Buscar

Maria Emília Yamamoto; Emma Ota - Fundamentos de Psicologia Evolucionista

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 234 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 234 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 234 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Fundamentos de Psicologia
PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA
q H H w ^d U U
Fundamentos de Psicologia
P S IC O L O G IA E V O L U C IO N IS T A
COORDENAÇÃO
EMMA OTTA
D outorado cm Psicologia (1984) c Livrc-Doccncia (1999) pela Universidade de São Paulo. Professora T itu lar (2005) c 
D iretora (2008-2011) do Institu to de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPU SP). Pesquisadora do C N P q
MARIA EMÍLIA YAMAMOTO
D outorado cm Psicobiologia (1990) pela Universidade Federal de São Paulo.
Pós-D outorado pela University o f Reading, U K (1993-1994). Professora T itu lar da Universidade Federal do Rio G rande do 
N orte desde 1979. Pesquisadora do C N P q . C oordenou o Projeto do Institu to do M ilcnio do C N P q (2005-2008)
“O M oderno c o Ancestral: a C ontribuição da Psicologia Evolucionista para a C om preensão dos Padrões Reprodutivos c
de Investim ento Parental H um ano”
EDI TORES DA SÉRIE
E d w i g e s F e r r e i r a d e M a t t o s S i l v a r e s
Professora Titular do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP. 
Orientadora c Supervisora no Curso de Graduação junto ao Departamento de 
Psicologia Clínica c no Programa de Pós-Graduação cm 
Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP
F r a n c i s c o B a p t i s t a A s s u m p ç ã o J u n i o r
Professor Livrc-Doccntc pela Faculdade de Medicina da USP.
Professor Associado do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP
L é i a P r i s z k u l n i k .
Professora-Doutora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP. 
Docente do Curso de Graduação cm Psicologia do Instituto de Psicologia da USP. 
Docente c Orientadora do Programa de Pós-Graduação cm 
Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP.
Psicanalista
G U A N A B A R A ^yK O O G A N
As autoras e a editora empenharam-se para citar adequadamente e dar o devido crédito a 
todos os detentores dos direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro,dispondo- 
se a possíveis acertos caso, inadvertidamente, a identificação de algum deles tenha sido 
omitida.
Direitos exclusivos para a língua portuguesa 
Copyright © 2009 by
EDITORA GUANABARA KOOGAN S A .
Uma editora integrante do GEN I Grupo Editorial Nacional
Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo 
ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, 
fotocópia, distribuição na internet ou outros), sem permissão expressa da Editora.
Travessa do Ouvidor, 11
Rio de Janeiro, RJ - CEP 20040-040
Tel.: 21-3543-0770/ 11-5080-0770
Fax: 21-3543-0896
gbk@ grupogen.com.br
w ww.editoraguanabara .com .br
Editoração Eletrônica: S Diagrama Ação - Produrio Litorul Ltk
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
P969
Psicologia evolucionista / coordenação Emma Otta, Maria Emilia Yamamoto ; 
editores da Série Edwiges Ferreira de M anos Silvares, Francisco Baptista 
Assumpção Junior, Léia PriszJculnik. - Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2009. 
i l . ; . -(Fundamentos de psicologia)
Inclui bibliografia 
ISBN 978-85-277-1544-7
1. Psicologia genética. 2. Com portam ento - Evolução. 3. Comportamento humano. 
I. O na, Emma. II. Yamamoto, Maria Emilia, 1949-. III. Série.
09-0286.
23.01.09 27.01.09
CDD: 155.7 
CDU: 159.9.019.4
010632
mailto:gbk@grupogen.com.br
C o l a b o r a d o r e s
Adriana Ferreira Paes Ribas
D outorado em Psicologia (2004) pela Universidade do Estado do 
R io de Janeiro. Professora do C urso de Psicologia da Universidade 
Estácio de Sá desde 1999
Adriana O dália Rim oli
D outorado em Psicologia (1988) pela Universidade de São Paulo 
Alessandra Bonassoli Prado
M estrado em Psicologia (2005) pela Universidade Federal de Santa 
C atarina
Ana M aria Alm eida Carvalho
D outorado em Psicologia (1973) e Livre-Docência (1993) pela U ni­
versidade de São Paulo. D ocente do Institu to de Psicologia da USP 
entre 1969 e 1993. Professora da Universidade Católica de Salvador 
desde 2004. Pesquisadora Bolsista do C N P q de 1983 a 2007
André Luiz Ribeiro Lacerda
D outor em Sociologia pela Universidade de Brasília (U N B ). Pós- 
D outorado pela Universidade Federal do Rio G rande do N orte 
(2008). Professor A djunto da Universidade Federal de M ato Grosso
Ângela D onato O liva
D outorado em Psicologia (2001) pela Universidade de São Paulo. 
Docente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro desde 1992 e 
da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1994
Anuska Irene Alencar
D outorado em Psicobiologia (2008) pela Universidade Federal do 
R io G rande do N orte. Docente da Faculdade de Ciências, C ultura e 
Extensão do R io G rande do N orte desde 2007. Psicóloga da Secreta­
ria M unicipal de Saúde — N atal/R N desde 1995
César Ades
D outorado em Psicologia (1973) pela Universidade de São Paulo. 
Livre-Docência (1991) pela Universidade de São Paulo. ProfessorTi- 
tular (1994) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo 
(IPUSP). V ice-Diretor do IPUSP de 1998 a 2000 e D iretor de 2000 
a 2004. D iretor do Institu to de Estudos Avançados da USP. Pesqui­
sador do C N Pq
Eduardo B. O ttoni
D outorado (1993) em Psicologia pela Universidade de São Paulo.
Docente do Instituto de Psicologia da USP desde 1995. Pesquisador 
do C N P q desde 2003
Emma Otta
D outorado em Psicologia (1984) e Livre-Docência (1999) pela U ni­
versidade de São Paulo. Professora Titular (2005) e D iretora (2008- 
2011) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo 
(IPUSP). Pesquisadora do C N P q
Eulina da Rocha Lo rd elo
D outorado em Psicologia (1995) pela Universidade de São Paulo. 
Pós-D outorado pela Universidade de Stavanger (Noruega). Docente 
da Universidade Federal da Bahia desde 1983. Pesquisadora do C N Pq
Fabiola Luz
M estrado em Psicologia (2005) pela Universidade de São Paulo. M é­
dica Psiquiatra e Psicoterapeuta atuando em C onsultório e Clínica 
Particular desde 1982
Fernando Leite Ribeiro
D outorado em Psicologia (1972) pela Universidade de São Paulo. 
Docente do Instituto de Psicologia da USP desde 1968
Fívia de Araújo Lopes
D outorado em Psicobiologia (2002) pela Universidade Federal do 
Rio G rande do Norte. Pós-D outorado pelo Laboratoire d ’Ethologie 
Experimentale et Com parée (LEEC), Universidade Paris-13 (Villeta- 
neuse-França). D ocente da Universidade Federal do Rio G rande do 
N orte desde 2000
Francisco D yonísio Cardoso M endes
D outorado em Psicologia (1990) pela Universidade de São Paulo 
(1990). Docente da Universidade Católica de Goiás desde 1998
Ilka Dias Bichara
D outorado em Psicologia (1994) pela Universidade de São Paulo. 
Docente da Universidade Federal da Bahia desde 2002
Marco Callegaro
Psicólogo e D iretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva 
— IC T C
M aria Bem ardete Cordeiro de Sousa
D outorado (1983) em Fisiologia pela Universidade de São Paulo, 
Ribeirão Preto. Pós-D outorado no W isconsin N ational Prim ate Re-
vi Colaboradores
search C enter da University o f W isconsin (1996-1997). Docente da 
Universidade Federal do Rio G rande do N o rte desde 1978. Pesquisa­
dora do C N Pq. Pró-Reitora de Pesquisa da U F R N
M aria Em ilia Yamamoto
D outorado em Psicobiologia (1990) pela Universidade Federal de 
São Paulo. Pós-D outorado pela University o f Reading, U K (1993-
1994). Professora T itu lar da Universidade Federal do Rio Grande do 
N orte desde 1979. Pesquisadora do C N P q. C oordenou o Projeto do 
Institu to do M ilênio do C N P q (2005-2008) “O M oderno e o Ances­
tral: a C ontribuição da Psicologia Evolucionista para a Com preensão 
dos Padrões Reprodutivos e de Investim ento Parental H um ano”
M aria Lucia Seidl de Moura
D outorado em Psicologia (1987) pela Fundação G etúlio Vargas — 
RJ (1987). Livre-Docência pela Universidade Federal do Rio de 
Janeiro (1992). Pós-D outorado em Psicologia Evolucionista (2003- 
2004) pela Universidadede São Paulo. Coordenadora da Área de 
Psicologia na FAPERJ. Docente da Universidade do Estado do Rio 
de Janeiro desde 1999. V ice-Coordenadora do Projeto do Instituto 
do M ilênio do C N P q (2005-2008) “O M oderno e o Ancestral: a 
Contribuição da Psicologia Evolucionista para a Com preensão dos 
Padrões Reprodutivos e de Investim ento Parental H um ano”
M aria Margarida Pereira Rodrigues
D outorado em Psicologia (1990) pela Universidade de São Paulo. 
Pós-D outorado em Psicologia Evolucionista (2000-2001) pela U ni­
versidade de São Paulo. Docente da Universidade Federal do Espírito 
Santo desde 1983
M aria Teresa da Silva M ota
D outorado em Psicologia pela University o f Reading (1999). Profes­
sora da Universidade Federal do Rio G rande do N orte desde 1993
M arie O dile M onier Chelini
M estrado em M edicina Veterinária (2006) pela Universidade de São 
Paulo. D outorado em Psicologia Experim ental na Universidade de 
São Paulo na Área de Endocrinologia C om portam ental
M auro Luís Vieira
D outorado em Psicologia (1995) pela Universidade de São Paulo. 
Pós-D outorado na Dalhousie University, Canadá (1999). Docente
da Universidade Federal de Santa C atarina desde 1994. Pesquisador 
do C N Pq
Patrícia Izar
D outorado em Psicologia (1999) pela Universidade de São Paulo. 
Pós-D outorado (2001-2003) pela USP. D ocente do Institu to de 
Psicologia da U SP desde 2006. Pesquisadora do C N P q desde 2007. 
Chefe do D epartam ento de Psicologia Experimental do IPUSP
Raphael M oura Cardoso
M estrado em Psicologia (2008) pela Universidade Católica de Goiás. 
Docente d a União das Faculdades Integradas de Jussara (UNIFAJ) a 
partir de 2008
Renato da Silva Q ueiroz
D o utor em Ciências Sociais (Antropologia Social) pela Universidade 
de São Paulo (1986). Livre-Docência (1993) pela Universidade de 
São Paulo. Professor T itu lar da Faculdade de Filosofia, Letras e C iên­
cias Hum anas. D ocente da USP desde 1974
Rodrigo Sartorio
D outorado em Psicobiologia (2005) pela Universidade Federal do 
Rio G rande do N orte. Docente do Com plexo de Ensino Superior 
de Santa Catarina, do C entro Universitário do Vale do Itajaí e do 
Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva desde 2006
Rosana Suem i Tokumaru
D outorado em Psicologia (2000) pela Universidade de São Paulo. 
Docente do D epartam ento de Psicologia Social e do Desenvolvimen­
to d a Universidade Federal do Espírito Santo
Vera Silvia Raad Bussab
D outorado em Psicologia (1982). Livre-Docência (2003) pela U ni­
versidade de São Paulo. Professora T itular do Instituto de Psicologia 
da USP. D ocente do Instituto de Psicologia da U SP desde 1975. Pes­
quisadora do C N P q. Ex-Chefe do D epartam ento de Psicologia Ex­
perimental. Representante da Congregação do IPUSP no Conselho 
Universitário da Universidade de São Paulo
Wall is en Tadashi Hattori
Mestre em Psicobiologia (2004) pela Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. D outorando da U F R N
A p r e s e n t a ç ã o d a S é r i e
É com im enso prazer que apresentam os a Série Fundam entos 
de Psicologia . Ela consiste em textos básicos destinados ao aluno 
de C urso de Graduação, de C urso de Especialização ou de Curso de 
Pós-Graduação em Psicologia de qualquer Universidade do país. Esses 
textos encontram -se organizados de m aneira prática, acessível e com 
sugestões de aprofundam ento nos temas estudados de maneira a dispor 
ao leitor um guia de leitura para um curso acadêm ico na área.
A obra visa, principalm ente, a estruturação de um n ú d eo básico de 
pensam ento, objetivando o conhecim ento e a compreensão do campo 
em estudo, de m odo a otim izar o ingresso do leitor nesse campo.
C om o a finalidade desta Série não é substituir os textos clássicos, 
mas sim orientar e sistematizar a compreensão dos principais temas 
estudados, um a m aior reflexão, visando o aprofundam ento deles, é 
recom endável. Assim, leituras com plem entares são sugeridas pelos 
diferentes autores a cada título.
O projeto, aparentem ente simples, envolve grande parte da tem áti­
ca de relevância na área da Psicologia. Assim, engloba seu conhecim en­
to enquanto história, fundam entos, epistemologia e ética, a Psicologia 
do Desenvolvimento e da Aprendizagem, a Análise Experimental do 
C om portam ento , a Etologia, a Psicopatologia nos aspectos clínicos e 
estruturais. Várias especifiddades da área, com o a Psicologia do Ex­
cepcional e a questão da deficiência física, m ental e sensorial, a Psico­
logia dos processos cognitivos, a Psicologia dos processos sensoriais, 
a Psicologia da Personalidade, a Neuropsicologia, a relação Psicologia
e doenças somáticas, bem com o a Psicologia e M orte, são igualm en­
te contem pladas. D o pon to de vista das diferentes escolas de pensa­
m ento, procura ainda abordar seus fundam entos, um a introdução à 
Psicanálise, envolvendo as idéias de Freud, Jung, Klein, W innico tt, 
Lacan, Reich, um a introdução à Terapia C om portam ental-C ognitiva 
e à Gestalt-Terapia, com o tam bém os m odelos fenom enológicos e 
processos grupais e familiares. Busca ainda caracterizar, m esm o que 
de maneira geral, um panoram a atual da Psicologia Social, da Psicolo­
gia Institucional, da Psicologia do Trabalho e das Organizações, bem 
com o a interface Psicologia e Religião. Finalmente, o projeto propõe 
um últim o volum e referente a questões específicas de cada um dos 
tem as desenvolvidos, visando um a avaliação sistemática delas. O ob­
jetivo é facilitar o estudo do leitor iniciante em cada um a das áreas 
contempladas.
Todos os temas são desenvolvidos por especialistas com capacidade 
reconhecida nacional e internacionalm ente.
É um trabalho de fôlego, sem similar na literatura nacional, e visa 
suprir um a lacuna existente em nosso m ercado editorial.
Esperamos que seus objetivos sejam alcançados com o agrado de 
todos.
ProP Dr* Edwiges Ferreira de M attos Silvares 
Prof. Dr. Francisco Baptista Assum pção Junior 
ProP Dr* Léia Priszkulnik
P r e f á c i o *
N a conclusão da sua obra A origem das espécies. Charles Darwin 
arriscou-se a especular que “A Psicologia será baseada em novos 
alicerces” , com o decorrência do prosseguim ento das investigações 
fundam entadas no seu sólido princípio de que a complexidade dos 
organismos vivos é um produto da “seleção natural”. C ento e c in ­
qüenta anos se passaram desde que ele escreveu essas palavras, mas 
hoje, no bicentenário do nascim ento desse grande biólogo, estamos 
finalm ente celebrando o rápido progresso da Psicologia baseada em 
raciocínios evolutivos. D arw in, com o se esperaria, estava certo em 
sua especulação.
N o final do século XIX, deveria parecer que a profecia de Darwin 
logo se cum priria, considerando a contribuição dele próprio (espe­
cialm ente em A expressão das emoções no homem e nos anim ais) e de 
outros autores, com o W illiam James. N o en tanto , a teoria da evo­
lução por seleção natural encontrou um a resistência surpreendente, 
inclusive en tre os biólogos. O s psicólogos do século XX, cultuando 
escolas com o a Psicodinâmica Freudiana e o Behaviorismo, cujos gu- 
rus prestavam um a hom enagem superficial a D arw in, não consegui­
ram captar a relevância do processo que ele descobriu para a ciência 
da m ente e do com portam ento.
Q ual é essa relevância? Essencialmente, reside na explicação da- 
rwiniana da seleção natural, que nos ensina aquilo cuja refinada com ­
plexidade dos organism os vivos está organizada para atingir: êxito 
reprodutivo relativo ou, nos termos atuais, posteridade genética (“ap­
tidão”) e nada mais. É isso que a seleção natural maximiza, e uma 
linhagem evolutiva é, portan to , um a série de formas funcionais cujo 
único atributo unificador é a superação dos predecessores imediatos 
na proliferação num érica de cópias dos seus genes.
M as, por que — poderia você perguntar — essa concepção esoté­
rica, ainda que verdadeira, deveria inform ar a ciência psicológica?A 
resposta é que, ao identificar os resultados que nossas m entes foram 
“planejadas” para alcançar, a perspectiva evolucionista ajuda-nos a 
evitar becos sem saída e a gerar hipóteses frutíferas a respeito do de­
senvolvimento e do funcionam ento da m ente. Tentar estudar a m ente 
sem saber que ela evoluiu para promover aptidão nos am bientes ances­
trais é com o tentar estudar o estômago sem saber que ele evoluiu para 
digerir alimentos: é possível fàzer progresso descritivo, mas sem base 
para distinguir, em cada assunto, en tre aspectos cruciais e aspectos ar­
bitrários e irrelevantes, nem para caracterizar um resultado empírico 
com o surpreendente e, portan to , digno de aprofundam ento adicional.
*Vcra Silvia Raad Bussab, Fernando Leite Ribeiro c Emma O tta traduziram 
o prefácio.
O valor heurístico de um a perspectiva darw inista para a Psicolo­
gia encontra-se abundantem ente ilustrado pelo conteúdo deste livro. 
Os psicólogos sociais há m uito tem po se interessam, por exemplo, 
em saber o que tom a um a pessoa atraente para outra, mas a pesquisa 
sobre essa questão progrediu pouco até a recente introdução de hipó­
teses evolutivas sobre as funções da escolha de parceiros e das razões 
para as diferenças algumas vezes existentes entre as metas de hom ens 
e mulheres. O s conceitos evolucionistas revolucionaram essa área, 
com o o leitor verá no C apítulo 12. Relações familiares constituem 
ou tro tem a am plo que andou titubeando por falta de um a perspecti­
va evolucionista. A visão darwinista do m undo evidentem ente leva a 
prever que a psicologia parental, fru to da evolução, deveria implicar 
carinho e cuidado com as crianças, pois seu bem -estar e, mais u r ­
de, sua reprodução são os instrum entos da aptidão dos pais; mas há 
tam bém outras implicações mais sutis. C om o a reprodução final de 
qualquer um dos filhos contribui igualm ente para a aptidão dos pais, 
mas não contribui igualm ente para a aptidão de cada um dos filhos, 
o conflito entre pais e filhos sobre a alocação de recursos parentais é 
universal, e é previsível nos determ inantes da sua m agnitude. O C a­
pítulo 9 mostra com o essa idéia contribuiu para elucidar um grande 
núm ero de fenôm enos, pré- e pós-nauis.
C om o o leitor irá aprender no C apítulo 2, um a abordagem evo- 
luc ion isu da Psicologia concebe o psiquismo com o um conjunto 
integrado de “adaptações” , cada um a das quais evoluiu a serviço de 
um a ou mais funções relativamente imediatas que contribuem para 
a função prim ordial de promover aptidão. O C apítulo 3 ensina que 
aptidão é apenas o árbitro histórico do que evoluiu (e irá evoluir) 
ao longo das gerações; m uitos equívocos e confusões irão ocorrer se 
imaginarmos que a posteridade genética em si é um a meta. O u tro 
pon to que m uitos dos capítulos deste livro ensinam é que a Psicolo­
gia Evolucionista é comparativa: há diferenças entre espécies (assim 
com o en tre os sexos) que têm relevância funcional. É difícil carac­
terizar essas diferenças, e mais difícil ainda compreendê-las, sem o 
auxílio de um a abordagem comparativa. É digno de no ta que muitos 
dos autores deste livro pesquisaram o com portam ento de outros ani­
mais, além de terem estudado o com portam ento hum ano. N a nossa 
experiência, a m elhor Psicologia Evolucionista tende a ser realizada 
por pesquisadores cuja abordagem ao anim al hum ano é inform ada 
pelo que eles sabem sobre as mentes e o com portam ento de outros 
animais, sendo capazes de notar o que é peculiar e o que dem anda 
explicação na nossa própria espécie.
A am plitude das especialidades cobertas pelos autores deste li­
vro atesta o papel atual de liderança do Brasil na América Latina 
e sua inserção internacional na Psicologia Evolucionista. Esse em­
x Prefácio
preendim ento excitante deve-se, em larga m edida, aos esforços de 
M aria Emília Yamamoto, E m m a O tta e M aria Lucia Seidl de M oura 
na criação de um a rede nacional de psicólogos evolucionistas que 
partilham idéias e projetos de pesquisa com coleguismo entusiástico, 
devendo servir com o inspiração e m odelo para outros. Nós nos con­
gratulam os com os editores e os autores pela produção deste livro,
que constitui um m arco na área, e convidamos o leitor a embarcar 
conosco e aproveitar esta viagem intelectual!
M artin Daly 
M argo W ilson
D epartm ent o f Psychology, M cM aster University, Canada
C o n t e ú d o
C a p í t u l o I I n t r o d u ç ã o : A s p e c t o s H i s t ó r i c o s , i
Maria Emúia Yamamoto
A Agenda M oral-cum -cientifica da Sociobiologia e de Seus 
Críticos, 3 
O que é Psicologia Evolucionista?, 5 
A Psicologia Evolucionista no Brasil, 7 
O Plano deste Livro, 8
C a p í t u l o I I U m O l h a r E v o l u c i o n i s t a p a r a a 
P s i c o l o g i a , i o
César Ades
Coevolução Psicobiológica: M om ento 1, 13 
Coevolução Psicobiológica: M om ento 2, 15 
Coevolução Psicobiológica: M om ento 3, 16 
Coevolução Psicobiológica: M om ento 4, 16 
Estudo de Caso 1: Reconciliação, 18 
Estudo de Caso 2: C iúm e, 19 
Produtividade e Perspectivas do Programa 
Evolucionista, 20
C a p í t u l o I I I A m b i e n t e d e A d a p t a ç ã o 
E v o l u t i v a , 22
Patrícia Izar
O s Q uatro Porquês, 22
Seleção N atural e A m biente de Adaptação Evolutiva, 23 
M odelando o A m biente de Adaptação Evolutiva da M ente 
H um ana, 25 
Q uando Foi Selecionada a M ente Hum ana?, 25 
Parâm etros para Reconstrução do AAE, 26 
Inferindo a Organização Social de Nossos Ancestrais, 27 
M odelos Socioecológicos para a Evolução dos Sistemas 
Sociais de Primatas, 27 
Inércia Filogenética, 30 
A (Im)precisão dos M odelos, 30 
Considerações, 31
C a p í t u l o I V E v o l u ç ã o H u m a n a , 33
Maria Margarida Pereira Rodrigues
O s H om inídeos, 34
Ardipithecus ramidus, 34
Australopithecus anamensis, 35 
Australopithecus afarensis, 35 
Australopithecus africanus, 35 
Homo habilis, 36 
Homo erectus, 36
Homo sapiens neanderthalensis, 36 
Homo sapiens, 37
Sapiens M oderno: Traços Evolutivos, 37 
Bipedalismo, 38 
Expansão Cerebral, 38 
Im aturidade, 39 
Tecnologia, 39
C a p í t u l o V A r q u i t e t u r a d a M e n t e ,
C o g n i ç ã o e E m o ç ã o : U m a V i s ã o 
E v o l u c i o n i s t a , 42
Maria Lucia Seidl de Moura e Ângela Donato Oliva
Cognição H um ana: de Caixa-preta a um a M ente sem 
H istória (e sem C orpo), 42 
A M ente H u m ana e a Evolução, 44 
A A rquitetura T ipo Canivete Suíço, 44 
A M ente com o Catedral e Suas Capelas, 45 
M odelos O ntogenédcos, 46 
M ente e Cérebro, 47
Funcionam ento e Estruturas Cerebrais:
Sua Relação com os Processos Cognitivos 
H um anos, 47 
O Problem a M ente X C orpo, 48
O n de se Localizam as Funções Mentais?, 48 
Aprendizagem, Desenvolvimento e Organização 
Cerebral, 50
Considerações, 52
C a p í t u l o V I A E v o l u ç ã o d a I n t e l i g ê n c i a e a 
C o g n i ç ã o S o c i a l , 54
Eduardo B. Ottom
Função e Evolução do Intelecto Prim ata, 54 
A Hipótese da “Inteligência Tecnológica”, 54 
A Hipótese do Forrageamento, 55 
As Hipóteses da “Inteligência Social”: Precursores, 55 
A “Enganação Tática” e a Hipótese da “Inteligência 
Maquiavélica”, 56
xii Conteúdo
Enganação e Contra-enganação: As Adaptações 
Cognitivas para a Troca Social, 57 
A Ontogênese da Cognição Social, 59 
O Animism o Infantil, a Dissimulação e o 
Desenvolvimento da Cognição Social, 59 
“Teoria da M ente” e “Falsas Crenças”, 59 
C onstrução de Teorias ou M aturação de M ódulos?, 61 
“ToM ” e Universais Culturais, 62 
“ToM ”: Psicopatologias e Corre latos Neurais, 62 
M odularidade, Coerções e Especificidade de 
D om ínio, 63 
A H istória N atural do C érebro Social, 64
C a p í t u l o V I I E v o l u ç ã o d a L i n g u a g e m 
S i m b ó l i c a , 65
Francisco Dyonisio Cardoso Mendes e Raphael Moura Cardoso
Linguagem Simbólica e Cognição H um ana, 66 
Diferentes Abordagens no Estudo daLinguagem, 67 
Linguagem Simbólica e M ecanismos Biológicos, 68 
N oam Chom sky e a “Gram ática Universal”, 68 
Predisposições C om portam entais, 69 
Anatom ia, Fisiologia e Genética, 70 
Estudos Com parativos com O u tro s Animais, 71 
Etnógrafos e Jesuítas, 72 
Washoe, K anzi e O u tro s Animais Falantes, 72 
Semelhanças, Diferenças e Pontos de Vista, 74 
Evolução: Adaptação ou Exaptação, 75 
Linguagem, Biologia e C ultura, 75
C a p í t u l o V I I I E v o l u ç ã o e D e s e n v o l v i m e n t o 
H u m a n o , 7 7
Maria Lucia Seidl de Moura e Adriana Ferreira Paes Ribas
D esenvolvim ento O ntogenético, 78 
O Filhote H um ano e Seus Cuidadores, 78 
Características da Espécie, 78 
Propensões para C uidado, 79 
O Recém-nascido Hum ano: Preparado para 
Aprender, 80 
D esenvolvim ento Social: o C onhecim ento de 
Co-específicos e o Raciocínio Social, 80 
D esenvolvim ento Afetivo-emocional: Apego e 
Em oções, 82 
D esenvolvim ento Cognitivo: Bases para o 
C onhecim ento do M undo, 84 
Considerações, 85
C a p í t u l o I X C u i d a d o e R e s p o n s i v i d a d e
PARENTAIS: U M A A N Á LISE A PARTIR
d a T e o r i a d a H i s t ó r i a d e V i d a 
e d a T e o r i a d o I n v e s t i m e n t o 
P a r e n t a l , 86
M auro Luís Vieira, A driana O ddlia Rbnoli, Alessandra 
Bonassoli Prado e M arie O dile M onier C helini
Introdução, 86
Sucesso Reprodutivo: Relação entre Acasalamento e 
Cuidado Parental, 87 
Relação en tre Cuidados Parentais e Características da 
Prole, 88
Responsividade Parental: Interação entre Regulações 
N euroendócrina e C om portam ental, 89 
Espedficidades do Esforço Reprodutivo M aterno:
Gestação, Parto e Intervalo en tre Nascim entos, 93 
Espedficidades do Cuidado Paterno: Papel do Pai no 
C uidado à Prole e Im portância dos Estím ulos 
Am bientais, 94 
Considerações, 95
C a p í t u l o X I n v e s t i m e n t o P a r e n t a l e
M a u s - t r a t o s d e C r i a n ç a s , 96
Rosana Suemi Tokumaru
A Perspectiva Evoludonista, 96 
Investim ento X M aus-tratos Parentais, 97 
Padrastos e M adrastas, 99 
M últiplas Causas e Soluções, 102
C a p í t u l o X I B r i n c a r o u B r i n c a r : E is a
Q u e s t ã o — A P e r s p e c t i v a d a 
P s i c o l o g i a E v o l u c i o n i s t a s o b r e a 
B r i n c a d e i r a , 10 4
ilka Dias Bichara, Eulina da Rocha Lordeio, Ana Maria Almeida 
Carvalho e Fmma Otta
O que é Brincar?, 104
Para que Serve o Brincar (Função), 105 
C om o Pode Ter Evoluído a Brincadeira no H om em 
(Filogênese), 108 
C om o a Brincadeira se Desenvolve D uran te a Vida 
H um ana (Ontogênese), 110 
Q uais os Fatores Imediatos que Afetam a Brincadeira 
(Causação Im ediata), 111 
Considerações, 113
C a p í t u l o X I I S e l e ç ã o S e x u a l e R e p r o d u ç ã o , 1 14
Maria Bemardete Cordeiro de Sousa, Wallisen Tadashi llattori e 
Maria Teresa da Silva Mota
O Sexo e Sua Determ inação, 114 
M ecanismos de Seleção Sexual, 116 
Estratégias Sexuais em H um anos, 118 
Sociossexualidade, 120 
Considerações, 125
C a p í t u l o X I I I A g r e s s i v i d a d e I-Iu m a n a :
C o n t r i b u i ç õ e s d a P s i c o l o g i a 
E v o l u c i o n i s t a e d a 
A n t r o p o l o g i a , 12 7
Renato da Sílva Queiroz
A Com plexidade do C om portam ento Agressivo, 127
Conteúdo x iii
C a p í t u l o X I V C o m p o r t a m e n t o M o r a l , o u 
C o m o a C o o p e r a ç ã o P o d e 
T r a b a l h a r a F a v o r d e N o s s o s 
G e n e s E g o í s t a s , 133
Maria Emúia Yamamoto, Anuska Irene Alencar e 
André Luiz Ribeiro Lacerda
A História da Cooperação n a Espécie H um ana, 134 
A Cooperação com Parentes, 135 
O Altruísm o Recíproco e a Teoria dos Jogos, 135 
A Reciprocidade Indireta, 139 
O C írculo Virtuoso, 140 
A V ida Em ocional de um Altruísta, 141 
Considerações, 143
C a p í t u l o X V E v o l u ç ã o d a M e n t i r a e d o 
A U T O E N G A N O , 14 4 
Marco Callegaro e Rodrigo Sartorio
Níveis de Análise, 144 
Benefícios da M entira, 145 
Benefícios do Auto-engano, 147 
C orrida Evolutiva, 149 
A ltruísm o e Auto-engano, 150 
Punição do Egoísmo, 150 
Falsas M emórias e Auto-engano, 152 
M em ória Construtiva, 152 
Im plan tando M emórias, 152 
Inocentes na Prisão, 153 
Redução da Dissonância, 153 
Especialização Hemisférica, 153 
S índrom e da Anosognosia, 154 
C érebro D ividido, 154 
O Intérprete, 154 
A uto-engano e o Intérprete, 155 
Considerações, 156
C a p í t u l o X V I S o m o s o q u e C o m e m o s 
— A U n i v e r s a l i d a d e d o 
C o m p o r t a m e n t o A l i m e n t a r 
H u m a n o , 157
Fiviade Araújo Lopes
C om o Chegamos à Diversidade de Itens em Nossa D ieta — 
Noções da D ieta Ancestral, 157 
C om o Escolhemos o que Comer?, 158 
O Papel do G rupo Social na Com posição da D ieta, 159 
Gostos Básicos, 160
Com er: Fácil Começar, Difícil Parar, 161 
Considerações, 162 
Agradecimentos, 162
C a p í t u l o X V I I P s i c o p a t o l o g i a
E v o l u c i o n i s t a , 163
Fabiola Luz e Vera Silvia Raad Bussab
A Patologia, 163 
O Sintom a, 164 
Etiologia das Doenças, 165
Aplicação do Raciocínio Evolucionista sobre a Patologia — 
Causas Próximas e Causas Últim as, 166 
Das Causas Próximas às Causas Ú ltim as, 167 
Transtorno do Pânico, 167 
Erotom ania, 168 
Depressão, 169 
Dependência, 171 
Esquizofrenia, 172 
Considerações, 174
C a p í t u l o X V I I I N e m A l f a , N e m Ô m e g a : 
A n a r q u i a n a S a v a n a , 17 6 
Fernando Leite Ribeiro, Vera Sílvia Raad Bussab e Emma Otta
Introdução, 176
O Valor Adaptativo da Luta Corporal Intragrupo, 177 
A M onarquia Primata: Lutas, Hierarquia, Submissão, 
Coalizões e D om inância, 177 
O Dim orfism o Sexual e a Origem Prim ata das 
Especializações H um anas, 179 
O Enfraquecim ento da Capacidade de Luta Corporal na 
Evolução H om inídea, 180 
Correlação entre Redução de C aninos e da Agressividade 
Intragrupo, 180 
A Redução da Força da M ordida, 180 
O Problem a do Equilíbrio, 180 
A Fragilidade do Pescoço, 180 
A Gracilidade ó ssea e a Perda Generalizada de Força 
Muscular, 181 
Agilidade na Luta, 181 
O Valor A daptativo de A bandonar as Lutas 
In tragrupo , 181 
Os Efeitos Complexos das Armas Artificiais, 182 
A Anarquia da Vida de Caça e Coleta, 183 
A narquia versus Igualitarismo, 183 
O Caçador-coletor, 184 
“Isto N ão se Faz”: o Autogoverno, 185 
O utras Perspectivas Teóricas da M ansidão da V ida 
H um ana Intragrupo, 185 
A R uptura Agrícola, 187
C o n s i d e r a ç õ e s F in a i s , 18 9 
Renato da SÚva Queiroz
R e fe rê n c ia s , 19 0
Ín d ic e A lf a b é t ic o , 2 16
Fundamentos de Psicologia
PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA
1 INTRODUÇÃO: ASPECTOS HISTÓRICOS
María Emúia Yamamoto
A Psicologia Evolucionista tem alcançado grande reper­
cussão na m ídia e suas propostas são consideradas inova­
doras pela abordagem evolutiva ao comportamento hum a­
no. N o entanto, é o próprio D arw in quem, ao propor a 
teoria da evolução, abre a possibilidade da inclusão do 
hom em dentro dessa m oldura teórica através de dois de 
seus livros: A Origem das Espécies (1859/1996) e A Expres­
são das Emoções no Homem e nos Anim ais (1873/1998). 
No primeiro, ele propõe a teoria da evolução1 através da 
seleção natural2, que parte do pressuposto de que há uma 
continuidade entre todos os seres vivos, o hom em aí 
incluído5. Isto já havia sido proposto por Aristóteles, com 
sua Scala Naturae, porém, esta via a evolução como uma 
escada, com o hom em em seu topo. O grande mérito de 
Darwin foi descartar a linearidade e propor uma estrutu­
ra ramificada, a árvore da vida, nascida de um a única raiz,
'A teoria da evolução propõe que as espécies hoje existentes evoluíram 
a partir da modificação genética de seus ancestrais, através de alterações 
graduais, e pelo m ecanism o da seleção natural. Após a formulação de
D arw in, várias adições foram propostas, como as m utações neutras, o 
efeito do fundador, a deriva genética c a exaptação.
-A seleção natural é um processo através do qual indivíduos mostram sobre­
vivência c/ou reprodução diferencial. Para que a seleção natural ocorra,
três condições devem ser satisfeitas: a) a população cm que esse indivíduo 
se encontra deve m ostrar variação genética; b) essa característica, de base 
genética, deve ser transmitida através da hereditariedade; c) algumas das 
variações devem prover vantagens reprodutivas e/ou de sobrevivência ao 
seu portador.
'D arw in desenvolveu a teoria da seleção natural sem qualquer conheci­
m ento das leis mendelianas da genética, o que to m a o seu feito ainda 
mais notável. Rose (1998) relata que, após a m orte de Darwin, foi encon­
trada, entre seus papéis, um a correspondência com a cópia do trabalho de 
M endel com ervilhas, ainda por abrir. Fica a cargo de nossa imaginação o 
que poderia advir deste encontro de idéias.
evoluindo e diversificando-se em inúmeros ramos evolu­
tivos.
O segundo livro, A Expressão das Emoções no Homem e 
nos Animais, abriu as portas para o estudo do homem e de 
sua psicologia do ponto de vista evolutivo. Este foi o tercei­
ro e último de um a série de livros com os quais Darwin 
pretendia dar sustentação à teoria da evolução, proposta 
na Origem. Nas Emoções, Darwin demonstra que os animais 
têm emoções e descreve como eles as demonstram. O últi­
m o terço do livro é dedicado às emoções humanas. Darwin 
defende que a manifestação de boa parte das emoções não 
é aprendida, mas que foi gradualmente adquirida através 
da evolução. Considera que essas expressões têm sua origem 
em ancestrais, em alguns casos comuns a outras espécies, 
o que se evidencia pela semelhança com que elas se expres­
sam (por exemplo, a fúria em cães, macacos e homens, 
pela exibição dos caninos) e pela sua universalidade. Este 
livro pode ser considerado como o precursor do estudo 
das bases biológicas do comportamento, ao relacionar as 
expressões e as emoções subjacentes com reações fisioló­
gicas que as acompanham.
Após a morte de Darwin, em 1882, a teoria da evolução 
caiu em esquecimento e só foi renascer após a redescober- 
ta das publicações de Mendel, na primeira metade do sécu­
lo XX. Porém, junto a esse renascimento, houve a infeliz 
associação entre a teoria da evolução e o darwinismo social, 
pensamento desenvolvido a partir das idéias de Robert 
Spencer, que defendia a tese da sobrevivência do mais apto, 
aplicada às instituições sociais, uma grosseira distorção das 
idéias de Darwin. Associada ao uso das idéias evolucionis- 
tas na explicação da evolução das sociedades humanas,
2 Introdução: Aspectos Históricos
surge outra utilização equivocada dos princípios darwinis- 
tas, que é a associação entre evolução e progresso“1. Esta 
linha de raciocínio supõe que evolução caminha no senti­
do do aperfeiçoamento das espécies, começando nas mais 
simples, que, em termos mentais, só possuiriam reflexos, 
até seu ápice, o ser humano. Haveria, portanto, espécies 
“melhores” ou “mais evoluídas” do que outras. Spencer 
defendia também que as sociedades humanas se tomavam 
cada vez mais desenvolvidas, e os europeus estariam muito 
à frente, portanto, das populações consideradas primitivas. 
D aí decorreu a idéia de que as “raças-” também teriam 
atingido patamares evolutivos diferentes, argumento sem 
qualquer base científica. N o entanto, a despeito dessas 
discussões não se basearem naquilo que D arw in havia 
proposto, estas idéias marcaram negativamente a teoria da 
evolução, principalmente em suas tentativas de aplicação 
ao comportamento hum ano, culminando com o “debate 
da sociobiologia” que discutiremos adiante. Explicações 
biológicas ou sociais/culturais têm sido favorecidas ao 
longo do século e meio desde a publicação de A Origem 
das Espécies, revezando-se na preferência acadêmica e popu­
lar (Laland e Brown, 2002). A preferência por um ou outro 
tipo de explicação parece estar mais ligada a questões polí­
ticas do que propriamente científicas. Voltaremos a este 
ponto posteriormente.
Uma área de pesquisa de abordagem evolutiva surgiu 
na Europa mais recentemente, nos meados do século XX, 
a Etologia. Embora algumas propostas sobre o estudo do 
comportamento animal estivessem presentes desde o início 
do século, pode-se considerar que a Etologia emerge, de 
fato, como um a área independente de conhecimento a 
partir do esforço conjunto de NikolaasTinbergen e Konrad 
Lorenz. A proposta metodológica apresentada por estes
‘A palavra “evolução” no sentido biológico não tem o sentido de progresso. 
A evolução biológica consiste na m udança das características hereditárias 
de grupos de organismos ao longo das gerações, através de processos alea­
tórios, o mais im portante deles sendo a seleção natural. Um organismo 
mais bem adaptado é aquele que m elhor responde às pressões seletivas 
apresentadas pelo meio cm que vive, e, nesse sentido, não há organismos 
ou indivíduos intrinsecam ente melhores ou piores. A adaptação é forte­
m ente dependente do meio c um indivíduo bem adaptado em um ambiente 
pode-se m ostrar totalm ente inadequado cm term os de sobrevivência e 
reprodução em outro.
çO conceito de raça não é mais aceito pela biologia (Futuyma, 1992) e a 
possibilidade de uma política eugenista bem-sucedida foi descartada, com 
argumentos científicos, já cm 1917, por Punnct (Rose, 1998). Além disso, 
pesquisas sobre genética de populações mostraram que a variação gênica 
entre populações é m uito pequena comparada com a variação intrapopu- 
lacional. Portanto, qualquer resquício de opiniões racistas na psicologia ou 
cm outras áreas do conhecim ento é m uito mais um a questão de opinião 
do que de suporte científico.
dois etólogos incluía um período extenso de observação 
do comportamento de indivíduos da espécie em estudo, 
preferencialmente em seu ambiente natural, e a descrição 
cuidadosa dos padrões de comportamento específicos da 
espécie.
N o mesmo período em que a Etologia surgiu na Euro­
pa, ganhou evidência nos Estados Unidos a proposta de 
estudo do comportamento animal do ponto de vista da 
Psicologia, a Psicologia Comparada. Esta área, até mesmo 
em função de sua origem na Psicologia, interessava-se 
m uito mais pelas informações que os estudos com animais 
pudessem fornecer sobre o com portam ento hum ano, e 
focava suas investigações principalmente na aprendizagem 
e em um núm ero restrito de espécies. Os pontos de vista 
opostos geraram uma batalha constante entre as duas áreas, 
embora hoje em dia elas possam ser consideradas como 
complementares (para um a discussão mais aprofundada 
desta questão, ver Yamamoto, 2005). Em função desta 
batalha constante com os psicólogos, os etólogos enfati­
zavam m uito as características fixas do com portam ento e 
as semelhanças entre indivíduos da mesma espécie, negli­
genciando as variações individuais, pedra de toque da pers­
pectiva evolucionista. Não surpreende, dada a ênfase, o 
erro de pensar a seleção natural como um mecanismo que 
opera para o bem da espécie, e não do indivíduo.
Por outro lado, a Etologia fez importantes contribuições 
para a compreensão do comportamento animal e humano, 
como a idéia de que a aprendizagem é um a habilidade 
evoluída, e principalmente de que o desenvolvimento de 
um indivíduo não é predeterminado, mas sofre limitações, 
na forma de predisposições biológicas. Uma das contri­
buições mais notáveis foi a proposta das quatro questões 
no estudo do comportamento, deTinbergen (1963), que 
até hoje constituem um a referência na área. Em resposta 
à divergência sobre que tipo de explicação sobre o compor­
tam ento era mais adequada, Tinbergen propôs quatro 
questões complementares que deveriam ser respondidas 
para um com pleto entendim ento da determ inação do 
comportamento: a) quais são os mecanismos que regulam 
o comportamento; b) como o comportamento se desen­
volve; c) qual o seu valor de sobrevivência; d) como ele 
evoluiu ou qual sua históriafilogenérica. As duas primei­
ras são tam bém chamadas de questões próximas, pois 
dizem respeito aos determinantes localizados no ambien­
te interno e externo do indivíduo. As duas últimas são 
denominadas questões finais ou funcionais, no sentido de 
que procuram por determinantes evolutivos. Poderíamos
Introdução: Aspectos Históricos 3
dizer que as questões próximas são questões do tipo “como” 
e as finais, do tipo “por quê”.
Em 1972, o reconhecimento desta área aconteceu de 
forma espetacular, com a outorga do Prêmio Nobel de 
Fisiologia ou Medicina a Tinbergen, Lorenz e Karl Von 
Frisch (por seu trabalho sobre o sistema de comunicação 
em abelhas). Se por um lado o prêmio refletiu o otimismo 
em relação ao potencial da área para explicar o compor­
tam ento hum ano, por outro lado havia um clima desfa­
vorável para explicações biológicas do com portam ento 
humano, em fàce da situação pós-guerra. Isto se fazia notar 
especialmente quando eram tentadas extrapolações do 
comportamento animal para o hum ano e as críticas surgi­
ram de forma mais contundente ao livro On Aggression 
(Lorenz, 1966/1974) e principalmente Sociobiology: The 
N ew Synthesis (Wilson, 1975). A controvérsia inspirada 
principalmente pela publicação deste ultimo livro foi tão 
grande que vamos nos ocupar especificamente dela na 
próxima seção.
A AGENDA M O R A L 'C U M 'C IE N T ÍF IC A 
DA SOCIOBIOLOGIA E DE 
SEUS CRÍTICOS
O século XX assistiu a um debate ferrenho, chamado 
por alguns de “o debate da Sociobiologia”, no qual cien­
tistas, muitas vezes de orientação teórica semelhante, se 
digladiaram sobre a adequação de colocar o ser humano, 
mais especificamente, sua mente e seu comportamento, 
como um objeto de estudo da biologia evolutiva. O desen- 
cadeador desse debate foi um livro escrito por E. O . Wilson 
(1975), intitulado Sociobiology: The New Synthesis. Nesse 
ambicioso tratado, o autor propunha um a síntese dos estu­
dos e novos desenvolvimentos no estudo do com porta­
mento, principalmente de animais não-humanos, e dedi­
cava um único capítulo, o último, ao lugar do Homo sapiens 
nessa síntese. Neste último capítulo, Wilson sugeria que 
os avanços recentes no estudo do comportamento animal, 
mais especificamente os trabalhos de Trivers e Hamilton 
sobre investim ento parental e seleção de parentesco 
(Hamilton, 1964; Trivers, 1972), poderiam ajudar a expli­
car m uitos aspectos do comportamento hum ano, incluin­
do comportamento agressivo, homossexualidade, religião 
e xenofobia. Mais polemicamente ainda, previa que em 
pouco tempo as ciências sociais estariam incluídas dentro 
das ciências biológicas. Com o não poderia deixar de acon­
tecer, os cientistas sociais imediatamente se manifestaram
contrários às idéias de W ilson e rejeitaram totalmente suas 
alegações de que a abordagem biológica fornecia um mode­
lo mais adequado e mais abrangente para a compreensão 
do com portam ento humano. Porém, o que é surpreen­
dente, é que os dois críticos mais ferozes de W ilson foram 
os evolucionistas Richard Lewontin (geneticista) e Stephen 
Jay G ould (biólogo), seus colegas de departam ento em 
Harvard (Laland e Brown, 2002; Segerstrâle, 2000).
N a realidade, embora o livro de W ilson tenha desenca­
deado esta forte controvérsia, a mensagem que ele trazia 
retratava o que estava ocorrendo no campo do estudo do 
comportamento animal desde o início da década de 1970. 
As idéias de Ham ilton (1964) sobre seleção de parentesco 
e de Trivers (1972) sobre altruísmo recíproco sacudiram 
a área e perm itiram a abertura de novos e estimulantes 
programas de pesquisa. Um clássico na área foi o livro de 
John Alcock (1975) A nim a l Behavior: A n Evolutionary 
Approach sucessivamente reeditado e hoje provavelmente 
o manual mais usado no ensino do comportamento animal. 
Este livro trazia basicamente a mesma síntese proposta por 
Wilson, embora nesta primeira edição não trouxesse um 
capítulo sobre comportamento humano. A proposta trazi­
da no livro de Wilson pode ser interpretada m uito mais 
como um esforço coletivo, um retrato dos avanços que 
ocorriam naqueles anos, do que propriamente uma concep­
ção individual do autor.
Em suma, o livro de Wilson não era o primeiro a propor 
a utilização da teoria evolutiva na explicação do compor­
tam ento hum ano, que vinha desde Darwin, e também 
não trazia nenhum a proposta completamente nova, que 
não representasse o pensamento e as discussões correntes 
na área. Por que, então, tantas e tão fortes críticas?
Segerstrâle (2000) sugere que essas críticas, mais do que 
científicas, tinham um a forte tintura político/moral. A 
mesma autora sugere que as críticas propriamente cientí­
ficas pareciam ser mais relativas à ênfase do que propria­
m ente ao conteúdo do livro. Por exemplo, um a crítica 
contundente e repetida de Gould e Lewontin (1979; Allen 
et al., 1975) é a de que W ilson via a adaptação como o 
mecanismo exclusivo da seleção natural e que considerava 
que os organism os estavam perfeitam ente adaptados. 
Porém, W ilson discutia, em Sociobiology, outros mecanis­
mos de seleção, como a pleotropia e o desequilíbrio da 
ligação (linkage), entre outros. Q uanto à otimização e à 
perfeição daí decorrentes, Segerstrâle faz a seguinte citação 
de Sociobiology: “No organism is ever perfectly adaptecT 
(Segerstrâle, 2000). Aparentemente, à parte questões rela­
tivas a desenvolvimentos recentes da genética que Lewon-
4 Introdução: Aspectos Históricos
tin acreditava que Wilson havia ignorado, havia a questão 
do uso social da ciência.
O paradigma científico, não só no m om ento do lança­
m ento do livro, mas desde o final da Segunda Guerra, era 
o am bientalism o/culturalism o, principalm ente após o 
acordo da U N ESC O de 19526 que desencorajava forte­
mente a pesquisa biológica com seres humanos. Os horro­
res das práticas nazistas durante a guerra, falsamente base­
adas em critérios científicos, e o crescimento dos estudos 
etnográficos, liderados principalm ente por Franz Boas, 
levaram à transição de uma visão das características hum a­
nas baseadas na hereditariedade para uma posição ambien­
talista e culturalista. A agenda científica passou a ser uma 
agenda moral-cum-científica que preconizava uma ciência 
socialmente responsável, que não pudesse ser evocada, 
verídica ou pretensamente, para justificar atos moralmen­
te reprováveis. Curiosamente, tanto W ilson quanto seus 
oponentes, Lewontin e Gould, defendiam a responsabili­
dade moral da ciência, mas suas agendas eram diferentes 
(ver Segerstrâle, 2000, para uma discussão mais abrangen­
te deste tópico). N a visão de Lewontin e Gould, a propos­
ta sociobiológica continha um viés determinista e adapta- 
cionista (Allen et al., 1975) e, portanto, era questionável 
do ponto de vista científico e principalmente do ponto de 
vista moral. Eles acusavam a sociobiologia de determinis­
mo biológico, que poderia ser usado para justificar as desi­
gualdades sociais existentes. Uma crítica contundente era 
o uso da expressão “gene para. . que interpretavam como 
evidência de determinismo genético. Isto apesar das recor­
rentes explicações de vários autores que abraçavam a abor­
dagem evolucionista, entre eles Dawkins e o próprio 
W ilson, de que essa expressão era na realidade um a abre­
viação para diferenças genéticas entre indivíduos que 
seriam potencialmente sujeitas à seleção. Acusavam Wilson 
também de propor que a natureza humana, por ser adap- 
tativa, era natural e intrinsecamente boa, novamente justi­
ficando a ordem social existente. Em um a publicação 
bastante divulgada, G ould e Lewontin (1979) cunharam 
um termo em sua crítica da sociobiologia e de áreas afins 
que ficou amplamente conhecido, o panglossismo, base­
ado no personagem Dr. Pangloss, de Voltaire, que expres­
sava a opinião de que tudo era o que deveria ser e feito 
para seu melhor uso. Esta analogia era usada para alegar 
que do ponto de vista da sociobiologia cada detalhe do
'Este tcxco está disponível na íntegra em http://uncsdoc.uncsco.org/imagcs/0007/000733/073351 co.pdf
comportamento, anatomia ou fisiologia de um organismo 
poderia ser explicado pela seleção natural e, como tal, 
representaria estruturas otim am ente planejadas. G ould e 
Lewontin (1979) acreditavam que esta abordagem igno­
rava o aspecto histórico do processo evolutivo e a influên­
cia do acaso neste processo. Também alegavam que o grau 
de perfeição de um traço é limitado por fatores como flexi­
bilidade comportamental, interações entre genes e aciden­
tes históricos. Segundo os dois autores, os defensores da 
sociobiologia consideravam a seleção natural onipotente 
e que as limitações seriam poucas e de pequena im portân­
cia. Não há como negar que isto é verdade em alguns casos. 
Estas críticas geraram inclusive revisões de textos ampla­
m ente utilizados como é o caso da versão de 1997 do livro 
BehavioralEcology, de Krebs e Davies. Cronin (1995), no 
entanto, discorda fortemente de que adaptacionistas sejam 
panglossistas e propõe que, na realidade, o natural na teoria 
darwinista é evitar suposições relativas à perfeição. Segun­
do a autora, a perfeição é a expectativa do creacionista, 
que vê cada estrutura ou traço como desenhado para o fim 
que serve e que, por essa razão, só pode ser perfeito. O 
evolucionista acredita no poder da seleção natural para 
criar traços maravilhosamente adaptados, porém m uito 
longe de serem perfeitos, pois todo traço se origina de 
soluções que foram apropriadas a gerações anteriores e que 
carregam as marcas dessa história, consistindo em boas 
soluções dentro das limitações originadas da história filo- 
genética do traço.
Um exemplo que considero extremamente esclarecedor 
daquilo que Nesse e Williams (1997) chamam de legados 
da história da evolução é a ocorrência freqüente, e muitas 
vezes letal (um óbito por 100.000 pessoas/ano), de engas­
gos nos seres humanos. Este problema recorrente se deve 
a uma falha de desenho que ocorre, na realidade, em todos 
os vertebrados: nossa boca está localizada abaixo e em 
frente ao nariz, mas o esôfago, que transporta os alimen­
tos, fica atrás da traquéia, que transporta o ar, por isso os 
tubos precisam se cruzar à altura da garganta. Se o alimen­
to bloquear essa interseção, o ar não pode chegar aos 
pulmões. Um reflexo associado à deglutição normalmen­
te bloqueia a passagem para a traquéia, mas às vezes esse 
reflexo falha e o alimento desce pelo canal errado. É nesse 
m om ento que o reflexo do engasgo entra em ação para 
desobstruir as vias aéreas, mas algumas vezes ele não é 
completamente eficaz e podemos morrer sufocados. Claro 
que seria m uito mais fácil e seguro se o ar e os alimentos 
passassem por caminhos totalmente independentes. Por 
que não o fazem? Se a seleção natural criasse traços e meca-
http://uncsdoc.uncsco.org/imagcs/
Introdução: Aspectos Históricos 5
nismos perfeitos, eles seriam independentes, porém este é 
um problema histórico: a seleção natural só pode agir sobre 
o que já existe. E o que existe era um ancestral remoto de 
todos os vertebrados, um animal semelhante a um verme, 
que se alimentava de microorganismos retirados da água 
através de um sistema de filtração. Por outro lado, era 
pequeno demais para ter um sistema respiratório. A respi­
ração se dava por difusão passiva, sistema que só foi subs­
tituído quando evoluiu para um tam anho maior, e um 
sistema respiratório se desenvolveu. Esse novo sistema 
aproveitou o sistema de filtração de alimentos, que facil­
m ente foi aproveitado como um conjunto de guelras, 
possibilitando a troca gasosa. O aparecimento, m uito mais 
tarde, do pulmão trouxe a necessidade de vias específicas 
para a passagem do ar pelo sistema respiratório e dos 
alimentos pelo digestório. Porém, em função da origem 
comum, essas passagens se cruzavam, característica que 
mantemos até hoje.
Alcock (2001), por outro lado, chama a atenção para 
o fato de que a ênfase supostamente excessiva no poder da 
seleção natural se deve em grande parte às evidências que 
apontam que, de fato, a seleção natural é o mecanismo 
preponderante de mudança evolutiva. Mecanismos alter­
nativos, como, por exemplo, deriva genética, pleiotropia, 
exaptação, são reconhecidos, mas também se sabe que eles 
explicam em seu conjunto um a proporção m uito pequena 
das mudanças evolutivas.
A primeira crítica ao livro Sociobiology foi publicada em 
N ew York Review o f Books (Allen et al., 1975)7 e termina 
sugerindo que Sociobiology sinalizaria uma nova onda de 
teorias biologicamente deterministas. Indo além, a crítica 
equiparava o livro a políticas racistas e a um a agenda polí­
tica conservadora. A partir, não apenas das críticas publi­
cadas, mas de entrevistas com vários dos críticos, Segers- 
trâle (2000) sugere que estes consideravam seu dever moral 
“interpretar” os textos para o leitor leigo, esclarecendo o 
que Wilson, e outros, como Dawkins, Ham ilton e Trivers, 
estavam realmente “querendo dizer”.
Vários nomes de peso, como Richard Dawkins, Maynard 
Smith, William Hamilton, Robert Trivers, Irving DeVore,
É interessante que a primeira autora deste artigo, Elizabcth Allen, fosse, na 
época, um a estudante de graduação em medicina. Esta crítica foi publicada 
logo após o lançam ento do livro Sociobiology c foi a prim eira das muitas 
publicações que tem a marca de G ould c Lcwontin nas críticas a Wilson. 
N o en tan to , nesta publicação especificamente, a ordem dos autores foi 
alfabética porque a idéia era produzir um docum ento que representasse o 
Sociobiology Study Group, do qual faziam parte os dois cientistas (Scgcrs- 
trâlc, 2000, 2001).
entre outros, saíram em defesa de Wilson. Na realidade, 
se algumas das críticas desempenharam um papel impor­
tante na revisão de alguns conceitos e explicações socio- 
biológicas, a proposta original em grande parte vem sendo 
confirmada através de estudos do comportamento hum a­
no e animal (Alcock, 2001). Com o Krebs e Davies (1997) 
sugerem, as críticas à sociobiologia não diminuíram o valor 
da explicação darwinista, mas a levaram à revisão de alguns 
conceitos e à ampliação de outros. Essas críticas, porém, 
tiveram o efeito perverso de manchar esta denominação, 
levando a maioria dos pesquisadores da área a evitar qual­
quer tipo de ligação com o termo e a denom inar sua área 
de trabalho com denominações alternativas. Outras disci­
plinas, como a Ecologia Com portam ental H um ana e a 
Coevolução Gene-Cultura, além da Psicologia Evolucio- 
nista, são derivações da Sociobiologia, mas são poucos 
aqueles que assumem esta herança.
O QUE é PSICOLOGIA 
EVOLUCIONISTA?
No final da década de 1980, o clima acadêmico havia 
m udado, principalm ente nos Estados Unidos, devido a 
fatores científicos e sócio-históricos. Os novos desenvol­
vimentos científicos em várias áreas de conhecim ento, 
como na biotecnologia e nas neurociências, e principal­
m ente na genética, com o Projeto G enom a H um ano, 
acumularam evidências sobre a im portância de fatores 
biológicos na explicação do comportamento. Ao mesmo 
tempo, e talvez até mesmo pela popularização dos novos 
avanços científicos, houve uma atenuação da resistência à 
implicação de fatores biológicos na explicação do compor­
tam ento hum ano. O novo paradigm a, interacionista, 
passou a reconhecer as predisposições biológicas, presentes 
em todos os indivíduos, e sua modulação pelo ambiente, 
resultado de um sistema nervoso fundamentalmente plás­
tico (Segerstrâle, 2000).
Este novo clima acadêmico deu margem ao apareci­
m ento de várias disciplinas que abordam o comportamen­
to hum ano do ponto de vista da teoria da evolução, entre 
elas a Psicologia Evolucionista (PE). Porém, o term o 
“psicologia evolucionista” tem sido usado com diferentes 
significados por diferentes pesquisadores, e sua abrangên­
cia também varia em função de quem a define. Alguns 
defendem que a PE refere-se apenas ao estudo de proces­
sos mentais humanos (Barkow, Tooby e Cosmides, 1992), 
enquanto outros preferem descrevê-la como um a aborda-
6 Introdução:Aspectos Históricos
gem mais abrangente. Daly e Wilson (1999) consideram 
que esta restrição taxonômica é inadequada em função da 
longa tradição comparativa tanto nos estudos evolutivos 
como dentro da própria psicologia e tam bém porque 
m uitos dos pesquisadores da área trabalham com o ser 
hum ano como apenas um a outra espécie única (Foley, 
1993; ver Ades, Cap. 2 deste livro). Vale ressaltar, além 
disso, que a PE não é feita somente por psicólogos, mas, 
tanto mundialmente como no Brasil, há diversos profis­
sionais envolvidos, como biólogos, antropólogos, sociólo­
gos, filósofos e médicos, entre outros. Em comum, a abor­
dagem evolucionista, aplicada aos seres humanos da mesma 
maneira como tem sido aplicada, de forma extremamente 
bem-sucedida, ao estudo do comportamento animal.
Laland e Brown (2002) identificam pelo menos cinco 
abordagens que se propõem a estudar o comportamento 
hum ano do ponto de vista evolutivo: a sociobiologia, a 
ecologia comportamental humana, a psicologia evolucio­
nista, a memética e a coevolução gene-cultura. Com o elas 
se distinguem umas das outras? Atualmente, nenhum estu­
dioso do comportamento hum ano identifica-se como um 
sociobiólogo; entre outras razões, pela reação que esse 
termo ainda causa, em função da discussão pública sobre 
o livro de E. O . Wilson com esse título (ver anteriormen­
te). As duas denominações seguintes, ecologia comporta­
mental hum ana e psicologia evolucionista, são as vertentes 
mais atuantes e bem-sucedidas dentre aquelas identificadas 
por Laland e Brown (2002), com destaque para a PE. A
memética, proposta por Dawkins, supõe uma unidade de 
seleção cultural, o meme, um replicador, tal como os genes. 
Porém, com o os autores sugerem, a memética foi um 
meme que não pegou, e sua replicação tem sido restrita. 
A abordagem da coevolução gene-cultura propõe um a 
herança dualística, envolvendo genes e memes. Suas 
complicadas análises matemáticas têm sido um empecilho 
à sua ampliação. Estas abordagens, na realidade, se sobre­
põem em vários pontos, e o que as distingue é muito mais 
a ênfase em um ou outro aspecto (ver também Izar, Cap. 
3 deste livro). Por exemplo, o tipo de causalidade mais 
estudada, próxim a ou final (ver as quatro questões de 
Tinbergen na seção inicial).
A Tabela 1.1 compara algumas das características de 
três dessas abordagens, aquelas que mais nos interessam 
em relação ao conteúdo deste livro: a Sociobiologia, pelo 
seu valor histórico e inovador, a Ecologia Com portam en­
tal H um ana e a Psicologia Evolucionista, pela amplitude 
de sua abrangência entre os pesquisadores que estudam o 
comportamento hum ano de uma perspectiva evolutiva.
O exame da Tabela 1.1 evidencia, por um lado, a presen­
ça da herança sociobiológica nas duas abordagens mais 
recentes e, por outro, a inovação trazida pela PE, princi­
palmente no que diz respeito ao nível de explicação. Com 
foco nos mecanismos psicológicos evoluídos e na propos­
ta da existência de um descompasso temporal, a PE é a 
única das três abordagens que considera que o comporta­
m ento não é completamente adaptativo. O utra importan-
Tabela 1.1 Comparação dc trcs abordagens evolutivas ao estudo do com portam ento hum ano (adaptada de Laland c Brown, 2002)
Sociobiologia
Ecologia com portam ental 
hum ana Psicologia evolucionista
N ível de explicação C om portam ento C om portam ento M ecanism os psicológicos
M étodos utilizados no teste 
de hipóteses
M últiplos (ênfase em 
inform ação etnográfica)
Inform ação etnográfica 
quantitativa
M últiplos (ênfase em 
questionários, experimentos 
de laboratórios e dados 
demográficos)
O com portam ento é 
adaptativo?
Sim Sim N em sempre, em função do 
descompasso tem poral
O que é cultura? Universais culturais, 
com portam ento eliciado por 
condições ecológicas, 
inform ação transm itida
C om portam ento eliciado por 
condições ecológicas
Universais culturais dentro de 
limitações da natureza 
hum ana
O que são seres humanos? Animais sofisticados Animais sofisticados, 
caracterizados por extrema 
adaptabilidade
Animais sofisdeados, guiados 
por adaptações psicológicas
Introdução: Aspectos Históricos 7
te inovação trazida pela PE é a de colocar dentro do esco­
po da psicologia o estudo de causas últimas, evolutivas, 
contrariando a tradição histórica da área de estudar apenas 
causas próximas. Acredito que isto, mais do que qualquer 
outra coisa, é o que permitirá à psicologia, de feto, incor­
porar a explicação biológica ao seu corpo teórico. Não por 
acaso, a PE é freqüentemente definida como uma abor­
dagem à psicologia e não uma área específica, como Psico­
logia do Desenvolvimento ou da Personalidade. Nesse 
sentido, ela é proposta como uma forma de pensar a psico­
logia (evolutivamente) que poderia ser aplicada a qualquer 
tema dentro dela (Gaulin e McBumey, 2001).
Alguns conceitos-chave norteiam a investigação na PE. 
Inicialmente, os mecanismos mentais evoluídos, vistos 
como adaptações que estão subjacentes ao comportamen­
to hum ano (ver Seidl de M oura e Oliva e O ttoni, Caps. 
5 e 6 deste livro). Em seguida, o Ambiente de Adaptação 
Evolutiva (AAE), representando o passado evolutivo 
durante o qual as adaptações que exibimos foram selecio­
nadas. Este segundo conceito traz com o decorrência a 
questão do descompasso tem poral entre mecanismos 
evoluídos e sua relação com o ambiente atual (ver Izar, 
Cap. 3, deste livro). Finalmente, a ênfase nos m ódulos de 
dom ínio específico, que teriam evoluído em resposta a 
pressões específicas do ambiente e, portanto, dirigidos à 
solução de problemas também específicos (ver Seidl de 
M oura e Oliva e O ttoni, Caps. 3 e 6 deste livro). A ques­
tão da modularidade é um a questão bastante debatida 
dentro da própria PE, e este livro traz visões alternativas 
nos dois capítulos já citados.
A PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA 
NO BRASIL
O crescimento dos estudos do comportamento hum a­
no usando a PE como referencial teórico e metodológico 
foi notável nos últimos anos. Este crescimento tornou a 
PE uma disciplina bem conhecida e estabelecida na Améri­
ca do N orte e na Europa, mas ainda incipiente no Brasil. 
O grupo responsável pela elaboração desta coletânea é 
pioneiro no estudo da PE no Brasil. A colaboração das 
instituições envolvidas neste grupo remonta a aproxima­
damente 15 anos e resultou na formação, em 2004, de um 
G rupo de Trabalho (GT) de Psicologia Evolucionista na 
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em 
Psicologia (ANPEPP). Um marco na história deste grupo 
foi a aprovação pelo C N Pq, em 2005, de um projeto no
Edital Instituto do M ilênio para Redes de Pesquisa, O 
moderno e o ancestral: a contribuição da Psicologia Evolu­
cionista para a compreensão dos padrões reprodutivos e de 
investimento parental humanoy que envolve nove institui­
ções e 16 pesquisadores de todo o país.
N o espírito da PE, de interdisciplinaridade, esta rede 
representa duas orientações teóricas em Psicologia e pesqui­
sadores de formações variadas. A primeira orientação foca­
liza o estudo do comportamento num a abordagem evolu­
cionista e é representada pelos pesquisadores da Universi­
dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que coor­
dena o projeto, da Universidade de São Paulo (USP), da 
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), da Univer­
sidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Católi­
ca de Goiás (UCG). A segunda orientação dirige seus estu­
dos ao desenvolvimento hum ano e é representada pelos 
pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janei­
ro (UERJ), que tam bém detém a vice-coordenação do 
projeto, da Universidade Federal de Santa C atarina 
(UFSC), e da Universidade Federal da Bahia (UFBA). 
Além disso, o grupo conta com um pesquisador em Socio­
logia, da Universidade Federal do M ato Grosso (UFM T). 
O site do projeto, com a relação dos pesquisadores e dos 
projetos de pesquisa, pode ser acessado em h ttp ://lineu. 
cb.ufrn.br/psicoevol/index.php
O principal objetivo desta rede é o de investigarques­
tões tradicionais da Psicologia através da abordagem evolu­
tiva. O s fundamentos teóricos dos estudos realizados por 
este grupo e seus primeiros resultados estão descritos nos 
capítulos que se seguem, com a colaboração de alguns 
pesquisadores que não fezem parte do grupo do Instituto 
do Milênio.
Q uanto esta PE que fazemos no Brasil é restrita em 
relação aos conceitos-chave propostos pela nova aborda­
gem? Em função da diversidade de formações e de orien­
tações teóricas, a PE que adotamos só poderia ser plura­
lista. Temos em comum a abordagem evolucionista e um 
alto padrão de exigência em relação à qualidade da pesqui­
sa que desenvolvemos. Estudos evolutivos do comporta­
m ento hum ano têm recebido enorme atenção da mídia, 
com debates em jornais e revistas mais sérios, até reporta­
gens em programas populares de televisão8. Esta é uma 
área que, se por um lado, atrai grande interesse da popu-
8U m a edição especial da revista Psique (2007, ano II, n .° 6) foi publi­
cada exclusivamente com artigos de alunos de pós-graduação ligados aos 
pesquisadores do Instituto do Milénio, um bom exemplo do interesse da 
mídia.
http://lineu
8 Introdução: Aspectos Históricos
lação de maneira geral, por outro lado, se presta à popu­
larização indevida de anedotas sem fundamentação cien­
tífica e de receitas e conselhos simplistas, na maioria das 
vezes sem qualquer lógica evolutiva a sustentá-los. Isto é 
exatamente o que não queremos para a PE que fazemos. 
O rigor metodológico, a sólida base na teoria da evolução 
e o teste empírico de nossas hipóteses formam o tripé bási­
co de nosso trabalho. É essa a PE que queremos fazer: 
diversa, porém rigorosa, do ponto de vista científico.
O PLANO DESTE LIVRO
Este livro foi escrito tendo em mente o ensino na gradua­
ção e na pós-graduação. Ele contempla, portanto, os funda­
mentos e as questões básicas que norteiam a PE. Cada 
capítulo foi escrito de forma a poder ser lido independen­
temente, mas, por outro lado, a seqüência dos capítulos 
tem uma lógica que pode ser seguida caso o livro venha a 
ser utilizado como livro texto em uma disciplina.
Os Caps. 2 a 4 são introdutórios à área, discutindo 
aspectos históricos do estudo do comportamento, a falsa 
oposição natureza criação, a questão da unicidade do ser 
hum ano e suas implicações para seu estudo científico, e 
as quatro questões deTinbergen (Cap. 2). O Cap. 3 discu­
te um aspecto fundam ental para a PE, a questão do 
ambiente de adaptação evolutiva (AAE) e o conseqüente 
descompasso temporal entre as adaptações e o ambiente 
atual. A localização temporal do AAE e evolução dos homi- 
nídeos, questão extremamente controvertida, é discutida, 
juntam ente com as dificuldades para a reconstrução do 
AAE. Também apresenta alguns modelos para a recons­
trução e faz um a pergunta instigante: nossas habilidades 
têm origem na hum anidade ou a antecedem?
O Cap. 4 analisa os traços evolutivos no Homo sapiens 
sapiens moderno. Discute um a série de características; entre 
elas, bipedalismo, pequeno dimorfismo sexual, cérebros 
grandes, recém-nascidos imaturos, tecnologia, destreza 
manual, linguagem, investimento parental intenso, capa­
cidade de estabelecimento de vínculos, cultura, dieta 
onívora e modo de vida caçador-coletor.
Os Caps. 5 e 6 discutem a cognição e o funcionamen­
to da mente. Ambos abordam a questão da modularidade 
sob pontos de vista um pouco diferentes. O primeiro abor­
da vários modelos de arquitetura da mente, com ênfase na 
modularidade: a concepção modular da m ente hum ana 
de Fodor, a concepção de um processador central de 
M ithen, o m odelo ontogenético de Karmiloff-Smith e 
finaliza com um a proposta de integração aprendizagem,
desenvolvimento e organização cerebral. O Cap. 6 exami­
na hipóteses sobre a evolução da inteligência e da cognição: 
a tecnológica, a do forrageamento, a da inteligência social, 
a da inteligência maquiavélica. Discute em seguida as adap­
tações cognitivas para a vida social e sua ontogênese, e 
avalia visões alternativas sobre o desenvolvimento cogni­
tivo.
O Cap. 7 aborda, de forma comparativa, a evolução da 
linguagem: como fatores biológicos contribuem para que 
seres hum anos de um a mesma com unidade verbal (ou 
cultura) consigam compartilhar uma linguagem simbóli­
ca; quais as semelhanças entre a linguagem simbólica 
hum ana e a comunicação não-verbal que compartilhamos 
com as demais espécies de primatas e com outros animais; 
a linguagem simbólica surgiu recentemente na história 
evolutiva dos humanos ou evoluiu lentamente a partir de 
formas menos sofisticadas de comunicação?
O s Caps. 8 a 11 abordam diferentes aspectos do desen­
volvim ento hum ano na perspectiva evolucionista. O 
primeiro examina a relação entre biologia e cultura e a 
inseparabilidade de diferentes planos de análise: o filoge- 
nético, o ontogenético, o histórico-cultural e o microge- 
nético. O Cap. 9 descreve o cuidado e a responsividade 
parentais à luz da teoria da história de vida e a teoria do 
investimento parental, além das especificidades do esforço 
reprodutivo materno e do cuidado materno e paterno. O 
Cap. 10 avalia, do ponto de vista da PE, por que alguns 
pais maltratam suas crianças e quais situações apresentam 
riscos maiores de abuso e maus-tratos. O Cap. 11, final­
mente, examina a brincadeira à luz das quatro questões 
clássicas de Tinbergen, função, filogênese, ontogênese e 
causas imediatas.
O Cap. 12 trata daquela que é a questão fundamental 
sob a perspectiva evolucionista, a reprodução. A partir da 
análise dos mecanismos de seleção sexual em animais, auto­
res analisam as estratégias sexuais em humanos, avaliando:
a) quais são as características preferidas por mulheres e 
homens como parâmetro para seleção de parceiros sexuais 
e, a partir desse padrão de preferências; b) quais são as 
estratégias esperadas para cada sexo. É analisada também 
a modulação ecológica dessas estratégias e as organizações 
sociais, os sistemas de acasalamento, resultantes da inte­
ração das estratégias e dos mecanismos de seleção sexual.
O Cap. 13 discute a agressão na espécie hum ana e os 
controles culturais impostos à sua expressão. Examina 
também a origem com um com outros animais de vários 
rituais agressivos e a violência organizada e a instituciona­
lizada (do Estado), caracteristicamente humanas.
Introdução: Aspectos Históricos 9
O Cap. 14 examina a contrapartida à agressão, a coope­
ração. Partindo de uma suposta contradição entre a coope­
ração e a aptidão individual, revê as diferentes estratégias 
que favorecem a cooperação, algumas exclusivamente huma­
nas e outras presentes também em outras espécies: a coope­
ração com parentes, o altruísmo recíproco e a teoria dos 
jogos e o altruísmo recíproco indireto. Finaliza examinando 
a evolução do comportamento cooperativo e o envolvimen­
to dos sistemas cognitivos e emocionais nesse processo.
O Cap. 13 analisa a evolução da m entira e do auto- 
engano. Os autores sugerem que o com portam ento de 
mentir, bem como sua detecção sofreram fortes pressões 
seletivas ao longo da evolução e que os humanos, além de 
m entir para os outros, m entem para si mesmos (auto- 
engano), um padrão provavelmente selecionado a partir 
de um a corrida evolutiva entre enganadores e detectores 
de engano. Este capítulo apresenta duas abordagens expli­
cativas, a primeira com abordagem evolutiva e ecológica, 
destacando o contexto em que emergem tais comporta­
mentos, e outra da perspectiva das neurociências, que estu­
da as estruturas e sistemas neurais envolvidos.
O Cap. 16 discute a universalidade do comportamento 
alimentar humano, sua diversidade, marcada pelas diferen­
tes culturas, como também suas semelhanças, que garantem 
a ingestão de todos os nutrientes essenciais para o bom desen­
volvimento e manutenção do corpo humano. Porém, a esco­
lha dos alimentos, a decisão de ingeri-los, ou não, apresentam 
os desafios mais interessantes do ponto de vista evolutivo. 
Este capítulo examinadois padrões contrastantes da escolha 
alimentar: a neofobia, a relutância em experimentar alimen­
tos novos, e a neofilia, seu oposto. A maneira mais eficiente 
que a seleção natural encontrou para lidar com este proble­
ma foi a influência social, presente desde o início da vida e 
importante fonte de informação alimentar.
O Cap. 17 propõe a aplicação da perspectiva evolucio­
nista na compreensão das psicopatologias, um aparente 
paradoxo, pois a mera persistência na população de pato­
logias associadas a bases genéticas parece comprometer as 
premissas básicas dos conceitos darwinistas, que se funda­
m entam na idéia de aptidão do indivíduo à sobrevivência 
e à reprodução. A proposta do capítulo é a de integrar 
conhecimentos sobre psicopatologia das áreas de genética, 
neuroquímica, neuroanatomia, psiquiatria, psicanálise e 
psicologia analítica, usando a abordagem evolucionista. A 
partir dessa perspectiva, as autoras analisam o que consti­
tuem as patologias, os sintomas e as etiologias dessa pers­
pectiva, levando em consideração causas próximas e causas 
últimas. Finalmente, a título de exemplo, são analisadas 
algumas patologias: transtorno do pânico, erotomania, 
depressão (incluindo a depressão pós-parto), dependência 
e esquizofrenia.
O Cap. 18 apresenta um a tese tão inovadora quanto 
polêmica: a idéia de que a evolução hum ana favoreceu o 
fortalecim ento da cooperação intragrupo, levando ao 
desenvolvimento do que os autores chamam de mansidão 
na espécie hum ana. Três argumentos são apresentados a 
favor dessa tese: o enfraquecimento anatômico das armas 
de luta corporal; a organização de caça e coleta, caracte­
rística dos hominídeos por vários milhões de anos, e que 
se constituía em ambiente social igualitário e cooperativo; 
e a mudança súbita provocada pelo advento da agricultu­
ra de larga escala, como fator de ruptura com o m odo de 
vida ancestral.
Acreditamos que o conjunto dos capítulos que forma 
este livro constitua uma excelente introdução à Psicologia 
Evolucionista para alunos de graduação e pós-graduação 
e também para o leigo que mostra curiosidade sobre o 
tema.
2 U m O l h a r E v o l u c i o n i s t a
p a r a a P s i c o l o g i a 1
César Ades
Desde que se constituiu, a psicologia procurou estabe­
lecer a independência de seu enfoque e de seu método em 
relação à biologia. Mas nunca deixou de pagar um tribu­
to ao biológico, nem que fosse como o reconhecimento 
do substrato a partir do qual outra forma de organização 
(da mente, do comportamento) se origina. N a origem do 
pensamento psicológico, está um a posição cartesiana, rara­
m ente explicitada, mas que incom oda (como Descartes 
esteve incom odado para explicar a origem, ao mesmo 
tempo corporal e mental, das paixões humanas) por não 
indicar um a fronteira nítida entre o psicológico e o bioló­
gico e por não proporcionar uma epistemologia capaz de 
dar conta, independentemente, do psicológico. O deter­
m inante biológico não é negado, mas colocado fora do 
âmbito das explicações relevantes acerca da m ente ou do 
comportamento.
Sobre esta ambigüidade, desenvolvem-se dicotomias 
que se auto-reforçam, como a dicotomia entre natureza e 
criação (nature andnurture), entre biologia e cultura, entre 
inato e aprendido, e se criam distâncias ainda maiores do 
que as que norm alm ente existem entre as ciências, os 
departamentos e os cientistas. O conhecimento fica encap­
sulado em áreas não apenas especializadas, mas que se 
colocam como incomensuráveis. Acaba-se tendo a impres­
1 Versão de um a palestra apresentada no IV Congresso N ortc-Nordcstc de 
Psicologia, Salvador, Bahia (2005) c do texto correspondente à palestra 
publicado cm Psicologia: novas direções no diálogo com outros campos 
do saber (N ádia M aria D ourado Rocha e A ntonio Virgilio B ittencourt 
Bastos, Coordenadores), Casa do Psicólogo, 2007.
são de que o objeto de estudo, o ser humano, perde sua 
unicidade e se fragmenta de acordo com as perspectivas e 
os recortes impostos.
Não faz tanto tempo, fiii convidado pelo centro acadê­
mico de um curso de psicologia para participar de uma 
m esa-redonda sobre “H ereditariedade e A m biente” 
(composta de apenas dois participantes, uma antropóloga 
e eu mesmo, talvez no propósito de nos ver defender, ela 
o aporte ambiental e cultural, eu, a base instintiva e bioló­
gica, o que, de feto, fizemos). O tema é bastante polêmi­
co, mais ainda num a época como a nossa, marcada por 
um progresso enorm e no conhecim ento dos processos 
genéticos e por tentativas audazes de aplicação desse conhe­
cimento, inclusive ao comportamento. Em Tábula Rasa
(2004), Stephen Pinker gasta quase 700 páginas para reba­
ter, com paixão, a idéia de que a m ente da criança é uma 
folha em branco, na qual a sociedade e a cultura inscrevem 
tudo.
N o debate, a fala da antropóloga foi principalmente 
dedicada ao estabelecimento do cultural e do psicológico 
como essencialmente independentes do biológico. A natu­
reza simbólica do ser hum ano, o arbitrário e o cumulati­
vo do fato cultural, as transformações da história foram 
contrastados com a determinação mecânica do processo 
genético, incapaz de dar conta do significado. Fez-se 
tam bém um a crítica às interpretações funcionalistas/ 
evolucionistas do com portam ento hum ano, perigosas 
pelas implicações em termos de darwinismo social. Justi­
ficariam tudo o que fosse considerado geneticam ente 
adaptativo, inclusive o estupro. Estava clara, nas coloca­
Um Olhar Evolucionista para a Psicologia 11
ções, a perm anência de um a postura dicotômica, com 
raízes na distinção de Dilthey (1883) entre ciências natu­
rais (Naturwissenchafien) e ciências do espírito ( Geiteswis- 
senchaften). C om o integrar a intenção de compreender 
com a de medir e interpretar de fora, por assim dizer, o 
objeto estudado? Interpretar dados (o problema é definir 
o que são dados) psicológicos em termos biológicos seria 
perder um conteúdo essencial, alienando o conhecimen­
to do ser hum ano da rede de significados que o constitui 
e que passa pela linguagem. Apesar das divergências, o 
debate com a antropóloga foi cordial. Mas não é na mesa 
de discussão que poderá progredir m uito o esforço de 
integração entre as perspectivas da biologia e das ciências 
humanas. Não se trata de apenas efetuar um a tradução 
de termos ou um cut-and-paste de idéias. Mais estimu­
lante e produtivo é o contato que se dá em regiões de 
fronteira, em torno de assuntos suficientemente próximos 
para que a vantagem de olhar de dois ou mais pontos de 
vista se torne explícita. A aproximação se dá, então, atra­
vés do interesse convergente dos pesquisadores e de uma 
transferência natural de modos de pensar e de métodos 
de um lado a outro.
Piaget disse uma vez que uma regra de criatividade era 
olhar ao lado do assunto pesquisado (Lino de Macedo, 
comunicação pessoal), aventurar-se fora dos esquemas, 
procurando outras formas de ver os fatos, à maneira do 
antropólogo que aborda um a sociedade que ele pretende 
compreender com curiosidade e desejo de assimilação. 
Ainda usando o pensam ento de Piaget, eu diria que é 
necessário descentrar a sua perspectiva, ou seja, ver o mesmo 
objeto de uma outra perspectiva, sem abandonar a base 
de especialização. É no surpreender-se diante do objeto 
(porque visto dentro de outro referencial) que está uma 
das raízes da integração entre perspectivas: prender-se 
menos aos modos habituais de conhecer e às posições teóri­
cas e mais à necessidade de conhecer o objeto da forma 
mais completa e interativa possível.
A hierarquia que o senso com um estabelece entre as 
ciências fez m uitos temerem que, num empreendimento 
conjunto, os enunciados da psicologia acabem se reduzin­
do aos da biologia. Não há razão, contudo, para pensar 
que a migração de conceitos seja unidirecional, não há 
perspectivas necessariamente mais básicas ou mais ricas na 
produção de perguntas. Vale um a epistemologia cruzada, 
que se constitui na pesquisa efetuada com conceitos

Outros materiais