Buscar

Saude Mental Infantil - Violencia Domestica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ARTIGO ORIGINAL 
_____________________________ 
 
 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA INFANTIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS 
 
Nelcy Soares de Sousa1 
Caroline Sousa Vieira2 
 Pedro Alves Fernandes3 
Cristina Soares de Sousa4 
Cristiano Soares de Sousa5 
 
 RESUMO: A violência é um dos eternos problemas da teoria social, da prática política 
e relacional da humanidade, que atinge toda a população e precisa ser estudada de 
diferentes maneiras. As conseqüências da violência que diretamente atingem a saúde da 
criança podem ser imediatas, de médio e longo prazo. Sentimentos gerados pela dor 
decorrente das agressões físicas de adultos contra crianças são na maioria das vezes 
reprimidos, esquecidos, negados, mas eles nunca desaparecem. Tudo permanece 
gravado no mais íntimo do ser e os efeitos da punição permeiam nossa vida, nossos 
pensamentos, nossa cultura. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar que a 
implementação de um processo contínuo e bem estruturado de políticas públicas pode 
significar uma importante estratégia de prevenção e combate à violência doméstica 
infantil. Para melhor compreensão do tema foi realizada uma pesquisa bibliográfica 
tendo como finalidade colocar o leitor em contato com informações disponibilizadas por 
outros autores sobre o assunto pesquisado. O presente estudo permitiu compreender a 
importância das políticas públicas na prevenção da violência doméstica infantil. 
PALAVRAS-CHAVE: Violência; Criança; Políticas públicas; Prevenção. 
 
ABSTRACT: Violence is one of the eternal problems of social theory, of political and 
relational practice of mankind, which reaches all population and needs to be studied on 
different ways. Consequences of violence which directly reach child´s health can be 
immediate, of middle and long time. Sentiments generated by pain by physical 
aggressions of adults against children are in the most of times repressed, forgotten, 
denied, but they never disappear. Everything stays recorded into the most part of the 
being and punishment effects go through our life, our thoughts and our culture. The 
present work has as its objective to show that implementation of a continuous and well-
structured process of public politics can mean an important strategy of prevention and 
combat to child home violence. In order to comprehend better the theme was done a 
bibliographical research having as its end to put reader in contact with information 
available by others authors about the researched topic. The present study allowed 
comprehending the importance of public politic to prevention of child home violence. 
KEYWORDS: Violence; Child; Public politics; Prevention. 
 
 
___________________________ 
1 Universidade Católica de Uberlândia. E-mail: nelcysoares@hotmail.com 
2 Universidade de Jyväskylä 
3 Fundação Carmelitana Mário Palmério 
4 Universidade Católica de Uberlândia 
5 Fundação Carmelitana Mário Palmério 
 
Violência doméstica e políticas públicas 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 46 
A violência é um dos eternos problemas da teoria social, da prática política e 
relacional da humanidade, que atinge toda a população e precisa ser estudada de 
diferentes maneiras. 
Eisenstein; Souza (1993) conceituam a violência como toda ação danosa à vida e 
à saúde do indivíduo, caracterizada por maus-tratos, cerceamento da liberdade ou 
imposição da força. A criança e o adolescente, por sua maior vulnerabilidade e 
dependência, são vítimas frequentes de atos abusivos. 
 Esta pesquisa tem como objetivo demonstrar que a implementação de um 
processo contínuo e bem estruturado de políticas públicas pode significar uma 
importante estratégia de prevenção e combate à violência doméstica infantil. Para 
melhor compreensão do tema foi realizada uma pesquisa bibliográfica com o intuito de 
colocar o leitor em contato com informações disponibilizadas por outros autores sobre o 
assunto pesquisado. Tem a finalidade de apresentar conceitos básicos já consolidados e 
alguns dados sobre o tema, contribuindo com profissionais que trabalham na 
reformulação e reconstrução de valores sociais e culturais atuando na prevenção da 
violência doméstica. 
Primeiramente foi abordado o significado da violência, ciclos e definição, por 
meio de conceitos de diversas fontes descrevendo suas características nos séculos 
passados e na contemporaneidade. 
Camargo (1998) define violência como: 
um exercício humano de poder, expresso através da força, com a 
finalidade de manter, destruir ou construir uma dada ordem de direitos 
e apropriações, colocando limites ou negando a integridade e direitos 
de outros, sendo acentuada pelas desigualdades sociais. Portanto, deve 
também ser entendida como um processo, e não simplesmente como 
males físicos ou psicológicos, causados pela materialização da força (p. 
123). 
 
Na sequência foi feita uma explanação sobre a família. Ao desenvolvermos 
estudos sobre violência doméstica é necessário entendermos o conceito de família, onde 
ocorrem as situações de violência e as situações adequadas ao nosso bem estar. 
O saber acumulado na área de estudos da família é útil na compreensão da 
problemática apresentada e no alargamento do campo de possibilidades de ação, mas as 
escolhas de conduta estão no âmbito da própria família. Lembramos, novamente, que 
situações que ameacem a vida, a integridade da criança e do adolescente não estão no 
âmbito de escolha da família. Valores de sobrevivência têm prioridade sobre quaisquer 
outros. 
SOUSA, N. S.; VIEIRA, C. S; FERNANDES, P. A.; SOUSA, C. S.; SOUZA, C.S. 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 47 
Finalmente foram relatados os principais conceitos de Políticas Públicas, um 
breve histórico da infância no Brasil, além de ressaltar fatores que demonstram a 
necessidade de se elaborar e criar uma política de prevenção contra a violência 
doméstica infantil. 
 
A FAMÍLIA 
Ao desenvolvermos estudos sobre violência doméstica é necessário entendermos 
o conceito de família, onde ocorrem as situações de violência e as situações adequadas 
ao nosso bem estar. Veremos também um breve histórico da infância no Brasil. 
O conceito de família 
A legislação brasileira vigente reconhece e preconiza a família, enquanto 
estrutura vital, lugar essencial à humanização e à socialização da criança e do 
adolescente, espaço ideal e privilegiado para o desenvolvimento integral dos indivíduos. 
Contudo, a história social das crianças, dos adolescentes e das famílias revela que estas 
encontraram e ainda encontram inúmeras dificuldades para proteger e educar seus filhos 
(BRASIL, 2006). 
 Patrício (1994, p. 97), define família como: 
Um sistema interpessoal formado por pessoas que se interagem por 
variados motivos, tais como afetividade e reprodução, dentro de um 
processo histórico de vida mesmo sem habitar o mesmo espaço físico. 
É uma relação social dinâmica que durante todo seu processo de 
desenvolvimento, assume formas, tarefas e sentidos elaborados a partir 
de um sistema de crenças, valores e normas, estruturadas na cultura da 
família, na classe social a qual pertence, em outras influências e 
determinações do ―ambienteǁ em que vivem, incluindo valores e 
normas de outras culturas. Durante seu processo de viver, a dinâmica 
familiar apresenta mudanças representadas por aquelas esperadas no 
decorrer do desenvolvimento, e pelas mudanças situacionais ou 
acidentais, originadas no ambiente familiar e externo. 
 
Segundo Ariès (1978) a família não teve sempre a configuração e a dinâmica 
que observamos atualmente. Somente após a ascensão da burguesia e a chegada da 
transição do feudalismo para o capitalismo, é que a família passa a valorizar a 
intimidade da vida privada e a necessitar de uma identidade e união afetiva. Sendo 
assim, o conceito moderno de infância deriva-se diretamente desta conformação da 
sociedade burguesa do século XIX. Sendo a família o primeiro grupo socialdo 
indivíduo, é importante considerar a sua influência primordial no seu desenvolvimento e 
evolução. Desse modo, o estabelecimento de interações sadias, que permitam a 
satisfação das necessidades físicas, emocionais e intelectuais de seus membros, bem 
Violência doméstica e políticas públicas 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 48 
como a experimentação, contenção e correta utilização dos conteúdos afetivos resulta 
em uma família mais integrada, onde as pessoas poderiam se reconhecer como sujeitos 
conscientes de si e dos demais com condições de amar e respeitar o outro (FERRARI, 
2002). 
Para Vaz Serra (1999), a família tem como função primordial a de proteção, 
tendo, sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de 
problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas 
ajudando a manter a saúde física e mental do indivíduo, por constituir o maior recurso 
natural para lidar com situações potenciadoras de stress associadas à vida na 
comunidade. Segundo Bruschini (1981), a família ―não é a soma de indivíduos, mas 
um conjunto vivo, contraditório e cambiante de pessoas com sua própria 
individualidade e personalidadeǁ (p.77). 
 Um ambiente familiar afetivo e continente às necessidades da criança e, mais 
tarde do adolescente, constitui a base para o desenvolvimento saudável ao longo de todo 
o ciclo vital. Tanto a imposição do limite, da autoridade e da realidade, quanto o 
cuidado e a afetividade são fundamentais para a constituição da subjetividade e 
desenvolvimento das habilidades necessárias à vida em comunidade. Assim, as 
experiências vividas na família tornarão gradativamente a criança e o adolescente 
capazes de se sentirem amados, de cuidar, se preocupar e amar o outro, de se 
responsabilizar por suas próprias ações e sentimentos. Estas vivências são importantes 
para que se sintam aceitos também nos círculos cada vez mais amplos que passarão a 
integrar ao longo do desenvolvimento da socialização e da autonomia (WINNICOTT, 
2005 apud PLANO NACIONAL DE PROMOÇÃO, PROTEÇÃO E DEFESA DO 
DIREITO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E 
COMUNITÁRIA, 2006). 
 Podemos então, definir família como um conjunto invisível de exigências 
funcionais que organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a, 
igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transacionais. Assim, no 
interior da família, os indivíduos podem constituir subsistemas, podendo estes ser 
formados pela geração, sexo, interesse e/ ou função, havendo diferentes níveis de poder, 
e onde os comportamentos de um membro afetam e influenciam os outros membros. A 
família como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, 
diferindo em parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais 
(MINUCHIN,1990). 
SOUSA, N. S.; VIEIRA, C. S; FERNANDES, P. A.; SOUSA, C. S.; SOUZA, C.S. 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 49 
Como os papéis, as funções estão igualmente implícitas nas famílias, como já foi 
referido. As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou 
renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros, como resposta às 
necessidades da sociedade pertencente. Nesta perspectiva, as funções da família regem-
se por dois objetivos, sendo um de nível interno, como a proteção psicossocial dos 
membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma cultura e sua 
transmissão. A família deve então, responder às mudanças externas e internas de modo 
a atender às novas circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade, 
proporcionando sempre um esquema de referência para os seus membros (MINUCHIN, 
1990). Existe consequentemente, uma dupla responsabilidade, isto é, a de dar resposta 
às necessidades quer dos seus membros, quer da sociedade (STANHOPE, 1999). 
Duvall e Miller apud Stanhope (1999) identificaram como funções familiares, as 
seguintes: ―geradora de afetoǁ, entre os membros da família; “proporcionadora de 
segurança e aceitação pessoalǁ, promovendo um desenvolvimento pessoal natural”; 
“proporcionadora de satisfação e sentimento de utilidadeǁ, através das atividades que 
satisfazem os membros da família”; “asseguradora da continuidade das relaçõesǁ, 
proporcionando relações duradouras entre os familiares”; “proporcionadora de 
estabilidade e socializaçãoǁ, assegurando a continuidade da cultura da sociedade 
correspondente”; “impositora da autoridade e do sentimento do que é corretoǁ, 
relacionado com a aprendizagem das regras e normas, direitos e obrigações 
características das sociedades humanas”. Para além destas funções, Stanhope (1999) 
acrescenta ainda uma função relativa à saúde, na medida, em que a família protege a 
saúde dos seus membros, dando apoio e resposta às necessidades básicas em situações 
de doença. “A família, como uma unidade, desenvolve um sistema de valores, crenças e 
atitudes face à saúde e doença que são expressas e demonstradas através dos 
comportamentos de saúde-doença dos seus membros (estado de saúde da família) 
“(STANHOPE, 1999, p. 503). 
 A Constituição Brasileira de 1988 no artigo 27 prevê: 
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao 
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade, e a convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
Violência doméstica e políticas públicas 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 50 
 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
O conceito de violência 
A violência é um fenômeno que se desenvolve e dissemina nas relações sociais e 
interpessoais, implicando sempre uma relação de poder que não faz parte da natureza 
humana, mas que é da ordem da cultura e perpassa todas as camadas sociais de uma 
forma tão profunda que, para o senso comum, passa a ser concebida e aceita como 
natural a existência de um mais forte dominando um mais fraco, processo descrito como 
a “fabricação da obediência” (FALEIROS, 1995). 
A Organização Mundial da Saúde, no Relatório Mundial sobre Violência e a 
Saúde define violência como: o uso intencional da força física ou do poder, real ou por 
ameaça, contra a própria pessoa, outra pessoa, um grupo ou comunidade, pode resultar 
ou tem alta probabilidade em morte, lesão, dano psicológico, problemas de 
desenvolvimento ou de privação (EASTMAN, 2002). 
Existem várias definições de violência, para Koller, todo ato de violência tem 
em comum o fato de ser caracterizado por “ações e, ou omissões que podem cessar, 
impedir, deter ou retardar o desenvolvimento pleno dos seres humanos” (KOLLER, 
1999, p. 33). A violência doméstica aplica-se também às relações entre os adultos – 
marido/mulher, mas aqui iremos dissertar somente sobre a violência do adulto para com 
a criança. 
Azevedo (1995) define a violência doméstica contra a criança como: 
 todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis 
contra crianças e/ou adolescentes que — sendo capaz de causar dano 
físico, sexual e/ou psicológico à vítima — implica de um lado numa 
transgressão do poder/dever de proteção de adulto e, de outro, numa 
coisificação da infância, isto é, numa negação do direito que crianças e 
adolescentes têm de ser tratados como sujeitos de direitos e pessoas em 
condição de desenvolvimento (p. 36). 
 
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexões sobre o tema, 
considera que nenhum historiador ou politicólogo deveria ser alheio ao imenso papel 
que a violência sempre desempenhou nos assuntos humanos, e se surpreende com quão 
pouco esse fenômeno é interrogado e investigado pelos cientistas. Para ele, a violência 
tem um caráter instrumental, ou seja, é um meio que necessita de orientação e 
justificação dosfins que persegue. 
Guerra (1998) salienta que: 
SOUSA, N. S.; VIEIRA, C. S; FERNANDES, P. A.; SOUSA, C. S.; SOUZA, C.S. 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 51 
A violência é um processo de objetalização da criança e do adolescente, 
na qual ambos são despidos de qualquer subjetividade e reduzidos á 
condição de objeto e maus-tratos, por isso é de extrema importância 
que este assunto seja conversado, pesquisado e entendido por pais, 
educadores e pela sociedade em geral (p.32). 
Saffioti (1997) propôs o conceito de Síndrome do Pequeno Poder, para explicar 
como se instala a relação de destrutividade entre pais/responsáveis e seus filhos - 
através de relações interpessoais de natureza hierárquica, transgeracional, em que o 
adulto abusa de sua autoridade sobre crianças e adolescentes, com o respaldo da 
sociedade, atingindo democraticamente todas as classes sociais . 
 
Principais modalidades da violência doméstica voltada contra a criança 
O Laboratório de Estudos da Criança (LACRI) conceitua as principais 
modalidades da violência doméstica: 
• Violência Física Doméstica 
Corresponde ao emprego de força física no processo disciplinador de uma 
criança ou adolescente por parte de seus pais (ou quem exercer tal papel no âmbito 
familiar como, por exemplo, pais adotivos, padrastos, madrastas). A literatura é muito 
controvertida em termos de quais atos podem ser considerados violentos: desde a 
simples palmada no bumbum até agressões com armas brancas e de fogo, com 
instrumentos (pau, barra de ferro, taco de bilhar, tamancos etc.) e imposição de 
queimaduras, socos, pontapés. Cada pesquisador tem incluído, em seu estudo, os 
métodos que considera violentos no processo educacional pais-filhos, embora haja 
ponderações científicas mais recentes no sentido de que a violência deve se relacionar a 
qualquer ato disciplinar que atinja o corpo de uma criança ou de um adolescente. Prova 
desta tendência é o surgimento de legislações que proibiram o emprego de punição 
corporal, em todas as suas modalidades, na relação pais- filhos (Exemplo: as legislações 
da Suécia - 1979; Finlândia - 1983; Noruega - 1987; Áustria - 1989). 
 
• Violência Sexual Doméstica 
Configura-se como todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual, 
entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular 
sexualmente esta criança ou adolescente, ou utilizá-la para obter uma estimulação 
sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa. Ressalte-se que em ocorrências desse tipo, a 
criança é sempre vítima e não poderá ser transformada em ré. A intenção do processo de 
Violência Sexual é sempre o prazer (direto ou indireto) do adulto, sendo que o 
Violência doméstica e políticas públicas 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 52 
mecanismo que possibilita a participação da criança é a coerção exercida pelo adulto, 
coerção esta que tem raízes no padrão adultocêntrico de relações adulto-criança vigente 
em nossa sociedade; a Violência Sexual Doméstica é uma forma de erosão da infância. 
 
• Violência Doméstica Psicológica 
Também designada como "tortura psicológica", ocorre quando o adulto 
constantemente deprecia a criança, bloqueia seus esforços de auto-aceitação, causando-
lhe grande sofrimento mental. Ameaças de abandono também podem tornar uma criança 
medrosa e ansiosa, representando formas de sofrimento psicológico. 
• Negligência 
Consiste uma omissão em termos de prover as necessidades físicas e emocionais 
de uma criança ou adolescente. Configura-se quando os pais (ou responsáveis) falham 
em termos de alimentar, de vestir adequadamente seus filhos, de prover educação e 
supervisão adequadas, e quando tal falha não é o resultado das condições de vida além 
do seu controle. A Negligência pode se apresentar como moderada ou severa. Nas 
residências em que os pais negligenciam severamente os filhos, observa-se, de modo 
geral, que os alimentos nunca são providenciados, não há rotinas na habitação e para as 
crianças, não há roupas limpas, o ambiente físico é muito sujo com lixo espalhado por 
todos os lados, as crianças são muitas vezes deixadas sós por diversos dias. 
 
• Violência Doméstica Fatal 
É a praticada em família contra filhos ou filhas, crianças e/ou adolescentes, cuja 
conseqüência acaba sendo a morte destes. Tem sido denominada, impropriamente, de 
infanticídio (quando a vítima é um bebê em suas primeiras horas de vida), assassinato 
Infantil (homicídio de crianças no lar ou fora dele), ou filicídio (morte dos filhos 
praticada por pais consanguíneos ou por afinidade). A impropriedade desses termos 
decorre do fato de serem: 
1. parciais, não cobrindo todo o espectro de vítimas e/ou agressores; 
2. genéricos, misturando, por vezes, sob uma mesma rubrica, mortes ocorridas dentro e 
fora da família, ou ainda, conceituações médicas com outras de caráter legal; 
3. camuflar dores da violência subjacente às ações ou omissões fatais praticadas em 
família. 
 
Conseqüências da violência doméstica 
SOUSA, N. S.; VIEIRA, C. S; FERNANDES, P. A.; SOUSA, C. S.; SOUZA, C.S. 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 53 
Muitos estudos foram feitos no sentido de investigar o conjunto de 
consequências (físicas, psicológicas, emocionais) dos maus-tratos na criança ou 
adolescente, conforme citado no artigo de Weber et al. (2002): 
 
Strassberg e outros (1994) comprovaram que crianças que apanham são 
mais agressivas com seus colegas. Bryant e Range (1995) afirmaram 
que as estudantes que sofreram abuso físico e/ou sexual, possuem 
maior risco de cometer suicídio. Bachar et al. (1997) mostraram que a 
punição física foi associada com altos níveis de sintomas psiquiátricos e 
com baixo bem-estar geral e Miller e Knutson (1997 comprovaram a 
associação entre história infantil punitiva com comportamento anti-
social (p.25). 
 
Com relação aos abusos sexuais, deve-se destacar que a maioria ocorre sem que 
haja quaisquer sinais físicos. Segundo relatos em apenas uma pequena parcela de casos 
é possível identificar lesões físicas que demonstrem a ocorrência desse tipo de abusos 
(ABRAPIA, 1992). 
As consequências da violência que diretamente atingem a saúde da criança 
podem ser imediatas, de médio e longo prazo. As imediatas são mais facilmente 
identificadas, já que tendem a deixar marcas visíveis, principalmente na pele ou no 
sistema ósteo-articular. As consequências traumato-ortopédicas decorrentes de abuso 
físico, tais como traumatismos cranianos, luxações e fraturas e as lesões de pele como 
escoriações e hematomas, são os principais exemplos. Também não são raros os cortes, 
queimaduras e rompimento de órgãos (DESLANDES, 1997). 
Sentimentos gerados pela dor decorrente das agressões física de adultos contra 
criança são na maioria das vezes reprimidos, esquecidos, negados, mas eles nunca 
desaparecem. Tudo permanece gravado no mais íntimo do ser e os efeitos da punição 
permeiam nossa vida, nossos pensamentos, nossa cultura (GREVEM, 1992 apud LIMA, 
1992). 
A violência leva a consequências orgânicas, psicológicas, comportamentais 
(autoritarismo, delinquência, entre outros) e desequilíbrio familiar. As orgânicas estão 
relacionadas com sequelas em nível corporal como lesões abdominais, oculares, 
fraturas, queimaduras e lesões permanentes ou temporárias, podendo levar à morte. As 
psicológicas caracterizam-se por raiva, medo, ansiedade e revolta frente ao agressor, 
resultando em desconfiança, diminuição do aprendizado, sentimentos de exclusão e 
receio nos relacionamentos interpessoais. Entre as consequências comportamentais, o 
autoritarismo revela uma pessoa que perpassou por momentos de sofrimento, levando a 
Violência doméstica e políticas públicas 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 54 
mesma às atitudes de imposição, negação e não aceitação de idéias contrárias; a 
delinquência faz o indivíduo praticar delitos e crimes,levando a punições severas pelos 
atos executados (BALISTA et al., 2004). 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS 
Winnicott (2005) afirma que, quando a convivência familiar é saudável, a 
família é o melhor lugar para o desenvolvimento da criança e do adolescente. Todavia, é 
preciso lembrar que a família, lugar de proteção e cuidado, é também lugar de conflito e 
pode até mesmo ser o espaço da violação de direitos da criança e do adolescente. Por 
isso, às vezes, é necessária a intervenção do Estado na forma de políticas públicas que 
protejam e resguardem a criança. Serão abordados os principais conceitos de Políticas 
Públicas, um breve histórico da infância no Brasil, além de ressaltar fatores que 
demonstram a necessidade de se elaborar e implementar uma política de prevenção 
contra a violência doméstica infantil. 
 
O que são Políticas Públicas 
 
A história das políticas públicas no Brasil tem na década de 1930 um marco 
fundamental. Foi a partir desse período que a gestão pública passou a ser pensada com 
base em uma racionalidade administrativa, buscando-se eficiência na condução dos 
negócios públicos. Representou o fim de um modelo personalista de administração 
pública. Segundo Diniz (1991, p.26) “o aperfeiçoamento e a diversificação dos 
instrumentos de intervenção do Estado nas diferentes esferas da vida social e política 
viabilizaram a implementação de um projeto nacional acima das rivalidades entre as 
elites.” 
 Não existe uma única, nem melhor, definição sobre o que seja política pública. 
Souza (2006) disponibiliza em seu trabalho algumas definições interessantes. Segundo a 
autora, Mead (1995) define política pública como um campo dentro do estudo da 
política que analisa o governo à luz de grandes questões públicas e Lynn (1980), como 
um conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos específicos. Peters (1986) 
segue o mesmo veio: política pública é a soma das atividades dos governos, que agem 
diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos. Dye (1984) 
sintetiza a definição como “o que o governo escolhe fazer ou não fazer”. A autora ainda 
afirma que a definição mais conhecida continua sendo a de Laswell, ou seja, decisões e 
SOUSA, N. S.; VIEIRA, C. S; FERNANDES, P. A.; SOUSA, C. S.; SOUZA, C.S. 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 55 
análises sobre política pública implicam responder às seguintes questões: quem ganha o 
quê, por que e que diferença faz. 
Esta mesma autora resume política pública como o campo do conhecimento que 
busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável 
independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações 
(variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em 
que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em 
programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real (SOUZA, 
2006). 
Nesta mesma linha de raciocínio tem as lições de Dworkin (2002, p.32) que 
entende que a política [...] “é aquele tipo de padrão normativo que estabelece um 
objetivo a ser alcançado, em geral, uma melhoria em algum aspecto econômico, político 
ou social da comunidade”. 
Souza (2003) ressalta em seu trabalho que Theodor Lowi (1964; 1972) 
desenvolveu a talvez mais conhecida tipologia sobre política pública, elaborada através 
de uma máxima: a política pública faz a política. Com essa máxima Lowi quis dizer que 
cada tipo de política pública vai encontrar diferentes formas de apoio e de rejeição e 
disputas em torno de sua decisão passam por arenas diferenciadas. Para Lowi, a política 
pública pode assumir quatro formatos. O primeiro é o das políticas distributivas, 
decisões tomadas pelo governo que desconsideram a questão dos recursos limitados, 
gerando impactos mais individuais do que universais, ao privilegiar certos grupos 
sociais ou regiões em detrimento do todo. Políticas públicas que favorecem o 
clientelismo e o patrimonialismo, por exemplo, seriam exemplos de política 
distributivas. O segundo é o das políticas regulatórias, que são mais visíveis ao público, 
envolvendo burocracia, políticos e grupos de interesse. O terceiro é o das políticas 
redistributivas, que atinge maior número de pessoas e impõe perdas concretas e no curto 
prazo para certos grupos sociais e ganhos incertos e futuro para outros; são, em geral, as 
políticas sociais universais, o sistema tributário e o sistema previdenciário e são as de 
mais difícil encaminhamento. O quarto é o das políticas constitutivas, que lidam com 
procedimentos. Cada uma dessas políticas públicas vai gerar pontos ou grupos de vetos 
e de apoios diferentes, processando-se, portanto dentro do sistema político de forma 
também diferente. 
Segundo Souza (2006), das diversas definições e modelos sobre políticas 
públicas podemos extrair e sintetizar seus elementos principais : - A política pública 
Violência doméstica e políticas públicas 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 56 
permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz; - A política 
pública envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja materializada através dos 
governos, e não necessariamente se restringe a participantes formais, já que os informais 
são também importantes; - A política pública é abrangente e não se limita a leis e regras; 
- A política pública é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados; 
- A política pública, embora tenha impactos no curto prazo, é uma política de longo 
prazo; 
- A política pública envolve processos subsequentes após sua decisão e proposição, ou 
seja, implica também implementação, execução e avaliação. 
 
A criança como “sujeitos de direitos” 
O reconhecimento da criança como sujeitos de direitos é resultado de um 
processo historicamente construído, marcado por transformações ocorridas no Estado, 
na sociedade e na família. 
Ao pensarmos em ações voltadas à infância no Brasil, convém destacarmos que 
a Roda dos Expostos foi a primeira instituição oficial de assistência à criança 
abandonada no país. A Roda constituiu-se como uma das instituições brasileiras de 
maior duração, tendo sido criada no período colonial e sendo extinta apenas na década 
de 1950. Importante salientar que esta tinha a intenção de manter o sigilo/segredo do 
expositor, assim como o anonimato e o destino das crianças (MARCÍLIO, 1998; 
VENÂNCIO, 1999). No Brasil, as primeiras rodas foram instaladas em Salvador e no 
Rio de Janeiro, no século XVIII, o que caracteriza um problema urbano. A deposição da 
criança nessa roda garantia o anonimato dos genitores(MESGRAVIS, 1972). 
No século XIX a infância começa ganhar visibilidade, sendo definida como 
objeto de ação e intervenção públicas em todo o Ocidente, uma vez que as preocupações 
relativas à preservação e à reserva de mão-de-obra começam a integrar o cenário social 
e político (SILVA SANTOS, 2004). 
Assim o período compreendido entre o fim do século XIX e início do século XX 
caracteriza-se pela introdução das ideias higienistas e eugênicas no país. Nesta época, 
embora o monopólio no atendimento a menores ainda fosse de entidades privadas, 
percebe-se o fomento da participação do Estado nesse campo. Cabe assinalar aqui o uso 
do termo “menores‘, o qual remete a uma concepção de infância enquanto menoridade e 
relacionada a questões de responsabilidade penal (CRUZ et al., 2008). 
SOUSA, N. S.; VIEIRA, C. S; FERNANDES, P. A.; SOUSA, C. S.; SOUZA, C.S. 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 57 
Conforme Frota (2003), o primeiro Código Brasileiro de menores, data de 1927, 
sendo destinado aos menores de 18 anos classificados como em situação irregular. Este 
código delegava aos estados a responsabilidade pela execução do atendimento de 
crianças e adolescentes, caracterizando-se por uma intervenção ativa dos mesmos no 
controle da populaçãocarente. 
 No Brasil, o primeiro caso de violência contra uma criança, denunciado à 
polícia, só ocorreu em 1895. Entre 1906 e 1912 surgiram os primeiros projetos de lei 
sobre os direitos da criança com intervenção do Estado, mas somente em 1973 um caso 
foi estudado pela primeira vez (PRADO, 2004). A importância das políticas públicas 
para a implementação dos direitos sociais é lembrada por Sarlet (2001), que destaca que 
a realização desses direitos depende da disponibilidade de meios, bem como em muitos 
casos da progressiva implementação e execução de políticas públicas na esfera sócio-
econômica. 
A importância das políticas públicas para a implementação dos direitos sociais é 
lembrada por Sarlet (2001), que destaca que a realização desses direitos depende da 
disponibilidade de meios, bem como em muitos casos da progressiva implementação e 
execução de políticas públicas na esfera sócio-econômica. 
Portanto, é muito importante a implantação de Políticas Públicas pelo município, 
pois a municipalização do atendimento é a diretriz primeira da política de atendimento 
traçada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, com vista à proteção integral 
infantojuvenil (arts. 1º e 88, inciso I, do ECA). 
A Carta Magna de 1988 deu nova forma à organização do Estado brasileiro 
redesenhando o papel do governo federal, dos estados e dos municípios. Nessa nova 
relação entre as esferas governamentais, o âmbito federal passou a assumir 
prioritariamente a coordenação das políticas sociais, enquanto os municípios passaram a 
ter maior autonomia para implementar as suas próprias ações. A descentralização 
políticoadministrativa, prevista na Constituição como princípio democrático da gestão 
das políticas sociais, refere-se a uma articulação entre as três esferas governamentais, de 
modo que os governos federal e estaduais devem exercer um papel primordial de co-
responsáveis tanto no financiamento quanto na regulamentação e na implementação das 
políticas sociais, de forma que todos os prestadores de serviços sociais do município 
(ONGs, associações, prefeitura etc.) estejam articulados coletivamente nos processos de 
formulação e execução dessas políticas (FALEIROS, 2000). 
 
Violência doméstica e políticas públicas 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 58 
 Estatuto da Criança e do Adolescente 
Em 13 de julho de 1990 foi instituído pela Lei 8.069, o ECA (Estatuto da 
Criança e do Adolescente). Trata-se de um conjunto de normas que tem como objetivo 
proteger a integridade da criança e do adolescente no Brasil. Este Estatuto resgata 
juridicamente a atenção universalizada a todas as crianças e adolescentes, respeitando 
normativas internacionais, como por exemplo, a Declaração dos Direitos da Criança da 
ONU (Resolução 1.386 - 20 de novembro de 1959). 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabeleceu o caminho para a 
intervenção popular nas políticas de assistência, traçando as diretrizes da política de 
atendimento: criação de conselhos municipais, estaduais e nacionais dos direitos da 
criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os 
níveis, assegurando-se a participação popular paritária por meio de organizações 
representativas, segundo leis federais, estaduais e municipais. Inicia-se aqui uma nova 
fase, desinstitucionalizadora, caracterizada pela implementação de uma nova política 
que amplia quantitativa e qualitativamente a participação da sociedade na elaboração, 
deliberação, gestão e controle das políticas para a infância, o que é fundamental para a 
garantia da implementação da Lei (Brasil, 1990). 
Dada a matriz doutrinária e a filiação legislativa, o E.C.A. constitui hoje –“não obstante 
algumas limitações - uma das legislações mais avançadas no nível mundial em termos 
de proteção dos direitos da criança. No que diz respeito a questão da vitimização 
doméstica de crianças e adolescentes, a leitura do Estatuto fornece princípios capazes de 
orientar uma política social de prevenção e contenção do fenômeno em nosso país”, 
conforme salienta Guerra e Azevedo (1997). Estas autoras apontam alguns princípios: 
1º princípio: “A vitimização doméstica contra a criança e adolescente viola seu direito a 
liberdade e ao respeito, é considerado crime praticado por ―ação ou omissãoǁ de seus 
pais ou responsáveis” devendo ser punido na forma da lei (arts. 5, 16, 17, Penas 
Previstas: arts. 232, 233, 241, 263, 245); 
2º princípio: A mera suspeita deve ser notificada às autoridades competentes da 
respectiva localidade - Conselho Tutelar (arts. 13, 56); 
3º princípio: A proteção é dever de todos cidadãos e não apenas de profissionais (arts. 
18,70); 
4º princípio: Punição ao profissional que silencia, não denuncia (art.56, 245); 
5º princípio: Prevê “auxílio, orientação e tratamentoǁ ao agressor (art.129) 
SOUSA, N. S.; VIEIRA, C. S; FERNANDES, P. A.; SOUSA, C. S.; SOUZA, C.S. 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 59 
6º princípio: A criança e adolescente vítima, além de proteção, precisam de “orientação 
e atendimento médico e psicossocialǁ para sobreviver ao abuso e não vir a (re) produzi-
lo em sua vida futura (arts. 87, 98, 101, 130); 
7º princípio: A família abusiva também é vítima e necessitará de “orientação e 
tratamento” (arts. 98, 101 e 129 - medidas previstas aos pais e responsáveis); 
8º princípio: A criminalização da violência doméstica deve envolver penas severas, 
como forma de conter a prática do fenômeno (art. 263 modificado pela lei dos Crimes 
Hediondos de 1990); 
9º princípio: A criança e adolescente terá direito a assistência judiciária integral, gratuita 
sempre que houver necessidade (arts. 141, 206); 
10º princípio: A proteção deverá dar-se no nível local a ser acompanhada pelo Conselho 
Tutelar, enquanto órgãos permanentes e autônomos encarregado de zelar pela 
salvaguarda dos direitos da infância e juventude (art.13). 
 
Só para exemplificar, vamos citar o Conselho Tutelar de Monte Carmelo. Foram 
atendidos no ano de 2010, 2.706 casos diminuindo em 2011 para 1.647. Dentre esses 
atendimentos estão vários tipos de violência, como mau comportamento, violência 
psicológica, assedio sexual, negligência, abandono de incapaz, entre outros. O Conselho 
Tutelar de Monte Carmelo realizará em 2012, palestras de esclarecimentos nas escolas 
do município para que as crianças saibam dos direitos e deveres que possuem e a quem 
elas podem recorrer em caso de violação de seus direitos (CONSELHO TUTELAR DE 
MONTE CARMELO). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 Depois da leitura de tantos conceitos de violência pode-se afirmar que a 
violência doméstica infantil é um ato de muita crueldade, pois a vítima é totalmente 
indefesa e confia no seu próprio agressor. 
Dentre as várias consequências da violência é importante ressaltar que a dor de 
uma criança que sofre com violências causadas pelos próprios familiares, pessoas que 
deveriam amá-las e protegê-las, deixa sequelas profundas, impedindo que se tornem 
adultos saudáveis e seguros. 
Foi possível observar que a família é responsável pela construção de identidade, 
socialização, proteção e sustento para que a criança que habita neste lar, cresça saudável 
e feliz, sentindo-se amada e respeitada. 
Violência doméstica e políticas públicas 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 60 
Percebe-se a importância da efetivação do Estatuto da criança e do adolescente, 
o qual introduz significativas mudanças em relação à legislação anterior, o chamado 
Código de Menores, ainda que careça da sua total implementação. O LACRI tem 
defendido a postura de que é preciso chegar antes que uma criança se torne um 
prontuário médico, um boletim policial, um processo judicial, um dossiê psicossocial, 
uma notícia de jornal ou um corpo no necrotério. 
A revisão da literatura utilizada neste estudo permitiu compreender a 
importância das políticas públicas na prevenção da violênciadoméstica infantil. Vale 
ressaltar que as políticas públicas não estão adequadamente inseridas na questão 
preventiva no tema da violência doméstica infantil. 
Proponho que outros autores interessados neste aspecto social familiar utilizem 
deste presente estudo resgatando os caminhos trilhados nesta pesquisa como fonte de 
informações atualizadas e de estudo para possíveis pesquisas de campo na área, 
facilitando a formatação de instrumentos a serem utilizados. 
 
REFERÊNCIAS 
ABRAPIA. Maus Tratos contra Crianças e Adolescentes: Proteção e Prevenção - Guia 
de Orientação para Profissionais de Saúde. Petrópolis. Abespia, 1992. 32 p. 
 
ARENDT, A. As Origens do Totalitarismo. 1. ed. São Paulo, Editora Companhia das 
Letras, 1990. 480 p. ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: 
Zahar, 1978. 
 
AZEVEDO, M.A. Violência doméstica contra crianças e adolescentes: compreensão do 
fenômeno no Brasil. In: I Jornada internacional sobre a infância e violência 
doméstica/proteção e prevenção.1995, São Paulo. Anais.... São Paulo: Laboratório da 
criança LACRI/IPUSP, 1995. P. 1-19. 
 
BALISTA, C.; BASSO, E.; COCCO, M.; GEIB, L. T. C - Representações sociais dos 
adolescentes acerca da violência doméstica. Revista Eletrônica de Enfermagem. v. 06, 
n. 03, 2004. 
 
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria 
Especial dos Direitos Humanos. Plano nacional de promoção, proteção e defesa do 
direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária. Brasília: 
Editora, 2006. 
 
BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069 de 13/07/90. BRASIL 
Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 
Brasília, DF: Senado Federal, 1988. 
 
SOUSA, N. S.; VIEIRA, C. S; FERNANDES, P. A.; SOUSA, C. S.; SOUZA, C.S. 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 61 
BRUSCHINI. Teoria Crítica da Família. Cadernos de Pesquisa, São Paulo n.37, p. 98- 
113, 1981. 
 
CAMARGO, C. L. de; BURALLI, K. O. Violência familiar contra crianças e 
adolescentes. Salvador: Ultragraph, 1998. 
 
CONSELHO TUTELAR DE MONTE CARMELO. Disponível em 
http://www.montefm.com.br/noticia/monte-carmelo/2952/conselho-tutelar-de-
montecarmelo-divulga-balanco-dos-atendimentos-em-2010-e-2011.html> Acesso: 03 de 
outubro de 2012. 
 
CRUZ, L. R., GUARESCHI , N. M. F. A Trajetória das Políticas Públicas Direcionadas 
à Infância: paralelos com o presente. v.4, n.1, p. 28-52. 2008. 
 
 DWORKIN, R. Levando os direitos a sério. Tradução Nelson Boeira. São Paulo: 
Martins Fontes, 2002, p. 32. 
 
DESLANDES S. F . Prevenir a Violência: um Desafio para Profissionais de Saúde. 
Fundação Oswaldo Cruz/Escola Nacional de Saúde Pública/Centro Latino-Americano 
de Estudos Sobre Violência e Saúde Jorge Careli. Rio de Janeiro: 1997. p.39 . 
 
DINIZ, E. Engenharia Institucional e políticas públicas: dos conselhos técnicos às 
câmaras setoriais. (p.21-37) IN : PANDOLFI, D. (org.). Repensando o Estado Novo. 
Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1999. 
 
EASTMAN, A.C. Relatório mundial sobre a violência e a saúde da OMS: Uma resposta 
ao desafio da violência. Revista da saúde, v. 3, n. 3, p. 12, dez, 2002. 
 
 EISENSTEIN, E. & SOUZA, R. P. Situações de Risco à Saúde de Crianças e 
Adolescentes. Rio de Janeiro: Vozes. 1993. 
 
 ESGRAVIS, L.A. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 1972. Dissertação 
(Mestrado)- Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto 1972. 
 
 FALEIROS, V.P. Violência Contra a Infância. Revista Sociedade e Estado, n.2, p.475- 
487, jul/dez, 1995. FALEIROS, E. T. S. Repensando os conceitos de violência, abuso e 
exploração sexual de crianças e adolescentes. Brasília: Thesaurus, 2000. 
 
 FERRARI, D. C.A.; VECINA, T. C. C. [orgs.]. O fim do silêncio na violência familiar: 
teoria e prática. São Paulo: Agora, 2002. 
 
 FROTA, M.G.C. A cidadania da infância e da adolescência: da situação irregular à 
proteção integral. In: A. Carvalho, F. Salles, M. Guimarães ; W. Ude (Orgs.), Políticas 
públicas Belo Horizonte: Editora UFMG. 2003. 
 
 GUERRA, V.N.A. Violência de pais contra filhos: a tragédia revisitada. 3. ed. São 
Paulo: Cortez; 1998. p. 32. 
 
GUERRA, V.N.A.; AZEVEDO, M.A. Infância e Violência Doméstica: Fronteiras do 
Conhecimento – 2. ed - São Paulo: Cortez, 1997. 
Violência doméstica e políticas públicas 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 62 
 
 KOLLER, S.H. Violência doméstica: Uma visão ecológica. Em Violência doméstica. 
São Leopoldo: AMENCAR, 1999. p. 32-42. 
 
 LIMA, J. R. A Violência Doméstica e a Aprendizagem Escolar. Acesso em: 21 out. 
Disponível em http://www.webartigos.com MARCÍLIO, M.L. A lenta construção dos 
direitos da criança brasileira. Século XX- Tese Instrumentos Internacionais e Nacionais 
de Defesa e Proteção dos Direitos da Criança. Revista USP. 1998. 
 
MINUCHIN, S. Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 
1990. 
 
PATRÍCIO, Z. M. Cenas e Cenários de uma Família: a concretização de conceitos 
relacionados à situação de gravidez na adolescência. In: ELSEN, I. Marcos para a 
prática de enfermagem com famílias. Florianópolis: UFSC, 1994. 195p. 
 
 PRADO, M. C. C. A (Coord.). O mosaico da violência: a perversão na vida cotidiana. 
1.ed. São Paulo: Vetor, 2004. 
 
SAFFIOTI H.I.B. No fio da navalha: violência contra crianças e adolescentes no Brasil 
atual, In FR Madeira (org.). Quem mandou nascer mulher? Estudos sobre crianças e 
adolescentes pobres no Brasil. Rio de Janeiro: Record-Rosa dos Tempos, 1997. p. 56-
64. 
 
SARLET, I. W. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na constituição de 
1988. Porto Alegre: 2001, p.264-266. 
 
 SILVA SANTOS, E.P. (Des) construindo a 'menoridade': uma análise crítica sobre o 
papel da psicologia na produção da categoria 'menor'. In H.S. Gonçalves, E.P. Brandão 
(Orgs.), Psicologia Jurídica no Brasil. Rio de Janeiro: NAU, 2004. p.205-248. 
 
SOUZA, C. "Políticas Públicas: Questões Temáticas e de Pesquisa", Caderno CRH 39: 
p. 11-24, ju/dez. 2006. 
 
SOUZA, C. Políticas Públicas: questões temáticas e de pesquisa. Caderno CRH, 
Salvador, n. 39, p. 11-24, ju/dez. 2003. 
 
STANHOPE, M. Teorias e Desenvolvimento Familiar. In STANHOPE, M ; 
LANCASTER, J – Enfermagem Comunitária: Promoção de Saúde de Grupos, Famílias 
e Indivíduos. 1. ed. Lisboa : Lusociência, 1999. 
 
SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, v. 
8, n.16, p. 20-45 jul/dez. 2006. 
 
VAZ SERRA, A. O stress na vida de todos os dias. Coimbra: De Auto, 1999. 
 
VENÂNCIO, R.P. Famílias abandonadas. Campinas: Papirus. 1999. 
 
WEBER, L.N.D.; Viezzer, A. P.; BRANDENBURG, O. J.; ZOCCHE, C.R. Famílias 
que maltratam: uma tentativa de socialização pela violência, PsicoUSF. v.7, n.2, dez. 
SOUSA, N. S.; VIEIRA, C. S; FERNANDES, P. A.; SOUSA, C. S.; SOUZA, C.S. 
Cadernos da FUCAMP, v.12, n.16, p.45-63/2013 63 
2002. WINNICOTT D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: 
Martins Fontes, 2005.

Continue navegando