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Movimentos Sociais e Sociedade Cívil

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MoviMentos sociais e 
sociedade civil
Maria Antônia de Souza
MoviMentos sociais e 
sociedade civil
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Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-3137-5
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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mais informações www.iesde.com.br
Maria Antônia de Souza
Movimentos Sociais e Sociedade Civil
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
________________________________________________________________________________
S717m
 
Souza, Maria Antônia de
 Movimentos sociais e sociedade civil / Maria Antônia de Souza. - 1. ed. rev. - Curitiba, 
PR : IESDE Brasil, 2012. 
 160 p. : 28 cm
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-3137-5
 
 1. Ciências sociais. 2. Movimentos sociais. 3. Participação política. 4. Participação 
social. 5. Identidade social. 6. Cultura. I. Título. 
12-8493. CDD: 301
 CDU: 316
21.11.12 26.11.12 040854 
________________________________________________________________________________
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Shutterstock
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
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Sumário
O que é movimento social? | 9
Primeiras palavras sobre movimentos sociais | 9
Interrogações necessárias para conceituar movimentos sociais | 10
Principais eixos temáticos dos movimentos sociais | 12
Movimentos sociais e especificidades agregadas ao território | 12
O conceito de movimento social no limiar do século XXI | 13
Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais | 17
Introdução | 17
As fases de um movimento social | 19
Análise dos movimentos sociais | 20
A interpretação dos movimentos sociais na América Latina | 22
Sociedade civil | 29
Introdução | 29
Sociedade civil e movimentos sociais no Brasil | 30
A sociedade civil no Brasil | 35
Movimentos sociais do campo | 41
Introdução | 41
Lutas e movimentos sociais que questionam o direito à terra | 43
O Brasil dos anos 1970 a 1990: os sujeitos no contexto agrário e agrícola | 47
MST | 49
Movimentos sociais urbanos | 57
Introdução | 57
População brasileira e os principais problemas urbanos | 58
Movimentos populares urbanos e suas estratégias de luta | 61
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Movimentos sociais e demandas por educação | 69
Introdução | 69
Movimentos sociais e luta por educação | 70
Educação do campo: contexto e desdobramentos | 73
Novos movimentos sociais | 81
Introdução | 81
Novos movimentos sociais | 82
Marcos históricos para a compreensão dos novos movimentos sociais | 85
Novos movimentos sociais: exemplos | 86
Afinal, qual é a contribuição dos novos movimentos sociais à sociedade? | 89
Movimentos sociais e questões ambientais | 93
Introdução | 93
Cenário das preocupações ambientais no Brasil | 94
Características do movimento ambientalista | 101
Movimentos sociais: economia solidária e catadores de materiais recicláveis | 107
Introdução | 107
A economia solidária como movimento social | 108
O movimento nacional dos catadores de material reciclável | 111
Economia solidária e MNCR: o que há em comum? | 114
Movimentos sociais antiglobalização | 121
Introdução | 121
Globalização | 121
O momento histórico atual | 124
Movimentos antiglobalização | 124
Fórum Social Mundial | 126
Movimentos sociais: comunicação, cultura e educação frente aos processos de globalização | 133
Introdução | 133
Cultura popular | 135
A mística como ritual cultural e educativo dos sem-terra | 136
Comunicação, educação e cultura no movimento social | 138
Conjuntura de reconstrução democrática: comunicação, cultura, educação e movimentos sociais | 139
Movimentos sociais históricos: dos arcaicos aos modernos | 145
Introdução | 145
Movimentos sociais históricos | 147
Movimentos sociais modernos | 149
Referências | 155
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Apresentação
Movimentos Sociais e Sociedade Civil é um assunto instigante nas Ciências 
Sociais. Primeiro porque a sociedade civil é um conceito que adjetiva a vida em 
sociedade com a característica da civilidade. Segundo, porque o conceito exige 
estreita relação com o Estado em todas as suas instâncias políticas. O princípio 
da civilidade é dado pelo ordenamento político que é o Estado.
Ao discutir sociedade civil nos reportamos especialmente às ações coletivas do 
século XX, tenham elas caráter de classe ou não. A sociedade civil organizada 
é um conceito que abarca as formas de participação social expressas nas 
entidades, organizações e movimentos que têm sua base na sociedade. O 
conceito de movimento social é atribuído à participação social que demanda 
do Estado a efetivação dos direitos sociais, políticos e civis. Empiricamente, é 
visível no conjunto de manifestações coletivas organizadas, com duração de 
tempo significativo, num determinado Estado, ou mesmo ações coletivas de 
caráter global, a exemplo do Fórum Social Mundial.
O desafio na escrita deste livro foi grande. Primeiro por ter em seu título 
dois conceitos polêmicos, uma vez que existem diversas concepções tanto 
de movimento social quanto de sociedade civil. Procuramos referências 
nos autores brasileiros que têm se dedicado há longa data ao estudo dos 
movimentos sociais, a exemplo de Evelina Dagnino, Ilse Scherer-Warren e 
Maria da Glória Gohn. Também, autores que em determinados momentos se 
dedicaram à análise de movimentos específicos como é o caso de Ana Doimo, 
Marília Sposito, Vinícius Brant e Paul Singer, Eduardo Viola e Héctor Leis, para 
mencionar alguns. Autores internacionais como Eric Hobsbawm, Manuel 
Castells, Alain Touraine e Alberto Melucci foram referência para pensar o 
conceito e as categorias analíticas. Hobsbawm analisa os movimentos sociais 
Movimentos sociais e demandas por educação | 69
Introdução | 69
Movimentos sociais e luta por educação | 70
Educação do campo: contexto e desdobramentos | 73
Novos movimentos sociais | 81
Introdução | 81
Novos movimentos sociais | 82
Marcos históricos para a compreensão dos novos movimentos sociais | 85
Novos movimentos sociais: exemplos | 86
Afinal, qual é a contribuição dos novos movimentos sociais à sociedade? | 89
Movimentos sociais e questões ambientais | 93
Introdução | 93
Cenário das preocupações ambientais no Brasil | 94
Características do movimento ambientalista | 101
Movimentos sociais: economia solidária e catadores de materiais recicláveis | 107
Introdução | 107
A economia solidária como movimento social | 108
O movimento nacional dos catadores de material reciclável | 111
Economia solidária e MNCR: o que há em comum? | 114
Movimentos sociais antiglobalização | 121
Introdução | 121
Globalização | 121
O momento histórico atual | 124
Movimentos antiglobalização | 124
Fórum Social Mundial | 126
Movimentos sociais: comunicação, cultura e educação frente aos processos de globalização | 133
Introdução | 133
Cultura popular | 135
A mística como ritual cultural e educativo dos sem-terra | 136
Comunicação, educação e cultura no movimento social | 138
Conjuntura de reconstrução democrática: comunicação, cultura, educação e movimentos sociais | 139
Movimentossociais históricos: dos arcaicos aos modernos | 145
Introdução | 145
Movimentos sociais históricos | 147
Movimentos sociais modernos | 149
Referências | 155
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desde uma perspectiva marxista, classificando-os em reformistas e revolucionários. 
Alain Touraine e Alberto Melucci fazem análises de cunho weberiano, uma vez que 
compreendem os movimentos sociais a partir da análise do significado da ação 
social. Quanto ao conceito de sociedade civil, adotamos a perspectiva de Sérgio 
Costa, sistematizada em seu livro As Cores de Ercília.
Em segundo lugar, foi um desafio elaborar a obra em função da densidade do 
conteúdo. Embora tivéssemos trabalhado durante três anos com a disciplina 
“Movimentos Sociais no Brasil Contemporâneo” no Programa de Mestrado em 
Ciências Sociais Aplicadas, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), foi 
um exercício de síntese, de novos estudos e de coragem fazer algumas opções 
teóricas e arriscar exemplificações.
Em terceiro lugar, o desafio reside, também, na dificuldade de analisar uma 
realidade em movimento, pois, afinal, a sociedade brasileira tem uma infinidade 
de organizações, movimentos (mais e menos visíveis), associações, experiências 
cooperativas etc. que nos desafiam na interpretação. O movimento de Gays, 
Lés bicas, Bissexuais e Transgêneros (GLBT), por exemplo, está em franca ascensão 
em diversos países, porém, o Direito ainda não tem reconhecido plenamente 
os direitos desses cidadãos. A própria sociedade, imbuída de uma cultura 
conservadora, tem dificuldades em aceitar a diferença no que tange a questões 
sexuais e mesmo a diferenças étnicas e físicas, como é o caso dos deficientes. Então, 
vivemos uma realidade em que hoje o movimento social apresenta um formato e 
depois se apresenta com outras configurações. O Movimento dos Trabalhadores 
Rurais Sem Terra (MST) é um exemplo. Nasce com caráter revolucionário, haja vista 
todas as suas publicações sobre o método revolucionário, o caminho da revolução 
e a coletivização da terra e do trabalho. Na atualidade, demonstra-se aberto para 
a modificação do discurso político e já admite que o processo revolucionário exige 
paciência e formação educacional, além de aquisição de conhecimentos históricos 
por parte dos envolvidos na luta.
O livro, embora faça menções a movimentos globais, traz um destaque para a 
sociedade brasileira e os movimentos sociais históricos e os novos movimentos que 
dela participam.
Diante do exposto, fizemos uma opção por apresentar os capítulos na seguinte 
sequência:
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1. Caracterização do conceito movimento social, com o intuito de orientar o 
 pensamento sobre o assunto e sobre os formatos empíricos das ações coletivas 
presentes na sociedade brasileira. 
2. Caracterização do conceito sociedade civil, de modo que os leitores possam 
compreender qual é o lugar ocupado pelos movimentos sociais, bem como os 
seus papéis em diferentes momentos históricos.
3. Apresentação dos paradigmas e teorias dos movimentos sociais. O intuito foi 
mapear as principais teorias e as especificidades do paradigma para análise 
dos movimentos sociais na América Latina.
4. Debate sobre os movimentos sociais do campo, dando particular atenção 
ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra pela sua relevância na 
sociedade brasileira como um dos movimentos que mais tem gerado polêmicas 
no campo da política e do Direito.
5. Caracterização do movimento popular urbano, no qual foi destacado as diver-
sas lutas e seu formato no século XX. 
6. Debate sobre os movimentos sociais e lutas em torno da educação, no contex to 
dos movimentos populares urbanos.
7. Apresentação do conceito novos movimentos sociais, com o intuito de permitir 
que o leitor estabeleça diferenças entre os movimentos clássicos, a exemplo do 
movimento operário, e os movimentos que extrapolam a questão de classe 
social, como o ecológico, o feminista, entre tantos outros.
8. Caracterização do movimento ambientalista, contextualizando-o como novo 
movimento social e de caráter global.
9. Debate sobre a economia solidária e o Movimento Nacional de Catadores de 
Materiais Recicláveis, como novos movimentos sociais que vêm gerando uma 
cultura política diferente no que tange à economia (solidária) e à sustentabi-
lidade ambiental (coleta seletiva de lixo) etc.
10. Caracterização do Fórum Social Mundial como um movimento antiglobali-
zação e de caráter global.
11. Debate sobre movimentos sociais, cultura, educação e globalização, com o 
intuito de gerar reflexões sobre a produção cultural (rituais) nos movimentos 
sociais e a possibilidade de construção de uma nova cultura política (da partici-
pação efetiva na coisa pública).
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12. Caracterização dos movimentos históricos de cunho primitivo e pré-político, ao 
lado da reflexão dos movimentos que marcam o final do século XX, sob o título 
de movimentos modernos, por sua forte organização política e estratégias de 
luta que extrapolam o território nacional.
 Enfim, espera-se que a obra contribua para que os futuros cientistas sociais tenham 
elementos para indagar sobre os processos sociais que acontecem na sociedade 
brasileira, dos quais somos protagonistas.
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O que é movimento social?
Maria Antônia de Souza*
Primeiras palavras sobre movimentos sociais
Movimento social refere-se a uma organização sociopolítica, cuja expressão empírica é dada pela 
manifestação conjunta de pessoas, movida por determinados interesses e/ou carências. O conceito de 
movimento social no meio acadêmico surgiu na primeira metade do século XIX, por volta de 1840. A 
Revolução Industrial foi o contexto da emergência dos movimentos sociais, especialmente num cenário 
de separação entre os trabalhadores e os donos dos meios de produção. Movimento social era sinônimo 
de desordem. O livro Germinal, de Émile Zola, pode ser considerado um exemplo no estudo dos movi-
mentos sociais no contexto da industrialização.
Na sociedade brasileira, todos nós ouvimos comentários sobre a existência de manifestação social, 
como greves, passeatas e ocupações de prédios públicos. Cabe destacar que toda manifestação social 
é parte integrante de um movimento social, mas nem toda manifestação social é em si um movimento 
social organizado, com articulação política definida. A manifestação social pode ser um ponto de partida 
para a configuração posterior de um movimento social.
No Brasil existem contradições sociais básicas, que são aquelas já enraizadas na história da 
população, a exemplo da concentração da renda e da terra. O país concentra riqueza nas mãos de 
poucas pessoas. É expressivamente desigual. Essas contradições básicas, que têm longa duração, geram 
contradições que são conjunturais, a exemplo da falta de moradia, falta de alimentação, falta de emprego, 
ausência de acesso à saúde e à educação etc. São essas contradições básicas e conjunturais que, de 
imediato, fazem emergir movimentos sociais de todo o tipo. Em sua grande maioria, os movimentos 
sociais surgem em função das carências econômicas e sociais e, por sua vez, da não efetivação dos 
direitos sociais.
* Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestre em Educação pela Unicamp. Graduada em Geografia pela 
Universidade Estadual Paulista (Unesp). Pesquisadora sobre Movimentos Sociais e Educação.
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10 | O que é movimento social?
Todos já ouviram alguma notícia sobre um movimento social. Por exemplo, é comum notícias nos 
meios de comunicação sobre o movimentodos Trabalhadores Sem-Teto; movimento de luta por escola, 
transporte, creche, postos de saúde, alimentação, terra, salário etc. Os movimentos existem em função 
de múltiplos determinantes, tais como: questões culturais, econômicas, políticas e sociais.
No Brasil a grande maioria dos movimentos sociais é de trabalhadores. E por que isso ocorre? 
Especialmente porque os direitos sociais1 prescritos na Constituição Federal (CF) de 1988, como 
educação, saúde e acesso à moradia, não estão sendo efetivados; porque resta à população se organizar 
para fazer valer o que está posto na Constituição.
Mas existem movimentos sociais que não são necessariamente da classe trabalhadora, embora ela 
possa participar deles também. É o caso do movimento ambientalista; movimentos contra a violência e 
pela paz; movimentos de homossexuais, entre outros.
Existem movimentos sociais que têm um caráter de classe e que lutam pela conservação de 
aspectos da sociedade, como é o caso da União Democrática Ruralista, criada na década de 1980 e da 
Bancada Ruralista, que por muito tempo marca presença no Congresso Nacional. São grupos que lutam 
pela garantia da propriedade da terra ou pela conservação de valores culturais, a exemplo de movimentos 
religiosos contra o aborto, ou ainda pela ênfase em valores universais, como o direito à vida.
Portanto, na sociedade brasileira, os principais movimentos e suas reivindicações relacionam-se 
com as condições materiais de existência, como a luta pela moradia e alimentação. Ao lado delas, as 
condições necessárias à sobrevivência humana fazem parte das lutas dos movimentos vinculados à 
saúde, educação, trabalho. São lutas pela efetivação dos direitos sociais e humanos fundamentais.
Interrogações necessárias para conceituar 
movimentos sociais
Como vamos saber o que é um movimento social? Como discernir manifestação social de greves 
e de movimentos sociais de fato?
É importante pensar na duração do movimento social, ou seja, da ação coletiva, no alcance do 
fenômeno analisado, se ele é pontual ou se ele é nacional e se atinge visibilidade internacional.
Desse modo, algumas interrogações nos auxiliam na conceituação dos movimentos sociais, a saber:
Como e quando:::: surgiu o fenômeno analisado? É importante pensar que os movimentos surgem 
em determinadas conjunturas político-econômicas, por isso é fundamental contextualizar o 
fenômeno no âmbito do que se passa na política do país, estado e município; contextualizá-
lo no âmbito da economia e das características sociais. Um movimento não surge do nada e 
também não surge movido por um único fator. Geralmente são inúmeros os fatores que levam 
à emergência de um movimento social. 
Como está organizado :::: o movimento social? Tem lideranças? Quem são elas, de onde vieram? O 
que defendem? Tem caráter religioso, sindical ou político-partidário? 
1 Art. 6.° da CF de 1988 – “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção 
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”.
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11|O que é movimento social?
O que é reivindicado:::: pelo movimento social? É algo pontual, como uma passarela, mas locali-
zado no rol de lutas populares urbanas? É algo relacionado a direitos humanos, como a igual-
dade e o reconhecimento da diferença? É relacionado a interesses supranacionais, como o 
desenvolvimento sustentável e os cuidados com o meio ambiente? 
Quais são as estratégias de luta:::: dos movimentos sociais? Fazem passeatas, manifestos, abaixo-
-assinados, ocupações etc.? 
Como se dá o processo de negociação política:::: entre a sociedade organizada e o Estado? 
Que tipo de projeto político:::: o movimento social defende? É um movimento que luta por direitos 
sociais e democracia ou que luta por outra forma de governo? 
Que tipo de apoio e de mediação:::: são feitos no contexto do movimento social? Ele é articulado 
a outros movimentos? Quem são os assessores para fins políticos?
São interrogações preliminares que contribuem para determinar diferenças entre manifestações, 
greves e movimentos sociais. As manifestações são ações pontuais e fazem parte da estratégia de luta 
dos movimentos sociais. A greve é um direito social, descrito no artigo 9.º2 da Constituição Federal da 
República Federativa do Brasil de 1988. Os movimentos sociais têm maior duração, alcance político 
e necessitam de organização e composição social sólidas. A organização diz respeito à estrutura 
interna do movimento social, no sentido da clareza das funções de cada membro do grupo, do registro 
das atividades e negociações desenvolvidas, produção de materiais que possam dar visibilidade 
ao movimento, controle das ações durante uma manifestação ou passeata, de modo que não haja 
atos prejudiciais ao grupo, como quebra-quebra, agressão etc. Composição social diz respeito aos 
representantes do grupo, geralmente existem lideranças, pessoal de apoio, pessoal ligado à comunicação 
e recepção de interessados na manifestação social, membros assessores do grupo social, a exemplo de 
pesquisadores, pessoas ligadas à Igreja, partidos políticos etc. Enfim, a composição social diz respeito 
aos membros do grupo e o que fazem. Existem aqueles que “engrossam” uma manifestação social e 
aqueles que coordenam a manifestação. Existem aqueles que fazem mediação internamente ao grupo 
e externamente nos processos de negociação políticas.
Em síntese, os movimentos sociais fazem uso de diferentes estratégias de lutas, como abaixo- 
-assinados, manifestações em lugares públicos, ocupação de prédios públicos entre outros. Fazem uso 
de estratégias visuais que atraem a mídia, de modo a dar visibilidade às lutas empreendidas. Têm projeto 
político que varia de questões estruturais para questões conjunturais. O Movimento dos Trabalhadores 
Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, reivindica mudanças estruturais, no que tange à definição da 
função social da propriedade, ou a sua própria extinção, e desenvolvimento de um modo coletivo 
de produção. Outros movimentos têm um projeto político voltado para a luta pela liberdade e pela 
igualdade, desde que a diferença não seja descaracterizada. É o caso do movimento de homossexuais, 
que no Brasil tem a sua visibilidade maior nas passeatas denominadas de Parada Gay.
Geralmente, o movimento social faz parte de uma relação de forças entre classes sociais e entre 
estas e os governos. Há uma defesa de interesses antagônicos3, cenário que exige do Estado um 
posicionamento na dissolução do conflito social.
2 Conforme o artigo 9.° da CF de 1988: “É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de 
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender”.
3 O exemplo mais claro de interesses antagônicos pode ser dado pela relação entre empregados e patrões. Uns querem “correção salarial” e 
outros querem “redução” de despesas. São interesses que estão em oposição e que o processo de negociação poderá levar a um consenso ou 
a um acordo temporário.
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12 | O que é movimento social?
O que vemos na sociedade é a aglutinação de pessoas em torno de determinados interesses, 
construindo estratégias para atingir seus objetivos. Quando a aglutinação atinge um grau de 
organização, proposição, conquista de negociação, delineamento de um projeto político, pode-se dizer 
que ela adquire o formato de um movimento social.
Como define Ammann, “movimento social é uma ação coletiva de caráter contestador, no âmbito 
das relações sociais, objetivando a transformação ou a preservação da ordem estabelecida na sociedade” 
(AMMANN, 1991, p. 22). Para ela, a contestação é o elemento constitutivo do movimento social. Os 
protagonistas podem ser classes sociais, etnias, partidos políticos, regiões, religiões etc. Concordamoscom a autora quando afirma que nem todos os movimentos têm caráter de classe e que nem todo o 
movimento luta por poder. O objetivo do movimento social pode ser a contestação ou a preservação 
de relações sociais.
Principais eixos temáticos dos movimentos sociais
O território brasileiro é marcado pela luta dos trabalhadores. Em cada canto do país reivindicam-se 
melhores condições de vida e de trabalho. Reivindicam-se o direito à participação política e à efetivação 
dos direitos sociais que foram positivados no Brasil ao longo do século XX.
A participação dos movimentos sociais na sociedade brasileira é demonstrada por Gohn (2003) 
na obra Movimentos Sociais no Início do Século XXI. A autora faz um panorama geral dos movimentos 
sociais no início do milênio e aponta eixos temáticos, tais como: 
(1) lutas e conquistas por condições de habitabilidade na cidade, nucleados pela questão da moradia. (2) mobilização e 
organização popular em torno de estruturas institucionais de participação na estrutura político-administrativa da cidade. 
(3) mobilizações e movimentos de recuperação de estruturas ambientais, físico-espaciais, equipamentos e serviços 
coletivos. (4) mobilizações e movimentos contra o desemprego. (5) movimentos de solidariedade e apoio a programas com 
meninos e meninas de rua. (6) mobilizações e movimentos dos sem-terra. (7) movimentos etnorraciais. (8) movimentos 
envolvendo questões de gênero. (9) diversos movimentos rurais pela terra. (10) movimentos contra as políticas neoliberais e 
os efeitos da globalização. (GOHN, 2003, p. 31-32)
Desse modo, os movimentos sociais podem ter caráter urbano ou rural; de classe ou não; lutas locais 
e globais. De uma maneira geral, os movimentos sociais estarão localizados em um desses cenários.
Movimentos sociais e especificidades agregadas ao território
Os movimentos sociais agregam especificidades aos territórios. Especificidades entendidas como 
relações e práticas sociais que modificam o conjunto anterior de relações. 
Por exemplo, os movimentos de negros demandam e propõem reflexões afirmativas de sua 
identidade na sociedade.
Já os movimentos ligados à Educação Especial demandam infraestrutura e fazem proposições 
para o convívio social.
Os movimentos de luta por moradia e terra transformam e recriam territórios (cultura, valores, 
modo de vida, simbologia).
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13|O que é movimento social?
As novas territorialidades são dadas pelas relações sociais, pela prática social que produz circuns-
tâncias, que confronta valores, que cria arranjos culturais, sociais, políticos e econômicos que, por sua 
vez, dão forma ao lugar e dinamizam a vida em sociedade a partir dos formatos de participação.
Partilhando da análise de Haesbaert (2002-2004) afirmamos que as novas territorialidades podem 
ser geradas a partir dos processos de desterritorialização que estão vinculados à exclusão socioespacial. 
Portanto, de uma relação contraditória e dialética surge a possibilidade da construção de novos arran-
jos espaciais. É o caso dos assentamentos rurais oriundos da luta pela reforma agrária, no contexto do 
MST. Da exclusão posta em relações de trabalhos anteriores é gerada uma nova forma de participação, 
muitas vezes tendo no acampamento a gênese de uma organização coletiva de produção.
O conceito de movimento social no limiar do século XXI
Vários autores conceituam movimentos sociais. Selecionamos a obra de Gohn (1997, p. 251-252) 
para expressar um conceito amplo. Vamos desdobrar o conceito da autora em tópicos, para melhor 
compreensão.
1. Movimentos sociais são ações sociopolíticas construídas por fatores sociais coletivos pertencentes a diferentes class-
es e camadas sociais, articuladas em certos cenários da conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um 
campo político de força social na sociedade civil.
Três questões básicas estão inseridas nessa frase da autora: (1) ação sociopolítica, ou seja, uma ação 
social com intencionalidade definida. (2) os sujeitos podem ser oriundos de diferentes classes sociais. 
(3) a ação sociopolítica está contextualizada na conjuntura econômica, política e social do momento 
em que o movimento está em ação. Isso gera um campo político na sociedade civil. Aqui emerge um 
conceito que merece atenção: sociedade civil4.
2. As ações se estruturam a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em conflitos, litígios e disputas viven-
ciados pelo grupo na sociedade. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade 
coletiva para o movimento, a partir dos interesses em comum. Essa identidade é amalgamada pela força do princípio 
da solidariedade e construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo, em 
espaços coletivos não institucionalizados.
Uma questão pode ser acrescida às três mencionadas anteriormente: as ações geram uma identi-
dade que é política e social. Ela é consolidada mediante signos construídos na trajetória do movimento 
social – arcabouço cultural e educativo.
3. Os movimentos geram uma série de inovações nas esferas públicas (estatal e não estatal) e privada; participam direta 
ou indiretamente da luta política de um país, e contribuem para o desenvolvimento e a transformação da sociedade 
civil e política. Essas contribuições são observadas quando se realizam análises de períodos de média ou longa duração 
histórica, nos quais se observam os ciclos de protestos delineados.
Outra questão pode ser acrescida às nossas observações em curso: geração de inovação no campo 
da participação, seja na esfera pública ou privada. Os movimentos sociais têm a capacidade de gerar 
4 A sociedade civil refere-se à esfera de ação das pessoas de uma sociedade. Algumas pessoas estão na sociedade civil e na sociedade 
política, quando são representantes políticos, por exemplo. Existe a sociedade civil organizada que é entendida como o conjunto de sujeitos 
ou fatores organizados, a exemplo de associações, organizações não governamentais; movimentos sociais; sindicatos, entre outros. Todos 
nós, isoladamente, fazemos parte da sociedade civil. Mas, quando estamos organizados em um grupo, passamos a pertencer à denominada 
sociedade civil organizada.
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14 | O que é movimento social?
modificações, a exemplo da inserção dos direitos sociais na Constituição Federal de 1988 e no Código 
Civil de 2002. Muitos direitos postos foram conquistados pela sociedade civil organizada, mediante 
reivindicações e enfrentamento junto ao Estado. É o caso do direito à educação, à aposentadoria para 
trabalhadores rurais, à greve, à acessibilidade por parte daqueles que possuem alguma dificuldade 
temporária ou permanente, entre outros.
4. Os movimentos participam, portanto, da mudança social histórica de um país e o caráter das transformações geradas 
poderá ser tanto progressista como conservador ou reacionário, dependendo das forças sociopolíticas a que estão 
articulados em suas densas redes; e dos projetos políticos que constroem com suas ações.
Um aspecto relevante dos movimentos sociais é que eles podem gerar transformações ou exercer 
a pressão para a manutenção de uma característica da sociedade.
5. Eles têm como base de suporte entidades e organizações da sociedade civil e política, com agendas de atuação 
construídas ao redor de demandas socioeconômicas ou político-culturais que abrangem as problemáticas conflituosas 
da sociedade onde atuam.
Por fim, uma questão essencial é que os movimentos sociais têm suportes na sociedade civil – 
em outras organizações e movimentos – bem como na sociedade política, quando alguns partidos 
defendem a reivindicação ou partilham da intencionalidade política de determinado movimento.
Para concluir, vale pensar que os movimentos sociais indicam aspectos da sociedade que precisamser modificados. Eles podem ser revolucionários ou reformistas5. A maioria dos movimentos que 
conhecemos possui um caráter reformista. O próprio MST surgiu marcado por intenções revolucionárias, 
mas com o tempo foi adquirindo um caráter reformista, talvez necessário à conjuntura política vivida 
no início do século XXI. O movimento revolucionário é aquele que luta por modificações profundas na 
sociedade, portanto, pela superação de um modo de produção.
Texto complementar
5 Segundo Eric Hobsbawm (1970): “Os reformistas aceitam a estrutura geral de uma instituição ou disposição social, mas a consideram passível 
de melhoria ou, quando abusos nela se infiltraram, de reforma. Os revolucionários insistem em que deve ser fundamentalmente transformada, 
ou substituída”. Enfim, os reformistas defendem mudanças de uma instituição ou estrutura de modo que possa ser melhorada, enquanto os 
revolucionários defendem a abolição da instituição ou estrutura.
(GOHN, 2003, p. 13-17)
Para nós, desde logo, é preciso demarcar nosso entendimento sobre o que são movimentos 
sociais: os vemos como ações coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas 
formas da população se organizar e expressar suas demandas. Na ação concreta, essas formas adotam 
diferentes estratégias que variam da simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, 
marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, 
negociações etc.), até as pressões indiretas. Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam 
por meio de redes sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais, e utilizam-se muito dos 
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15|O que é movimento social?
novos meios de comunicação e informação, como a internet. Por isso, exercitam o que Habermas 
denominou como o agir comunicativo. A criação e o desenvolvimento de novos saberes são 
produtos dessa comunicabilidade.
No início deste novo milênio, os movimentos sociais estão retornando à cena e à mídia. Neles, 
destacam-se quatro pontos:
1. as lutas e defesas das culturas locais, contra os efeitos devastadores da globalização. 
Eles estão ajudando na construção de um novo padrão civilizatório orientado para o ser 
humano e não para o mercado, como querem as políticas neoliberais de caráter exclu-
dente. Um outro papel importante a ser destacado nos movimentos atuais é o resgate 
que eles estão operando do caráter e sentido das coisas públicas – espaços, instituições, 
políticas etc.;
2. ao reivindicarem ética na política, ao mesmo tempo, exercem vigilância sobre a atuação 
estatal/ governamental, eles orientam a atenção da população para o que deveria ser dela 
e está sendo desviado, para o tratamento particular que supostamente estaria sendo dado 
a algo que é um bem público, como os impostos arrecadados da população que estariam 
sendo mal gerenciados etc.;
3. os movimentos têm coberto áreas do cotidiano de difícil penetração por outras entidades 
ou instituições do tipo partidos políticos, sindicatos ou igrejas. Assim, aspectos da 
subjetividade das pessoas, relativo a sexo, crenças, valores etc. têm encontrado vias de 
manifestação porque o grau de tolerância é alto na maioria dos movimentos sociais. Mas 
não podemos deixar de lado ou ignorarmos que intolerância também existe e ela tem 
estado presente em movimentos fanático-religiosos ou no ressurgimento de movimentos 
nacionalistas, citados anteriormente, com suas ideologias não democráticas, geradoras 
de ódios e guerras;
4. os movimentos constituíram um entendimento sobre a questão da autonomia diferente 
do que existia nos anos 1980. Atualmente, ter autonomia não é ser contra tudo e todos, 
estar isolado ou de costas para o Estado, atuando à margem do instituído; ter autonomia 
é, fundamentalmente, ter projetos e pensar nos interesses dos grupos envolvidos como 
autodeterminação; é ter planejamento em termos de metas e programas; é fazer a crítica, 
mas também ter a proposta de resolução para o conflito que estão envolvidos; é ser flexível 
para incorporar os que ainda não participam, mas têm o desejo de participar, de mudar as 
coisas e os acontecimentos da forma como estão; é tentar sempre dar universalidade às 
demandas particulares, fazer política vencendo os desafios dos localismos; ter autonomia 
é priorizar a cidadania: construindo-a onde não existe, resgatando-a onde foi corrompida. 
Finalmente, ter autonomia é ter pessoal capacitado para representar os movimentos 
nas negociações, nos fóruns de debates, nas parcerias de políticas públicas (por isso é 
grande o número de militantes/assessores de movimentos, advindos de ONGs, que têm 
adentrado aos programas de Pós-Graduação da academia. Resulta também que vários 
deles, após qualificados, tornam-se professores universitários e voltam-se inteiramente 
para a academia, ficando o movimento como “objeto” de estudos e pesquisas. As ONGs 
permanecem como estágios laboratoriais de iniciação participativa, estando sempre 
composta, majoritariamente, por iniciantes. 
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16 | O que é movimento social?
Atividades
1. As lutas por moradia, com organização política consistente, fazem parte dos movimentos sociais 
urbanos? Por que existem lutas por moradia?
2. As manifestações de moradores de um bairro reivindicando a construção de uma passarela 
podem ser consideradas movimento social? Explique.
3. Com base no texto lido, elabore um conceito de movimento social.
Gabarito
1. Sim. Porque há carência de moradias no Brasil, em função da concentração de renda.
2. Não, porque elas são estratégias de luta e muitas vezes têm duração curta e interferência 
pontual/local.
3. Organização de um grupo social, com liderança, com objetivos, com estratégias de luta e que 
busca negociação com o poder político (Estado). Existem movimentos revolucionários que 
pregam a extinção do capitalismo. Existem movimentos reformistas que buscam modificações 
nas estruturas existentes na sociedade, mas não a sua extinção.
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Paradigmas para 
interpretação 
dos movimentos sociais
Introdução
Os movimentos sociais são fenômenos históricos. Hobsbawm (1970) em seu estudo Rebeldes 
Primitivos descreve formas arcaicas de movimentos sociais nos séculos XIX e XX. O banditismo, por 
exemplo, é um movimento rural da Europa dos séculos XIX e XX, é um: 
[...] fenômeno universal e praticamente imutável, pouco mais é do que um endêmico protesto camponês contra a 
opressão e a pobreza: um grito de vingança contra os ricos e os opressores, um vago sonho de conseguir impor-lhes 
alguma forma de controle, uma reparação de injustiças individuais. (HOBSBAWM, 1970, p. 15)
A turba, por exemplo, é um movimento urbano “[...] o mais primitivo e pré-político dos movimen-
tos dos pobres urbanos, particularmente em certos tipos de grandes cidades pré-industriais [...] sua ativi-
dade se dirige contra os ricos [...]” (HOBSBAWM, 1970, p. 16).
O paradigma de análise do autor é marcado por duas categorias: movimento revolucionário e 
movimento reformista. Os revolucionários são aqueles que defendem a abolição das instituições de 
poder, especialmente a monarquia. Os reformistas são aqueles que aceitam a estrutura geral e defendem 
as melhorias na mesma.
É importante destacar que Hobsbawm, um historiador inglês, realiza a sua análise num contexto 
em que o processo de industrialização, na Europa, está emergindo e evidenciando as mais fortes 
contradições, como a miséria e exploração dos trabalhadores operários.
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18 | Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
No Brasil, as análises dos movimentos sociais foram fortemente influenciadas pelas ideias marxistas,especialmente em meados do século XX. Ideias marxistas como as que enfatizavam a exploração dos 
trabalhadores no contexto do modo de produção capitalista; a expropriação dos trabalhadores rurais do 
campo e a atração deles para as cidades em desenvolvimento, também no contexto da industrialização 
da primeira metade do século XX. Os movimentos de trabalhadores e aqueles oriundos das carências 
econômicas e sociais foram analisados pela perspectiva da classe social, ou seja, a oposição entre 
trabalhadores e donos dos meios de produção.
Destaca-se que os movimentos sociais presentes no cenário político-social brasileiro do século XX 
são heterogêneos, ou seja, diversos em suas temáticas de ação, amplitude territorial e estratégias de luta. 
São movimentos de natureza popular, principalmente. Um dos elos unificadores desses movimentos é 
a desigualdade no que tange à concentração de renda (elemento estrutural) que se torna visível nos 
aspectos de exclusão social, no âmbito educacional, habitacional, saúde e alimentação, por exemplo. Os 
movimentos sociais populares ou da classe trabalhadora expressam demandas em torno das carências 
sociais e econômicas que marcam a realidade brasileira.
No início de século XX eram comuns os movimentos rurais, assim como movimentos de cunho 
político – conflitos entre grupos no poder. Nos anos 1950, os movimentos nos espaços rural e urbano 
adquiriram visibilidade por meio das manifestações e atos públicos. Os movimentos populares urbanos 
foram impulsionados pela Sociedade Amigos de Bairro (SABs) e pelas comunidades Eclesiais de Base 
(CEBs). Nos anos 1960 e 1970, mesmo diante de forte repressão policial, os movimentos não se calaram. 
Havia reivindicações por educação, moradia e pelo voto direto. Nos anos 1980, destacaram-se as 
manifestações sociais conhecidas como “Diretas já” e aquelas relacionadas à elaboração da Constituição 
Federal de 1988, que viria apontar inúmeros direitos sociais, como obrigação do Estado. Nos anos 1990, 
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e as Organizações Não Governamentais (ONGs) 
tiveram destaque, ao lado de outros atores sociais. As condições de vida da população passaram por 
uma relativa melhoria, no início da gestão Fernando Henrique Cardoso. No entanto, no final dos anos 
1990, uma crise recessiva assolou o país, ainda que constantemente camuflada pela mídia que divulgava 
as graves crises de outros países, tais como a Argentina (SOUZA, 2005).
Os movimentos sociais, empiricamente, tornam-se explícitos por meio de sua participação (ação 
coletiva); organização política e estratégias de luta. Aparecem muito mais nas suas formas de ação, 
como as manifestações sociais e marchas, do que com sentido amplo e estruturado interna e externa-
mente (o que de fato configura o movimento social). O que se observa no cotidiano são modos de ação 
coletiva, tais como as greves dos policiais militares em vários estados brasileiros, as greves gerais na 
Argentina, o Fórum Social Mundial e um conjunto de manifestações contra a implantação da Área de 
Livre Comércio das Américas (Alca) no continente americano.
A internet tem sido um dos meios impulsionadores da ação dos grupos coletivos, pois permite 
a circulação da informação em tempo real. Assim, os movimentos e grupos coletivos continuam a 
reivindicar melhores condições de vida, contando com aparatos diferenciados na organização das 
manifestações (face pública da luta do movimento/grupo social). O Fórum Social Mundial é um 
exemplo de movimento social organizado em função das redes articulatórias possibilitadas pela 
internet. O mesmo ocorre com a ONG Greenpeace, cuja visibilidade das ações tem se dado por meio 
virtual, especialmente.
Diante da realidade contraditória, dinâmica e de múltiplas faces da sociedade brasileira e 
planetária, é preciso um aparato analítico para compreender os formatos de participação sociopolítica, os 
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19|Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
movimentos sociais. Gohn (1997) nos indica fatores que influenciam na interpretação dos movimentos 
sociais, a saber: 
mudanças nas ações coletivas da sociedade civil; ::::
mudanças nos paradigmas de análise; ::::
mudanças na estrutura econômica e nas políticas estatais. ::::
É importante lembrar que o movimento social refere-se à ação dos homens na história, portanto, 
envolve um fazer e um pensar. Trata-se de uma luta social, que tem caráter cíclico e pode ter fluxos e 
refluxos. Os movimentos sociais têm períodos em que estão mais visíveis e outros de menor visibilidade 
na sociedade. Isso ocorre em função da conjuntura política, que pode ser democrática ou autoritária, e das 
carências que podem estar mais expressivas em determinadas conjunturas econômicas do que em outras.
Neste capítulo trataremos dos paradigmas de análise dos movimentos sociais, ou seja, como 
interpretar os movimentos sociais. Quais são as possibilidades teóricas de compreensão do fenômeno 
movimento social? A obra de Gohn (1997) traz um retrato dos paradigmas e teorias para a interpretação 
dos movimentos sociais. O paradigma pode ser compreendido como um guarda-chuva que agrega 
diversas teorias, próximas umas das outras, mas com singularidades. Neste texto apresentaremos um 
paradigma norte-americano, um europeu e um paradigma latino-americano. Antes, porém, teceremos 
um caminho para o delineamento de um movimento social: as fases de um movimento social e uma 
proposta de roteiro metodológico. A base da descrição é a obra de Gohn (1997), acrescida de alguns 
elementos necessários à compreensão do conceito movimento social, especialmente nesse início de 
século XXI, quando a participação sociopolítica apresenta faces diversas daquelas do operariado do 
século XIX. A luta já não é travada somente entre trabalhadores e donos dos meios de produção. Em 
alguns casos há movimentação interclassista, a exemplo do movimento ambientalista ou ecológico. Ele 
interessa a todos os povos e não somente a um segmento social. A sobrevivência do meio ambiente 
significa a sobrevivência do ser humano; por sua vez, a prática humana é essencial para que a morada 
do homem continue a existir.
As fases de um movimento social
O processo de formação de um grupo social e a consolidação de sua participação na sociedade 
passa por algumas fases, não necessariamente na ordem em que estão postas. Se o movimento social 
tem longa duração, imagina-se que haja um encadeamento nas ações do mesmo, de modo a fortalecer 
a identidade do grupo e as suas bandeiras de luta. Ainda, a relação entre os membros que participam de 
um movimento social com o Poder Público exige uma pauta para debate e possível entendimento. Listar 
prováveis etapas de um movimento social auxilia na interpretação do mesmo. Quem faz um esboço das 
fases dos movimentos sociais é Gohn (1997). São elas:
1. Situação de carência ou ideais – qual é a situação socioeconômica que dá origem ao movimento 
social? Uma situação de carência pode ser a falta de moradia. É importante distinguir carência e 
necessidade. Necessidade todos os humanos têm. Por exemplo: alimentação e abrigo. Carência 
é a condição de não satisfação das necessidades humanas. Existem pessoas que não têm a 
sua necessidade de abrigo satisfeita, são carentes de moradia. Esse fato pode gerar um movi-
mento social.
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20 | Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
2. Existência de mediadores na organização social – há Igreja, partidos ou outros envolvidos na 
organização do grupo? A Comissão Pastoral da Terra (CPT) tem sido um dos mediadores dos 
movimentos de trabalhadores rurais no Brasil, desde o final do século XX.
3. Formulação das demandas – quais são as principais solicitações do grupo? Apresentação de 
uma listagem de serviços que precisam ser efetivados pelo Estado para que as necessidadeshumanas sejam satisfeitas.
4. Aglutinação de pessoas – como as pessoas estão organizadas? Há estruturação de tarefas no 
grupo? Quem faz o quê e como se definem as tarefas de cada um?
5. Transformação das demandas em reivindicações – a quem é dirigida a reivindicação? Como foi 
formulada? Se há demanda de moradia, a mesma deve ser transformada em reivindicação, ou 
seja, o grupo se organiza para discutir o que é prioridade e como será efetivada a reivindicação. 
A reivindicação consolida-se quando chega ao Estado – seja na esfera local, estadual ou 
federal.
6. Organização/estratégias do movimento – quais são as formas de luta? Como o grupo dá visi-
bilidade às suas carências? Abaixo-assinados e passeatas são estratégias que dão visibilidade 
à luta social.
7. Formulação de estratégias de luta – como são formuladas as estratégias? Qual o lugar e o 
tempo de formulação das estratégias? Como elas são modificadas na trajetória do movimento 
social? Como e onde o grupo se organiza? Quem conduz a discussão e de que modo conduz?
8. Práticas coletivas. Encaminhamento das reivindicações – como são encaminhadas as solicita-
ções? Quem participa do quê? As solicitações são encaminhadas por escrito ou há comissão 
formada no movimento social para fins de negociação com o Poder Público?
9. Práticas de difusão e execução de projetos – como o grupo dá visibilidade à execução dos seus 
projetos?
10. Negociação com opositores – quais são os lugares de negociação? Quem participa? Os 
opositores podem ser o Estado ou mesmo grupos sociais pertencentes à classe oposta àquela 
que está organizada e fazendo reivindicações. Um movimento social gera tensão social entre 
classes ou entre essas e o Estado.
11. Consolidação e/ou institucionalização do movimento – o movimento se institucionaliza? 
Continua com base popular ou extingue-se como movimento social? Alguns movimentos 
podem tornar-se partidos políticos ou organizações não governamentais. É importante 
analisar se a condição de movimento social foi extinta ou se a base de organização continua, e 
como continua. O movimento se institucionaliza quando há formação de uma personalidade 
jurídica, como é o caso das ONGs, pois muitas delas são oriundas de movimentos sociais que 
se transformaram em “entidades jurídicas”, distanciando-se da base de origem.
Análise dos movimentos sociais
A análise dos movimentos sociais requer a observação de aspectos, tais como: o ângulo interno 
e externo.
O que é considerar o ângulo interno? É verificar qual é a ideologia que move a ação coletiva; qual é 
o projeto, como se dá a organização, quais são as principais práticas etc. Significa olhar minuciosamente 
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21|Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
para o interior da organização e para os sentidos de cada ação individual e coletiva, quais os significados 
da simbologia presente no movimento social; que tipo de trabalho é feito pelos mediadores, quando 
eles estão auxiliando o grupo social, entre outras questões que possam dizer respeito às relações 
internas aos participantes.
O que é considerar o ângulo externo? É observar qual é o cenário cultural-político-social de 
atuação do movimento social. Pode ser um momento de efervescência cultural; um momento de 
repressão política ou, ainda, um momento de encarecimento do custo de vida etc. É descobrir quais 
são os opositores do movimento social (é o Estado ou é outra classe social?); verificar se existem redes 
externas (por exemplo, o MST está articulado na Via Campesina – conjunto de movimentos sociais da 
América Latina); como são efetivadas as relações com órgãos estatais, Igreja, mídia etc.
Desse modo, aos elementos denominados fases dos movimentos sociais podem ser acrescidas 
questões, também apontadas por Gohn (1997), como:
as demandas e os repertórios da ação coletiva;::::
utopias;::::
composição social (origem social e localização geográfico-espacial). Quais pessoas são ::::
responsáveis por quais atividades no desenvolvimento da prática social?
princípio articulatório interno (base, lideranças e assessorias);::::
princípio articulatório externo. Com quais outras entidades o movimento social se articula?::::
força social. Como se dá a relação entre classes? Como se dá a relação com os governos?::::
ideologia;::::
cultura política;::::
organização – formal ou não formal;::::
práticas – ações e discursos;::::
projeto;::::
identidade;::::
opositores;::::
conquistas e derrotas.::::
Temos, assim, um conjunto de elementos que devem ser levados em conta na análise de um 
movimento social. Mas um paradigma é composto por teorias, ou seja, maneiras de olhar para uma 
determinada realidade. Além de todas as questões mencionadas, é importante pensar no método de 
análise. O método diz respeito ao caminho utilizado para construir conhecimentos acerca de um fato 
social, uma realidade concreta. Ele requer ferramentas conceituais.
As principais categorias teóricas na análise dos movimentos sociais, segundo Gohn (1997), são: 
para os movimentos de caráter popular, as principais categorias são exclusão e resistência; ::::
para o universo de lutas amplo, que não se restringe ao popular, uma gama de outras catego-::::
rias é utilizada: participação, experiência, direitos, cidadania e identidade coletiva.
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22 | Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
Como podemos, então, analisar um movimento social mediante a observação de todos os quesitos 
indicados anteriormente? Um exercício poderia ser feito com os movimentos sociais urbanos. Fica o 
desafio para os leitores desta obra, ou seja, escolher um movimento social e buscar estudar cada um dos 
elementos indicados anteriormente.
É importante salientar que no caso da América Latina existem particularidades, especialmente 
quando comparada à Europa e aos Estados Unidos. Quais são essas particularidades? É o que veremos 
a seguir.
A interpretação dos movimentos sociais na América Latina
As particularidades relacionadas ao processo de colonização e à orientação da política econômica 
fazem emergir movimentos diversos no Brasil, além daqueles relacionados às questões etnorraciais. A 
realidade da desigualdade social encontra marcas na América Latina que são profundas e, em alguns 
casos, muito próximas às de localidades na África.
Como então analisar os movimentos sociais na América Latina? Em que medida as teorias produ-
zidas na Europa e nos Estados Unidos podem contribuir com as análises da América Latina?
Gohn (1997) destaca questões que contribuem para a formulação de um paradigma dos movimentos 
latino-americanos, entre eles:
a diversidade de movimentos sociais;::::
a hegemonia dos movimentos populares;::::
os novos movimentos sociais;::::
a mediação da Igreja Católica em sua ala progressista, da Teologia da Libertação, com os ::::
movimentos populares;
a questão indígena como fonte de conflitos e movimentos sociais;::::
a questão do preconceito racial contra os afro-americanos;::::
a relação dos movimentos sociais com o Estado, variando em função dos objetivos estratégicos ::::
e das articulações do primeiro;
a questão da ideologia enquanto elemento fundante da ideia de movimento social na ::::
América Latina;
o importante papel dos partidos políticos;::::
a questão agrária tem sido palco de violentos conflitos;::::
protestos políticos diferenciados, em função das diversas expressões da vontade política. Ora ::::
são movimentos populistas, ora são movimentos conservadores, ora são movimentos revolu-
cionários mais radicais etc.;
a questão da rede de articulação internacional dos movimentos nos anos 1990;::::
a influência das ONGs internacionais, introduzindo a ideia de movimento-organização.::::
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23|Paradigmaspara interpretação dos movimentos sociais
No Brasil, a interpretação dos movimentos sociais populares, durante muito tempo, foi realizada 
mediante referenciais teóricos marxistas. As obras do próprio Marx foram fundamento para muitos 
estudos sobre a prática social e os conflitos de classes. Antonio Gramsci e os estudos sobre os intelectuais 
orgânicos foram base para a interpretação dos mediadores dos movimentos sociais, especialmente as 
lideranças oriundas da própria base do movimento, pois elas são consideradas orgânicas, ou seja, são 
pessoas que lideram, que têm estratégias políticas e que são oriundas da mesma condição social dos 
demais membros do grupo. Mediante uso dos referenciais marxistas, falava-se muito em transformação 
social, práxis revolucionária e consciência de classe.
O autor Éder Sader (1988) trouxe novas contribuições ao debate sobre movimentos sociais. Na 
década de 1980, o autor apresenta ideias que englobam duas categorias:
Sujeito novo – “coletividade onde se elabora uma identidade e se organizam práticas por meio ::::
das quais seus membros pretendem defender interesses e expressar suas vontades, consti-
tuindo-se nessas lutas [...] um novo sujeito (coletivo), lugares políticos novos (a experiência 
do cotidiano) numa prática nova (a criação de direitos, a partir da consciência de interesses e 
vontades próprias)” (SADER, 1988, p. 11-12).
Matrizes discursivas – “modos de abordagem da realidade, que implicam diversas atribuições ::::
de significado [...] sua produção e reprodução dependem de lugares e práticas materiais de 
onde são emitidas as falas” (p. 143).
Para Sader (1988, p.113), os movimentos sociais:
[...] expressaram tendências profundas na sociedade que assinalavam a perda de sustentação do sistema político 
instituído. Expressavam a enorme distância existente entre os mecanismos políticos instituídos e as formas de vida social 
[...] foram fatores que aceleraram essa crise e que apontaram um sentido para a transformação social [...] apontaram no 
sentido de uma política constituída a partir das questões da vida cotidiana.
Para adensar as análises dos movimentos sociais na América Latina, cabe destacar Alain Touraine 
(1989), sociólogo francês, que é um dos teóricos dos novos movimentos sociais muito presente, atual-
mente, nos estudos sobre ação coletiva. Ele pertence ao paradigma da ação social, cuja ênfase é dada 
à ação dos sujeitos da história ou como ele denomina, os atores sociais. Atores sociais ou coletivos são 
agentes dinâmicos, produtores de reivindicações e demandas.
Nos seus primeiros estudos, nos anos de 1960, ele afirmava serem necessários três elementos para 
que houvesse um movimento social: classe, nação e modernização. E os três elementos constitutivos do 
movimento social seriam: identidade, oposição e totalidade.
Para Touraine, o Estado não é apenas aparelho de poder, mas é um agente social de reação e 
transformação, uma força social de mudança histórica. E os movimentos têm o papel maior de agentes 
de pressões sociais do que de atores principais das transformações sociais.
Posteriormente, nos anos de 1980, Touraine discute questões metodológicas no estudo dos 
movimentos sociais. Desenvolve o método de intervenção sociológica, que busca resgatar a trajetória de 
movimentos sociais. Os elementos constitutivos dos movimentos sociais seriam a definição do próprio 
ator social (como que o grupo social se autodefine?); de seu adversário (a existência do opositor); do 
campo de disputa (disputa por objetivos diferentes) e do campo de conflito (tensão entre um grupo 
e outro). A preocupação do autor é entender a dinâmica de um dado processo social em que há a 
presença de movimentos sociais. Para ele, os movimentos sociais indicam aspectos que carecem de 
modificação na sociedade. São, portanto, o coração da sociedade.
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24 | Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
Nesse cenário, a sociedade civil é um espaço de disputas, de lutas e processos políticos. É nela que 
se localiza o processo de criação de normas, identidades, instituições e relações sociais de dominação e 
resistência, porque há uma capacidade de autorreflexão.
Outro autor que tem sido fundamento para as análises de movimentos sociais no Brasil é Alberto 
Melucci (2001), sociólogo italiano, especialmente a sua obra A Invenção do Presente, na qual menciona 
princípios necessários à análise dos movimentos sociais:
“Um movimento social não é a resposta a uma crise, mas a expressão de um conflito” (MELUCCI, ::::
2001, p. 33). Por exemplo: a existência do MST pode indicar um conflito acerca da compreensão 
do conceito de propriedade da terra e de sua função social. É um conflito de interesses.
“Um movimento social é uma ação coletiva cuja orientação comporta solidariedade, manifesta ::::
um conflito e implica a ruptura dos limites de compatibilidade do sistema ao qual a ação 
se refere” (MELUCCI, 2001, p. 35). A solidariedade está expressa na ação conjunta do grupo 
e na identificação dos mesmos propósitos entre os participantes do grupo. A existência do 
movimento indica que é necessário romper com aspectos do sistema maior (político ou 
estrutura social) que podem estar gerando conflitos.
“O campo analítico da ação de um movimento social depende do sistema de relações ao qual ::::
tal ação coletiva se situa e à qual se refere” (MELUCCI, 2001, p. 38). A análise do movimento 
social não existe isoladamente, é preciso levar em conta um sistema maior de relações: o 
próprio Estado, a conjuntura política, a força da sociedade civil e demais movimentos sociais, 
a articulação com outros movimentos e organizações.
“Todo movimento concreto contém sempre uma pluralidade de significados analíticos” ::::
(MELUCCI, 2001, p. 43). Um movimento social é um conceito e não um retrato empírico. Um 
conceito depende dos “óculos” que cada pesquisador utiliza para falar do concreto ou das 
relações sociais observadas. Então, para alguns, o movimento social pode significar “desordem”, 
para outros, o movimento pode representar mudança social.
“Cada movimento é um sistema de ação” (MELUCCI, 2001, p. 46). Cada movimento é também ::::
um todo de relações, cujas particularidades são dadas pelos elementos internos e externos, 
ou seja, pela sua composição e organização interna e pela sua articulação e composição de 
forças externas. Ao mesmo tempo em que o movimento social faz parte de um sistema maior 
de relações, ele produz relações internas, que formam um sistema.
Com base na obra de Gohn (1997), organizamos um quadro para melhor visualização de outros 
paradigmas que podem ser utilizados na análise dos movimentos sociais. Daremos atenção às particu-
laridades do paradigma norte-americano e europeu. É importante lembrar que o viés marxista e o viés 
dos novos movimentos sociais, que marcam presença nas análises dos movimentos sociais no Brasil, 
são oriundos de um paradigma europeu. A título de síntese do conteúdo mencionado anteriormente, 
destacaremos aspectos centrais do paradigma latino-americano ao final do quadro.
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25|Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
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26 | Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
Texto complementar
(MELUCCI, 2001, p. 32-33)
Colocar o problema da formação de um ator coletivo significa reconhecer que aquilo que, 
empiricamente, se chama “movimento” e ao qual, por comodidade de observação e de linguagem, 
atribui-se uma unidade essencial, é, na realidade, a resultante de processos sociais heterogêneos. 
Trata-se, pois, de entender como se forma a unidade e a que resultados diferenciados os diversos 
componentes podem dar lugar.
Esse critério metodológico implica numa real mudança de perspectiva. Os estudos históricos e 
a sociologia do trabalho têm, por exemplo, mostrado a multiplicidade dos atores e dos interesses 
presentes naquilo que, quase por convenção linguística, se chama “movimento operário” e que 
também tinha, na base, uma condição social comum. Uma greve operária nunca foi um fenômeno 
homogêneo porque, no seu interior, coexistiam questões conflituosas que atingiam, no sistema 
organizativo da empresa, questões que tinham como interlocutor o sistema político, enfim, elementos 
de luta de classe que atacavam o modo de produção capitalista enquanto tal. Essa diferenciação está 
mais evidente nos fenômenos coletivos contemporâneos que não se radicam nem mesmo numa 
condição social homogênea.
Um movimento social é um objeto construído pela análise e não coincide com as formas 
empíricas da ação. Nenhum fenômeno de ação coletiva pode ser assumido na sua globalidade, 
porque não expressa nunca uma linguagem unívoca. Uma aproximação analítica dos movimentos 
implica na decomposição do objeto segundo o sistema de relações sociais investido pela ação e 
segundo as orientações que tal ação assume. O significado do fenômeno varia, portanto, em função 
do sistema de relações sociais ao qual a ação faz referência, e da natureza do conflito. Indagar 
sobre o diverso funcionamento de uma organização não é a mesma coisa que colocar em questão 
o poder. Lutar por uma ampliação da participação nas decisões é diferente de rejeitar as regras 
do jogo. Somente sob a condição de distinguir planos e significados diversos da ação coletiva é 
possível compreender os conteúdos de um movimento concreto, portador de instâncias múltiplas 
e frequentemente contraditórias. 
Atividades
1. Com base nas fases dos movimentos sociais, escolha um movimento social de seu interesse e 
descreva a origem do mesmo, sua organização interna e sua articulação externa.
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27|Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
2. O paradigma latino-americano para análise dos movimentos sociais deve levar em conta, 
especialmente, dois elementos. Quais são eles?
3. Mencione duas contribuições de Éder Sader para a análise dos movimentos sociais no Brasil.
Gabarito
1. Origem: poderá ser uma causa socioeconômica ou um fator cultural e de identidade. Por exemplo, 
o movimento de moradia tem uma causa socioeconômica. O movimento de mulheres tem uma 
origem sociocultural. 
Organização: menção aos líderes e demais pessoas (base) que compõem o movimento social. 
Por exemplo, o movimento feminista tem mulheres líderes, escolhidas em função de critérios 
pessoais (comunicabilidade, por exemplo) e tem asmulheres que engrossam o movimento social 
(base).
Articulação externa: como o movimento se relaciona com outros movimentos e organizações. 
Exemplo: o movimento pode receber apoio de outros movimentos, partidos políticos, ONGs etc. 
Faz parte do conjunto de relações externas.
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28 | Paradigmas para interpretação dos movimentos sociais
2. 1) O processo de colonização dos países latino-americanos. 
2) a diversidade de movimentos sociais, desde aqueles que lutam por questões vinculadas a 
classes sociais aos que lutam pelo reconhecimento de questões identitárias.
3. Novos sujeitos coletivos e matrizes discursivas.
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Sociedade civil
Introdução
O objetivo deste capítulo é caracterizar o que se denomina sociedade civil, uma vez que é nessa 
esfera que se localizam os movimentos sociais. Cientistas sociais e filósofos clássicos nos auxiliam na 
compreensão do que atualmente se conceitua como sociedade civil organizada.
Podemos imaginar uma sociedade de indivíduos sem regras? Ou um conjunto de indivíduos 
vivendo subjugados pelo Estado? O homem em sua condição natural – ser racional, que pensa, que tem 
sentimento, força – pode tender para a luta entre os seus iguais (iguais na condição racional) ou para o 
fortalecimento de grupos. O contrato seria a forma de desenvolver uma associação entre indivíduos ou 
uma sociedade. Nesse ponto, Hobbes fundamenta em suas ideias de que não existe primeiro a sociedade 
e depois o Estado; para ele, se há governo é porque os homens buscam a convivência pacífica. Sem 
governo, os indivíduos tendem a se matar. Mas o poder político do governante não pode ser absoluto. 
Aqui se delineia um debate em torno da dicotomia sociedade natural (civil) e sociedade política (Estado). 
Para um melhor entendimento da questão, vamos recorrer a Bobbio (1994) em sua obra O Conceito 
de Sociedade Civil. Segundo o autor: “Em toda a tradição jusnaturalista, a expressão societas civilis, em 
vez de designar a sociedade pré-estatal, como irá ocorrer na tradição hegeliano-marxista, é sinônimo 
de sociedade política” (BOBBIO, 1994, p. 26). Por exemplo, para Rousseau, o état civil é sinônimo de 
Estado. Existe um estado natural e um estado civil, fundado na associação entre as pessoas. Na tradição 
jusnaturalista, os dois termos da antítese não são – como na tradição hegeliano-marxista – sociedade 
civil/ sociedade política, mas sim estado de natureza/estado civil (BOBBIO, 1994, p. 27).
É com Hegel e Marx que a sociedade civil adquirirá outras configurações. A sociedade civil em 
Marx pertence ao momento da estrutura – compreende todo o conjunto de relações materiais entre 
os indivíduos – enquanto que para Gramsci a sociedade civil representa o momento da superestrutura, 
referindo-se a todo o conjunto de relações ideológico-culturais. 
A obra de Costa (2002, p. 62) nos apresenta um conceito operacional de sociedade civil:
A categoria refere-se ao contexto da topografia social, marcado por relações de solidariedade e cooperação e não se 
restringe assim a um somatório de organizações, trata-se de uma teia de interações. As organizações da sociedade 
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30 | Sociedade civil
civil devem ser vistas, nessa definição, como condensação institucional, nódulos nesse contexto de interações que se 
distinguem dos grupos de interesses atuantes na esfera da política (partidos, lobbies etc.) e da economia (sindicatos, 
associações empresariais etc.) [...]
Particularmente, na análise dos movimentos sociais é de extremo interesse o que o autor 
denomina de teia de interações. A sociedade civil é marcada pela interação entre os diversos sujeitos 
(organizações, movimentos, associações) que dão conformidade ao tecido social. Assim, a sociedade 
civil produz um conjunto de relações e práticas de cunho ideológico-culturais.
Uma das condições para a consolidação da sociedade civil, segundo Costa, é a vigência de direitos 
civis básicos (liberdade de organização, expressão etc.). 
[...] sua vitalidade e possibilidade de influência dependem da existência de um espaço público minimamente poroso, 
uma vez que esse espaço representa a arena privilegiada de atuação política dos atores da sociedade civil, constituindo, 
ainda, a arena de difusão dos conteúdos simbólicos e das visões de mundo diferenciadas que alimentam as identidades 
de tais atores. (COSTA, 1997, p. 17)
A socióloga da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Scherer-Warren (2006), nos apre-
senta outras faces do que se denomina sociedade civil. Para ela, a sociedade civil é composta de forças 
sociais heterogêneas, mas sua essência relaciona-se à defesa da cidadania. A sociedade civil não é isenta 
de conflitos de poder, disputas por hegemonia. “[...] a sociedade civil é a representação de vários níveis 
de como os interesses e os valores da cidadania se organizam em cada sociedade para encaminhamen-
to de suas ações em prol de políticas sociais e públicas, protestos sociais, manifestações simbólicas e 
pressões políticas” (SCHERER-WARREN, 2006).
Desse modo, neste capítulo discutiremos a sociedade civil como esfera de interações entre gru-
pos, movimentos e organizações sociais que, de algum modo, lutam pela efetivação de direitos, partici-
pação sociopolítica, entre outros aspectos.
Sociedade civil e movimentos sociais no Brasil 
A título de especificar o que denominamos sociedade civil, mencionaremos diversos movimentos 
sociais que integram a esfera civil no Brasil. Estamos demarcando a sociedade civil organizada como esfera 
que congrega os movimentos sociais (que podem ser reacionários ou revolucionários e reformistas), as 
ONGs (que podem ser cidadãs – preocupadas com questões sociais de fato – ou apenas panfletárias de 
questões sociais), os conselhos gestores que envolvem a população junto ao Poder Público, entre outros 
grupos sociais que defendem interesses sociais. A sociedade civil, na interface com o Estado, gera uma 
esfera pública em que sociedade civil e sociedade política se encontram para discutir e elaborar propostas 
que possam atender aos interesses sociais da maioria da população. 
Os movimentos populares que demandam moradia 
São movimentos de cunho reivindicativos. A reivindicação por moradia no espaço urbano tornou-se 
acirrada a partir dos anos de 1940. Um dos fatores que explica tais demandas é a migração campo-
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31|Sociedade civil
-cidade, impulsionada pelas indústrias que atraíam mão de obra e pela crise na produção agrícola, 
acrescida da concentração da terra.
As Sociedades Amigos de Bairro (SABs) constituem o embrião do que seria conhecido como mo-
vimento popular urbano, assessorado pela Igreja que, a partir dos anos 1960, investe na organização de 
moradores de bairros.
Alguns fatos reconhecidos como fundamentais no fortalecimento e consolidação do movimento 
de luta por moradia são o I encontro dos favelados do Rio de Janeiro (1967); a criação do movimento 
de Defesa do Favelado e União dos Movimentos de Moradia Popular (1975). Na gestão do governo 
Luiz Inácio Lula da Silva foi criado o Ministério das Cidades que, por suposto, cuidará também dos 
conflitos urbanos, uma vez que a carência de moradia é um dos problemas sociais marcantes no 
país. É relevante, no contexto da sociedade civil, o papel desempenhado pelo Fórum da Reforma 
Urbana – instância que congrega diversos movimentos populares urbanos.
As estratégias de luta, em meados do século XX, baseavam-se no fortalecimento da base do 
movimento; encontros locais e regionais para trocas de experiência; assessoria da Igreja Católica; 
elaboração de boletins e documentos que destacavam o “problema da moradia nas grandes cidades”. 
No

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