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REFLEXÃO - A PANDEMIA E O INDIVIDUALISMO QUE NUNCA EXISTIU

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Reflexão sobre o texto “A pandemia e o individualismo que nunca existiu” de Bárbara Buril
O texto nos traz uma reflexão acerca do sofrimento e como este se configura na sociedade, bem como sobre o individualismo. Mesmo que o sofrimento produzido pela pandemia não se constitua como chave pedagógica, ainda há um lampejo de esperança de que ele assuma um caráter revelatório em vários aspectos da vida, inclusive sobre a noção individualista. Haja vista que o individualismo pode ter uma interpretação dual: uma, que diz respeito à liberdade, diferenciação da personalidade, singularidade; outra, no sentido durkheimiano de produção e definição da individualidade como mercadoria (pelo/para o consumo), ou seja, uma “combinação perversa” (SOARES, 2020) na forma econômica que prejudica as relações e degenera as formas de afirmação do indivíduo.
	A autora traz a referência de um artigo publicado na revista The Atlantic, intitulado “Why You Never See Your Friends Anymore”. Neste artigo, é discorrido sobre a nepreryvka ou “semana de trabalho contínua”, experimento social em prol do desenvolvimento industrial que durou onze anos na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O experimento, pensado durante o governo ditatorial de Joseph Stalin, aboliu os sábados e domingos das semanas (a semana passou a ter cinco dias) e dividiu os trabalhadores em cinco grupos de trabalho (divisão por cores e símbolos), sendo que cada grupo tinha dias de trabalho e de folgas diferentes. Foi um desastre social. Casais não se viam mais, amigos perderam o contato, já que não havia um dia de descanso coletivo e a semana de sete dias só foi restituída em 1940. Os laços das relações íntimas e da comunidade local foram rompidos. Mas o que o nepreryvka nos ensina hoje? Será que há aspectos desse experimento na economia contemporânea e, consequentemente, em como dirigimos e organizamos nossas vidas?
É o que o sociólogo Bauman (2014) discute no livro Modernidade Líquida. A individualidade não mais se baseia na história individual, no conjunto de suas realizações, na conexão e aprendizado pela relação com o outro, antes se relaciona em um indivíduo que se intitula como alguém isolado, o único responsável por seus sucessos e fracassos. A modernidade líquida reflete na falta de solidez dos vínculos e dos laços sociais, que se tornam mais frágeis e passageiros (fragmentação e atomização do social). As “lógicas” do consumismo (perspectiva de felicidade alterada), da coisificação humana (formação das identidades como mercadorias), da competitividade exclusiva (como se estivéssemos em um grande Big Brother Brasil da vida real e só um pode vencer) e da falta de percepção causa-efeito (falta do sentimento de interdependência no que diz respeito, por exemplo, ao uso de máscaras e a não disseminação do vírus) fomentam ainda mais o individualismo da sociedade líquida. A insegurança da liquidez, por sua vez, leva ao isolamento, à procura de sentido permeada pela angústia e pela busca de “receitas de vida”.
	Assim, a pandemia nos revelou uma lição fundamental exposta no texto: necessitamos das relações sociais para sermos indivíduos. O outro não é um obstáculo, mas sim a “condição de possibilidade de realização”. A vida em sociedade é necessária a nível psíquico e o isolamento obrigatório nos faz pensar sobre a instabilidade das ligações sociais e afetivas (imagine a ligação das moléculas no estado líquido e no sólido). A consciência de si (individualidade) nos leva à relação com o outro (coletividade), onde aprendemos, ensinamos e evoluímos. O poder do coletivo (alteridade) aumenta nossa capacidade de se organizar e agir, tomando melhores decisões e construindo mais. Assim como as colegas que já postaram suas reflexões, pensar dessa forma me fez refletir sobre como os relacionamentos e interações eram para mim antes da pandemia, como estão sendo agora, durante a pandemia, e como serão depois dela. É importante ressignificarmos a importância do convívio e da interação e não repetir os erros individualistas do passado não tão distante. Acredito que embora a sociedade em geral não aprenda com os erros (sofrimento), alguns aprendem/podem aprender e evoluir, tomando decisões que semeiem isso para o futuro (a frase, “o futuro é agora” começa a fazer todo sentido).
Beatriz Anjos de Oliveira, Universidade Federal da Bahia.
BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar (2014). 
SOARES, I. G. Individualismo Moderno e Sofrimento Psíquico: Uma análise da comunidade virtual dos Neuróticos Anônimos. Universidade Federal da Paraíba (monografia). João Pessoa, 2020.
SHULEVITZ, J. Why You Never See Your Friends Anymore. The Atlantic. Novembro, 2019.

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