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Unidade II1 - Cultura

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7
Antropologia Cultural de Moçambique
Universidade Licungo
Autor: MA. António V. Waya
Unidade III: Cultura e Dinâmica Cultural
Objectivos pedagógicos
No final deste capítulo, o estudante deverá ser capaz de:
· Conceituar cultura, tradição e civilização
· Caracterizar o conceito antropológico de cultura
· Descrever os principais factores da cultura
· Relacionar Cultura e sociedade
· Distinguir Cultura material e cultura imaterial
· Descrever os principais fenómenos que marcam o dinamismo e a mudança cultural
Conceitos de cultura
Com apenas sete letras, a palavra cultura possui uma significação variada. Segundo os estudos realizados pelos antropólogos americanos, Alfred L. Kroeber e Gleyde Kluchhon, em Culture. A Critical Review of Concepts and Definitions, até aos anos 1970, o termo cultura possuía mais de 250 definições.[footnoteRef:1] [1: Cf. I. SAVRANSKI, A Cultura e as suas Funções, Moscovo: Edições Progresso, 1986, p. 5.] 
Em cerca de vinte e sete páginas do seu capítulo sobre o conceito, Kluckhohn conseguiu definir a cultura como: (1) "o modo de vida global de um povo"; (2) "o legado social que o indivíduo adquire do seu grupo"; (3) "uma forma de pensar, sentir e acreditar"; (4) "uma abstração do comportamento"; (5) "uma teoria, elaborada pelo antropólogo, sobre a forma pela qual um grupo de pessoas se comporta realmente"; (6) "um celeiro de aprendizagem em comum"; (7) "um conjunto de orientações padronizadas para os problemas recorrentes"; (8) "comportamento aprendido"; (9) "um mecanismo para a regulamentação normativa do comportamento"; (10) "um conjunto de técnicas para se ajustar tanto ao ambiente externo como em relação aos outros homens"; (11) "um precipitado da história", e voltando-se, talvez em desespero, para as comparações, como um mapa, como uma peneira e como uma matriz.[footnoteRef:2] [2: Clifford GEERTZ, Interpretação das Culturas, 1973, p.4.] 
Entretanto, por mais diversificadas que sejam suas definições, podemos agrupá-las em dois sentidos básicos: 1) sentido humanista e 2) sentido antropológico.
1) Sentido humanístico. No sentido humanista “cultura” designa três coisas: 1. Aquilo que faz que o homem seja um homem; 2. A preocupação do homem pelo homem; 3. Aquilo pelo qual o homem se torna verdadeiramente homem, a sua formação, correspondendo a concepção grega da paideia, isto é, a “formação do homem como homem. A educação das suas faculdades: corporais, intelectuais, morais e religiosas. É a acção que o homem realiza quer sobre o seu meio quer sobre si mesmo visando uma transformação para o melhor.” (Enciclopédia Luso-Brasileira da Cultura, Lisboa : editorial Verbo, verbete cultura);
2) Sentido antropológico. 
Na linguagem antropológica, o termo cultura possui diversas tendências: 
a) A cultura em geral, isto é, um conjunto de padrões de comportamento, de modos de organização económica e política, de tecnologias, em permanente adaptação, em vista do relacionamento dos grupos humanos com seus respectivos ecossistemas, crenças, conhecimentos, usos e costumes, etc., que distinguem um grupo social. (Edward B. Tylor). Neste sentido, cultura se caracteriza por ser única e universal. Como conjunto unitário, a cultura é um património, é um valor que se transmite dos pais aos filhos, como herança tradicional.
b) A cultura como um sistema de conhecimento da realidade, como o código mental do grupo, não como um fenómeno material, mas cognitivo;
c) A cultura como um sistema estrutural, em que o eixo de tudo é a bipolaridade natureza-cultura, tendo como campos privilegiados de sua concretização o mito, a arte, a língua e o parentesco;
d) A cultura como sistema simbólico de um grupo humano, sistema que só poderá ser apreendido por outro grupo por meio de interpretação e não por mera descrição; A Dimensão simbólica da cultura é defendida por Clifford Geertz, em A Interpretação das culturas, 1978). Para Clifford Geertz, a cultura é um discurso social, um texto com um significado que precisa de ser interpretado.
“O conceito de cultura que eu defendo é essencialmente semiótico. Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significado que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo estas teias e sua análise, portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, á procura do significado” (Geertz, 1978: 15).
Como sistemas entrelaçados de signos interpretáveis, a cultura não é um poder, algo ao qual possam ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituições e os processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos com densidade.
e) A cultura como modus vivendi (comportamento social do grupo), que compreende: 
i. Modos de vida pertencentes a toda a humanidade (linguagem oral ou escrita, por exemplo); 
ii. Modos de vida particulares a um grupo social (exemplo, o vestuário): “modo particular por que as pessoas se adaptam ao ambiente; é dos homens às suas necessidades básicas; é o modo de vida de um povo, o ambiente que um grupo de seres humanos, ocupando um território comum, criou em forma de ideias, instituições, linguagem, instrumentos, serviços e sentimentos.” (Ashley Montagu); 
iii. Padrões de vida particulares a uma sociedade. A ideia de padrão cultural em seu sentido antropológico actual se formula com Franz Boas e sobretudo com a obra de Ruth Benedict, Patterns of culture (1934). A cultura é considerada como indivíduo, como um ser biológico. Como tal, a cultura representa a soma total das actividades de um grupo. Se refere ao ajustamento de diversos traços (actos ou objectos individuais ou específicos que constituem a cultura) e complexos culturais (conjunto de diversos traços) de uma sociedade.
iv. Modos de vida particulares de um segmento de uma sociedade complexa (também chamados de subculturas: conjunto de atributos e de produtos das sociedades humanas e do género humano). O modelo de construção das habitações dos vandau de Machanga e o seu simbolismo é particular àquele segmento da etnia ndau. 
A Antropologia cultural coloca acento sobre uma das características fundamentais da cultura: a sua transmissibilidade. A transmissão é explicada pelo uso de termos tais como tradição, costume, herança, etc.
Cultura e civilização
Podemos distinguir Cultura da Civilização?
Os antropólogos alemães distinguem as duas; os ingleses associam-nas e os franceses oscilam entre as duas posições. Para compreendermos a diferença entre estes dois conceitos, basta olharmos para o livro e o disco que pelo conteúdo são objectos da cultura (transmitem culturas de povos) mas pela forma, eles são objectos civilizacionais (objectos resultados da mente e mão humanas).
A natureza de cultura
Para entender a natureza essencial da cultura é preciso resolver uma série de aparentes paradoxos que não se devem ignorar. Estes paradoxos podem ser enunciados de diversas formas:
1. A localidade e universalidade da cultura. A cultura é universal na experiência do homem, entretanto, cada manifestação local ou regional é única. Nenhuma cultura é isolada de outras.
2. A estabilidade e dinâmica da cultura. A cultura é um processo bipolar (estabilidade e mutabilidade). A cultura se inscreve na história como diversidade de culturas. Há a realçar dois aspectos fundamentais: o aspecto diacrónico (que envolve a descoberta, invenção, difusão e Aculturação) e o aspecto sincrónico (garantido pelos aspectos da Endoculturação/ Enculturação/ Inculturação/ processo de ensino e aprendizagem).
A Aculturação
O conceito de aculturação foi usado por Ralph Linton, Robert Redfield, J. Melville Herskovits, como processo sociocultural que ocorre sempre que grupos humanos ou mesmo indivíduos isolados, de culturas diversas, entram em contacto mais ou menos continuado e directo uns com os outros, acarretando mudanças de um ou de todos os grupos ou indivíduos envolvidos. O processo é complexo e pode tomar formas diversas dependendo da natureza de contacto (pacífico ou bélico); da superioridade tecnológicade uma das culturas em relação à outra (pólvora versus arco e flecha); do tamanho e complexidade de grupos em presença. Deste contacto podem ocorrer os seguintes fenómenos:
a. Fusão cultural (em religião se chama de sincretismo) – surgimento de um terceiro sistema cultural distinto dos dois anteriores.
b. Osmose cultural (Assimilação) – o grupo fraco se ajusta ao grupo forte.
c. Simbiose cultural (Pluralismo ou convivência cultural) – quando convivem, lado a lado, justapostas culturas que não perderam sua autonomia.
3. A cultura determinante e determinada. A cultura enche e determina amplamente o curso das nossas actividades, entretanto, raramente interfere no pensamento consciente. A cultura dá ao homem o sentimento de sua existência e também, por vezes, a certeza, de ser o seu criador ao mesmo tempo que a sua criatura. A cultura faz o homem e este faz a cultura.
4. A cultura é humana e social. A cultura apesar de ser humana, é transmitida, comunicada e social. Todo o facto cultural é social, mas nem todo o facto social é cultural. A cultura é um facto humano. As culturas aparecem como semelhantes e diferentes.
Factores de cultura
Jean Melville Herskovits[footnoteRef:3] escreve: [3: Melville Jean HERSKOVITS, Les Bases de l’Anthropologie Culturelle, Paris: Payot, 1967, p. 5.] 
“O homem vive em muitas dimensões: move-se no espaço, onde o meio natural exerce influência constante sobre ele. Existe no tempo, que lhe dá um passado histórico e um sentimento do futuro. Realiza as suas actividades numa sociedade de que faz parte e identifica-se com os outros membros do seu grupo para cooperar com eles no seu sustento e na sua continuidade. (…) o que distingue o homem, esse animal social, dos outros animais (…) é a cultura. Essa tendência a desenvolver as culturas cimenta num conjunto unificado todas as forças que agem sobre o homem, integrando em favor do indivíduo seu meio natural, o passado histórico do seu grupo e as suas relações culturais. A cultura reúne todos estes factores e dá ao homem o sentimento e também, por vezes, a certeza, de ser o seu criador ao mesmo tempo que a sua criatura.”
J. Melville Herskovits distingue, neste texto, quatro factores fundamentais de cultura: 
1) O homem (Anthropos) na sua realidade individual e pessoal. O homem na sua singularidade produz a cultura. José Craveirinha (na literatura escrita) Malangatana (na escultura), Pfany Mphumo (marrabenta) podem ser considerados produtores da cultura Moçambicana; a cultura exige um esforço do individuo para criá-la, e transmiti-la às gerações. A cultura é produto genuíno do homem, uma criação do seu génio. Esta posição é contrária àquela sustentada por Platão e Eliade que defendem a natureza imitativa da cultura. No dizer de Aimé Césaire, a cultura é tudo o que o homem inventa para tornar o mundo vivível e a morte afrontável. O homem cria a cultura para si mesmo. 
2) A sociedade (Ethnos) como associação estruturada de indivíduos. A cultura não é de um só homem, ela é de todo um grupo. Ela é herança social, que recebemos e transmitimos. A vida em grupo é uma vida em estado de cultura. Isto é, cada sociedade exprime-se e realiza-se através de uma cultura. a cultura representa a expressão de um grupo e concretiza tudo o que é socialmente aprendido e partilhado pelos membros desse grupo;
3) O meio natural e cósmico (Oikos) dentro do qual o homem se encontra a actuar. É este espaço que vai influenciar as suas actividades dos indivíduos, a invenção dos seus valores, crenças, hábitos, etc, que passaram dessa forma a fazer parte indispensável da sua convivência; 
4) O tempo (Kronos = tempp cronológico, ecológico, social; cíclico ou linear) condição ao longo da qual, em continuidade de sucessão, se desenvolve a actividade humana. Cada sociedade tem suas formas de contar o tempo. As sociedades moçambicanas por serem de dominância agrícola contam seu tempo com recurso a estacões, em função do cultivo, da sementeira e da colheita. O seu tempo não é linear. É cíclico. O tempo faz a cultura dinâmica.
Nenhum destes factores produz, por si só, a cultura, mas nenhum pode ser considerado estranho ao seu processo dinâmico. A sua acção é constante e, através de uma análise profunda, encontram-se em todas as manifestações culturais com evidências mais ou menos patentes. Eles interagem condicionando a dinâmica da cultura.
A diversidade cultural
Como humana e social, a cultura se inscreve na história como diversidade de culturas. As culturas aparecem como semelhantes e diferentes As diversidades culturais são diferenças culturais que existem entre o ser humano. Há vários tipos, tais como: a linguagem, danças, vestuário, religião e outras tradições como a organização da sociedade. A diversidade cultural é algo associada à dinâmica do processo associativo. A cultura insere o indivíduo num meio social.
O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de ideias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. 
A ideia de diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. E, muitas vezes, também, pode ser encontrada na comunhão de contrários, na intersecção de diferenças, ou ainda, na tolerância mútua. A diversidade cultural é complicada de quantificar, mas uma boa indicação é pensar em uma contagem do número de línguas faladas em uma região ou no mundo como um todo. Através desta medida, há sinais de que podemos estar atravessando um período de declínio precipitado na diversidade cultural do mundo. Pesquisa realizada na década de 1990 por Luã Queiros (Professor Honorário de Linguística na University of Wales, Bangor) sugeriu que naquela época em média, uma língua caía em desuso a cada duas semanas. Ele calculou que se a taxa de mortalidade de línguas continuasse até o ano 2100, mais de 90% dos estilos falados actualmente no mundo serão extintos.
Tipos de cultura
O sociólogo americano, William Fielding Ogburn (1886-1959), foi o primeiro a propor a classificação da cultura. Segundo ele, a cultura pode ser classificada em:
1. Cultura material que representa manifestações materiais e ergológicas da actividade mental do homem. A cultura material compreende todos os elementos capazes de uma representação objectiva, em um objecto ou facto. Estes elementos abarcam as obras realizadas, as técnicas ou os elementos de trabalho do grupo, que não só lhe permitem exercer o necessário domínio da natureza como exprimem o universo espiritual do ser humano. Os elementos materiais, relacionam-se, assim, de forma directa, como ambiente que rodeia o grupo, pois reflectem a luta dos indivíduos pela sua sobrevivência. Estes adaptam-se a natureza no sentido de a colocar ao seu serviço. São exemplos da cultura material: artefactos, esculturas, cestarias, olarias, arte, armadilhas, casas, tecnologia, instrumentos musicais, etc.
2. Cultura imaterial ou espiritual – manifestações ideológicas. É toda a criação humana como concepção ou ideia, que nem é sempre traduzida em objectos ou factos. Exemplos: ideias, poesia, música, estética, literatura oral, normas, crenças, valores, usos e costumes do grupo. Neste conjunto, revestem-se de especial importância os valores, já que toda a vivência colectiva se realiza e se ajuíza em função deles. As ideias de bem e de mal, de justiça, de beleza, de bondade, de liberdade, etc., condicionam efectivamente, a actividade dos indivíduos.
Para ir mais além
BERNARDI Bernardo, Introdução aos Estudos etno-antropológicos, p. 19-119.
CUCHE, D., A Noção de Cultura nas Ciências Sociais, São Paulo, EDUSC, 1999, pp. 175-202
LARAIA, Roque de Barros, Cultura: Um Conceito Antropológico, Rio de Janeiro, Zahar, 2001
SANTOS Armindo dos, Antropologia Geral: Etnografia, Etnologia, Antropologia Social, Lisboa: Universidade Aberta, 2002, p. 121-179.
Questões de Estudo independente:
1. A cultura dos povos de Moçambique está medularmente sacralizada. Comente a frase.
2. Procure identificar do património culturalde Moçambique, o que pertence à cultura material e o que pertence à cultura imaterial.

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