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EVANGELHOS SINÓTICOS

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EVANGELHOS SINÓTICOS
CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD
Evangelhos Sinóticos – Prof.a Dra. Elisa Rodrigues
Meu nome é Elisa Rodrigues e sou natural de Osasco, São 
Paulo. Tenho Bacharelado em Teologia e Doutora em Ciências 
da Religião, área de Literatura e Religião do Mundo Bíblico 
(Universidade Metodista de São Paulo). Também sou Bacharel 
em Sociologia e Política (Fundação Escola de Sociologia e Política 
de São Paulo) e Doutoranda em Ciências Sociais, área de Cultura 
e Política (Universidade Estadual de Campinas). Pesquiso temas 
relacionados à religião, especialmente, Hermenêutica de Textos 
Sagrados (Judaico-cristãos) e a recepção dessa literatura pelos 
protestantismos, neo-pentecostalismos e catolicismos. Além de 
artigos publicados em periódicos especializados em Teologia e 
Religião, participei do livro intitulado Palavra de Deus, Palavra da Gente (Editora Paulus) 
e escrevi o livro O que é Teologia? (MK Editora).
e-mail: e_rodrigues@yahoo.com
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
EVANGELHOS SINÓTICOS
Elisa Rodrigues
Batatais
Claretiano
2014
Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação
© Ação Educacional Claretiana, 2014 – Batatais (SP)
Versão: ago./2014
 
 
 
 
 
   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  226 R611e 
 Rodrigues, Elisa 
 Evangelhos Sinóticos / Elisa Rodrigues – Batatais, SP : Claretiano, 2014. 
 194 p. 
 ISBN: 978-85-8377-159-3 
 
 1. Sinóticos. 2. Evangelhos. 3. Gêneros literários. 4. Perspectivas Teológicas. 
 I. Evangelhos Sinóticos. 
 
          
  
 
 
 
 
 
 CDD 226
Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional
Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação 
Aline de Fátima Guedes
Camila Maria Nardi Matos 
Carolina de Andrade Baviera
Cátia Aparecida Ribeiro
Dandara Louise Vieira Matavelli
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Josiane Marchiori Martins
Lidiane Maria Magalini
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Patrícia Alves Veronez Montera
Raquel Baptista Meneses Frata
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Simone Rodrigues de Oliveira
Bibliotecária 
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11
Revisão
Cecília Beatriz Alves Teixeira
Felipe Aleixo
Filipi Andrade de Deus Silveira
Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Rafael Antonio Morotti
Rodrigo Ferreira Daverni
Sônia Galindo Melo
Talita Cristina Bartolomeu
Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa 
Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai 
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luis Antônio Guimarães Toloi 
Raphael Fantacini de Oliveira
Tamires Botta Murakami de Souza
Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer 
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na 
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do 
autor e da Ação Educacional Claretiana.
Claretiano - Centro Universitário
Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000
cead@claretiano.edu.br
Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006
www.claretianobt.com.br
SUMÁRIO
CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO ......................................................................... 10
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 30
4 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 30
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS SINÓTICOS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 31
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 31
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 32
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE .............................................................................. 33
5 O QUE É EVANGELHO? ..................................................................................... 34
6 MUNDO SOCIAL DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES 
CRISTÃS "ESPELHADO" NA LITERATURA ......................................................... 40
7 SABEDORIA E CRÍTICA SOCIAL NAS ORIGENS CRISTÃS ................................. 43
8 CONFLUÊNCIA DE HORIZONTES CULTURAIS ................................................. 52
9 IDENTIDADE SOCIAL DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES CRISTÃS ................. 54
10 PRIMEIRAS COMUNIDADES CRISTÃS: ITINERANTES OU LOCAIS? ............... 57
11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 63
12 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 63
13 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 64
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 65
UNIDADE 2 – O PROBLEMA SINÓTICO E AS ORIGENS CRISTÃS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 67
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 67
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 68
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 69
5 O PROBLEMA SINÓTICO E A CRÍTICA DAS FONTES ....................................... 69
6 O "OLHAR" PARA DENTRO DAS FONTES ......................................................... 73
7 FONTES SINÓTICAS .......................................................................................... 76
8 A COMPOSIÇÃO DOS EVANGELHOS ............................................................... 83
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 87
10 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 87
11 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 89
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 89
UNIDADE 3 – A HIPÓTESE DE "Q" - A FONTE DOS DITOS DE JESUS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 91
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 91
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 92
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 93
5 GÊNESE DA HIPÓTESE FONTE Q – A FONTE DOS DITOS DE JESUS ............... 93
6 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 105
7 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 106
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 107
UNIDADE 4 – O EVANGELHO DE MARCOS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 109
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 109
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE............................................... 110
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 110
5 SOBRE A AUTORIA E DATAÇÃO ........................................................................ 111
6 CHAVES METODOLÓGICAS .............................................................................. 114
7 CONJUNTURA HISTÓRICO-SOCIAL .................................................................. 117
8 ALGUNS CONTEÚDOS DO EVANGELHO DE MARCOS ................................... 122
9 O "CRISTO DA FÉ" NO EVANGELHO DE MARCOS ........................................... 124
10 UMA LEITURA POLÍTICA DE MARCOS ............................................................ 126
11 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 132
12 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 132
13 E-REFERÊNCIA .................................................................................................. 133
14 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 134
UNIDADE 5 – EVANGELHO DE MATEUS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 135
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 135
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 136
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 136
5 EVANGELHO DE MATEUS E A TRADIÇÃO........................................................ 137
6 EVANGELHO DE MATEUS E A PESQUISA MODERNA ..................................... 139
7 OS CONTEÚDOS DO EVANGELHO DE MATEUS .............................................. 141
8 LUGAR DE ORIGEM E AUTORIA DO EVANGELHO .......................................... 148
9 HISTÓRIAS EVOCADAS POR MATEUS ............................................................. 151
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 161
11 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 161
12 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 162
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 163
UNIDADE 6 – EVANGELHO DE LUCAS
1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 165
2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 165
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 166
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 166
5 FRAGMENTOS DE HISTÓRIA. TESTEMUNHOS SOBRE LUCAS ...................... 168
6 ESTÁGIOS DA ESCRITA DO EVANGELHO E AUTORIA ..................................... 170
7 TEMAS LITERÁRIOS E DISCUSSÕES SOBRE LUCAS ........................................ 175
8 MEMÓRIAS DA TRADIÇÃO JUDAICA EM LUCAS ............................................ 183
9 PROPOSTAS DE ESTRUTURA PARA LUCAS ...................................................... 189
10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 190
11 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 191
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 192
EA
D
CRC
Caderno de 
Referência de 
Conteúdo
1. INTRODUÇÃO
O estudo de Evangelhos Sinóticos consiste na investigação 
de parte da chamada "literatura neotestamentária", produzida no 
século 1º da Era Cristã e que constitui um dos blocos de textos da 
Bíblia. Os Evangelhos Sinóticos Mateus, Marcos e Lucas são assim 
denominados porque seriam "espelhos" um do outro, diferente-
mente do evangelho de João, cuja estrutura, forma escrita e teo-
logia guardariam especificidades. Em outras palavras, esses três 
evangelhos repetiriam os conteúdos por meio de formas de apre-
sentação semelhantes (gêneros literários), além de mensagens e 
teologias comuns. 
Tais literaturas despertam interesse entre estudiosos de teo-
logia, de história e outras disciplinas da área de ciências humanas, 
mas também no grande público. Isso ocorre porque a literatura 
bíblica é passível de novas interpretações a cada período histórico. 
© Evangelhos Sinóticos10
Ela é polissêmica e reverberante. É característica dessa literatura a 
linguagem inventiva, narrativa, poética e, de modo geral, simbóli-
ca, que lhe proporciona um caráter de constante atualidade.
As pessoas lêem os Evangelhos Sinóticos e encantam-se. São 
atraídas pela aparência histórica, pelas informações biográficas, 
pela beleza literária e pelo caráter ético-normativo típico da pro-
clamação de Jesus, expressa na escrita dos redatores. 
Os Evangelhos, portanto, trazem algo do Jesus Histórico e 
muito do Jesus Proclamado. Trazem conteúdos da mensagem do 
reino de Deus, da salvação para humanidade e da restauração da 
dignidade humana. Cada qual com especificações típicas de seus 
interesses relacionados às suas questões, aos problemas das pri-
meiras comunidades, de suas audiências. O estudo dos Evangelhos 
Sinóticos possibilita, mesmo que timidamente, a reconstituição 
das origens cristãs por meio do conhecimento de suas crenças, de 
seus dilemas, de seus problemas sociais, de suas expectativas e 
perguntas mais frequentes. Muitos dilemas, problemas sociais, ex-
pectativas e perguntas que as sociedades atuais ainda partilham.
Nesse sentido, vale notar que o aprofundamento nos temas 
relacionados ao estudo dos Sinóticos constitui importante instru-
mento para a compreensão do legado cristão à cultura ocidental. 
Após esta introdução aos conceitos principais, apresenta-
mos, a seguir, no Tópico Orientações para Estudo, algumas orien-
tações de caráter motivacional, dicas e estratégias de aprendiza-
gem que poderão facilitar o seu estudo. 
2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO 
Abordagem Geral
Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais 
deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de 
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. No entan-
Claretiano - Centro Universitário
11© Caderno de Referência de Conteúdo
to, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico 
necessário a partir do qual você possa construir um referencial te-
órico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro 
exercício de sua profissão, você a exerça com competência cogniti-
va, ética e responsabilidade social. 
Para iniciar o aprendizado e a reflexão sobre os Evangelhos 
Sinóticos, vamos conhecer um pouco desses documentos tão valo-
rizados pela cristandade ao longo dos séculos, em função de suas 
narrativas de conteúdo histórico, biográfico e simbólico. 
Sabemos que os evangelhos sinóticos são Mateus, Marcos 
e Lucas. Nosso objetivo geral é compreender porque essas três 
fontes são estudadas em conjunto e quais os motivos que as tor-
nam documentos tão importantes para a compreensão das ori-
gens cristãs.
Objetivos específicos
• Apresentar a discussão inicial a cerca do que é um gênero 
literário "evangelho", bem como caracterizar seus princi-
pais conteúdos.
• Apontar a relação entre os conteúdos, as formas literárias 
e as teologias que constituem os evangelhos e seus con-
textos históricos e sociais específicos.
• Caracterizar a importância do estudo dos Evangelhos Si-
nóticos para o conhecimento da modalidade religiosa 
cristianismo.
Para começo de conversa, o que é "evangelho"?
O termo substantivo "evangelho" (euaggeliou) pode ser en-
contradoseis vezes no Antigo Testamento, com dois sentidos: 
• "boas novas" (Cf. 2 Sm 18:20, 25, 27; 2 Re7:9); 
• "recompensa por boas notícias" (2 Sm 4:10; 18:22).
© Evangelhos Sinóticos12
Vejamos a referência de 2 Sm 18:20: Ioab lhe disse: "Tu não 
serias hoje portador de uma boa notícia. Levá-la-ás noutro dia, 
mas hoje não levarias uma boa noticia, porque se trata da morte 
do filho do rei".
Esse duplo sentido para evangelho nos ajuda a perceber o 
poder efetivo da palavra. A palavra falada é comparável ao seu 
conteúdo: más notícias trazem tristeza e boas notícias causam ale-
gria. Nesses termos, a palavra é portadora de poder e efetua o que 
proclama.
Entre os gregos, evangelho era o termo técnico para "novas 
vitórias" em batalhas militares ou, em determinados contextos de 
jogos, como os olímpicos. Mas além desse uso, o mais importante 
para nosso estudo foi o feito no culto imperial. 
No período de domínio romano, o imperador reuniu em sua 
pessoa a noção de homem divino e de salvador. Isso é também o 
que a palavra evangelho aponta: o governante é divino por natu-
reza. Seu poder se estende para homens, animais, terra e mar. O 
evangelho – materializado no governante – é o salvador do mundo 
e aquele que redime as pessoas de suas dificuldades. 
Assim, o imperador assumiu para si as características da an-
tiga deusa grega chamada "Túkhe".
De acordo com Mircea Eliade (1978. p. 236), a ideia de sal-
vação tem a ver com o esforço de desprestigiar a terrível deusa 
Túkhe, que quer dizer Sorte, Fortuna. Na narrativa mítica grega, ela 
poderia trazer tanto felicidade como má sorte. Ela manifestava-se, 
também, como anágkê ou heimarmenê, que pode traduzir-se por 
necessidade ou destino. 
O destino era controlado pelos caprichos astrais dessa deu-
sa. Esse fatalismo só cessaria com a convicção "de que certos Se-
res divinos são independentes do Destino" . Durante o período de 
império romano em que era obrigatório o culto ao imperador, os 
atributos da deusa foram assumidos por César: grande homem e 
deus, ao mesmo tempo.
Claretiano - Centro Universitário
13© Caderno de Referência de Conteúdo
Assim, em função de ser o imperador mais do que um ho-
mem comum, seus decretos eram considerados mensagens de 
alegria e suas ordens eram consideradas escritos sagrados. O que 
ele dizia era um ato divino e implicava em boas coisas e salvação 
para os homens. 
Disso, podemos concluir que o culto imperial e a Bíblia com-
partilham a mesma visão de ascensão ao trono de alguém que intro-
duziria uma nova era e traria paz ao mundo. Era, nesse sentido, um 
evangelho para os homens. No caso dos romanos, esse alguém seria 
o imperador. Mais tarde, para os cristãos, esse alguém seria Jesus, 
aquele que na tradição judaica era conhecido como Messias.
Como podemos entender essa semelhança na forma de pen-
sar de gregos, romanos e cristãos?
Por um lado, devemos lembrar que os primeiros cristãos 
eram judeus, muitos deles já helenizados em função de anos de 
dominação romana e, por outro lado, vale destacar que muitos 
dos primeiros convertidos ao cristianismo eram de procedência 
romana, o que implica no cruzamento das tradições judaica e gre-
co-romana. Outro fator que deve ser considerado é que o estudo 
comparado de fontes do período antigo revela que essas noções 
eram comuns daquele tempo, portanto, algo tipicamente oriental. 
O conteúdo do evangelho cristão que pode ser entendido 
como diferente do evangelho imperial é a proclamação da Basiléia 
thou theou: a mensagem do Reino de Deus.
Devemos notar com atenção que o Novo Testamento fala 
a linguagem de seus dias. Trata-se de uma proclamação popular 
e realística. Um saber humano que diz respeito à atitude de um 
grupo restrito de discípulos de Jesus de "esperar por" algo, de ter 
"esperança" de novas.
Esses primeiros cristãos estavam a espera da realização de 
um evangelho, do qual alguns até poderiam ser envergonhados, já 
que esse evangelho era um "escândalo".
© Evangelhos Sinóticos14
Os cegos recobram a vista e os coxos andam direito, os leprosos 
são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a Boa 
Nova é anunciada aos pobres, e feliz de quem não cair por causa 
de mim! (Mt 11:5).
No léxico cristão, portanto, evangelho significa sōtēria, isto 
é, salvação para o homem, mas sōtēria implica metanoia, que é 
arrependimento para o julgamento. Os próprios textos bíblicos re-
latam que essa noção de salvação e, principalmente, de ressurrei-
ção, soava estranha para muitos e alguns reagiam com ironia. Veja 
At 17:32: "Às palavras "ressurreição dos mortos", uns zombavam, 
outros declararam: "Nós te ouviremos sobre isso noutra ocasião".
Mas, para os primeiros seguidores de Jesus, a ideia de sal-
vação e de ressurreição era uma convicção alegre e real: pela pe-
nitência chegaria-se ao julgamento e a alegria, o que significava 
graça e salvação. Nesse sentido, César e Cristo, o imperador sobre 
o trono e o desprezado rabbi na cruz, confrontavam-se um ao ou-
tro. Ambos eram o evangelho para o homem. Eles tinham muito 
em comum. Todavia, eram originários de mundos diferentes. Um 
traria um reino de justiça para aqueles que se dobrassem perante 
ele, aqui na terra. Outro traria um reino de justiça para aqueles 
que fossem súditos dele por toda a eternidade. 
Enquanto judeus eram dominados e colonizados por César, 
diante o imperador Jesus, os judeus entendiam-se como filhos e 
retomando a tradição da Bíblia Hebraica: eles eram a nação esco-
lhida para reinar junto do Messias, que, para os cristãos, era Jesus 
de Nazaré.
O evangelho de Cristo consistia na proclamação (kerigma) 
do Reino de Deus. O cerne desse evangelho era a vinda do Reino, 
o que implicava imediatamente no estabelecimento de um novo 
governo: um governo divino de paz e de justiça, cujo único gover-
nante seria o próprio Cristo.
Mas o que é evangelho nos sinóticos?
Claretiano - Centro Universitário
15© Caderno de Referência de Conteúdo
Com frequência, Marcos usou a palavra evangelho nos ditos 
de Jesus. Além dos usos em Mc 1:1 (Princípio do Evangelho de 
Jesus Cristo, Filho de Deus) e em 1:14 (Depois que João foi preso, 
veio Jesus para Galileia proclamando o Evangelho de Deus), pode-
mos notar que os textos paralelos de Marcos em Mateus e em Lu-
cas não empregam esse termo, mas fazem menção do significado 
da palavra.
Observe o quadro sinótico a seguir:
Pois aquele que quiser 
salvar a sua vida, irá 
perdê-la; mas, o que 
perder a sua vida por 
causa de mim e do 
Evangelho, irá salvá-la 
(Mc 8:35)
Pois aquele que quiser 
salvar a sua vida, vai 
perdê-la, mas o que 
perder a sua vida por 
causa de mim, vai 
encontrá-la (Mt 16:25 - 
10:39)
Pois aquele que quiser 
salvar a sua vida vai 
perdê-la, mas o que 
perder a sua vida por 
causa de mim, esse a 
salvará (Lc 9:24) 
Nos versos que lemos, Marcos emprega o termo "evange-
lho", já Mateus e Lucas dão a entender que o evangelho é o pró-
prio Cristo. Como visto, os trechos paralelos de Marcos (Mt 16:25; 
Lc 9:24) não têm a palavra evangelho. 
Em paralelos de Marcos, elas apareceriam em Mc 13:10=Mt 
24:14 e Mc 14:9=Mt 26:13. Isso pode indicar que Lucas dependeu 
de estratos mais antigos de Marcos para a redação de seu evange-
lho e, também, que as ocorrências de evangelho em Marcos e Ma-
teus indicam que esses evangelhos são mais antigos do que Lucas, 
o que lhes confere maior grau de autenticidade. 
Esse ponto pode ser melhor entendido à luz da leitura de 
Marcos.
O importante é sabermos que os Evangelhos não são repro-
duções estenográficas, isto é, transcrições imediatas, dos ensinos 
de Jesus. Tampouco se pode afirmar que sejam registros oficiais de 
sua atividade na condição de mestre. Na forma original, os Evange-
lhos eram tradição oral.
© Evangelhos Sinóticos16
O evangelho é comparado com Cristo, com seu nome (Mt 
19:29) e com o Reino de Deus (Lc 18:29). A atitude do Antigo Tes-
tamento e dos judeus para com os gentios – sua exclusão do reino 
messiânico e, ainda, da participação na salvação–, foi resolvida por 
Jesus. Ele limitou a si mesmo, entendendo-se como conteúdo cen-
tral de sua proclamação, para Israel. Durante seu tempo de vida, 
não permitiu que seus discípulos levassem essa mensagem para 
além das fronteiras de sua própria terra (cf. Mc 7:27; Mt 15:24, 
26, 10;5). Mas, na era messiânica, muitas nações o conheceriam, 
conforme Mt 8:11 e Lc 13:29.
Agora que sabemos o significado do termo "evangelho" e o 
que ele implica, vamos compreender porque os evangelhos Mar-
cos, Mateus e Lucas foram denominados "sinóticos".
A primeira coisa a se saber é que esse termo vem da palavra 
grega synposis, entendida como "ver em conjunto". 
Os evangelhos sinóticos, portanto, são narrativas sobre a 
vida e o ministério público de Jesus, que podem ser lidas em con-
junto porque apresentam uma estrutura parecida, com conteúdos 
que se repetem e gêneros e formas literárias recorrentes. Portan-
to, são como "espelhos" uns dos outros.
A palavra "sinótico" foi empregada pela primeira vez para 
designar o estudo comparativo de Mateus, Marcos e Lucas, no fi-
nal do século 18, pelo estudioso alemão chamado Johann Jacob 
Griesbach.
Como exposto, a palavra "evangelho" (Boa notícia) foi atri-
buída aos quatro primeiros escritos do Novo Testamento, mas des-
ses quatro, apenas os três primeiros foram considerados parecidos 
entre si, a ponto de receberem o nome de sinóticos.
O que mais os aproxima é o fato de apresentarem os ensinos 
de Jesus por meio de histórias a seu respeito, que vão do batismo 
até sua morte e ressurreição. Todavia, cada um dos evangelhos 
narra esses eventos de forma peculiar, considerando o que cada 
comunidade entendeu e assumiu dos ensinos do Nazareno.
Claretiano - Centro Universitário
17© Caderno de Referência de Conteúdo
O problema sinótico e a crítica das fontes
A despeito de serem considerados sinóticos, uma leitura 
atenta dos evangelhos Marcos, Mateus e Lucas revela que existem 
algumas diferenças entre esses textos. A percepção de que os si-
nóticos não eram tão semelhantes entre si deu origem ao que se 
convencionou chamar de "O problema sinótico".
O problema sinótico consiste na constatação de que existem 
diferenças e semelhanças na redação dos evangelhos. Essa cons-
tatação é explicada pelo entendimento de que os autores de tais 
textos, no processo de elaboração de cada evangelho, acrescenta-
ram à tradição escrita, narrativas acerca da vida e dos ensinos de 
Jesus, conhecidas pela tradição oral. Isso significa que cada autor, 
ao descrever a história de Jesus, utilizou livremente memórias e 
fontes que estavam à disposição. 
A escola que investiga essas particularidades do texto bíblico 
é chamada "Crítica das Fontes". Ela se dedica à análise dos está-
gios que formaram a produção dos evangelhos. Ela faz e procura 
responder a seguinte pergunta: que fontes escritas os evangelistas 
empregaram na formulação de seus evangelhos?
Tal questão interessa tanto ao historiador do cristianismo 
primitivo, quanto ao exegeta ou ao indivíduo que tem relação de 
fé com os textos bíblicos. Para respondê-la, a academia de estudos 
bíblicos da Alemanha, representada pela escola da Crítica das For-
mas, elaborou o conceito de comunidade "por trás" do evangelho 
e formulou o entendimento de que se o Sitz im Leben, isto é, a 
situação vivencial de uma comunidade pudesse ser bem compre-
endida, o texto – o evangelho que a comunidade produziu –, seria 
lido corretamente. 
Martin Dibelius, um dos mais importantes críticos da forma, 
em 1934 definiu Sitz im Leben como o estrato histórico e social em 
que precisamente aquelas formas literárias foram desenvolvidas. 
Já em 1969, W. Marxsen foi o primeiro a introduzir três Sitze im 
Leben: 
© Evangelhos Sinóticos18
• O Jesus Histórico (a situação de atividades de Jesus).
• A crítica das formas (a situação da igreja primitiva). 
• A crítica da redação (a situação do evangelista na criação 
do Evangelho).
A situação do "Jesus Histórico" seria uma espécie de leitura 
exegética dos evangelhos preocupada em reconstruir a história do 
homem Jesus de Nazaré, que viveu e expressou-se materialmente 
na Galileia e nos lugares onde esteve. Essa exegese busca recom-
por a pessoa de Jesus, à luz das informações que se repetem sobre 
ele nos diferentes evangelhos, entendidos como fontes próximas 
do período em que ele viveu e atuou.
A situação da igreja primitiva seria a leitura dos evangelhos 
preocupada em esclarecer, quais as peculiaridades de cada fonte 
que indicam as questões que mobilizaram a escrita de cada evan-
gelho. Esse estágio pressupõe que conteúdos teológicos que va-
riam de um evangelho para o outro, tem a ver com as perguntas 
que diferentes grupos cristãos faziam entre si. Isso implica que a 
igreja primitiva, isto é, as comunidades cristãs das origens eram di-
ferentes, tinham expectativas diferentes e, provavelmente, enten-
diam diferentemente os ensinos do Jesus de Nazaré. O que pode 
indicar o uso de biografia, profecia, sabedoria, poesia e outras for-
mas literárias?
Isso está em conexão com a crítica da redação que, como 
terceiro estágio de crítica literária, investiga a situação do evan-
gelista, ou dos redatores do evangelho, por ocasião da criação de 
seu texto. Nesse estágio, busca-se identificar as fontes usadas pelo 
redator ou redatores. Também se investiga a relação entre o con-
texto histórico-social com a redação do texto.
Ao longo dos séculos 19 e 20, todo esse aparato metodológico 
tem proporcionado muitas conclusões sobre os evangelhos. A tradi-
ção da igreja e suas conclusões por tanto tempo veiculadas, como 
a sequência dos evangelhos formada por Mateus, Marcos, Lucas e 
João, têm sido, muitas vezes, confirmada e outras tantas negada.
Claretiano - Centro Universitário
19© Caderno de Referência de Conteúdo
O que inicialmente podemos dizer é que a crítica literária 
verificou que as semelhanças na estrutura dos evangelhos, no uso 
das palavras e na sequência das narrativas sugerem que entre os 
evangelhos existiu alguma dependência e talvez o compartilha-
mento de fontes. 
Podemos verificar isso na comparação de pequenos estratos 
dos evangelhos e na estrutura geral dos evangelhos sinóticos. Veja 
o exemplo:
MARCOS 13 MATEUS 24 LUCAS 21
1 Jesus se retirava do 
Templo, quando um de 
seus discípulos lhe disse: 
"Mestre, olha que pedras, 
que construções!"
2 Jesus lhe disse: "Estás 
vendo essas grandes 
construções? Não ficará 
pedra sobre pedra: tudo 
será destruído". 
3 Estando ele assentado, 
no monte das Oliveiras, 
defronte do Templo, 
Pedro, Tiago, João 
e André, à parte, 
perguntavam-lhe: 
4 "Dize-nos quando é que 
isto acontecerá e qual será 
o sinal de que tudo isso 
vai acabar".
1 Jesus saíra do Templo e 
estava indo embora. Seus 
discípulos adiantaram-
se, a fim de chamar-
lhe a atenção para as 
construções do Templo
2 Tomando a palavra, 
ele lhes disse: "Estais 
vendo tudo isso, não é? 
Em verdade vos declaro, 
aqui não ficará pedra 
sobre pedra: tudo será 
destruído".
3 Estando ele assentado, 
no monte das Oliveiras, 
os discípulos adiantaram-
se para ele, à parte, e 
lhe disseram: "Dize-nos 
quando isto acontecerá 
e qual será o sinal da 
tua vinda e do fim do 
mundo!".
5 Como alguns falassem 
do Templo, da sua 
ornamentação de belas 
pedras e dos ex-votos, 
Jesus disse:
6 "Do que contemplais, 
dias virão em que não 
restará pedra sobre 
pedra: tudo será 
destruído".
7 Eles lhe perguntaram: 
"Mestre, quando é que 
acontecerá isso e qual 
será o sinal de que isso irá 
se realizar?"
As três narrativas têm, evidentemente, estilos diferentes 
de apresentar o mesmo conteúdo, que é a destruição do Templo. 
Aqui não vamos discutir a respeito da referência ao Templo se era 
a construção de fato ou uma metáfora para a morte e ressurreição 
de Jesus em três dias. 
Interessa-nos comparar as narrativas e indicar as diferenças. 
No que tange ao conteúdo central do pronunciamento de Jesus, o 
© Evangelhos Sinóticos20
conteúdo não varia, apenas o estilo: "não ficará pedrasobre pedra, 
tudo será destruído. O que chama a atenção é que a introdução 
de cada evangelho dá detalhes diferentes: Marcos fala que Jesus 
se retirava do Templo com os discípulos; Mateus diz que Jesus se 
retirava e estava indo embora quando os discípulos se adiantaram 
com o objetivo de chamar a atenção de Jesus para o Templo; por 
fim, Lucas fala de ornamentação e de belas pedras.
Marcos e Mateus falam de uma cena posterior, quando Je-
sus e seus discípulos já no monte das Oliveiras voltaram a falar da 
destruição do Templo. Os discípulos queriam saber quando isso 
ocorreria. Marcos diz quem eram os discípulos (Pedro, Tiago, João 
e André), ao passo que Mateus não os nomeia. Lucas não faz refe-
rência ao monte das Oliveiras e tampouco diz os nomes de quem 
acompanhava Jesus. Todos os três, no entanto, dizem que os discí-
pulos desejavam saber quando ocorreria a destruição.
Tudo isso indica que esse diálogo deve, de fato, ter ocorrido. 
Mas não podemos precisar se ocorreu no mesmo dia e no mes-
mo ambiente. Lucas dá a impressão de continuidade, já Marcos 
e Mateus dão a entender que o diálogo ocorreu em dois tempos, 
possivelmente, em ambientes diferentes já que na primeira cena 
estavam nas redondezas do Templo e na segunda, estavam reuni-
dos no monte das Oliveiras.
Embora essa breve comparação não comprometa o conte-
údo central da narrativa, indica, no mínimo, que havia diferenças 
entre os redatores dos evangelhos, seja na forma de descrever as 
narrativas – quanto ao estilo e uso do grego – seja no que julga-
vam ser indispensável à narrativa. De todo modo, como destacam 
alguns estudiosos, essa combinação de correspondência e discor-
dância também alcança a estrutura geral dos evangelhos.
Portanto, é possível perceber que os três evangelhos seguem 
praticamente: 
1) a mesma ordem de acontecimentos;
Claretiano - Centro Universitário
21© Caderno de Referência de Conteúdo
2) omitem informações que podem ser encontradas nos 
outros dois evangelhos; 
3) apresentam incidentes que os demais não relatam; 
4) possuem algumas diferenças quanto à ordem de um 
evento em, pelo menos, um dos dois evangelhos.
Na busca por uma hipótese que explicasse correspondências 
e disparidades entre os evangelhos sinóticos, emergiram algumas 
possibilidades que apresentaremos, a seguir, brevemente: 
1) Dependência comum de um evangelho original (um pro-
to-evangelho) – foi proposta por G. E. Lesing (em 1771), 
escritor e crítico alemão. Sustentou que a relação entre 
os sinóticos teria ocorrido com base no uso independen-
te de uma fonte original, escrita em hebraico ou aramai-
co. Essa hipótese foi duramente criticada, principalmen-
te, a partir do século 20. 
2) Dependência comum de fontes orais – foi proposta por J. 
G. Herder e, posteriormente, J. K. L. Gieseler (em 1818). 
Eles sustentaram a dependência dos sinóticos a partir de 
um sumário oral relativamente conhecido, sobre a vida 
de Cristo. Essa hipótese foi mais aceita durante o século 
19. 
3) Dependência comum de um número cada vez maior de 
fragmentos escritos – foi proposta por F. Schleiermacher 
(s. d.), também conhecido por ter cunhado a hermenêu-
tica bíblica na Alemanha. Ele propôs que circulavam di-
versos fragmentos de tradição sobre Jesus no meio das 
primeiras comunidades cristãs, escritos pelos apóstolos. 
Tais fragmentos cresceram gradualmente e foram incor-
porados aos evangelhos sinóticos.
4) Teoria da Interdependência –sustenta que dois dos au-
tores usaram uma ou mais fontes para a elaboração do 
seu evangelho. Essa teoria é geralmente mais aceita pe-
los estudiosos.
A proposta da interdependência entre os evangelhos é a ge-
ralmente mais aceita. Sugere, a partir da análise de paralelismos 
sequenciais entre os evangelhos sinóticos, que podemos obser-
var Mateus e Marcos juntos em oposição à Lucas, e Lucas e Mar-
© Evangelhos Sinóticos22
cos juntos em oposição à Mateus, porém, Mateus e Lucas não se 
opõem à Marcos. 
Assim, surge o "argumento da sequência" que apresenta 
Marcos como o termo médio no relacionamento entre os sinó-
ticos. Isso significa que o evangelho de Marcos seria a fonte usa-
da tanto por Mateus como por Lucas para a composição de seus 
evangelhos. 
Essa hipótese explica as correspondências entre os três pri-
meiros evangelhos. As diferenças, portanto, estariam relacionadas 
ao estilo e às particularidades de Mateus e de Lucas, vinculadas 
principalmente às expectativas do grupo com o qual se importa-
vam e para o qual procuravam promover a fé em Jesus.
Todos esses estudos e hipóteses acerca da redação dos evan-
gelhos desencadearam, ainda, outras questões relacionadas prin-
cipalmente à veracidade das narrativas e dos acontecimentos so-
bre a vida, os ensinos e os milagres realizados por Jesus de Nazaré. 
Embora esse tenha sido um período difícil para a pesquisa sobre 
Jesus e para a teologia, é importante destacar que dessa época 
surgiram novas possibilidades de compreensão acerca do signifi-
cado do movimento cristão e da sua abrangência.
Essas novas possibilidades devem ser valorizadas porque re-
fletem a tentativa de estudiosos e religiosos modernos de tornar o 
conteúdo dos evangelhos cada vez mais próximo do nosso século.
Nesse sentido, mesmo que entendamos por "canônicos" os 
primeiros quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João, de-
vemos saber que essa disposição não reflete a ordem cronológica 
de composição dessas fontes. Tampouco indica que são os únicos 
escritos judaico-cristãos desse gênero. Isso porque existem outros 
evangelhos que não foram considerados canônicos pelos concílios 
da igreja, a partir do século 3º, mas que são testemunhos das dife-
rentes tradições sobre Jesus que circulavam entre os grupos cris-
tãos das origens.
Claretiano - Centro Universitário
23© Caderno de Referência de Conteúdo
Apesar das diferentes hipóteses quanto à origem do cânon 
assim como o conhecemos hoje, é quase consenso entre os biblis-
tas que Marcos teria sido o primeiro evangelho redigido e que os 
outros (Mateus e Lucas) teriam se inspirado em seu material para 
compor suas versões. 
Por essa razão, os evangelhos de Marcos, Lucas e Mateus 
são chamados "sinóticos" e, nesse caso, o termo "sinótico" indica 
a qualidade de terem informações em comum.
Para terminar, é relevante compreender a citação a seguir:
Há muito tempo já se percebeu que esses três evangelhos apre-
sentam materiais paralelos numa estrutura semelhante e com fre-
qüência na mesma seqüência de perícopes individuais (...) a reda-
ção das respectivas passagens paralelas em quaisquer dois ou três 
desses evangelhos é muitas vezes quase a mesma, ou tão próxima, 
que certamente se deve concluir pela existência de algum tipo de 
relação literária (KOESTER, 2005. p. 48).
Espero que essa síntese tenha evidenciado o quão impor-
tante é o estudo comparativo dos evangelhos sinóticos e o quanto 
esse estudo pode revelar sobre o Jesus histórico e as primeiras 
comunidades cristãs. Para isso, conhecer os evangelhos em sua 
estrutura, sua redação e formas literárias pode nos ajudar muito. 
Isso sem falar do contexto histórico e social, âmbitos dos quais a 
redação não se descola. Para quem quer fazer bons estudos bíbli-
cos, boas exegeses ou simplesmente saber mais a respeito de Je-
sus e seu ministério, é absolutamente necessária a leitura conjunta 
dos sinóticos.
Bom estudo!
Glossário de Conceitos
O Glossário permite a você uma consulta rápida e precisa 
das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio 
dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento 
dos temas tratados em Evangelhos Sinóticos. Veja a seguir a defi-
nição dos principais conceitos:
© Evangelhos Sinóticos24
1) Kerigma: também escrito na forma querigma. Termo 
grego que significa "Proclamação", utilizado nos evange-
lhos para apontar a proclamação do Reino de Deus.
2) Perícope: termo utilizado para indicar uma unidade lite-
rária que pode ser um capítulo ou um conjunto de ver-
sos. Trata-se de um bloco de versos comsentido único.
3) Exegese: trata-se da disciplina que se dedica à tradução 
de textos a partir de suas línguas originais e interpretação.
4) Apocalíptica: além de constituir um sistema de interpre-
tação da história, é, também, considerada uma matriz 
de espiritualidade baseada em dualismo, cujo conteúdo 
diz respeito à experiência religiosa de caráter extático e 
visionário e, geralmente, versada em linguagem simbóli-
ca-mítica. A literatura apocalíptica pode ser identificada 
sob compreensões cristológicas sobre Jesus de Nazaré, 
no Apocalipse de João, na narrativa de conversão de Pau-
lo e no cristianismo pós-paulino. Todavia, a apocalíptica 
já existia sob a forma de apocalipses judaicos como Da-
niel 7-12; 1 Enoque 14-15; 4 Esdras 9,26-10,59, cap.11-
12,13 e Baruque 53-74. É notável que esses apocalipses 
foram elaborados em contextos de perseguição, a par-
tir do qual pretendia-se "revelar" aos fiéis uma visão de 
mudança e glorificação (cf. Dn 12,1) (BOER, 2011).
5) Didaqué: consistia em uma espécie de doutrina, isto é, 
Catechesis. O termo "catequese" em sentido amplo in-
clui instrução pela palavra da boca sobre qualquer as-
sunto sagrado ou profano (At 18,25; 21,21,24; Rm 2,18; 
Gl 6,6. – cf. Clem. Alex. Fragm. § 28: οὐκ ἔστι πιστεῦσαι 
ἄνευ κατηχήσεως), mas é especialmente aplicado ao 
ensino cristão, tanto de um tipo elementar apropriado 
para novo convertido, ou, como na famosa Escola Ca-
tequética de Alexandria, estendido para alta interpreta-
ção da Escritura Sagrada e a exposição da filosofia cristã. 
O primeiro saber exemplar do trabalho catequético é 
a "Doutrina dos doze apóstolos", que Atanásio nomeia 
entre os "livros não incluídos no Cânon, mas apontado 
pelos Pais para ser lido por aqueles que recentemente 
vieram a nós, e desejam ser instruídos na palavra sagra-
da" (Festal Epist. 39. 2010).
Claretiano - Centro Universitário
25© Caderno de Referência de Conteúdo
6) Qunram: os Escritos de Qunram e seus estratos 4Q In-
truction e 4QMysteries constituem o conjunto literário 
conhecido como Os Rolos do Mar Morto. Khirbert Qun-
ram é um conjunto de ruínas que fica na praia ocidental 
do Mar Morto. Os escritos achados foram redigidos em 
hebraico e em aramaico e foram conhecidos do grande 
público a partir de 1948, graças a descoberta acidental 
de um jovem pastor beduíno chamado Muhamed edh-
-Dhib. 4Q Instruction diz respeito à sigla que indica um 
manuscrito de conteúdo instrutivo na Caverna 4. Da 
mesma forma, 4Q Mysteries diz respeito ao manuscri-
to Mistério encontrado na Caverna 4. Ao todo são 11 
as cavernas em que foram descobertos os manuscritos, 
provavelmente, produzidos por um grupo sectário de ju-
deus (VERMES, Geza, 1997).
Esquema de Conceitos-chave
Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais 
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um 
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você 
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o 
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o 
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas 
próprias percepções. 
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos 
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais 
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você 
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de 
ensino. 
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se 
que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esque-
mas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhecimen-
to de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos 
significativos no seu processo de ensino e aprendizagem. 
© Evangelhos Sinóticos26
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas 
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, 
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos 
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, 
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem 
pontos de ancoragem. 
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure 
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais 
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez 
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados. 
 Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é 
você o principal agente da construção do próprio conhecimento, 
por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações in-
ternas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por ob-
jetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o 
seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, 
estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou de co-
nhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo 
(adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/eduto-
ols/mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 
11 mar. 2010). 
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27© Caderno de Referência de Conteúdo
Jesus Histórico
Parábolas, ditos e 
ensinos 30 -33 EC
Morte e 
ressurreição 33 
EC
Vida Pública 01 -
33 EC
Coleção de ditos 
ou a Fonte Q 40 –
55 EC 
(Antioquia)
Evangelho de 
Marcos 64 – 70 
EC 
(Roma)
Evangelho de Lucas 70 -90 
EC 
(Lugar incerto, geralmente 
mencionado Cesaréia, 
Acaia, Decápole, Ásia 
Menor e Roma)
Evangelho de 
Matheus 80 – 90 EC 
(Antioquia da Síria)
Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Evangelhos 
Sinóticos
Como você pode observar, o mapa acima lhe apresenta uma 
visão geral dos conceitos mais importantes desse estudo. Seguin-
do este mapa, você poderá transitar entre um e outro conceito e 
descobrir o caminho para construir o seu processo ensino-apren-
dizagem. 
Observamos que o mapa conceitual é mais um dos recursos 
de aprendizagem que vem somar-se aqueles disponíveis no am-
biente virtual com suas ferramentas interativas, bem como as ati-
vidades didático-pedagógicas realizadas presencialmente no polo. 
Lembre-se de que você, como aluno na modalidade a distância, 
pode valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento. 
© Evangelhos Sinóticos28
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem 
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas. 
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como 
relacioná-las com a prática do ensino de Teologia pode ser uma 
forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a re-
solução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará 
se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além 
disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhe-
cimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profis-
sional. 
As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-
ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por 
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos 
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, 
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, 
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. 
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus 
colegas de turma.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus 
estudos, mas não se prendasó a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Figuras (ilustrações, quadros...)
Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no 
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
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29© Caderno de Referência de Conteúdo
teúdos estudados, pois relacionar aquilo que está no campo visual 
com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. 
Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada, 
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É 
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e 
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem 
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se 
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a 
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, 
uma capacidade que nos impele à maturidade. 
Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade 
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. 
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor 
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades 
nas datas estipuladas. 
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em 
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie 
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las. 
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os 
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos 
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, 
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
© Evangelhos Sinóticos30
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na 
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando 
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a 
este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com 
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. 
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KOESTER, H. Introdução ao Novo Testamento: história e literatura do cristianismo 
primitivo. Vol. 2. São Paulo: Paulus, 2005
VERMES, G. Os Manuscritos do Mar Morto. São Paulo: Mercuryo, 1997.
4. E-REFERÊNCIAS 
BOER, M. A influência da apocalíptica judaica nas origens do cristianismo: gênero, 
cosmovisão e movimento social. Tradução de Paulo Augusto de Souza Nogueira. (Arquivo 
er19cap1.pdf). Editora Metodista Digital. Disponível em: <http://editora.metodista.br/
revista_rel_19.htm>. Acesso em: 2 ago. 2011,
FESTAL EPIST. 39. Compare com Clem. Alex. Strom. V. c. x. § 67. Γάλα μὲν ἡ κατήχησις 
οἱονεὶ πρώτη ψυχῆς τροφὴ νοηθήσεται. Christian Classics Ethereal Library. Catechetical 
Instruction. In: Chapter II. — Catechetical Instruction. Disponível em: <http://www.ccel.
org/ccel/schaff/npnf207.ii.iii.ii.html?highlight=didaché#highlight>. Acesso em: 2 ago. 
2011.
1
EA
D
Introdução ao Estudo dos 
Sinóticos
1. OBJETIVOS
• Conhecer e introduzir o debate acadêmico sobre história 
social do cristianismo das origens.
• Estabelecer relação entre os contextos histórico, político 
e cultural e a escrita dos Evangelhos Sinóticos.
• Demonstrar que os motivos que influenciaram a redação 
dos Evangelhos estavam vinculados à necessidade de re-
gistrar as tradições, as memórias e os ensinamentos de 
Jesus por meio de uma tradição escrita.
2. CONTEÚDOS
• Definições: o que é Evangelho e o que é Sinótico.
• Literatura bíblica.
• Sabedoria e crítica social nas origens cristãs.
• Confluência de horizontes culturais.
• Identidade social das primeiras comunidades cristãs.
© Evangelhos Sinóticos32
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Ao estudar esta primeira unidade, tenha em mãos uma 
Bíblia ou o Novo Testamento, a fim de identificar na fon-
te as citações bíblicas que serão apontadas. Sugerimos 
as traduções: Bíblia de Jerusalém e ou A Bíblia Sagrada, 
traduzida por João Ferreira de Almeida (versão atualiza-
da).
2) Uma sinopse dos Evangelhos Sinóticos também oferece 
instrumental adequado para a compreensão dessa e das 
próximas unidades. Sugerimos a seguinte sinopse: KO-
NINGS, J. Sinopse dos evangelhos de Mateus, Marcos e 
Lucas e da "Fonte Q". São Paulo: Loyola, 2005. (Coleção 
Bíblica 45).
3) Outros recursos como dicionários, dicionários de termos 
em grego e mapas também são úteis para a compreen-
são dos conteúdos a seguir.
4) Leia esta unidade e as próximas sem perder de vista que 
os textos do Novo Testamento constituem uma literatu-
ra matizada em um período histórico específico e, como 
toda produção literária, os evangelhos falam, também, 
a respeito do seu tempo, da cultura da época, de cos-
tumes, de práticas e ideias típicas desse período e de 
comunidades de pessoas que viveram esse tempo.
5) Para saber mais a respeito do teólogo alemão Karl Bar-
th e de sua teologia (que estudaremos nesta unidade), 
consulte o site Bíblia World Net. Disponível em: <http://
www2.uol.com.br/bibliaworld/igreja/estudos/karl001.
htm>. Acesso em: 30 out. 2011.
6) Para ampliar seus conhecimentos a respeito do teólogo 
Rudolf Bultmann e de sua teologia existencial, consulte: 
PIRES, Frederico Pieper. Mito e hermenêutica. O desafio 
de Rudolf Bultmann. São Paulo: Emblema, 2005.
7) Amplie seus conhecimentos e leia: THEISSEN, Gerd. So-
ciologia da Cristandade Primitiva. São Leopoldo: Sino-
dal, 1987, p. 11.
Claretiano - Centro Universitário
33© U1- Introdução ao Estudo dos Sinóticos
8) Para saber mais a respeito da Didaqué, consulte: IZIDO-
RO, José Luiz. Didaché: doutrinas dos doze apóstolos. 
In: Oracula 3/6 (2007): 90-113. (ISSN 1807-8222). Dis-
ponível em: <http://www.oracula.com.br/site/index.
php?option=com_content&task=view&id=56&Item
id=49>. Acesso em: 30 out. 2011. 
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE 
Nesta introdução aos evangelhos, vamos estudar o conjunto 
formado pelos "Sinóticos". Esse termo vem da palavra grega "syn-
posis", entendida como "ver em conjunto". Os Evangelhos Sinó-
ticos, portanto, são narrativas sobre a vida e o ministério público 
de Jesus, que podem ser lidas em conjunto porque apresentam 
uma estrutura parecida, conteúdos que se repetem e gêneros e 
formas literárias recorrentes. Portanto, são como "espelhos" uns 
dos outros.
Veremos, também, nesta unidade, que a palavra "sinótico" 
foi empregada pela primeira vez para designar o estudo compara-
tivo de Mateus, Marcos e Lucas no final do século 18, pelo estudio-
so alemão J. J. Griesbah.
Em relação à palavra "evangelho" (Boa notícia) é importante 
entendermos que ela nomeia quatro escritos do Novo Testamento 
(NT), os três primeiros foram considerados parecidos entre si (a pon-
to de receberem o nome de Sinóticos). O que mais os aproxima é o 
fato de apresentarem os ensinamentos de Jesus por meio de histó-
rias a seu respeito que vão do batismo até sua morte e ressurreição. 
No entanto, o evangelho de João não será contemplado 
neste Caderno de Referência de Conteúdos em razão de não ser 
classificado como sinótico. Segundo a pesquisa bíblica, o evange-
lho de João destaca-se por ter redação complexa e tardia, assim 
compreendida em função de seus desdobramentos teológicos e 
da acentuada influência filosófica grega que o torna marcadamen-
te diferente dos primeiros três evangelhos.
© Evangelhos Sinóticos34
Nesta primeira unidade,vamos estudar o contexto histórico, 
social e cultural no qual as primeiras comunidades cristãs se for-
maram. Em decorrência dessa descoberta, vamos compreender de 
modo mais acurado como esse "pano de fundo" motivou e influiu 
na redação dos Evangelhos Sinóticos. Vamos perceber, ainda, que 
as origens cristãs e os textos que esses grupos produziram foram 
condicionados por situações de controvérsias, tensões e disputas 
típicas daquele período, o século 1º da Era Cristã (EC). 
Vamos, pois, iniciar nossos estudos?
5. O QUE É EVANGELHO?
O termo substantivo "evangelho" (euaggeliou) pode ser en-
contrado seis vezes no Antigo Testamento (AT), com dois sentidos: 
primeiro "boas novas" (cf. 2Sm 18,20,25,27; 2Rs 7,9) e segundo 
"recompensa por boas notícias" (2Sm 4,10; 18,22). 
Esse duplo sentido para o "evangelho" nos ajuda a perceber 
o poder efetivo da palavra. A palavra falada é comparável ao seu 
conteúdo: más notícias trazem tristeza e boas notícias causam ale-
gria. Nesses termos, a palavra é portadora de poder e efetua o que 
proclama.
Entre os gregos, "evangelho" era o termo técnico para "no-
vas vitórias" em batalhas militares ou, em determinados contextos 
de jogos, como os olímpicos. Mas, além desse uso, o mais impor-
tante para o nosso estudo foi feito no culto imperial. 
No período de domínio romano, o imperador reuniu para si a 
noção de homem divino e de salvador. Isso é, também, o que a pa-
lavra "evangelho" aponta seu significado e poder: o governante é 
divino por natureza. Seu poder se estende para homens, animais, 
terra e mar. 
O "evangelho" – materializado no governante – é o salvador 
do mundo e aquele que redime as pessoas de suas dificuldades. 
Claretiano - Centro Universitário
35© U1- Introdução ao Estudo dos Sinóticos
Assim, o imperador assumiu para si as características da antiga 
deusa grega chamada "Túkhe". 
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
De acordo com Mircea Eliade, a ideia de salvação teve origem no esforço de des-
prestigiar a terrível deusa "Túkhe" (a Sorte, a Fortuna). Na narrativa mítica grega, 
ela poderia trazer tanto felicidade como má sorte. Ela manifestava-se também 
como "anágkê" ou "heimarmenê", Necessidade ou Destino respectivamente. O 
Destino era controlado pelos seus caprichos astrais. Esse fatalismo só cessaria 
com a convicção "de que certos Seres divinos são independentes do Destino". 
Nos cultos de mistério de Ísis e Osíris, por exemplo, a deusa proclamaria o poder 
de prolongar a vida de seus adoradores: "Conquistei o Destino e o Destino me 
obedece". Mais tarde, a deusa Fortuna tornou-se um dos atributos de Ísis (cf. 
MIRCEA, Eliade. História das crenças e das idéias religiosas. São Paulo: Zahar, 
1978. p. 236).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Em função de ser o imperador mais do que um homem co-
mum, seus decretos eram tidos como mensagens de alegria e suas 
ordens eram consideradas escritos sagrados. O que ele dizia era um 
ato divino e implicava em boas coisas e salvação para os homens. 
O culto imperial e a Bíblia compartilham a visão de ascensão 
ao trono, que introduziria uma nova era e traria paz ao mundo. 
Era, nesse sentido, um evangelho para os homens. 
O estudo comparado de fontes do período antigo revela que 
essas noções eram comuns daquele tempo, portanto, algo tipica-
mente oriental. Contudo, algum conteúdo do evangelho do Novo 
Testamento pode ser entendido como oposto ao evangelho impe-
rial, por exemplo, no que diz respeito à proclamação da Basiléia 
thou theou (do reino de Deus).
Assim, o que devemos notar com atenção é que o NT fala 
a linguagem de seus dias. Trata-se de uma proclamação popular 
e realística. Um saber humano de esperar por algo, de esperança 
nova, que indicava a espera pela realização de um evangelho, do 
qual alguns poderiam ser envergonhados, já que era um "escânda-
lo" (cf. Mt 11,5; Rm 1,16; 1Cor 1,17,23; 2Tm 1,8; Mc 8,35). 
No léxico cristão, portanto, "evangelho" significa sōtēria (sal-
vação) para o homem, mas sōtēria implica metanóia (conversão) e 
© Evangelhos Sinóticos36
julgamento. Os próprios textos bíblicos relatam que essa noção de 
salvação soava estranha e muitos devem ter reagido com ironia (At 
17,32). Entretanto, para os primeiros seguidores de Jesus, tratava-
-se de uma convicção alegre e real: pela penitência, chegava-se a 
alegria e ao julgamento, o que significava graça e salvação. 
Desse modo, César e Cristo, o imperador sobre o trono e o 
desprezado rabbi na cruz, confrontavam-se um ao outro. Ambos 
eram o evangelho para o homem. Eles tinham muito em comum. 
Todavia, eram originários de mundos diferentes.
O evangelho de Cristo consistia, pois, na proclamação 
(kerigma ou querigma) do reino de Deus. O cerne desse evangelho 
era a vinda do Reino, o que implicava imediatamente no 
estabelecimento de um novo governo: um governo divino de paz e 
de justiça, cujo único governante seria o próprio Cristo.
Você deve estar se perguntando, mas o que é evangelho nos 
Sinóticos?
Com frequência, Marcos usa "evangelho" nos ditos de Jesus. 
Deixando de lado apenas as referências Mc 1,1 (Princípio do Evan-
gelho de Jesus Cristo, Filho de Deus) e 1,14 (Depois que João foi 
preso, veio Jesus para Galiléia proclamando o Evangelho de Deus), 
podemos notar que os textos paralelos de Marcos em Mateus e 
em Lucas não empregam esse termo, o que sugere que a palavra 
"evangelho" pode não ter sido usada em estratos mais antigos de 
Marcos. Vamos entender melhor o Evangelho Sinótico observando 
o Quadro 1 a seguir. 
Os textos bíblicos citados estão de acordo com a versão da Bíblia 
de Jerusalém, tradução em língua portuguesa diretamente dos ori-
ginais, publicada pela Sociedade Bíblica Católica Internacional e 
Paulus.
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37© U1- Introdução ao Estudo dos Sinóticos
Quadro 1 Sinótico 
Cumpriu-se o tempo 
e o reino de Deus está 
próximo. "Arrependei-vos 
e crede no Evangelho". 
Mc 1,15
A partir desse momento, 
começou Jesus a pregar e 
a dizer: "Arrependei-vos, 
porque está próximo o 
reino dos Céus". 
Mt 4,17
Ensinava (edidasken) 
em suas sinagogas e era 
glorificado por todos. 
Lc 4,15
Pois aquele que quiser 
salvar a sua vida, irá 
perdê-la; mas, o que 
perder a sua vida por 
causa de mim e do 
Evangelho, irá salvá-la.
Mc 8,35
Pois aquele que quiser 
salvar a sua vida, vai 
perdê-la, mas o que 
perder a sua vida 
por causa de mim vai 
encontrá-la.
Mt 16,25 (10,39)
Pois aquele que quiser 
salvar a sua vida vai 
perdê-la, mas o que 
perder a sua vida por 
causa de mim, esse a 
salvará.
Lc 9,24 
Jesus declarou: "Em 
verdade vos digo que não 
há quem tenha deixado 
casa, irmãos, irmãs, 
mãe, pai, filhos ou terras 
por minha causa ou por 
causa do Evangelho, que 
não receba cem vezes 
mais desde agora, neste 
tempo, casas, irmãos 
e irmãs, mãe e filhos e 
terras, com perseguições; 
e, no mundo futuro, a 
vida eterna. (...)".
Mc 10,29-30
E todo aquele que tiver 
deixado casas ou irmãos, 
ou irmãs, ou pai, ou mãe, 
ou filho, ou terras, por 
causa do meu nome, 
receberá muito mais e 
herdará a vida eterna.
Mt 19,29
Jesus lhes disse: "em 
verdade vos digo, não há 
quem tenha deixado casa, 
mulher, irmãos, pais ou 
filhos por causa do reino 
de Deus, sem que receba 
muito mais nesse tempo 
e, no mundo futuro, a 
vida eterna".
Lc 18,29-30
Como podemos observar, os trechos paralelos de Marcos 
não têm a palavra "evangelho". Elas apareceriam em Mc 13,10; 
Mt 24,14 e Mc 14,9, Mt 26,13. Isso pode indicar que Lucas de-
pendeu de estratos mais antigos de Marcos e que as ocorrências 
de "evangelho" em Marcos e Mateus podem ter sido acréscimos 
à tradição oral.
Esse ponto pode ser melhor entendido à luz da leitura de 
Marcos: Mc 13,10 (É necessário que primeiro o Evangelho seja pro-
clamado para todas as nações) parece incompatível com Mc 7,27 
(com paralelos em Mt 15,24,26; 10,5). 
© Evangelhos Sinóticos38
No primeiro, Jesus apontou que a proclamação do Reino de-
veria ser levada a todos. No segundo,Jesus negou a mensagem 
de salvação para os não judeus, o que levanta a suspeita de que 
Marcos 13,10 tenha sido uma interpolação dentro do discurso es-
catológico, feita em decorrência do sucesso das missões entre gen-
tios. Da mesma forma, alguns estudiosos têm dúvidas quanto ao 
trecho de Marcos 14,3-9, em especial, os versos 8 e 9, visto que a 
perícope não parece harmonizar com os versos que a antecedem 
e que vêm subsequentemente. Assim, não sabemos ao certo se os 
ditos de Jesus que dizem respeito ao evangelho são originais e se 
foram ditos por Jesus mesmo.
Quanto a isso, a crítica das fontes não encontrou consenso. 
O importante é sabermos que os Evangelhos não são reproduções 
estenográficas, isto é, transcrições imediatas, dos ensinamentos 
de Jesus. Tampouco, pode-se afirmar que sejam registros oficiais 
de sua atividade como mestre. Na forma original, os Evangelhos 
eram tradição oral.
A Crítica das fontes pode ser chamada de crítica literária e surgiu 
no século 18 EC. Ocupa-se de investigar a obra e sua autoria à luz 
de seu contexto histórico. Preocupa-se em investigar os documen-
tos que serviram como fontes para a composição dos materiais 
bíblicos.
Entendido esse ponto, a pergunta mais pertinente é se o ter-
mo "evangelho" foi usado por Jesus ou atribuído a ele pela Tradi-
ção? A pergunta se Jesus usou ou não a palavra evangelho resulta 
na questão sobre a concepção que tinha a seu próprio respeito, se 
tinha ou não consciência messiânica.
O que podemos concluir a esse respeito é que, de fato, a 
proclamação de Jesus era de "boas novas" e que ele era o único a 
proclamá-las naquela expressão, apontando para o reino de Deus. 
Se ele compreendeu que era o Filho de Deus que podia morrer e 
viver novamente, ele também percebeu que ele mesmo era o con-
teúdo da mensagem de seus discípulos. 
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39© U1- Introdução ao Estudo dos Sinóticos
Nesse caso, seu evangelho não era um novo ensino. Ele tra-
zia a si mesmo, o que foi dado com sua pessoa constituía o conte-
údo do evangelho, consequentemente, "thou euaggeliou" implica 
para os discípulos o des-velamento do segredo messiânico. 
Entender essa mensagem demanda fé. Algo que caracteri-
za esse evangelho como diferente da expectativa (do evangelho) 
grega e da judaica. Esse evangelho vem acompanhado da noção 
de conversão, isto é, pelo arrependimento é que se poderia obter 
a alegria, a Vida. 
Em Marcos 8,35 e 10,29, o evangelho não se refere a ativida-
de missionária. O "evangelho" é comparado com Cristo, com seu 
nome (Mt 19,29) e com o reino de Deus (Lc 18,29). A atitude do 
Antigo Testamento e dos judeus para com os gentios – sua exclu-
são do reino messiânico e, ainda, da participação na salvação – foi 
resolvida por Jesus. Ele limitou a si mesmo, entendendo-se como 
conteúdo central de sua proclamação, para Israel. 
Durante seu tempo de vida, não permitiu que seus discípulos 
levassem essa mensagem para além das fronteiras de sua própria 
terra (cf. Mc 7,27; Mt 15,24,26). Mas, na era messiânica, muitas 
nações o conheceriam, (cf. Mt 8,11 e Lc 13,29).
Portanto, isso nos leva a compreender que o conteúdo cen-
tral da proclamação de Jesus é o reino de Deus, e o reino como 
evento escatológico (cf. Mc 13,10; Mt 24,14). Trata-se do evange-
lho do reino proclamado para Israel que será declarado para todo 
o mundo: o evangelho da salvação para todos os que crerem. 
Para saber mais sobre esse assunto leia: KITTEL, Gerhard; FRIE-
DRICH, Gerhard (Eds.). Theological dictionary of the New Testa-
ment. 10 volumes. Michigan: W. B. Eerdmans, 1972-1989 (1º ed-
ição, 1964-1974, reimpresso em 1999). Ref. NT: 2098.
© Evangelhos Sinóticos40
6. MUNDO SOCIAL DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES 
CRISTÃS "ESPELHADO" NA LITERATURA
Como já podemos perceber, o gênero dos textos tem relação 
com a cosmovisão e a situação vivencial da época em que foram 
concebidos. O gênero evangelho significa "boas novas", portanto, 
não em função de uma definição moderna, mas em decorrência 
do sentido que essa palavra recebeu do sentido atribuído a ela nos 
meios em que era usada. Por isso, dizemos que os textos projetam, 
em nível literário, traços e indícios dos grupos sociais em que esta-
beleceram suas relações cotidianas e tradições culturais-religiosas. 
Doravante, investigaremos um pouco mais desses contextos e tra-
dições que subjazem o Novo Testamento.
A fim de explicitar o "pano de fundo" dos textos neotesta-
mentários, o estudioso Gerd Theissen (1987) desenvolveu sua pes-
quisa acerca das primeiras comunidades cristãs com o instrumen-
tal da sociologia da literatura. Antes de chegar a esse recurso de 
análise, porém, reconheceu a importância da crítica da forma e da 
história da religião como chaves metodológicas de leitura que nos 
permitem formular reconstruções do que teria sido o ambiente so-
cial no período das primeiras comunidades cristãs e da formação 
dos Evangelhos Sinóticos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A Crítica da forma ocupa-se, principalmente, em analisar unidades dentro dos 
documentos e fontes que contenham formas específicas – projeções de tipos de 
fala – que teriam sido próprias de certas situações existenciais do cotidiano isra-
elita. Ocupa-se em relacionar as formas, por exemplo, poéticas, como eventos 
reais aos quais teria alguma ligação (julgamentos, casamentos, festas religio-
sas, celebrações, procissões etc.). Surgiu no século 20 da EC. Busca identificar 
elementos relacionados ao cotidiano de Israel e incorporados ao texto, como 
fórmulas, tipos literários fixos, vocabulário próprio ao evento e lugar, que indi-
quem evidências da forma literária. Apresentou bons resultados, por exemplo, no 
estudo dos Salmos (24; 45; 121; 132 e outros).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Theissen (1987) admitiu que houve certo retrocesso na pes-
quisa sociológica durante o século 20; entretanto, atribuiu esse 
retrocesso à teologia dialética de Karl Barth e a hermenêutica exis-
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41© U1- Introdução ao Estudo dos Sinóticos
tencial de Rudolf Bultmann (uma crítica que pode ser relativiza-
da, tendo em vista o comprometimento que ambos os teólogos 
tinham com suas respectivas comunidades cristãs na Alemanha). 
Para Theissen (1987), essas duas linhas de estudo dos textos 
neotestamentários inverteram a pergunta pelo Sitz im Leben (situ-
ação vivencial), para a questão religiosa da fé e do indivíduo. Isso 
significa que esses teólogos interpretaram o Novo Testamento, 
bem como os Sinóticos, não a partir de seus contextos históricos-
-sociais específicos, mas a partir do que tais textos significavam 
para a cristandade contemporânea. 
Assim, a leitura voltava-se mais para o significado da mensa-
gem, em perspectiva existencial, do que para a reconstrução das 
origens cristãs. Em contrapartida, tanto a história da forma quanto 
a história da religião perguntavam pelo fundo social da redação 
dos Sinóticos. 
Para Theissen (1987), os textos cristãos primitivos, funda-
mentalmente "(...) são textos de uma comunidade, que têm uma 
dimensão social". 
Consequentemente, a investigação sociológica da Bíblia 
deve ser desenvolvida a partir de dois princípios:
• da história contemporânea; 
• do método histórico-formal. 
O primeiro princípio, da história contemporânea, investiga 
a estrutura social palestina no mundo antigo e, o segundo, torna 
acessível o perfil dos grupos sociais que estão por trás dos Sinóti-
cos (THEISSEN, 1987). 
Com base nessas chaves, portanto, podemos entender que, 
antes de ser redação, o texto denota o relato de certa época. Logo, 
traz na sua composição elementos que denunciam aspectos da 
cultura, da religiosidade e da política que constituíram o ethos da 
comunidade que o concebeu e, concomitantemente, o leu. 
© Evangelhos Sinóticos42
Isso é o que chamamos relação dialógica entre texto e grupo 
social que o elabora: à medida que o texto é elaborado e dado à 
audiência, é dado também à reflexão e à mudança.Assim, o texto 
não permanece o mesmo porque propõe algo para a comunidade 
que o experimenta em seu cotidiano, apropriando-se do texto e 
ressignificando-o fluidamente. Portanto, a dinâmica entre gênero, 
texto e interlocutor, é circular e ao mesmo tempo material, visto 
que os textos abordam temas do cotidiano das comunidades, sa-
bedoria, profecia e crítica social.
Além disso, é necessário considerar que o contexto em que 
se dão os acontecimentos das origens cristãs é marcado pela con-
fluência de dois mundos. Confluência ocasionada pelo encontro 
de gregos e judeus, pela mútua influência que uma cultura exer-
ceu sobre a outra, o que gerou novos e diferentes horizontes de 
compreensão sobre estrutura social, política, cultura e religião 
para ambos os povos. Algo que exerceu forte apelo na formação 
do cristianismo do século 1º.
Em seus estudos sobre o Novo Testamento, o autor Joaquim 
Jeremias (1983) perguntou exatamente pela relação entre os âm-
bitos que constituem a vivência cotidiana dos judeus e as suas 
ideias religiosas. Para ele, os textos neotestamentários deixariam 
transparecer aspectos sociopolíticos e religiosidade popular carac-
terísticas do tempo de Jesus.
Para justificar que a literatura bíblica, em especial, os Sinóti-
cos "espelham" contextos históricos e sociais das primeiras comu-
nidades cristãs, Theissen (1987, p. 15) propôs que "assim como a 
história contemporânea evoluiu para história social, assim também 
a história da forma se desenvolveu para sociologia da literatura", 
diferenciando-se em três aspectos da história da forma clássica. 
Assim, é preciso saber que a sociologia da literatura objetiva: 
• Verificar a situação e o lugar vivencial desses grupos, si-
tuando-os junto com sua literatura no âmbito de toda a 
sociedade. 
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43© U1- Introdução ao Estudo dos Sinóticos
• Explorar os interesses sociológicos das comunidades e es-
clarecer suas condições não-religiosas.
• Investigar as relações concretas e modos de relaciona-
mentos que subjazem o texto. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A transmissão das palavras de Jesus no cristianismo primitivo é um problema so-
ciológico, sobretudo, pelo fato de Jesus não haver fixado suas palavras literaria-
mente. Uma tradição literária pode preservar-se durante um determinado perío-
do, mesmo que não tenha significado algum para o comportamento das pessoas 
ou quando suas intenções se contrapõem a esse comportamento (THEISSEN, 
1987). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
De acordo com essa perspectiva metodológica, o estudo dos 
Sinóticos busca clarificar as "relações concretas" entre os grupos 
sociais – as audiências – dos evangelhos e os âmbitos sociopolíti-
cos, culturais e religiosos indicados nos interstícios desses textos. 
Portanto, esse "caminho" de estudo dos Sinóticos prioriza a iden-
tificação do mundo social subjacente à formação de cada Evan-
gelho, como instrumento que nos possibilita verificar a própria 
dinâmica interna dos grupos sociais projetados pelos evangelhos, 
entendidos como fontes do período.
Podemos entender que essa será a perspectiva que adotare-
mos para estudar os Evangelhos Sinóticos, conforme verificaremos 
adiante.
7. SABEDORIA E CRÍTICA SOCIAL NAS ORIGENS CRIS-
TÃS
Conhecer o mundo social dos cristãos das origens não é uma 
tarefa fácil. Principalmente, quando esse "mundo social" está nos 
olhos de quem vê. É comum que os leitores modernos, sejam lei-
gos, líderes eclesiásticos, teólogos, historiadores ou estudantes, 
ao interpretarem a literatura bíblica, projetem suas próprias ex-
pectativas sobre o que teria sido o mundo dos tempos de Jesus. 
Por causa dessas projeções, ora os evangelhos parecem libertários 
© Evangelhos Sinóticos44
– em função de leituras mais politizadas –, ora se tornam mais es-
pirituais ou até mesmo, mais esotéricos. As diferentes formas de 
compreender os evangelhos ocorrem em função dos "óculos" de 
cada intérprete.
Nos últimos anos, a academia de estudos bíblicos tem apre-
sentado diferentes versões sobre vida, ministério e movimento de 
Jesus. Ora ele aparece como sábio, conforme um modelo filosófi-
co grego, ora se torna uma figura profética/messiânica, de acordo 
com a tradição judaica. Dessa forma, decorrem desses modelos 
diversas reconstruções das comunidades cristãs das origens: po-
litizadas, dadas à sabedoria, escatológicas etc. Todas as leituras, 
no entanto, amparam-se na exegese dos mesmos textos neotesta-
mentários e, em especial, nos Evangelhos Sinóticos.
A esse respeito, o estudioso F. Gerald Downing propôs:
We do not know enough about Jesus to allow us to construct a cle-
ar account of the primitive church because we do not know enough 
about the primitive church to allow us to construct a clear account 
of Jesus (cf. DOWNING, F. G. The Church and Jesus. In: SBT 2.10 
(1968): p. 51).
(Não conhecemos o suficiente a respeito de Jesus que nos permita 
construir uma hipótese clara sobre a igreja primitiva porque não 
conhecemos o suficiente sobre a igreja primitiva que nos permita 
construir uma hipótese clara sobre Jesus). 
Com esse trocadilho em mente, vamos conhecer algumas 
hipóteses a respeito da história de Jesus a partir dos evangelhos 
sinóticos, aqui entendidos como nossas fontes primárias.
Influências gregas na formação e no estilo dos evangelhos
Considerando os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas em 
conjunto, alguns pesquisadores perceberam que esses textos pos-
suíam coleções de ditos de sabedoria muito usados no período do 
século 2º antes da Era Cristã. 
No contexto grego, essas coleções tinham como objetivo as-
segurar a memória e preservar os ensinos de certos filósofos. Os 
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45© U1- Introdução ao Estudo dos Sinóticos
compêndios de ditos de sabedoria eram conhecidos como Vita ou 
Bios, pois pretendiam transmitir os ensinos das escolas – das li-
nhas filosóficas – e, ao mesmo tempo, serviam como propaganda 
do programa filosófico de certos mestres. 
Como introdução dessas coleções, alguns textos possuíam 
as biografias dos mestres que destacavam feitos, virtudes, atitude 
em relação à matéria, política, projetos e glórias desses filósofos. 
Tais virtudes colecionadas indicavam a capacidade de cada mestre 
responder às questões de seu tempo. 
Nos evangelhos, assim como na Fonte Q (ou Fonte dos Ditos 
de Jesus, que explicaremos no decorrer da unidade), Jesus é apre-
sentado de modo semelhante, isto é, como espécie de sábio que 
com seu discurso – um programa de vida ético e moral – arregimen-
tava seguidores por onde passava. A proclamação (querigma) dis-
corria sobre o certo e o errado, sobre o bem e o mal e, assim como 
outros filósofos, tecia considerações críticas sobre o modo de vida 
daqueles que se submetiam ao jugo imperial (DOWNING, 1994). 
As diversas escolas tratavam de ganhar novos seguidores por meio 
de discursos (...). Este dogma era o único caminho para a felicidade. 
O kerigma cristão também falava da ignorância dos homens, pro-
metia dar-lhes um conhecimento melhor e, como todas as filoso-
fias, fazia referência a um mestre que possuía e revelava a verdade 
(JAEGER, 1965. p. 21).
Algumas importantes características aproximam os evange-
lhos dessas coleções de ditos: 
• Apresentação de Jesus como mestre e profeta que ensina 
com discursos.
• Discursos eram compostos por ditos de sabedoria inseri-
dos em histórias, isto é, molduras narrativas. 
• Sabedoria expressa nos ditos era produzida conforme a si-
tuação vivencial dos grupos para os quais eram proferidos 
em decorrência do contexto histórico-social específico.
Os ditos de sabedoria estariam presentes não apenas nos 
evangelhos canônicos, mas também em outros que, posterior-
© Evangelhos Sinóticos46
mente, foram considerados apócrifos – como o Evangelho de Tomé 
–, o que indica que esse estilo literário era utilizado por gregos e 
por judeus, talvez, por ser típico do período, algo "popularizado" 
em função de uma cultura

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