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DIREITO AMBIENTAL (aula 06) Prof.: Marcelo Timbó. Espaços territoriais especialmente protegidos (parte II) 1) Reserva Legal O conceito de Reserva Legal está no art. 3º, III, do novo Código Florestal (Lei n. 12.651/2012) – ver dispositivo. Do conceito, nota-se que a área da reserva legal está inserida em posse ou propriedade rural. Oportuno observar que, nos termos do art. 19 do CFlo, a mera inserção do imóvel rural em perímetro urbano definido mediante lei municipal (ou seja, a cidade cresceu e “invadiu” o que antes era considerado área rural) não desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que só será extinta concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins urbanos, aprovado segundo a legislação específica e consoante as diretrizes do plano diretor. Assim, o proprietário de um imóvel originariamente rural só verá extinta a reserva legal quando o município aprovar o registro de parcelamento do solo urbano, não bastando a mera inserção do imóvel rural em perímetro urbano. Para o STJ, tanto as APPs quanto as Reservas Legais visam a assegurar o mínimo ecológico do imóvel, ou seja, garantir seus processos ecológicos essenciais e a diversidade biológica. Deste modo, entende-se que a natureza jurídica da Reserva Legal é de limitação ao uso da propriedade (limitação administrativa), técnica jurídica de intervenção estatal nas atividades humanas, na propriedade e na ordem econômica em favor do interesse público, sem que se configure desapossamento ou desapropriação indireta, operando-se por meio de obrigação de não fazer, de fazer e de suportar (REsp. 1.240.122, de 28/06/2011). Por esta natureza, de limitação do uso da propriedade, a instituição de uma Reserva Legal não é indenizável, devendo ser suportada pelo proprietário rural. Para entender o que são as reservas legais, precisamos primeiramente entender o que é a Amazônia Legal. A Amazônia Legal corresponde à totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins e parte dos estados do Mato Grosso e Maranhão – área de ocorrência das vegetações amazônicas. A Amazônia Legal abriga todo o bioma Amazônia, correspondendo a 1/3 das florestas tropicais úmidas do planeta e 1/5 da disponibilidade mundial de água potável. Vejamos no mapa a extensão desta área: As áreas de Reserva Legal já têm percentuais mínimos definidos no art. 12 do novo CFlo (são áreas que têm existência ex lege), que depende apenas da vegetação e da localização. Assim, será Reserva Legal a área localizada na Amazônia Legal em percentual mínimo de: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; Se a área rural não estiver na Amazônia Legal, a área do imóvel correspondente à Reserva Legal será de um percentual mínimo de 20% (vinte por cento). Entretanto, na forma do art. 12, §§ 4º e 5º, do CFlo, as áreas de Reserva Legal localizadas em floresta poderão ser diminuídas para até 50%, caso algumas exigências legais sejam obedecidas. Assim como, as áreas de Reserva Legal poderão ser ampliadas, em até 50%, para cumprimento de metas nacionais de proteção à biodiversidade ou de redução de emissão de gases de efeito estufa (art. 13, II, do novo CFlo). Para se determinar a localização da área de Reserva Legal no imóvel rural, tarefa do órgão estadual integrante do SISNAMA (não é o próprio proprietário do imóvel que estabelece a área), devem ser considerados os critérios estabelecidos no art. 14 do CFlo. Oportuno observar também que será admitido o cômputo das APPs no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel rural, nos termos do art. 15 do CFlo, desde que: i) o benefício não implique em novos desmatamentos; ii) a área computada esteja conservada ou em processo de recuperação; ou iii) o proprietário ou possuidor da terra tenha postulado a inscrição do imóvel rural no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Também é importante observar os empreendimentos e atividades que não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal: nas áreas onde se localizem empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto, áreas nas quais funcionem empreendimentos de exploração de potencial de energia hidráulica, de geração de energia elétrica, subestações ou sejam instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica; áreas para implantação e ampliação de capacidade de ferrovias e rodovias (art. 12, §§§ 6º, 7º, 8º, do CFlo). Observação. A Reserva Legal necessitava sempre de inscrição obrigatória do título no Cartório de Imóveis, mediante averbação, nos termos do antigo CFlo. Entretanto, esta obrigatoriedade foi extinta pelo atual CFlo, que instituiu apenas o dever de o proprietário registrar a reserva legal no Cadastro Rural Ambiental (art. 18, do CFlo). Na área de Reserva Legal é defeso o corte raso da vegetação, sendo possível a exploração por meio do manejo florestal sustentável (exploração que respeita os mecanismos de sustentação ecossistêmica). Observação. Quando um imóvel é desapropriado pelo Poder Público, regra geral o proprietário deve ser indenizado e tal cálculo do valor da indenização levará em consideração a produtividade da área, sendo que a Área de Reserva Legal, para ser excluída do cálculo da produtividade do imóvel, deve ter sido averbada no registro imobiliário antes da vistoria feita pelo poder público. Neste sentido, existem precedentes do STF e do STJ. Assim, não bastará a averbação genérica, sendo que, se não se encontrar individualizada na averbação, a Área de Reserva Legal não poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriado para efeito de cálculo da produtividade (AgRg no REsp. 1.301.751/MT, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, j. 08/04/2014, Dje 25/09/2014). 2) Apicuns e Salgados Os Apicuns e Salgados estão disciplinados no art. 11-A do CFlo, sendo áreas de uso ecologicamente sustentável localizadas na Zona Costeira. Apicuns e Salgados são locais próximos às praias, onde normalmente é feita a carcinicultura (criação de camarão) ou instituídas salinas, desde que observados os requisitos estabelecidos no §1º, do art. 11-A, do CFlo. Os Salgados também são chamados de marismas tropicais hipersalinos, onde pode ocorrer a presença de vegetação herbácea específica (solo cuja salinidade varia entre 100 e 150 partes por 1.000). Já os Apicuns são áreas com salinidade ainda maior do que os Salgados (salinidade acima de 150 partes por 1.000), desprovidas de vegetação vascular, sendo uma espécie de brejo de água salgada perto do mar. Nos termos do § 2º, do art. 11-A, a licença ambiental para empreendimentos de carcinicultura nestes locais será de 5 (cinco) anos, renovável apenas se o empreendedor cumprir com as exigências da legislação ambiental e com as condicionantes do próprio licenciamento. Também existem hipóteses em que o legislador presumiu a possibilidade de significativa degradação ambiental, exigindo o EPIA-RIMA (Estudo Prévio de Impacto Ambiental) e o seu Relatório de Impacto Ambiental, para os empreendimentos nas dimensões previstas no art. 11-A, § 3º, do CFlo. 3) Áreas de Uso Restrito A criação das Áreas de Uso Restrito (art. 10, CFlo) foi uma das poucas inovações positivas do Código Florestal, sendo áreas que se destinam aproteger e fomentar o desenvolvimento de pantanais e planícies pantaneiras no Brasil, ecossistemas enquadrados como áreas úmidas, tendo como grande exemplo o Bioma do Pantanal Mato-Grossense, considerado como patrimônio nacional pelo art. 225, § 4º, da Constituição de 1988. Nestes locais é permitida a exploração economicamente sustentável, de acordo com as recomendações técnicas dos órgãos oficiais de pesquisa (art. 10), bem como o manejo florestal sustentável e o exercício de atividades agrossilvipastoris (art. 11), em áreas de inclinação entre 25º e 45º. 4) Áreas Verdes Urbanas As Áreas Verdes Urbanas estão definidas como espaços públicos ou privados, com predomínio de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis para construção de moradias, destinadas a propósitos de recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e manifestações culturais. As novas Áreas Verdes Urbanas poderão ser criadas pelos instrumentos previstos no art. 25 do CFlo. O PDDU de Salvador, Lei Municipal n. 9.069/2016, prevê, em várias passagens a necessidade de inserção ou preservação de áreas verdes, como, por exemplo, quando estabelece as diretrizes das ZUE (Zonas de Uso Especial), art. 188, I, “e”; ou ainda no art. 333, III (estruturação dos parques urbanos) etc. 5) Unidades de Conservação As Unidades de Conservação são mais um espaço especialmente protegido, mas que têm sua regulamentação pela Lei n. 9.985/2000, lei que aprovou o SNUC (Sistema Nacional das Unidades de Conservação da Natureza)1, regulamentado parcialmente pelo Decreto 4.340/2002, prevendo doze modalidades de unidades de conservação2. Entretanto, mesmo antes da Lei do SNUC, já havia algumas Unidades de Conservação previstas no antigo Código Florestal (Lei n. 4.771/1965), que tratava das florestas nacionais, bem como na Lei 6.902/1981, a exemplos das Áreas de Proteção Ambiental e das Estações Ecológicas. No Brasil, a primeira unidade de conservação foi criada em 1937, instituída oficialmente pelo Decreto 1.713 (Getúlio Vargas), o Parque Nacional de Itatiaia. Mundialmente, os EUA foram os pioneiros na criação de Parque 1 Lei do SNUC: Art. 3o O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC é constituído pelo conjunto das unidades de conservação federais, estaduais e municipais, de acordo com o disposto nesta Lei. 2 Este rol é Taxativo, salvo a possibilidade prevista no art. 6º, parágrafo único da Lei do SNUC. Nacional, o famoso Parque de Yellowstone, em 1872, conhecido por ser a mordia do Urso Zé Colmeia. Nos termos da Lei n. 9.985/2000 (Lei do SNUC): Art. 2o Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção; As Unidades de Conservação poderão ser criadas por ato do Poder Executivo (lei ou decreto), mas apenas extintas ou reduzidas por lei, nos termos do art. 225, § 1º, III, da CF/88. Nos termos do art. 22, §2º da Lei do SNUC, a criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento, sendo dispensável a consulta pública para a criação de Estação Ecológica ou Reserva Biológica, nos termos do § 4º, do mesmo artigo 22. (Obs.: a Estação Ecológica e a Reserva Biológica são Unidades de Proteção Integral, nos moldes do art. 8º, I e II da Lei do SNUC). Observação: segundo o STF, o parecer emitido pelo Conselho Consultivo do Parque não pode substituir a consulta pública quando exigida na lei (STF, MS 24.184/DF, de 13/08/2003), assim como a ampliação dos limites territoriais de unidade de conservação também necessitará de consulta pública e estudos técnicos (STF, MS 24.665/DF, de 01/12/2004). As Unidades de Conservação se dividem em dois grandes grupos ou duas grandes categorias (art. 7º da Lei do SNUC): 1) Unidades de Proteção INTEGRAL, cujo objetivo básico é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto3 dos 3 Uso indireto é aquele que não envolve consumo, coleta, dano ou destruição dos recursos naturais. seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei do SNUC (art. 7º, § 1º), sendo considerada como zona rural para os efeitos legais (art. 49). 2) Unidades de USO SUSTENTÁVEL, cujo objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais (art. 7º, § 2º). O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias de unidade de conservação: I - Estação Ecológica; II - Reserva Biológica; III - Parque Nacional; IV - Monumento Natural; V - Refúgio de Vida Silvestre (art. 8º da Lei do SNUC). Especificamente: a) Art. 9o A Estação Ecológica (ESEC) tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. § 1o A Estação Ecológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 2o É proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico. § 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. Exemplo de Estação Ecológica na Bahia: Estação Ecológica Veracel (entre os municípios de Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro, extremo sula da Bahia); Estação Ecológica do Rio Preto (entre os municípios de Formosa do Rio Preto e Santa Rita de Cássia). b) Art. 10. A Reserva Biológica (REBIO) tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais. § 1o A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 2o É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de acordo com regulamento específico. § 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. c) Art. 11. O Parque Nacional (PN) tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. § 1o O ParqueNacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 2o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. § 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. d) Art. 12. O Monumento Natural (MONAT) tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. § 1o O Monumento Natural pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. § 2o Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei. § 3o A visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento. Exemplo de MONAT na Bahia: Cachoeira do Ferro Doido, localizada a 18km do município de Morro do Chapéu, sendo uma queda d’água de 118 metros de altura. (Foto: Rui Rezende) e) Art. 13. O Refúgio de Vida Silvestre (RVS) tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. § 1o O Refúgio de Vida Silvestre pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. § 2o Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei. § 3o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. § 4o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. Já nas Unidades de Uso Sustentável é possível a exploração do ambiente, desde que se garanta a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo-se a biodiversidade e os demais atributos ecológicos. É composto pelas seguintes categorias: I - Área de Proteção Ambiental; II - Área de Relevante Interesse Ecológico; III - Floresta Nacional; IV - Reserva Extrativista; V - Reserva de Fauna; VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural. Especificamente: a) Art. 15. A Área de Proteção Ambiental (APA) é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. § 1o A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas. § 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental. § 3o As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade. § 4o Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais. § 5o A Área de Proteção Ambiental disporá de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser no regulamento desta Lei. Exemplo de APA na Bahia: APA Litoral Norte (faixa litorânea com 10km de largura e 142km de extensão, ao longo da Linha Verde, indo de Praia do Forte até Mangue Seco), APA Baía de Todos os Santos, APA Baía de Camamu, APA Lagoas e Dunas do Abaeté, APA Serra Branca Raso da Catarina (próxima aos municípios de Paulo Afonso, Jeremoabo, Canudos e Macururé, provável antigo esconderijo de Lampião). b) Art. 16. A Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) é uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza. § 1o A Área de Relevante Interesse Ecológico é constituída por terras públicas ou privadas. § 2o Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico. Exemplo de ARIE na Bahia: A ARIE Serra do Orobó, que se encontra inserida nos municípios de Rui Barbosa e Itaberaba, a 315km de Salvador (área total de 7.397 ha), possui representantes de três grandes biomas: a mata atlântica, a caatinga e o cerrado, os quais possuem grande diversidade biológica e características especificas. Tem como objetivo garantir a preservação das florestas e o curso dos riachos, além de disciplinar as atividades produtivas ali desenvolvidas, garantindo o uso racional das águas. Foi criada pelo Decreto Estadual nº 8.267 de 06 de junho de 2002 c) Art. 17. A Floresta Nacional (FONA) é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas. § 1o A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei. § 2o Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam quando de sua criação, em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade. § 3o A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração. § 4o A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidase àquelas previstas em regulamento. § 5o A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes. § 6o A unidade desta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será denominada, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal. Exemplo de Floresta Nacional na Bahia: Floresta Nacional Contendas do Sincorá (em Tanhaçu, aproximadamente a 90 km de Brumado/Ba). d) Art. 18. A Reserva Extrativista (RESEX) é uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. § 1o A Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais conforme o disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.§ 2o A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. § 3o A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área. § 4o A pesquisa científica é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento. § 5o O Plano de Manejo da unidade será aprovado pelo seu Conselho Deliberativo. § 6o São proibidas a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou profissional. § 7o A exploração comercial de recursos madeireiros só será admitida em bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades desenvolvidas na Reserva Extrativista, conforme o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade. Exemplo de RESEX na Bahia (pesca, coleta de caranguejo e extrativismo da piaçava): RESEX Marinha da Baía do Iguape, RESEX de Canavieiras, RESEX de Cassurubá. e) Art. 19. A Reserva de Fauna (REFAU) é uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. § 1o A Reserva de Fauna é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei. § 2o A visitação pública pode ser permitida, desde que compatível com o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração. § 3o É proibido o exercício da caça amadorística ou profissional. § 4o A comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas obedecerá ao disposto nas leis sobre fauna e regulamentos. f) Art. 20. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) é uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. § 1o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável tem como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente, desenvolvido por estas populações. § 2o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é de domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. § 3o O uso das áreas ocupadas pelas populações tradicionais será regulado de acordo com o disposto no art. 23 desta Lei e em regulamentação específica. § 4o A Reserva de Desenvolvimento Sustentável será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. § 5o As atividades desenvolvidas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável obedecerão às seguintes condições: I - é permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área; II - é permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da natureza, à melhor relação das populações residentes com seu meio e à educação ambiental, sujeitando- se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento; III - deve ser sempre considerado o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da população e a conservação; e IV - é admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da área. § 6o O Plano de Manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável definirá as zonas de proteção integral, de uso sustentável e de amortecimento e corredores ecológicos, e será aprovado pelo Conselho Deliberativo da unidade. g) Art. 21. A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. § 1o O gravame de que trata este artigo constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis. § 2o Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural, conforme se dispuser em regulamento: I - a pesquisa científica; II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais; III - (VETADO)4 § 3o Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica e científica ao proprietário de Reserva Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano de Manejo ou de Proteção e de Gestão da unidade. A transformação de uma unidade de conservação de uso sustentável em proteção integral poderá ser feita por lei ou decreto, mas a recíproca só poderá ocorrer por Lei, após realizada a consulta pública. O art. 25 da Lei do SNUC, prevê que as unidades de conservação devem ter uma zona de amortecimento (uma zona de transição, definida no art. 2º, XVIII) para sua proteção5, que serão fixadas no ato de criação da unidade de conservação, ou até mesmo posteriormente, ouvindo-seos proprietários ou possuidores afetados, pois terão algumas restrições ao uso da propriedade ou posse. Nos termos do art. 30 da Lei do SNUC, as UNIDADES DE CONSERVAÇÃO poderão ser geridas pelo Poder Público bem como por entidades do terceiro setor, especificamente as OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público)6. Entretanto, esta previsão legal é questionada pela doutrina, pois aparenta ser inconstitucional, uma vez que delega poder de polícia (não apenas atos fiscalizatórios) para entes privados. Nos termos do art. 36 da Lei do SNUC, nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos em UNIDADES DE CONSERVAÇÃO que possam causar significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão 4 Este inciso previa o EXTRATIVISMO na (RPPN). Entretanto, tal dispositivo foi vetado pelo Presidente, o que, na prática, a tornou como uma área com regime jurídico de PROTEÇÃO INTEGRAL. 5 Com exceção da APA e da RPPN. 6 Ver definição das OSCIPs na Lei 9.790/1999 ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral. Nos termos do § 1o do mesmo art. 36, o empreendedor era obrigado a destinar, pelo menos, 0,5% dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo uma espécie de indenização ou compensação pelo impacto ambiental causado, em decorrência do Princípio Poluidor-Pagador e do usuário pagador. Era uma espécie de reparação por danos ambientais futuros, ou reparação antecipada (ex ante). Entretanto o STF entendeu pela constitucionalidade parcial do mencionado dispositivo, afirmando que a compensação prévia é constitucional, entretanto, o piso de 0,5% dos custos totais do empreendimento foi declarado inconstitucional, afirmando a Corte Suprema que o valor da compensação deve ser fixado proporcionalmente ao impacto ambiental, após estudo em que se assegurem o contraditório e a ampla defesa, sendo prescindível a fixação prévia de um percentual sobre os custos do empreendimento (ADI 3.378, de 31/10/2007). Assim, regra geral, a compensação deve ser proporcional ao impacto, não devendo possuir patamar mínimo ou máximo. Entretanto, em relação às unidades de conservação federal, o Decreto 6.848/2009 estabeleceu os critérios para fixação do valor da indenização. O anexo deste decreto traz uma metodologia de cálculo do grau de impacto ambiental, sendo que, na prática, a compensação do impacto ambiental poderá representar o equivalente entre 0% e 0,5% dos custos totais do empreendimento. Ou seja, atualmente, para as unidades de conservação federais HÁ UM TETO MÁXIMO de 0,5%, o que se revela um grave retrocesso ambiental, pois a compensação deveria ser sempre proporcional aos impactos demonstrados pelos estudos cabíveis. Referências Bibliográficas AMADO, Frederico. Direito ambiental. 9ª ed. rev., atual. e ampl. – Salvador: Juspodivm, 2018. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Atlas, 2014. BAHIA, Secretaria do Meio Ambiente. Unidades de Conservação da Bahia. Salvador: Santa Marta, 2016. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo, SP: Malheiros, 2015. MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais (20014, 2011, 2013). São Paulo, SP: Revista dos Tribunais (2004, 2011, 2013, 2014).
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