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Paula Turra Provensi TXVII-02 1 TOC – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO Introdução Comportamentos ritualísticos fazem parte da nossa vida diária, como separar roupa antes de irmos para a cama, como também um cuidado excessivo quando algum familiar está doente. - Todas pessoas em algum momento desenvolvem rituais, mas isso não significa que temos TOC Exemplo: brincadeira de não pisar no risquinho da calçada, não pisar em lajotas com determinadas características CONCEITO - TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo - O TOC envolve: Alterações de pensamento: preocupações excessivas, dúvidas, frases que invadem o pensamento da pessoa, emoções, desconforto, medo e ansiedade muito grande de uma aflição e o sentimento de culpa. Comportamentos: presença de rituais, repetições e evitações EPIDEMIOLOGIA Prevalência 2,5% - 4% 1 / 40 a 50 indivíduos Indivíduos jovens Homens e mulheres sem diferença/ crianças acomete mais sexo masculino As mulheres podem ser mais acometidas que os homens, mas não chega a uma relação 2:1 é mais 1,2 : 1 Indivíduos divorciados, separados e desempregados ETIOLOGIA - Não é bem esclarecido o que causa o TOC, mas pode-se falar em: Fatores Neurobiológicos: paciente após traumatismos, lesões ou infecções em que o paciente começa a apresentar sintomas de TOC. • Streptococcus beta-hemolíticos do grupo A: achava-se que após infecções por esses microorganismos, como amigdalite, depois disso os pacientes desenvolviam febre reumática então eles apresentavam infecções das articulações, coração, das valvas e coréia. Com essa sintomatologia eles começavam a apresentar sintomas do TOC, como: obsessões e compulsões. Fatores genéticos: uma predisposição genética de 4 a 5 vezes em familiares de 1° grau quando alguém já tem TOC. • Gêmeos monozigóticos 80%, dizigóticos 50% • Inúmeros genes pequeno efeito Disfunção serotoninérgica: estudos de imagem que evidenciaram que tem um excesso de atividade nos lobos centrais e núcleos da base principalmente núcleo caudado, putame e também o tálamo • Sabe-se que a serotonina tem participação porque a maioria dos pacientes respondem muito bem ao ISRS, mas também, além da serotonina, temos Dopamina que está possivelmente envolvida. Fatores psicológicos e ambientais: podem ajudar a desencadear os sintomas em pacientes que tenham vulnerabilidade genética. Muitas vezes vemos pela história clínica história de abuso físico e sexual relacionado a isso. APRESENTAÇÃO CLÍNICA - Pacientes apresentam compulsões, que demandam um certo tempo, ocorrendo dificuldades sociais, familiares, profissionais e acadêmica. EX: atendi uma vez que era telefonista de um hospital e nunca se percebeu que ela tinha sintomas de TOC. Antes de levantar e atender uma ligação ela fazia um movimento com a mão no teclado do telefone e batia em determinados números, ela não conseguia atender a chamada sem fazer isso, mas isso não tomava muito tempo dela, isso não incomodava ela. Um dia uma Paula Turra Provensi TXVII-02 2 colega de trabalho chegou um pouquinho mais cedo e ficou ali com ela conversando e percebeu isso. - No TOC vamos ver uma persistência e uma recorrência de obsessões. - Obsessões por: frases, palavras, pensamentos, imagens que invadem a consciência da pessoa causando desconforto, medo, angústia, aflição e alguns pacientes vão apresentar então as compulsões ou rituais e eles fazem essas compulsões e rituais muitas vezes para aliviar essa atenção e esse desconforto que as obsessões ocasionam. - Os rituais duram em média 1 hora ou mais e causam ‘’perda de tempo’’ - CID: exige além disso a presença por no mínimo de duas semanas de sintomas. - Heterogêneo: apresentação clínica, à gravidade, curso e à resposta ao tratamento. - Evidência de subgrupos: início precoce ou tardio, associado à tiques ou ao T. Tourette, à febre reumática. OBSESSÕES - São pensamentos, ideias, magens, frases ou impulsos - Podem ser repetitivas ou persistentes, e são vistas como estranhas, impróprias - Causa um desconforto, medo e angústia - Tipos: Sujeira, contaminação; Dúvidas; Simetria, perfeição, exatidão ou alinhamento; Impulsos ou pensamentos de ferir, insultar, ou agredir outras pessoas; Sexo ou obscenidades; Preocupação com doenças ou com o corpo; Religião (pecado, culpa,sacrilégios); Pensamento mágico (números, cores). EX: Eu tenho uma paciente minha, que depois que ela teve o filho dela, ela queria muito engravidar, se planejou e tudo mais. E vinha muito na cabeça dela o impulso de pegar uma faca e picar o filho dela, e ela sofria muito, chorava muito por isso. Ela falava ‘’ Dra, eu não quero fazer isso, eu tenho muito medo disso acontecer’’. Ela então passou a esconder todas as facas, só ficava com o filho dela no colo quando tinha alguém junto, então passou a causar um sofrimento muito grande nela de realmente ela vir a fazer isso por conta desse impulso que vinha na cabeça dela COMPULSÃO - Está relacionada aos comportamentos ou atos. - Tem que ser relatada, não conseguimos observar - Ela visa minimizar sofrimentos das obsessões - É voluntaria e repetitiva - Tipos Lavagem ou limpeza; Verificações; Repetições ou confirmações; Ordem, arranjo, simetria, alinhamento; Guardar ou colecionar coisas inúteis; Rezar, repetir palavrões; Tocar, olhar, confessar. - As mais comuns são: sujeira e/ou contaminação, as de simetria, as de armazenagem e os pensamentos de conteúdo mágico, agressivo ou sexual - EX: ‘’ Tem outra paciente minha que é advogada e ela tem um pensamento que quando ela sai na rua de carro ela pensa que atropelou alguém, ela sai do fórum, faz sempre o mesmo trajeto e muitas vezes ela volta várias vezes pra ver se não ficou uma pessoa caída na rua, sempre que chega em casa abre a CGN ver se tem algum acidente no caminho e horário que ela fez, e chama a mãe para ajudá-la conferir.’’ EX: ‘’ Tenho muitas dúvidas, repetindo várias vezes a mesma tarefa ou pergunta para ter certeza que de que não vou errar’’ DIAGNÓSTICO – CID 10 - F42: Sintomas obsessivos, atos compulsivos ou ambos devem estar presentes na maioria dos dias por pelo menos duas semanas consecutivas e ser uma fonte de angústia ou de interferência com as atividades - Características que os sintomas obsessivos e compulsivos devem ter: eles devem ser reconhecidos como pensamentos ou impulsos do próprio indivíduo; deve haver pelo menos um pensamento ou ato que é ainda resistido, sem sucesso, ainda que possam estar presentes outros aos quais o paciente não resiste mais o pensamento de execução do ato não deve ser em si mesmo prazeroso • o simples alívio de tensão ou ansiedade não é, neste sentido, considerado como prazer Paula Turra Provensi TXVII-02 3 os pensamentos, imagens ou impulsos devem ser desagradavelmente repetitivos. - F42.0: Predominantemente pensamentos obsessivos ou ruminações - F 42.1: Predominantemente atos compulsivos (rituais obsessivos) - F 42.2: Pensamentos e atos obsessivos mistos CURSO E PROGNÓSTICO - É crônico - Pode causar interferências familiares EX: uma paciente que eu tratava a muito tempo e ela nunca tinha me contado isso do marido, ela disse pra mim que pensava várias vezes em se separar devido ao toc do marido, mas ai ficava pensando também nas minhas filhas e no tanto de tempo que a gente passou juntos e tento dar uma segurada, mas a gente sabe que trás um desconforto para os familiares. - O tempo entre início dos sintomas e tratamento é de 7 ANOS - Pode ser de leve → grave - Diminui a capacidade funcional - Causa prejuízos no meio social, profissional COMORBIDADES Depressão Fobias → social e específica Abuso de álcool Transtorno do pânico Transtornos alimentares Transtorno de Tourette DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - Muitas vezes na história clínica do paciente não fica muito claro, porque pode ter algum sintoma que o paciente acha que não faz parte do quadro, então ele não conta Fobia Social; Fobia Específica; Transtornos do controle de impulsos; Hipocondria; Transtorno de personalidade OC; Tiques. TRATAMENTO - Geralmente são usadas doses mais altas dos medicamentos - TRICÍCLICOS CLOMIPRAMINA 100-300 MG/DIA 200 MG/DIA - INIBIDORES SELETIVOS DE RECAPRAÇÃO DE SEROTONINA FLUVOXAMINA: 100-300 MG/DIA 200 MG/DIA FLUOXETINA 20-80 MG/DIA 50 MG/DIA SERTRALINA 50-250 MG/DIA 150 MG/DIA PAROXETINA 20-60 MG/DIA 50 MG/DIA CITALOPRAM 20-60 MG/DIA 50 MG/DIA - TCC- Terapia Cognitivo Comportamental: é a terapia que traz um resultado melhor para pacientes com TOC - Avaliar cada caso, pois alguns pacientes se recusam a aderir a determinados tratamentos - Geralmente utilizamos monoterapia de inibidores ou de tricíclicos, começamos com dose baixa e vamos aumentando e avaliando resposta, avaliando a presença ou não de efeitos colaterais, o quanto estes efeitos colaterais podem trazer um prejuízo para a pessoa, dependendo da intensidade destes efeitos a gente se obriga a trocar a medicação ou diminuir doses, fazer associações. Pode-se também potencializar com doses baixas de antipsicóticos de preferência atípico que trazem menos efeitos colaterais. - Em muitos casos, vamos associar a TCC ou vamos indicar primeiramente só a TCC em sintomas leves ou moderados ou quando os pacientes não querem o uso de medicação e querem primeiro tentar fazer outra coisa como, a terapia, constelação, ou seja, outras abordagens. - Gestantes são encaminhadas a TCC para evitar uso de medicações - Pacientes com transtorno de humor precisam bastante de atenção, porque eles podem estar muito bem estabilizados com seus estabilizadores e, se entramos com uma dose muito alta de antidepressivo, podemos fazer com que eles entrem para um polo de mania, então é preciso muita atenção. CASO CLÍNICO - Uma jovem de 16 anos é trazida ao psiquiatra pela mãe. A paciente afirma que nos últimos seis meses tem tomado longos banhos, de até cinco horas. Diz que não consegue evitar esse comportamento, embora isso a perturbe e esteja deixando sua pele machucada e sangrando. Relata Paula Turra Provensi TXVII-02 4 que os sintomas começaram depois que passou a ter pensamentos recorrentes de estar suja. Tais pensamentos lhe ocorrem várias vezes por dia e ela vai ficando cada vez mais ansiosa até ir se lavar. Refere que o tempo que passa no banho está aumentando porque precisa se lavar em uma ordem específica para evitar que a “espuma limpa” do sabonete não se misture com a “espuma suja”, pois quando isso acontece, precisa repetir todo o procedimento desde o início. Diz que deve estar louca por ter esse pensamento e por tomar banho tantas horas por dia, mas não consegue evitar esse comportamento. Sua mãe confirma o relato. Conta que a filha sempre foi popular na escola e que tem muitos amigos. Enfatiza que a filha nunca usou nenhum tipo de substância psicoativa. PERGUNTAS DA AULA 1) O paciente com TOC pode ter pensamentos suicidas? R: Ele pode. Isso não faz parte do TOC, não é necessário que ele tenha esses pensamentos. Pacientes graves que apresentam grande sofrimento podem vir a pensar em tirar sua vida para acabar com o sofrimento em relação às obsessões e compulsões - em casos gravíssimos, por exemplo. 2) Existe um gatilho para desenvolver TOC? Existem fatores de situações de estresse, a pessoa está vivenciando alguma situação traumática que pode ser um gatilho para uma PESSOA VULNERÁVEL, ela vai ter um componente genético, ou seja, uma vulnerabilidade genética para começar, naquele momento, os sintomas do TOC. (ela fala que a paciente do “atropelamento” nunca passou por nada relacionado a isso e que, além disso, quando a mulher fala um pouco mais alto com o filho, ela tem medo de que alguma câmera pense que ela está maltratando o filho e começa a pedir inúmeras desculpas). 3) A maioria das pessoas não terão remissão? Não, uma grande parcela, em torno de 50% a 60% das pessoas têm remissão sim dos sintomas com tratamento, algumas até podem ter remissão dos sintomas, uma quantidade menor, sem o tratamento, sumir, mas pode voltar em algum outro momento da vida. Então, não falamos para o paciente que ele está curado da doença, mas sim que ele está estabilizado, que ele está bem, sem sintomas, mas isso não quer dizer que isso não pode retornar com o mesmo tipo ou com um outro tipo diferente. Agora ela conta da paciente que não conseguia dormir se o sapato estivesse virado para cima. Se a sola do sapato ficasse virada para cima, ela achava que alguma coisa iria acontecer com os pais, que os pais iriam morrer. Ela começou com isso já na adolescência. Além disso, ela tinha que colocar e tirar o pé do sapato tantas vezes fosse necessário até ela se sentir tranquila. Ela começou também com transtorno alimentar - anorexia - ela sabia as calorias de todos os alimentos, ficava verificando se tinha aumentado algum grama do seu peso, ela nem tinha características secundárias femininas de tão magra, ela era reta e falava para a Dra. que ela estava com barriga. Por um tempo os sintomas melhoraram, mas depois, ela foi morar sozinha para fazer faculdade e esse fator estressor fez com que ela desenvolvesse rituais rígidos e aí que ela foi conversar e se lembrar daqueles momentos da adolescência. Ela se formou, fez o tratamento, mas voltou para a casa dos pais. Ela foi trabalhar em um escritório e não conseguia exercer sua função de fazer ligações o que revelou sua fobia social. Ela passou a trabalhar com o pai em uma salinha que ela não sai de dentro. (eu dei uma resumida no caso)
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