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aula 08 preservação

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PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA 
PROVA
PERÍCIA DE LOCAL
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Reconhecer os equipamentos mais utilizados pelos peritos;
2- Reconhecer os principais tipos de perícia criminal.
Seja muito bem-vindo à nossa oitava aula da disciplina “Preservação e Valorização da prova”. Você irá estudar de
forma mais aprofundada sobre a perícia realizada no local de crime. Na aula 4, vimos o assunto de forma mais
genérica. Você viu na aula anterior, que a manutenção e a integridade da Cadeia de Custódia são determinantes
para a valorização da prova em juízo. E viu também, que uma das formas de iniciar a Cadeia de Custódia de uma
prova é através da perícia no local do crime.
1 Apresentação de caso
Por volta das 2h30, o plantão da Delegacia de Polícia Judiciária de uma cidade do interior mineiro, cortada pela
BR-116, é acionado pela Polícia Rodoviária Federal tendo em vista um acidente, de circunstâncias misteriosas,
que resultou na morte do condutor e único ocupante de um veículo GM/Celta, que colidiu com uma mureta
divisória em um trecho de reta.
O plantão comunicou o fato à autoridade policial que diligenciou ao local e determinou o acionamento da perícia
para o local do fato.
O local em questão tratava-se do início de um trecho de reta de aproximadamente 1,5 Km após um trecho
sinuoso de descida de serra. Esse trecho é feito em mão dupla (pista única) e, ao término da descida, a pista se
divide em duas, separadas pela mureta onde o GM/Celta colidiu.
A primeira constatação do perito no local foi o óbito do condutor, que não usava cinto de segurança e que, por
ocasião da batida, sofreu forte impacto do tórax contra o volante do veículo e da cabeça contra a coluna e parte
do para-brisa. Um desses impactos provavelmente seria a causa da morte, mas essa era matéria para o médico
legista.
A segunda constatação do perito de local foi a ausência de marcas de frenagem, indicando que o condutor não
tentou ou não teve tempo ou condições de evitar a colisão.
A terceira constatação foi a de que o GM/Celta não apresentava qualquer avaria indicativa de abalroamento, que
pudesse ter provocado a perda de direção. A única e grave avaria era na região frontal, precisamente no local
que colidiu com o início da mureta divisória.
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A quarta constatação foi de que o tempo estava claro e seco, ausência de neblina e chuva, circunstâncias que
combinadas com o aparente bom estado do veículo, com pneus novos e manutenção aparentemente em ordem,
afastam, em princípio, hipótese de perda de direção devido à falta ou deficiência de dirigibilidade ou visibilidade.
O perito constatou ainda que os vidros estavam fechados e o ar-condicionado ligado na função de recirculação,
sem renovação do ar interno. Essa circunstância, se presente durante muito tempo, leva ao aumento da
concentração de gás carbônico no habitáculo do veículo.
Um dos efeitos conhecidos da intoxicação por esse gás é a sonolência.
2 Conceitos primordiais
O trabalho de perícia no local varia muito em função da natureza do crime que se pretende investigar: homicídio,
dano, incêndio, furto com arrombamento, crimes de trânsito etc.
Todavia, o conhecimento de alguns procedimentos, locais e equipamentos específicos, é essencial.
Kits de varredura
Um dos principais equipamentos, o kit de varredura de locais de crime consiste em uma maleta que contém,
dentre outros, os seguintes equipamentos: (notebook, GPS, trena a laser, máquina fotográfica digital etc.).
Luzes forenses
Esse recurso pode ser utilizado tanto no local do crime como em sede laboratorial.
Utiliza-se a luz em diferentes comprimentos de onda a fim de identificar vestígios e evidências físicas na cena do
crime ou em exames laboratoriais. Existem basicamente dois métodos de uso das luzes forenses:
No método de absorção, o perito utiliza a diferença de cor entre um objeto e o fundo de sua superfície, para que
através do contraste consiga identificar o objeto.
No método da luminescência, uma molécula presente em uma substância emite luz quando exposta à fonte de
uma luz externa.
Câmaras frias
São câmaras utilizadas nos Institutos Médico-Legais para conservação de corpos.
Reagentes Químicos
Após colher os vestígios no local do crime, o perito realizará sua análise. Essa análise poderá ser física, química
ou documental. No caso de análise química, o perito utilizará reagentes químicos.
Nas análises químicas, os reagentes mais utilizados são iodo, pó, ácido desoxiribonucleico (DNA) e luminol.
Cromatógrafos Gasosos
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Outro instrumento laboratorial. O cromatógrafo gasoso é um instrumento analítico que permite analisar
compostos de uma amostra.
O exame consiste em inserir uma amostra no injetor do equipamento, sendo que essa amostra será transportada
por um gás através de tubo, também denominado “coluna”. Os componentes da amostra são separados dentro
dessa coluna.
Exames de DNA
Na verdade, esse exame é realizado em sede laboratorial. Muito comum nos casos de estupro – que têm crescido
vertiginosamente nos grandes centros – é composto por:
• swabs (grandes hastes flexíveis semelhantes à cotonetes gigantes) destinados a coleta de fluidos e 
material biológico, lâminas para esfregaço;
• seringas;
• agulhas descartáveis;
• tubo com anticoagulantes para amostras de sangue;
• envelopes;
• pentes descartáveis para a coleta de pelos/cabelos;
• palitos para coleta de resíduos sob as unhas;
• fita adesiva para lacrar o kit utilizado e a amostra coletada dentro do envelope.
Exame de balística
O grande objetivo desse exame é determinar o autor do disparo de uma arma de fogo. Isso é possível
combinando-se uma série de exames, como o do estojo deflagrado, do cano da arma e dos resíduos de pólvora
nas mãos do atirador. Assim como o exame de DNA, é feito predominantemente em sede laboratorial.
Todavia, aspectos como a trajetória do projétil, a distância percorrida, a posição do atirador, dentre outros,
devem ser estudados no local do crime.
Laboratórios de fonética
Trata-se de um laboratório normalmente instalado nos departamentos de Polícia Técnica e equipado com
estúdio, computadores e gravadores capazes de operar com qualquer tipo de mídia (fitas, CD e DVD, cartão etc.).
Esses equipamentos são utilizados em interceptações telefônicas e identificação de voz.
3 Procedimentos gerais a serem adotados
No primeiro capítulo, você viu o caso de um acidente de trânsito. Mas o perito lida, em seu cotidiano profissional,
com uma enorme gama de crimes, praticados de formas diferentes, em locais diferentes, usando meios
diferentes.
Cada crime tem sua peculiaridade, e em geral não há um perito especializado em cada crime, ou seja, faz-se uma
espécie de “clínica geral”, obrigando o perito criminal a manter-se sempre atualizado para as novas práticas
criminosas que não param de surgir. Ele pode estar “ ” o local de um homicídio por arma de fogo (Art. 121fazendo
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do CP) e em seguida ter que “fazer” o local de um acidente de trânsito (Lei 9.503/97), ou de um furto com
arrombamento (Art. 155, §4º do CP).
Apesar da diversidade em relação à natureza das ocorrências, alguns procedimentos devem ser observados em
relação a todas elas: registro da aquisição, procedimento imediato, registro das condições do lugar, avaliação da
competência, aquisição de controle etc.
4 Procedimentos específicos a serem adotados
Local de morte
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Perinecroscopia: consiste em se examinar o local onde, presumida ou confirmadamente ocorreu a morte da
vítima e no exame da própria vítima. A primeira etapa é realizada no local, pelo perito de local. A segunda etapa,
o exame da vítima, é realizada no Instituto Médico Legal pelo Perito Legista.
Adentrando no local: essa fase somente deve ser iniciada quando as providências anteriores (preliminares)
forem esgotadas, pois, cada deslocamento, cada ação dentro da cena do crime tende a provocar alterações
irreversíveis, razão pela qual o registro preliminardeve ser o mais minucioso possível.
No interior do local, o perito deve fazer novo registro fotográfico e também um croqui. O perito pode colher
impressões digitais no local no intuito de identificar suspeitos, mas somente após a confecção do croqui e o
registro fotográfico.
: aPreliminar ntes de adentrar no local propriamente dito, o perito deve fazer, com riqueza de detalhes, o
registro escrito e fotográfico do local e das vizinhanças, sempre que possível, fotografando o lugar de diferentes
ângulos e perspectivas.
É importante que fique claro o tipo de local (terreno, casa, prédio, veículo, parque etc.), sua localização (rua, sítio,
condomínio etc.), características do terreno (plano, inclinado, arenoso, pedregoso, asfaltado etc.).
Ao perito de local, cabe constatar a morte através da observação dos fenômenos cadavéricos (Hipóstases, livores,
mancha verde abdominal, pupilas dilatadas, rigidez cadavérica etc), verificar características e aspecto geral da
vítima (Sexo, raça, idade aparente, vestes, orifícios, lesões e suas causas, sinais etc), localização e posição da
vítima, se foi movimentada ou removida depois da morte, hora da morte.
Local de furto
Esse é um dos crimes mais comuns. Tipificado no artigo 155 do Código Penal, o furto consiste em: subtrair, para
si ou para outrem, coisa alheia móvel.
Para os leigos, esse crime é confundido com o roubo: subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência; e principalmente com apropriação Indébita: apropriar-se de coisa alheia móvel,
de que tem a posse ou a detenção.
Fique ligado
O perito deve ainda descrever se há sangue na vítima ou em sua volta, se o sangue está fresco
ou seco, observar as mãos da vítima, se ela segurava arma (nesse caso descrever a arma, a
posição exata dos dedos, se é fácil ou difícil retirar a arma, se há rigidez muscular nas mãos).
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A diferença em relação ao crime de roubo, é que nesse último há o emprego de ameaça ou violência.
Em relação à apropriação indébita, a diferença é ainda mais sutil: nesta última, o autor não subtrai a coisa, a
posse lhe é transmitida provisoriamente pelo proprietário, mas o autor não a devolve quando solicitado.
As principais modalidades de furto são:
• a transeunte;
• de veículo;
• no interior de veículo;
• no interior de residência;
• e no interior de estabelecimentos comerciais ou industriais.
O furto a transeunte não é muito interessante do ponto de vista pericial, uma vez que pouco ou nada é
preservado para fins periciais.
No caso do furto de veículo, a perícia é obrigatória, mas depende, evidentemente, da recuperação do veículo
furtado. Nesse caso e nos casos de furto no interior de residências ou de estabelecimentos comerciais ou
industriais o serviço de perícia é requisitado.
Ao chegar ao local, o perito adota os mesmos procedimentos preliminares já descritos (Fotografar de diferentes
ângulos e vistas, confeccionar croqui, detalhar o local e sua vizinhança etc).
Em seguida, o perito adentra no local em busca de vestígios que possam indicar a prática de escalada,
rompimento ou destruição de obstáculo à subtração da coisa, destreza na prática criminosa ou concurso de duas
ou mais pessoas, circunstâncias que, provadas, qualificam o crime de furto e aumentam a pena imposta ao autor.
Local de Ocorrência de Trafego.
Embora normalmente denominemos esse tipo de ocorrência “acidente de trânsito”, por se tratar especificamente
do deslocamento de veículos, pedestres e animais por via pública, o termo mais preciso é “tráfego”.
E por não ser possível afirmar, de antemão, se se trata de um homicídio (ou lesão corporal) doloso, de um
suicídio ou de um acidente propriamente dito, utilizamos o termo “ocorrência” (Mallmith, 2007).
Inicialmente, o agente de trânsito que primeiro chegar ao local deve providenciar o isolamento, de forma que
abranja todos os veículos envolvidos na ocorrência.
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Fique ligado
Em razão de suas peculiaridades, esse tipo de perícia somente pode ser realizada durante o
dia. O perito buscará ainda colher fragmentos de impressões papilares que serão
encaminhados ao setor de papiloscopia do Instituto de Criminalística, a fim de se tentar
identificar o autor.
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Naturalmente, o socorro às vítimas tem prioridade – e se não houver vítimas não é caso de perícia oficial!
Outra providência de extrema importância: preservar as marcas da ocorrência, como danos em obstáculos
(postes, muros etc.) e, especialmente, as marcas de frenagem.
É através das marcas de frenagem que o perito irá avaliar a velocidade que o veículo desenvolvia e com base
nessa informação, determinar com mais precisão o perímetro do isolamento.
Local de dano
Preliminarmente, devemos ter em mente que não existe, no Direito Penal, a figura do dano culposo. Se
observarmos o disposto no artigo 163 daquele diploma legal, veremos que o dispositivo não contempla a figura
culposa.
Assim é que, se o agente destrói, inutiliza ou deteriora coisa alheia movido por negligência, imprudência ou
imperícia, existirá apenas o ilícito civil e restará afastada a atribuição da perícia oficial.
Em seguida, devemos observar que, no âmbito do artigo 163, existem três modalidades de dano:
• Destruição
Aqui o agente atinge a coisa em sua essência, destruindo-a por completo. É o caso do agente que mata
uma vaca leiteira de outrem ou despeja um vinho precioso na pia, sempre de forma dolosa, ou seja, de
causar o dano.
• Inutilização
Aqui o agente atinge a utilidade da coisa, que continua a existir, todavia, imprestável para o fim a que se
propunha inicialmente. É o exemplo do agente que arranha uma lente ou submerge em água um
aparelho eletrônico sensível.
• Deterioração
Nessa conduta, a ação do agente não destrói ou inutiliza a coisa, mas reduz-lhe o valor. É o caso do
agente que arranha toda a pintura de um carro novo, ou ainda fura as peças da lataria. O veículo
Fique ligado
O perito deverá fazer o registro fotográfico e o croqui detalhado do local (levantamento
topográfico e fotográfico).
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continuará a existir e poderá ser utilizado normalmente, mas seu valor estético e comercial estará
comprometido.
O perito deverá apurar se o dano praticado foi uma finalidade em si mesma, ou seja, se ele não foi meramente um
meio para se praticar outro crime. Por exemplo, o agente que danifica a porta de um veículo para entrar nele e
subtrair o aparelho de som, não responde pelo dano, mas pelo furto, que foi a sua real finalidade.
Deve analisar ainda a existência de circunstâncias qualificadoras, quais sejam:
• Violência à pessoa ou grave ameaça.
• Utilização de substância explosiva ou inflamável (Nesse caso, deve ainda observar se essa circunstância 
não constitui, por si só, prática de crime mais grave, caso em que o agente responderá apenas por esse 
crime.
• Contra o patrimônio da União, estado, município, empresa concessionária de serviços públicos ou 
sociedade de economia mista.
Com prejuízo considerável para a vítima.
Local de incêndio
O incêndio pode ser provocado por três fatores:
• : raios, enchentes, tempestades etc.Causas Naturais
• : queda de aeronaves, curto-circuito, superaquecimento etc.Acidentes
• : atentados, sabotagens etc.Atos intencionais
A missão do perito, nesse caso, é apurar qual desses fatores provocou o incêndio. Do ponto de vista criminal,
incêndios provocados por causas naturais, obviamente, não interessam.
Local de Disparo de Arma de Fogo
Normalmente essa perícia é solicitada para caso de veículos ou imóveis atingidos por disparos de arma de fogo.
O perito deverá registrar, por meio de croquis e fotos, os locais atingidos por disparos, bem como recolher
vestígios como estojos deflagrados, fragmentos de chumbo etc.
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Fique ligado
Determinar se o incêndio foi provocado por um acidente ou ato intencional, ajudará a
autoridade policial determinar o indiciamento por um crimeculposo ou doloso. O perito
deverá narrar o histórico da ocorrência, detalhar as características do local e realizar os
exames pertinentes, a fim de determinar as causas do incêndio. Muitas vezes, quando da
chegada do perito, o incêndio já foi debelado e as vítimas socorridas - e nem seria possível
realizar a perícia com o incêndio em andamento!
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Nos casos de veículos atingidos por disparo de arma de fogo, normalmente ele fica na guarda de seu
proprietário, que deve levá-lo à delegacia ou ao instituto de criminalística para a realização da perícia.
No caso de imóveis, evidentemente, a perícia deve ser realizada no local. Muitas vezes essa perícia de local é
dificultada pela escassez de profissionais e pela concorrência com um grande número de solicitações de natureza
grave.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• Detalhamento sobre a perícia em objetos, os cuidados e os procedimentos a serem adotados pela equipe.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Reconheceu os instrumentos e equipamentos mais comumente utilizados pelos peritos;
• Reconheceu os tipos de perícias mais frequentemente requisitados.
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	Olá!
	1 Apresentação de caso
	2 Conceitos primordiais
	3 Procedimentos gerais a serem adotados
	4 Procedimentos específicos a serem adotados
	Destruição
	Inutilização
	Deterioração
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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