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TCC - PEDAGOGIA UFSC (3)

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1 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CED 
CURSO DE PEDAGOGIA - TURMA 9308 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARQUES INFANTIS NO BAIRRO CAMPECHE (FLORIANÓPOLIS-SC): A 
CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITOS NA CONJUNTURA DE 
URBANIZAÇÃO (1989-2019) 
 
 
 
 
CAROLINA DO AMARANTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis – SC 
2019 
1 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CED 
CURSO DE PEDAGOGIA - TURMA 9308 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARQUES INFANTIS NO BAIRRO CAMPECHE (FLORIANÓPOLIS-SC): A 
CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITOS NA CONJUNTURA DE 
URBANIZAÇÃO (1989-2019) 
 
 
Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em 
Pedagogia do Centro de Ciências da Educação da 
Universidade Federal de Santa Catarina como requisito 
para a obtenção do Título de Licenciatura em Pedagogia. 
Orientadora: Professora Dra. Carolina Picchetti 
Nascimento. 
 
 
 
Carolina do Amarante 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Florianópolis – SC 
2019 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor através do Programa de Geração 
Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. 
 
Amarante, Carolina do 
Parques Infantis no Bairro Campeche (Florianópolis-Sc): A 
Criança como Sujeito de Direitos na Conjuntura de Urbanização 
(1989-2019) / Carolina Amarante; orientadora, Carolina Picchetti 
Nascimento. Florianópolis, SC, 2019. 
56 p. 
Trabalho de conclusão de curso - Universidade Federal de 
Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação. Curso de 
Pedagogia, Florianópolis, 2019. 
Inclui referências. 
 
1. Curso de Pedagogia. 2. Parques Infantis. 3. Bairro 
Campeche. 4. Criança como sujeito de direitos. 5. Planos Diretores. 
I. Picchetti Nascimento, Carolina. II. Universidade Federal de Santa 
Catarina. Curso de Graduação em Pedagogia. III. Título. 
4 
 
Carolina do Amarante 
 
 
Parques Infantis no Bairro Campeche (Florianópolis-SC): A criança como sujeito de 
direitos na conjuntura de urbanização (1989-2019) 
 
Este trabalho de conclusão de Curso em Pedagogia do Centro de Ciências da Educação da 
Universidade Federal de Santa Catarina foi avaliado e aprovado por banca examinadora 
composta pelos seguintes membros: 
 
Florianópolis, 14 de dezembro de 2019. 
 
 
Prof.(a), Dr.(a) Carolina Picchetti Nascimento 
Orientador(a) -Instituição UFSC 
 
 
Prof.(a), Dr.(a) Jocemara Triches 
Avaliador(a) -Instituição UFSC 
 
Prof.(a), Dr.(a) Mônica Teresinha Marçal 
Avaliador(a) 
 
Prof.(a), Dr.(a) Astrid Baecker Avila 
Avaliador (a) -Instituição UFSC 
 
Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão do curso que 
foi julgado adequado para obtenção do título de Graduação em Pedagogia do Centro de Ciências 
da Educação da Universidade Federal de SantaCatarina. 
 
 
 
Prof.(a), Dr.(a) Jocemara Triches 
Coordenador (a) -Instituição UFSC 
 
Prof.(a), Dr.(a) Carolina Picchetti Nascimento 
Orientador(a) - Instituição UFSC 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Roque e Selma, que sempre me disseram que o maior presente que 
eles poderiam me dar em vida era a Educação. 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um sonho de Juana (Eduardo Galeano) 
 
Ela perambula pelo mercado de sonhos. As vendedoras estenderam 
sonhos sobre grandes panos no chão. Chega ao mercado o avô de 
Juana, muito triste porque faz muito tempo que não sonha. Juana o 
leva pela mão e ajuda-o a escolher sonhos, sonhos de marzipã ou 
algodão, asas para voar dormindo, e vão-se embora os dois tão 
carregados de sonhos que não haverá bastante noite. 
 
7 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
O primeiro e maior agradecimento deste Trabalho de Conclusão de Curso dedico aos 
meus pais Roque e Selma do Amarante que me apoiaram neste caminho de formação e também 
por acreditarem que o maior presente que eles poderiam me dar em vida seria o da Educação. 
Gostaria de dedicar esta pesquisa também a minha sobrinha Eduarda do Amarante Martins, a 
Duda, a criança do meu coração, pois ela me ensina a ser uma pessoa melhor. 
Além disso, quero deixar meus agradecimentos sinceros aos amigos e colegas da turma 
2016.1, que conheci neste período, como estudante do Curso de Pedagogia, que marcaram estes 
anos e na convivência com eles eu fui aprendendo o quão importante é a nossa formação 
humana para nos tornarmos professores. Em especial para as amigas Juliana Breuer Pires, 
Elizabete Enedina de Souza, Pricila Kalbusch, Beatriz Espíndola, Ariele Franco Gomes e Maria 
Luiza Vieira Mafra. E para as amigas das outras fases que também foram marcantes nessa 
trajetória que foram Elisa Costa Garcia e Mônica Cunha dosSantos. 
Agradeço a Profª. Dra. Carolina Picchetti Nascimento, minha orientadora neste 
Trabalho de Conclusão de Curso. Que aceitou orientar meu tema! Professora, deixo aqui meus 
agradecimentos sinceros porque sua tranquilidade e paciência me ensinaram que não devemos 
desistir mesmo nos momentos difíceis de escrita, mas ao contrário devemos ter persistência e 
um olhar sempre atento para as aprendizagens que acontecem no caminho da pesquisa. 
Obrigada Carol pela sua atenção e escuta nos momentos mais desafiantes desse trabalho! Sou 
grata! 
Por fim, agradeço também as professoras, Dra. Jocemara Triches que desde a primeira 
fase do curso de Pedagogia me encantou com suas aulas politizadas e seu jeito cativante de 
ensinar de maneira dinâmica e leve. E sem contar o carinho que sempre teve comigo durante 
essa trajetória da UFSC. A professora Dra. Mônica Teresinha Marçal que nessa trajetória do 
Curso de Pedagogia me ensinou que a formação humana sempre acontece com momentos de 
alegria, risadas, choros, desabafos, trocas e olhar atento na relação com o outro. E não poderia 
faltar meu agradecimento a professora Dra. Astrid Baecker Avila que mesmo com pouco tempo 
de aula na minha trajetória acadêmica na Pedagogia eu já a admirava pela sua forma de ensinar. 
E sem contar que mesmo antes de ter tido aulas com ela já me sentia acolhida em momentos de 
conversas nos corredores da UFSC e também quando ia assistir as suas aulas sem ser ainda sua 
aluna. 
A Deus, por essa conquista! 
8 
 
RESUMO 
 
 
A presente pesquisa teve como objetivo analisar os parques infantis e em que medida a ideia de 
criança como sujeito de direitos se realiza por meio destes no processo de disputas de projetos 
de urbanização no bairro Campeche (Florianópolis, SC – Brasil), do ano de 1989 ao ano de 
2019. Para tal, buscou-se analisar se as políticas públicas consideram o espaço como um direito 
para as crianças e se este se concretiza a partir dos parques infantis no respectivo bairro, 
descrevendo como os documentos contemporâneos da Constituição da República de 1988 
(BRASIL, 1988), o ECA (BRASIL, 1990), o Marco da Primeira Infância (BRASIL, 2016) e os 
planos diretores que regulam sobre o uso social das grandes cidades e dizem sobre o espaço 
para a criança. Metodologicamente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, documental e um 
trabalho de campo para mapeamento dos parques existentes na região. Este estudo procurou 
discutir os parques infantis na perspectiva da formação do pedagogo considerando ainda o 
processo de disputas e contradições envolvido em um projeto histórico de pensar esse espaço 
para a criança. Ao final deste foi possível identificar que essas propostas de leis, em que pese 
seus avanços em relação ao reconhecimento das crianças como sujeitos de direitos, não tratam 
diretamente da regulamentação e responsabilização do poder públicoem promover espaços 
específicos para a infância brasileira. Pondera-se, então, que os espaços públicos brasileiros, no 
caso específico dos parques infantis ou playgrounds, podem ser considerados como 
possibilidades e formas de sociabilidade para a criança como sujeito de direitos no contexto das 
cidades, embora não se efetivem como tal. 
 
 
Palavras chave: Parques Infantis. Bairro Campeche. Criança como sujeito de direitos. Planos 
Diretores. 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o-federal-constitui%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
8 
 
ABSTRACT 
 
 
This study aimed to analyze the playgrounds and in which sense the idea of children as subjects 
of rights is expressed in them through the process of disputes of projects of urbanization in 
Campeche neighborhood (Florianópolis, SC - Brazil), from 1989 to 2019. Moreover, this study 
inquired how these playground enable the activity of playing of children from 0 to 12 years in 
the neighborhood of Campeche. Considering this, it was proposed to analyze whether public 
policies consider space as a right for children and whether this right is materialized in the 
playgrounds in the respective neighborhood. In this way, this study sought to analyze the 
playgrounds considering the perspective of the teacher formation, inferring about the process 
of disputes and contradictions involved in a historical project of thinking this space for the child. 
It is about understanding how contemporary documents regulating the social use of big cities, 
named as master plans, say about space forchildren. 
 
 
Keywords: Playgrounds. Campeche neighborhood. Child as a subject of rights. Master Plans. 
10 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 01: Parque Infantil da Lagoa Pequena. Acervo pessoal da autora.. 39 
Figuras 02 e 03: O entorno do Parque Infantil da Lagoa Pequena. Acervo 
pessoal da autora....................................................................... 
 
40 
Figura 04: Parque Infantil da Lagoa Pequena. Acervo pessoal da autora.. 41 
Figuras 05 e 06: Os brinquedos do Parque Infantil da Lagoa Pequena. Acervo 
pessoal da autora....................................................................... 
 
41 
Figuras 07 e 08: Parque Infantil da Avenida Pequeno Príncipe. Acervo pessoal 
da autora.................................................................................... 
 
42 
Figura 09: Os brinquedos do Parque Infantil da Avenida Pequeno 
Príncipe. Acervo pessoal da autora........................................... 
 
43 
Figuras 10, 11 e 12: Os brinquedos do Parque Infantil da Avenida Pequeno 
Príncipe. Acervo pessoal da autora........................................... 
 
43 
 
11 
 
LISTA DE IMAGENS 
 
 
Imagem 13: Figura produzida por Monique Osmarina Daniel, no ano de 2015. 
Localização do bairro do Campeche em Florianópolis. (AMARANTE, 
2016, p. 121)................................................................................................ 
 
 
55 
Imagem 14: Figura do mapa do bairro Campeche. Nesta imagem é possível observar 
onde se localizam as duas Avenidas analisadas nesta pesquisa: A Avenida 
Pequeno Príncipe e a Avenida Campeche onde se encontram os dois 
parques infantis públicos analisados. Disponível em: 
<http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/plano_diretor/campeche.html>. 
Acesso em: 13 de agosto de2019................................................................ 
 
 
 
 
 
55 
http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/plano_diretor/campeche.html
 
12 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente 
 
IPUF - Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis 
PACUCA - Parque Cultural do Campeche 
 
13 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 14 
2 SEÇÃO I - CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITOS: A 
BRINCADEIRA COMO UM DOS DIREITOS DAINFÂNCIA....................... 
 
 21 
2.1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS PARA A INFÂNCIA: OS 
ESPAÇOS COMO DIREITOS ADQUIRIDOS E CONQUISTADOS................... 
 
 24 
2.2 PARQUES INFANTIS BRASILEIROS: ESPAÇOS NAS CIDADES E A IDEIA 
DE CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITOS................................................... 
 
 29 
3 SEÇÃO II - OS PLANOS DIRETORES DO BAIRRO CAMPECHE (1989- 
2019): E OS ESPAÇOS PARA O BRINCAR....................................................... 
 
 34 
4 SEÇÃO III - OS PARQUES INFANTIS PÚBLICOS: COMO O ESPAÇO 
POTENCIALIZA OU IMPEDE A CRIANÇA COMO SUJEITO DE 
DIREITOS NO BAIRRO CAMPECHE............................................................... 
 
 
38 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 48 
6 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 51 
7 ANEXOS.................................................................................................................. 55 
14 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
A motivação deste Trabalho de Conclusão de Curso surgiu, sobretudo, a partir de 
questionamentos sobre as condições para o brincar das crianças moradoras do bairro do 
Campeche, localizado no sul da Ilha de Santa Catarina, tendo em vista compreender quais são 
as possibilidades para se efetivar a condição das crianças como sujeitos de direitos nas grandes 
cidades (GONÇALVES, 2015). Foi na disciplina de Educação e Infância III, cursada no ano de 
2016, que percebi a relevância desta temática para as reflexões do pedagogo, mediante a 
observação de espaços infantis e de brincadeiras.1 
Partindo do pressuposto de que a criança tem o direito constitucional à infância, 
promover condições para garantir um desenvolvimento físico, psicológico e intelectualmente 
saudável, passa pela garantia do direito de brincar (GONÇALVES, 2015). Autores como 
Philippe Ariès (1981) e Suely Amaral Mello (2007) contrariam ideias como a de que a infância 
é apenas “uma fase da vida”, ou seja, para que a infância seja um tempo e espaço determinante 
para o desenvolvimento da personalidade, para capacitar o sujeito a internalizar regras sociais 
básicas, para criar consciência histórica e para a criação de mecanismos essenciais para o 
convívio em sociedade, é preciso que os adultos e, em especial, os professores, compreendam 
que as crianças vivenciam a infância a partir de uma determinada “condição infantil” 
(CHARLOT, 1979), o que permite a existência de diferentes “infâncias” e o que passa, por 
exemplo, pelas condições existentes para a apropriação dobrincar. 
Dessa forma, compreende-se a necessidade de identificar como se apresentam os 
espaços especificamente destinados à infância e brincadeiras em grandes cidades: como estes 
espaços possibilitam a existência de infância(s) e quais são as políticas públicas direcionadas à 
criação/manutenção de espaços especificamente destinados/voltados para a infância? Como 
justificativa ao objeto desta pesquisa está a compreensão de que a brincadeira é uma das 
atividades centrais das crianças em nossa sociedade, um meio para que elas se apropriem do 
mundo em que vivem e se constituam comosujeitos. 
Para o desenvolvimento da pesquisa adotamos como empiria dois espaços públicos 
destinados à criança e ao brincar no bairro do Campeche (Florianópolis- SC). O recorte 
 
 
1 A respeito da discussão sobre Infância(s) apresentada nesta pesquisa, destaco os estudos realizados na disciplina 
Educação e Infância III em 2016 e proposto pela professora Jucirema Quinteiro e sintetizado em um trabalho 
intitulado “As políticas públicas nos bairros de Florianópolis: como as crianças são observadas como sujeitos de 
direitos nesses respectivos espaços” juntamente com as acadêmicas Ariele F. Gomes e Juliana B. Piresrealizado. 
15 
 
 
 
geográfico se justifica pelo fato do localser exemplar de alguns dos fenômenos que têm 
ocorrido em grandes cidades (por exemplo, a crescente especulação imobiliária e a convivência 
de espaços públicos e privados para atividades dos moradores), além de suas características 
específicas (a permanência entre urbano e rural) e, não menos importante, por ser um dos bairros 
mais populosos de Florianópolis. Por fim, ressalto também o fato de ter uma proximidade 
vivencial com este bairro, não apenas como moradora, mas como pesquisadora.2 
Diante disso, é importante destacar o fato de que o Campeche vem apresentando uma 
ocupação urbana de forma intensa e acelerada, transformando a estrutura espacial da localidade. 
Desde o ano de 2000 ele vem sendo urbanizado verticalmente com condomínios de alto padrão, 
porém ainda se percebe um bairro sem infraestrutura adequada. Há problemas com a 
locomoção, por exemplo, em razão da inexistência de calçadas em algumas vias e, em outras, 
com a falta de segurança nelas; também não há rede coletora nem tratamento final adequado 
dos esgotos sanitários em toda a região (AMARANTE, 2016). Além disso, a comunidade local 
permanece mal atendida em termos de espaços delazer. 
O Campeche, após os embates políticos por seu ordenamento, apresenta fortes 
características de desenvolvimento urbano, no entanto esta região ainda permanece com alguns 
aspectos rurais. De maneira geral, esta região estaria mais aos moldes urbanos da proposta 
elaborada pelo Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) do que das 
características de um bairro preservado ecologicamente e/ou com a forma rural. Essas 
características do bairro podem ser analisadas em um trecho do documento do Plano de 
Desenvolvimento Campeche do ano de19953. 
 
A atuação da Prefeitura de Florianópolis tem sido quase nula em termos de controle 
da ocupação, mesmo nas áreas urbanas da região do Campeche. Os loteamentos 
disfarçados em desmembramentos ou condomínios são regra geral, em zonas urbanas 
ou rurais, contando com o beneplácito da Prefeitura. As edificações irregulares, da 
ordem de dezenas por mês, são encorajadas pela ausência da fiscalização e punição, e 
pelas periódicas leis de regularização de obras clandestinas aprovadas pela Câmara. 
A própria degradação ambiental que já começa a se esboçar na região, é incentivada 
pela falta de fiscalização e educação ambiental, e pela não implantação de parques e 
reservas ecológicas por parte da Prefeitura. A coleta de impostos é reduzida pela 
clandestinidade, por um cadastramento desatualizado e pela classificação rural da 
maioria das propriedades. A infraestrutura planejada não é 
implantadapelacarênciaderecursoseporpolíticaspopulistasdenãodesapropriar 
 
 
2 Pesquisa de mestrado em História. A Derrubada do Bar do Chico no Bairro Campeche: Embates de uma História 
do Tempo Presente em Florianópolis (1989-2011) (AMARANTE, 2016). 
3 A respeito do Plano de Desenvolvimento Campeche do ano de 1995 pode-se apontar que este é uma atualização 
do o Plano de Desenvolvimento Integrado da Planície Entremares, Campeche e região - do ano de 1989, que será 
analisado na segunda seção desta pesquisa. 
16 
 
 
ninguém. Em decorrência, o planejamento de longo prazo é inviabilizado pela falta de 
continuidade e ações concretas. (Florianópolis, Plano de Desenvolvimento Campeche. 
Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis, 1995, p. 48) 
 
Na última década, o Campeche recebeu vários investimentos em infraestrutura, a 
exemplo da pavimentação das suas principais vias, como a Avenida Pequeno Príncipe e a 
Avenida Campeche (Imagem 14).4 Além disso, o Bairro vem perdendo características rurais e 
se transformando em um bairro misto, com comércio, serviços, escolas públicas e privadas, 
creches, posto de saúde, prédios e condomínios residenciais. 
Acresce que, nesta perspectiva de crescimento urbano, os espaços mudaram fazendo 
com que muitas crianças de 0 a 12 anos tenham como espaço prioritário para brincar os 
condomínios residenciais e não mais as ruas. Ainda assim, pode-se verificar que existem 
espaços infantis públicos no bairro, como o existente no entorno da Lagoa Pequena, localizada 
na Avenida Campeche. Este dispõe de um parque infantil construído de madeira com balanços, 
gangorras e outrosbrinquedos. 
As observações cotidianas desses espaços destacados acima me fizeram questionar as 
condições da(s) infância(s) e, por consequência, a situação das crianças de 0 a 12 anos no 
Campeche para viverem essa etapa da vida especificamente em relação ao acesso à atividade 
de brincar. Este cenário inicial, envolvendo minhas vivências como moradora do bairro do 
Campeche e minha trajetória formativa no curso de Pedagogia, levaram-me a formular uma 
primeira problemática para esse trabalho de conclusão de curso: pensar como as políticas 
públicas para o bairro do Campeche foram desenvolvidas e em quais condições, pois esta região 
apresenta uma urbanização acelerada, o que muitas vezes resulta com que as crianças de 0 a 12 
anos sejam reservadas dentro de condomínios residenciais, muitas vezes sem a possibilidade de 
compartilharem e socializarem em outros espaços públicos. 
Sobre este aspecto são necessários um cuidado metodológico, no intento de 
problematizar as questões urbanas dentro do contexto da expansão da urbanização da cidade de 
Florianópolis para o bairro do Campeche e suas possíveis relações com as condições para o 
desenvolvimento da brincadeira por parte das crianças que vivem no bairro. 
A capital catarinense se configura como um destino turístico que atrai expressivo 
número de visitantes todo ano em busca de bem-estar junto à natureza. Esta é a forma que a 
mídia constantemente veicula imagens da cidade - incluindo o Campeche - atraindo 
 
 
4 Destacamos desde já que a Avenida Pequeno Príncipe e a Avenida Campeche serão enfatizadas neste trabalho 
devido ao fato de que essas localidades são as mais evidenciadas nos planos diretores estudados para esta pesquisa. 
17 
 
investimentos de capital e estimulando a expansão imobiliária. Nesse contexto, ressalta-se a 
relevância de compreender o papel do poder público manifesto, por exemplo, na elaboração do 
Plano Diretor, visando o entendimento da dinâmica de configuração do espaçourbano. 
Sabe-se que a organização espacial da cidade de Florianópolis busca se regrar no Plano 
Diretor, cuja primeira versão é de 1950. Entretanto, o Plano de Desenvolvimento da Planície 
Entremares, Campeche e região, elaborado pelo IPUF no ano de 1989, propôs uma cidade 
voltada para o setor turístico o que, de certa forma, acabou deixando de lado os interesses da 
comunidade residente no bairro, bem como o desenvolvimento sustentável da região proposto 
no Plano Diretor Comunitário do ano de 1999 (LOCH; SANTIAGO; WALKOWSKI,2008). 
Nesse sentido, nota-se que as construções imobiliárias, cada vez mais presentes na 
localidade, são os reflexos mais visíveis desse processo de expansão da urbanização de 
Florianópolis em direção ao Campeche. 
A planície do Campeche tem limite com as regiões da Lagoa da Conceição, Joaquina, 
Manguezal do Rio Tavares, Costeira do Pirajubaé e Tapera. Esta planície litorânea vem 
sofrendo, desde o início da década de 1990, transformações em suas áreas de ocupação urbana 
e no bairro como um todo. Essas transformações permitem refletir a quem deve servir o Plano 
Diretor da região do bairro do Campeche ou a quem tem servido. 
Sendo assim, emerge como problemática central desta pesquisa a análise das condições 
de efetivação da criança como sujeito de direitos no Campeche, considerando o contexto da 
especulação imobiliária no bairro e disputas políticas (por exemplo, entre os Planos Diretores 
do IPUF do ano de 1989 e o Plano Diretor Comunitário de 1999), elegendo como objeto de 
investigação a análise dos espaços que possibilitam a existência da(s) infância(s) e do brincar, 
como os parques infantis ou osplaygrounds5. 
Diante disso,este trabalho justifica-se pela necessidade de problematizar questões 
urbanas e políticas como de cidadania, classe e lazer, visando compreender as condições 
existentes e/ou necessárias de existir para que a criança se efetive como um sujeito de direitos. 
Em especial, faz-se relevante compreenderas concepções de espaços infantis e de brincadeiras 
 
5 A respeito desse conceito “é importante ressaltar que o termo playground surgirá em 1868 inicialmente 
relacionado com o aparecimento dos primeiros recreios escolares americanos, caracterizando um quintal aberto 
apropriado aos folguedos infantis. Ainda na primeira fase do chamado Movimento de Parques norte-americano, 
será incorporado aos parques urbanos e demais espaços livres públicos construídos naquele período, a partir de 
propósitos pedagógicos e sociais (CRANZ, 1982 apud NIEMEYER, 2002, p. 42). Além disso, o significado da 
palavra é de origem inglesa “playground” pode-se traduzir “play (jogo, divertimento) e ground (terreno, pátio), 
que significa pátio para brincadeiras.”. Disponível em: <https://www.significados.com.br/playground/>. Acesso 
em: 11 de ago. de 2019. 
https://www.significados.com.br/playground/
18 
 
que têm permeado a possibilidade das crianças vivenciarem sua condição de infância em 
grandes cidades. Temos, então, por objetivo, analisar as condições que permitem ou impedem 
a realização da concepção de criança como sujeito de direitos, a partir dos parques infantis, no 
contexto de urbanização do Campeche considerando as disputas de projetos de urbanização por 
meio dos planos diretores do ano de 1989 ao ano de 2019. 
Assim sendo, pode-se destacar que a lei municipal, conhecida como Plano Diretor, 
elaborada pela prefeitura em conjunto com a sociedade civil e encaminhada a Câmara de 
Vereadores para aprovação, é considerada um instrumento da política de desenvolvimento 
municipal e que tem como finalidade determinar o que não pode e o que pode ser construído 
em cada parte do mesmo. (AMARANTE, 2016, p. 36). Além disso, pode-se apontar que nesta 
pesquisa serão analisados os três planos diretores do bairro Campeche que são: o Plano Diretor 
de Desenvolvimento da Planície Entremares para o bairro Campeche, do ano de 1989, o Plano 
Comunitário para a Planície do Campeche, proposta para um desenvolvimento sustentável, de 
1999 e o Plano Diretor do IPUF de 2014. 
Ainda, a respeito da ideia de espaço, mais especificamente da infância, que será 
analisado neste trabalho irá aparecer de forma mais direta na última seção. Disso, podemos 
destacar que este conceito nesta pesquisa relaciona-se para além do direito ao espaço quase que 
restrito à instituição escolar, mas como outras formas como local de exercício de uma atividade 
humana, por exemplo, o brincar por meio dos parques infantis. Ou seja, o espaço aqui é 
compreendido como uma “síntese” de uma determinada intencionalidade humana e não a 
simples sensorialidade do lugar; como local/materialidade com propósito e na perspectiva dos 
espaços público e privado. 
Em que pese a importância de pesquisas anteriores (AMARANTE, 2016; NIEMEYER, 
2002) há uma necessidade de compreender os processos a partir dos quais os espaços 
específicos disponíveis e apropriados para as crianças no bairro Campeche existem, 
contribuindo para o debate acerca dos limites e desafios impostos à vivência da condição 
infantil nas grandescidades. 
Dentre os objetivos específicos deste estudo estão: 
a) Identificar nos planos diretores da cidade, a existência de políticas de delimitação de 
espaços urbanos coletivos direcionados ao direito da criança debrincar; 
b) Mapear os espaços construídos no bairro do Campeche direcionados ao brincar das 
crianças; 
19 
 
c) Analisar a constituição estrutural dos parques infantis construídos no bairro 
Campeche; 
d) Inferir as concepções educativas desses espaços para constituição do brincar. 
 ComopossívelsíntesedesteestudoestáoesforçodecaracterizarobairrodoCampeche, como 
exemplar de um bairro em contexto acelerado de urbanização, do ponto de vista da “criança 
como sujeito de direitos”, em especial por meio dos parques infantis. 
O presente trabalho organiza-se, metodologicamente, a partir de pesquisa bibliográfica 
sobre a criança como sujeito de direitos e sobre os espaços infantis e de brincadeiras, e de um 
estudo documental dos três planos diretores do bairro do Campeche, entre os anos de 1989 aos 
anos 2019 – (o Plano Diretor de Desenvolvimento da Planície Entremares para o bairro 
Campeche, do ano de 1989, o Plano Comunitário para a Planície do Campeche, proposta para 
um desenvolvimento sustentável, de 1999 e o Plano Diretor do IPUF de 2014) - e das três 
legislações brasileiras que tratam sobre a infância que são: a Constituição da República de 1988 
(BRASIL, 1988), o ECA (BRASIL, 1990) e o Marco da Primeira Infância (BRASIL, 2016). 
As legislações e orientações brasileiras para a infância e os planos diretores para o 
Campeche, do período entre 1989 e após anos 2000, foram analisadas com o objetivo de 
identificar se estes dispositivos legais se atentam às crianças e suas necessidades, notadamente 
em relação aos espaços para o brincar. Como parte deste estudo documental, foi realizado um 
trabalho de campo para a observação quantitativa e qualitativa dos espaços especificamente 
direcionados à atividade de brincar visando discutir em que medida esses locais existentes no 
bairro permitem realizar a concepção de criança como sujeito de direitos. 
Para este trabalho de campo, que procurou mapear quantitativamente os locais onde 
existiam parques infantis no bairro, elegeu-se como recorte geográfico as ruas e 
servidõeslocalizadas entre a Avenida Pequeno Príncipe e a Avenida Campeche, em virtude do 
destaque que tais avenidas têm no Plano Diretor para o bairro. Pretendeu-se, para tal, elaborar 
algunscritérios para a observação, construídos a partir de concepções sobre infância e sobre o 
ato de brincar. Os critérios iniciais para a observação foram: facilidade de acesso aosusuários; 
equipamentos que compõe esses espaços e se esses são adequados à faixa etária de0-12 anos. 
Este Trabalho de Conclusão de Curso está dividido em três seções: “Criança como sujeito 
de direitos: A brincadeira como um dos direitos da infância”, que discute a(s) infância(s) para 
o desenvolvimento dos sujeitos, como esta tem sido compreendida ao longo da história e como 
é verificada nosespaçosinfantisbrasileiros; e “Os planos diretores do bairro Campeche 
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o-federal-constitui%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
20 
 
(1989-2019): E os espaços para o brincar”, dedicado em como as políticas públicas dos planos 
diretores são moldadas no espaço urbano do Bairro. Por fim, a seção “Os parques infantis 
públicos: como o espaço potencializa ou impede a criança como sujeito de direitos no bairro 
Campeche”, que se propõe a analisar a forma como os parques infantis no bairro vêm sendo 
ordenados, a partir da década de 2000. Além disso, apresentamos a seção de sínteses em que 
buscamos retomar as problemáticas e o objeto de pesquisa proposto, elaborando algumas 
considerações finais sobre este processo de investigação e sobre suas contribuições para minha 
formação comopedagoga. 
21 
 
2 CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITOS: A BRINCADEIRA COMO UM DOS 
DIREITOS DA INFÂNCIA 
 
A infância é uma construção social, é um modo particular de pensar o ser humano com 
pouca idade, e foi sendo elaborada e constituída ao longo dos séculos, acompanhando as 
modificações no mundo do trabalho/modo de produção, na composição familiar e no cotidiano 
da vida das crianças e na institucionalização da educação nessa etapa da vida (creches, jardins 
de infância, escolas). Nesse sentido, a infância pode ser compreendidacomo: 
 
[...] não só uma construção social, mas também histórica, ética, política,cultural e as 
crianças são sujeitos que constroem a pátria, que têm direitos e devem ser educadas e 
cuidadas com base na proteção, provisão e participação. A infância é uma variável da 
análise social que não pode ser inteiramente divorciada de outras variáveis como 
classe social, gênero ou pertença étnica. (SILVA, 2012, p. 234) 
 
No entanto, é importante reconhecer que esse conceito de infância só foi possível a partir 
de transformações históricas, pois nem sempre foi compreendida como uma construção social 
e cultural. Nesse sentido, cada experiência é determinada de modo diferente de acordo com o 
lugar e a sociedade em que se constituem. Esta é a importância de analisar o contexto social e 
cultural ao se discutir a infância. Segundo Ariès, “Até por volta do século XII, a arte medieval 
desconhecia a infância ou não tentava representá-la. É difícil crer que esta ausência se devesse 
à incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável que não houvesse lugar para infância 
neste mundo” (ARIÈS,1981, p. 50). 
As crianças eram vistas como “adultos em miniaturas”, não havia preocupação com as 
características e peculiaridades infantis. Caracterizava-se a infância como um vir a ser, onde 
estas podiam realizar as mesmas atividades que os adultos, podendo até frequentar os mesmos 
lugares, sem restrição ou censura. Como se pode observar na seguinte citação: 
 
A noção de infância é moderna, começando a “adquirir pertinência (...) a partir dos 
finais do século XVII e especialmente do século XVIII” (...). Tendo em vista que antes 
disso as crianças não eram reconhecidas como sujeitos com especificidade própria, 
sendo estas tratadas e representadas como adultos em miniatura, uma vez que 
trabalhavam, comiam, divertiam-se e dormiam em meio aos adultos, é possível 
estabelecer uma curiosa analogia com as diversas crianças de contextos periféricos de 
nossos dias. Com o advento da industrialização e a procura de mão de obra infantil, a 
nossa criança contemporânea retorna, então, ao seu antigo status de “adulto em 
miniatura”, condição que não lhe confere qualquer sentimento de infância e trata de 
incorporá-la no contexto social do adulto tão logo adquira capacidade de viver sem a 
efetiva solicitude de seus pais e obtenha “um certo grau de discernimento de si e do 
mundo” [...]. (ALMEIDA, 2006, p.549) 
22 
 
A concepção de infância que conhecemos hoje é, assim, historicamente construída. Cada 
época marca uma concepção diferente para esses sujeitos de “pouca idade”, formadas por 
características sociais, políticas, econômicas e culturais. A criança passou a ser percebida como 
um sujeito social, detentora de direitos apenas na contemporaneidade. Nesta perspectiva, a 
pesquisadora Mello (2007) aponta que a concepção de criança pode ser compreendida a 
partirdas: 
 
[...] relações com o mundo que a cerca. Esse novo conceito de criança informado pela 
teoria histórico-cultural – e também construído a partir da observação das crianças 
num ambiente com múltiplas possibilidades de vivências – aponta que, diferentemente 
do que pensávamos até pouco tempo atrás, a criança não é um ser incapaz, frágil e 
dependente absoluto da atenção do adulto para dirigir sua atividade. Ao contrário, a 
criança que surge da observação e da teoria que a vê como um ser histórico-cultural 
é, desde muito pequena, capaz de explorar os espaços e os objetos que encontra ao seu 
redor, de estabelecer relações com as pessoas, de elaborar explicações sobre os fatos 
e fenômenos que vivencia. (MELLO, 2007, pp. 89-90) 
 
Com a Declaração dos Direitos Humanos, em 1948, houve a necessidade de organizar 
e reivindicar uma legislação efetiva que desse proteção às crianças, pois mesmo com os avanços 
nesse sentido ainda não havia, por parte das políticas públicas, garantias a fim de que estes 
direitos fossem respeitados. O direito à infância, ao seu pleno desenvolvimento, o direito aos 
cuidados e à segurança necessária à obtenção de uma vida digna, ainda não era considerado 
como um dever de toda a sociedade, tampouco eram colocados em prática. Começaram a surgir 
os primeiros sinais de sua efetivação, primeiramente a partir de discussões internacionais sobre 
os Direitos Humanos. 
Um fato exemplar deste momento é a Doutrina da Proteção Integral da Organização das 
Nações Unidas, que foi inserida na legislação brasileira pelo artigo 227 na Constituição Federal 
de 1988 (BRASIL, 1988), tornando-se um marco ao propor uma visão de criança como sujeito 
de direitos (GONÇALVES, 2015). Mais tarde, estes direitos foram regulamentados no Estatuto 
da Criança e do Adolescente, o ECA (BRASIL, 1990), lei federal que normatiza a concepção 
da criança como cidadã, o que significa entendê-las como sujeito de direitos que merecem 
proteção integral, principalmente por encontrarem-se em condições especiais de 
desenvolvimento. 
Diante do exposto, pode-se perceber muitos avanços sobre como a criança é vista em 
nossa sociedade. O significado da infância estende-se para além dos cuidados básicos: ela 
salvaguarda o desenvolvimento integral da criança (o amplo atendimento às suas necessidades, 
a busca por uma educação e um currículo adequados à sua condição, centrados 
naqualificaçãoeinteraçãocomomundoatravésdediferentesformasdeexpressãoe/ou 
23 
 
 
 
linguagem e outras formas de assimilação do conhecimento além da escola, as diferentes 
relações que existem na comunidade, nas famílias e nas organizações culturais). 
A determinação do Estado para o atendimento às crianças em idade pré-escolar, mesmo 
que repleto de lacunas e sem o devido investimento para um atendimento de qualidade 
possibilitou “um salto” em relação à valorização pedagógica das brincadeiras, contribuindo a 
este importante papel que é o “brincar” na infância, pois “brincar deve se constituir em atividade 
permanente e sua constância dependerá dos interesses que as crianças apresentam nas diferentes 
faixas etárias”. (BRASIL,1998). 
Como visto, durante o século XVII, a infância não era percebida com “olhar especial”. 
Ariès explica que "[...] não existia uma separação tão rigorosa como as brincadeiras e os jogos 
reservados às crianças e as brincadeiras e jogos dos adultos. Os mesmos jogos eram comuns a 
ambos.". (ARIÈS, 1981, p.88). 
O ato de brincar não foi sempre considerado como uma atividade voltada 
especificamente para as crianças. É posterior a concepção de que no brincar as crianças são 
introduzidas ao meio em que estão inseridas de uma maneira “lúdica”, ou seja, sem fins 
utilitários diretos, porém voltada à realidade, como um modo de assimilar e recriar a experiência 
sócio cultural. Nesse sentido, o conceito de brincadeira aqui é analisado também pelo viés de 
Vigotski (2008), que aponta que esta pode ser compreendida como uma forma de atividade 
principal ou guia, ou seja, aquela que governa as principais ações em determinado momento do 
desenvolvimento das crianças. Este autor salienta a satisfação que a brincadeira propicia à 
criança, porém aponta que a conceituação de brincadeira somente pelo princípio da satisfação 
não pode ser considerada correta, pois esta deve levar em conta a necessidade intelectual, os 
desejos irrealizáveis, os impulsos afetivos, entre outros. Por exemplo, quando a criança quer ser 
um motorista e dirigir um carro e utiliza da imaginação e de instrumentos que a permitam imitar 
esta atividade, característica do mundo adulto, em suas brincadeiras, o seu prazer será tanto 
maior quanto sua avaliação de que conseguiu representar bem o papel social que orientou sua 
atividade. 
Sabe-se, hoje, que a criança se desenvolve pela experiência social exatamente nestas 
interações que estabelece desde cedo. Além disso, esta concepção de brincadeira como 
apropriação e aprendizagem do mundo deve estar interligada para além da escola, as crianças 
devem se perceber neste processo e no mundo como sujeitos. Nesta perspectiva, a pesquisadora 
SuelyAmaral Mello (2007, p. 90) compreende a infância como “(...) o tempo 
emqueacriançadeveseintroduzirnariquezadaculturahumanahistóricaesocialmente 
24 
 
criada, reproduzindo para si qualidades especificamente humanas”. Diante disso, pode-se 
apontar sobre aspectos da infância que: 
 
Ao verificar-se uma equivocada abordagem sociológica do mundo da criança e da 
infância, que a concebe como categoria uniforme, universal e homogênea, torna-se 
imprescindível propor a sua desconstrução e subsequente reconstrução com base em 
conceitos de heterogeneidade e autonomia. Ao perceber-se na criança o verdadeiro 
ator social de suas ações, um ser ativo dotado de sentido de competência na sociedade 
em que vive, espera-se construir um novo sentido de valorização da experiência da 
infância, longe da visão idealizada do adulto que, ao olhar para trás, contempla sua 
própria infância. (ALMEIDA, 2006, p. 550-551) 
 
Toda a história de disputas em torno do significado da infância e da criança como um 
sujeito de direitos pode ser percebida no contexto social, político, econômico e cultural da nossa 
sociedade contemporânea que, mesmo avançando teoricamente neste sentido, na prática ainda 
apresenta uma considerável distância da efetivação desejada desta concepção. Exemplo disso 
está na análise, realizada neste trabalho, do bairro do Campeche, no que tange a existência de 
espaços para o brincar como expressões de políticas públicas. 
 
2.1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS PARA A INFÂNCIA: OS ESPAÇOS 
COMO DIREITOS ADQUIRIDOS ECONQUISTADOS 
 
Nesta subseção busca-se analisar como as legislações e orientações que abordam a 
infância e tratam da construção do(s) espaço(s) específicos para o brincar. Dessa forma, pode- 
se apontar como fontes de estudo deste trabalho a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 
1988), o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, (BRASIL, 1990) e o Marco da Primeira 
Infância (BRASIL, 2016). 
A Constituição Federal de 1988 é a normativa que abrange todas as leis que 
regulamentam o Brasil. Desse modo, esta Constituição garantiu a posição de que esse 
funcionamento pleno de direitos deveria se dar, com o qual o país deu início a um momento 
histórico baseado nas vigências das liberdades públicas e de solidez das instituições 
democráticas (SCHWARCZ; STARLING, 2015). 
No ECA, são apresentados os direitos e os deveres do Estado, da Família e da Sociedade 
Brasileira no que se refere à criança e ao adolescente. No Marco da Primeira Infância são 
abordadas as normativas relacionadas às políticas públicas que se referem ao período 
considerado da primeira infância, até os seis anos de idade da criança. Assim, pode-se inferir a 
importância através desses documentos para perceber como que os espaços 
25 
 
 
especificamente destinados à infância são considerados ou não um direito que deveria ser 
garantido para todos os cidadãos brasileiros e que apresentam, nas orientações e legislações 
estudadas neste trabalho, variadas análises na perspectiva histórica contemporânea. 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é a atual Carta Magna do 
Brasil. Ela é a última a consolidar a transição de um regime autoritário, que foi a DitaduraMilitar 
vigente entre 1964 e 1985, para um democrático, que é conhecido como o período histórico da 
Nova República, que vai até os dias de hoje. 
Além disso, a Constituição Federal de 1988 não só restabeleceu a inviolabilidade de 
direitos e liberdades básicas como instituiu uma amplitude de preceitos progressistas, como a 
igualdade de gêneros, criminalização do racismo, proibição total da tortura e direitos sociais, 
de responsabilidade do Estado, como educação, trabalho e saúde para todos. 
Embora seja conhecida pelo apelido de "Constituição Cidadã", ela até hoje recebe 
críticas pela sua grande incoerência entre o declarado ou previsto na lei e o efetivado na 
realidade brasileira, que, quase três décadas depois, continua desigual (SCHWARCZ; 
STARLING, 2015). 
A partir da análise das orientações e legislações da Constituição Federal de 1988, pode-
se destacar aquelas que foram mais enfáticas em relação à concepção dos espaços infantis, como 
verificam-se nos seguintes excertos extraídos da respectiva Constituição: 
 
“CAPÍTULO VII. Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso Art. 
227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente 
e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade 
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação 
dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010).§”. (BRASIL,1988) 
 
A partir do excerto da Constituição da República de 1988, pode-se questionar o direito 
aos espaços públicos como não sendo contextualizado diretamente dentre os direitos sociais 
brasileiros. Embora o acesso a estes ambientes seja considerado um direito social que se 
restringe ao lazer, verifica-se que não se trata dele diretamente nas legislações, geralmente, de 
um acesso indiretamente relacionado a este aspecto citado. Nesse sentido, pode-se compreender 
que os espaços públicos devem ser construídos nas cidades brasileiras como um direito a ser 
garantido para as crianças de 0 a 12 anos, pois: 
 
A (in) visibilidade da infância na sociedade adulta contemporânea aponta para a 
complexa natureza de sua condição social. Incapaz de agir por si própria em um 
mundo cercado por perigos dos mais diversos, à criança é vetada uma participação 
http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/regime-militar/
http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/regime-militar/
http://www.infoescola.com/historia/nova-republica/
http://www.infoescola.com/sociologia/racismo/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o-federal-constitui%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
26 
 
 
social efetiva sob o argumento de que necessita de proteção, o que evidencia um 
pensamento puramente paternalista, em face da velha teoria que concebe as crianças 
como “homúnculos”, ou seres humanos em miniatura, desprovidos de especificidades 
própria e originalidade. (ALMEIDA, 2006, p. 546, grifos no original) 
 
Diante do seguinte excerto, cabe refletir a respeito dos desafios e estratégias vinculados 
à ideia dos espaços infantis como direito das crianças, com qualidade mesmo diante da 
desigualdade social e econômica do país. Logo, pode-se refletir em que momento esta lei 
contribui para efetivar a ideia/concepção de crianças como sujeitos dedireitos. 
Já o ECA – Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 – apresenta um avanço democrático ao 
regularizar as conquistas relativas aos direitos da Criança e do Adolescente consolidado no 
Artigo 227 da Constituição Federal de 1988. O ECA é a normatização, num sentido amplo, do 
artigo 227 da Constituição, consagrando a Doutrina da Proteção Integral para as crianças e 
adolescentes. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, com vários títulos, capítulos e artigos propõe 
garantir a nossa última Constituição, a partir dos direitos fundamentais. O ECA resgata o valor 
da criança e do adolescente como seres humanos, sujeitos de direitos, que devem receber o 
máximo de dedicação em virtude de sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento. 
Desse modo, eles passam a ser percebidos como seres em desenvolvimento, tanto do 
ponto de vista físico quanto psicológico e social. O Estatuto exige um tratamento prioritário, e, 
para garanti-lo, obriga o conjunto da política, da economia e da organização social a operar um 
reordenamento; a revisar prioridades políticase de investimentos; a colocar em questão o 
modelo de desenvolvimento e respectivo projeto da sociedade, excludente e desigual, que 
desconhece, na prática, a criança e o adolescente como sujeitos de direitos. 
Os artigos apontam que os eixos devem funcionar de maneira articulada: órgãos 
governamentais e não governamentais. A sociedade civil possui importante papel político para 
garantir a continuidade das políticas públicas. O Ministério Público só se pronuncia quando 
provocado, embora tenha o papel de vigiar o cumprimento da lei. Assim, cabe à sociedade civil 
fazer uma articulação entre os três eixos para garantir que as políticas públicas sejam universais, 
suficientes e mais adequados às normas do Estatuto. Com relação às orientações sobre a 
possibilidade de pensar os espaços infantis, verifica-se nos seguintes excertos extraídos do 
referidodocumento: 
27 
 
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público 
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, 
à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. [...] Art. 16. 
O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir, vir e estar nos 
logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais;IV 
- brincar, praticar esportes e divertir-se; [...] Art. 59. Os municípios, com apoio dos 
estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para 
programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. 
(BRASIL, 1990) 
 
A partir dos trechos destacados do ECA, percebemos que o direito aos espaços públicos 
não é apresentado diretamente dentre os direitos sociais brasileiros. Pois, embora o acesso a 
estes ambientes seja considerado um direito social que se restringem aos aspectos citados do 
brincar e do lazer, verifica-se ainda que este seja tratado nas legislações, geralmente, de um 
acesso indiretamente assim como na Constituição Federal de 1988. 
Acresce que, a lei Marco da Primeira Infância - 13.257 (BRASIL, 2016), estabelece uma 
série de direitos das crianças de 0 a 6 anos completos. Logo, de acordo com esta lei, é dever do 
Estado assegurar políticas, programas e serviços que atendam essa faixa etária, com o objetivo 
de assegurar o desenvolvimento integral da criança. O artigo que foi mais enfático com a 
concepção de espaços infantis na perspectiva das políticas públicas verifica-se no seguinte 
excerto extraído da respectivaLei: 
 
“Art. 5o Constituem áreas prioritárias para as políticas públicas para a primeira 
infância a saúde, a alimentação e a nutrição, a educação infantil, a convivência 
familiar e comunitária, a assistência social à família da criança, a cultura, o brincar e 
o lazer, o espaço e o meio ambiente, bem como a proteção contra toda forma de 
violência e de pressão consumista, a prevenção de acidentes e a adoção de medidas 
que evitem a exposição precoce à comunicação mercadológica.* Este um artigo 
garante a assistência física, social, cultural e moral, familiar isto é garante na integra 
a vida da criança. (BRASIL, 2016) 
 
O Marco Legal da Primeira Infância (13.257/2016), como podemos perceber, firmou- 
se como Lei tardiamente no contexto histórico educacional brasileiro. Esta enfatiza o papel da 
criança como cidadã e apresenta a garantia dos direitos infantis. A Lei também aponta o 
necessário trato das políticas públicas, como a saúde, a educação, a assistência, a cultura, o 
brincar, o lazer e o espaço, dentre outras, para tornar a criança sujeito de direitos. Dessa forma, 
fortalece a responsabilização conjunta da família, da sociedade e do Estado pelos cuidados 
durante ainfância. 
No que se refere ao espaço, pode-se ressaltar que esse foi citado nas legislações e 
orientações como um direito das crianças. Além disso, pode-se analisar como um avanço do 
que se refere às políticas públicas ofertadas para garantir esse direito para as crianças. 
28 
 
Logo, a criança passou a ser observada como um sujeito social detentora de direitos 
apenas no contexto histórico contemporâneo e, mais especificamente, a partir do espaço da 
“escola”. Nesse sentido, os autores Altino Filho e Lourival Filho (2013, p. 56) apontam que “a 
concepção de criança e infância, que caracteriza como substantivos plurais é recente e vem 
tomando corpo na contemporaneidade”. Estes autores analisam esta ideia de infância que se 
direciona no pensamento de um conceito heterogêneo e de um amplo interesse em conhecer e 
compreender as experiências de vida das crianças. Disso, podemos relacionar que as políticas 
públicas destinadas para as crianças foram se introduzindo na história. Como pode-se observar 
no seguintetrecho: 
 
Essa nova ordem, a partir da segunda metade do século XIX, foi determinante para as 
novas gerações tornarem-se alvo de investimento e de políticas públicas, sendo as 
crianças consideradas o “futuro da nação”. Assim, a infância na modernidade 
capitalista foi delineada com base na divisão do trabalho, apartando-se da figura do 
adulto, e conferindo-lhe práticas materiais diversas. Também se procedeu à 
organização de instituições sociais especializadas (como creches, pré-escolas, escolas, 
pediatria, etc.). A partir daí, o discurso acerca das crianças tendia a excluí- las das 
situações de trabalho e a incluí-las em um processo de escolarização compulsória [...] 
a gênese do(s) “sentimentos da infância” desenvolveu uma consciência de alteridade 
das crianças em relação aos adultos, que é decisiva para essa construção histórica, com 
um contínuo, dinâmico e distinto (em face da Antiguidade) processo de 
desenvolvimento desde [...] a modernidade. (FILHO; FILHO, 2013, p.55) 
 
Acresce que o significado da infância se estende além dos cuidados básicos, ela assegura 
o desenvolvimento integral da criança, o amplo atendimento às suas necessidades, como a 
procura por uma educação adequada a sua condição, centrada na qualidade e interação dessas 
com o mundo, através de diferentes formas de expressão e de assimilação do conhecimento 
além da escola, ou seja, os diferentes vínculos que existem na comunidade, nas famílias e entre 
outros espaços. 
Diante do exposto, o direito aos espaços infantis, apresentam sinais de sua efetivação no 
Brasil, primeiramente a partir da Constituição Federal de 1988 que se torna um marco, 
propondo uma visão de criança como sujeito de direitos. É neste contexto histórico de 
redemocratização do país que estes aspectos específicos da infância ganham notoriedade no 
conjunto de direitos assegurados pela Lei. 
Mais tarde estes direitos foram regulamentados no ECA, sendo esta lei que formaliza a 
concepção da criança como cidadã, o que significa entendê-las como sujeito de direitos que 
merecem proteção integral. 
29 
 
O Marco da Primeira Infância de 2016 pode ser considerado um avanço em termos de 
legislações e orientações relacionadas ao período da primeira infância, e mais especificamente 
quanto aos direitos aos espaços infantis como políticas públicas, noBrasil. 
Portanto, toda a análise dos espaços infantis, nas legislações e orientações brasileiras 
nos documentos estudados nesta análise, possibilitou perceber que a legitimação desses direitos, 
mesmo avançando de maneira tardia nas concepções expressas nas legislações, na prática, ainda 
apresenta uma considerável distância da efetivaçãodesejada. 
 
 
2.2 PARQUES INFANTIS BRASILEIROS: ESPAÇOS NAS CIDADES E A IDEIA DE 
CRIANÇA COMO SUJEITO DEDIREITOS 
 
Os espaços públicos brasileiros, especificamente os parques infantis ou playgrounds, 
podem ser considerados como possibilidade para efetivar a ideia da criança como sujeito de 
direitos no contexto das cidades. Esses espaços podem ser entendidos como locais de mediação 
social, cultural e político entreas crianças e a realidade que as cerca. O pesquisador Zabalza 
(1998) apresenta através de Battini como pode ser conceituado o espaço, mais especificamente 
o infantil: 
 
Segundo o professor Enrico Battini, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de 
Turim, estamos acostumados a considerar o espaço como um volume, uma caixa que 
poderíamos até encher. No entanto, o mesmo autor diz que “é necessário entender o 
espaço como um espaço de vida, no qual a vida acontece e se desenvolve: é um 
conjunto completo”. Essa concepção do espaço como caixa é uma abstração dos 
adultos. No entanto, “para as crianças pequenas o espaço é aquilo que nós chamamos 
de espaço equipado, ou seja, espaço com tudo o que efetivamente o compõe: móveis, 
objetos, odores, coisas duras e moles, coisas longas e curtas, coisas frias e coisas 
quentes, etc.”. “O espaço é antes de mais nada luz: a luz que nos permite tanto a nós 
como à criança vê-lo, conhecê-lo e, portanto, ao mesmo tempo, compreendê-lo, 
recordá-lo, talvez para sempre”. (p.24). Battini apresenta uma visão muito vitalista do 
espaço. Visão que se adapta bem à forma que as crianças têm de abordar o mesmo. 
(BATTINI, 1982, p. 24 apud ZABALZA, 1998, p.230-231) 
 
Ainda, ao considerar as cidades com a existência de seus espaços infantis e perceber que 
estes podem proporcionar condições de ser criança podemos compreender os possíveis 
significados da(s) infância(s) presentes. 
Nessa perspectiva, entre os anos de 1935 a 1938, pode-se destacar um fato histórico 
interessante no país para se pensar os espaços infantis no viés das políticas públicas, que foi o 
momento no qual o escritor, pesquisador, educador e poeta Mário de Andrade, assumindo o 
cargo de chefe do Departamento de Cultura de São Paulo, criou o projeto “Parques Infantis de 
Mário de Andrade”, que teve como proposta a construção desses locais para as crianças que 
30 
 
eram os filhos (as) da classe trabalhadora. Sobre a importância desse projeto para a conjuntura 
histórica do período destaca-se que: 
 
Os parques infantis da Prefeitura de São Paulo foram destinados à recreação das 
crianças pobres da cidade, especialmente os filhos de operários. O primeiro a ser 
instalado foi o Parque Infantil Pedro II. Em seguida surgiram o Parque Infantil da 
Lapa e do Ipiranga. Posteriormente, e por último, instalou-se o Parque Infantil de 
Santo Amaro. Até 1938, ano da saída de Mário de Andrade do Departamento de 
Cultura, estes foram os únicos em funcionamento na cidade. Muitos outros, porém já 
estavam projetados. Seriam instalados “todos em bairros de trabalho ou de pobreza, 
imediações de escolas ou fábricas, enfim onde pudesse ser mais útil socialmente.”. 
Além da recreação orientada por educadores, essas crianças recebiam nos parques 
assistência média e dentária, educação sanitária e higiênica, roupas e alimentação. 
(ABDANUR, 1994, p. 268) 
 
O projeto dos “Parques Infantis de Mário de Andrade”6 foi pensado como espaços 
infantis acessíveis, para as crianças das famílias de classes operárias brasileiras. Sendo assim, 
foram significativos para apontar que na gestão do escritor foi viável constituir um plano 
governamental de educação para além da instituição escolar por meio do qual foi possível 
garantir o direito à infância dessas crianças. 
De acordo com o pesquisador Carlos Augusto da Costa Niemeyer (2002), foi durante o 
contexto político instável dos anos 1930 que surgiram os Parques Infantis em São Paulo. Disso, 
percebe-se que esta experiência de lazer desenvolvida por intelectuais da cultura nacional como 
Mário de Andrade procuravam por soluções efetivas para atenuar a crise social existente no 
contexto de consolidação do industrialismo brasileiro. O pesquisador Niemeyer (2002) discorre 
sobre o contexto histórico dos “Parques Infantis de Mário de Andrade”, destacando que: 
 
Paralelo ao discurso da higiene social, visível na expansão da educação física e seus 
atributos moralizadores, dá-se o incremento do discurso pedagógico geminado a partir 
do ideal escolanovista emergido no Brasil no início dos anos 1930, elegendo os 
processos educativos como prioridade na ação social. Nesse aspecto, o aparelho 
escolar ganha importância como instrumento formador do caráter nacional e como 
veículo de incorporação da classe trabalhadora à nova ordem cívica republicana. 
Disciplina, saúde, educação e trabalho reúnem-se ao ideal positivista de “ordem e 
progresso”, voltados ao dever de consolidar uma nação civilizada, à altura das 
ambições nacionalistas que emergiam naqueles anos de otimismo 
desenvolvimentista.Asegundametadedadécadade1930assistiráaosurgimento 
 
 
6 A respeito do término do projeto dos “Parques Infantis de Mário de Andrade” pode-se relacionar com o período 
histórico da Ditadura do Estado Novo, que foi o regime político brasileiro instaurado por Getúlio Vargas em 1937 
e que vigorou até o ano de 1945. Nesse sentido, pode-se apontar como os parques infantis inserem-se em um 
contexto de disputas políticas, sociais e culturais no país. De acordo com o pesquisador Carlos Augusto da Costa 
Niemeyer (2002, p. 131), “o contínuo desmantelamento de diversos projetos em andamento pelo Departamento de 
Cultura será um duro golpe para quem se entregara de corpo e alma ao sonho nobre de produzir e socializar cultura 
em meio a um regime oficial conservador. Do ponto de vista da promoção da cultura, no sentido em que era tratada 
pelos modernistas, a administração Prestes Maia – na chefia do executivo municipal - não será pródiga 
nesteaspecto.” 
31 
 
dos primeiros Parques Infantis paulistanos, como aparelho “peri-escolar”, dentro da 
visão republicana de “sanear pela educação”, incorporando objetivos reformadores 
codificados e adaptados à realidade programática dos dimensionamentos 
arquitetônicos. Carregando ideais de reforma social, os novos equipamentos lúdico- 
culturais surgem como proposta avançada de inclusão da classe trabalhadora na nova 
sociedade educada e moralizada que se pretendia construir. Conteúdo este, que 
permanecerá basicamente o mesmo até o esgotamento do modelo nos anos 1970. 
(NIEMEYER, 2002, p. 172) 
 
Neste mesmo período histórico, pode-se apontar o sociólogo Florestan Fernandes 
(2004) que pesquisou, nos anos de 1940, as “trocinhas”, ou seja, os grupos de rua formados pela 
vizinhança na cidade São Paulo, cuja finalidade era brincar, agrupados por gênero, classe social 
e etnias. Enquanto os meninos brincavam na rua, jogavam futebol, e às vezes lutavam entre 
grupos, as meninas costumavam brincar dentro de casa, pois não podiam sair na rua assim como 
os meninos. Diante disso, o pesquisador Perrotti (1991) sobre a “cultura das ruas”, baseando-se 
nos debates de Florestan Fernandes (2004), compreendeque: 
 
Nesse sentido, como mostrou Florestan Fernandes ao estudar os grupos infantis do 
bairro do Bom Retiro, em São Paulo – as conhecidas “trocinhas do Bom Retiro” -, os 
grupos infantis serviam como espaço de troca, de assimilação, de integração da 
diversidade cultural que nos caracteriza, preparando os futuros adultos para a 
convivência com a diferença, a aceitação do outro, condição fundamental à 
constituição de uma sociedade democrática. Em outras palavras, os grupos infantis 
desde cedo preparavam as crianças para a tolerância, inscrevendo-a em suas 
sensibilidades, uma vez que o desejo de brincar conduzia ao equilíbrio, ocasionando 
a integração das diferenças de modo natural, sem artifícios ou imposições. Portanto, a 
“cultura das ruas” era manifestação de ordem sociológica, mas também de ordem 
política na medida em que permitia a diversidade ser expressa, vivida, discutida, 
reconhecida, harmonizada num jogo de interações que vão sendo definidas e 
redefinidas em função das possibilidades e dos interesses do grupo. (PERROTTI, 
1991, p.27) 
 
No entanto, Florestan Fernandes (2004) aponta que a constituição e conformação dos 
ideários de classe, gêneroe etnia pelas crianças, ou seja, a “harmonia” dentro do grupo se dava 
frequentemente, em meio a ações de muitasviolências. 
Acresce que, na trajetória histórica de políticas públicas para os espaços infantis no país 
aconteceu um processo, a partir da década de 1960, em que a possibilidade de viver a “cultura 
das ruas” passa a se tornar limitada para as crianças desse período. Como se pode observar no 
seguinte trecho do pesquisador Perrotti (1991): 
 
Todavia, as mudanças gerais ocorridas no país, a partir sobretudo dos anos 60, iriam 
pôr em crise os modos tradicionais de inserção da infância na vida sociocultural. Nessa 
época, nos grandes aglomerados, começa a se processar um movimento de 
recolhimento crescente da infância nos espaços domésticos e em instituições 
especializadas (creches, escolas), dando origem a um novo modelo de participação na 
cultura, marcado pelo distanciamento dos espaços públicos. Segundo tal ordem, a rua 
deixa de ser um espaço de convivência lúdica para se tornar apenas ponto de 
passagem, espaço utilitário de ligação, corredor. Ao invés de manter seu caráter 
tradicional de lugar de permanência, transfere tal papel para os espaços domésticos e 
32 
 
os especializados, instituindo como norma o que chamei de confinamento cultural da 
infância. (PERROTTI, 1991, p. 25) 
 
Além disso, Florestan Fernandes (2004) compreende que as crianças das classes ricas, 
já brincavam menos na rua naquela época, porém o que ocorre é uma ampliação desse fato para 
a “maioria” das crianças. A partir dessas experiências no país em relação aos espaços infantis 
no viés das políticas públicas nas cidades, torna-se possível perceber a existência de disputa 
política por condições físicas para que as crianças apresentem possibilidades de lazer, 
interações e brincadeiras, ou seja, “(...) falar da condição de criança remete à consideração de 
uma criança concreta, socialmente determinada em um contexto de classes sociais 
antagônicas.” (MIRANDA, 1985, p. 128-129). 
Dessa forma, pode-se apontar que o planejamento de espaços infantis nas cidades a 
partir da presença de parques é indicativo de que as sociedades procuram assegurar as condições 
sociais de ser criança e as compreendem como sujeitos sociais, culturais e históricos e que 
interferem de maneira direta no local onde vivem. Desta forma, concordamos que “a história 
das crianças e da infância revela as marcas, as ideias, as práticas sociais, as políticas públicas 
que cada sociedade produz no sentido de ‘cuidar’ e ‘educar’ suas crianças.” (SILVA, 2012, 
p.234). 
Nesse sentido, podemos apontar o pesquisador Niemeyer (2002) que possibilita inferir 
sobre a intencionalidade arraigada ou que motivou a construção desses parques na Europa e 
para alguns no Brasil, ou seja, uma concepção utilitária, de higienização, adestramento etc., o 
que Mario de Andrade almejava com eles uma primeira contradição ou disputa de concepções 
e o que os sujeitos concretos “fizeram” com a existência desses parques talvez, tendo uma 
relação menos utilitária do que sepropunha. 
Além disso, nesta breve revisão sobre os parques infantis como possibilidade para a 
criança exercitar sua condição como sujeito de direitos no país percebemos que a existência ou 
não destes permitem compreender aspectos de diferenciação na concepção de infância no 
contexto capitalista de produção. Ou seja, a proposta de transformar espaços públicos em 
parques infantis para que as crianças desfrutem o tempo livre para a diversão, lazer e o brincar 
inserem-se na perspectiva democrática de acesso ao direito acidade. 
Assim sendo, torna-se importante apontar que esses espaços públicos, no caso específico 
dos parques infantis ou playgrounds, podem assegurar o direito de ser criança e eles 
possibilitam o brincar, a brincadeira e perceber que ela tem possibilidades de ser um ator social 
no contexto dascidades. 
33 
 
Disso, pode-se destacar a importância da análise dos planos diretores no contexto das 
grandes cidades, pois estes buscam direcionar a forma dos planejamentos urbanos e permitem 
perceber de que forma os espaços são pensados, dentre eles, os espaços especificamente 
voltados à infância. Portanto, a análise dos planos diretores do bairro Campeche, dos anos 1989 
aos anos 2019, permitirá compreender como estes apresentam a infância em suas propostas. Ou 
seja, como os documentos contemporâneos que regulam sobre o uso social das grandes cidades: 
os planos diretores dizem sobre o espaço para a criança. Desta forma, pensar como a(s) 
infância(s) é planejada dentro desses espaços urbanos pode levar ao entendimento de como as 
crianças e as brincadeiras são representadas e pensadas nestas localidades, em especial, por 
meio dos parques infantis. 
34 
 
3. OS PLANOS DIRETORES DO BAIRRO CAMPECHE (1989-2019): E OS 
ESPAÇOS PARA OBRINCAR 
 
No final da década de 1980, o bairro Campeche localizado em Florianópolis (SC), 
caracterizava-se por um lento processo de urbanização e carência de serviços públicos. Esta 
situação foi inferida no Plano de Desenvolvimento Campeche (1995)7, documento que constava 
que “em termos de lazer, as comunidades estão muito mal atendidas. Não há rede coletora nem 
tratamento final adequado dos esgotos sanitários em toda a região. Os postos de saúde são 
classificados como regulares ou ruins” (IPUF, 1995). Essa conjuntura contribuiu para a criação 
de um plano diretor para a região. 
Nesta seção, o objetivo é analisar como o conceito de criança8 é tratado na conjuntura 
de urbanização no bairro Campeche, do ano de 1989 aos anos 2019, em especial por meio dos 
parques infantis. Para isso será demonstrado o histórico da expansão urbana do Campeche, os 
espaços existentes para as crianças, de 0 a 12 anos, e como a criança é percebida pelas propostas 
de políticas públicas no viés do direito a cidade. 
A partir do Plano Diretor de Desenvolvimento da Planície Entremares para o bairro 
Campeche, do ano de 19899 foi possível entender que o processo de planejamento da 
urbanização serviu como uma tentativa ordenadora do espaço físico e de promover sua inscrição 
no mercado turístico em nível nacional e internacional. A antropóloga Márcia Fantin (2000) 
descreve que o rápido crescimento aconteceu devido ao desenvolvimento do setor imobiliário 
e turístico visando promover o lugar como um espaço de excelência para se viver. 
 
Nos anos 90, em meio ao processo de globalização, o turismo torna-se agenda 
imprescindível nos debates, aguçada ainda mais com a organização do Mercosul, que 
se descortina como um novo mercado adesafiar as cidades – especialmente 
 
 
7 A respeito do Plano de Desenvolvimento Campeche (1995) pode-se afirmar que este é considerado uma das 
versões atualizadas do primeiro plano diretor para o Campeche que é o Plano de Desenvolvimento da Planície 
Entremares, Campeche e região elaborado pelo IPUF no ano de 1989. 
8 A respeito da quantidade aproximada de crianças na cidade de Florianópolis pode-se apontar os dados do IBGE 
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que são de 2010, do último censo, que entre o grupo de 0 a 4 anos 
erade23.499crianças;entreogrupode5a9anoserade23.753crianças;entreogrupode10a14anosde 
28.471 crianças e também adolescentes. Disponível em: 
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/florianopolis/pesquisa/23/25888?detalhes=true>. Acesso em: 13 de agosto 
de 2019. 
9 A respeito do primeiro plano diretor efetivo para o bairro Campeche, do ano de 1989, pode-se relacionar ao artigo 
da Constituição Federal de 1988 que aponta no “CAPÍTULO II - DA POLÍTICA URBANA. Art. 182. A política 
de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, 
tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus 
habitantes. (Regulamento)(Vide Lei nº 13.311, de 11 de julho de 2016). § 1º O plano diretor, aprovado pela CâmaraMunicipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de 
desenvolvimento e de expansão urbana.”. 
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/florianopolis/pesquisa/23/25888?detalhes=true
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13311.htm
35 
 
Florianópolis, que se autodenomina “Capital Turística do Mercosul”. Em sintonia com 
as transformações advindas do processo de globalização da economia e mutações no 
mercado de trabalho, que acena para o crescimento do setor de serviços e novos usos 
do tempo livre, reforça-se a discussão da chamada vocação para o turismo (indicando 
que Florianópolis ‘escolheu o caminho certo’) e da necessidade de incrementar a 
indústria do entretenimento, do turismo e do lazer. (FANTIN, 2000, p.75) 
 
Neste trabalho, o estudo dos planos diretores da região da planície do Campeche, em 
especial o plano diretor vigente desde o ano de 1989 – o Plano de Desenvolvimento da Planície 
Entremares para a região do bairro Campeche - teve como objetivo compreender que as ações 
do urbanismo buscavam modernizar o bairro na ideia de Florianópolis tornar-se a “Capital 
Turística do Mercosul” e, para isso, o Campeche alteraria suas estruturas sociais, culturais e 
ambientais (ZANELA, 1999). 
Com a aprovação do Plano de Desenvolvimento da Planície Entremares, Campeche e 
região, de 1989, altamente destrutivo e insustentável hidricamente, a comunidade organizada 
em assembleia decidiu elaborar seu próprio plano, o Plano Comunitário para a Planície do 
Campeche, proposta para um desenvolvimento sustentável, de 1999. Este tinha como proposta 
a criação de uma infraestrutura urbana com fins educativos e a promoção do desenvolvimento 
individual a partir da educação, geração de empregos anuais e não só de temporada, além de 
incentivo do desenvolvimento do patrimônio ambiental e da cultura local, estimulando a 
expansão da economia familiar e do mercado regional. (BARBOSA; BURGOS; TIRELLI, 
2003, p.158). 
Entre os anos de 1989 a 1999 ocorreram embates entre a comunidade local e o IPUF 
sobre questões como atendimento aos aspectos mais elementares, como implantação imediata 
de redes de águas e esgoto, de maneira ecologicamente compatível; melhoria dos postos de 
saúde; ampliação de escolas; melhoria do transporte coletivo; dentre outros. Contudo, um 
pedido ganhava destaque: a criação de áreas de preservação, como as dunas da praia do 
Campeche, pois estas corriam o risco de serem ocupadas dentro daquela concepção de 
urbanização. (AMARANTE,2016). 
A partir dos aspectos da proposta desses planejamentos urbanos da comunidade para o 
bairro analisado pode-se verificar que não havia ainda nada citado e documentado diretamente 
a respeito da construção de espaços infantis e de brincadeiras para as crianças da localidade. No 
entanto, o mais próximo que pode ser observado é a ideia de promover o desenvolvimento da 
educação e cultura local, mas nada referenciando a responsabilidade em promover locais para 
que as crianças de 0 a 12 anos pudessem interagir, brincar e vivenciar sua(s) infância(s) 
coletivamente neste período. 
36 
 
Foi possível analisar, a partir do histórico de expansão urbana para o Campeche, uma 
realidade ainda precária da infância neste bairro por causa da falta de políticas públicas que 
regulassem sobre o uso social das grandes cidades, os planos diretores, voltados a respeito do 
espaço para a criança. 
De maneira geral, as políticas públicas na região ainda estavam distantes de serem 
consideradas “desenvolvidas”, ainda que nesta região existisse propostas de torná-la inserida 
na ideia da “Capital Turística do Mercosul”. Logo, podemos inferir que a concepção de infância 
a partir da realidade social dessas crianças estava longe de considerá-las como sujeitos de 
direitos na cidade de Florianópolis devido ao fato da inexistência dos parques infantis no 
Campeche neste momento. Disso, essa situação permite compreender que a ideia de transformar 
espaços públicos em parques infantis para que as crianças desfrutem o tempo livre para a 
diversão, lazer e o brincar inserem-se na perspectiva de perceber que elas tem possibilidades de 
ser um ator social no contexto dascidades. 
As disputas em torno do Plano de Desenvolvimento da Planície Entremares, Campeche 
e região (1989), possibilitam observar as precárias políticas públicas de inserção da criança 
como um sujeito de direitos, considerando que não havia nem calçadas que assegurassem a 
segurança das crianças ou algum parque para exercerem seu direito de brincar. No entanto, 
podemos apontar o sociólogo Florestan Fernandes (2004) para pensar sobre o brincar na rua e 
que essa era uma possibilidade para as crianças do Campeche formarem os grupos pela 
vizinhança no bairro cuja finalidade era brincar, ou seja, realizar a sua condição de criança. 
Diante disso, pode-se apontar a proposta que o IPUF, a partir do Plano de Desenvolvimento da 
Planície Entremares, Campeche e região - do ano de 1989, buscou construir para o bairro, com 
o objetivo de conceber um projeto completo para a criação de um Parque Tecnológico na região 
do Campeche, acabou não sendo efetivada. Essa era uma concepção industrial que inovaria a 
paisagem no sul da Ilha de Santa Catarina, especialmente a do Campeche, buscando vincular 
alta tecnologia com ecologia, indústria e preservação ambiental.No entanto, a partir desse Plano 
Diretor (1989) ocorreram conseqüências para a urbanização do bairro, pois o capital imobiliário 
passou a investir no sul da Ilha de Santa Catarina, sobretudo a partir da década de 2000, 
promovendo o crescimento do Campeche, que se tornou destino turístico e residencial. É 
perceptível o boom imobiliário através da multiplicação de condomínios fechados de 
altopadrão. 
Neste período do desenvolvimento urbano do bairro têm-se os vestígios da proposta 
desse Plano Diretor, que deu lugar aos discursos de venda da cidade e do próprio bairro, ouseja, 
a urbanização analisada no Campeche, a partir dos empreendimentos imobiliários, faz parte de 
políticas intraurbanas e/ou do marketing urbano da cidade para projetá-la como mercadoria. O 
que permite concluir que este projeto de viés capitalista se insere como ordenador espacial para 
37 
 
a cidade. (AMARANTE, 2016, p. 214). 
Entende-se que o bairro, como qualquer outro lugar, está integrado com todo o globo. 
Assim sendo, observa-se que Florianópolis acaba tornando-se uma espécie de mercadoria a qual 
um dos interesses dos governos locais tornou-se a venda da cidade. Para a pesquisadora Sugai 
(2015) esta perspectiva da cidade como mercadoria faz com que os governos locais procurem 
por recursos externos para que haja novos investimentos na região e com isso, difunde imagens 
favoráveis do município e buscando inserir a cidade nos circuitos nacionais e/ou globais. Além 
disso, submetendo a cidade em negociações financeiras entre as esferas públicas e privadas, ou 
seja, atraindo investimentos de capital e estimulando a expansão imobiliária na localidade. 
As construções imobiliárias, cada vez mais presentes no bairro, são os indícios mais 
visíveis desse processo de venda de Florianópolis. Ao longo da análise dos planos 
diretoresobservou-se no bairro a busca por uma padronização elitizada para uma região até 
poucasdécadas atrás com características rurais e que acabou tornando a sua paisagem natural 
como mercadoria, ou seja, procurou-se expandir o crescimento urbano e turístico no Campeche. 
Dessaforma,apropostadeapresentarosparquesinfantisdoCampeche,procuranestaanálise dar 
foco tanto aos espaços públicos e coletivos quanto aos de caráter privados, construídos a partir 
dos embates entre os respectivos planos diretores analisados. Ao apresentar a existência destes 
pode-se observar as concepções explícitas ou implícitas de criança e como se articulam com

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