos, mas "afetações" dos sujeitos que as percebem. Nenhum objeto é quente ou frio, mas cada um possui apenas uma certa temperatura. Toda impressão é subjetiva. Por isso. Kant chama de subjetivos o espaço e o tempo, porque não são propriedades dos objetos. não nos são dados pela experiência, mas pertencem ao sujeito cognoscente: são "formas a priori da sensibilidade". Assim, a subjetividade caracteriza a teoria do conhecimento de Kant. sujeito (lat. subjectus) 1. Em um sentido lógico-lingüístico, o sujeito de uma proposição representa aquilo de que se fala, a que se atribui um predicado ou propriedade. Ex.: Na proposição " Sócrates foi o mestre de Platão", "Sócrates" é o sujeito, "mestre de Platão", o predicado. 2. Na metafísica clássica, sobretudo em Aristóteles, sujeito é sinônimo da substância, do ser real como suporte de atributos: "O sujeito é, portanto, aquilo de que tudo o mais se afirma, e que não é ele próprio afirmado de nada" (Metafísica). 3. Em teoria do conhecimento, principalmente a partir de Descartes e do pensamento moderno, o sujeito é o espírito, a mente, a consciência, aquilo que conhece, opondo-se ao objeto, como aquilo que é conhecido. Sujeito e objeto definem-se, portanto, mutuamente, como pólos opostos da relação de conhecimento. 4. Sujeito transcendental. Opõe-se a sujeito epistêmico e a sujeito psicológico. Ver transcendental; epistêmico, sujeito. 5. Filosofia do sujeito ou da consciência: Na filosofia moderna, é a tradição racionalista que atribui ao sujeito um papel central como fundamento do conhecimento. O sujeito psicológico ou individual, quer dizer, cada "eu" na medida em que tem consciência de uma unidade, apesar da diversidade de seus pensamentos e percepções, não é o foco de interesse da filosofia. Só lhe interessa o sujeito universal ou epistêmico, o sujeito do conhecimento, vale dizer, para o racionalismo, o conjunto de propriedades da razão, universais e idênticas em todo indivíduo. Descartes o considera uma *substância que pensa, que duvida, que existe. Kant o denomina "sujeito transcendental"; não é uma substância, nem uma consciência psicológica individual, mas uma função do espírito, fazendo com que todas as nossas representações (idéias, sentimentos, imagens), que são distintas de um indivíduo a outro, acompanhem-se sempre de um "eu penso" consciente de si, idêntico em toda consciência, e dotado da mesma estrutura composta das for-mas puras da *sensibilidade (espaço e tempo) e do *entendimento (as categorias). Ver cogito. tábula rasa Expressão latina tornada célebre por Locke e Leibniz a propósito do debate em torno do inato e do adquirido. Para Locke, o espírito humano é, desde seu nascimento, como uma tabula rasa, adquirindo todos os seus conhecimentos pela experiência. Leibniz, ao contrário, acredita que há no espírito humano certos elementos inatos (como a ideia de causa, de comparação, de número etc.) e que não podem ser retirados da experiência. Ver adquirido/inato. transcendental (do lat. medieval transcendentalis) 1. Na escolástica, termo utilizado para designar *categorias mais gerais que transcenderiam as categorias aristotélicas. Os transcendentais seriam assim o ser, o verdadeiro, o bem e o belo, caracterizando tudo aquilo que é, sendo no fundo aspectos da mesma coisa, o Ser. 2. Na filosofia kantiana, também caracteriza-da como filosofia transcendental, trata-se do ponto de vista que considera as condições de possibilidade de todo conhecimento. Nesse sentido, não deve ser confundido com o termo "transcendente". "Chamo transcendental todo conhecimento que, em geral, se ocupa menos dos objetos do que de nossos conceitos a priori dos objetos. Um sistema de conceitos desse tipo seria denominado filosofia transcendental ... Não devemos denominar transcendental todo conhecimento a priori, mas apenas aquele pelo qual sabemos que e como certas representações (intuições e conceitos) são aplicadas ou possíveis simplesmente a priori ("transcendental" quer dizer possibilidade ou uso a priori do conhecimento)" (Kant, Crítica da razão pura). adventício (lat. adventicios: que vem de fora) Para Descartes, ideias adventícias são representações que provêm dos sentidos: "Entre minhas idéias, umas parecem que nasceram co-migo (inatas); as outras me são estranhas e vêm de fora (adventícias): e as outras foram feitas e inventadas por mim mesmo (factícias)". Ver ideia a priori (expressão latina: anterior à experiência) L Que é logicamente anterior à experiência e dela independe. 2. Em Kant, são a priori, quer dizer, universais e necessárias, as formas ou intuições puras da sensibilidade (espaço e tempo), as categorias do entendimento e as idéias da razão. 3. Ideia a priori: ideia preconcebida (e pre-conceituosa) ou hipótese anterior a toda e qual-quer verificação experimental: "E uma ideia que se apresenta sob a forma de uma hipótese cujas conseqüências devem ser submetidas ao critério experimental" (Claude Bernard). 4. Arbitrário, gratuito. não fundado nada de positivo. a posteriori (expressão latina: posterior à experiência) Que é estabelecido e afirmado em virtude da experiência. Ex.: a água entra em ebulição a 100 graus centígrados. Opõe-se a priori. Na lógica, essas duas expressões deter-minam os juízos. Um juízo a priori é independente da experiência, não tendo necessidade dela para ser verificado. Um juízo a posteriori, ao contrário, só pode ser estabelecido pela experiência. As proposições apodíticas exprimem juízos a priori; as proposições assertóricas ex-primem juízos a posteriori. Crítica da razão pura (Kritik der reinen I'ernunft) Primeira obra da chamada fase crítica, trata-se da mais importante e influente de Kant (I° ed. 1781. 2° ed. com alterações. 1787), na qual expõe um novo programa filosófico: a filosofia. Diferentemente da ciência não deve pretender conhecer o mundo, mas sim revelar os fundamentos da ciência, estabelecendo as condições de possibilidade do conhecimento.Contém três partes: a Estética Transcendental (ou teoria das formas puras da sensibilidade, as intuições de espaço e tempo); a Analítica Transcendental (ou teoria dos conceitos e de nossas formas de entendimento do mundo): a Dialética Transcendental (ou teoria daquilo que não podemos conhecer, ou teoria dos númenos: a totalidade do mundo, a imortalidade da alma e a existência de Deus). A (Titica se propõe assim a definir a fonte. as formas e os limites de todo conheci-mento humano. "Deve grande influência no desenvolvimento da teoria do conhecimento e mesmo da filosofia da ciência na Alemanha ao final do séc.XIX, sobretudo com o neokantismo. Ver Kant. Critica do, juízo (Kritik der Urteilskraft) Terceira c última das "três críticas" de Kant, publicada em 1790. Embora tendo como objetivo a análise do juízo estético, ou de gosto, na realidade Kant, por meio do exame da "faculdade de julgar", empreende nesta obra uma verdadeira revisão de suas posições anteriores, considerando a "Crítica do juízo como mm meio de articular as duas partes da filosofia —a teoria e a prática — em uni todo integrado". Esta obra, cuja influência não foi tão significativa quanto à de duas primeiras Críticas, tem sido, no entanto, revalorizada mais recentemente. Ver Kant. criticismo (do al. Kritizismus) Doutrina kantiana que estuda as condições de validade e os limites do uso que podemos fazer de nossa razão pura. Por extensão, toda doutrina que faz da crítica do conhecimento a condição prévia da pesquisa filosófica. Quando tenta situar sua pró-pria filosofia, Kant o faz relativamente a dois perigos: a) o perigo do dogmatismo, que confia demasiado na razão, sem desconfiar bastante das ilusões especulativas; b) o perigo do empirismo que, por medo dos erros dogmáticos, tende a reduzir tudo à experiência. O criticismo kantiano procura instaurar um justo uso da razão, após fazer uma triagem daquilo que lhe é possível e daquilo que lhe escapa. Ao colocar a questão básica "O que é conhecer?", transforma os dados da resposta afirmando que, no conheci-mento, o sujeito não apreende as coisas tais como são "em si", mas as submete à sua lei, isto é, às formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e às categorias de seu entendimento. Discurso do método (Discours de la méthode) Obra de Descartes publicada em 1637. constituindo sua verdadeira autobiografia intelectual, na qual expõe os princípios de sua filosofia "para bem conduzir sua razão e procurar a verdade nas ciências". Trata-se na realidade da introdução filosófica a três tratados científicos de Descartes, Dióptrica, A4eteoros e Geometria. Seu objetivo, opondo-se à ciência tradicional e à filosofia especulativa dos antigos, é o de construir uma filosofia e estabelecer regras firmes permitindo ao homem tornar-se "mestre e possuidor da natureza". Estas regras são a da certeza ou evidência ("Jamais aceitar como verdadeira coisa alguma a não ser que se imponha a mim como evidente"), a da análise ("Dividir cada dificuldade a ser examinada em tantas partes quanto possível e necessário para resolvê-la"), a da síntese ("Conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos mais simples e mais fáceis de serem conhecidos, para atingir paulatina e gradativamente o conhecimento dos mais com-plexos") e a da enumeração ("Fazer enumerações tão exatas e revisões tão gerais dando-me a garantia de não omitir nada"). Ver método. dúvida (do lat. dubitare: hesitar, vacilar), 1. Incapacidade de determinar se algo é verdadeiro ou falso ou de decidir pró ou contra alguma coisa. 2. Dúvida cética: suspensão definitiva do juízo, nada afirmando ou nada negando, o sujeito instalando-se na posição: "nada sei". Dúvida metódica: método de conhecimento que tem por objetivo descobrir a verdade, consistindo em considerar provisoriamente como falso tudo aquilo cuja verdade não se encontra assegurada. Trata- se da dúvida cartesiana, destinada a ser um método utilizado para atingir uma certeza maior do que as certezas da vida cotidiana, caracterizada pelo fato de ser indubitável. O cogito ergo sum será o indubitável, correspondendo, intelectualmente, à alavanca de Arquimedes e permitindo eliminar-se toda possibilidade de dúvida. O caráter voluntário e metódico dessa dúvida aparece claramente no recurso ao "gênio maligno", simples hipótese usada por Descartes para permanecer na dúvida enquanto não consegue encontrar o indubitável. empirismo (fr. empirisme) I. Doutrina ou teoria do conhecimento segundo a qual todo conhecimento humano deriva, direta ou indiretamente, da experiência sensível externa ou in-terna. Freqüentemente fala-se do "empírico" como daquilo que se refere à experiência, às sensações e às percepções, relativamente aos encadeamentos da razão. O empirismo, sobretudo de Locke e de Hume, demonstra que não há outra fonte do conhecimento senão a experiência e a sensação. As idéias só nascem de um enfraquecimento da sensação, e não podem ser inatas. Daí o empirismo rejeitar todas as especulações como vãs e impossíveis de circunscrever. Seu grande argumento: "Nada se encontra no espírito que não tenha, antes, estado nos sentidos." "A não ser o próprio espírito", responde Leibniz. Kant tenta resolver o debate: todos os nossos conhecimentos, diz ele, provêm da experiência, mas segundo quadros e formas a priori que são próprios de nosso espírito. Com isso, tenta evitar o perigo do dogmatismo e do empirismo. Ver racionalismo. Em Kant, o entendimento é a faculdade de julgar por meio de conceitos. Se a primeira fonte de nosso conhecimento é a sensibilidade, a segunda é o entendimento, poder de julgar. poder de conhecer não-sensível. Assim, na organização kantiana das faculdades, o entendimento é situado entre a sensibilidade e a razão. A sensibilidade, onde reinam as formas a priori do espaço e do tempo, é o lugar da intuição. No entendimento, as sensações são arrumadas em série pelas regras a priori das categorias. Enfim. a razão, "faculdade dos princípios". tenta prolongar a série por idéias "reguladoras'. evidência (lat. evidentia) Em seu sentido cor-rente, tudo aquilo que se impõe ao espírito com uma força tal que parece desnecessário demonstrá-lo ou prová-lo. Ex.: "O todo é maior do que a parte" (Euclides). Precisamos distinguir as "falsas evidências" das "evidências objetivas" . Para Descartes, somente a evidência intelectual pode constituir critério de objetividade. A primeira regra do método consiste "em nada aceitar por verdadeiro a não ser que se imponha a mim como evidente" . Uma ideia evidente é uma ideia ao mesmo tempo clara (presente ao espírito) e distinta (definida): a verdade das evidências é garantida metafisicamente pela veracidade divina; e as ciências são fundadas em evidências racionais primeiras. As falsas evidências são as dos preconceitos, as da infância e as dos senti-dos. O modelo das evidências intelectuais é o das matemáticas. Aquilo que se chama de modo tautológico de "evidência absoluta" é apenas o grau absoluto da certeza. fenômeno (gr. phainomenon, de phainesthai: aparecer) 1. Desde sua origem grega, o termo "fenômeno" tem um sentido ambíguo, oscilando entre a ideia de "aparecer com brilho" e a ideia de simplesmente "parecer". Assim, o fenômeno é algo de pouco seguro e, em última instância, urna ilusão. Daí a oposição metafísica entre o ser e o parecer: o ser em si não pode ser percebido por nossos sentidos; aquilo que nos aparece é apenas a diversidade dos seres particulares. O termo "fenômeno" adquire, então, o sentido genérico de "tudo o que é percebido, que aparece aos sentidos e à consciência". 2. 0 termo "fenômeno" passou a ser utiliza-do nas ciências experimentais e nas ciências humanas para designar não uma coisa, mas um processo, uma ação que se desenrola. Assim, a física e a química denominam "fenômeno" toda modificação que ocorre no estado de um corpo: o movimento é um fenômeno(o corpo em movimento se desloca); a dilatação dos gases é um fenômeno, mas os gases são corpos: a digestão (em biologia) é um fenômeno, mas o aparelho digestivo é um conjunto de órgãos. 3. Na filosofia de Kant, o termo "fenômeno" adquire um sentido particular, por oposição a "númeno". O "númeno" designa a coisa em si, tal como existe fora dos quadros do sujeito. Quanto ao "fenômeno", designa o objeto de nossa experiência, ou seja, aquilo que aparece nos quadros que lhe conferem as formas a priori da sensibilidade e as leis do entendimento. Mas Kant distingue a matéria do fenômeno, isto é. a sensação, e a forma do fenômeno, ou seja, o modo como essa sensação é ordenada em nosso espírito. O fenômeno se define, pois, como "um composto daquilo que recebemos das impressões e daquilo que nossa própria faculdade de conhecer tira de si mesma". Sendo assim, o fenômeno nada tem de uma aparição ilusória, mas constitui o fundamento mesmo de todo o nosso conhecimento. Segundo Kant, é essa distinção fundamental entre fenômeno e "númeno" que permite resolver a antinomia entre determinismo e liberdade. Porque o homem, como fenômeno, é determinado. no tempo, pelas leis da causalidade; como "númeno", porém, permanece livre (não é determinado por essas leis). 4. A expressão "salvar os fenômenos" consiste em acrescentar hipóteses suplementares a uma teoria de modo que os fatos que pareciam contradizê-Ia possam ser explicados por ela. Assim, para Galileu, "o real encarna o matemático. Por isso, ele não admite uma separação entre a experiência e a teoria. A teoria não se aplica aos fenômenos de fora, ela não `salva' esses fenômenos, mas exprime sua essência" (Alexandre Koyré). Razão instrumental é um termo usado provavelmente por Max Horkheimer no contexto de sua teoria crítica, para designar o estado em que os processos racionais são plenamente operacionalizados (Escola de Frankfurt). "A razão não é apenas a faculdade interior do homem, mas ela se personificou nos próprios objetos deste mundo. A razão tornou-se racionalidade. Ela está presente no aparelho produtivo, no aparelho tecnológico e cientifico, nas instituições políticas, no hospital, na escola, no trânsito e na mídia. Em todos os empreendimentos humanos há a relação calculada entre meios e fins. A operação, a coordenação, a ordem, o sistema, o cálculo, a busca da unidade define a racionalidadade em sua eficácia." ( https://filosofonet.wordpress.com/2009/04/16/627/ ) https://filosofonet.wordpress.com/2009/04/16/627/
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