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Aula 14 - O Arcadismo III - Basílio da Gama e Santa Rita Durão

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ARCADISMO III
Basílio da Gama e
Santa Rita Durão
Almoço na Relva Pintura Édouard Manet
AULA
14
José Basílio da Gama nasceu em 1741, na cidade de São José do Rio das Mortes, atual Tiradentes, Minas Gerais. Teve formação jesuítica, chegando a noviço. Mudando-se para Portugal, acabou preso sob a acusação de ligação política com os jesuítas, recentemente expulsos do território português, na crise pombalina. Condenado ao degredo, ficou em Angola durante algum tempo, mas, graças a um epitalâmio ( poema nupcial) escrito em homenagem à filha do marquês de Pombal, livrou-se do exílio. Retornou a Portugal e recompôs sua vida, no que foi ajudado por autoridades simpáticas ao marquês e ministro Pombal. Escreveu muitos poemas de bajulação ao marquês, dedicando-lhe sua obra-prima O Uraguay. Morreu em Lisboa, no ano de 1795. Seu pseudônimo de pastor era Termindo Sipílio.
Basílio da Gama
AULA
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2
Basílio da Gama deixou uma coletânea lírica, Lenitivo da Saudade, mas sua obra máxima é o poema épico O Uraguay. Esse poema foi baseado no conflito gerado pelo Tratado de Madri (1750), que interferia no trabalho desenvolvido pelos jesuítas com os índios, nos chamados Sete Povos das Missões. A guerra opôs tropas portuguesas e espanholas a jesuítas e índios. No poema, o autor posiciona-se favoravelmente ao marquês de Pombal e aos portugueses, caracterizando os jesuítas como os vilões da história.
Basílio da Gama - obra
AULA
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3
Basílio da Gama
O URAGUAI
Análise da obra
O Uraguai, poema épico de 1769, critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do autor Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para ser eles mesmos seus senhores. O enredo situa-se todo em torno dos eventos expedicionários e de um caso de amor e morte no reduto missioneiro.
AULA
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CONTEXTO
AULA
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6
Publicada em 1769
Portugal: Rei D. José 
Marquês de Pombal (1º Ministro)
Antijesuitismo
Tratado de Madri (13 de Janeiro de 1750)
Arcadismo: Resgate da epopeia 
AULA
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Tema central
AULA
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Pelo Tratado de Madri, celebrado entre os reis de Portugal e de Espanha (D. João V e D. Fernando VI ), as terras ocupadas pelos jesuítas, no Uruguai, deveriam passar da Espanha a Portugal. Os portugueses ficariam com Sete Povos das Missões e os espanhóis, com a Colônia do Sacramento. Sete Povos das Missões era habitada por índios e dirigida por jesuítas, que organizaram a resistência à pretensão dos portugueses. 
O poema narra o que foi a luta pela posse da terra, travada em princípios de 1757, exaltando os feitos do General Gomes Freire de Andrade. Basílio da Gama dedica o poema ao irmão do Marquês de Pombal e combate os jesuítas abertamente.
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Personagens
AULA
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General Gomes Freire de Andrade – chefe das tropas portuguesas;
Catâneo - chefe das tropas espanholas;
Cacambo - chefe indígena; 
Sepé Tiaraju - chefe-guerreiro indígena; 
Balda - jesuíta administrador de Sete Povos das Missões; 
Lindóia - esposa de Cacambo; 
Caitutu - guerreiro indígena; irmão de Lindóia;
Tanajura - indígena feiticeira.
AULA
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ESTRUTURA
AULA
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Quanto à forma, o poema épico O Uraguai foge do modelo camoniano, tão apreciado pelos poetas neoclássicos. Ele possui cinco cantos e foi escrito em decassílabos brancos (sem rima) e sem estrofação.
Obedece à tradição épica das cinco partes (proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo), mas não segue essa sequência: Dedicatória, Invocação, Proposição, Narrativa, Epílogo
AULA
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Na edição original d'O Uraguai (1769), havia uma epígrafe em latim retirada da Eneida de Virgílio. No texto latino vemos o momento em que se conta para Eneias a história de como Hércules matou o gigante Caco, que oprimia os povos nativos da Arcádia. Conforme vai-se lendo O Uraguai, percebe-se a metáfora.
At specus, et Caci detecta apparuit ingens
Regia et umbrosae penitus patuere cavernae
Em português:
Mas a caverna, e o imenso reino de Caco apareceu
descoberto, e o sombrio inferno se abriu por completo
AULA
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Na página seguinte se encontra um poema homenageando o Conde de Oeiras (futuro Marquês de Pombal). O soneto exalta a vida do conde, dizendo que se deveria fazer uma estátua do primeiro-ministro e que seria desnecessário pôr seu nome, pois todos saberiam de quem é o monumento. Termina listando todas as conquistas pombalinas, como a reconstrução de Lisboa, o desenvolvimento do comércio e a destruição da hipocrisia. 
Ergue de jaspe um globo alvo e rotundo,
E em cima a estátua de um Herói perfeito;
Mas não lhe lavres nome em campo estreito,
Que o seu nome enche a terra e o mar profundo.
Mostra na jaspe, artífice facundo,
Em muda história tanto ilustre feito,
Paz, Justiça, Abundância e firme peito,
Isto nos basta a nós e ao nosso mundo.
Mas porque pode em século futuro,
Peregrino, que o mar de nós afasta,
Duvidar quem anima o jaspe duro,
Mostra-lhe mais Lisboa rica e vasta,
E o Comércio, e em lugar remoto e escuro,
Chorando a Hipocrisia. Isto lhe basta.
AULA
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O início do poema é um preâmbulo não-narrativo (presente nos versos 1-20 do Canto I). 
Este pode ser divido em três:
Proêmio (vv. 1-5)
Invocação/proposição + verso de transição (vv. 6-9)
Dedicatória (vv.10-20)
A obra é dedicada a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do futuro Marquês de Pombal. No primeiro bloco da dedicatória, Basílio pede a proteção de Mendonça e exalta ao próprio e a seu irmãos Sebastião e Paulo António de Carvalho e Mendonça, inquisidor-mor de Portugal.
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A narrativa começa efetivamente no Canto II, ainda que no verso 21 do Canto I comece com "Já", dando noção de continuidade dos acontecimentos. Porém aqui, isso é apenas construção de um cenário para se contar os inícios da guerra através do discurso de Gomes Freire de Andrade a Catâneo, que evoca desde o Tratado de Madri até a enchente do rio Jacuí. Cria-se um situação de analepse, marcando o início in media res, por colocar os antecedentes do momento presente na forma de retrospectiva.
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O final do livro é marcado pela peroração (versos 140-150), na qual o autor fala com o próprio texto. Neste diálogo, a voz garante ao poema fama imortal para, em seguida, ordenar-lhe que assuma sua condição de americano, pois isso não o irá desmerecer. Os versos trazem à tona uma consciência que aparece ao longo de toda obra: o fato de ser uma obra de natureza híbrida, herdeira da tradição europeia (Arcádia) e fruto do universo americano (desconhecido e estranho), sendo uma obra nova. Mesmo após a morte do poeta, o poema poderá ingressar na Arcádia, em seu lugar de direito, pela mão de Mireo, pseudônimo do poeta italiano Michel Giuseppe Morei, o mesmo que dera ingresso a Basílio na agremiação.
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enredo
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Canto I: 
Saudação ao General Gomes Freire de Andrade. 
Chegada de Catâneo. 
Desfile das tropas. 
Andrade explica as razões da guerra. 
A primeira entrada dos portugueses enquanto esperam reforço espanhol.
O poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres, principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso-espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrade.
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Canto II: 
Partida do exército luso-castelhano. 
Soltura dos índios prisioneiros. 
Relato do encontro entre os caciques Sepé e Cacambo e o comandante português, Gomes Freire de Andrade, à margem do rio Uruguai. 
O acordo  é impossível porque os jesuítas portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. 
Ocorre então o combate entre os índios e as tropas luso-espanholas. 
Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo dos europeus.
 Sepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.
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Canto III: 
O General acampa às margens de um rio. 
Do outro lado, Cacambo descansa e sonha com o espírito de Sepé. Este incita-o a incendiar o acampamento inimigo. 
Cacambo atravessa o rio e provoca o incêndio. Depois, regressa para a sede. 
Surge Lindóia. 
A mando de Balda, prendem Cacamboe matam-no envenenado. Balda é o vilão da história, que deseja tornar seu filho Baldeta, cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte crítica aos jesuítas. 
Tanajura propicia visões a Lindóia: a índia “vê” o terremoto de Lisboa, a reconstituição da cidade pelo Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas.  
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Canto IV: 
Maquinações de Balda. Pretende entregar Lindóia e o comando dos indígenas a Baldeta, seu filho.
 O episódio mais importante: a morte de Lindóia. Ela, para não se entregar a outro homem, deixa-se picar por uma serpente. 
Os padres e os índios fogem da sede, não sem antes atear fogo em tudo. O exército entra no templo.  
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23
	Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
A morte de lindóia
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	Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
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	Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco, e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca, e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co'a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
AULA
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	O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua,
Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
José Maria de Medeiros - Lindóia, 1882
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	Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime, e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!
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Canto V: 
Descrição do Templo. 
Perseguição aos índios.
 Prisão de Balda. 
O poeta dá por encerrada a tarefa e despede-se. 
Expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso-espanholas. Eram opiniões que agradavam ao Marquês de Pombal, o todo-poderoso ministro de D. José I.
 Nesse mesmo canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrade que respeita e protege os índios sobreviventes.
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29
Apreciação crítica
AULA
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30
O poema é escrito em decassílabos brancos, sem divisão em estrofes, mas é possível perceber a sua divisão em partes: proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo.
 Abandona a linguagem mitológica, mas ainda adota o maravilhoso, apoiado na mitologia indígena. 
Foge, assim, ao esquema tradicional, sugerido pelo modelo imposto em língua portuguesa, Os Lusíadas.
 Por todo o texto, perpassa o propósito de crítica aos jesuítas, que domina a elaboração do poema.
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A oposição entre rusticidade e civilização, que anima o Arcadismo, não poderia deixar de favorecer, no Brasil, o advento do índio como tema literário. 
Apesar da intenção ostensiva de fazer um panfleto anti-jesuítico para obter as graças de Pombal, a análise revela, todavia, que também outros intuitos animavam o poeta, notadamente descrever o conflito entre a ordenação racional da Europa e o primitivismo do índio.
Variedade, fluidez, colorido, movimento, sínteses admiráveis caracterizam os decassílabos do poema, não obstante equilibrados e serenos. Ele será o modelo do decassílabo solto dos românticos.
Além dessas, outras características notáveis do poema são:
AULA
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Sensibilidade plástica: apreende o mundo sensível com verdadeiro prazer dos sentidos. Recria o cenário natural sem que a notação do detalhe prejudique a ordem serena da descrição.
Senso da situação: o poema deixa de ser a celebração de um herói para tomar-se o estudo de uma situação: o drama do choque de culturas.
Simpatia pelo índio, que, abordado inicialmente por exigência do assunto, acaba superando no seu espírito o guerreiro português, que era preciso exaltar, e o jesuíta, que era preciso desmoralizar. Como filho da “simples natureza”, ele aparece não só por ser o elemento esteticamente mais sugestivo, mas por ser uma concessão ao maravilhoso da poesia épica.
AULA
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Basílio foi poeta revolucionário com seu poema épico. Enquanto Cláudio trazia ao Brasil a disciplina clássica, Basilio, sem transgredi-la muito, mas movendo-se nela com maior liberdade estética e intelectual, levava à Europa o testemunho do Novo Mundo.
AULA
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José de Santa Rita Durão nasceu em 1722, em Cata-Preta, Minas Gerais. Viajou para Portugal ainda cedo. Lá, ingressou na Ordem de Santo Agostinho. Quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, pregou agressivo sermão contra os padres, fugindo para a Itália por essas desavenças religiosas. Retornou a Portugal após a queda do marquês de Pombal, onde assumiu a cátedra de Teologia na Universidade de Coimbra e iniciou a elaboração de seu poema Caramuru, a obra mais importante que produziu. Morreu em Portugal em 24 de janeiro de 1784.
Santa Rita Durão
AULA
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Seu poema épico Caramuru é a primeira obra a ter como tema o habitante nativo do Brasil; foi escrita ao estilo de Camões, imitando um poeta clássico assim como faziam os outros neoclássicos (árcades). Em versos decassílabos, dez cantos e cinco partes, embora retome fielmente o modelo camoniano, utiliza-se do conservadorismo cristão no lugar da mitologia pagã, característica épica. Aceita outros recursos expressivos e técnicos, quando emprega sonhos, previsões, vaticínios, discurso indireto e direto, união de material descritivo com narrativo.
Santa Rita Durão - obra
AULA
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36
Basílio da Gama
CARAMURU
Análise da obra
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O poema Caramuru narra o descobrimento da Bahia, o naufrágio de Diogo Álvares Correia e seus amores com as índias, sobretudo com Paraguaçu. O material é amplo: tem desde fatos da história do Brasil, o temperamento indígena, até lendas. A narrativa é enriquecida com referência a fatos históricos desde o Descobrimento até a época do autor, dando-se grande relevo também à matéria descritiva e informativa. Caramuru é a primeira obra a ter como tema o habitante nativo do Brasil.
AULA
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CONTEXTO
AULA
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Publicada em 1781
Portugal: Rei D. José 
Ambientado na época do descobrimento
Indianismo (nativismo)
Naufrágio de Diogo Álvares Correia
Arcadismo: Resgate da epopeia 
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Tema central
AULA
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Diogo Álvares Carreia foi um náufrago português que passou a vida entre os indígenas da costa do Brasil e que facilitou o contato dos primeiros viajantes europeus com os povos nativos do Brasil. Alcançou a costa na altura do Arraial do Rio Vermelho como náufrago de uma embarcação francesa, entre 1509 e 1510. Posteriormente terá recebido a alcunha de filho do trovão, o que estará na origem da lenda que afirma que Diogo Álvares Correia, teria recebido o apelido ao afugentar indígenas que o queriam devorar, matando uma ave com um tiro de arma de fogo.
O náufrago português foi bem acolhido pelos Tupinambás, a ponto de, o chefe deles, Taparica, lhe ter dado uma de suas filhas, Paraguaçu, como esposa. 
Conhecedor dos costumes nativos, Correia contribuiu para facilitar o contato entre estes e os primeiros missionários e administradores europeus. Em 1548, tendo João III de Portugalformulado o projeto de instituição do governo-geral no Brasil, recomendou ao Caramuru que criasse condições para que a expedição de Tomé de Sousa fosse bem recebida, fato que revela a importância que o antigo náufrago alcançara também na Corte portuguesa.
AULA
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Personagens
AULA
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43
Diogo Álvares Correia – O Caramuru
Paraguaçu – filha do cacique Taparica
Gupeva – cacique Tupinambá
Sergipe – chefe indígena (inimigo dos tupinambás)
Jararaca – Indio Caeté (apaixonado por Paraguaçu)
Moema – índia amante de Diogo
AULA
14
44
ESTRUTURA
AULA
14
45
Seguindo a estrutura convencional da epopeia, isto é, 
proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo, o poeta apresenta a obra da seguinte forma:
No canto I, na primeira estrofe, introduz a terra a ser cantada e o herói –filho do trovão–, propondo narrar seus feitos (proposição). 
I
De um varão em mil casos agitado,
Que as praias discorrendo do Ocidente,
Descobriu o Recôncavo afamado
Da capital brasílica potente:
Do Filho do Trovão denominado,
Que o peito domar soube à fera gente;
O valor cantarei na adversa sorte,
Pois só conheço herói quem nela é forte.
AULA
14
46
Na estrofe seguinte, pede a Deus que o auxilie na realização do intento (invocação):
II
Santo Esplendor, que do grão-Padre manas
Ao seio intacto de uma Virgem bela;
Se da enchente de luzes Soberanas
Tudo dispensas pela Mãe Donzela;
Rompendo as sombras de ilusões humanas,
Tu do grão caso! a pura luz revela
Faze que em ti comece, e em ti conclua
Esta grande Obra, que por fim foi tua.
AULA
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47
Da terceira à oitava estrofes, dedica o poema a D. José I,
pedindo atenção para o Brasil, principalmente a seus habitantes primitivos, dignos e capazes de serem integrados à civilização cristã. Se isso for feito, prevê Portugal renascendo no Brasil. 
III
E vós, Príncipe excelso, do Céu dado
Para base imortal do Luso Trono;
Vós, que do Áureo Brasil no Principado
Da Real sucessão sois alto abono:
Enquanto o Império tendes descansado
Sobre o seio da paz com doce sono,
Não queirais de dignar-vos no meu metro
De pôr os olhos, e admiti-lo ao cetro.
AULA
14
48
Da nona estrofe em diante, tem início a narração.
IX
Da nona estrofe em diante, tem início a narração.
Da nova Lusitânia o vasto espaço
Ia a povoar Diogo, a quem bisonho
Chama o Brasil, temendo o forte braço,
Horrível Filho do Trovão medonho:
Quando do abismo por cortar-lhe o passo
Essa Fúria saiu, como suponho,
A quem do Inferno o Paganismo aluno,
Dando o Império das águas, fez Netuno.
AULA
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enredo
AULA
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50
Canto I: 
A caminho do Brasil, o navio de Diogo Álvares Correia naufraga. Ele e mais sete companheiros conseguem se salvar. Na praia, são acolhidos pelos nativos que ficam temerosos e desconfiados. Os náufragos, por sua vez, também temem aquelas criaturas antropófagas, vermelhas que, sem pudor, andam nuas. Assim que um dos marinheiros morre, retalham-no e comem-lhe, cruas mesmo, todas as partes. Sem saber o futuro, os sete são presos em uma gruta, perto do mar, e, para que engordem, são bem alimentados. Notando que os índios nada sabem de armas, Diogo, durante os passeios na praia, retira, do barco destroçado, toda pólvora e munições, guardando-as na gruta. Desde então, como vagaroso enfermo, passa a se utilizar de uma espingarda como cajado. 
AULA
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51
Para entreter os amigos, Fernando, um dos náufragos, ao som da cítara, canta a lenda de uma estátua profética que, no ponto mais alto da ilha açoriana, aponta para o Brasil, indicando a futuros missionários o caminho a seguir. Um dia, excetuando-se Diogo, que ainda estava enfermo e fraco, os outros seis são encaminhados para os fossos em brasa. Todavia, quando iam matar os náufragos, a tribo do Tupinambá Gupeva é ferozmente atacada por Sergipe. Após sangrenta luta, muitos morrem ou fogem; outros se rendem ao vencedor que liberta os pobres homens que desaparecem, no meio da mata, sem deixar rastro.
AULA
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52
Canto II
Enquanto a luta se desenvolve, Diogo, magro e enfermo para a gula dos canibais, veste a armadura e, munido de fuzil e pólvora, sai para ajudar os seis companheiros que serão comidos. Na fuga, muitos índios buscam esconderijo na gruta, inclusive Gupeva que, ao se deparar com o lusitano, saindo daquele jeito, cai prostrado, tremendo; os que o seguiam fazem o mesmo; todos acham que o demônio habita o fantasma-armadura. Álvares Correia, que já conhecia um pouco a língua dos índios, espera amansá-los com horror e arte. Levantando a viseira, convida Gupeva a tocar a armadura e o capacete. Observa, amigavelmente, que tudo aquilo o protege, afastando o inimigo, desde que não se coma carne humana. Ainda aterrorizado, o chefe indígena segue-o para dentro da gruta, onde Diogo acende a candeia, levando-o a crer que o náufrago tem poder nas mãos.
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53
Sob a luz, vê, sem interesse, tudo que o branco retirara da nau. Aqui, o poeta, louva a ausência de cobiça dessa gente. Entre os objetos guardados pelos náufragos, Gupeva encanta-se com a beleza da virgem em uma gravura. Tão bela assim não seria a esposa de Tupã? Ou a mãe de Tupã? Nesse momento, encantado pela intuição do bárbaro, Diogo o catequiza, ganhando-lhe, assim a dedicação. Saindo da gruta, o índio, agora manso e diferente, fala a seu povo Tupinambá, ao redor da gruta. Conta-lhes sobre o feito do emboaba, Diogo, e que Tupã o mandara para protegê-los. Para banquetear o amigo, saem para caçar. Durante o trajeto, Álvares Correia usa a espingarda, aterrorizando a todos que exclamam e gritam: Tupã Caramuru! Desde esse dia, o herói passa a ser o respeitado Caramuru - Filho do Trovão. Querendo terror e não culto, Diogo afirma-lhes que, como eles, é filho de Tupã e a este, também, se humilha. 
AULA
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54
Mas que como filho do trovão, (dispara outro tiro) queimará aquele que negar obediência ao grande Gupeva. Nas estrofes seguintes, o poeta descreve os costumes da selva. Caramuru instala-se na aldeia, onde imensas cabanas abrigam muitas famílias, que vivem em harmonia. Muitos índios querem vê-lo, tocá-lo. Outros, em sinal de hospitalidade, despem-no e colocam-no sobre a rede, deixando-o tranquilo. Paraguaçu é uma índia, de pele branca e traços finos e suaves. Apesar de não amar Gupeva, está na tribo por ter-lhe sido prometida. Como sabe a língua portuguesa, Diogo quer vê-la. Após o encontro os dois estão apaixonados.
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55
Canto III
À noite, Gupeva e Diogo conversam sob a tradução feita por Paraguaçu. O lusitano fica pasmo ao saber que, para o chefe da tribo, existe um princípio eterno; há alguém, Tupã, ser possante que rege o mundo; aquele que vence o nada, criando o universo. O espírito de Deus, de alguma maneira, comunica-se com essa gente. Gupeva eloquente fala acerca da concepção dos selvagens sobre o tempo, o Céu, o Inferno. Abordam a lenda da pregação de S. Tomé em terras americanas. Concluindo a conversa, o cacique diz que estão para ser atacados pelos inimigos; Caramuru aconselha-o a ter calma. De repente, chegam os ferozes índios Caetés que, ao primeiro estrondo do mosquete, batem em retirada, correndo, caindo; achando, enfim, que o céu todo lhes cai em cima.
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Canto IV 
O temido invasor noturno é o Caeté, Jararaca, que ama Paraguaçu perdidamente. Ao saber que ela esta destinada a Gupeva, declara guerra. Após o ataque estrondoso do Filho do Trovão, Jararaca convoca outras nações indígenas com as quais tinha aliança: Ovecates, Petiguares, Carijós, Agirapirangas, Itatis. Conta-lhes que Gupeva prostrou-se aos pés de um emboaba pelo pouco fogo que acendera, oferecendo-lhe até a própria noiva. O cacique alerta-os que se todos agirem assim, correm o risco de serem desterrados e escravizados em sua própria terra, enchendo de emboabas a Bahia. Apela para a coragem dos nativos, dizendo que apesar do raio do Caramuru ser verdadeiro, ele nada teme, porque não vem de Deus. Não há forças fabricadas que a eles destruam. A guerra tem início e Paraguaçu também luta heroicamente e, num momento de perigo, é salva pelo amado lusitano.
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Canto V 
Depois dabatalha, os amantes discorrem sobre o mal que habita o ser humano e qual a razão de Deus para permiti-lo. Em seguida, em Itaparica, o herói faz com que todos os índios se submetam a ele, destruindo as canoas com as quais Jararaca pretendia liquidá-lo.
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Canto VI 
As filhas dos chefes indígenas são oferecidas ao destemido Diogo, para que este os honre com o seu parentesco. Como ama Paraguaçu, aceita o parentesco, mas declina as filhas. Na mata, o herói encontra uma gruta com tamanho e forma de igreja e percebe ali a possibilidade dos nativos aceitarem a Fé Cristã, e se dispõe a doutriná-los. Mais tarde, salva a tripulação de um navio espanhol naufragado e, saudoso da Europa, parte com Paraguaçu em um barco francês.
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Quando a nau ganha o mar, várias índias, interessadas em Álvares Correia, lançam-se nas águas para acompanhá-lo. Moema, a mais bela de todas, consegue chegar perto do navio Agarrada ao leme, brada todo seu amor não correspondido ao esquivo e cruel Caramuru. Implora para que ele dispare sobre ela seu raio. Ao dizer isso, desmaia e é sorvida pela água. As outras, que a acompanhavam, retornam tristes à praia. Nas demais estrofes do canto, a história do descobrimento do Brasil é contada ao comandante do barco francês.
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Canto VII
Na França, o casal é recebido na corte e Paraguaçu é batizada com o nome da rainha Catarina de Médicis, mulher de Henrique II, que lhe serve de madrinha. Diogo lhes descreve tudo o que sabe a respeito da flora e fauna brasileira.
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Canto VIII 
Henrique II se predispõe a ajudar Diogo Álvares na tarefa de doutrinamento e assimilação dos índios, oferecendo-lhe tropa e recompensa. Fiel à monarquia portuguesa, o valente lusitano recusa tal proposta. Na viagem de volta ao Brasil, Catarina-Paraguaçu profetiza, prospectivamente, o futuro da nação. Descreve as terras da Bahia, suas povoações, igrejas, engenhos, fortalezas. Fala sobre seus governadores, a luta contra os franceses de Villegaignon, aliados aos Tamoios. Discorre sobre o ataque de Mem de Sá aos franceses no forte da enseada de Niterói e sobre a vitória de Estácio de Sá contra as mesmas forças.
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Canto IX 
Prosseguindo em seu vaticínio, Catarina-Paraguaçu descreve a luta contra os holandeses que termina com a restauração de Pernambuco.
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Canto X 
A visão profética de Catarina-Paraguaçu acaba se transformando na da Virgem sobre a criação do universo. Ao chegar, o casal é recebido pela caravela de Carlos V que agradece a Diogo o socorro aos náufragos espanhóis. A história de Pereira Coutinho é narrada, enfatizando-se o apoio dos Tupinambás na dominação dos campos da Bahia e no povoamento do Recôncavo baiano.
Na cerimônia realizada na Casa da Torre, o casal revestido na realeza da nação espanhola, transfere-a para D. João III, representado na pessoa do primeiro Governador Geral, Tomé de Souza. A penúltima estrofe canta a preservação da liberdade do índio e a responsabilidade do reino para com a divulgação da religião cristã entre eles. Na última (epílogo), Diogo e Catarina, por decreto real, recebem as honras da colônia lusitana.
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Apreciação crítica
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Costuma-se rotular Santa Rita Durão de passadista. Embora pertença à geração de Cláudio Manuel da Costa, é na de Tomás Antônio Gonzaga que escreve e publica o seu poema épico, num estilo neocamoniano, em que reminiscências cultistas misturam-se a traços de cosmovisão do seu tempo.
 Dentre os que vieram a formar com ele a chamada Escola Mineira, é o mais isolado. Não se conhece dele qualquer preocupação teórica que permita relacioná-lo ao movimento, nem se nota em seus versos influência estilística dos árcades.
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O Caramuru tem os elementos tradicionais do gênero épico: duros trabalhos de um herói, contato de gentes diversas, visão de uma sequência histórica. A sua linha é camoniana e o intuito foi “compor uma brasilíada”.
A narrativa é enriquecida com referência a fatos históricos desde o Descobrimento até a época do autor, dando-se grande relevo também à matéria descritiva e informativa. É o caso da descrição do Brasil por Diogo, coroando as tentativas de louvação da terra, prenunciando certos aspectos do nacionalismo romântico.
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Santa Rita Durão penetra na vida do índio com um intento analítico diferente do devaneio lírico de Basílio da Gama. A fantasia a que se abandona é com efeito precedida pela descrição dos costumes, das técnicas, dos ritos, tão exata quanto possível no seu tempo.
Numa camada mais profunda que o nativismo e o indianismo, o que verdadeiramente anima a epopeia do frade mineiro é a sua visão do mundo, ou seja, a inspiração religiosa (religião como ideologia). Esta consiste em justificar e louvar a colonização como empresa religiosa desinteressada, trazendo a catequese para o primeiro plano e com ela cobrindo os aspectos materiais básicos. 
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A visão laica e civil do Uraguai e dos poemas satíricos é aqui banida, fazendo do Caramuru o antagonista ideológico da melhor linha mental na literatura comum. Daí valorizar a obra de Diogo, principalmente como incorporação do selvagem à fé cristã.
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Inácio J. Alvarenga Peixoto (degredado para a África, onde morreu) – Obras poéticas – poemas líricos e nacionalistas; atitude crítica em relação à colonização portuguesa.
Manuel Inácio Silva Alvarenga – Glaura, poema lírico, e O desertor das letras – poema herói-cômico de crítica à reforma universitária de Pombal.
Caldas Barbosa (Lereno) – Viola de Lereno – coletânea de poemas e músicas; sensibilidade no registro do quotidiano das ruas.
OUTROS AUTORES
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