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PR O CE SS O P EN AL Q U E S T Õ E S E P R O C E S S O S I N C I D E N T E S P R I N C I P A I S A R T I G O S 9 2 , 9 3 , 9 6 , 9 8 , 1 0 1 , 1 0 4 , 1 0 5 , 1 0 7 , 1 0 8 , 1 1 0 , 1 1 1 , 1 2 0 , 1 2 5 , 1 3 1 , 1 4 9 , 1 5 1 , 1 5 2 , 1 5 3 D O C P P . A T E N Ç Ã O P A R A A S A L T E R A Ç Õ E S L E G I S L A T I V A S D A L E I 1 3 . 9 6 4 / 2 0 1 9 ( P A C O T E A N T I C R I M E ) I M P O R T A N T E : S a b e r o q u e s ã o a s q u e s t õ e s p r e j u d i c i a i s e o s p r o c e s s o s i n c i d e n t a i s n o â m b i t o d o p r o c e s s o p e n a l . C o m p r e e n d e r s u a s c a r a c t e r í s t i c a s e d i f e r e n ç a s . P r o c u r e f o c a r n a l e i t u r a d a l e i s e c a p r i n c i p a l m e n t e n a s a l t e r a ç õ e s l e g i s l a t i v a s a d v i n d a s d o P a c o t e A n t i c r i m e ( A r t s . 1 2 2 , 1 3 3 , 1 3 3 - A e 1 4 4 ) . S a i b a d i f e r e n c i a r a s m e d i d a s a s s e c u r a t ó r i a s . 1.INTRODUÇÃO O processo penal é, essencialmente, algo bastante simples. Realizam-se diversos procedimentos previstos na lei, todos com o objetivo de responder a duas perguntas: 1. houve realmente um crime (existe materialidade delitiva)? 2. havendo crime, foi o réu o seu autor (confirma-se a autoria)? Respondendo a essas duas perguntas de forma afirmativa, ocorre a condenação e o Estado passa a exercer sua pretensão punitiva. Entretanto, nós sabemos que nem todo processo irá seguir um fluxo tão simples, tão regular. Em alguns casos, podem surgir controvérsias que devem ser resolvidas antes das questões principais de um processo. Essas controvérsias nada mais são do que questões secundárias que guardam alguma relação com o crime ou o processo em curso e que, por algum motivo, devem NECESSARIAMENTE ser resolvidas antes da questão principal. A essas controvérsias chamamos de questões e processos incidentes. PR O CE SS O P EN AL Q U E S T Õ E S I N C I D E N T E S Q U E S T Õ E S E P R O C E S S O S I N C I D E N T E S P R O C E S S O S I N C I D E N T E S E S P É C IE S 2. QUESTÕES PREJUDICIAIS São questionamentos relacionados ao direito material, penal ou extrapenal, mas que possuem ligação com o mérito da causa penal, motivo pelo qual se impõe a sua solução antes do julgamento do processo criminal. EX: Jose do Cravo está sendo processado pelo crime de bigamia e alega sem sua defesa, entre outros aspectos a invalidade do primeiro casamento. Dessa siuação, identificamos como questão prejudicial a nulidade do primeiro casamento, que possui natureza extrapenal e como questão prejudicada, ou seja, que está condicionada á solução da prejudicial, o crime de bigamia. Se o casamento for nulo, não o que se falar de bigamia. 2.1. Questões prejudiciais x questões preliminares PR O CE SS O P EN AL 2.2. Características ou elementos das questões prejudiciais: A doutrina costuma elencar 3 principais características: PR O CE SS O P EN AL A N T E R I O R I D A D E A n t e r i o r i d a d e : a p r e j u d i c i a l d e v e s e r e n f r e n t a d a a n t e s d o m é r i t o d a a ç ã o p r i n c i p a l ; o u s e j a , “ a q u e s t ã o p r e j u d i c i a l é a n t e c e d e n t e l ó g i c o d a p r e j u d i c a d a , c a r e c e n d o d e s o l u ç ã o p r é v i a p a r a q u e s e j a j u l g a d o o m é r i t o d a d e m a n d a p r i n c i p a l , p o r q u a n t o a s o l u ç ã o d a q u e s t ã o p r e j u d i c i a l é c a p a z d e i n f l u i r n o r e s u l t a d o d o p r o c e s s o p e n a l c o n d e n a t ó r i o ” ( T á v o r a , 2 0 1 7 ) . E S S E N C I A L I D A D E o m é r i t o d a a ç ã o p r i n c i p a l d e v e d e p e n d e r d a r e s o l u ç ã o d a q u e s t ã o p r e j u d i c i a l . D e v e h a v e r , p o r t a n t o , u m a d e p e n d ê n c i a q u e c o n d i c i o n e a e x i s t ê n c i a d e u m a i n f r a ç ã o à r e s o l u ç ã o p r é v i a d e u m a q u e s t ã o p r e j u d i c i a l . A U T O N O M I A a q u e s t ã o p r e j u d i c i a l d e v e p o d e r s e r o b j e t o d e u m a a ç ã o a u t ô n o m a . P e r c e b a : n o j á c i t a d o e x e m p l o d a b i g a m i a , e x i s t e a p o s s i b i l i d a d e d e a v a l i d a d e d o p r i m e i r o c a s a m e n t o s e r o b j e t o d e u m p r o c e s s o a u t ô n o m o ( n o u t r o j u í z o ) . P o r e s s a c a r a c t e r í s t i c a , e x i s t i r i a u m p r o c e s s o o n d e s e t e m a q u e s t ã o p r e j u d i c a d a e o u t r o ( a u t ô n o m o e d i s t i n t o ) n o q u a l s e d e f i n i r i a a q u e s t ã o p r e j u d i c i a l . 2.3. Classificação das questões prejudiciais Quanto à natureza da questão prejudicial a) Homogênea, comum ou imperfeita: a prejudicial pertence ao mesmo ramo de direito da questão prejudicada (no caso, ambas possuem natureza criminal). b) Heterogênea, perfeita, jurisdicional ou incomum: é aquela que pertence a outro ramo do direito; ou seja, que tem caráter extrapenal. É dela que cuidam os artigos 92 e 93 do Código de Processo Penal. A essas questões não são aplicáveis as regras da conexão. Quanto à competência a) Não devolutivas: são aquelas questões prejudiciais sempre analisadas pelo juiz penal. Correspondem às questões prejudiciais homogêneas. b) Devolutivas: são as questões prejudiciais que podem ser solucionadas por juiz extrapenal. Correspondem às questões prejudiciais heterogêneas. As questões prejudiciais, por sua vez, podem ser obrigatórias ou facultativas. As questões prejudiciais obrigatórias estão previstas no art. 92, do CPP: As questões prejudiciais facultativas tratam da existência de infração penal que depende de resolução de questão também de natureza cível, mas diversa daquela referente ao estado civil das pessoas. PR O CE SS O P EN AL Art. 92. Se a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia, que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ação penal ficará suspenso até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado, sem prejuízo, entretanto, da inquirição das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. Tais questões, portanto, ocorrem quando a decisão sobre a existência da infração depender da solução de controvérsia que o juiz repute séria e fundada, sobre o estado civil das pessoas. Diante dessa hipótese, afasta-se de maneira absoluta a competência da instância criminal, devendo a solução ser emanada pela instância cível. Nesse caso, caberá ao MP propor a ação civil relativa à questão prejudicial, enquanto a ação penal ficará suspensa aguardando a resolução da questão prejudicial. Note-se que, nesse período, fica igualmente suspenso o prazo prescricional! As questões prejudiciais facultativas, por sua vez, estão previstas no art. 93, do CPP: Art. 93. Se o reconhecimento da existência da infração penal depender de decisão sobre questão diversa da prevista no artigo anterior, da competência do juízo cível, e se neste houver sido proposta ação para resolvê-la, o juiz criminal poderá, desde que essa questão seja de difícil solução e não verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, após a inquirição das testemunhas e realização das outras provas de natureza urgente. PR O CE SS O P EN AL CUIDADO! Apenas nessas duas hipóteses haverá suspensão da ação penal, quando o juiz assinará prazo para solução da questão prejudicial no juízo cível. PR O CE SS O P EN AL QUES T Õ E S O B R I G A T Ó R I A S F A C U L T A T I V A S O p r o c e s s o c r i m i n a l s e r á o b r i g a t o r i a m e n t e s u s p e n s o p e l o j u i z p e n a l a t é q u e a q u e s t ã o p r e j u d i c i a l s e j a r e so l v i d a p e l o j u í z o c í v e l . E m b o r a h a j a u m a q u e s t ã o p r o c e s s u a l a s e r r e s o l v i d a n o j u í z o c í v e l , o j u i z p e n a l n ã o e s t á o b r i g a d o a s u s p e n d e r o p r o c e s s o c r i m i n a l . C a s o n ã o o s u s p e n d a , o p r ó p r i o j u i z , n a s e n t e n ç a d e c i d i r á a p r e j u d i c i a l , q u e n ã o t e r á e f e i t o e r g a o m n e s . Nesse caso, no entanto, estaremos diante de juízo de conveniência e oportunidade do juiz da ação penal. Por esse motivo, a ação penal não ficará sempre suspensa, salvo se existir previamente uma ação no juízo cível para a solução da questão ou quando a matéria for de difícil solução e versar sobre direito cuja prova não seja limitada pela lei civil. 2.2. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES Seja a questão prejudicial obrigatória ou facultativa, a suspensão do processo criminal poderá ser determinada de ofício pelo juiz ou via requerimento das partes, nos termos do art. 94, CPP. Art. 94, CPP: A suspensão do curso da ação penal, nos casos dos artigos anteriores, será decretada pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes. Dessa decisão que determina a suspensão do processo criminal cabe RESE, cuja previsão conta no art. 581, XVI, CPP. No sentido contrário, não há precisão de recurso. Uma vez suspenso o processo e tratando-se de crime de ação penal pública, caberá ao MP promover a ação civil, na função de legitimado extraordinário (art. 92, p. único, CPP) ou atuar como fiscal da lei, para promover rápido andamento. Por fim, cabe ressaltar que o prazo prescricional ficará suspenso enquanto a questão prejudicial não for resolvida (art. 116, I, CPP). PR O CE SS O P EN AL 3. PROCESSOS INCIDENTAIS Após a análise das questões prejudiciais, podemos concluir que essas estão intimamente ligadas ao mérito da causa e em virtude disso devem ter sua resolutividade anterior à decisão definitiva. Diferentemente das questões prejudiciais, que são de competência do juízo cível, essa categoria de exceções são incidentes processuais de competência do próprio juízo penal, as quais se limitam a questões preliminares, de natureza cautelar e a questões probatórias. Em outras palavras, enquanto as prejudiciais se ligam ao mérito, os processos incidentais dizem respeito ao processo, a sua regularidade formal, podendo ser solucionados pelo próprio juiz criminal. 3.1. EXCEÇÕES São meios de defesa indireta de natureza processual, que versa sobre a ausência das condições da ação ou dos pressupostos processuais. Como se sabe, a defesa do acusado não se limita ao mérito da imputação. É perfeitamente admissível que guarde relação com aspectos do próprio processo. É exatamente nesse ponto que reside o estudo das exceções. São processadas em autos apartados, em regra, e não suspendem o curso da ação penal (art. 111, CPP). PR O CE SS O P EN AL PR O CE SS O P EN AL De início, confira-se o rol do art. 95 do Código de Processo Penal: Art. 95. Poderão ser opostas as exceções de: I - suspeição; II - incompetência de juízo; III - litispendência; IV - ilegitimidade de parte; V - coisa julgada. a) Exceção de suspeição ( arts. 96 e 111, CPP) Visa combater a parcialidade do juiz. Precede as outras exceções, pois antes de qualquer coisa, deve haver um juiz imparcial. As hipóteses de suspeição do magistrado estão descritas no art. 254, CPP. O juiz poderá reconhecer a suspeição de ofício ou mediante requerimento das partes. Caso o magistrado a reconheça de ofício, remeterá os autos ao seu substituto legal, após intimação das partes. Se apresentada por meio de exceção, o juiz reconhecendo a suspeição, sustará a marcha processual e mandará juntar aos autos a petição do recusante com os documentos que instruíram o pedido e, por despacho se declará suspeito, ordenando a remessa dos autos ao substituto ( arts. 97 e 99, CPP). Se o juiz não reconhecer a suspeição, mandará autuar em apartado a petição, irá respondê-la em até 3 dias e remeterá os autos, em 24 horas, ao órgão competente para o julgamento da exceção, conforme art. 100 do CPP. Se o tribunal julgar procedente a suspeição serão declarados nulos todos os atos praticados pelo juiz ( art. 101, CPP). Além da suspeição do magistrado, as partes podem arguir suspeição do membro do MP, do perito, do interprete, dos demais funcionários da Justiça e dos jurados ( art. 105 e 106, CPP). PR O CE SS O P EN AL CUIDADO! Lembre-se que não se pode opor suspeição às autoridades policiais nos autos de inquérito, embora estas devam declarar-se suspeitas quando houver motivo legal! Quanto ao membro do MP, observe a súmula 234 do STJ que diz: " a participação de membro do MP na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia". Da decisão que reconhecer a suspeição não é cabível recurso. Os meios de impugnação cabíveis conforme a doutrina são o habeas corpus ou mandado de segurança. b) Exceção de incompetência (arts. 108 e 109, CPP) Visa corrigir COMPETÊNCIA DO JUIZ. De início, esclareça-se que, a ao contrário do que ocorre no processo civil, o juiz pode reconhecer de ofício tanto a incompetência absoluta quanto a relativa. Quando isso não acontecer, a exceção de incompetência poderá ser manejada. A exceção de incompetência tem natureza dilatória e pode ser oposta verbalmente (quando deve ser reduzida a termo) ou por escrito (art. 108, CPP), tramitando em apartado (art. 111, CPP). Em regra, é apresentada pela defesa, mas o Ministério Público também tem legitimidade para tanto quando funcionar como custos legis. A exceção de incompetência relativa deve ser oposta na primeira oportunidade possível, sob pena de preclusão. No caso da defesa, no prazo da resposta à acusação (art. 396-A, CPP). Entretanto, as hipóteses de incompetência absoluta podem ser arguidas a qualquer tempo. A oposição não suspende o andamento da ação penal. Ouvido o Ministério Público, o juiz decidirá. Se acolhida a exceção, o processo será remetido ao juízo competente, onde, confirmados os atos anteriores, o feito seguirá seu curso. PR O CE SS O P EN AL Na hipótese de o juízo para o qual foi encaminhado o processo não se considerar competente, o magistrado poderá suscitar conflito negativo de competência.Se rejeitada a exceção, o processo prosseguirá normalmente no juízo onde já tramitava (art. 108, § 1o, CPP). Se o juiz reconhecer sua incompetência de ofício, caberá recurso em sentido estrito (art. 581, II, CPP). Caso o magistrado acolha a exceção de incompetência, também caberá recurso em sentido estrito (com fundamento no art. 581, III, CPP). Finalmente, se julgada improcedente a exceção de incompetência, não há recurso. Possível, contudo, a impetração de habeas corpus, mandado de segurança ou, ainda, arguição dessa matéria em preliminar de apelação. d) Exceção de ilegitimidade Legitimidade ad causam “é a pertinência subjetiva da ação. Ou seja, é a situação prevista em lei que permite a um determinado sujeito propor a demanda judicial e a um determinado sujeito ocupar o polo passivo dessa mesma demanda”. Enquanto a legitimidade ad processum “é fenômeno relacionado à capacidade de estar em juízo, tida como pressuposto processual de validade. Essa capacidade processual refere-se à capacidade de exercer direitos e deveres processuais, ou seja, praticar validamente atos processuais. PR O CE SS O P EN AL O juiz deve analisar se as partes são legítimas. Se, a despeito da ausência de legitimidade, não ocorrer a rejeição da peça acusatória, surge para a parte a possibilidade de oposição da exceção de ilegitimidade, nos termos do art. 95, inciso III, do CPP. Por força do art. 110 do Código de Processo Penal, a exceção de ilegitimidade será processada como a de incompetência do juízo. Deve ser oposta ao juiz do processo principal. O incidente tramitará em apartado (art. 111,CPP) e o juiz decidirá após a oitiva do Ministério Público (art. 110, CPP). O processo principal não se suspenderá em razão da oposição. Se o juiz rejeitar a peça acusatória por conta da ilegitimidade, caberá recurso em sentido estrito (art. 581, I, CPP). Caso o magistrado acolha a exceção de ilegitimidade, também caberá recurso em sentido estrito (com fundamento no art. 581, III, CPP). Finalmente, se julgada improcedente a exceção de incompetência, não há recurso. Possível, contudo, a impetração de habeas corpus, mandado de segurança ou, ainda, arguição dessa matéria em preliminar de apelação. e) Exceção de litispendência Cuida-se de uma exceção de natureza peremptória, oponível quando houver ações penais idênticas em curso. No processo penal, basta que acusado e imputação sejam iguais nos dois processos. PR O CE SS O P EN AL Não é possível a oposição de exceção de litispendência quando houver duplicidade de inquéritos apurando o mesmo fato. Isso, segundo a doutrina, não impede a impetração de habeas corpus visando o trancamento de um deles. A exceção pode ser oposta pela defesa no prazo da resposta à acusação (art. 396-A, CPP) e não suspende o andamento da ação penal. Registre-se, todavia, que a litispendência não está sujeita a prazo para que seja arguida, já que importa em nulidade absoluta. Assim, poderá ser suscitada em qualquer tempo, desde que antes da sentença. Enfim. Oposta a exceção e ouvido o Ministério Público, o juiz decidirá. Se rejeitada, o feito segue seu curso. Se acolhida, um dos processos será extinto. “De modo a se estabelecer qual processo deve ser mantido e qual deve ser extinto em face da litispendência, são levados em consideração critérios de prevenção ou de distribuição” (Lima, 2017). Se o juiz reconhecer a litispendência de ofício, caberá apelação (art. 593, II, CPP). “Isso porque se trata de decisão com força de definitiva, sem previsão no rol do art. 581 e que, por previsão legal expressa para casos subsidiários de resolução definitiva da demanda, é apelável” (Távora, 2017). PR O CE SS O P EN AL Caso o magistrado acolha a exceção de litispendência caberá recurso em sentido estrito (com fundamento no art. 581, III, CPP). Finalmente, se julgada improcedente a exceção de litispendência, não há recurso. Possível, contudo, a impetração de habeas corpus, mandado de segurança ou, ainda, arguição dessa matéria em preliminar de apelação. f) Exceção de coisa julgada Trata-se de uma exceção de natureza peremptória. Fundamenta-se no fato de que ninguém pode ser punido mais de uma vez pelo mesmo crime. Será oponível quando uma ação estiver tramitando em razão de fato já decidido noutro processo, por sentença transitada em julgado. O rito é o mesmo da exceção de incompetência (art. 110, CPP). Pode ser arguida verbalmente ou por escrito, em qualquer fase do processo. Há de se ter em mente que a exceção de coisa julgada não está sujeita à preclusão. Destarte, pode ser arguida em qualquer tempo pelos interessados desde que antes da sentença. Essa exceção, que tramitará em apartado, não suspende o andamento da ação penal. Ouvido o Ministério Público, o juiz decidirá. Se rejeitada, o feito segue seu curso. Se acolhida, o processo será extinto. Se o juiz reconhecer a coisa julgada de ofício, caberá apelação (art. 593, II, CPP), “porquanto se cuida de decisão com força de definitiva, não constante do rol do art. 581 e que é impugnável pelo apelo quando diante de casos genéricos de resolução definitiva da demanda” (Távora, 2017). PR O CE SS O P EN AL 4. CONFLITO DE JURISDIÇÃO Art. 114. Haverá conflito de jurisdição: I – quando duas ou mais autoridades judiciárias se considerarem competentes, ou incompetentes, para conhecer do mesmo fato criminoso; II – quando entre elas surgir controvérsia sobre unidade de juízo, junção ou separação de processos. O conflito de jurisdição pode ocorrer em duas situações: 1. dois ou mais juízes se consideram competentes (conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo) para julgar a causa; 2. quando aparecer controvérsia sobre junção ou separação de processos. Ao contrário da exceção de suspeição, em que só o réu pode suscitar o incidente, no conflito de jurisdição, pode fazê-lo qualquer das partes, o MP e quaisquer dos juízes ou tribunais atuantes na causa. O conflito de competência pode ser suscitado a qualquer momento , desde que antes do trânsito em julgado. Aliás, repare-se no que estabelece a Súmula 59 do STJ: Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado, proferida por um dos Juízos conflitantes. O conflito de jurisdição (e de competência) sempre decorrerá de manifestação escrita circunstanciada, deduzida pelos legitimados perante o órgão competente para dirimi-lo, expondo-se os fundamentos e acostando- se a documentação comprobatória pertinente. PR O CE SS O P EN AL 5. RESTITUIÇÃO DE COISAS APREENDIDAS Coisas apreendidas devem ser consideradas “aquelas que, presentes os requisitos necessários e observadas as formalidades [...], foram retiradas do local em que se encontravam ou do poder de quem as detinha, em face da importância que apresentam” (Capez, 2012). As apreensões, portanto, devem observar os direitos e garantias previstos na Constituição, atentando para as previsões da legislação infraconstitucional. Em síntese, podem derivar das atividades investigativas levadas a efeito pela autoridade policial quando toma conhecimento de um fato delituoso (art. 6o, II, CPP) ou, ainda, decorrer do cumprimento de mandado de busca (art. 240, CPP). Em regra, os objetos apreendidos em decorrência do crime não sendo ilícitos e não havendo dúvidas quanto quem o reclama, sreão devolvidos à pessoa pelo delegado pu pelo juiz, por meio de simples pedido de restituição.Porém, se tais objetos importarem ao processo, não poderão ser restituídos até o trânsito em julgado da sentença (art. 118, CPP). Se houver dúvidas a respeito do direito do reclamante deve ser instaurado o incidente de restituição de coisas apreendidas. Esse será feito pelo juiz, de ofício ou por meio de provocação de delegado ou do interessado PR O CE SS O P EN AL Devidamente autuado em apartado, esse incidente de restituição de coisas apreendidas será necessário em duas hipóteses: 1) Quando houver dúvida quanto ao direito do reclamante: nesse caso, o pedido de restituição deve ser autuado em apartado, assinando-se ao requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a prova, hipótese em que o incidente só poderá ser decidido pelo juízo criminal, não mais pela autoridade policial. Como se pode perceber, esse incidente de restituição surgiu a partir de um pedido de restituição no qual ficou constatada dúvida em relação ao direito do reclamante. 2) Quando as coisas forem apreendidas em poder de terceiro de boa- fé: nesse caso, este terceiro de boa-fé será intimado para alegar e provar o seu direito, em prazo igual e sucessivo ao do reclamante, tendo um e outro 2 (dois) dias para arrazoar. Aqui, o incidente pode surgir quando houver controvérsia entre a vítima e o acusado, ou respectivos familiares, e o terceiro que tenha adquirido o bem de boa-fé. Em ambas as hipóteses, será sempre ouvido o Ministério Público, nos termos do art. 120, § 3°, do CPP. Ouvido o Ministério Público, o incidente será instruído, respeitando a ampla defesa e o contraditório. Posteriormente, a questão será decidida. Se o juiz estiver convencido sobre o direito do reclamante, deferirá o pedido de restituição. Entretanto, remanescendo dúvida, remeterá as partes ao juízo cível. PR O CE SS O P EN AL Da decisão de deferimento ou indeferimento do pedido de restituição pela autoridade policial não cabe recurso . No primeiro caso (de deferimento), possível que o Ministério Público represente novamente pela apreensão do objeto ou impetre mandado de segurança; no segundo (indeferido), cabível mandado de segurança perante o juiz de primeira instância.Prevalece o entendimento de que contra a decisão proferida pelo juiz no incidente de restituição é cabível apelação (art. 593, II, CPP). Para parte da doutrina também caberia a impetração de mandado de segurança contra essa decisão. Nesse sentido, afirma Távora: “Da decisão acerca do pedido de restituição, cabe apelação, além da possibilidade de impetração de mandado de segurança” (Távora, 2017). 7. INCIDENTE DE FALSIDADE Cuida-se de procedimento que objetiva verificar a autenticidade de um documento anexado no processo criminal. O conceito de documento é amplo. Abrange documentos propriamente ditos, passando por imagens e áudios gravados em CD’s, pen drives etc. Pode ser instaurado exclusivamente na fase judicial, cujo andamento não se suspende. Sobre o momento para a instauração do incidente, o Código de Processo Penal não esclarece. A doutrina tende a defender a possibilidade de arguição a qualquer tempo. PR O CE SS O P EN AL havendo indícios de falsidade cabe à parte argui-la por escrito. São partes legítimas para tanto, o Ministério Público, o querelante, o acusado, seu defensor e o ofendido (aqui abrangido o assistente de acusação). O próprio juiz, de ofício, pode determinar a instauração do incidente. Note-se: o juiz poderá, de ofício, proceder à verificação da falsidade (art. 147, CPP). De acordo com o art. 146 do Código de Processo Penal, a argüição de falsidade, feita por procurador, exige poderes especiais. Nada impede, alternativamente, que a petição inicial seja assinada também pela parte. Essa exigência também se estende aos defensores dativo e público. O juiz analisará o requerimento e, reconhecendo a presença dos indícios de falsidade, determinará a autuação do incidente em apartado, conforme orienta o art. 145, inciso I do Código de Processo Penal. O magistrado, se concluir que se trata de arguição temerária, poderá indeferi-la liminarmente. Essa decisão desafia recurso em sentido estrito (art. 581, XVIII, CPP), assim como a decisão final do incidente. A propósito, como registra TÁVORA, “Esse recurso não é dotado de efeito suspensivo (art. 584, CPP), subindo ao tribunal de segunda instância “nos próprios autos do incidente” (Távora, 2017). PR O CE SS O P EN AL Instaurado o incidente, a parte adversa poderá se manifestar no prazo de quarenta e oito (48) horas de sua intimação. Na sequência, se não for parte, o Ministério Público será instado a se manifestar. Posteriormente, cada parte poderá apresentar as provas que pretenda produzir no prazo sucessivo de três (3) dias. O juiz, então, determinará a produção das provas que reputar pertinentes. Se rejeitada a impugnação, o documento será mantido no processo principal. Se acolhida, com a preclusão da decisão, o documento será desentranhado do feito e encaminhado junto com o incidente ao Ministério Público (para apurar a prática de infração penal), conforme orienta o art. 145, inciso IV do Código de Processo Penal. A instauração do incidente não suspende o processo principal por falta de previsão legal nesse sentido. Entretanto, “se o juiz considerar que a verificação da falsidade do documento é imprescindível para o julgamento do feito, pode converter o julgamento em diligência, nos exatos termos do art. 404, caput, do CPP, determinando o sobrestamento do feito”. E mais, “se a falsidade documental funcionar como questão prejudicial da questão principal, a suspensão do processo será obrigatória” (Lima, 2017). PR O CE SS O P EN AL 8. INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL O incidente pressupõe a existência de fundada dúvida a respeito da higidez mental do acusado. Essa dúvida refere-se tanto à época do fato delituoso quanto ao momento do inquérito ou processo; sua instauração poderá ocorrer tanto na fase investigativa quanto na fase judicial (inclusive durante a execução da pena). Entretanto, a realização do exame somente poderá ser deferida pelo juiz. Em alguns casos, pode ser que, durante o processo, surja dúvida sobre a sanidade mental do acusado, ato em que o magistrado solicitará perícia sobre o assunto (Art. 149, do CPP). A perícia poderá apresentar, obviamente, duas respostas: PR O CE SS O P EN AL R E S P O S T A S O A C U S A D O N Ã O É / E S T Á I N S A N O O A C U S A D O É / E S T Á I N S A N O O P R O C E S S O S E G U I R Á R E G U L A R M E N T E S E U C U R S O O J U I Z N O M E A R Á C U R A D O R P A R A A T U A R C O M O R E P R E S E N T A N T E L E G A L D O R É U . Uma vez confirmada a insanidade do réu, podem ainda surgir dois caminhos distintos: PR O CE SS O P EN AL R E S P O S T A S O A C U S A D O S ET O R N O U I N S A N O A P Ó S A P R Á T I C A D O D E L I T O O P R O C E S S O F I C A S U S P E N S O A T É S E U R E S T A B E L E C I M E N T O , S E N D O C A B Í V E L S U A I N T E N Ç Ã O E M M A N I C Ô M I O , N O S T E R M O S D O C P P . A realização do exame será determinada no feito principal, mas sua tramitação ocorrerá em apartado. Quando instaurar o incidente, o juiz deverá nomear curador ao acusado (que poderá ser seu defensor no processo principal) e suspender o processo. Não há se falar em suspensão, contudo, em relação às diligências urgentes, tampouco no que diz respeito a procedimentos investigativos (p.ex. inquérito). Como a lei nada esclarece a esse respeito, o prazo prescricional não é interrompido ou suspenso durante o incidente. O juiz deve, também, intimar as partes (Ministério Público, assistente de acusação, ofendido, querelante e acusado) para, querendo, apresentar quesitos e indicar assistente técnico. O A C U S A D O J Á E R A I N S A N O Q U A N D O P R A T I C O U O D E L I T O O P R O C E S S O S E G U I R Á C O M A P R E S E N Ç A D O C U R A D O R S E A D E S C O B E R T A S E D E R A P Ó S A C O N D E N A Ç Ã O , O C O R R E R Á A S U B S T I T U I Ç Ã O D A P E N A P O R M E D I D A D E S E G U R A N Ç A . PR O CE SS O P EN AL J U I Z D E T E R M I N A AI N S T A U R A Ç Ã O D O I N C I D E N T E D E I N S A N I D A D E M E N T A L A T R A V É S D E P O R T A R I A N O M E I A - S E U M C U R A D O R O C O R R E A S U S P E N S Ã O D O P R O C E S S O ; A P R E S C R I Ç Ã O C O R R E N O R M A L M E N T E M A N I F E S T A Ç Ã O D O S P E R I T O S E M A T É 4 5 D I A S ( P R O R R O G Á V E I S P E L O J U I Z ) A U T O S A P A R T A D O S S Ã O A P E N S A D O S A O S P R I N C I P A I S Havendo laudo que indique a cessação da periculosidade, o juiz determinará a desinternação ou a liberação condicional provisória do acusado. O prazo máximo da internação está bem esclarecido na Súmula 527 do STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado. De acordo com o art. 150, § 1º do Código de Processo Penal, o exame não durará mais de quarenta e cinco dias, salvo se os peritos demonstrarem a necessidade de maior prazo. Com a apresentação do laudo, as partes serão intimadas e poderão apresentar quesitos suplementares ou, ainda, requerer a oitiva do perito para esclarecimentos. O juiz poderá determinar que o perito complemente ou esclareça o laudo e, ainda, a realização de novo exame por outros peritos. Se regular o laudo, o juiz o homologará e o feito principal retomará seu curso. PR O CE SS O P EN AL 9. MEDIDAS ASSECURATÓRIAS Têm previsão legal entre os arts. 125 e 144-A do Código de Processo Penal. Além de garantir os interesses da União (no confisco) e do ofendido (na reparação do dano), servem como meio de combate à movimentação financeira derivada de infrações penais (lavagem de capitais, por exemplo). As medidas assecuratórias são verdadeiras medidas cautelares. A decretação, portanto, do arresto, do sequestro etc. está condicionada à decisão fundamentada (art. 5º, LIV c/c art. 93, IX, CF) da autoridade judiciária. Como são cautelares,as medidas assecuratórias dependem de fumus comissi delicti e de periculum. Falamos sobre isso quando tratamos de medidas cautelares. O primeiro pressuposto determina, basicamente, que se avalie se existem indícios suficientes para o oferecimento da inicial acusatória e até mesmo para a condenação e se estão ausentes indicativos de causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade. O segundo pressuposto exige que se observe se existe risco de que a demora da prestação jurisdicional possa eventualmente viabilizar a dilapidação do patrimônio do acusado. PR O CE SS O P EN AL Quanto a existência de contraditório, devemos observar o art. 282, §3º, CPP: § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). Isso significa que, em regra, deve haver contraditório prévio, ou seja, antes de o juiz determinar alguma das cautelares assecuratórias deve viabilizar que a defesa se manifeste. Entretanto, como o próprio dispositivo legal descreve, em casos de urgência ou perigo de ineficácia da medida, o exercício do contraditório pode ser posterior (diferido). 9.1. Sequestro Em resumo, é medida assecuratória que se destina à constrição de bens imóveis (art. 125, CPP) ou móveis (art. 132, CPP) adquiridos com o produto do crime, ainda que em poder de terceiros. Entretanto, na hipótese de o produto ou proveito do crime não ser encontrado ou se localizar no exterior, também poderá recair sobre bens ou valores equivalentes de origem lícita. PR O CE SS O P EN AL Quanto a existência de contraditório, devemos observar o art. 282, §3º, CPP: § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). Isso significa que, em regra, deve haver contraditório prévio, ou seja, antes de o juiz determinar alguma das cautelares assecuratórias deve viabilizar que a defesa se manifeste. Entretanto, como o próprio dispositivo legal descreve, em casos de urgência ou perigo de ineficácia da medida, o exercício do contraditório pode ser posterior (diferido). 9.1. Sequestro Em resumo, é medida assecuratória que se destina à constrição de bens imóveis (art. 125, CPP) ou móveis (art. 132, CPP) adquiridos com o produto do crime, ainda que em poder de terceiros. Entretanto, na hipótese de o produto ou proveito do crime não ser encontrado ou se localizar no exterior, também poderá recair sobre bens ou valores equivalentes de origem lícita. PR O CE SS O P EN AL O sequestro objetiva evitar que o acusado se desfaça desses bens aproveitando da demora processual. Além de visar a reparação do dano (art. 91, I, CP), também se destina ao confisco (art. 91, II, CP). Difere-se do arresto, que incide sobre a generalidade do patrimônio do indiciado ou réu. Como exemplo, podemos imaginar que alguém roube um carro e posteriormente o venda. Com o produto da venda do carro adquire valiosa coleção de livros. Esta coleção de livros é o provento da infração e caberá o sequestro (Dezem, 2018). Para que não haja dúvida: o sequestro não recai diretamente sobre o produto do crime em si. Para o produto do crime cabe busca e apreensão (art. 240, § 1º, ‘b’, CPP). A lei exige indícios veementes da procedência ilícita dos bens. Isso é menos que prova plena e mais do que meros indícios. Consiste em alta probabilidade de o bem ter procedência ilícita. Vejamos: Art. 126. Para a decretação do sequestro, bastará a existência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens. O juiz decreta o sequestro, a pedido do Ministério Público, da vítima (de seus representantes, se incapaz; de seus herdeiros, se morta), da autoridade policial, ou, ainda, de ofício. PR O CE SS O P EN AL Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou mediante representação da autoridade policial, poderá ordenar o sequestro, em qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa. O pedido é autuado em apartado (art. 129, CPP) e pode ser formulado tanto na fase investigatória como na judicial. Com a decretação, o juiz determina a expedição de mandado. Nos casos de bens imóveis o sequestro deve ser inscrito no cartório de registro de imóveis em que o bem esteja registrado (art. 128, CPP; art. 239 da Lei nº 6.015/1973), "de modo a dar formal publicidade à indisponibilidade do bem e resguardar direitos, especialmente em relação a terceiro, que não poderá alegar boa-fé caso adquira bem sujeito a tal constrição (Marcão, 2017). Em se tratando de veículos, perfeitamente possível a inscrição junto ao Detran. Não obstante o Código de Processo Penal indique os embargos como meio de resposta ao sequestro, “têm a jurisprudência e a doutrina consolidadas admitido, também, o uso do mandado de segurança e da apelação prevista no art. 593, II, do CPP com esse mesmo objetivo” (Avena, 2015). Os embargos constituem a resposta apresentada pela pessoa que teve o bem constrito. Podem ser opostos pelo acusado, pelo terceiro estranho à ação penal e pelo terceiro que adquiriu o bem do acusado de boa-fé (Lima, 2017). PR O CE SS O P EN AL O juiz penal competente para o incidente será aquele que julgará os embargos. “Como o Código de Processo Penal não fala do momento para a oposição dos embargos. Tratando-se de embargos do acusado, devemos aplicar, por analogia, o prazo do art. 738, do Código de Processo Civil, qual seja, 15 (quinze) dias contados da intimação” (Távora, 2017). A decisão que defere ou indefere o pedido de sequestro de bens comporta recurso de apelação, com fundamento no art. 593, II do CPP. Significa a perda da eficácia do sequestro, a cessação da medida cautelar, e ocorre nas hipóteses previstas no art. 131 do Código de Processo Penal: Art. 131. O sequestro será levantado: I - se a ação penal não for intentada no prazo de sessenta dias, contado da data em que ficar concluída a diligência; II - se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos os bens, prestar caução que assegure a aplicação do disposto no art. 74, II, b, segunda parte, do Código Penal; III - se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença transitada em julgado. Caso não ocorra o levantamento do sequestro, cabe ao magistrado decidir fundamentadamente, sobre o destino dos bens sequestrados, por ocasião da sentença. Inteligência do art. 387, § 1º do Código de Processo Penal: PR O CE SS O P EN AL § 1º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier a ser interposta. Segundo o art. 133 do Código de Processo Penal, com o trânsito em julgado, o juiz determinará a avaliação e a venda em leilão. O dinheiro obtido será utilizado na reparação do dano, no pagamento das despesas processuais e das penas pecuniárias (art. 140, CPP). O remanescente será confiscado e recolhido aos cofres públicos. Confira-se o teor dos dispositivos pertinentes: Art. 133. Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou a requerimento do interessado ou do MinistérioPúblico, determinará a avaliação e a venda dos bens em leilão público cujo perdimento tenha sido decretado. § 1º Do dinheiro apurado, será recolhido aos cofres públicos o que não couber ao lesado ou a terceiro de boa-fé. § 2º O valor apurado deverá ser recolhido ao Fundo Penitenciário Nacional, exceto se houver previsão diversa em lei especial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 140. As garantias do ressarcimento do dano alcançarão também as despesas processuais e as penas pecuniárias, tendo preferência sobre estas a reparação do dano ao ofendido. PR O CE SS O P EN AL 9.2. Hipoteca legal Consiste em direito real de garantia que incide sobre bens imóveis lícitos do acusado. Adverte AVENA “que existe entendimento no sentido de que é possível a especialização do patrimônio do terceiro, se este se constituir em corresponsável civil” (Avena, 2015). Essa medida visa garantir que o acusado tenha patrimônio para fazer frente a eventual indenização fixada em benefício do ofendido, sem que o bem seja transferido para o credor. É medida assecuratória fundada no interesse privado. Confira-se o que diz o art. 1489, III, do Código Civil: Art. 1.489. A lei confere hipoteca: [...] III - ao ofendido, ou aos seus herdeiros, sobre os imóveis do delinquente, para satisfação do dano causado pelo delito e pagamento das despesas judiciais; Como medida cautelar, a especialização da hipoteca legal também pressupõe o fumus boni iuris e o periculum in mora. Sobre o primeiro pressuposto, repare-se no que dispõe o art. 134 do Código de Processo Penal: Art. 134. A hipoteca legal sobre os imóveis do indiciado poderá ser requerida pelo ofendido em qualquer fase do processo, desde que haja certeza da infração e indícios suficientes da autoria. PR O CE SS O P EN AL Segundo o art. 134 do Código de Processo Penal, a especialização da hipoteca legal pode ser requerida pelo ofendido (seu representante legal, se incapaz; seus herdeiros, no caso de morte da vítima), pelo Ministério Público (quando, não havendo Defensoria Pública, a vítima for pobre e requerer, formalmente, que o parquet promova a especialização em seu nome ou quando houver interesse da Fazenda Pública). Art. 134. A hipoteca legal sobre os imóveis do indiciado poderá ser requerida pelo ofendido em qualquer fase do processo, desde que haja certeza da infração e indícios suficientes da autoria. Art. 142. Caberá ao Ministério Público promover as medidas estabelecidas nos arts. 134 e 137, se houver interesse da Fazenda Pública, ou se o ofendido for pobre e o requerer. Ao contrário do que ocorre em relação ao sequestro, na hipoteca legal é vedado ao juiz decretar a medida de ofício, também não sendo facultado ao delegado de polícia, na fase do inquérito, oferecer representação visando a esse fim. A hipoteca legal, de acordo com o art. 134 do Código de Processo Penal, pode ser requerida em qualquer fase do processo. Note-se: Art. 134. A hipoteca legal sobre os imóveis do indiciado poderá ser requerida pelo ofendido em qualquer fase do processo, desde que haja certeza da infração e indícios suficientes da autoria. PR O CE SS O P EN AL Embora o Código de Processo Penal nada diga sobre os instrumentos de defesa a doutrina traz: 1) Embargos de terceiro estranho à infração penal (art. 674 e ss. do CPC). 2) Substituição da hipoteca legal por caução. De acordo com o art. 135, § 6º do Código de Processo Penal: § 6º Se o réu oferecer caução suficiente, em dinheiro ou em títulos de dívida pública, pelo valor de sua cotação em Bolsa, o juiz poderá deixar de mandar proceder à inscrição da hipoteca legal. 3) Oitiva das partes no curso do procedimento de especialização e registro da hipoteca legal. 9.3. Arresto prévio É uma medida de natureza pré-cautelar que objetiva tornar os bens do acusado inalienáveis durante o requerimento de especialização da hipoteca legal. Encontra previsão legal no art. 136 do Código de Processo Penal, que estabelece: Art. 136. O arresto do imóvel poderá ser decretado de início, revogando- se, porém, se no prazo de 15 (quinze) dias não for promovido o processo de inscrição da hipoteca legal. PR O CE SS O P EN AL O juiz então, se presentes os pressupostos, deferirá o pedido e determinará o arresto preventivo e sua inscrição no registro de imóveis. Contudo, se não for promovido o processo de especialização da hipoteca legal dentro de quinze (15) dias da efetivação, o arresto será revogado (art. 136, CPP). Note-se: Art. 136. O arresto do imóvel poderá ser decretado de início, revogando- se, porém, se no prazo de 15 (quinze) dias não for promovido o processo de inscrição da hipoteca legal. Não cabe apelação, já que este é um recursos interposto contra decisões definitivas. PR O CE SS O P EN AL 9.4. Arresto subsidiário de bens móveis Segundo o art. 137 do Código de Processo Penal: Art. 137. Se o responsável não possuir bens imóveis ou os possuir de valor insuficiente, poderão ser arrestados bens móveis suscetíveis de penhora, nos termos em que é facultada a hipoteca legal dos imóveis. Assemelha-se à hipoteca legal, com a diferença de que incide apenas sobre bens móveis de origem lícita pertencentes ao acusado Está condicionado aos mesmos pressupostos, às mesmas condições de legitimidade e de oportunidade, bem como ao mesmo procedimento, que a especialização da hipoteca legal. Objetivamente, confiram-se algumas particularidades desse instituto: 1) é residual em relação à hipoteca legal (caráter subsidiário); 2) bens arrestados ficam em regime de depósito; podem permanecer com o réu ou com terceiros nomeados pelo juiz. Havendo órgão registral próprio (Detran, por exemplo), a imposição do ônus deve ser a ele comunicada. 3) suscetibilidade à penhora (art. 137, CPP). Ao contrário das demais medidas assecuratórias (sequestro, arresto prévio, especialização da hipoteca legal), esta modalidade de arresto não pode recair sobre bem móvel de família que guarnece a casa, porque impenhorável (art. 1º, parágrafo único da Lei nº 8.009/1990); PR O CE SS O P EN AL 4) das rendas dos bens móveis poderão ser fornecidos recursos arbitrados pelo juiz para a manutenção do indiciado e de sua família (art. 137, § 2º, CPP); 5) embora o Código de Processo Penal nada esclareça, possível utilizar o arresto prévio como medida pré-cautelar para o arresto. 9.5. Venda antecipada dos bens O art. 144-A do Código de Processo Penal viabiliza a alienação antecipada para preservação do valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção. Existe previsão da medida, ainda, na Lei nº 11.343/2006. A alienação antecipada será possível nas hipóteses do art. 144-A do CPP, ou seja, quando: 1) o bem estiver sujeito à deterioração ou depreciação; 2) houver dificuldade para manutenção do bem constrito. Poderão requerer a venda antecipada: 1) o acusado. É titular do bem e pode, sem assumir culpa, tentar diminuir o prejuízo decorrente da depreciação; 2) terceiro interessado; 3) ofendido ou assistente de acusação; 4) juiz, de ofício; 5) Ministério Público ou querelante. PR O CE SS O P EN AL A petição é dirigida ao juiz penal, autuada em apartado; nela, deve constar a individualização dos bens que, na concepção do requerente, devem ser alienados antecipadamente; a parte adversa será ouvida a respeito; o juiz determinará, então, a avaliação, que ainda poderá ser impugnada pelas partes; da decisão que homologa a avaliação, cabe apelação (art. 593, II, CPP), que não tem efeito suspensivo. O bem será vendido em leilão (preferencialmente eletrônico) pelo valor da avaliação ou por valor maior; entretanto, se o valor da avaliação não for atingido, será realizado novo leilão, em até 10 (dez) dias contados da realização do primeiro, podendo os bens ser alienados por valor não inferior a 80% (oitenta por cento) do estipuladona avaliação judicial (art. 144-A, § 2º, CPP). O produto da alienação ficará depositado em conta vinculada ao juízo até a decisão final do processo, procedendo-se à sua conversão em renda para a União, Estado ou Distrito Federal, no caso de condenação, ou, no caso de absolvição, à sua devolução ao acusado (art. 144, § 3º, CPP). Em caso de absolvição ou extinção da punibilidade o valor referente à alienação antecipada deve ser colocado à disposição do acusado. Na hipótese de a medida assecuratória ter recaído sobre bem de terceira pessoa, o valor obtido com a venda antecipada não deve ser devolvido ao acusado, mas sim ao verdadeiro titular do bem, que dele se viu privado e, portanto, deve receber o montante correspondente. PR O CE SS O P EN AL 9.6. AUTORIZAÇÃO DE USO A exemplo do que já acontece em lei especial (a Lei de Drogas já previa isso para crimes relacionados ao tráfico), o Pacote Anticrime abriu a possibilidade de bens apreendidos ou submetidos a qualquer medida assecuratória serem usados por órgãos públicos, em especial os de segurança, com prioridade para aqueles que atuaram no caso que ensejou a constrição. Essa autorização é precária/provisória e (pelo menos num primeiro momento) não transmite propriedade; é o juiz do caso que autoriza e, evidentemente, o uso do bem é absolutamente vinculado ao desempenho das atividades do órgão, revelando-se nisso interesse público e, ao mesmo tempo, em muitas situações, uma forma de conservar e evitar a depreciação/deterioração do bem. É notória a dificuldade que o Poder Público tem de guardar e/ou armazenar esses bens, muitos ficando literalmente ao relento. É medida que pode acontecer a qualquer momento da persecução penal e, como a norma não faz restrição, em relação a bens móveis e imóveis. Vejamos as disposições do Código de Processo Penal que cuidam disso: Art. 133-A. O juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a utilização de bem sequestrado, apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segurança pública previstos no art. 144 da Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da Força Nacional de Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, para o desempenho de suas atividades. PR O CE SS O P EN AL § 1º O órgão de segurança pública participante das ações de investigação ou repressão da infração penal que ensejou a constrição do bem terá prioridade na sua utilização. § 2º Fora das hipóteses anteriores, demonstrado o interesse público, o juiz poderá autorizar o uso do bem pelos demais órgãos públicos. § 3º Se o bem a que se refere o caput deste artigo for veículo, embarcação ou aeronave, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento em favor do órgão público beneficiário, o qual estará isento do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores à disponibilização do bem para a sua utilização, que deverão ser cobrados de seu responsável. § 4º Transitada em julgado a sentença penal condenatória com a decretação de perdimento dos bens, ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa-fé, o juiz poderá determinar a transferência definitiva da propriedade ao órgão público beneficiário ao qual foi custodiado o bem. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019). Repare que o documento provisório (§ 3º), assim como a transferência definitiva (§ 4º), devem ser feitos em favor do órgão beneficiário e não de eventual autoridade nominada ou pessoa individualizada – é ato impessoal em prol do interesse público. Enfim, desde que observado o interesse público e essencialmente em relação a bens duráveis, é possível o uso provisório de bens constritos; a medida vem ao encontro do aparelhamento do Estado na consecução dos seus fins, principalmente o combate à criminalidade. PR O CE SS O P EN AL R E F E R Ê N C I A S G O N Ç A L V E S , V i c t o r E d u a r d o R i o s ; R E I S , A l e x a n d r e C e b r i a n A r a ú j o . D i r e i t o P r o c e s s u a l P e n a l e s q u e m a t i z a d o . 8 . e d . – S ã o P a u l o : S a r a i v a E d u c a ç ã o , 2 0 1 9 . L I M A , R e n a t o B r a s i l e i r o d e . M a n u a l d e p r o c e s s o p e n a l : v o l u m e ú n i c o . 8 . E d . S a l v a d o r : E d . J u s P o d i v m , 2 0 2 0 . L O P E S J U N I O R , A u r y . D i r e i t o p r o c e s s u a l p e n a l . 1 7 . e d . – S ã o P a u l o : S a r a i v a E d u c a ç ã o , 2 0 2 0 . M O U G E N O T , E d i l s o n . C u r s o d e p r o c e s s o p e n a l . 1 3 . e d . S ã o P a u l o : S a r a i v a E d u c a ç ã o , 2 0 1 9 . N U C C I , G u i l h e r m e d e S o u z a . C ó d i g o d e P r o c e s s o P e n a l . 1 9 . e d . – R i o d e J a n e i r o : F o r e n s e , 2 0 2 0 . _ _ _ _ _ . C u r s o d e d i r e i t o p r o c e s s u a l p e n a l . 1 7 . e d . R i o d e J a n e i r o : F o r e n s e , 2 0 2 0 . P A C E L L I , E u g ê n i o ; C A L L E G A R I . M a n u a l d e D i r e i t o P e n a l . 5 . e d . – S ã o P a u l o : A t l a s , 2 0 1 9 . T R I N D A D E , D a n i e l M e s s i a s d a . C ó d i g o d e P r o c e s s o P e n a l d e s t a c a d o e a n o t a d o . E d i t o r a T r y a d .
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