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Faculdade UNIRON Disciplina: Criminologia Prof. Péricles José Queiroz Conteúdo disposto com caráter eminente acadêmico 1 1. CONCEITOS DE DIREITO PENAL Conceito de direito (IED): é um conjunto de normas jurídicas, imposto coercitivamente pelo Estado, que regula as condutas humanas, impondo as respectivas sanções em caso de descumprimento. Conceito formal ou estático Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que regula o exercício do poder punitivo do Estado, definindo as infrações penais (crime ou contravenção) e cominando (prescrevendo, impondo) as respectivas sanções penais (pena ou medida de segurança). O art. 1º da LICP estabelece a distinção entre crime e contravenção, dispondo que: i. crime: é a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, isoladamente, ou alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; ii. contravenção (crime anão): a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. Entre essas normas jurídicas penais, também se incluem as normas de aplicação geral, ou seja, normas que, em princípio, podem ser aplicadas a qualquer esfera do direito penal, seja nos tipos previstos na parte especial do CP ou nas leis penais extravagantes, se estas (leis extravagantes) não dispuserem de modo contrário, conforme art. 12 do CP. Nesse aspecto, tais normas regulam a aplicação de outras normas penais aos casos concretos, através da conceituação de atenuantes, agravantes, dolo, culpa, crime consumado, crime tentado etc. Conceito material É o direito que cuida dos comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos à vida gregária, afetando bens jurídicos indispensáveis a própria conservação e desenvolvimento da sociedade. Conceito social Em uma perspectiva social, o Direito Penal é um dos modos de controle social utilizados pelo Estado. Sob o enfoque minimalista (Direito Penal de intervenção mínima), esse modo de controle social deve ser subsidiário, ou seja, somente estará legitimada a atuação do Direito Penal diante do fracasso de outras formas de controle jurídicas (Direito Civil e Direito Administrativo, por exemplo) ou extrajurídicas, tais como a via da família, da igreja, da escola, do sindicato, as quais se apresentam atuantes na tarefa de socializar o indivíduo. * o direito penal é o ramo do direito que traz a consequência jurídica mais drástica de todas → intervenção mínima. Faculdade UNIRON Disciplina: Criminologia Prof. Péricles José Queiroz Conteúdo disposto com caráter eminente acadêmico 2 2. Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo O Direito Penal objetivo é o conjunto das leis penais em vigor no país. Constitui-se das normas penais incriminadoras e não-incriminadoras. Direito Penal subjetivo é o direito de punir do Estado (jus puniendi), ou seja, o direito do Estado de aplicar as normas penais. Nasce no momento em que é violado o conteúdo da lei penal incriminadora. O direito de punir possui três momentos: i) ameaça da pena (pretensão intimidatória); ii) aplicação da pena (pretensão punitiva); iii) execução da pena (pretensão executória). LIMITES = o poder de punir não é absoluto, ilimitado, incondicionado: + limite temporal = prescrição (CP, arts. 107, IV e 109 e ss). + limite espacial = territorialidade (CP, art. 5º). + limite modal = direitos e garantias fundamentais (ex: vedação às penas cruéis). As normas penais, além de criarem o direito de punir do Estado, conferem direitos para o próprio cidadão, uma vez que também possuem a função de limitar o próprio jus puniendi, garantindo ao cidadão, dentre outros direitos, o direito do cidadão não ser punido por fatos não definidos em lei, evitando a arbitrariedade do Estado. 3. Direito Penal do fato, Direito Penal do autor e Direito Penal do fato que considera o autor A expressão Direito Penal do fato significa que as leis penais somente devem punir fatos causados pelo homem e lesivos a bens jurídicos de terceiro. Não se pune o pensamento, mas sim as manifestações exteriores do ser humano. O Direito Penal do autor é marcado pela punição de pessoas que não tenham praticado nenhuma conduta. Pune-se alguém pelo seu modo de ser ou pela sua característica ou condição pessoal e não pelo seu fato. • Historicamente, pode ser lembrado como Direito Penal do autor o da Alemanha nazista, no qual não existiam propriamente crimes, mas criminosos. Em tempos atuais, com ele guarda sintonia o Direito Penal do inimigo, idealizado pelo alemão Günther Jakobs. O Direito Penal do fato que considera o autor se dá nas leis penais que tipificam fatos (modelo de conduta proibida) e não o perfil psicológico do autor. Porém, condições ou qualidades do autor também são consideradas dentro do quadro de punibilidade do fato, como a personalidade e os antecedentes criminais, utilizados como critérios na aplicação da pena (Francisco de Assis Toledo). Faculdade UNIRON Disciplina: Criminologia Prof. Péricles José Queiroz Conteúdo disposto com caráter eminente acadêmico 3 4. Velocidades do Direito Penal É o tempo que o Estado leva para punir o autor de uma infração mais ou menos severa. 4.1. Direito Penal de 1ª velocidade, Direito Penal da Prisão ou Direito Penal Nuclear É o direito penal que assegura todos os critérios clássicos de imputação e os princípios penais e processuais penais tradicionais, mas permite a aplicação da pena de prisão, embora como última razão. Tem como característica ser extremamente garantista e, logo, um direito penal lento. Direito penal garantista é o direito penal que respeita os direitos e as garantias do ser humano. Trata-se, assim, do Direito Penal clássico, que protege bens jurídicos individuais e, eventualmente, supraindividuais, sempre que efetivamente houver lesão ou perigo concreto de lesão. Várias oportunidades para a defesa intervir, prazos dilatados de defesa, oitiva de um número elevado de testemunhas, diversas de oportunidades de recursos. Nesse nível de intensidade, o Direito Penal é reduzido ao seu núcleo duro (direito penal nuclear). + 1ª velocidade = crimes graves e penas severas (PPL) → procedimento mais moroso, pois devem ser conferidas as garantias processuais (CPP) 4.2. Direito Penal de 2ª velocidade, Direito Penal sem Prisão e Direito Penal Periférico ou Reparador É o Direito Penal das penas alternativas ou das penas restritivas de direito (art. 43, CP), da pena de multa, daí se dizer Direito Penal Periférico. A grande maioria dos crimes pertence a esse bloco, pois não levam à perda da liberdade. É um direito penal mais rápido, pois permite a flexibilização (relativização) das garantias penas e processuais penais. Exs.: Lei 9.099/95 (cíveis e criminais; transação penal, em que não há advogado, não há processo nem denúncia); art. 28 da lei de drogas (despenalização). + 2ª velocidade = infrações de menor potencial ofensivo e penas mais amenas (PRDs) → flexibilização de direitos e garantias, com maior celeridade processual (Lei nº 9.099/1995) 4.3. Direito Penal do Inimigo (3ª velocidade) Teoria criada pelo alemão Gunher Jakobs. Tem seu início da década de 1980, época em que teve a queda do muro de Berlim. Nessa oportunidade, o direito penal do inimigo surgiu como um direito penal do medo (do novo, do desconhecido). Quando da queda do muro de Berlim, os alemãs ocidentais (mais ricos) tinham medo do convívio e contato com os alemãs orientais. Por sua vez, no Brasil, era época do fim da ditadura militar, da vitória do constituinte com a promulgação da Constituição de 1988, sobrevindo as eleições diretas. Faculdade UNIRON Disciplina: Criminologia Prof. Péricles José Queiroz Conteúdo disposto com caráter eminente acadêmico4 Nessa época, todo o mundo estava caminhando para a democracia. Por isso, a Teoria do Direito Penal do Inimigo não vingou, pois era uma Teoria de cunho autoritário, que não se coadunava com a democracia que se pregava na época. Após os ataques aos Estados Unidos em 2001, começou-se a questionar que o Direito Penal de então (garantista) não tinha condições de combater a forma de criminalidade que vigorava. Nessa ocasião, reaparece a Teoria de Jackobs, Direito Penal do Inimigo, cujo ápice se deu em 2003, com a publicação do livro “Direito Penal do Inimigo”. Para essa teoria, o inimigo é a antítese do cidadão. Nesse aspecto, o indivíduo deixa de ser cidadão para se transformar em inimigo. Essa transformação se dá quando o sujeito pratica um crime grave; em seguida, há reiteração do crime grave; disso, transforma-se em criminoso habitual, isto é, aquele que faz da prática de crime uma forma de vida; nisso, torna-se inimigo, quando entra numa organização criminosa ou grupo terrorista (estruturas ilícitas de poder, com regras próprias, comando próprio, uma hierarquia bem definida, que não respeitam as leis do Estado). Os integrantes dessas estruturas não apresentam um mínimo de segurança cognitiva de comportamento pessoal. Tais inimigos querem destruir o Estado. Depois de dividir as pessoas em cidadão e inimigo, Jackobs constrói dois Direitos Penais: a) Direito penal do cidadão: aplicável ao delinquente-cidadão. A grande maioria das pessoas, incluindo os criminosos, são cidadãos. É um Direito Penal garantista, respeitando os direitos e garantias do cidadão. Ele pune, mas respeita tais direitos e garantias previstos na Constituição e nas leis. É um direito penal retrospectivo, que considera o ato que o agente praticou e tem como fundamento a culpabilidade. É um direito penal do fato, pois o sujeito é julgado pelo fato típico e ilícito que ele praticou. Nesse caso, apesar de haver apesar de haver danificação à vigência da norma, o infrator deve ser chamado de modo coativo, como cidadão, a equilibrar o dano. Esse equilíbrio se dá com a aplicação da pena. b) Direito penal do inimigo: aplicável ao delinquente-inimigo. Poucos criminosos são tratados como inimigos. É um direito penal extremamente autoritário, prospectivo, pois tem como fundamento a periculosidade do agente. É um direito penal que olha para o futuro, pois o inimigo não é julgado pelo que ele fez no passado, mas o que ele pode fazer no futuro. O que vale é o que o sujeito pode vir a fazer, considerando o risco social que ele representa. É um direito penal do autor, que estereotipa determinadas pessoas como inimigas e, nesse aspecto, tal inimigo precisa ser vencido. Isso porque o inimigo não possui a condição de cidadão, tendo em vista que não cumpre a sua função no corpo social ao deixar de satisfazer, de forma duradoura, mínimas expectativas normativas. Assim, pode-se apontar como características do Direito Penal do inimigo: a) processo mais célere visando à aplicação da pena; b) penas desproporcionalmente altas; c) suprimento ou relativização de garantias penais e processuais penais; d) o inimigo perde sua qualidade de cidadão (sujeito de direitos); e) o inimigo é identificado por sua periculosidade, de sorte que o Direito Penal deve punir a pessoa pelo que ela representa (Direito Penal prospectivo). Faculdade UNIRON Disciplina: Criminologia Prof. Péricles José Queiroz Conteúdo disposto com caráter eminente acadêmico 5 Questão: Todo criminoso é inimigo? Não. Há um processo evolutivo para se transformar em inimigo. Questão: Para o cidadão se tornar inimigo, precisa cumprir todo o processo evolutivo? Não. Uma vez que entra numa organização criminosa ou grupo terrorista, torna-se inimigo. Questão: O Direito Penal do Inimigo é compatível com o direito brasileiro? Não. O art. 5º, caput, da CF/88, estabelece que todos são iguais perante a lei, logo, não é possível dividir as pessoas em dois grupos (cidadão e inimigo). Além disso, nossa Constituição é marcada pela prevalência dos direitos humanos. Informalmente, porém, é prática comum no Brasil (Direito Penal subterrâneo). Questão: Por que o Direito Penal do Inimigo é a terceira velocidade do Direito Penal? Porque ele é rápido, com uma pena de prisão. Defende a chamada prisão indeterminada. + 3ª velocidade = crimes mais graves e penas mais severas (PPL) → incongruência = flexibilização de direitos e garantias, com maior celeridade processual (Lei nº 12.850/2013). 4.4. Neopunitivismo ou Panpenalismo (4ª velocidade) Neopunitivismo é a nova forma de punir. Panpenalismo é um Direito Penal total. A 4ª velocidade é usada para julgamento de crimes de guerras, praticados por antigos chefes de Estado que foram derrubados, tirados do poder. É um direito penal mais autoritário do que o Direito Penal do Inimigo, pelos seguintes motivos: I) viola os princípios da reserva legal e da anterioridade. No caso, o tipo penal é criado após a prática do fato; II) viola o princípio do Juiz natural, ao criar os Tribunais “ad hoc” ou de exceção, defendendo a validade desses Tribunais. O Juiz natural é o previamente competente para o julgamento do fato; III) sistema acusatório: as atividades de acusar, defender são desempenhadas por um único agente. Seria o modelo de sistema penal utilizado pelo Tribunal Penal Internacional, com restrição e supressão de garantias penais e processuais penais de réus que no passado ostentaram a função de chefes de estado e, como tal, violaram gravemente tratados internacionais que tutelam direitos humanos. + 4ª velocidade = verificação do descumprimento de direitos fundamentais previstos em tratados internacionais → direito penal internacional. Faculdade UNIRON Disciplina: Criminologia Prof. Péricles José Queiroz Conteúdo disposto com caráter eminente acadêmico 6 5. Finalidade do Direito Penal Finalidade preventiva: antes de punir, quer evitar o crime. Através da definição da infração penal, o legislador penal pretende expor aos indivíduos em sociedade aquilo que é vedado fazer (ação) ou deixar de fazer (omissão). Através da sanção penal, o legislador visa atingir o sentimento de temor (intimidação) ou o sentimento ético das pessoas, a fim de que a conduta seja evitada (prevenção geral). Se, porém, falhar essa intimidação, segue-se ao processo de condenação do infrator, com a imposição da sanção penal; daí, na fase de execução da pena, essa intimidação passa a atuar sobre a pessoa do condenado (prevenção especial), a fim de estimulá-lo à regeneração ou ressocialização (caráter retributivo da pena). 6. Funções do Direito Penal O Direito Penal não se constitui em disciplina meramente acadêmica. Cuida-se, ao contrário, de importante instrumento para a convivência dos homens em sociedade. Mas não é só. Possui, atualmente, diversas funções. Vejamos as principais: 6.1. Direito Penal como proteção de bens jurídicos O que é bem jurídico? Bens jurídicos são valores ético-sociais reconhecidos e protegidos pelo Direito e imprescindíveis à satisfação das necessidades do indivíduo ou da sociedade. Nem todos os bens são bens jurídicos. No imenso número de bens existentes, o direito seleciona aqueles que considera dignos de proteção O bem jurídico pode se apresentar de diferentes formas, seja como objeto imaterial ou situação social (vida, honra, inviolabilidade de domicílio, casamento ou parentesco, propriedade, lealdade dos funcionários públicos). O bem jurídico, assim, é relevante para o direito penal pois orienta o legislador a elaboração do tipo penal, esclarecendo o seu conteúdo. Direito penal e os bens jurídicos A proteção de bens jurídicos é a função precípua, que fundamenta e confere legitimidade ao Direito Penal. No âmbito do direito penal, que é mais gravoso,há bens jurídicos que exigem uma proteção especial e essa proteção só poderá melhor dada pela norma penal, mais gravosa, tendo em vista que as outras áreas do direito se revelam insuficientes para a sua proteção. • para criação do tipo penal, além da ofensa real ou potencial ao bem jurídico, outros elementos são necessários, como a análise dos elementos subjetivos, a antijuridicidade, a culpabilidade. • Para a doutrina, o conteúdo material para o injusto penal é a lesão ou a exposição a perigo de um bem jurídico (Francisco de Assis Toledo). Faculdade UNIRON Disciplina: Criminologia Prof. Péricles José Queiroz Conteúdo disposto com caráter eminente acadêmico 7 Todos os bens jurídicos são tutelados pelo direito penal? Apenas os interesses mais relevantes são erigidos à categoria de bens jurídicos penais, em face do caráter fragmentário e da subsidiariedade do Direito Penal. O legislador seleciona, em um Estado Democrático de Direito, os bens especialmente relevantes para a vida social e, por isso mesmo, merecedores da tutela penal. Dessa forma, a noção de bem jurídico acarreta na realização de um juízo de valor positivo acerca de determinado objeto ou situação social e de sua importância para o desenvolvimento do ser humano. Exteriorização da proteção pelo direito penal Essa proteção conferida pelo Direito Penal ao bem jurídico relevante se exterioriza, no plano legislativo, pela criminalização da conduta que atenta contra esse bem e a cominação da respectiva sanção penal. No plano concreto, com a responsabilização penal do infrator, mediante o devido processo legal. • Assim como nem todo bem jurídico é protegido pelo direito penal, também nem toda conduta que gera uma ofensa a um bem jurídico será punida pelo Direito Penal, tendo em vista o princípio da intervenção mínima. O Estado não tem condições para isso. • Não se pode confundir bem jurídico tutelado pelo direito penal com o objeto material do crime. Ex., no crime de roubo, o bem jurídico é o patrimônio; o objeto material é o bem que foi subtraído mediante violência ou grave ameaça. 6.2. Direito Penal como instrumento de controle social Ao Direito Penal é também reservado o controle social ou a preservação da paz pública, ou seja, ao direito penal é incumbida a obrigação de manter a ordem em determinada coletividade. Dirige-se a todas as pessoas, embora nem todas elas se envolvam com a prática de infrações penais, seja por questões morais, seja pelo receio de aplicação da lei penal. 6.3. Direito Penal como garantia Um cidadão só pode ser punido pela prática de um fato expressamente previsto em lei como infração penal. Nesse aspecto, o Direito penal é uma garantia individual ao indivíduo de apenas sofrer sanção penal nos casos onde for indispensável a proteção do bem essencial. A garantia se expressa na proteção da dignidade do indivíduo, supostamente autor de um delito, contra qualquer atuação (inclusive, arbitrária) do Estado. O Estado só pode atuar de acordo com o previsto em lei, devendo observar as garantias constitucionais e legais para o indivíduo e a sociedade. Exemplos: integridade física e moral na proibição de tortura, a presunção de inocência, o devido processo legal etc. Faculdade UNIRON Disciplina: Criminologia Prof. Péricles José Queiroz Conteúdo disposto com caráter eminente acadêmico 8 6.4. Função ético-social do Direito Penal Também conhecida como função criadora ou configuradora dos costumes, tem origem na estreita vinculação existente tradicionalmente entre a matéria penal e os valores éticos fundamentais de uma sociedade. O direito penal busca incutir nas pessoas um efeito moralizador, ou seja, fomentar valores éticos e morais no indivíduo para a necessária vivência em sociedade (função educativa). Almeja-se com isso assegurar um “mínimo ético” que deve reinar em toda a comunidade. A teoria do mínimo ético foi desenvolvida por Jellinek (e outros), para o qual o direito representaria apenas aquele núcleo mínimo de moral indispensável para a vida em sociedade. Baseia-se em considerações filosóficas, sociológicas e políticas, e também de oportunidade, em sintonia com a realidade social, para propor modificações no sistema penal vigente. Exs.: leis penais sobre crimes fiscais e contra o meio ambiente, as quais, sem dúvida alguma, contribuíram para criar uma conscientização e reprovação moral e social acerca destes comportamentos. 6.5. Função simbólica do Direito Penal A função simbólica é inerente a todas as leis, não dizendo respeito somente às de cunho penal. Não produz efeitos externos, mas somente na mente dos governantes e dos cidadãos. Em relação aos governantes, acarreta a sensação de terem feito algo para a proteção da paz pública. No tocante aos cidadãos, proporciona a falsa impressão de que o problema da criminalidade se encontra sob o controle das autoridades, buscando transmitir à opinião pública a impressão tranquilizadora de um legislador atento e decidido. Manifesta-se, comumente, no direito penal do terror, que se verifica com a inflação legislativa (Direito Penal de emergência), criando-se exageradamente figuras penais desnecessárias, ou então com o aumento desproporcional e injustificado das penas para os casos pontuais (hipertrofia do Direito Penal). 6.6. Função motivadora do Direito Penal O Direito Penal motiva os indivíduos a não violarem suas normas, mediante a ameaça de imposição cogente de sanção na hipótese de ser lesado ou colocado em perigo determinado bem jurídico. É como se as leis penais dissessem: “não matar”, “não roubar”, “não furtar” etc. 3.7. Função de redução da violência estatal O Direito Penal moderno apresenta uma nova finalidade, qual seja, a de reduzir ao mínimo a própria violência estatal (não é a violência urbana). Essa função está relacionada à atuação do Estado, tanto de criar novas infrações penais no âmbito de sua função legislativa, quanto à imposição da pena ao infrator pelo juiz. Em ambas as hipóteses, a imposição de pena, embora legítima, representa sempre uma agressão aos cidadãos. Faculdade UNIRON Disciplina: Criminologia Prof. Péricles José Queiroz Conteúdo disposto com caráter eminente acadêmico 9 6.8. Função promocional do Direito Penal Para essa teoria, o Direito Penal não deve se preocupar em manter os valores da sociedade em que se insere. Ao revés, destina-se a atuar como instrumento de transformação social. Não deve o Direito Penal constituir-se em empecilho ao progresso, e sim em ferramenta que auxilie a dinamizar a ordem social e promover as mudanças estruturais necessárias para a evolução da comunidade. • Exemplo: Lei da violência doméstica é exemplo de transformação social. Bibliografia: • Cleber Masson