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Ensino de Química Distribuição e ciclos da água Objetivo: discutir a relevância global da água. A água é um recurso natural essencial para a vida, tanto que a procura de vida em outros planetas em geral passa pela procura da presença de água. Por exemplo, a chamada zona habitável é definida como a região em que a orbita planetária permite a existência de água líquida na sua superfície. A água é um tema extremamente multidisciplinar, com vertentes mais técnicas e outras mais ligadas ao estudo do impacto do uso e de sua distribuição. Temas como aquecimento global, tratamento de resíduos, transmissão de doenças e produção de alimentos são alguns dos que dependem diretamente da distribuição e uso de água no planeta. Em nosso curso teremos uma visão química da água. A água será usada como molécula central na discussão de fenômenos de mudanças de fase, modelos atômicos, interações intermoleculares, solubilidade entre outros. Trataremos da natureza da ligação química da água e suas particularidades. Nesta primeira aula discutiremos algumas questões de natureza interdisciplinar relacionadas a água. Estes assuntos podem ser usados, por exemplo, para fomentar um maior interesse por temas fundamentais e por isso considerados menos conectados ao nosso dia a dia. Três temas são de particular interesse neste contexto, são eles: o ciclo hidrológico da água no planeta, a poluição e processos físico químicos ligados ao tratamento de água. Neste último, temos processos menos comuns como a dessalinização e usuais como a flotação, a filtração e a oxidação de matéria orgânica (desinfecção). Ciclos da Água O nosso planeta é azul quando visto o espaço devido a presença de uma grande quantidade de água, que lhe confere a cor característica. Entretanto, apenas 2,5% desta da água se encontra na forma de água doce. Como a água é um recurso continuamente renovável, faz mais sentido falarmos no fluxo de água por unidade de tempo para medirmos a sua disponibilidade. A figura 1 traz um compilado de dados de fluxos mundiais (em unidades de 1000km3/ano) incluído dados para o uso e impacto humano. Note que o balanço entre os fluxos de água é vapor é bastante complexo e que o valor de fluxo em termos anualizados (45.5x1000km3/ano) para os rios é bem maior que o valor disponível em um dado instante de tempo (2x1000km3/ano). Nota-se também que o consumo humano representa uma fração relativamente pequena deste fluxo total disponível em rios por ano, mesmo quando incluímos o uso domestico (0.38x1000km3/ano) o uso em indústria (0.77x1000km3/ano) e o uso em irrigação (2.66x1000km3/ano). Neste aspecto podemos ver que a agricultura irrigada é, de longe, a maior usuária dos recursos hídricos seguida da indústria. Problemas de falta de disponibilidade hídrica ocorrem devido a distribuição heterogênea tanto da população quando dos recursos hídricos disponíveis. Estima-se que 2.4 bilhões de pessoas vivam em regiões com problemas crônicos de disponibilidade de recursos hídricos. Mais importante, há uma ligação direta entre a disponibilidade de recursos hídricos e o bem-estar e qualidade de vida da população como explicitado pelo projeto Alvos de Desenvolvimentos do Milênio das Nações Unidas . Do ponto de visto físico-químico, a energia necessária para promover todos os processos de evaporação necessários para o ciclo da água é provida pelo sol. Acredita-se que, no caso de um aquecimento global, estes fluxos irão aumentar pois a maior temperatura média no globo irá resultar em uma maior evaporação dada uma mesma quantidade de energia solar incidente. Estes processos dependem da quantidade de água presente em seus três estados físicos: sólido, líquido e gasoso, e também do calor necessário para provocar as mudanças de estado. O calor associado a uma mudança de estado de um composto químico é chamado de calor latente. http://www.un.org/millenniumgoals/ http://www.un.org/millenniumgoals/ Além da importância para o planeta, a água é um composto químico com várias propriedades particulares, chamadas de anomalias pois diferem do resultado esperado dada sua massa e estrutura molecular. Na verdade, existem mais de quarenta propriedades anômalas da água. Uma delas, por exemplo, é bastante conhecida e resulta no aumento de volume quando ocorre a mudança do estado líquido para o sólido (solidificação). Esta propriedade é considerada anômala pois a maioria dos líquidos diminuem de volume quando solidificam. Esta propriedade anômala é resultado da rede de ligações de hidrogênio presentes na água em forma líquida. Ligações de hidrogênio serão abordadas no tema de interações intermoleculares neste módulo. Solubilidade Uma outra propriedade importante no contexto global da água é sua capacidade de solubilizar a gases e íons. Sabe-se que o aumento do CO2 na atmosfera pode levar ao abaixamento do pH (acidificação) dos oceanos devido a maior dissolução deste gás. Esta acidificação, por sua vez, poderá levar a graves impactos aos animais marinhos que dependem de exoesqueletos como corais, ostras, conchas entre outros. Animais que pertencem a base da cadeia alimentícia dos oceanos. O baixo pH dificulta a formação de exoesqueletos pois aumenta a solubilidade de íons em solução, especialmente o Ca++, com impactos desastrosos para estes organismos. As questões relacionadas ao “Mar” serão tratadas em maiores detalhes no modulo de mesmo nome. Veremos neste curso questões de solubilidade mais fortemente relacionadas as interações entre átomos, moléculas e sólidos em nível atômico. Estas interações são comumente chamadas de interações intermoleculares e envolvem a descrição da natureza atomística da matéria. Poluição e solubilidade A poluição dos recursos naturais hídricos é um problema preocupante em escala mundial e de grande interesse público. O tratamento de afluentes em geral é centrado na remoção de macro poluentes: matéria que ocorrem tipicamente na forma de ácidos, bases, matéria orgânica, em concentrações de mg/L a μg/L. Como exemplos temos os fertilizantes, petróleo e derivados (descarte indevido), compostos orgânicos sintéticos e compostos geogênicos como os metais pesados. A compostos químicos tipicamente sintéticos, de difícil degradação presentes em baixíssimas concentrações (pg/L a ng/L) em afluentes são chamados de micro poluentes. Os micro poluentes tem se tornado um grave problema de contaminação com impacto ao meio ambiente de difícil caracterização. Como exemplos temos os ftalatos usados como aditivos a plásticos, produtos farmacêuticos como antibióticos e hormônios (como derivados de estradiol), filtros solares, trihalometanos (CFCs) gerados como subprodutos da desinfecção entre muitos outros. Para uma discussão mais abrangente dirijo o leitor para o excelente artigo de revisão The Challenge of Micropollutants in Aquatic Systems publicada no periódico Science em 25 de agosto de 2006 no volume 313. Propriedades físico-químicas destes poluentes tais como solubilidade, estabilidade química, formação de intermediários de degradação nocivos, são importantes para avaliarmos o possível impacto ambiental destes compostos. O impacto ambiental do desenvolvimento de soluções químicas antropocêntricas é notório. Entretanto, as ciências químicas podem também contribuir para a solução do problema através do desenvolvimento de técnicas físico-químicas mais eficientes para o tratamento de afluentes que centrem também na remoção de micro poluentes. Esta é uma ativa área de desenvolvimento científico e tecnológico. Técnicas oxidavas para a eliminação de micro poluentes tem se mostrado particularmente promissoras. Neste módulo iremos tratar principalmente de tópicos ligados a descrição de ligações químicas e interações intermoleculares tendo a água como molécula central.
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