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1 Universidade Federal da Paraíba Centro de Tecnologia Departamento de Engenharia de Produção Curso de Graduação em Engenharia de Produção Mecâni ca As vantagens logísticas da industrialização dos ins umos do sub- setor de Edificações Ricardo Gondim Uchôa de Castro João Pessoa - PB, 2008 2 Universidade Federal da Paraíba Centro de Tecnologia Departamento de Engenharia de Produção Curso de Graduação em Engenharia de Produção Mecânica Disciplina: Trabalho de Graduação Orientando: Ricardo Gondim Uchôa de Castro Monografia aprovada em abril de 2008, como requisito para aprovação da disciplina Trabalho de Graduação do Curso de Graduação em Engenharia de Produção Mecânica, Universidade Federal da Paraíba, pela comissão formada pelos professores BANCA EXAMINADORA ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Dr. Homero Catão Maribondo da Trindade – Orientador Departamento de Engenharia de Produção/CT/UFPB ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Dr. Antônio de Mello Villar – examinador Departamento de Engenharia de Produção/CT/UFPB ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Msc. Múcio Antônio Sobreira Souto – examinador 3 Departamento de Engenharia de Produção/CT/UFPB Agradecimentos A DEUS A meu pai, pelo exemplo de trabalhador A minha mãe, pelo exemplo de dedicação A minha madrinha Mariangela Mussi, pelo exemplo de ser humano A minha amiga Cristiane Bezerra, pelas palavras certas nas horas incertas Ao amigo Rivânio Carlos Saraiva (Engº de Produção Mecânico), pelas informações trocadas no transcorrer do curso Ao amigo Clério de Oliveira Rodrigues (Engº Mecânico), pela parceria formada no transcorrer da disciplina mais difícil do curso 4 Sumário Lista de figuras 2 1 Introdução e definição do tema 3 2 Justificativa 6 3 Objetivos 8 3.1 Objetivo geral 8 3.2 Objetivos específicos 8 4 Revisão bibliográfica 9 4.1 Logística 9 4.2 Logística na construção civil 12 4.3 Cadeia de suprimentos 14 4.4 Cadeia de suprimentos na construção civil 16 4.5 Industrialização (desfordizando a produção) 22 5 Metodologia 28 6 Industrialização do insumo concreto 30 6.1 Concreto usinado e bombeado – fluxo logístico 30 6.2 Vantagens logísticas do concreto usinado e bomb eado 34 7 Industrialização do insumo ferro 35 7.1 Ferro fornecido cortado e dobrado – fluxo logís tico 35 7.2 Vantagens logísticas do ferro cortado e dobrado 40 8 Recomendações para estudos posteriores 41 9 Conclusão 42 Referências bibliográficas 43 Anexo 46 5 Lista de figuras Foto 1 – Concreto – duto 31 Foto 2 – Toda a frente de trabalho em cima da laje 33 Foto 3 – Setup de encaixe feito no carro-bomba 34 Foto 4 - Chegado do ferro fornecido cortado e dobrado ao canteiro de obras 35 Foto 5 – Operação de descarga manual do ferro fornecido cortado e dobrado 36 Foto 6 – Etiqueta fornecida pela empresa BELGO 36 Foto 7 – Armazenamento no canteiro de obras 37 Foto 8 – Armazenamento no canteiro de obras 38 Foto 9 – Etiqueta presa na ferragem na etapa de confecção do pilar 39 Forto 10 – Inexistência de desperdício de ferro 39 6 1- Introdução e definição do tema Até alguns anos atrás, os setores que mais resistiam à industrialização no Brasil eram a agricultura e a construção civil. A agricultura se modernizou e hoje é responsável pelo superávit da balança comercial brasileira. Já a construção civil continua utilizando métodos arcaicos e ultrapassados. A sociedade humana aprendeu que somente a fabricação racionalizada e mecanizada pode atender as exigências de custo baixo e prazos reduzidos para os mais diversos setores. Isso vale para a construção civil, onde a industrialização deve ser uma meta e não mera força de expressão. Somente nos últimos anos que o sub-setor de edificações tem buscado introduzir inovações tecnológicas no processo construtivo, pois as obras ofereciam (algumas ainda oferecem), um testemunho de atraso tecnológico, desrespeitando custos e prazos, e apresentando altas taxas de desperdícios nos canteiros, onde os processos de produção são artesanais. Na indústria da construção civil, diferentemente de outras indústrias, não existe uma linha de montagem como no setor de eletro-eletrônicos. Os produtos não percorrem uma esteira, recebendo, ao longo desta, diferentes tratamentos. Ao contrário, os diferentes tratamentos são trazidos até o produto. No entanto, como em qualquer processo produtivo, existe certa seqüência de processos a serem seguidos para se chegar ao produto final esperado, com algumas ênfases dependendo das necessidades do produto final. Alguns desses processos têm maior relevância e se repetem durante a produção, como em muitas indústrias. 7 O sub-setor de edificações apresentou durante muito tempo auto- auficiência no mercado interno, o que diminuía a ação competetitiva, ou seja, o que era produzido era vendido até em períodos de crise. Sendo este o fator principal que levava os empresários a uma acomodação competetiva e ocasionando ineficiência, desperdício e improvisação nas obras. Atualmente, a competitividade vem se tornando mais acirrada, o que provoca uma mudança drástica no perfil das obras. Está ocorrendo na construção civil um processo de mudança na concepção produtiva, levando a que os métodos utilizados sofram evoluções consideráveis e novas técnicas de produção e gerenciamento passem a ter destaque dentro dos canteiros de obras. Assim como a grande maioria dos setores da economia brasileira experimentaram avanços tecnológicos, não poderia ser diferente com a construção civil. A construção civil vem passando por um processo de industrialização, desverticalização ou horizontalização. Há apenas alguns anos o sub-setor de edificações deu a devida importância as questões relacionadas a suprimentos. Antes, a preocupação dos gestores de obras era, basicamente com a área técnica, negligenciando o gerenciamento do fluxo de suprimentos, além de não acompanhar a evolução sentida na cadeia produtiva de outros setores da indústria. O motivo principal desta preocupação é que para iniciar o processo de industrialização deveriam ter maior atenção com a logística a ser aplicada aos materiais necessários,uma vez que estes, em grande maioria, não seriam mais fabricados no canteiro de obras ou deveriam sofrer a menor movimentação interna possível. 8 Hoje a fabricação de elementos estruturais passa a prevalecer, assim como a montagem passa a ter mais destaque que a produção in loco. A movimentação dos materiais nos canteiros começa a ser mais bem planejada, a utilização de equipamentos mais adequados passa a ser fator de peso para a viabilidade do empreendimento, ou seja, a construção civil busca se aproximar muito do processo de industrialização seriada através de melhorias no que tange a logística. Dessa forma, quais as vantagens logísticas da industrialização dos insumos do sub-setor de edificações? 9 2- Justificativa Segundo TAYLOR (2005) em maio de 2001, a Nike anunciou que havia sofrido perda nas vendas no trimestre anterior por causa de problemas em sua cadeia de suprimentos. O valor dessa perda foi expressiva: US$ 100 milhões. Passados três meses, a Cisco Systems, maior fabricante mundial de equipamentos de rede para internet, divulgou que houve depreciação de seus estoques não utilizados, causada por alguma confusão em sua cadeia de suprimentos. O montante dessa depreciação foi ainda mais impressionante: US$ 2,2 bilhões. Esses problemas na cadeia de suprimentos além de impactarem nos lucros das empresas exercem um efeito devastador nos preços das ações. É um preço caro demais para ser pago por um único erro. Um balanço de uma pesquisa de sondagem conjuntural, realizada pelo SINDUSCON no primeiro semestre/97, revelou ser a concorrência do mercado, a principal preocupação dos empresários do setor da construção. Porém para sobreviver e adquirir vantagem competitiva no momento atual, as empresas podem escolher diversos caminhos, desenvolvendo um conjunto de ações coerentes com a estratégia adotada pela empresa. Entre os caminhos identificados por CARDOSO (1997) estão: melhoria técnico-econômica do produto edifício; capacidade de obtenção de financiamentos; articulação entre a concepção, execução e manutenção; domínio dos custos de produção e elaboração precisa de orçamentos; capacidade de preparação, planejamento, desenvolvimento de métodos e antecipação da resolução de problemas; melhoria da logística; domínio e implantação de novas técnicas e métodos construtivos; 10 organização e gestão da mão de obra de produção; emprego de ferramentas e métodos para a melhoria da qualidade; organização e gestão dos subempreiteiros. Segundo VIEIRA (2006), o capital das empresas do setor da construção civil sempre foi empregado com investimentos na área técnico-estrutural, percebendo-se uma grande carência de recursos no desenvolvimento de outras frentes que aparentemente em um primeiro momento não impulsionam a produção, entre elas a logística. VIEIRA (2006) ainda chama a atenção para o fato de que na construção civil houve-se muito falar em ineficiência, descumprimento de prazos, perdas, desperdícios, conseqüentemente, maximização dos custos. Isso tudo é fruto de um mau gerenciamento do fluxo de suprimentos (materiais, serviços e mão-de- obra) em toda cadeia produtiva. Segundo AGAPIOU (1998), o suprimento de materiais na indústria da construção civil é repleto de dificuldades que podem apresentar efeitos significativos na produtividade. Um maior ganho na produtividade é possível se o processo de construção for planejado com uma perspectiva logística. Com base nessas considerações e sendo a construção civil uma indústria que requer grande variedade de insumos por produto executado, é pertinente estudar o tema citado, visto que a logística neste setor encontra-se em um estágio de evolução ainda muito aquém em comparação as outras indústrias. 11 3- Objetivos 3.1- Objetivo geral: � Identificar as vantagens logísticas da industrialização dos insumos do sub- setor de edificações 3.2- Objetivos específicos: � Revisão bibliográfica � Elencar os insumos do sub-setor de edificações mais comumente industrializados � Seleção das empresas a serem investigadas � Análise dos fluxos logísticos (para os insumos concreto e ferro) decorrente da industrialização dos insumos � Identificar as vantagens logísticas do concreto usinado e bombeado e do ferro fornecido cortado e dobrado 12 4- Revisão Bibliográfica 4.1- Logística Atualmente, as novidades são muitas, e professores e grandes empresas de consultoria estão continuamente lançando conceitos, idéias e novidades que prometem revolucionar negócios e indústrias. Lamentavelmente, a maioria dos conceitos e idéias é conjuntural e não se sustenta no longo prazo. Após pouco tempo, caem no esquecimento e não ajudam em muito os desavisados que investiram pesadamente. Quem ainda se lembra da reengenharia (começo dos anos 90)? A logística, por outro lado, já passou dos 50 anos, e muitas das aplicações realizadas há mais de 50 anos continuam sendo o que há de melhor em termos de tecnologia de gestão. As instituições militares foram as primeiras a concentrar esforços nas atividades logísticas, reconhecendo a necessidade de manter-se um sistema eficiente de suprimentos para que alcançassem seus objetivos.1 O desembarque aliado na Normandia – no célebre Dia D - talvez seja o maior exemplo de sucesso de todos os tempos na coordenação sincronizada de uma operação. Não existiria guerra moderna sem logística. Um exemplo recente da importância da logística na área militar é dado por meio da Guerra do Iraque que iniciou em 2002.2 Na operação de invasão ao Iraque duas guerrras diferentes foram sendo travadas. Uma delas envolveu os soldados do front (os militares que efetivamente lutam contra o inimigo). A outra guerra é para permitir que os combatentes lutem sem que lhes falte nada. Segundo cálculos dos especialistas em assuntos militares, para cada combatente americano no Iraque foram necessários outros dois soldados envolvidos na 13 logística. Isso signfica que do contingente de 300000 soldados dos Estados Unidos e da Grã-Betanha, 1/3 luta de fato. O restante trabalha para que eles lutem. NOVAES et al., (1996) ressalta a importância da logística para os mais divesos setores empresariais. Nas empresas atacadistas, tem grande importância para a logística, a capacidade de armazenagem de produtos e o seu controle. Nas transportadoras é fundamental a existência de mecanismos eficientes para a distribuição de produtos. Nas indústrias de transformação é fundamental a capacidade de abastecimento e a localização das áreas de processamento próximas dos centros produtores das matérias-primas. Conforme mencionado em VIEIRA (2006) os benefícios de uma logística bem estruturada e implementada já são tão reconhecidos e valorizados que todos os setores já aderiram a esta forma de administrar. Em um passado recente, ter profissionais de logística era coisa de empresas do setor de transportes e produção. Hoje é lugar comum instituições financeiras, hospitais, grandes magazines e outros setores procurarem porfissionais de logística para adequarem suas administrações. Poucos conceitos são tão mal compreendidos no mundo dos negócios quanto a logística. Ao contrário da visão tradicional, logística é muito mais que o transporte de mercadorias. Sua importância na última década tornou-se vital para a produtividade, a eficiência e a rentabilidade dos negócios. DASKIN (1985) define logística como o planejamento e a operação dos sistemas físicos, informacionais e gerenciais necessários para que os insumos e produtos vençam condicionantes espaciais e temporais de forma econômica. Ou 14 seja, a logística não se resume somente a movimentação de componentes, materiais e produtos propriamentedito, ela envolve principalmente a maneira como esses elementos irão se movimentar, em que momento, em que local, em que quantidade ideal, como será a forma que isso tudo será transmitido ou como irão fluir essas informações. NOVAES (2001) diz que a logística empresarial agrega valor de lugar, de tempo, de qualidade e de informação. Para BOWERSOX e CLOSS (2001), a falta de atenção dada à logística, durante a evolução do conceito de marketing, pode ser atribuída a três fatores importantes. Primeiro, antes da grande difusão dos computadores e de técnicas quantitativas, não havia nenhum motivo para se acreditar que funções logísticas pudessem ser integradas ou que essa integração de funções pudesse aprimorar o desempenho total da empresa. Em segundo, a contínua pressão no sentido de elevar os lucros, que teve início na década de 50, em conjunto com as condições instáveis, que continuou durante a década de 90, refletem na preocupação gerencial em torno da contenção e redução de custos. Para BOWERSOX e CLOSS (2001), a logística continua sendo uma área relativamente inexplorada em termos de aumento de produtividade. O terceiro fator à ampla adoção do princípio da logística integrada foi a dificuldade de quantificar o retorno sobre o investimento que poderia ser obtido. Os problemas de quantificação resultaram, em parte, da dificuldade da administração entender o real custo do estoque. Era difícil estimar o retorno inanceiro obtido a partir da redução do investimento em estoque. 15 Para BOWERSOX e CLOSS (2001), esses fatores básicos, somados à resistência natural às mudanças, foram as causas para que nem todos os esforços iniciais no sentido de implementar os princípios logísticos tivessem sucesso. 4.2 Logística na construção civil Segundo VIEIRA (2006) embora o conceito logístico não tenha sido ainda incorporado de uma forma efetiva e mais abrangente na construção civil, é perfeitamete reconhecida sua eficiência no gerenciamento nos mais diversos sistemas produtivos. Ele se apresenta como uma grande solução aos inúmeros problemas encontrados dentro deste setor industrial. Para ZEGARRA (2000), no subsetor de edificações, o termo logística é praticamente novo. A maioria das empresas encontra-se ainda em um estágio de evolução muito precário em comparação aos avanços da indústria seriada. A maioria das perdas na construção civil está fortemente ligada a uma gestão logística pouco desenvolvida e à falta de atenção que as empresas do setor dão à área. Para VIEIRA (2006), as perdas e os desperdícios encontram-se fortemente relacionados a uma gestão logística deficiente. São destacados onze sintomas que ressaltam essa deficiência: � Perdas de materiais em transporte; � Perdas por superdimensiomanto como consumo excessivo de cimento ou outros aglomerantes por tracos demasiadamente ricos; 16 � Perda de materiais em correcoes de retrabalhos ocasionados por inconformidades com as especificacoes ou por baixa qualidade; � Perdas de materiais ocasionados por problemas como ruptura de escoramentos, desaprumo e falta de esquadro, ondulações em revestimentos, vazamentos ou entupimentos de tubulações, pisos com caimentos invertidos, pinturas em superficies despreparadas; � Tempo gasto com mão-de-obra para execução de retrabalhos; � Tempos ociosos de mão-de-obra devido a deficiência no planejamento da proudução; � Tempos ociosos de equipamentos por deficiência no planejamento da produção e/ou ausência de uma política de manutenção; � Compras feitas com base no menor preço, refletindo em insumos de baixa qualidade; � Programa de seleção, contratação e treinamento inadequados; � Falhas pós-transação, caracterizada por correções de imperfeições construtivas com custos elevados dentro dos prazos de garantia; � Atrasos de cronogramas, repercutindo em multas, custos financeiros, improvisações, horas extras, etc. Para CARDOSO (1996), comparando a logística das empresas construtoras com a logística das empresas da indústria manufatureira, nota-se que enquanto na indústria seriada há três focos fundamentais: logística de abastecimento (externa), logística de manufatura (interna) e logística de distribuição; no setor da construção civil, em particular no subsetor de edificações, há somente dois focos: 17 → Logística de suprimentos (externa), encarregada dos fluxos de bens e serviços desde a identificação e compra até a distribuição dos materiais e serviços à obra, além da gestão logística de fatores relacionados à mão-de-obra (alojamento, refeições, transporte etc.). → Logística de canteiros (interna): encarregada principalmente dos fluxos físicos dentro da obra, garantindo a disponibilidade dos recursos nas frentes de trabalho. 4.3 Cadeia de suprimentos O poder do consumidor sobre as empresas nunca foi tão intenso como nos tempos atuais. Mesmo quem não atua em contato direto com o elo final de uma cadeia produtiva já se deparou com essa verdade. Qualquer melhoria de qualidade ou no tempo de entrega de um componente ou da rotação de uma determinada mercadoria no ponto-de-venda tem por objetivo a competitividade, visando à satisfação do cliente. As cadeias de suprimentos tornaram-se vitais para qualquer segmento da atividade econômica, dado que sua maior ou menor eficiência pode ter poder decisivo sobre a opção do consumidor. A compra não é mais decidida apenas pela tradição, pela fidelidade ou pela comodidade do cliente e sim por um conjunto muito mais amplo de itens que incluem, dentre outras coisas, qualidade, preço, agilidade na entrega, etc. Segundo SILVA FILHO (2006) em um passado não muito distante, quando a inflação era galopante, poucas companhias estavam realmente interessadas em eficiência operacional. O importante era o gerenciamento do caixa, as aplicações 18 financeiras que se faziam, os aumentos de preços e, realmente, o resultado operacional tinha um peso muito pequeno para muitos negócios. Hoje vivemos em um mundo diferente, com maior estabilidade econômica, em que a competição está cada dia mais acirrada, e a inovação deve ser colocada ao alcance dos consumidores de maneira rápida e eficiente. Agora, a eficiência operacional tem um peso muito grande e, tê-la, ou não, significa a diferença entre ter um balanço positivo ou negativo no final do ano. Conforme mencionado em FRIEDMAN (2007), para avaliar o quanto a cadeia suprimentos se tornou uma fonte de vantagem competitiva e de lucro no mundo atual, pense no seguinte fato: o Wal-Mart hoje é a maior empresa de varejo do mundo, e não fabrica uma única coisa. Tudo o que “faz” é uma cadeia de suprimentos hipereficiente. BERTAGLIA (2003) que usa o usa o termo cadeia de abastecimento conceitua como o conjunto de processos requeridos para obter materiais, agregar- lhes valor de acordo com a concepcao dos clientes e consumidores e disponibilizar os produtos para o lugar (onde) e para a data (quando) que os clientes e consumidores os desejarem. Também segundo BERTAGLIA (2003) a cadeia de abastecimento apresenta modelos que variam de acordo com as características do negócio, do produto e das estratégias utlilizadas pelas empresas para fazer com que o bem chegue às mãos dos clientes e consumidores. 19 4.4 Cadeia de suprimentos na construção civil Sabe-se que o desempenho operacional no setor da construção civil no Brasil não acompanhou a evolução que foi sentida nos demais setores industriais, convivendo ao longo dos anos com o desperdício e a improvisação. Sempre houve uma acomodação por parte dos empresários do setor que de uma maneira conivente, contabilizava a ineficiência e o desperdício no orçamento da obra em vez de procurar alternativas eficazes de melhorar o desempenho. Hoje, com a pressão exercida pela competitividade, uma nova postura é exigida para o setor para que se possaalcançar uma eficiência opereracional. Conforme já foi citado no tópico justificativa, em uma pesquisa realizada pelo SINDUSCON em 1997, foi constatada que a principal preocupação dos empresários da construção é a concorrência do mercado. Este fato fez com que as empresas construtoras buscassem estratégias que proporcionassem uma maior eficiência operacional em suas atividades voltadas à produção. Segundo VIEIRA (2006), as obras verticais de edificações são as que apresentam características operacionais mais complexas, tanto com relação a mão-de-obra ou multiplicadade de funções envolvidas quanto a grande diversida- de materiais utilizados. A mão-de-obra é mais diversificada, pois envolve muitas equipes de especialistas, como: pedreiros, carpinteiros, azulejistas, eletricistas, encanadores, operadores de equipamentos diversos, gesseiros, etc.; e a diversidade dos materiais é muito grande: concreto, elementos pré-moldados, blocos, aços, vidros, esquadrias, ferragens, madeira, tintas, cerâmicas, gesso, eletrônicos, etc. 20 KOSKELA E VRIJHOEF citado em ALVES et. al. (2007) sugerem quatro focos para comprender como funcionam as cadeias de suprimentos da construção civil. � Foco 1 – interação entre o canteiro de obras e seus fornecedores imediatos: o objetivo é reduzir os custos e as durações das atividades através da cooperação entre empresas construtoras, empreiteiras e fornecedoras. Esse foco é específico visto que almeja a redução de custos sem se preocupar muito com os efeitos que a cadeia de suprimentos pode causar nas atividades do canteiro. � Foco 2 – foco na cadeia que fornece suprimentos ao canteiro de obras: o objetivo é alcancar a redução de custo por meio de melhorias na logística, tempo de fornecimento (lead time) e redução dos estoques. Fornecedores da cadeia devem trabalhar de forma conjunta, de modo a definir uma cadeia de suprimentos otimizada, a qual considera diversos fatores relativos aos custos logísticos e de produção � Foco 3 – transferência de atividades do canteiro para outras localidades: o objetivo é tirar vantagem de ambientes mais controlados, fora do canteiro de obras. � Foco 4 – gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos com o canteiro de obras: o objetivo e fazer com que fornecedores, empresas, construtoras, 21 clientes, e empreiteiros trabalhem de forma conjunta para melhorar o desempelho da cadeia de suprimentos com um todo. Percebe-se que o foco 3, nada mais é do que o processo de industrialização da construção civil, que será detalhado mais adiante. SILVA (1996) diz que, no sentido da racionalização de processos, os seguintes fatos aconteceram ou vem acontecendo: � Substituição de componentes tradicionais por outros de mesma função. � Desenvolvimento de novos materiais e componentes que modificaram as técnicas de execução como: impermeabilização com materiais fibro- asfálticos, aditivos químicos para concretos e argamassas (aceleradores e retardadores de pega, plastificantes, impermeabilizantes, etc), tintas especiais para aplicação em diferentes bases de suporte e diferentes acabamentos, esquadrias de PVC, materiais isolantes térmicos e acústicos, concreto de alto desempenho com ou sem o emprego de microssílica, sistemas de vedações em painéis (gesso acartonado), etc. � desenvolvimento de novas formas de fornecimento de materiais e o surgimento de serviços de preparação prévia dos materiais e componentes que retiram do canteiro algumas operações, como: fôrmas prontas, fornecimento do concreto usinado, aço cortado e dobrado, argamassas pré-misturadas em centrais, etc. � introdução de novas ferramentas e equipamentos de trabalho nos canteiros de obras a partir da racionalização de determinados serviços: misturadores e projetores de argamassa, silos de argamassa, bisnaga para 22 assentamento de blocos, carrinhos de transporte em “pallets”, diferentes tipos de andaimes, nível a laser, etc. � racionalização de serviços de execução a partir da elaboração de projetos de produção para, por exemplo, fôrmas de madeira, execução de lajes ditas racionalizadas, alvenaria de vedação, impermeabilização, etc. Tais projetos elevam o grau de integração com os demais projetos, melhorando a coordenação gerencial da obra e minimizando interferências entre os subsistemas. � melhoria das condições de trabalho em canteiros de obras, com inúmeras iniciativas que atendem e extrapolam as exigências das normas técnicas do Ministério do Trabalho. � modernização da estrutura organizacional e de gestão das empresas construtoras por meio da incorporação de práticas voltadas à racionalização dos processos administrativos e gerenciais e à melhoria das relações capital-trabalho como, por exemplo, a implantação de sistemas informatizados integrados entre as várias áreas da empresa e os sistemas de remuneração por participação nos resultados das empresas. Para VIEIRA, (2006), analisando a manufarura na construção civil, observa- se que há diversos agentes, como fornecedores de ferramentas e equipamentos; fornecedores de serviços (mão-de-obra); fornecedores de materiais no canteiro; fornecedores de subsistemas (esquadrias, ferragem pré-pronta, elementos pré- moldados), além dos agentes como os projetistas: arquitetônico, estrutural e instalações. 23 ZEGARRA (2000), ilustra tal consideração com um quadro onde apresenta a grande diversidade de agentes que participam do processo de produção, com uma breve caracterização dos agentes. 24 É interessante notar que grande parte desses agentes não existia no mercado há pouco tempo atrás como projetistas de produção, corte e dobra de aço, fôrmas, “paredes prontas” etc.. Esses novos fornecedores são originados das mudanças que estão acontecendo no setor de construção civil. A elevada competição faz com que as empresas construtoras tenham que otimizar seus custos. Assim, optam por delegar parte de sua produção para terceiros com intuito de otimizá-la. É a chamada industrialização, desverticalização ou horizontalização, ZEGARRA (2000). Segundo SILVA et al., (1998), a delegação de atividades de produção para empresas subcontratadas não se caracteriza em nenhuma novidade no setor, porém as vezes esta estratégia cumpre mais o objetivo da construtora se esquivar de responsabilidades, sejam elas trabalhistas, transferindo estas obrigações para os subempreiteiros, ou sejam responsabilidades técnicas, quando as construtoras não conseguem dominar totalmente os processos de trabalho executados na obra. O fato novo é que agora surge no mercado, a busca e a oferta de serviços diferenciados que envolvem a preparação (fora do canteiro) e o fornecimento dos insumos utilizados na produção. É o caso das empresas especializadas em paineis de gesso acartonado (dry-wall), aços pré-cortados e dobrados, paineis pré- moldados, sistemas de fôrmas, entre outros, que realizam não so os serviços em obra, mas também fornecem os materiais e componentes necessários ao serviço e muitas vezes preparam os projetos específicos para produção das partes da obra que vão executar, SILVA et al., (1998). Essas mudanças fazem com que a gestão da cadeia de suprimentos na construção civil assuma extrema importância. A dependência cada vez maior nos 25 fornecedores para a etapa de produção e a busca por parte das empresas de tecnologias e não simplesmente de materiais são fatores que indicam a força crescente que os fornecedores estão adquirindo. Assim, nota-se uma tendência das construtoras em se tornarem empresa montadoras de edifícios, em um movimento análogo ao da indústria automobilística, em que a integração de diversos subsistemas (estruturas, instalações etc.) por meio de projeto e planejamento sistêmicos e de processos de gestão e controle específicos no canteiro de obras torna-se o principal meio paraa produção de edifícios. Outro importante aspecto relacionado à cadeia de suprimentos na construção civil é o fato de que ela emprega um elevado número de diferentes materiais que variam desde materiais in natura como areia, pedra etc., passando por produtos semi-elaborados ou que ainda vão sofrer alguma transformação como cimento, tijolos etc. até produtos com alta tecnologia como elevadores inteligentes, sistemas de refrigeração entre outros. Algumas iniciativas isoladas já existem no setor, como a entrega de tijolos paletizados, concreto usinado e bombeado, ferragem pré-pronta etc. Porém, a experiência logística de outros setores industriais poderiam trazer muita contribuição para a construção civil. 4.5 Industrialização (desfordizando a produção) Segundo AMATO NETO (1995), a desintegração vertical refere-se ao movimento de redução do tamanho da cadeia de atividades de uma empresa, tanto no nível administrativo (redução do número de níveis hierárquicos de uma 26 dada estrutura organizacional), como também no nível de produção, por meio da redução e/ou eliminação de alguns processos, de seções produtivas ou de apoio a produção, ou simplesmente, eliminação de alguns postos de trabalho. Segundo VIEIRA, (2006) nos últimos anos vem ocorrendo algumas tendências de estratégias de construção no setor de edificações em vista das mundanças conjunturais que vem acontecendo. Essas tendências visam ao equacionamento de problemas crônicos enraizados no setor relacionados à falta de eficiência, produtividade e ao grande volume de entulhos produzidos por perdas e desperdícios no desenvolvimento dos processos. Um dessas estratégias é o processo de industrialização da construção. Ela se baseia na transferência de parte do processo produtivo do canteiro para o setor de suprimentos, sendo que algumas etapas passam a ser realizadas por mão-de-obra especializada, tornando as atividades repetitivas e padronizadas. Segundo VIEIRA, (2006) a industrialização se processa através da transferência de algumas etapas de atividades da manufatura que seriam confeccionadas no próprio canteiro e que são eliminadas, passando a ser fornecidas por terceiros. Para SILVA et al., (1998), desverticalização refere-se à transferência da preparação de materiais e componentes do canteiro de obras para as centrais de produção das empresas especializadas que preparam de forma industrializadas os materiais que serão empregados e utilizam equipamentos específicos na aplicação/realização das atividades em obra. Uma característica importante da produção fordista diz respeito a integração vertical da produção, ou seja, a reunião tanto quanto possível, das 27 atividades produtivas e de apoio em uma mesma empresa e, preferecialmente em uma mesma planta industrial. Isso implicava na imobilização de grandes quantidades de recursos em instalações, equipamentos, e compromissos salariais, etc. Como alternativa para ratear os altos custos surge a desintegração vertical (desverticalização, horizontalização, industrialização) da produção, onde as grandes empresas passam a delegar etapas periféricas do processo produtivo a outras empresas subcontratadas, buscando-se assim, fornecedores que consigam produzir componentes sucundários com menores custos, enquanto a concepção e os componentes furndamentais do produto, permancem na empresa central. Um exemplo bastante elucidativo do quanto à verticalização pode trazer malefícios a uma empresa, pode ser visto em THOMPSON et al., (1998): “Um dos exemplos mais notáveis de aumento da escala de operações de uma planta além do tamanho ótimo ocorreu em 1920, quando a Ford Motor Company construiu uma planta gigantesca de produção e montagem de automóveis em River Rouge, subúrbio de Detroit. A planta de River Rouge estava projetada para centralizar todo o espectro de atividades relacionadas com a produção de automóveis. Somente nessa planta, a Ford empregava 75 mil trabalhadores produzindo coque, aço, ferro fundido e as partes e componentes de carros e tratores, além de abrigar todas as atividades relacionadas com a montagem dos veículos. A planta ocupava 1000 acres de terreno e possuía 93 estruturas separadas, 23 das quais eram edifícios centrais. O terreno possuía ainda cerca de 150 quilômetros de estrada de ferro e 37 quilômetros de correias transportadoras. Ela exigia uma equipe de manutenção de 5000 pessoas para 28 manter sua limpeza; a cada ano, a equipe de limpeza utilizava 5000 esfregões e 3000 vassouras, além de 86 toneladas de detergentes no chão e nas paredes e em mais de 1 milhão de metros quadrados de janelas. Tornou-se rapidamente evidente que o tamanho dessa planta estava além do ótimo. De acordo com algumas testemunhas, a planta era tão grande e complexa que os gerentes de alto escalão da planta tinham pouco contato e pouca compreensão do seu funcionamento global; os gerentes de escalão inferior se perdiam na confusão gerada por várias e complexas atividades. O fluxo constante e contínuo de materiais para dentro e de automóveis para fora reduziu a eficiência do trabalho dos operários e da gerência. De acordo com um executivo da Ford: "Todo mundo estava inquieto. As pessoas ficavam andando em círculos e não sabiam o que fazer. Fisicamente, todo mundo parecia uma máquina a vapor, mas não mentalmente. Enquanto estivessem caminhando, estavam trabalhando duro. Quanto mais um trabalhador ficava correndo ao redor da fábrica, melhor ele era... Os executivos não possuíam escritórios - apenas mesas dispostas ao longo da fábrica. Eles não podiam manter registros, e os executivos de mais baixo escalão não podiam discutir os problemas da fábrica em conjunto." Em última análise, as ineficiências da planta eram produzidas pelo seu próprio gigantismo. As idas e vindas de um exército de trabalhadores, a chegada de enormes carregamentos de matérias-primas, o labirinto de linhas de montagens e o transporte de milhares de carros - tudo isso feito de uma forma centralizada - não só criaram enormes problemas de congestionamento como também se tornaram um pesadelo para os operadores e gerentes. 29 A Ford logo percebeu que era bem mais barato transportar as partes e componentes dos veículos para serem montadas em plantas descentralizadas do que tentar centralizar todas as atividades de fabricação e montagem dos veículos em um único lugar. Em poucos anos, a Ford Motor Company começou a construir plantas exclusivamente de montagem de veículos e por volta de 1928 possuía, só nos Estados Unidos, 35 dessas plantas. Desde então, a maior parte do complexo industrial de River Rouge vem sendo desativada; nos últimos anos, apenas a fundição permanece em uso.” Em coerência em este ideal de verticalização, Ford chegou até mesmo a implantar um projeto de cultivo de seringueiras no Brasil, como parte do processo de produção de pneumáticos para veículos, WOMACK et al., (1992). Hoje a realidade na Ford é outra. Conforme FRIEDMAN, (2007), em 2001 a Ford Motor Company entregou sua lenta e emaranhada rede de distribuição à UPS - United Parcel Service (operador logístico norte-americano), permitindo-lhe penetrar no seu âmago a fim de identiifcar quais eram os problemas e enxugar sua cadeia de suprimentos. A UPS cortou em cerca de 40% o tempo que os automóveis levavam para chegar aos estacionamentos das concessionárias. Os insumos industrializados mais comumente encontrados no sub-setor de edificações são: � Concreto usinado e bombeado � Ferro fornecido cortado e dobrado � Alvenaria estrutural � Paineis pré-fabricados de vedação externa � Lajes pré-fabricadas 30 � Paredes de gesso acartonado (dry-wall) � Argamassa industrializada No trabalho aqui exposto, serão identificadas as vantagens logísticas dos insumos concreto usinado e bombeado, assim como do ferro fornecido cortado edobrado. O primeiro insumo citado já é bastante difundido. Já o ferro fornecido cortado e dobrado foi introduzido há pouco tempo no leque de opções de insumos industrializados do sub-setor de eficicações. Na cidade de João Pessoa, muitas construtoras ainda não usam em suas obras. 31 5 - Metodologia Para SELLTIZ (1975), pesquisas têm o objetivo genérico de aumentar o conhecimento da sociedade sobre determinado fenômeno. Podem atingir o meio acadêmico de formas diversas: aumentando a familiarização com o fato, a partir do qual se pode levantar hipóteses e problemas a serem pesquisados; observando a freqüência com que o fenômeno ocorre e verificando alguma hipótese relacionada ao fenômeno. O processo de coleta de dados compreende duas fases distintas. A primeira consiste na revisão bibliográfica, nos levantamentos documentais e a segunda consiste na pesquisa de campo. A revisão bibliográfica tem como objetivo fornecer elementos que servem como base conceitual e instrumental para as etapas seguintes. Tal pesquisa cobriu livros, dissertações, artigos científicos. Essa fase também serviu para identificar conceitos importantes investigados e tratados na pesquisa de campo. A segunda fase constituiu-se de uma pesquisa de campo, junto às empresas construtoras, a fim de colher informações técnicas. Para a coleta de dados dentro das empresas, optou-se pela técnica da entrevista. Sendo um estudo de caso, cujo tema é pouco explorado, a técnica da entrevista foi considerada a mais adequada. Forma escolhidas duas obras de edifícios situados na cidade de João Pessoa- PB. A obra objeto de estudo selecionada para o insumo concreto usinado foi da Construtora ABC, edifício Boulevard Cabo Branco, obra já concluída. 32 Já a obra objeto de estudo selecionada para o insumo ferro fornecido cortado e dobrado foi da Construtora Hema, edifício Chateau de Montparnasse, situado no bairro do Bessa, obra ainda em curso. A empresa fornecedora do concreto usinado é a Polimix, situada na cidade de João Pessoa. Já a empresa fornecedora do ferro cortado e dobrado é a BELGO (grupo Arcelor), situada na cidade de Recife. Os dados foram coletados in loco nas obras descritas acima, onde se buscou infomações técnicas com os engenheiros e mestre-de-obras responsáveis pelas obras. 33 6 - Industrialização do insumo concreto Além de ser normalmente, o material de maior volume consumido em uma obra, o concreto, por possuir função estrutural, exige cuidados especiais do construtor, da especificação a cura. 6.1 - Concreto usinado e bombeado – fluxo logístico A concretagem começa com o recebimento do concreto, verifica-se se a nota fiscal está de acordo com o prescrito na especificação do concreto (fck, volume, abatimento). Para cada caminhão betoneira entregue o mestre ou o engenheiro acompanha a realização do abatimento do tronco de cone (slump teste), a fim de controlar a trabalhabilidade e a quantidade de água do concreto. Quando o abatimento do tronco do cone não corresponde à medida prescrita 8 cm, o engenheiro manda bater mais o concreto do caminhão e é repetido o teste até ser aprovado. Antes do lançamento do concreto é feito à verificação das fôrmas que devem está abundantemente molhadas. Neste momento é sempre importante a presença do Mestre e do engenheiro. O início da concretagem é planejado de forma que não haja interrupções nas atividades, nem necessidade de ultrapassar o horário de trabalho. Os imprevistos como chuvas intensas, a quebra de equipamento e o atraso na entrega do caminhão podem interferir na atividade de concretagem. Existe um tempo a ser respeitado para o lançamento do concreto de 2h30min, contado a partir da saída do caminhão até o final do lançamento, para não alterar as propriedades do concreto. 34 Logo após o lançamento do concreto, este é vibrado ou socado (adensamento), continuamente e energicamente, de modo que o concreto preencha, totalmente toda a fôrma e envolva completamente a armadura. No lançamento do concreto temos um exemplo típico do que vem a ser uma operação com princípios just in time. Um concreto-duto leva o concreto até a laje, agregando assim valor de lugar. O concreto-duto que vai da calçada da rua até a laje é usado para fornecer concreto no momento necessário de enchimento da laje. Apesar de ser uma prática já antiga, não é nenhum exagero elencar os benefícios logísticos trazidos por ela. O tempo, a mão-de-obra e os equipamentos são poupados. Figura 1 – Concreto – duto Caso não existisse essa operação de concreto usinado e bombeado, homens teriam que se desdobrar para coletar concreto da betoneira instalado no térreo e levar até o andar onde a laje está sendo enchida. É claro que o elevador 35 de obra (também conhecido como gaiola) seria usado como meio de transporte, mas mesmo assim muito tempo seria perdido. Além disso, na operação de concreto usinado e bombeado, o elevador de obra poderia nessa lacuna de tempo, servir para outras atividades. Então, sem sombras de dúvidas, o concreto- duto é uma grande evolução do ponto de vista da logística. A empresa terceirizada se encarrega do projeto do concreto-duto. Ele fica alocado em uma posição estratégica bem ao centro, estando praticamente equidistante de todas as extremidades da laje. A medida que o trabalho vai andando, ou seja, a medida que a laje vai sendo enchida, o duto precisa passar por um acoplamento com outro duto flexivel, para que assim o concreto ejetado pela bomba possa vencer as condicionantes espaciais. Deve-se ter o cuidado de encaixar bem o duto, pois pode acontecer de soltar devido a pressão a que é submetido. Isso atrasa um pouco o serviço, comprometendo assim o valor de tempo, tão importante na logística. Percebe-se que toda a frente de trabalho fica alocada em cima da laje. Aí pode-se vislumbrar a grande vantagem logística, pois os operários não precisam ficar no vai-e-vem com os carros-de-mão para coletar concreto na betoneira que fica instalada no térreo. Ver figura 2. 36 Figura 2 – Toda a frente de trabaho em cima da laje Deve-se pensar também que no caso do concreto produzido na obra, a dificuldade que seria manobrar com o carro-de-mão em cima da ferragem. Além do caminhão-betoneira, existe uma carro onde está a bomba de concreto. Nota-se que pelo fato do encaixe dos dutos ser feito no carro-bomba e não no caminhão, temos um ganho no fator de tempo, pois o setup de encaixe de dutos é feito apenas uma vez. O caminhao é solto. Logo quando o concreto acaba, basta o caminhão sair para que outro chegue sem que seja feito nenhum setup de encaixe. Ver figura 3. 37 Figura 3 – Setup de encaixe feito no carro-bomba 6.2 - Vantagens logísticas do concreto usinado e bo mbeado Vantagens Descrição Aumento da produtividade da concretagem Para concretar a laje do edifício Boulevard Cabo Branco com o concreto usinado levou em torno de 6 horas. Utilizando um processo artesanal seria necessário três dias para encher a mesma laje, segundo informação do engenheiro da obra. Reduz o custo final de concretagem Bastando para isso pensar em termos de todas as lajes que compõem um edifício. Permite a continuidade do fluxo de concreto Um caminhão-betoneira tem capacidade de 8 m3 de concreto. Segundo o engenheiro da obra, em 30 minutos é feito o lançamento dessa quantidade. Redução da quantidade de mão-de-obra No processo artesanal seriam necessários duas equipes (uma no térreo junto a betoneira e outra na laje) 38 7 – Industrialização do insumo ferro A ferragem é uma das partes mais importante na construção, dela depende a segurança da estrutura das edificações. Como os pavimentos tipos se repetem, existe uma maior dificuldade de interpretaçãodos projetos no início da estrutura, nos pavimentos que antecedem o pavimento tipo (subsolo, garagem e térreo), em função também da falta de familiarização com o projeto. 7.1 - Ferro fornecido cortado e dobrado – fluxo log ístico Todo o carregamento de ferro cortado e dobrado chega em um caminhão da empresa tercerizada. A descarga dos vergalhões é feita de forma manual com um homem em cima do caminhão conferindo o pedido e outros dois homens levando os vergalhões para o local onde serão armazenados. O tempo para descarregar o caminhão dura em torno de duas horas. Ver figura 1 e 2. Figura 4 - Chegado do ferro fornecido cortado e dob rado ao canteiro de obras 39 Figura 5 - Operação de descarga manual do ferro for necido cortado e dobrado A conferência do pedido se dá através da leitura de uma etiqueta conforme pode ser visto na figura abaixo Figura 6 - Etiqueta fornecida pela empresa BELGO 40 Essas etiquetas facilitam bastante o controle dos insumos até para um leigo no assunto, pois elas especificam vários itens desde o nº da prancha até o esboço do tipo de ferro. Além destas etiquetas presas as ferragens, todo o pedido juntamente com suas especificações também podem ser observadas pelo romaneio que a empresa fornece o ferro cortado e dobrado. Ver Anexo. Todos os ferros cortados e dobrados ficam armazenados no canteiro de obras, a linha de montagem da construção civil, pronto para serem postos nas vigas, lajes e escadas assim que forem requisitados pelos operários. Figura 7 - Armazenamento no canteiro de obras 41 Figura 8 - Armazenamento no canteiro de obras Vale salitentar que é feito o pedido do ferro pronto com antecedência e para apenas uma laje. Isso acontece para poupar espaço no canteiro de obras, no intuito de facilitar o fluxo de materias dentro do canteiro de obras (como carros de mão) assim como o fluxo de traseuntes que circulam e trabalham na obra. As etiquetas são tão importantes que podem ser vistas presas as ferragens até quando os pilares já estão sendo confeccionados. Ver figura 9. 42 Figura 9 - Etiqueta presa na ferragem na etapa de c onfecção do pilar Pode-se observar pela figura 10 que não há pedaços de ferro espalhados pela laje, o que comprova a inexistência de desperdício de ferro. Além desse benefício logístico, isso ajuda a não sujar o ambiente de trabalho, assim como minimiza os acidentes de trabalho por tropeços em pedaços de ferro. Figura 10 – Inexistência de desperdício de ferro 43 Para o engenheiro responsável pela obra do edifício Chateau de Montparnasse, as vantagens mais visíveis são a agilidade da obra já que duas etapas (corte e dobra do ferro) são suprimidas, diminuição do custo de mão-de- obra, pois deixa de existir duas equipes (para cortar e dobrar) e desperdício inexistente. 7.2 - Vantagens logísticas do ferro fornecido corta do e dobrado Vantagens Descrição Eliminação quase total de perdas e desperdícios de ferro O corte é preciso nas dimensões estipuladas no projeto, o que acarreta por reduzir as perdas Otimização do trabalho Fácil rastreamento das peças/posições identificadas nas etiquetas assim como pelo romaneio fornecido pela empresa Agilidade das atividades e custo mais baixo A mão-de-obra para as tarefas de corte e dobra são suprimidas Redução no cronograma de produção Com um bom planajemento logístico junto com ao fornecedor é possivel diminuir os prazos de execução de lajes e pilares Maior organização do canteiro com reflexos na limpeza Além da forma como o ferro chega na obra (em lotes), o que facilita o seu armazemento, não há geração de entulho de ferro, pois não existem sobras de ferro, 44 8- Recomendações para estudos posteriores � Investigar a industrialização dos insumos do sub-setor de edificações a nível Nordeste � Investigar a cadeia de fornecedores de insumos industrializados para o sub- setor de edificações a nivel Nordeste � Elencar outros insumos industrializados que podem trazer vantagem logística para o sub-setor de edificações 45 9 - Conclusão Por tudo que foi exposto até aqui não há dúvidas de que os insumos industrializados trazem vantagens logísticas para as obras do sub-setor de edificações. Alguns destes insumos já foram adotados em massa, como no caso do concreto usinado e bombeado, já outros como o ferro fornecido cortado e dobrado ainda não conquistaram o lugar de destaque, apesar de merecer. O fato é que os construtores precisam saber calcular a economia nos custos indiretos, pois a industrialização é sistêmica. Também precisam compreender o quanto importante é a logística nos dias atuais. Megacorporações investem cada vez mais em logística. Chegou a vez do sub-setor de edificações descobrir as benesses que a logística traz. As tecnologias já estão disponíveis. Precisamos saber onde está o gargalo que impede o avanço do processo de industrialização da construção civil. 46 Referências bibliográficas AGAPIOU, A. The role of logistics in the materials flow control process . Construction Management and economics, 1998. ALVES, Thaís da Costa Lago; TOMMELEIN, Iris Denise. Cadeias de suprimentos na construção civil : análise e simulação computacional. 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