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Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Saúde e Medicina Curso de Psicologia Trabalho de Conclusão de Curso Suicídio e Logoterapia: A ressignificação do sentido da vida para quem fica. Autoras: Isabela Silva Dias Jéssica Nathacha Silva de Souza Lemos Karla Beatriz dos Santos Orientadora: Profa. Dra. Ondina Pena Pereira Brasília - DF 2020 2 ISABELA SILVA DIAS JÉSSICA NATHACHA SILVA DE SOUZA LEMOS KARLA BEATRIZ DOS SANTOS SUICÍDIO E LOGOTERAPIA: A RESSIGNIFICAÇÃO DO SENTIDO DA VIDA PARA QUEM FICA. Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do Título de Psicólogo/a. Orientadora: Profa. Dra. Ondina Pena Pereira Brasília 2020 3 RESUMO O tema do presente artigo está circunscrito na área da Psicoterapia, no campo da Logoterapia. Percebeu-se a necessidade de explorar e demonstrar a aplicabilidade dos conceitos desse campo, aliados a ressignificação do Sentido da Vida para sobreviventes de suicídio, uma vez que tal episódio pode suscitar nos enlutados a necessidade de uma reorganização psicológica e social. Para isso, teve-se como objetivo geral caracterizar a Logoterapia como modalidade de assistência terapêutica a uma mãe sobrevivente de suicídio. Trata-se de pesquisa aplicada quanto à natureza; qualitativa quanto à forma de abordagem do problema; descritiva e exploratória quanto aos objetivos gerais; e bibliográfica e documental quanto aos procedimentos técnicos de coleta dos dados. Para esta pesquisa utilizou-se bases científicas do acervo assinado da Biblioteca Central da Universidade Católica de Brasília, bases eletrônicas como SciELO, PePSIC e Google Acadêmico, além do relato que foi extraído da plataforma Youtube. Como procedimento, foi realizada a apuração bibliográfica, busca, categorização e discussão do relato. A análise foi fundamentada na teoria da Logoterapia, utlizando o depoimento de sobrevivente de suicídio e efetivada através da seleção de tópicos relevantes, de modo a oferecer melhor compreensão sobre as características do sobrevivente de suicídio. Faz necessário aumentar a rede de apoio a esses sobreviventes, pois no processo acabam por se encontrar sozinhos e se veem no vazio, sem esperanças de uma continuidade de sua vida. Ao se deparar com algo que tenha importância e possa trazer um novo sentido, um novo processo é iniciado podendo culminar na autorrealização. Palavras-chave: Logoterapia; sobrevivente de suicídio; luto; sentido da vida; 4 Sumário 1. Introdução 5 1.1. Revisão 5 1.2. Fundamentação teórica 7 Logoterapia: histórico e aplicações 7 Conceitos básicos 8 2. Método 9 2.1. Amostra/Fontes 9 2.2. Instrumentos/Recursos 10 2.3. Procedimentos 10 2.4. Análise 10 3. Resultados e Discussão 11 4. Considerações Finais 15 5. Referências Erro! Indicador não definido. 6. Anexo 5 1. Introdução O presente trabalho buscou caracterizar a Logoterapia como modalidade de assistência terapêutica na ressignificação do sentido da vida dos sobreviventes de suicídio. Este tema está circunscrito na área da Psicoterapia, no campo da Logoterapia. É considerado como sobrevivente de suicídio o indivíduo que atravessa o processo de luto por um ente querido que perpetrou o ato de suicidar-se, portanto, é preciso estar atento à nomenclatura, pois ela pode ser utilizada em outros contextos para caracterizar o indivíduo que sobreviveu à tentativa de atentar contra a própria vida. Durante o processo de luto, estima-se como um comportamento saudável que o sobrevivente busque formas de ressignificar sua perda. Tal ressignificação pode ser alcançada quando o indivíduo passa a destinar seus dias não apenas para tentar superar a dor, mas para ressignificá-la, encontrando um novo sentido de vida. Essa descoberta ao sentido - que dá luz a dimensão noética do sujeito - ocorre através de um processo semelhante às relações Eu-Tu e Eu-Isso como propostas por Martin Buber (1878-1965). Entretanto, nota-se que em pessoas enlutadas (no caso do presente estudo, sobreviventes de suicídio) dar um novo sentido à vida após a perda de um afeto é um comportamento considerado enigmático e/ou inatingível. O objeto de estudo desse artigo foi escolhido ao identificar a necessidade de explorar o mecanismo de ressignificação de vida dos sobreviventes de suicídio, uma vez que pouco foi encontrado na literatura sobre o impacto do suicídio na vida dos enlutados. Diante disso, se faz necessário não só apresentar a Logoterapia como possibilidade de assistência terapêutica na busca pelo sentido da vida, como também discutir o papel do Psicólogo neste contexto desafiador. 1.1. Revisão Como já mencionado e conforme Tavares, Silva e Coloma (2013), os indivíduos que possuem relação direta com um caso de suicídio são chamados de “sobreviventes”, termo que dá ênfase ao caráter extremo de passar pela experiência” (MELO e BARROS, 2017, p. 131). Além disso, a possibilidade de ressignificação das sequelas causadas pela morte repentina e a transcendência a possibilidade de morrer junto com a vítima faz com que os enlutados sejam compreendidos como sobreviventes (FUKUMITSU e KÓVACS, 2016, p. 11). Segundo a OMS (2000), para cada morte por suicídio estima-se que cinco a dez pessoas que possuíam contato próximo com a vítima irão sofrer com o impacto da 6 perda, provocando efeitos duradouros na vida dos sobreviventes (CÂNDIDO, 2011, p. 80-81). Dentre esses efeitos, podemos destacar o aumento da ideação suicida, depressão, doenças físicas, transtorno do estresse pós-traumático, abuso de álcool ou outras drogas e problemas relacionais familiares (OMS 2008, apud CÂNDIDO, 2011, p. 82). O fato de não haver muita informação sobre os motivos, ou seja, sobre o que se passava no cotidiano da pessoa que tirou a própria vida, pode gerar um sofrimento ainda maior, pois perde-se a percepção de vida e os dias que se passam são destinados a superar a perda, única e exclusivamente (FUKUMITSU & KÓVACS, 2016, p. 6). No anseio de “buscar conhecer para dominar” (SOUZA, 2005, p.150), o sobrevivente procura encontrar resquícios que o leve a descobrir a motivação do ato na tentativa de identificar se, de alguma forma, contribuiu para o desfecho e assim conseguir encontrar significado na perda. Tal significação pode ser alcançada com a ajuda de práticas profissionais. Assim, é preciso que estes profissionais compreendam as dinâmicas e os processos que os sobreviventes experienciam, de modo a prestar um auxílio efetivo aos enlutados (MELO e BARROS, 2017, p. 131). Dentre as diversas possibilidades de práticas profissionais, adentro à psicoterapia, destacamos aqui o uso da Logoterapia. Viktor Frankl - criador da Logoterapia - propõe em sua teoria que a autorrealização é alcançada através do encontro ao sentido da vida e este, por sua vez, a partir da relação com “o outro” e com o que se faz disponível no ambiente. Segundo Moreira e Holanda (2010), a Logoterapia é uma escola psicológica de cunho fenomenológico, existencial, humanista e teísta, conhecida também como a “Psicoterapia do Sentido da Vida” ou ainda a Terceira Escola Vienense de Psicoterapia. A teoria desenvolvida inicialmente por Viktor Frankl (1905- 1997) concebe uma visão de homem distinta das demais concepções psicológicas de seu tempo ao propor a compreensão da existência mediante fenômenos especificamente humanos e a identificação de sua dimensão noética ou espiritual, a qual pela sua dinâmica própria pode despertar a vivência da religiosidade. (Moreira e Holanda, 2010, p. 345-356) 7 Mediante tais colocações, a Logoterapiacomo modalidade de assistência terapêutica pode auxiliar o enlutado a ressignificar a perda e, consequentemente, encontrar um novo sentido de vida. O tema está bem delineado no que concerne à caracterização dos conceitos provenientes da Logoterapia, sua relação com situações de luto por mortes “naturais” ou sob a perspectiva do suicida. No entanto, percebeu-se a necessidade de explorar e demonstrar a aplicabilidade dos conceitos da Logoterapia aliados a ressignificação do Sentido da Vida para sobreviventes de suicídio, uma vez que tal episódio pode suscitar nos enlutados a necessidade de uma reorganização psicológica e social. Diante do exposto, apresenta-se a questão norteadora deste estudo: a discussão de aplicações da Logoterapia como meio para ressignificação do sentido da vida para sobreviventes de suicídio. Para isto, teve-se como objetivo geral caracterizar a Logoterapia como modalidade de assistência terapêutica a uma mãe sobrevivente de suicídio. Para alcançar este objetivo, elaborou-se as seguintes etapas, descritas aqui como objetivos específicos: (1) Caracterizar a Logoterapia como modalidade psicoterapêutica; (2) identificar os conceitos da Logoterapia na fala da sobrevivente de suicídio; e (3) discutir formas de assistência logoterapêutica ao sobrevivente de suicídio. 1.2. Fundamentação teórica O tema foi analisado à luz da Logoterapia, apresentada nesta fundamentação teórica/conceitual. Este tópico está dividido em partes: a logoterapia sendo apresentada em termos do contexto histórico de Viktor Frankl (uma vez que a história deste é fundamental para se entender as concepções propostas) e a Logoterapia no Brasil. Também foram apresentados didaticamente os conceitos que são utilizados neste trabalho, da forma como foi importante para a compreensão do tema proposto. Logoterapia: histórico e aplicações Nascido em Viena no dia 26 de março de 1905, o psiquiatra, neurologista e filósofo existencial (VÉRAS; ROCHA, 2014) Viktor Emil Frankl está associado, dentro da Psicologia, à teoria fenomenológica existencial. Segundo Roehe (2005), a vida de Frankl foi marcada pelos episódios de horror que viveu nos campos de concentração mantidos pelo governo nazista na Alemanha durante quase três anos (entre 1942 e 8 1945). Neste período, Frankl perdeu sua mulher, seus pais e um irmão. Viktor referia-se a esse período como o experimentum crucis para suas ideias psicoterapêuticas. Referindo-se a esse período e a sua sobrevivência, Frankl tomou uma frase de Nietzsche, a qual repetiu em muitas de suas publicações: “quem tem por que viver, suporta qualquer como”. Frankl (1989) narra sua experiência nos campos de concentração no livro Em busca de sentido (ROEHE, 2005, p. v. 36, n. 3, pp. 311-314). Em seu pensamento, a vontade de sentido (logos) é a motivação principal do homem. Daí o nome de sua teoria: Logoterapia. Dittrich e Oliveira (2019) apresentam que, para Viktor Frankl, o ser humano é entendido como uma unidade tridimensional constituída pelas instâncias biológica ou factual, psicológica ou anímica e noética ou espiritual, sendo esta última o princípio distintivo da espécie (o que o difere de outros animais), elemento primordial da constituição humana, fonte da liberdade e responsabilidade, bem como da busca por sentido e da autotranscedência, culminando assim, na autorrealização. Viktor faleceu em Viena, no dia 2 de setembro de 1997. Logoterapia no Brasil Segundo Véras e Rocha (2012), os primeiros registros da Logoterapia no Brasil ocorreram por volta de 1984, ano em que ocorreu o Primeiro Encontro Latino- Americano Humanístico-Existencial: Logoterapia (Xausa apud. Véras e Rocha, 2012). Até meados de 2012, ocorreram seis congressos brasileiros de Logoterapia e Análise Existencial. No Brasil, a Logoterapia é uma teoria ainda pouco difundida, raramente discutida dentro das universidades nos cursos de Psicologia e, por conseguinte pouco utilizada por psicoterapeutas, porém é possível observar sua ascensão, sendo atualmente utilizada com maior frequência como técnica de intervenções terapêuticas. Conceitos básicos Os seres humanos e os animais são compostos por dimensões essenciais, sendo elas: biológica, psicológica e social (MOREIRA; HOLANDA, 2010). Todavia, a Logoterapia traz ainda uma outra dimensão que diferencia os homens dos animais, a dimensão noética. Isto só é possível devido a “essência da existência humana” que é espiritual (contudo, não necessariamente religiosa). A partir da manifestação dessa dimensão é possível que o homem construa suas próprias convicções e crenças, tornando-o responsável por suas decisões e opiniões através da liberdade do pensar que lhe é ofertada. 9 O que torna um homem pleno é a dedicação com que se entrega a uma tarefa. Sendo assim, a vontade de sentido é a motivação principal do homem, levando-o a buscar o sentido da vida, sentindo-se útil e com um propósito. Isto o faz ser direcionado para o alcance desse sentido, culminando em sua autotranscendência e autorrealização. O sentido da vida consiste na razão pela qual o sujeito deseja viver, e esse desejo é baseado em uma busca constante: “não se trata da felicidade em si, mas uma razão para ser feliz” (Moreira e Holanda, 2010). A mente não cria um sentido, mas ela se submete ao sentido existente, não sendo uma criação cultural, mas algo relativo ao ser em si, ou seja, já existe, porém, precisa ser encontrado. Quando há a perda desse sentido, ou mesmo que ainda não o tenha encontrado, o homem cai em um lugar que Frankl denomina de vazio existencial. Em outras palavras, esse vazio ocorre quando o homem “não sabe mais o que quer ou o que deve fazer de sua existência” (Frankl, 2005 apud. Aquino et.al, 2011). A autotranscendência é utilizada para definir a saída do homem de si em relação à outro. Desta forma, é por meio dela que o espírito se torna completo, pois o sujeito está tão consumido de espiritualidade e vontade de sentido que não se permite falhar em seus deveres. Frankl utiliza a autotranscendência como pré-requisito para a realização (KROEFF, 2011). Após encontrado o sentido da vida e atingida a autotranscendência ocorre a autorrealização, onde o desejo maior do homem não está em olhar para si mesmo. Sendo assim, a autorrealização acontece na medida em que se dedica a olhar para o próximo ou responsabiliza-se por um trabalho em que consiga esvaziar-se de si (Moreira e Holanda, 2010). 2. Método Este trabalho analisou a Logoterapia como modalidade de assistência a uma mãe sobrevivente de suicídio. Trata-se de pesquisa aplicada quanto à natureza; qualitativa quanto à forma de abordagem do problema; descritiva e exploratória quanto aos objetivos gerais; e bibliográfica e documental quanto aos procedimentos técnicos de coleta dos dados. 2.1. Amostra/Fontes Como fontes principais, o trabalho utilizou artigos científicos e um relato público de uma mãe enlutada pelo suicídio. 10 2.2. Instrumentos/Recursos Para esta pesquisa foram utilizados: bases científicas do acervo assinado da Biblioteca Central da Universidade Católica de Brasília, bases eletrônicas como SciELO, PePSIC e Google Acadêmico, além do relato que foi extraído de fontes abertas da internet, tais como a plataforma Youtube. Para a amostra, foram analisados 05 (cinco) relatos de sobreviventes de suicídio, disponíveis em plataforma online de acesso público. Dentre o material analisado, foi selecionado o relato de uma mãe - sobrevivente de suicídio - que trazia em sua fala os conceitos da logoterapia de forma intuitiva, ainda que essa teoria não tenha sido utilizada como um aporte terapêutico no processo de luto evidenciado. No depoimento, é possível identificar aspectos relacionados à ressignificação da perda, tendo como seguimento a autotranscendência. Para além disso, é possível relacionar o quefoi externalizado com os conceitos básicos da Logoterapia (vazio existencial, vontade de sentido, sentido da vida, autotranscendência e autorrealização), explicitados no tópico anterior (1.2). 2.3. Procedimentos A pesquisa seguiu os seguintes passos: Passo 1. Apurar bibliografia que possa caracterizar a Logoterapia como modalidade terapêutica, bem como as características do sobrevivente de suicídio; Passo 2. Buscar depoimento significativo de sobrevivente ao suicídio, que seja público, em mídias sociais e internet; Passo 3. Categorizar o relato e discutir sobre as assistências ao sobrevivente do suicídio, baseando-se na Logoterapia. 2.4. Análise Utilizou-se como objeto de pesquisa um depoimento de sobrevivente de suicídio. A análise foi fundamentada na teoria da Logoterapia e foi efetivada através da seleção de tópicos relevantes durante o vídeo que estivessem relacionados com os conceitos básicos da Logoterapia de modo a oferecer melhor compreensão sobre as características do sobrevivente de suicídio, que será discutida na próxima seção utilizando-se de fundamentação teórica. 11 3. Resultados e Discussão Vazio existencial - Sem motivos para seguir No trecho “[...] aquilo [suicídio] que fato, você não encontra resposta. E a questão do suicídio, o pior de tudo é isso aí é você conviver com algumas dúvidas com alguns questionamentos que você não tem resposta.” [grifo das autoras] é possível evidenciar a falta de resposta, as dúvidas e os questionamentos como um vazio existencial (ou vácuo existencial ou ainda frustração existencial). Gera-se então uma sensação de inutilidade, um sentimento de falta de sentido e de vazio interior ao qual Frankl denomina vácuo existencial (Santos, 2016). O ser humano está sempre em busca de algo que dê sentido a sua existência (Souza e Cunha, 2017), em muitos casos, a maternidade traz à mulher esse sentido através do nascimento e criação de seus filhos. Quando ocorre um rompimento de convívio (que neste caso veio através do suicídio), o local antes ocupado por esse sentido torna-se vazio, então, o indivíduo - em sua manifestação de dimensão noética - busca fenômenos em que possa ressignificar sua perda. Essa busca por muitas vezes ocasiona a angústia e a ansiedade, podendo derivar o vazio existencial. O sentimento de vazio existencial não pode ser comparado ao sentimento de dor, uma vez que esta preenche o vazio, mesmo que não seja considerado um sentimento “positivo”. Visto isso, a partir do trecho a seguir, pode-se concluir que a dor da enlutada substituiu o vazio existente : “Pra mãe é muito mais impactante, não dá nem pra descrever, literalmente a dor na alma por-que é muito forte uma dor assim no peito que parece como se tivesse uma ferida bem inflamada sabe e alguma coisa vem e fica assim machucando mas pensa numa dor, dor, dor mesmo, muita dor, só quem sente é que sabe.” [grifo das autoras] Vontade de sentido - Tentando significar a perda Entre a presença do vazio existencial, surge o interlace da força intrínseca natural do ser humano, chamada vontade do sentido. Enquanto o indivíduo vivencia o vazio, o mesmo também possui a inquietude de encontrar o sentido da vida. (Souza e Cunha, 2017). No trecho do relato da mãe enlutada: “infelizmente como acontece em alguns casos né, alguns adolescentes, essa transição, esse conflito interno que às vezes acontece da pessoa não saber lidar com determinadas situações, ou um transtorno de personalidade, alguma coisa 12 nesse sentido.”, “ Hoje eu percebo que, que de repente ele teve muitos conflitos, viveu muito isso e na época eu não, eu não, não percebi. Porque ele não apresentava, assim, característica de pessoa que tivesse com depressão, que geralmente a pessoa se isola, geralmente a pessoa fica sem falar com ninguém, quer ficar só... ele não, ele tinha um sorriso no rosto.” é possível ilustrar o que Souza e Cunha trazem como inquietude, ou seja, como tentativa de significação da perda. Busca-se nesse movimento, quase que ingenuamente, razões ou motivos os quais possam justificar o que ocorreu, de modo a ocupar o vazio. Pereira (2007) assinala a vontade de sentido como o fato antropológico fundamental da autotranscendência da existência humana. É preciso que haja essa tensão primária para que o ser humano busque fenômenos em que possa embebedar-se de sentido, autotranscender, diferente de algumas vertentes psicológicas em que há o intuito primário de alcançar o equilíbrio interno e a cessação de tensão ou ainda se está a serviço do princípio de prazer. Considera-se que a vontade de sentido é um processo fundamental na busca pelo sentido da vida, uma vez que não é possível encontrar respostas sem antes se questionar (tensionar-se) assim como visto na fala da mãe enlutada. De acordo com Vitor Frankl, essa tensão essencialmente humana é denominada noodinâmica. Ao utilizar esse termo, Frankl critica as concepções de saúde mental a partir do ideal do equilíbrio homeostático, pois uma determinada tensão é necessária para a existência humana (Moreira e Holanda, 2010). Autotranscendência - Indo de encontro ao outro A autotranscendência é caracterizada por Frankl como a saída de si em direção ao mundo (Kroeff, 2011). Esse processo pode ser entendido como um “abrir mão” de pensamentos, visões e atitudes unicamente voltadas para o próprio indivíduo, e ir de encontro ao outro, ao mundo repleto de possibilidades, de trocas, de aprendizados, de sentido, um mundo repleto de outros com quem compartilhar o processo da autotranscendência. Estes outros podem ser pessoas, sentidos, causas, ideias, valores e afins. Podemos então compreender o transcender como um movimento de esquecer-se de si mesmo e doar-se ao outro, ao mundo (Nery, 2019). Nesse movimento, o indivíduo encontra em seu caminho outros indivíduos no mesmo processo, ocorrendo então um “encontro de autotranscendências”, culminando na descoberta do sentido (Nery, 2019). 13 No trecho “depois que eu entrei nesse voluntariado aí eu senti a necessidade de [...] compreender mais ainda e poder, é, ajudar mais ainda [grifo das autoras]” é possível identificar o processo da autotranscendência. O querer compreender para ajudar não a si, mas para ajudar o outro com maior eficácia, o deixar de olhar somente para si e doar seu tempo, sua energia, para o mundo, para além de si. E é neste ponto em que o sentido da vida pode ser encontrado, no caso desta mãe, um novo sentido após a perda de seu filho. Frankl vem nos dizer que o indivíduo só é inteiramente ele mesmo quando é absorvido pela dedicação a uma tarefa, ao serviço de uma causa, uma ideia, ou no amor a outra pessoa. Sobre isso, ele faz a analogia desse processo aos olhos, em que só é capaz de cumprir sua função de ver o mundo quando não está a ver a si próprio (Frankl, 2003c, p. 18 apud Colovini, C. E. & de Ávila ). Assim sendo, o sentido só pode ser alcançado através da relação que o indivíduo estabelece com o mundo que transcende. É importante ressaltar que as relações não são unicamente com pessoas, o indivíduo pode estabelecer relação com uma causa, um valor, uma religião, uma instituição, entre outros. Sentido de vida - Um novo olhar para a vida Após o processo da autotranscendência se tornar presente na vida do sujeito, o sentido é encontrado. Segundo Moreira e Holanda (2010), a razão pela qual o sujeito deseja viver é motivada pelo anseio de dar significado aos fenômenos vividos. Nesse sentido, podemos identificar na fala da enlutada o desejo de buscar um novo motivo para continuar sua existência quando ela diz: “eu fiquei pensando como que eu poderia transformar essa dor né e aí veio a ideia de ser voluntária [grifo das autoras]”, sendo o que a motivou a sair do luto e ressignificar sua perda, uma vez que a busca pelo sentido da vida não é a felicidade,mas sim o meio em que se conquista. Neste relato, a mãe que perde seu filho busca novamente algo que a estimule e a ajude a encontrar um sentido, não sendo este fenômeno criado por ela, mas já existente e que precise ser encontrado (Frankl, 1994 apud Da Silva & Da Silva). Para ela, o sentido consistia em ajudar outros com sua experiência, fazendo de sua dor uma ponte para que pais e mães pudessem atravessar esse caminho tão árduo de dor e sofrimento. 14 Encontrar o sentido da vida é algo forte e desafiador ao mesmo tempo, especialmente após uma perda inesperada, um choque. Reencontrar esse sentido pode ser ainda mais difícil quando não se tem forças para seguir. Para que se torne viável, é necessário que se faça uso da habilidade criativa para reconectar-se ou encontrar um novo caminho em busca do sentido (Barone, 2004 apud De Andrade, et al). Portanto, ao reencontrá-lo, é possível deixar o lugar de padecimento e angústia para vivenciar a descoberta de um novo olhar para a vida. Autorrealização - Frutos da ressignificação A autorrealização é o que sucede o encontro do sentido, sendo alcançada quando o indivíduo, ao invés de voltar-se para si, permanece indo de encontro ao outro, trilhando o caminho do sentido e, consequentemente, o caminho da autorrealização (Nery, 2019). Contudo, Frankl não a caracteriza como o objetivo final do ser humano, uma vez que para se autorrealizar o sujeito precisa dedicar-se a um sentido fora de si. Ao encontrar o sentido, o ser humano tem por consequência a autorrealização e a felicidade (Dall Bello, 2019). É possível deixar tal conceito mais claro e concreto com o seguinte trecho “hoje eu encontrei mais assim um sentido porque [...] fazendo parte [...] desse trabalho de voluntariado e no grupo Vida que Segue, estudando [...] tem um sentido maior de poder contribuir com outras mães, outras famílias que vivenciaram a mesma situação que eu.” [grifo das autoras] Essa mãe encontrou um novo sentido de vida no voluntariado, corroborando o que Clark (2007) vem nos falar sobre a inclinação que o indivíduo tem de se vincular a algo na busca de encontrar um sentido na perda. Aqui podemos então inferir que a autorrealização foi alcançada, uma vez que o sentido buscado também o foi. Aqui, o efeito da autorrealização é a felicidade. Segundo Frankl (1991), é preenchendo um sentido no mundo que o sujeito poderá realizar a si mesmo. Caso o indivíduo tente o movimento contrário, tentar realizar a si mesmo e não um sentido, a autorrealização perde a sua razão de ser (Colovini & de Ávila,). É comum ouvir de nossos pares que estes desejam realizar sonhos “para” alcançar a felicidade, contudo, talvez seja mais comum ainda ouvir que serão felizes apenas “se”. Esse movimento vai contra o que a Logoterapia nos propõe sobre a 15 autorrealização. No caso eleito, foi possível identificar que todo o processo foi baseado no “para” e não no “se”. Contudo, a figura do psicólogo logoterapeuta se torna essencial no processo, pois, segundo Duncan (2002) “a relação terapeuta-cliente é central nos processos, o cliente como único responsável por suas escolhas e a promoção da compreensão do "eu" pelo cliente.” (Peres et. al, 2007, p. 137-138). A todo momento se faz necessário e indispensável buscar estratégias dentro da teoria para dar assistência ao enlutado no seu processo de ressignificar a dor, sendo esse um pilar importante para que a busca seja preenchida por algo de valor e não por “coisas banais”, pois, na busca por novos sentidos para a existência, o enlutado pode acabar se perdendo no processo. A abordagem realizada neste trabalho pode ser vista como um campo que se contrapõe às outras teorias, uma vez que na maioria das abordagens o foco é a realização em si. Em contrapartida, Viktor Frankl, criador da Logoterapia, propõe em sua teoria que a realização é alcançada através do encontro do sentido da vida e este, por sua vez, a partir da relação com “o outro” e com o ambiente. 4. Considerações Finais É possível observar nas falas da enlutada aspectos que estão presentes na Logoterapia. Mesmo sem o conhecimento da mesma, de alguma forma os princípios da abordagem a encontraram e auxiliaram no processo que atravessou. Deve-se ressaltar a importância da posvenção, pois o número de casos tem aumentado significativamente nos últimos anos. Esse termo diz respeito às atividades realizadas para atenuar o abalo da perda por suicídio e possibilita também a prevenção do sofrimento das próximas gerações (Flexhaug e Yazganouglu, 2008, p. 20). Segundo os autores, “a estimativa mais comum revela que existem seis sobreviventes para cada morte por suicídio” (p. 18). A posvenção, diz respeito à atenção disponibilizada aos familiares ou amigos das vítimas de suicídio. Esse cuidado é essencial, pois, sem dúvidas, todos aqueles que já tiveram suas vidas marcadas por uma perda deste tipo ficaram vulneráveis em maior ou menor grau. A morte autoprovocada faz com que as pessoas sobreviventes sofram o impacto, exigindo respostas a este evento estressor (FUKUMITSU; KOVÁCS, 2016, p 135). 16 Nesse sentido, faz-se necessário aumentar a rede de apoio a esses sobreviventes, pois no processo acabam por se encontrar sozinhos e se veem no vazio, sem esperanças de uma continuidade de sua vida. Ao se deparar com algo que tenha importância e possa trazer um novo sentido, um novo processo é iniciado podendo culminar na autorrealização. Em busca dos objetivos, foi possível perceber que há pouco material disponível que trate sobre a temática deste artigo. É de extrema importância que se estude mais sobre o enlutado, sobreviventes do suicídio, tendo em vista que “São mais de 800 mil pessoas que morrem por ano no mundo. E ainda, para cada suicídio, há muitas outras tentativas. O problema se agrava pois o suicídio traz consequências para as famílias, comunidades, países inteiros e seu efeito é duradouro para aqueles que ficam para trás.” Por fim, de um modo geral é possível identificar que os objetivos foram alcançados, uma vez que foi possível caracterizar a Logoterapia como modalidade psicoterapêutica, realizar a identificação dos conceitos de Logoterapia na fala da sobrevivente de suicídio e, por fim, evidenciar quais seriam as formas de assistência logoterapêutica ao sobrevivente de suicídio. 17 5. Referências Cândido, A. M. (2011). O enlutamento por suicídio: elementos de compreensão na clínica da perda. da Silva Véras, A., & Rocha, N. M. D. (2014). Produção de artigos sobre Logoterapia no Brasil de 1983 a 2012. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 14(1), 355-373. Dittrich, L. F., & Oliveira, M. F. L. (2019). Dimensão Noética: as contribuições da Logoterapia para a compreensão do ser humano. Revista Brasileira de Tecnologias Sociais, 6(2), 143-160. 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Anexo I - Relato completo da sobrevivente de suicídio retirado de plataforma digital “Sou Regina Reis, mãe enlutada por suicídio... é... como toda adolescente eu tinha o sonho de casar, ter filhos, constituir família. Tive três filhos, eles cresceram juntos, né, a infância foi junto, a adolescência foi junto. Alielson como filho, primeiro filho, primeiro neto por parte da mãe, foi muito esperado, né. Então assim, é... foi tudo muito intenso dele, foi tudo muito precoce. Ele andou rápido, ele falou rápido, é... na escola, assim, sempre se destacava também. Ele, é... frequentava os grupos da igreja né, ele era muito atuante, em tudo o que fazia e, assim, frequentou vários grupos e se destacava, às vezes pela facilidade que tinha, a comunicação, interação, era aquela pessoa cheia de vida. A gente era amigos de fato, sabe? A gente era, tinha uma relação legal. Ele, infelizmente como acontece em alguns casos né, alguns adolescentes, essa transição, esse conflito interno que às vezes acontece da pessoa não saber lidar com determinadas situações, ou um transtorno de personalidade, alguma coisa nesse sentido. Hoje eu percebo que, que de repente ele teve muitos conflitos, viveu muito isso e na época eu não, eu não, não percebi. Porque ele não apresentava, assim, característica de pessoa que tivesse com depressão, que geralmente a pessoa se isola, geralmente a pessoa fica sem falar com ninguém, quer ficar só... ele não, ele tinha um sorriso no rosto que assim, nossa, ninguém nem acreditou quando aconteceu porque era impossível uma pessoa com aquele sorriso aquela alegria ninguém acreditou que pudesse ter sido suicídio. Aquilo que fato, você não encontra resposta. E a questão do suicídio, o pior de tudo é isso aí é você conviver com algumas dúvidas com alguns questionamentos que você não tem resposta. Foi muito impactante, tanto pra mim é, como pra toda a família e pra todos do ciclo de amizades dele, foi muito impactante. Pra mãe é muito mais impactante, não dá nem pra descrever, literalmente a dor na alma por que é muito forte uma dor assim no peito que parece como se tivesse uma ferida bem inflamada sabe e alguma coisa vem e fica assim machucando mas pensa numa dor, dor, dor mesmo, muita dor, só quem sente é que sabe. E também eu nunca fui de ficar assim, de me entregar sabe ao sofrimento, por que a dor ela é inevitável, a dor essa é inevitável mesmo, agora assim, você tem a opção de ou você mergulhar numa depressão , numa tristeza profunda e ficar sem atitude e sem ânimo pra nada ou você pensar “bom o que eu posso fazer por mim, o que eu posso fazer por mim e pela família tenho os outros filhos” né e ver que a vida segue. Depois do suicídio eu fiquei um 20 tempo é ainda lá no amor exigente e depois eu fiquei pensando como que eu poderia transformar essa dor né e aí veio a ideia de ser voluntária de… né, da, da… de uma ONG que a gente faz uma escuta né faz atende por telefone e assim foi difícil fazer o curso sabe? foi difícil, mas eu toda vida fui muito assim de desafios, de enfrentar desafios e ai depois que eu entrei nesse voluntariado ai eu senti a necessidade de fazer Psicologia para poder compreender mais ainda e poder, é, ajudar mais ainda. O grupo Vida que Segue é um grupo formado por pais e mães enlutados por suicídio, o critério pra participar do grupo é esse: tem que ser pai ou mãe enlutado. Esse grupo, é… quando eu fui convidada pra participar desse grupo é porque algumas mães - uma em especial - ela numa pesquisa de uma estudante de Psicologia também ela comentou da necessidade de conversar com mãe que tinha mais tempo de vivência no luto pra tentar entender como é que conseguiu por conta da dor que é muito grande. E ai eu fui convidada pra participar desse grupo e ai a gente ta junta até hoje lá o grupo é uma troca de... é uma vivência né? Hoje eu encontrei mais assim um sentido porque hoje… que assim, fazendo parte, né, desse trabalho de voluntariado e no grupo Vida que Segue estudando, e assim, tem um sentido maior de… de poder contribuir com outras mães outras famílias que vivenciaram a mesma situação que eu, mas esquecer... a gente não esquece não, mãe não esquece filho de forma alguma até porque… quem é que imagina de enterrar um filho?”
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