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Teorias da aprendizagem: um encontro entre os pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico Makeliny Oliveira Gomes Nogueira Daniela Leal. Informamos que é de inteira responsabilidade das autoras a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora InterSaberes. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal. Esta obra é utilizada como material didático nos cursos oferecidos pelo Grupo Uninter. Dedicatória Dedico este livro ao meu querido irmão, Makely, por sua preciosa amizade, que me levou a descobrir a filosofia, o “amor pela sabedoria”. Makeliny Dedico este livro aos meus vários mestres, que tornaram possível a concretização de sonhos que, em alguns momentos, pareciam impossíveis. Daniela Agradecimentos Agradeço ao meu amado marido, Vinicius, pela compreensão, apoio, incentivo, amor e amizade em todos os momentos. Makeliny Agradeço à minha mãe, por ser exemplo de mulher e de guerreira, e por me ensinar que, por mais tortuosos que sejam os caminhos escolhidos, eles sempre nos trarão aprendizado e sabedoria. Daniela Apresentação Com esta obra, pretendemos realizar uma discussão, fundamentalmente teórica, sobre algumas concepções que nos auxiliam na compreensão de como ocorre o desenvolvimento humano, bem como a base que elas oferecem para a compreensão dos mecanismos de aprendizagem. Para tanto, trazemos como ponto-chave a reflexão a respeito das relações que podemos estabelecer entre três grandes áreas do conhecimento, por meio dos seus fundamentos epistemológicos: a FILOSOFIA, a EDUCAÇÃO e a PSICOLOGIA – articuladas, mais especificamente, no que elas podem oferecer ao processo de ensino-aprendizagem dos sujeitos. Por meio de discussões, análises e sínteses, estruturamos o livro em seis capítulos, os quais abordam desde a inter-relação entre as áreas mencionadas anteriormente até a discussão da teoria proposta por alguns conceituados teóricos, como Jean Piaget, Lev S. Vigotski, Henri Wallon, David Ausubel e Carl Rogers. No Capítulo 1, discutiremos a concepção de homem e o processo de construção do conhecimento, ou seja, a ONTOLOGIA, a EPISTEMOLOGIA e o MÉTODO que permeiam a construção teórica de cada uma das três áreas (Filosofia, Psicologia e Pedagogia) em questão, enfocando as inter-relações entre essas três ciências e o contexto histórico que as une e as separa ao longo dos séculos. Além disso, ainda no Capítulo 1, também é nossa intenção compreender como essa tríade de ciências influencia os processos educacional e psicossocial no decorrer da história da humanidade, refazendo a linha do tempo – da Grécia Antiga aos dias atuais – e destacando importantes pensadores, como Sócrates, Platão e Aristóteles, entre outros que estruturaram os pilares da cultura ocidental. No Capítulo 2, conheceremos um pouco da vida e da obra de Jean Piaget, destacando a teoria da EPISTEMOLOGIA GENÉTICA, na qual esse teórico descreve as suas concepções sobre o desenvolvimento do conhecimento, desde as rudimentares estruturas do recém-nascido (período sensório-motor) até o pensamento lógico-formal do adolescente. No Capítulo 2, apresentamos também as fases do desenvolvimento humano, destacando a concepção construtivista de Piaget e seus reflexos no processo de ensino-aprendizagem ao longo da vida. No Capítulo 3, abordaremos as funções psíquicas superiores do homem, conforme Lev S. Vigotski1, não apenas como resultado da maturação, mas também como processo em permanente movimento e transformação, que nos revela que as mudanças individuais têm sua origem nas condições sociais de vida. Com base em tais princípios, poderemos compreender melhor como ocorre o processo de aprendizagem dos escolares por intermédio dos conceitos espontâneos e científicos, bem como o objetivo efetivo da ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL, proposta por esse autor. No Capítulo 4, estudaremos as contribuições de Henri Wallon para a compreensão do desenvolvimento humano não mais de forma fragmentada, ou seja, separando os aspectos motores, afetivos e cognitivos, mas sim analisando-os em sua totalidade, em uma VISÃO INTEGRADA. O Capítulo 5 nos permitirá explorar uma teoria pouco divulgada no Brasil, mas de fundamental importância para compreendermos como ocorrem os processos de ensino-aprendizagem, com base na chamada aprendizagem significativa, proposta por David Paul Ausubel. 1 веЛ чевенеЛеС йикетогеВ : não há ,no Brasil, uma padronização quanto à forma de grafar o nome do autor. São encontradas as seguintes grafias: Vigotski , Vygotsky, Vygotski, Vigotskii e Vigotsky. Todas as grafias são válidas. Nesta obra, adotamos a grafia Vigotski, por mais se aproximar da pronúncia em português, porém serão respeitadas as formas utilizadas pelos autores referenciados no texto. E, finalmente, no Capítulo 6, daremos continuidade aos estudos sobre a psicologia humanista iniciados no Capítulo 1, por meio das ideias de um de seus maiores expoentes: Carl R. Rogers. Veremos como esse autor desenvolveu sua teoria por meio de conceitos, como o MÉTODO NÃO DIRETIVO, a ESTIMA POSITIVA INCONDICIONAL, a AUTOATUALIZAÇÃO e a CONGRUÊNCIA, causando grande impacto sobre a psicologia e sobre as pessoas em geral, influenciando a história da psicologia moderna e trazendo importantes contribuições à tendência humanizadora, tanto para a teoria quanto para a abordagem psicoterápica clínica, bem como para a educação e o processo de ensino-aprendizagem. Com isso, desejamos a você uma boa leitura. Introdução Pensar sobre as TEORIAS DA APRENDIZAGEM, com base nos pontos comuns entre a filosofia, a pedagogia e a psicologia, é um grande desafio. Primeiro porque, até determinado momento histórico (séculos XVIII e XIX), não havia divisão entre essas ciências: foi apenas a partir desse período que se iniciou o processo de emancipação da pedagogia e da psicologia em relação à filosofia. Dessa forma, essas três linhas de pensamento, que a princípio se identificavam, separaram-se para, em seguida, darem origem a duas linhas independentes de pensamento: o psicológico e o pedagógico. Essas duas vertentes passaram a se diferenciar da filosofia, buscando, pouco a pouco, construir novos caminhos científicos para tornarem-se ciências autônomas. Para compreendermos como ocorreu esse processo, é necessário realizar um mergulho histórico, na tentativa de desvendarmos os fundamentos que existem por trás dessa teia teórica, como também as interrogações que ainda permanecem nesses campos do conhecimento. Nessa perspectiva, para iniciarmos nossos estudos, é importante resgatarmos um pouco da história dessas teorias, que surgiram como enfoques científicos, socioculturais e históricos, voltados para múltiplas questões que têm como objetivo final, em linhas gerais, o ser humano. Entendemos que a proposta do encontro entre a filosofia, a pedagogia e a psicologia implica não somente a retomada histórica dessas três correntes de pensamento, mas também um esforço de pesquisa e de síntese, que não esgotará o tema, mas certamente instigará o leitor a continuar investigando, estudando e buscando conhecer a história do homem e do mundo ocidental por meio desse tripé científico, tão essencial para a compreensão do desenvolvimento humano ao longo dos tempos. Por conseguinte, destacaremos nesta obra importantes contribuições de pensadores fundamentais, subsídios, roteiros e esquemas, com o intuito de compreender algumas perspectivas filosóficas, psicológicas e pedagógicas das teorias da aprendizagem e do desenvolvimento humano. Acreditamos que esse encontro entre asbases filosófica, psicológica e pedagógica representa a busca por um viés crítico, dentro do desejo de conhecimento do passado, do presente e, talvez, do futuro da educação. Para tanto, elegemos cinco autores (Piaget, Vigotski, Wallon, Ausubel e Rogers) que representarão, nesta obra, a síntese das teorias da aprendizagem e do desenvolvimento humanos. Dessa forma, apresentamos a você, leitor, os pressupostos teóricos que iluminam os processos educativos, com base em uma perspectiva histórica, social e humanística. 1 As bases históricas da filosofia, da psicologia e da educação: um diálogo que permeia a pedagogia As ideias são a expressão das relações e atividades reais do homem, estabelecidas no processo de produção de sua existência. Elas são a representação daquilo que o homem faz, da sua maneira de viver, da forma como se relaciona com outros homens, do mundo que o circunda e das suas próprias necessidades. (Andery et al., 2003, p. 12) Com base na epígrafe acima, no presente capítulo buscamos articular as ideias expressas em três áreas do conhecimento: filosofia, educação e psicologia. Dessa maneira, temos o intuito de discutir a representação dessas áreas em suas relações com a pedagogia, mais especificamente nas relações que se estabelecem com o desenvolvimento e a aprendizagem do homem. Não podemos esquecer que são as ideias que constituem o conhecimento e, nesse sentido, “o conhecimento humano, em suas diferentes formas (senso comum, científico, teológico, filosófico, estético etc.), exprime condições materiais de um dado momento histórico” (Andery et al., 2003, p. 13). Assim, como expressam Marx e Engels (1980), aquilo que o homem faz, em que acredita, o que conhece e o que pensa sofre interferência das ideias anteriormente elaboradas, ao mesmo tempo em que novas representações produzem transformações em sua existência. Para tanto, precisamos compreender um pouco dessas três áreas do conhecimento ao longo da história do pensamento humano no Ocidente para, em seguida, perceber como essa tríade irá permear as relações de ensino-aprendizagem no campo da pedagogia. Com tal recorte, não pretendemos de maneira alguma esgotar esse tema – que é demasiadamente complexo –, apenas trazer à tona, além dos olhares da filosofia, da educação e da psicologia, a visão dos teóricos que discutem, embasados em diversas concepções epistemológicas e filosóficas do conhecimento, os processos de aprendizagem do ser humano em suas múltiplas determinações. Nesse sentido, buscaremos conduzir você, leitor, por uma perspectiva histórica que, por meio das relações com o processo de ensino-aprendizagem, tem como objetivo instigá-lo a ler mais sobre o tema, bem como compreender o importante papel dessas áreas de conhecimento no campo de atuação da pedagogia. Para tanto, em um primeiro momento nos dedicaremos a narrar um pouco da história de cada uma dessas áreas de conhecimento para, em um segundo momento, dedicarmo-nos a estabelecer algumas relações entre elas e o processo de ensino-aprendizagem. Quadro 1.1 – Períodos da história do Ocidente Pré-História 4000 a.C.-3500 a.C. Idade Antiga 3500 a.C.- -476 d.C. Idade Média 476 d.C.-1453 d.C. Séculos V-XV Idade Moderna 1453-1789 Séculos XVI- XVIII Idade Contemporânea 1789-? Séculos XVIII-XX Século XXI Idade da Pedra Paleolítico Antiguidade Oriental Alta Idade Média Século XVI Século XIX Mesolítico Neolítico Antiguidade Clássica Baixa Idade Média Idade Média Plena Idade dos Metais Idade do Cobre Século XVII Idade do Bronze Antiguidade Tardia Idade Média Tardia Século XVIII Século XX Idade do Ferro Nesse sentido, o Quadro 1.1 tem por objetivo o melhor entendimento dos períodos da história do Ocidente, bem como a compreensão da filosofia, da pedagogia e da psicologia dentro desses períodos. No entanto, acreditamos que por meio desse esquema temos uma breve sistematização do processo de evolução da cultura ocidental, desde os primórdios até a atualidade. 1.1 A filosofia: das raízes aos movimentos contemporâneos A mais antiga das três áreas do conhecimento sobre as quais nos debruçaremos a partir deste momento é a filosofia (Φιλοσοφία). O termo filosofia vem do grego filos, que traduz a ideia de “AMOR”, e de sofia, que significa “SABEDORIA”. Assim, a filosofia contém em si duas significações: “o homem que possui certo saber e o homem que vive e se comporta de um modo peculiar” (Marías, 2004, p. 3). Conforme Abbagnano (2007), pautado na definição do Eutidemo2 de Platão, filosofia é o uso do saber em proveito do homem; afinal, como Platão dizia, 2 O Eutidemo de Platão é um diálogo que se ocupa da sofística, da retórica e da erística (para mais detalhes, veja o Glossário ao final da obra). de nada serviria possuir a capacidade de transformar pedras em ouro a quem não soubesse utilizar o ouro, de nada serviria uma ciência que tornasse imortal a quem não soubesse utilizar a imortalidade, e assim por diante. [Far-se-ia] necessário, portanto, uma ciência em que [coincidisse] fazer e saber utilizar o que é feito, e essa ciência é a Filosofia. (Eutidemo, 288 e 290d, citado por Abbagnano, 2007, p. 414) Provavelmente, surgiram dessas palavras as ideias da filosofia como ciência e como modo de vida. Segundo Marías (2004, p. 3, grifo do original), “é necessário compreender a filosofia de modo tal que na ideia que dela se tenha caibam, simultaneamente, as duas coisas. Ambas são, afinal, verdadeiras, uma vez que constituíram a própria realidade filosófica”, ou seja, segundo o mesmo autor, “a filosofia é um modo de vida, um modo essencial que, justamente, consiste em viver numa certa ciência e, portanto, a postula e a exige. É portanto uma ciência que determina o sentido da vida filosófica” (Marías, 2004, p. 3, grifo do original). De acordo com historiadores, o início dos estudos e dos registros sobre a filosofia é datado de muitos séculos antes da Era Cristã. Por esse motivo, iniciaremos nossos estudos tratando sobre o lugar que essa ciência ocupa na cultura ocidental para, então, compreendermos sua relação com o processo de ensino-aprendizagem. Nas palavras de Severino (2008, p. 3), A filosofia ocupou um lugar proeminente na cultura ocidental. Pode-se até mesmo dizer que ela foi uma das principais forças dessa cultura, pois todo o conhecimento científico e técnico que se encontra na base do edifício de nossa civilização emergiu sob essa modalidade filosófica, lá na Grécia clássica, cerca de 500 anos antes da nossa era. Historicamente, podemos dividir a filosofia ocidental por séculos, subdivididos por períodos, que vão desde a Idade Antiga (séculos IV a.C. ao V d.C.), passando pela Idade Média (séculos V ao XV), Idade Moderna (séculos XV ao XVIII) e Idade Contemporânea (séculos XVIII ao XIX), até chegar à atualidade (século XXI). A ANTIGUIDADE, também denominada de período arcaico, é marcada por uma grande transformação na história do pensamento humano, pois foi nesse período que a civilização grega se viu obrigada a criar técnicas e métodos voltados para o processo de ensino-aprendizagem, desligando-se pouco a pouco do pensamento mítico. No entanto, podemos nos perguntar: O que seria esse pensamento mítico? De acordo com Aranha e Martins (2003), o pensamento mítico constituiu a primeira tentativa, realizada pelo ser humano, de explicar o mundo, ou seja, durante a Antiguidade, o homem interpretava e explicava a realidade por meio do mito (mythos), da palavra, do que se dizia e, nesse sentido, antes do surgimento da escrita, as histórias eram passadas de geração para geração por meio da cultura oral, mas sem fundamentos na razão e de maneira não crítica. Isso ocasionava uma compreensão metafórica e ingênua dos fatos e dos fenômenos, pois estes não se apresentavam de formaracional. Portanto, para explicar e ensinar os fatos da vida, bem como os fenômenos sociais, culturais ou naturais, o homem primitivo criava lendas, mitos e histórias fictícias que transmitiam às crianças os ensinamentos de seus antepassados. Um exemplo de tais ensinamentos pode ser encontrado no mito de Pandora – narrado pelos gregos antigos –, que retratava a história da criação da primeira mulher. Pandora, segundo Brandão (2010), era uma mulher irresistível e detentora de dons, criada por Hefesto (filho dos deuses Zeus e Hera) a pedido de Zeus (filho de Crono e Reia, considerado o senhor da luz e pai dos deuses e dos homens), que desejava castigar os homens pelos crimes de Prometeu – titã que roubou o fogo dos céus para dá-lo aos seres humanos. Nas palavras de Brandão (2010, p. 234), como Zeus estava “satisfeito com a cilada que armara para os mortais, enviou Hermes [filho de Zeus e Maia, considerado o deus da palavra] com o ‘presente’ a Epitemeu [titã filho de Jápeto e Clímende ou Ásia; por seu intermédio, Zeus se vingou de Prometeu]”, que esqueceu a recomendação de seu irmão de nunca aceitar um presente de Zeus, e o aceitou. O mesmo autor ainda nos diz: A raça humana vivia tranquila, ao abrigo do mal, da fadiga e das doenças, mas quando Pandora, por curiosidade feminina, abriu a jarra de larga tampa, que trouxera do Olimpo, como presente de núpcias a Epimeteu, dela evolaram todas as calamidades que até hoje atormentam os homens. Só a teimosa esperança permaneceu presa junto às bordas da jarra, porque Pandora recolocara a tampa rapidamente [...]. (Brandão, 2010, p. 234-235, grifo do original) Podemos dizer que surgiu daí o dito popular “a esperança é a última que morre”. Devemos nos lembrar, também, que tais histórias míticas ainda são narradas nos dias atuais (contos, tradições, folclore etc.), mas com uma diferença: atualmente, sabemos que se tratam de fantasias que fazem parte da cultura popular e não têm fundamento na realidade, e sim na imaginação. Aranha e Martins (2003, p. 75), no entanto, nos alertam que O mito é o ponto de partida para a compreensão do ser. Em outras palavras, tudo o que pensamos e queremos se situa inicialmente no horizonte da imaginação, nos pressupostos míticos, cujo sentido existencial serve de base para todo trabalho posterior da razão. Como o mito é a nossa primeira leitura do mundo, o advento de outras interpretações da realidade não exclui o fato de ele ser raiz da inteligibilidade. A função fabulosa persiste não só nos contos populares, no folclore, como também na vida diária, quando preferimos certas palavras ricas de ressonâncias míticas: casa, lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morte, cuja definição objetiva não esgota os significados que ultrapassam os limites da própria subjetividade. Assim, desde a tomada de consciência humana, por meio da escrita, do pensamento reflexivo e da utilização da razão, o pensamento do homem passou a ser “teorizante”, ou seja, a se apoiar em teorias lógicas, baseadas nas experiências e nos experimentos científicos, e não mais em fantasias, contos mitológicos e metáforas. Segundo Aranha e Martins (2003, p. 75), “a nova forma de compreensão do mundo dessacraliza o pensamento e a ação, isto é, retira dele o caráter de sobrenaturalidade, fazendo surgir a filosofia, a ciência, a técnica”. Ainda na chamada Antiguidade, temos o PERÍODO CLÁSSICO e o HELENÍSTICO. No primeiro deles, destacamos os chamados sofistas, considerados por muitos “os charlatões da filosofia”, acusados de pregar o falso raciocínio, o raciocínio capcioso, de má-fé e com intenção de enganar o outro (Aranha; Martins, 2003). No segundo período, o helenístico, podemos mencionar os maiores ícones da filosofia grega, considerados seus precursores: Sócrates (469 a.C.- -399 a.C.), Platão (427 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.). Esses gregos foram responsáveis por desenvolver as ideias filosóficas e deixaram marcas definitivas na evolução do pensamento humano, tornando-se assim os grandes pilares da cultura ocidental, como veremos ainda neste capítulo. Na IDADE MÉDIA, destacamos as instituições escolares, nas quais os ensinamentos tinham como base a supremacia da fé católica, em detrimento da razão. Os principais expoentes desse pensamento foram Santo Agostinho (354 d.C.-430 d.C.) – que, apesar de ter falecido no início do século V, deixou um enorme legado, desenvolvido com base no platonismo dos fins da Antiguidade – e São Tomás de Aquino (1226--1274) – que no século XIII d.C. elaborou sua teoria sobre os ensinamentos de Aristóteles: Foi somente a partir da Idade Média que, na Europa, a educação se tornou produto da escola, e um conjunto de pessoas (em sua maioria religiosos) especializou-se na transmissão do saber. Entretanto nesta época, embora o ensino fosse reservado às elites (principalmente à nobreza), não havia separações entre crianças e adultos. (Coimbra, 1989, p. 15) Nesse período, cabe lembrar que o papel filosófico estava “subordinado à teologia, dogmatizando e interpretando a Bíblia sem propriamente criar novas concepções de mundo, mas buscando com intensa força elaborar sínteses de pensamentos já existentes” (Carpigiani, 2000, p. 31). Esse foi um longo período histórico, que durou aproximadamente 1000 anos (do século V ao XV), caracterizado pelo monopólio eclesiástico de ensino e pela difusão do modelo cristão de educação. Esse modelo constituiu-se por meio das escolas, as quais eram organizadas pela Igreja, ligadas ao ensino religioso e à leitura de textos canônicos (reunidos em torno da figura e da imitação do Cristo), com regras rigorosas e fixadas por intermédio de DOGMAS (verdades impostas e inquestionáveis), que pregavam “o ‘desprezo do mundo’, a humildade, a solidão e o silêncio, o amor de Deus e a consciência do pecado” (Cambi, 1999, p. 163). Na IDADE MODERNA, que vai de meados do século XV ao final do século XVIII, vários nomes de filósofos ficaram conhecidos; entre esses filósofos, destacamos o inglês Francis Bacon (1561-1626) – com seu método experimental – e o francês René Descartes (1596-1650) – com sua visão mecanicista e racional do homem. Bacon, de acordo com Carpigiani (2000), foi reconhecido como “o pensador do Renascimento”, porque sua máxima era a de que, para se descobrir algo, é preciso conhecer, e para conhecer, é preciso experienciar. Assim, Bacon ressalta a observação, a comparação, a repetição e a análise das experiências, e reúne estas na direção do conhecimento. Por outro lado, Descartes contribuiu significativamente no que diz respeito ao processo de “libertação” da pesquisa e da investigação científica, dominada, durante a Idade Média, pelos rígidos dogmas teológicos. De acordo com Carpigiani (2000, p. 32), “Descartes representou a passagem da Renascença para o período moderno da ciência e, segundo alguns autores, representou também os primórdios da psicologia moderna”. Nesse período, encontramos, ainda, o suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que “foi uma figura de transição dentro do iluminismo: de um lado, acentuou as exigências de liberdade presentes no movimento; de outro, abriu caminho para o romantismo, criticando os excessos racionalistas” (Cotrim, 2002, p. 172). Nessa época, os grandes estudiosos propuseram que se priorizasse a aprendizagem por meio da razão, da investigação científica e da pesquisa experimental, abandonando-se o argumento da fé presente na Idade Média. Ainda nesse período, segundo Cambi (1999), vivia-se um momento de transição, em que havia, por um lado, o desejo pela liberdade de ideias, de uma libertação do homem, social, cultural e religiosamente, e, por outro lado, uma ação governamental constante, que procurava moldar profundamente o indivíduo, tornando-o produtivo para o Estado. Nas palavras desse autor, “trata-se de uma antinomia, de uma oposição fundamental que marca a história da Modernidade, faz dela seupróprio processo dramático e inconcluso, dilacerado e dinâmico em seu próprio interior” (Cambi, 1999, p. 200). Posteriormente, na IDADE CONTEMPORÂNEA (século XIX), podemos destacar nomes de filósofos como os alemães Georg W. F. Hegel (1770-1831), Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Os dois últimos realizaram uma crítica ao primeiro, invertendo sua filosofia idealista e voltando-se para a realidade e para os indivíduos em suas ações e condições reais de vida e de trabalho na sociedade. Apesar de esses autores não haverem se detido especificamente nas questões educacionais do processo de ensino-aprendizagem, contribuíram de maneira significativa para o avanço do pensamento ocidental e desenvolveram obras de grande valor para a história da humanidade. Nesse período, por exemplo, com o crescente nível de alfabetização da população, permitiu-se estabelecer diferenças “entre o que se diz nos textos, o que se escreve, o que o leitor entende, o que agrega em sua interpretação, distinção sem a qual a ciência moderna não teria sido possível” (Pozo, 2002, p. 29). A partir desse momento, passamos a ter as correntes filosóficas do século XX: o EXISTENCIALISMO, o ESTRUTURALISMO, a FENOMENOLOGIA, a ESCOLA DE FRANKFURT etc. Essa diversidade se deve ao fato de os autores do século XX terem sido influenciados por várias correntes filosóficas anteriores, em certos casos até por múltiplas correntes ao mesmo tempo, como é o caso dos franceses Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) e Jean- Paul Sartre (1905-1980), “que usavam o método da fenomenologia e também foram influenciados pelo marxismo” (Aranha; Martins, 2003, p. 421), o que torna difícil a classificação desses autores em correntes filosóficas. Além disso, alguns autores não se encontram plenamente identificados dentro das correntes nas quais foram inseridos. É o caso, por exemplo, de “[Martin] Heidegger [1889-1976], que sempre negou estar entre os existencialistas; [Michel] Foucault [1926-1984] e [Louis] Althusser [1918-1990], entre os estruturalistas; ou [Ludwig] Wittgenstein [1889-1951], cujas duas principais obras sofrem encaminhamentos diferentes” (Aranha; Martins, 2003, p. 421). O mesmo ocorre em relação às correntes do século XXI, que são ainda mais difíceis de serem definidas e classificadas, por “se tratar de um período recente [e] não [termos] suficiente distanciamento para análises objetivas” (Aranha; Martins, 2003, p. 421). Possivelmente nossos filhos, netos e bisnetos terão acesso a uma síntese mais esclarecedora dessas correntes pós-modernas da nossa atualidade. Posto isso, e sem pretendermos ter esgotado a história da filosofia, pois esta é muito mais extensa, buscaremos, com base nas ideias centrais elencadas até o momento, discutir um pouco sobre como a filosofia se baseia no senso comum para se tornar consciência filosófica, assim como influenciar as áreas de conhecimento que compõem a pedagogia. 1.2 Do senso comum à consciência filosófica: a filosofia na educação 3 Para iniciarmos nossa conversa sobre senso comum e consciência filosófica, teremos como base um dos pensadores pré-socráticos, Protágoras (480 a.C.-410 a.C.), que, ao afirmar que “o homem é a medida de todas as coisas”, tentou explicar como ocorre a compreensão e a representação das coisas e do mundo. Nas próprias palavras de Protágoras, citado por Nogueira (2006, p. 2), “como cada coisa é para mim, assim ela é para mim; como cada coisa aparece para ti, assim ela é para ti”. Portanto, a forma como vemos o mundo depende de nós e de nossas relações com esse mesmo mundo. No século XVIII, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) retomou o assunto, ao afirmar que “o mundo é uma representação minha” (Nogueira, 2006, p. 2), ou seja, a forma como vemos e compartilhamos o mundo ocorre por meio da representação que fazemos dele – é um processo subjetivo. Para elucidar melhor tanto as palavras de Protágoras como as de Schopenhauer, transcreveremos um pequeno texto de Rubem Alves (1982), retirado de seu livro Filosofia da ciência, que narra a experiência do antropólogo britânico Evans-Pritchard (1902-1973), o qual, em seu livro Bruxaria, magia e oráculos entre os azande, publicado em 19374, conta-nos sobre a crença de um povo africano – os azande: A princípio achei estranho viver entre os Azande e ouvir suas ingênuas explicações de infortúnios que, para nós, têm causas evidentes. Depois de certo tempo aprendi a lógica do seu pensamento e passei a aplicar noções de feitiçaria de forma tão espontânea quanto eles mesmos, nas situações em que o conceito era relevante. Um menino bateu o pé num pequeno toco de madeira que estava no seu caminho – coisa que acontece frequentemente na África – e a ferida doía e incomodava. O corte era no dedão e era impossível mantê-lo limpo. Inflamou. Ele afirmou que bateu o dedo no toco por causa da feitiçaria. Como era meu hábito argumentar com os Azande e criticar suas declarações, foi o que fiz. Disse ao garoto que ele bateu o pé no toco de madeira porque havia sido descuidado, e que o toco não havia sido colocado no caminho por feitiçaria, pois ele ali crescera naturalmente. Ele concordou que a feitiçaria não era responsável pelo fato do toco estar no seu caminho, mas acrescentou que ele tinha os olhos bem abertos para evitar tocos – como, na verdade, os Azande fazem cuidadosamente – e que se ele não tivesse sido enfeitiçado ele teria visto o toco. Como argumento final para comprovar seu ponto de vista ele acrescentou que cortes não demoram dias e dias para cicatrizar, mas que, ao 3 Trechos desta seção foram extraídos de Nogueira, 2006. 4 Na presente obra, utilizamos a versão desse livro publicada no Brasil em 2005 (ver lista final de referências). contrário, cicatrizam rapidamente, pois esta é a natureza dos cortes. Por que, então, sua ferida havia inflamado e permanecido aberta, se não houvesse feitiçaria atrás dela? (Alves, 1982, p. 17) Descrito assim, podemos dizer que tanto a feitiçaria para os azande como o que disseram Protágoras e Schopenhauer sobre o modo como compreendemos as coisas e as representações que fazemos acerca do mundo, independentemente de serem aceitas ou compartilhadas com as outras pessoas, são tomados por nós como parâmetros para as nossas vidas. Em outras palavras, todos nós possuímos a nossa própria “filosofia” de vida, o nosso modo de desvendar, de compreender e de apreender o mundo. No mesmo livro citado, Rubem Alves (1982, p. 23) diz que “o que não é problemático não é pensado”, ou seja, “que todo pensamento começa com um problema”. Assim, questionar-se significa movimentar-se e, por isso, precisamos pensar para fazer uma pergunta; devemos ter consciência de que não sabemos algo, por isso precisamos aprender, tomar posições e fazer escolhas, ainda que, depois de algum tempo, refletindo sobre tais escolhas, venhamos a mudar de opinião. Com isso, nossos pensamentos e nossas atitudes caracterizam-se por crenças de origens diversas, que variam com as nossas próprias experiências de vida. No entanto, esses pensamentos e essas atitudes podem ser incoerentes, contraditórios, irrefletidos e ingênuos. A ciência chama isso de senso comum. Por outro lado, segundo Cotrim (2002, p. 50), ao contrário do senso comum, “a exigência da clareza e de livre crítica é própria do percurso filosófico”. Conforme lembra esse autor, [a] recusa da opinião (da doxa, em grego) e a busca da explicação e da verdade (a teoria) já eram encontradas nos diálogos socráticos, escritos pelo grego Platão no século IV a.C. Exercitando o senso crítico do interlocutor, esses diálogos tinham importante papel educativo. Eles mostravam a precariedade das opiniões do senso comum grego de sua época. (Cotrim, 2002, p. 50, grifo nosso) Por outro lado, Morin (2004, p. 23) nos lembra que, ao contrário da postura ingênua adotada no sensocomum, “a filosofia deve contribuir eminentemente para o desenvolvimento do espírito problematizador. A filosofia é, acima de tudo, uma força de interrogação e de reflexão, dirigida para os grandes problemas do conhecimento e da condição humana”. Ainda segundo esse autor, A filosofia, ao contribuir para a consciência da condição humana e o aprendizado da vida, reencontraria, assim, sua grande e profunda missão. Como já acusam as salas e os bares (cafés) de filosofia, a filosofia diz respeito à existência de cada um e à vida quotidiana. A filosofia não é uma disciplina, mas uma força de interrogação e de reflexão dirigida não apenas aos conhecimentos e à condição humana, mas também aos grandes problemas da vida. Nesse sentido, o filósofo deveria estimular, em tudo, a aptidão crítica e autocrítica, insubstituíveis fermentos da lucidez, e exortar à compreensão humana, tarefa fundamental da cultura. (Morin, 2004, p. 54) Diante de tal discussão, gostaríamos de refletir um pouco sobre o nosso sistema educacional, questionando- nos se estamos atuando mais no campo do senso comum ou no campo da consciência filosófica. Afinal, se nos remetermos ao conceito inicial de filosofia adotado no início deste capítulo – de que ela “é o uso do saber em proveito do homem” –, não podemos nos esquecer de que “cada povo tem um processo de educação pelo qual transmite a cultura, seja de maneira informal, seja por meio de instituições como a escola. No entanto, nem sempre o homem reflete especificamente e de maneira rigorosa sobre o ato de educar” (Aranha, 1997, p. 108). Isso ocorre porque, muitas vezes, a educação é fornecida de maneira espontânea, tendo como base o senso comum e repetindo costumes transmitidos de geração para geração, como observamos quando nos referimos ao pensamento mítico e ao conto de Evans-Pritchard (citado por Alves, 1982). Assim, é nesse momento que a filosofia exercerá importante papel dentro da educação, pois se aquela é considerada como “uma ciência que determina o sentido da vida filosófica”, e mais, que realiza uma “reflexão radical, rigorosa e de conjunto [...] a partir dos problemas propostos pelo nosso existir, é inevitável que entre esses problemas estejam os que se referem à educação” (Aranha, 1997, p. 108). Afinal, ao analisarmos reflexiva e criticamente a ação pedagógica, de forma a promover a passagem da educação do senso comum, assistemática, para a educação sistematizada, que alcança o nível da consciência filosófica, devemos nos indagar “a respeito do homem que se quer formar, quais os valores emergentes que se contrapõem a outros, já decadentes, e quais os pressupostos do conhecimento subjacentes aos métodos e procedimentos utilizados” (Aranha, 1997, p. 108). Concluímos que cabe à filosofia, portanto, examinar que concepção de homem orienta a ação pedagógica, para que não se ensine com base na noção abstrata do que é ser criança e do que é ser homem. Isso porque, como foi colocado na epígrafe deste capítulo, as ideias estabelecidas no processo de produção da existência humana são expressas nas relações e nas atividades reais do homem e, nesse sentido, nada melhor do que uma análise filosófica que reflita a respeito dos fenômenos pedagógicos. Assim, esse encontro entre a filosofia e a pedagogia nos ajuda a refletir um pouco mais e melhor sobre a educação que temos nos dias de hoje e nas nossas instituições escolares, já que essa relação é um dos pilares que sustenta a história da educação contemporânea. Dessa forma, podemos dizer que, simultaneamente à filosofia e aos pensadores gregos, surge o pensamento psicológico e pedagógico que desemboca na configuração moderna dessas ciências, como as que possuímos na atualidade. 1.3 Psicologia e pedagogia: desenvolvimento como ciências modernas Aparentemente, ao afirmarmos que a psicologia e a pedagogia são ciências modernas, pode sugerir um paradoxo, já que as primeiras investigações sobre elas nos remetem às obras filosóficas e teológicas dos pensadores gregos antigos. Para fins didáticos, inicialmente sintetizaremos a história da pedagogia e da psicologia, para compreendermos a linha do tempo que, em uma breve retrospectiva, nos conduz novamente à Antiguidade, à Idade Média e à Modernidade, até chegarmos ao que encontramos nos dias atuais, com a contemporaneidade ou pós- modernidade. Antes de iniciarmos tal retrospectiva, é fundamental ressaltarmos que a linha que separa as histórias da pedagogia e da psicologia da história da filosofia são frágeis e tênues, tamanho é o vínculo que as imbrica em uma espécie de simbiose, que se confunde até os séculos XVIII e XIX. Por isso, apesar de já termos comentado um pouco sobre cada um desses períodos, é necessário retomá-los uma vez mais. Desde o século XX vemos uma espécie de bifurcação na raiz que une essas ciências, e surge uma tentativa de se organizar as versões modernas da psicologia e da pedagogia, como ciências autônomas, com pesquisas, métodos, técnicas, leis, diretrizes e parâmetros próprios. Apesar disso, no caso da pedagogia, essa questão ainda é bastante discutida pelos teóricos e pelos especialistas, já que, até os dias de hoje, não há um consenso no que se refere à autonomia dessa área de conhecimento. 1.4 Da paideia à pedagogia: contribuições aos processos de ensino-aprendizagem Em uma definição rápida, pedagogia, palavra composta pelos termos gregos paidós (criança), agein (conduzir) e lógos (ciência), refere-se ao “ensino das crianças”, à “ciência de ensinar”. Essa ciência compreende um conjunto de princípios e métodos pautados na filosofia (concepção de vida) e em algumas ciências humanas (psicologia e sociologia, entre outras). Os primeiros indícios históricos da pedagogia datam, aproximadamente, do século XVII, quando o tcheco Comênio (1592-1670) descreveu que tanto a criança quanto o jovem mereciam cuidados especiais para a efetivação de uma aprendizagem mais produtiva e deleitosa, pois, para esse estudioso, dever-se-ia “ensinar tudo a todos”. Afinal, conforme esse professor e cientista, todos eram dotados da mesma natureza humana e, portanto, apesar de terem inteligências diversas, poderiam chegar à erudição, à virtude e à religião – correspondentes às três faculdades necessárias: o intelecto, a vontade e a memória. Todavia, não podemos esquecer que, desde a GRÉCIA ANTIGA, juntamente com os estudos e as teorizações sobre a filosofia, já encontrávamos indícios do que viria ser a pedagogia. Afinal, do ponto de vista da educação, a Grécia dos períodos clássico e helenístico foi o núcleo constitutivo da tradição ocidental, ou pelo menos de alguns dos elementos que a caracterizam. De acordo com Cambi (1999), nesse período, a figura do pedagogo já era a de um acompanhante da criança, ou seja, de alguém que controlava e estimulava as experiências dela. Era a figura que promovia transformações e que enfatizava, no mundo mediterrâneo, as experiências dos “mestres de verdade” – diretores da vida espiritual e mestres de almas (basta nos lembrarmos de Sócrates). Assim, os pedagogos eram protagonistas da formação juvenil, a qual se enriquecia com as experiências dos profetas hebraicos – os educadores do povo e a voz educativa de Deus. Dessa forma, Cambi (1999, p. 49) nos diz que O mundo antigo [colocava] como central essa figura de educador, espiritualizada e dramaticamente ativa na vida do indivíduo, reconhecendo-lhe qualidades e objetivos que [iam] além daqueles que são típicos do mestre-docente. Aspecto que depois – mas já a partir de Platão – será próprio também dos pedagogos, dos filósofos-educadores ou dos pensadores da educação que devem iluminar os fins e os processos de educar. Surgiu, então, o conceito de paideia, isto é, a formação do homem por meio do contato orgânico com a cultura, “organizada em curso de estudos, com o centro dedicado aos studia humanitatis, que amadurece por intermédio da reflexãoestética e filosófica e encontra na pedagogia – na teorização da educação subtraída à influência única do costume – seu próprio guia” (Cambi, 1999, p. 49, grifo do original). Conforme enfatiza Cambi (1999, p. 50), não podemos esquecer que tais aspectos da educação antiga conferiam vida aos modelos que permeavam toda a formação do homem antigo, bem como alimentavam, e alimentam, a história da pedagogia e da educação, “feita de muitos modelos teóricos, de diversas experiências práticas (escolares sobretudo), de diversas atitudes formativo-educativas (dos sofistas até Sócrates, até Aristóteles, até as escolas helenísticas)”. Tendo em vista o que foi dito, destacamos aqui dois filósofos, já mencionados anteriormente, que representam bem essa realidade da educação antiga: Sócrates – considerado o pensador que mais se destacou na Grécia Antiga – e Platão – o primeiro a estabelecer uma filosofia da educação na cultura ocidental. Sócrates, filho de um escultor e de uma parteira, ministrava seus ensinamentos aos jovens em praça pública e instigava-os a pensarem por si próprios. Sua célebre afirmação “conhece-te a ti mesmo” era uma espécie de provocação para que cada pessoa fosse capaz de descobrir por si mesma a própria ignorância e, também, a sua capacidade de superá-la, ou seja, de “parir” as próprias ideias – inspiração oriunda do ofício de sua mãe. Como relata Carpigiani (2000, p. 14), Ao pensar, juntamente com os jovens, Sócrates promovia o desenvolvimento da subjetividade e da crítica, separando o sistema moral da religiosidade e enfatizando a conduta moral ancorada na consciência responsável. Ele entendia que se fosse possível ensinar o Homem a ver, clara e inteligentemente, a causa e o resultado de seus atos, talvez isso bastasse para que ele trilhasse um caminho bom. Após Sócrates, surgiu, então, um novo olhar para o sujeito, para o homem. Pois, “em direção a si mesmo, a ‘psicologia socrática’ [estava] ligada à introspecção5 e à ética que [fundamentavam] o comportamento humano, tornando-o conhecido e passível de revisão” (Carpigiani, 2000, p. 16). Segundo esse mesmo autor, Surge com Sócrates [, portanto,] uma nova maneira de pensar, que revolve a forma e o significado da busca do conhecimento. Embora não tenha desprezado os métodos de entendimento daqueles que o precederam, ele exercitou a intelectualidade numa direção nova, colocando o Homem como o objeto realmente digno de compreensão e de estudo. Para esse filósofo não existiria Filosofia enquanto o ser humano não se voltasse reflexivamente para si próprio. (Carpigiani, 2000, p. 13) Gallo, Cornelli e Danelon (2003, p. 16) acrescentam ainda que “Sócrates conversava com as pessoas e frequentemente fazia perguntas. Levava seus interlocutores a ver os pontos fracos de suas próprias reflexões. Com base nisso permitia que a outra pessoa chegasse a suas próprias conclusões”. Assim, essa técnica nos remete aos consultórios de psicologia clínica, em que muitos psicólogos e psicoterapeutas utilizam um método semelhante ao socrático ao levarem as pessoas a pensar, a relatar e a refletir sobre suas vidas e suas ações cotidianas. Na Antiguidade, de acordo com Cambi (1999), o modelo da paideia era dos mais lineares e densos, pois o próprio Sócrates reconheceu que o caráter pessoal da formação era constituído por um processo carregado de tensões e de tendências ao autodomínio e à autodireção, além de ser uma tarefa contínua. Nas palavras desse autor, “a ‘pedagogia da consciência individual’ orientada pela filosofia (típica de Sócrates) qualifica-se como, talvez, o modelo mais móvel e original produzido pela época clássica” (Cambi, 1999, p. 89). Isso implica características que, por milênios, tornaram “tal modelo paradigmático e capaz de incidir em profundidade sobre toda a tradição pedagógica ocidental” (Cambi, 1999, p. 89). No que se refere ao filósofo Platão – discípulo e herdeiro das ideias de Sócrates, além de ter elaborado um grandioso sistema filosófico de base idealista, que deu ênfase às ideias em relação ao “ser-experiência” e desenvolveu uma especulação que visava reconquistar a pureza e a função teológica das ideias –, cabe a ele o feito de ter fundado em Antenas, por volta do ano 387 a.C., a ACADEMIA, uma das primeiras instituições de ensino do mundo ocidental. Verificamos, também, em sua teoria um pensamento pautado em dois tipos de paideias: uma mais socrática, ligada à formação da alma individual, e outra mais política, “ligada aos papéis sociais dos indivíduos, distintos quanto às qualidades intrínsecas da sua natureza que os destinam a uma outra classe social e política” (Cambi, 1999, p. 89). Com isso, fica demonstrado que a paideia platônica, ao mesmo tempo que estava inserida em um amplo projeto político, permanecia na cultura ocidental como um modelo máximo, marcado de fortes implicações utópicas. 5 Séculos depois, um importante representante da psicologia, William James (1842-1910) – considerado o pioneiro da nova psicologia científica nos Estados Unidos da América (EUA) e o decano dos psicólogos, tido ainda hoje por muitos como o maior psicólogo estadunidense de todos os tempos, cuja primeira obra, Os princípios de psicologia (1890), publicada em dois volumes (tratado de mais de mil páginas) é ainda nos dias atuais concebida como uma importante contribuição ao campo – utilizou o instrumento básico da psicologia: a introspecção (denominada assim devido ao fato de estar voltada para a consciência). A observação introspectiva, segundo ele, significa olhar para dentro da própria mente e relatar o que ali descobrimos (Schultz; Schultz, 1992). Todavia, devemos lembrar que, nas palavras de Moreau (citado por Severino, 2006), Platão foi o primeiro a estabelecer uma filosofia da educação na cultura ocidental. Afinal, ele “via a educação como a necessária formação do espírito. Ao ensino, cabia o conhecimento em geral, mas a educação visava uma boa conduta de vida, a virtude. A grande questão era como formar os homens de bem e levá-los ao conhecimento do bem assim como à sua prática” (Severino, 2006). Fazendo um parêntese nas nossas discussões sobre os filósofos da Antiguidade, no período clássico, a educação na Grécia acontecia em instituições-escolas, isto é, “escolas ora estatais ora particulares que vão acolhendo os filhos das classes dirigentes e médias e dando-lhes uma instrução básica, que se configurava, sobretudo como cultura retórico-literária, do bem falar e do bem escrever, quer dizer, persuasivo e eficaz, além de respeitoso” (Cambi, 1999, p. 49), por meio de uma formação sociopolítica, filosófica, ética e estética. Retomando os estudos sobre a paideia, encontramos na obra de Aristóteles, discípulo de Platão, a ideia de uma escola filosófica, o LICEU, que era pautada na aprendizagem por meio da lógica, da observação e da experiência, mas que mantinha os princípios básicos da instrução clássica vigente. Assim, “no conjunto, o modelo aristotélico não é muito distante do platônico, embora mais realista e pragmático: liga-se à sociedade regularmente dividida em classes e exalta a virtude do ócio” (Cambi, 1999, p. 92), tentando, assim, ser uma “última racionalização da sociedade da pólis” (Cambi, 1999, p. 93). Com isso, podemos dizer que a transformação historiográfica que ocorreu da pedagogia (teoria da paideia) ao costume educativo nos “restituiu uma imagem mais completa da educação dos antigos” (Cambi, 1999, p. 50), permitindo-nos “fixar os pluralismos dos modelos, a articulação social e a diacronia temporal, ligadas às teorias, mas também às práxis” (Cambi, 1999, p. 50). Na IDADE MÉDIA, com o advento da fé subjugando a razão, houve também uma modificação da paideia grega, que “organiza-se agora em sentido religioso, transcendente, teológico, ancorando-se nos saberes da fé e no modelo da pessoa do Cristo, sofredora, mas profética”(Cambi, 1999, p. 38), e não mais no espírito crítico, investigativo, lógico e racional da Antiguidade. Por conseguinte, foram paralisados os esforços dos pensamentos filosófico, pedagógico e psicológico que eram formados desde os primórdios, com os pré-socráticos, sendo que os avanços intelectuais, científicos, sociais e culturais ficaram limitados à teologia e à Igreja Católica. Assim, esse período foi sobretudo a época da formação da Europa cristã e da gestação dos pré-requisitos do homem moderno (formação da consciência individual; do empenho produtivo; da identidade supranacional etc.), como também um modelo de sociedade orgânica, marcada por forte espírito comunitário e uma etapa da evolução de alguns saberes especializados como a matemática ou a lógica, assim como uma fase histórica que se coagulou em torno dos valores e princípios da religião, caracterizando de modo particular toda esta longa época [...]. (Cambi, 1999, p. 141-142) No caso específico da educação, segundo Cambi (1999), esta se desenvolveu em estreita simbiose com a Igreja, com a fé cristã e com as instituições eclesiásticas, que eram as únicas que tinham permissão para educar, formar e conformar, ou seja, é da Igreja que partem os modelos educativos e as práticas de formação: “organizam-se as instituições ad hoc e programam-se as intervenções, como também nela se discutem tanto as práticas como os modelos” (Cambi, 1999, p. 146, grifo do original). Devemos lembrar que tais práticas e modelos são selecionados com base no mesmo dualismo social das teorias e das práxis educativas: existiam práticas e modelos para o povo, e práticas e modelos para as classes altas, como na Antiguidade. Outro ponto importante a ser lembrando é que as escolas, tal como as conhecemos nos dias atuais, são um produto da Idade Média: a estrutura de uma escola ligada a um professor, que ensina a vários alunos de diferentes procedências; as práticas ligadas ao lectio (leitura; uma leitura que ensina a orar, a refletir e a contemplar) e aos auctores (autores, autoridades); as práxis disciplinares e avaliativas, assim como a escolha de determinados conteúdos culturais da escola moderna. Não devemos esquecer, ainda, que essas práticas relacionam-se a um campo social educativo que é central no mundo medieval e que a pesquisa histórica atual destacou como fundamental: o do imaginário, instituído por múltiplas vias (linguísticas, escritas e orais também, mas sobretudo iconográficas) e estruturado em torno do valor religioso resumido na forma cristã e tão solidamente organizado de modo a dar perfil a toda uma cultura. (Cambi, 1999, p. 146) Com isso, é produzida uma imagem do mundo como ordem desejada por Deus, uma ordem estabelecida, invariável e definitivamente justa, sendo que qualquer rebelião contra essa situação dá lugar ao pecado. Os processos educativos eram, assim, os responsáveis pela constituição e pela difusão desse complexo imaginário. Todavia, após a supremacia da chamada paideia cristã, com sua práxis autoritária e dogmática, configurada por uma longa época de profundas transformações, surgiu um fenômeno complexo, de múltiplas dimensões: a “explosão” de conhecimentos, de arte, de literatura, do desejo de liberdade e de superação do despotismo, da ignorância e da miséria deixados como herança pela Idade Média. Era uma nova visão de mundo e de homem, denominado Renascimento ou Idade das Luzes, que deu lugar aos novos tempos. De acordo com Severino (2006), esse movimento é uma expressão da chamada Modernidade, e coloca o homem novamente no centro do pensamento ocidental. Nas palavras desse autor, Tanto quanto os antigos e os medievais, os pensadores modernos vão aproximar verdade e bem, aproximando o conhecimento racional da prática educacional. Só que agora a razão é tomada na sua condição de potência natural, atuando por conta própria sem qualquer intervenção de ordem sobrenatural. O homem volta a ser a medida de todas as coisas e não mais Deus [...] não mais à “cidade de Deus”, mas à “cidade dos homens”. Por isso mesmo, a educação passa a assumir, ao longo da Modernidade, o caráter de uma ação e de uma prestação pública, definindo-se como mediação própria para a constituição da cidadania. (Severino, 2006) Podemos dizer, assim, que a IDADE MODERNA foi uma época de grandes revoluções. A Revolução Industrial, que teve origem na Inglaterra no século XVIII, ocasionou profundos impactos produtivos, econômicos, sociais, tecnológicos e científicos no mundo ocidental, pois a era agrícola foi superada e a máquina passou a suplantar o trabalho humano, enquanto a burguesia assumiu o poder econômico. Enquanto isso, na França, com a Revolução Francesa, a partir de 1789, considerada uma das maiores revoluções da humanidade, marcou-se o início da IDADE CONTEMPORÂNEA. Essa revolução pode ser considerada, por um lado, uma revolução ideológica e social, por abolir a servidão e os direitos feudais, e, por outro, um chamariz, pois a burguesia assumiu o poder político e passou a ter o controle social. Nesse sentido, Cambi (1999, p. 39) alerta-nos sobre o fato de que a Modernidade é cheia de contradições, uma vez que, ao mesmo tempo em que coloca o homem no centro das discussões, “o alicia por meio de fortes condicionamentos por parte da coletividade, dando vida a um ‘mundo moderno’ em cujo centro estão a eficiência no trabalho e o controle social”. Como pontuam Gaboardi e Gaboardi (2007), nesse período a educação adquiriu o status de necessidade básica do ser humano, pois o acesso universal ao sistema educacional, somado à melhoria da qualidade de ensino, torna-se elemento essencial a qualquer discurso político-partidário. Por outro lado, em vários momentos é possível verificar um discurso que vai justamente contra essa tendência, mostrando os males que decorrem da sociedade industrial e afirmando ser a educação um dos meios pelos quais essa sociedade angaria adesão junto aos indivíduos. (Gaboardi; Gaboardi, 2007, p. 83) Isso nos mostra o caráter problemático dos fundamentos da educação nas sociedades pré-industriais. Afinal, por um lado se afirma que não é possível inserir a educação nas sociedades de consumo; por outro lado, em uma sociedade com tantas transformações, a educação que é colocada se mostra como um mal a ser evitado. Finalmente, com o advento da CONTEMPORANEIDADE ou PÓS-MODERNIDADE, ou ainda COMPLEXIDADE, como alguns estudiosos preferem denominar – como é o caso de Morin (2004) –, surge um novo panorama como “uma nova forma de se compreender a educação: nem mais sob a prevalência de uma teleologia ética nem mais sob a perspectivação política” (Severino, 2006). Como lembra Severino (2006), não há como, por se tratar de um pensamento ainda em construção por falta de distanciamento, apreendê-lo em toda sua extensão, profundidade e magnitude. Essa nova orientação vem sendo designada de filosofia pós-moderna ou pós-estruturalista, substrato filosófico de uma possível nova era histórico- cultural: a pós-modernidade. [...] A razão acaba sendo vista apenas como agente de repressão e não instância de libertação, como o pretendia o Iluminismo. Os germens dessa crítica radical surgiram na própria Modernidade, com Nietzsche, Freud e Marx, mas se consolidam no pensamento atual, com Foucault, Deleuze, Guattari, Lyotard, Baudrillard e Maffesoli, entre outros pensadores. Cambi (1999) acrescenta que, no que se refere à história da pedagogia moderna, esta não coincide necessariamente com a história da filosofia de forma simbiótica. Isso ocorre, de acordo com o autor, desde o período pós-Segunda Guerra Mundial, pois “difundiram-se novas orientações historiográficas, também no campo pedagógico, e, ao mesmo tempo, entravam em crise alguns pressupostos daquele modo tradicional de fazer história da pedagogia” (Cambi, 1999, p. 23). Ainda nas palavras Cambi, a história da pedagogia moderna nasceu entre os séculos XVIIIe XIX, sendo este último século um período de grande desenvolvimento para as pesquisas elaboradas por pessoas ligadas à escola, bem como empenhadas na organização de uma instituição cada vez mais central na sociedade moderna (para formar técnicos e formar cidadãos), preocupadas, portanto, em sublinhar os aspectos mais atuais da educação-instrução e as ideias mestras que haviam guiado seu movimento histórico. A história da pedagogia nascia como uma história ideologicamente orientada, que valorizava a continuidade dos princípios e dos ideais, convergia sobre a contemporaneidade e construía o próprio passado de modo orgânico e linear, pondo particular acento sobre os ideais e a teoria, representada sobretudo pela filosofia. (Cambi, 1999, p. 21) Trata-se, portanto, de uma pedagogia muito distante dos processos educativos reais, das instituições em que estes eram desenvolvidos, das práticas de educação ou instrução e das contribuições das ciências, sobretudo humanas. No entanto, como anteriormente pontuado por Cambi (1999), desde o pós-guerra difundiam-se novas orientações historiográficas no campo da pedagogia. Teve início, portanto, “um longo processo que levou à substituição da história da pedagogia pela mais rica, complexa e articulada história da educação, que só em anos recentes aparece definitivamente constituída como modelo-guia da pesquisa histórica em educação e pedagogia” (Cambi, 1999, p. 23). Esse processo, segundo o autor, não trata de uma simples mudança de rótulo, mas sim de “uma verdadeira e legítima revolução historiográfica que redesenhou todo o domínio histórico da educação e todo o arsenal da sua pesquisa” (Cambi, 1999, p. 24). Assim, “passou-se de um modo fechado de fazer história em educação e pedagogia para um modo aberto, consciente da riqueza/complexidade do seu campo de pesquisa e da variedade/articulação de métodos e instrumentos” (Cambi, 1999, p. 24, grifo do original). Independentemente da mudança de terminologia, de HISTÓRIA DA PEDAGOGIA para HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, precisamos deixar clara a importância da contribuição do pedagogo durante esse processo de constituição dos novos estudos. Isso se deve ao fato de que ele deve se utilizar e direcionar-se por intermédio dos conhecimentos técnicos e científicos, ampliando seu campo profissional para poder reconhecer sua área como um território de investigação e de atuação. Todavia, não nos aprofundaremos mais nessa discussão neste momento, pois nos desviaríamos muito da rota a qual precisamos seguir. Por conseguinte, indicamos a todos aqueles que se interessarem em conhecer um pouco mais sobre as controvérsias da história da pedagogia, na perspectiva da obra de Cambi (1999), que recorram às referências que constam no final desta obra. No momento, avançaremos no campo da psicologia. 1.5 Os rumos e os avanços da psicologia: uma área de conhecimento que contribui para a educação Aqui, utilizaremos a história para descrever e compreender a evolução da psicologia, bem como a tênue relação que existe entre esta e a filosofia. Afinal, a conduta e o comportamento das pessoas são assuntos que sempre fascinaram o ser humano, desde que este passou a se perceber como um ser pensante, inserido em um contexto social. Para tanto, iniciaremos com a definição e a origem da palavra psicologia, para, em seguida, discutir- mos as escolas de pensamento que se constituíram ao longo dos anos até chegarmos à relação entre psicologia e educação. O termo psicologia vem do grego psykhologuía, composto por psykhé (psique, alma, mente) e lógos (palavra, razão, estudo), sendo esta a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais ou, em outras palavras, a ciência que se dedica a estudar tudo o que a pessoa faz, assim como as experiências subjetivas inferidas por meio do comportamento. Se a psicologia é regida por leis baseadas em um método científico, ela é, portanto, uma ciência; uma ciência que busca o conhecimento objetivo, pautado em fatos empíricos que expressam o estudo do comportamento, que é entendido e visto como uma atividade observável, tanto nos seus aspectos internos quanto nos aspectos externos. Dessa forma, parece-nos que existe uma contradição, um paradoxo, no que se refere ao estudo da psicologia em relação ao conhecimento e à sua organização como disciplina ou campo de estudo, pois sabe-se que as pesquisas sobre a natureza e o comportamento humano remontam ao século V a.C., quando os filósofos gregos, como Platão e Aristóteles, empenhavam-se para resolver muitos dos problemas de interesse dos psicólogos de hoje [...] tais como a memória, a aprendizagem, a motivação, o pensamento, a percepção e o comportamento anormal. (Schultz; Schultz, 2006, p. 1) Portanto, a psicologia – e, logo, a sua história –, tem início nos antigos textos filosóficos a respeito desses temas, que foram incluídos posteriormente na disciplina que formalmente conhecemos como Psicologia. Segundo Schultz e Schultz (2000, p. 17), “embora os precursores intelectuais da psicologia sejam tão remotos quanto os de qualquer disciplina, a moderna abordagem psicológica teve início [somente] há pouco mais de cem anos”. Devemos lembrar que, apesar de a história da psicologia ter se desenvolvido a partir da filosofia, “o que distingue a disciplina mais antiga da filosofia da psicologia moderna são a abordagem e as técnicas usadas, que denotam a emergência desta última como um campo de estudo próprio, essencialmente científico” (Schultz; Schultz, 2000, p. 18). Ainda nas palavras de Schultz e Schultz (2006, p. 2), Até o último quartel do século XIX, os filósofos estudavam a natureza humana por meio da investigação, da intuição e da generalização, baseados nas próprias experiências de vida. Uma transformação ocorreu quando os filósofos começaram a aplicar as ferramentas e os métodos eficazes das ciências biológicas e físicas às questões relativas à natureza humana. Somente quando os pesquisadores passaram a confiar na observação e na experimentação minuciosamente controladas para estudar a mente humana é que a psicologia começou a adquirir uma identidade distinta das suas raízes filosóficas. Nessa perspectiva, enfocaremos, a partir deste momento, as diferentes visões da psicologia que a distinguiram e a afirmaram como uma ciência autônoma, como você poderá observar na linha de tempo apresentada a seguir, a qual trata da evolução histórica das escolas de pensamento psicológico, bem como a explicação destas a posteriori. Figura 1.1 – Evolução histórica das escolas de pensamento psicológico Conforme observamos, a primeira escola de pensamento psicológico que teve seu início no começo do século XIX foi o ESTRUTURALISMO: uma corrente psicológica fundada pelo alemão Wilhelm Wundt (1832- -1920) e por seu aluno inglês Edward Bradford Titchener (1867-1927) e que, segundo Schultz e Schultz (1992), permaneceu em evidência por aproximadamente 20 anos nos EUA (aproximadamente entre 1895 e 1915). De acordo com seu o fundador, o objeto de estudo da psicologia estruturalista consistia na experiência consciente subordinada ao sujeito que a vivencia, além de voltar-se para os fatos estruturais da mente, sendo este, segundo Carpigiani (2000, p. 40), “o movimento que deu base para o surgimento da psicologia experimental”. Depois disso, na virada do século XIX para o século XX, a psicologia assumiu, nos EUA, um caráter próprio, distinto da vertente de Wundt e Titchener, e cujo foco encontrava-se na operação dos processos conscientes por parte dos organismos vivos, em suas permanentes tentativas de se adaptarem ao seu ambiente. Esse movimento, ironicamente denominado de funcionalismo pelo próprio Titchener, levou os psicólogos a se interessarem pela aplicação da psicologia a problemas do mundo real (pragmatismo). Nesse período, destacaram-se, segundo Schultz e Schultz (2000), os trabalhos do biólogo inglês Charles Darwin(1809-1882) – que, com sua teoria da seleção natural, publicada em 1859, estremeceu a sociedade, que por muitos séculos tinha como certo o relato bíblico sobre a criação das espécies – e as ideias do também inglês Francis Galton (1822-1911) – que, ao estudar os problemas da herança mental e as diferenças individuais na capacidade humana, realizou os primeiros estudos sobre o comportamento animal. Outra concepção que tem suas origens na filosofia empirista é o BEHAVIORISMO ou COMPORTAMENTALISMO. O grande nome da psicologia behaviorista estadunidense é Burrhus Frederic Skinner (1904--1989). Conforme Carpigiani (2000, p. 56), a concepção de Skinner se pautou no desenvolvimento da psicologia como ciência experimental, principalmente ao priorizar uma abordagem que buscava investigar o comportamento humano como algo possível de ser observado e quantificado. De acordo com essa linha de pensamento, o ambiente influencia imensamente o desenvolvimento humano, ou seja, o homem é considerado um ser completamente “plástico”, moldado pelo meio em que vive, sendo que todo conhecimento humano provém do ambiente externo, isto é, “de fora para dentro”. Concomitantemente ao behaviorismo, vemos a ESCOLA DA GESTALT, que tinha como base, segundo Carpigiani (2000), o pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804). Essa escola desenvolveu uma teoria da percepção com base em um rigoroso método experimental, que possibilitou a compreensão de como se ordenam em nosso cérebro as formas que percebemos. Os psicólogos da Gestalt enfatizavam que percebemos objetos e figuras como um todo completo, ao contrário de “pedaços” ou de partes isoladas de informação sensorial; isso explica o fato de a percepção ser capaz de entender as partes a partir do todo, nunca o todo a partir das partes. A PSICOLOGIA HUMANISTA, um “movimento mais recente, que toma forma e ganha força na década de 1960 e, assim como o behaviorismo, também se desenvolveu nos Estados Unidos” (Carpigiani, 2000, p. 63), tem suas origens filosóficas nas teorias do alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716), cujo pensamento sobre o homem abriu uma nova perspectiva, influenciando as obras de filósofos como Sören Kierkegaard (1813-1855), Edmund Husserl (1859-1938), M. Heidegger (1809-1976) e J. P. Sartre (1905-1982). Em linhas gerais, a psicologia humanista tinha como objetivo final a preparação de uma descrição completa do que significa estar vivo como ser humano (Associação Americana de Psicologia, citada por Carpigiani, 2000). Essa linha de pensamento psicológico teve um importante papel na educação, sendo um de seus principais expoentes o estadunidense Carl Ramson Rogers (1902-1987), como veremos no Capítulo 6 desta obra. Destacaremos, ainda, outras duas concepções importantes, mas que não constam da linha do tempo construída no início dessa discussão: a PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO e a PSICOLOGIA SOCIAL. A psicologia da educação dedica- se, entre outras coisas, ao estudo dos processos de ensino-aprendizagem, com suas importantes contribuições à educação; essa psicologia pode ser considerada como um pano de fundo para os educadores, psicólogos, psicopedagogos e todos aqueles que se interessam pelos processos educacionais, pois ela visa auxiliar a compreensão de tais processos e o desenvolvimento de relações saudáveis no âmbito educativo. Como descrevem Meira e Antunes (2003, p. 7), A psicologia da educação constituiu-se, ao longo do século XX, como uma área de conhecimento comprometida com as questões relacionadas à educação em geral e à educação escolar em particular. [...] [E] a preocupação com o fenômeno psicológico como constitutivo do processo educacional tornou-se, gradativamente, fundamental para a teoria e prática educacionais. Podemos destacar na PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO alguns estudos e teorias que fornecem ampla fundamentação teórica aos profissionais da educação, assim como aos demais interessados no assunto, oferecendo também subsídios para o trabalho e para as pesquisas na área da educação. Um dos teóricos que em seus estudos aborda a inteligência humana é o suíço Jean Piaget (1896-1980) – o qual será nosso objeto de estudo no Capítulo 2 desta obra –, que teve como grande foco a compreensão do “sujeito epistêmico”, ou seja, estudou os processos de aprendizagem e de conhecimento humanos da infância à vida adulta. Dando continuidade ao aprofundamento desta obra, no Capítulo 4 nos debruçaremos sobre as teorias do francês Henri Wallon (1879-1962), estudioso que compreendeu o psiquismo humano como uma díade entre o fisiológico e o social, sendo de importância fundamental nessa relação o papel da afetividade. Wallon dedicou-se ao estudo do desenvolvimento psicológico da criança, publicando vários textos destinados à educação infantil. Além disso, demonstrou grande interesse pelo papel do professor, destacando a necessidade do domínio dos conhecimentos a serem transmitidos às ciranças, assim como a maneira de transmiti-los. Em relação à PSICOLOGIA SOCIAL, considerada fundamental nos nossos estudos sobre as teorias da aprendizagem, ela surgiu influenciada pelo movimento filosófico denominado materialismo histórico e dialético ou, como é mais conhecido, marxismo, o qual tem como fundamento as teorias de Karl Marx (1818-1883) e de Friedrich Engels (1820-1895). Essa visão filosófica enfatiza o caráter concreto da consciência como elemento para o entendimento do indivíduo e da sociedade e, portanto, esse princípio marxista influenciará o desenvolvimento da psicologia social, que tem como uma de suas principais bases a teoria do bielorrusso Lev Semenovitch Vigotski (1896-1934). Vigotski se propôs a construir uma “nova psicologia”, capaz de unificar as perspectivas das correntes psicológicas que dicotomizam (separam) o sujeito e o objeto. Assim, para esse estudioso, devia-se buscar uma nova unidade de análise, que explicasse desde as relações estímulo-resposta até a mais elevada produção humana: a cultura. Como era adepto das ideias de Marx e de Engels, Vigotski utilizou-as para postular a constituição das sociedades e do próprio homem por meio da análise do trabalho. Ele almejava, portanto, compreender o desenvolvimento dos processos psicológicos que constituem o homem ao longo da própria história e da de sua espécie. Vigotski tornou-se, assim, o grande fundador da escola soviética de psicologia, principal corrente que, atualmente, deu origem a uma perspectiva crítica na psicologia, abordagem que daremos enfoque no Capítulo 3 desta obra. Além dos teóricos supracitados, assim como as escolas de pensamento psicológico, não podemos nos esquecer do psicólogo estadunidense David Ausubel (1918-2008), que se dedicou a tornar público o modo como ocorre a aprendizagem de forma significativa, por intermédio de estudos e de pesquisas pautados na psicologia cognitivista. Ausubel, conforme veremos no Capítulo 5, realizou suas pesquisas buscando estudar o ato da formação de significados no nível da consciência, ou melhor, no ato da cognição. Concluímos, portanto, compartilhando-nos do pensamento de Placco (2000), que atualmente muitas obras trazem importantes reflexões sobre Piaget, Vigotski e Wallon; no entanto, “a contribuição das outras abordagens é atualmente menos conhecida [como Ausubel, por exemplo]” (Placco, 2000, p. 8). Nesse sentido, o que nos levou à valorização e à recuperação histórica dessas áreas de conhecimento (filosofia, pedagogia e psicologia), assim como a utilização desses estudiosos e suas teorias (Piaget, Vigotski, Wallon, Ausubel e Rogers) no campo da educação, foi o estudo dos princípios e das diretrizes que possibilitam a você, leitor, uma escolha crítica e consciente para suas práticas pedagógicas. Síntese Nesse capítulo, estudamos a perspectiva ocidental das histórias da filosofia, da pedagogia e da psicologia, enfatizando o processo de ensino-aprendizagem com base nos pressupostosde algumas correntes teóricas. Iniciamos pela filosofia, desde a Idade Antiga (séculos IV a.C. a V d.C.), passando pela Idade Média (séculos V a XV), pelo Idade Moderna (séculos XV a XVIII), pela Idade Contemporânea (séculos XVIII a XIX), até chegar à atualidade (século XXI). Pontuamos que a aprendizagem formal surgiu na Grécia Antiga, quando o homem passou a racionalizar e a teorizar sobre o mundo que o cerca, abandonando o pensamento mítico que existia desde os primórdios da humanidade. A partir daí apresentamos os pilares filosóficos dessa tríade (filosofia, pedagogia e psicologia), abordando grandes nomes como Sócrates, Platão, Aristóteles, na Antiguidade, passando por filósofos da Idade Média e da Idade Moderna. Posteriormente, na Idade Contemporânea (século XIX), destacamos os pensadores Marx e Engels. Em seguida, apontamos alguns autores do século XX, como Merleau-Ponty, Sartre, Heidegger, Foucault, Althusser e Wittgenstein, enfatizando que as correntes dos séculos XX e XXI são difíceis de serem definidas e classificadas, posto que ainda são muito recentes. A partir das ideias centrais apresentadas sobre a filosofia, passamos a estudar as áreas de conhecimento dessa ciência, que compõem a pedagogia e a psicologia; destacamos os avanços do século XVII ao século XX e as versões modernas desses dois campos de conhecimento, com seus avanços e retrocessos, como ciências autônomas, com pesquisas, métodos, técnicas, leis, diretrizes e parâmetros próprios. No caso específico da psicologia, apresentamos uma breve contextualização histórica do seu desenvolvimento, por meio das suas principais correntes: o estruturalismo, o funcionalismo, a Gestalt, a psicologia humanista e, também, os novos movimentos surgidos por meio dos avanços nessa área, como a psicologia educacional e a psicologia social, para, então, apontarmos alguns teóricos que fundamentaram tais perspectivas e contribuíram de maneira decisiva para o processo educativo que caracteriza o ensino na atualidade. Indicações culturais FILMES MATRIX Trilogy. Direção: Wachowski Brothers. EUA: Warner Vídeo, 1999-2003. 136, 138, 199 min. Blu-Ray. Essa é uma trilogia de filmes que apresenta um interessante questionamento sobre o que é, de fato, a realidade. Considerado por muitos críticos um dos clássicos da modernidade, vencedor de quatro Oscars, traz para o espectador uma versão moderna e instigante da “alegoria da caverna” de Platão, além de discussões sobre a filosofia de Descartes, Hegel e Marx, por exemplo. O NOME da Rosa. Direção: Jean Jacques Annaud. Alemanha, França, Itália: Warner Bros., 1986. 130 min. Esse filme é uma adaptação do célebre romance do italiano Umberto Eco, que retrata um mosteiro medieval e a relação que se tinha com o conhecimento naquele período. Um bom exemplo da vida na época da filosofia medieval, quando a razão devia se submeter à fé cristã e aos dogmas da Igreja Católica. Atividades de autoavaliação 1) A perspectiva ocidental do processo educativo teve início há muitos séculos, na Grécia Antiga. Sobre essa perspectiva, assinale a alternativa correta: a. O desenvolvimento do pensamento pedagógico iniciou-se alguns séculos depois de Cristo, no chamado Período Clássico ou Antiguidade. b. O filósofo Platão, discípulo de Sócrates, fundou o Liceu, sendo esta uma das primeiras instituições de ensino do mundo ocidental. c. Aristóteles fundou a Academia, por volta de 335 a.C., que também era uma escola filosófica, onde os estudantes aprendiam por meio da lógica, da observação e da experiência. d. Após o Período Clássico, já na Idade Média, as instituições escolares baseavam seus ensinamentos na teologia, difundindo o modelo cristão de educação. 2) Em relação à educação e à instituição escolar, de acordo com os estudos deste capítulo, não podemos afirmar que, na Antiguidade, a educação: a. se configurava, sobretudo, como cultura retórico-literária do bem falar e do bem escrever, isto é, de forma persuasiva e eficaz, além de respeitosa. b. ocorria por meio de uma formação sociopolítica, filosófica, ética e estética. c. ocorria por meio de uma formação filosófica, na qual os estudantes aprendiam por intermédio da lógica, da observação e da experiência, mantendo-se os princípios básicos da instrução clássica vigente. d. era voltada para o processo de ensino-aprendizagem monástico, desligando-se pouco a pouco do pensamento mítico. 3) Na chamada Idade Moderna, que durou de meados do século XV até o final do século XVIII, destacaram-se certos filósofos e determinadas ideias. Em relação a esses filósofos e essas ideias, assinale a resposta incorreta: a. Francis Bacon (1561-1626), com seu método experimental. b. René Descartes (1596-1650), com uma visão mecanicista e racional do homem. c. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que abriu caminho para o romantismo, criticando os excessos existencialistas. d. Nesse período, enfatiza-se um processo de ensino-aprendizagem que se baseia no condicionamento (aprendizagem mecânica – estímulo-resposta). 4) Em relação às diferentes concepções de psicologia estudadas neste capítulo (estruturalismo, funcionalismo, behaviorismo, Gestalt e psicologia humanista), assinale com (F) as afirmativas falsas e com (V) as verdadeiras nas alternativas a seguir: ( ) O objeto de estudo do estruturalismo é a experiência inconsciente. ( ) O foco de estudo do funcionalismo é a operação dos processos conscientes dos organismos vivos em suas permanentes tentativas de se adaptarem ao seu ambiente. ( ) O behaviorismo surgiu com o desenvolvimento da psicologia como ciência experimental. ( ) A Gestalt encontra sustentação no pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant. 5) De acordo com a passagem do texto sobre a psicologia humanista, assinale a alternativa incorreta: a. Psicologia humanista é um dos movimentos mais recentes da chamada psicologia moderna, a qual toma forma na década de 1960. b. Ao contrário do behaviorismo, a psicologia humanista desenvolveu-se nos EUA. c. As origens filosóficas da psicologia humanista podem ser encontradas nas teorias de Gottfried Wilhelm von Leibniz. d. Em linhas gerais, a psicologia humanista tem como objetivo descrever o que significa estar vivo como ser humano. Atividades de aprendizagem QUESTÕES PARA REFLEXÃO 1) Realize uma pesquisa sobre o ensino da filosofia nas escolas brasileiras, analisando o que diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996) e os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN. 2) “A filosofia pode desempenhar uma importante função na educação”. Reflita um pouco sobre essa afirmação e dê a sua opinião sobre a importância de se estudar filosofia atualmente. ATIVIDADE APLICADA: PRÁTICA 1) Realize entrevistas com professores de disciplinas das áreas de pedagogia e de psicologia, perguntando como eles veem a relação dessas ciências com a filosofia. Em seguida, analise a entrevista, dê sua opinião e discuta o resultado com os colegas. 2 A dimensão construtivista em Jean Piaget: o desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos a neurologia, por exemplo, nunca explicará porque 2 e 2 fazem 4 [...]. (Piaget, 1967, p. 78) os neurônios não raciocinam [...]. (Piaget, 1967, p. 312) Neste capítulo, apresentaremos as contribuições de Jean Piaget (1896-1980) para os estudos sobre a aprendizagem e o desenvolvimento humanos, destacando o papel da inteligência em sua teoria, denominada de epistemologia genética. Esse autor colaborou de maneira significativa para o avanço dos estudos relacionados à psicopedagogia, à psicologia e à pedagogia no Brasil, destacando e sistematizando o desenvolvimento cognitivo, desde o nascimento até a adolescência da pessoa, em uma perspectiva construtivista. 2.1 Jean Piaget: um garoto prodígio Jean Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel,
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