Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Unidade 1 Livro Didático Digital Glória Freitas Literatura Infantojuvenil Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autora GLÓRIA FREITAS A AUTORA Glória Freitas Olá. Meu nome é Glória Freitas. Sou graduada em Pedagogia, com mestrado e doutorado na área de educação, com diversas experiências técnico-profissionais, na área de Educação, desde 1984, percorrendo inicialmente pela Educação Básica (na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I) em Escolas, posteriormente lecionando em formações docentes em Organizações Governamentais e Não Governamentais (ONG’s e OSCIPs), e a partir de 1990, lecionando os fundamentos e metodologias de ensino, na Formação Docente Inicial e Pós-Graduação, no Ensino Superior, em Universidades Públicas e Particulares, em São Paulo, Paraná, Ceará, Rondônia e Maranhão. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Trajetória histórica da literatura infantojuvenil no mundo ....... 12 Origem da palavra literatura na atual literatura infantojuvenil ....................... 12 Origem indiana da literatura infantojuvenil ocidental ........................................... 15 Origem da literatura infantojuvenil ocidental............................................................. 20 Trajetória histórica da literatura infantojuvenil no Brasil ..........24 A influência da colonização portuguesa na trajetória histórica da literatura infantojuvenil .....................................................................................................................................24 Trajetória histórica da literatura infantojuvenil brasileira ................................... 30 Primeira fase: do final do século XIX ao início do século XX........ 31 Terceira fase: 1946 a 1960 - período democrático ............................. 36 Quarta fase: de 1970 até 1989 - da Ditadura Militar aos tempos de redemocratização ........................................................................................................37 Função da literatura infantojuvenil .....................................................42 Análise das obras infanto-juvenis a partir das teorias estudadas .......................................................................................................48 9 LIVRO DIDÁTICO DIGITAL UNIDADE 01 Literatura Infantojuvenil 10 INTRODUÇÃO Olá. Seja muito bem-vindo (a) à disciplina Literatura Infantojuvenil. Você estudará, nesta unidade 1, a origem e a função da literatura infantojuvenil, a sua trajetória histórica, no Brasil e no mundo, desde sua origem até os dias de hoje, conhecendo detalhes da importância da literatura desde os tempos medievais. Aprenderemos sobre como os colonizadores portugueses trouxeram ao Brasil antigas produções medievais e que até hoje podem ser encontradas no nosso país. O próximo passo é aprender e ser capaz de definir a função da Literatura infantojuvenil, questionando os verdadeiros lugares que a literatura destinada as crianças, adolescentes e jovens possuem na vida contemporânea. Por fim, você entenderá elementos necessários para um professor analisar obras infanto-juvenis, apoiando e aplicando as teorias estudadas. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Literatura Infantojuvenil 11 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar a trajetória histórica da literatura infantojuvenil desde sua origem até os dias de hoje, no mundo; 2. Identificar a trajetória histórica da literatura infantojuvenil desde sua origem até os dias de hoje, no Brasil; 3. Definir a função da Literatura infantojuvenil; 4. Analisar obras infanto-juvenis aplicando a teoria estudada. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Literatura Infantojuvenil 12 Trajetória histórica da literatura infantojuvenil no mundo INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar a trajetória histórica da literatura infantil desde a sua origem até os dias de hoje, no mundo. E, ainda, será capaz de definir a função da literatura infantojuvenil. Isto será fundamental para a sua compreensão sobre o legado que a humanidade nos ofereceu, com encantadoras obras para serem oferecidas as crianças e aos jovens. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Origem da palavra literatura na atual literatura infantojuvenil Você já conhece bem a palavra literatura? Já leu, provavelmente, os livros recomendados pelos professores que preparam alunos para o ENEM ou leu fragmentos, contos, poemas ou até resumos de alguns famosos livros, pertencentes ao acervo fabuloso da literatura universal. Pode ter lembranças de aulas de literatura, nos idos anos de sua formação escolar. Poderá até afirmar que não gostava de ler até o momento em que um determinado livro chegou às suas mãos, ou mais recentemente se deparou em alguma Biblioteca Online e leu um e-Book que desencadeou seu prazer com relação ao ato de ler. É verídico afirmar que nós, os brasileiros ainda apresentam baixa performance na leitura. Isso é revelado, na pesquisa realizada em 2016, por ocasião da 4.ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, conduzida pelo Instituto Pró-Livro. Quando o esperado por tal instituto era um ativo leitor que lesse a cada três meses um livro, eis que a realidade imposta sobre o solo brasileiro revela que a média de leitura por habitante Literatura Infantojuvenil 13 do nosso país é de 2,43 livros por ano. Qual é a sua média de leitura por mês? Estas e outras questões sobre a Leitura nos remete a pensar em Literatura. Tratamos de ler e isso remete a palavra Literatura. Mas afinal o que a etimologia desta palavra esclarece aos leitores? Na origem latina, da palavra Literatura, encontramos “litteris” que significa “Letras”. É necessário tomar um cuidado especial para não limitar o entendimento e vastidão do que seja literatura, apoiado a origem latina desta palavra, apontada acima. Não é coerente limitar a literatura ao que pode ser encontrado escrito ou impresso. Não se deve esquecer que existe há milênios no mundo, em diversos povos e diversificadas línguas produção vultuosa de literatura oral, aquela que as pessoas decoram e recitam nos momentosde lazer e que atingem as crianças que ainda não são capazes de ler. Assim, na História da Literatura, modernamente, é possível afirmar que a literatura é a ciência relacionada às letras, e diz respeito a uma arte específica relacionadas aos atos de ler e escrever. Mas também aos atos relativos a literatura oral. Está envolvido na resposta do que seria a Literatura os elementos envolvidos nos atos de elaboração e exposição de textos escritos ou orais, em uma vastidão que vai dos versos de uma poesia aos textos em prosa, distanciados da métrica dos versos e mais próximos das nossas naturais linguagens faladas ou escritas. A língua é o material da literatura, como a pedra ou o bronze são o da escultura, as tintas o da pintura, os sons o da música. Devemos perceber, porém, que a língua não é mera matéria inerte, como a pedra, mas é, ela própria, uma criação do homem e, assim, carregada com a herança cultural de um grupo linguístico. (WELLEK; WARREN, 2003, p. 14) Quando você reflete sobre aqueles livros da literatura universal, chamados de clássicos, carregados de representações sobre a época em que forma escritos e potentes suficientemente para ser ao mesmo tempo o retrato de um tempo e se perpetuar, com sua originalidade pelos Literatura Infantojuvenil 14 tempos distintos daqueles em que foram escritos, traduzidos para diversas línguas, lidos por muitas gerações e em muitas regiões do mundo. Ao analisá-los você irá perceber que eles estão relacionados à cultura letrada. Antes das nossas existências, de nossos avós, e ainda hoje em muitas partes da Terra, são ainda pertencentes ao cotidiano dos que possuem recursos materiais para adquirir tais obras, condicionalmente acessível aos que sabem ler e escrever ou recebem ajuda de um familiar ou da professora para ouvir atentamente a leitura. NOTA: “Nesse sentido, literatura está ligada ao poder e ao prestígio das classes dominantes e é conservada na medida em que expressa a visão do mundo e os interesses dessas camadas” (PAIVA, 2014, p. 17). Cercada destes imperativos econômicos, a literatura furou vários cercos e sobreviveu através dos tempos, atravessando fronteiras, os leitores memorizaram suas experiências com as leituras e compartilharam com as novas gerações sobrevivendo aos momentos mais dramáticos da história da humanidade, guerras e tratados de paz e ressurgindo em momentos históricos tão diferenciados daqueles em que viveu ou idealizou a pessoa que escreveu uma obra determinada de literatura. O que significa aquilo que denominamos atualmente como literatura infantojuvenil? É aquela literatura delimitada a um público específico e que coincidentemente é o mesmo que conhece a literatura em suas casas e nas escolas, em um período significativo das vidas de crianças, adolescentes e jovens. A literatura feita ou que serve às crianças faz parte da literatura geral, sendo focada para o público infantojuvenil, estimuladoras do imaginário dos nossos pequenos filhos, netos ou Literatura Infantojuvenil 15 alunos, potentes o suficiente para “auxiliar a compreensão e a resolução de conflitos internos de cada indivíduo em particular” (SILVA, 2009, p.136). Esta literatura infantojuvenil originalmente, tanto quanto nos dias atuais, estava relacionada aos processos de formação de meninos e meninas, que pode ocorrer em muitos equipamentos culturais e bibliotecas, mas prioritariamente deverá estar relacionado ao espaço escolar. O que não impede que os livros da literatura universal e brasileira, estas belas páginas e verdadeiros tesouros da humanidade e do povo brasileiro, graças ao intensivo progresso gráfico e ao mercado editorial, possam habitar às mentes de inúmeras crianças e jovens. As literaturas feitas para as infâncias e os jovens ao redor do mundo são, concomitantemente, coniventes e aprisionadas do intricado processo cultural encarregado em formar futuros e libertos leitores. Figura 1: A magia na literatura Fonte: Freepik Origem indiana da literatura infantojuvenil ocidental É incontestável afirmar que a literatura produzida no ocidente pode ser entendida como um todo harmônico. E o que representa o lado ocidental da terra? Qual é a civilização ocidental? São todos países da União Europeia, das Américas do Norte, central e Latina, do vasto Literatura Infantojuvenil 16 continente africano é representado pela África do Sul, e ainda comporta a Austrália e Nova Zelândia, do continente asiático. Aquilo que é denominado como literatura ocidental é, forçadamente e por conta de sua origem, relacionada e deve muito as literaturas grega e romana e seus gigantescos legados. Mas é somente isso? Evidentemente que não! É comprovado e igualmente incontestável que as experiências de literatura infantojuvenil foram tocadas, como a literatura de modo geral, nos tempos medievais e modernos por interessantes influências não ocidentais, nitidamente orientais, entre as quais é possível destacar a Bíblia sagrada. Sobre as origens que ocidente e oriente comungam, envolvendo a literatura, é bastante importante que você entenda que o papel relevante evolutivo da literatura, através e em todos os tempos, a favor da humanidade. Uma tarefa essencial é vasculhar as origens da Literatura Infantil, reconhecida atualmente como clássica, a partir de seus ancestrais ou de sua célula-máter: a Novelística Popular Medieval que, por sua vez, tem suas raízes mais remotas em certas fontes orientais (Índia) ou, mais precisamente, indo-europeias. As famosas, e recorrentemente lidas, histórias que chamamos de infantis ou dedicadas, na contemporaneidade às crianças, pelos pais e professores, desde bem pequenas, até os dias atuais, aqueles denominados clássicos infantis, os belos e encantadores contos de fada ou contos maravilhosos de Perrault, Grimm ou Andersen, ou as fábulas de La Fontaine, praticamente esquecemos (ou ignoramos) que esses nomes não correspondem aos dos verdadeiros autores de tais narrativas. E quem seriam originalmente os autores de tão recontadas obras da literatura infantil, nos mais diversos tempos e nas mais distanciadas culturas? É incansável e recorrente vê-los como autores de obras que as crianças insistem em amar, geração após geração, desde o século XVII. Se não são autores, qual o papel que eles desempenharam ao colocar em livros tais velhos relatos da humanidade? Hoje, já é de conhecimento que estes autores acima citados eram interessados na literatura folclórica, obra primorosa dos povos de inúmeros Literatura Infantojuvenil 17 países e colheram taus fantásticas histórias anônimas, vivas através do boca-a-boca de diversas gerações de tantos povos, perpetuando-as através da escrita, desde o apogeu da imprensa. A chamada Idade Moderna, entre os anos 1453 e 1789, abarca o período da invenção da Imprensa e de seus múltiplos desdobramentos nas publicações. Estes autores, exímios pesquisadores dos saberes orais populares à época em que viveram, foram catalogando este rico acervo oral popular, já antigo e compartilhado por muitas gerações e deram-lhes, a tais saberes do povo, um destino importante e de caráter de preservação de tais saberes, a escrita, em livros, as sensacionais coletâneas registradas com seus nomes como autores, apesar de serem apenas recriadores, exercendo um papel muito importante à humanidade, não deixar que estas memórias literárias populares fossem apagadas com o tempo ou restritas aos lugares e povos onde forma coletadas. Estudiosos de todos os pontos da Terra e pertencentes às mais diferentes áreas de pesquisa (Filologia, Linguística, Folclore, Etnologia, Antropologia, Historia, Literatura, Pedagogia, etc.) têm tentado descobrir os misteriosos caminhos seguidos por essa Literatura Popular que, vinda da origem dos tempos, chegou até́ nos. Mas esse fenômeno coloca problemas a maioria das vezes insolúveis, taiscomo: Quando e Como teria sido criada a literatura? Qual teria sido sua verdadeira forma no momento em que foi inventada? Por que teria nascido e resistido, através de tempos tão primitivos, até́ o momento em que entra para a história, ao transformar sua fala em escritura? (COELHO, 2010, p. 06) Antes destes fabulosos compiladores de contos populares, os estudiosos da Literatura reconhecem a existência daquilo que chamam de Literatura Primordial. Tal literatura oral de diversos povos não era ainda imortalizada nos livros, como passariam a ser a partir da Era Moderna, mas potente o suficiente para transmitir as novas gerações antigas Literatura Infantojuvenil 18 e maravilhosas histórias, por vários séculos. Tal potente conjunto de histórias, hoje já é sabido, são narrativas orientais, tão antigas, anteriores ao aparecimento de Cristo, seguiram firmes no futuro e constituído mundo cristão, unicamente pela via da oralidade. Aparentemente delicada e incerta, a palavra, relacionada a literatura ou não, está presente na intenção humana de comunicação com os seus semelhantes. Nós, os viventes, seja em que tempo for, precisamos comunicar fatos e ideias e isso seria algo intrínseco a nossa humanidade. O impulso de contar estórias deve ter nascido no homem no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros certa experiência sua, que poderia ter significação para todos. Pode surpreender que as historinhas contadas a você pelos seus familiares e que ainda hoje encontram novas versões em nossa língua Português do Brasil são originadas de narrativas primordiais orientais. Aquelas histórias denominadas de europeias, que supostamente teriam chegado com os portugueses, as famosas, ancestrais e populares narrativas medievais. Aqui, no Brasil, chegaram e tomaram rumos na literatura folclórica, ainda existente contemporaneamente no nordeste do Brasil (literatura de cordel) e nas reconhecidas obras de: [...] literatura infantil (através dos registros feitos por escritores cultos, como Perrault, Grimm, etc.). Examinando-se esses dois acervos literários (o folclórico e o infantil) em Portugal e no Brasil, verifica-se que as versões folclóricas de certas narrativas apresentam inúmeras variantes (dependendo das regiões onde se arraigaram); enquanto as versões infantis se reproduzem praticamente inalteradas, nas várias edições que se sucedem. É a mobilidade da vida (resultante da transmissão oral) contraposta à fixidez do texto literário, determinada pela escrita. (COELHO, 2010, p. p.06) Os pesquisadores da Literatura afirmam que chegou na Península Ibérica, no decorrer do reinado de Afonso, filho do rei Fernando, na Espanha do século XIII. Uma versão árabe chega a Europa medieval, via Espanha, Literatura Infantojuvenil 19 e será matriz para uma importante produção de romance castelhano, autorizado por El Rey Alfonso. Essa primitiva versão castelhana foi levada fora da Espanha e inspirou uma outra publicação, feita na França, por iniciativa do médico Raymundo de Béziers, seguindo orientação de Dona Juana de Navarra, a mulher de Felipe, o Belo. Ela não chegou a ver a obra finalizada em 1313 (século XIV) e entregue ao rei. Esta interessante obra pode ser vista até hoje na Biblioteca Nacional de Paris. A narrativa que serviu de matriz para estas duas publicações foi Calila e Dimna (Kalila wa-Dimna ou Kalila e Dimna) é uma interessante coleção, com grande circulação e repleta de fábulas (composições literárias curtas) orientais, oriundas da Índia, escritas na Língua antiga sânscrita por volta do século III, ao que tudo indica. Posteriormente foram traduzidas para o árabe, no século VIII, tendo como autor desta tradução o célebre escritor árabe Ibn al-Muqaffa. Desta tradução árabe surgiram muitas outras obras escritas em diversas línguas europeias e orientais, entre os séculos X a XIV. Tal tradução árabe do século VIII (por volta dos anos 600 a.C) influenciou as conhecidas fábulas de la Fontaine. Figura 2: Capa do livro traduzido do escritor árabe Ibn al-Muqaffa Fonte: Amazon Literatura Infantojuvenil 20 E do que trataria esta obra? Das questões da vida em sociedade e dos príncipes e princesas e também de histórias envolvidas com o mundo animal. Este manuscrito muito conhecido, produzido no Egito por volta de 1310, é, provavelmente, o mais velho dos quatro manuscritos árabes Kalila wa-Dimna do século XIV. Um dos poucos textos em árabe a serem ilustrados, este contém 73 miniaturas de alta qualidade artística e são, portanto, um importante monumento de decoração de livro árabe. SAIBA MAIS: Para conhecer um pouco mais sobre esta importante obra árabe, “Kalila e Dimna”, acesse o manuscrito do ano de 1310, com 73 belas miniaturas artísticas, diretamente do acervo digital da Biblioteca Digital Mundial, disponível no link: https:// bit.ly/2LYH1Vg. Origem da literatura infantojuvenil ocidental Diante destes fatos históricos, não é possível desconsiderar tais publicações anteriores, dedicadas aos adultos e aos seus filhos conjuntamente. Seus desdobramentos na História seguinte da Literatura infantil, que irá se desenvolver bastante no século XVIII, aliada a uma mudança na visão sobre a infância. A visão da criança na Idade Média brincando e convivendo em espaços comuns aos adultos, ouvindo suas narrativas mudou drasticamente. Na Idade Moderna, inicialmente as crianças serão muito paparicadas por seus pais, e, posteriormente, serão levadas aos rígidos colégios para aprender modos apropriados à vida social. A literatura infantil deste século XVII terá uma ligação estreita com a Pedagogia, Literatura Infantojuvenil 21 dessa forma, confunde-se muito seu caráter artístico com sua função didático-pedagógica. Já no século XV, Fénelon, evoluído escritor, foi o precursor da atual literatura dedicada especialmente para as crianças, com a presença da moral da história, com personagens bons e maus para a criança perceber facilmente os comportamentos morais esperados. Bem poderia ter recebido um destaque maior na história da literatura moderna, mas o lugar de destaque foi dado ao Charles Perrault. Figura 3: Histórias ou contos do passado, com moral, 1697 Fonte: Wikimedia Literatura Infantojuvenil 22 Charles Perrault vivia França, no fim do século XVII, tendo publicado o livro Os contos da Mãe Gansa. Perrault foi um hábil recolhedor dos famosos contos populares, apresentando as suas morais das histórias. Além da já citado Contos de Mão Gansa, este importante autor de literatura infantil irá ouvir do povoe registrar na escrita os seguintes e celebres contos e histórias, escritas para as crianças: Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: Trajetória da Literatura Infantil: Da origem Histórica e do Conceito Mercadológico ao Caráter Pedagógico na Atualidade. Acessível pelo link: https://bit.ly/2RUzmLK A História da Literatura Infantil no Brasil e no mundo é repleta dos legados de homens e mulheres que dedicaram os seus dias a escrever para crianças, adolescentes e jovens. Alguns escritores coletaram narrativas orais populares, deram uma escrita para os contos orais e, assim, carregamos para a indústria cinematográfica e outras fontes as antigas histórias populares, contadas nas horas vagas e para a totalidade da população, crianças e adultos. Estas práticas remotas, distantes, anteriores aos atuais estados de popularização dos livros foram narradas por nossos avós que viveram em distantes fazendas, no interior do Brasil. Estes antepassados contaram para nossos avós que, na boquinha da noite, depois do jantar, todos sentavam no terreiro da casa, parte da frente da casa e começavam a ouvir históriasnarradas por alguém hábil nesta arte e que mantinham todos calados e atentos, em tempos sem televisão. Aprendidas e rememoradas de forma Literatura Infantojuvenil 23 oral fizeram um papel fundamental na vida das pessoas, distantes das práticas educativas e dos livros. A Literatura infantil mundial não está dissociada a história das famílias, da sociedade, dos costumes e da infância propriamente dita. A origem da literatura infantil vincula-se às mudanças estruturais que ocorreram na sociedade dos séculos XVII e XVIII, momento em que se instalou o modelo burguês de família unicelular, provocando uma alteração na forma de se visualizar a infância e todas as instituições com ela relacionadas. Dessa forma, explica-se o papel de aliada que a escola - e com ela a produção de textos dirigidos às crianças passou a exercer para a consecução dos objetivos e valores preconizados por essa nova classe social emergente. (BECKER, 2001, p.35) RESUMINDO: Você fez um percurso sobre a extraordinária trajetória histórica da literatura infantojuvenil desde sua origem e suas influências nos dias atuais, no mundo. Você será capaz de refletir, partindo dos dados lidos até aqui, que a literatura que ainda hoje é oferecida às crianças, contidas nos livros, nas mentes dos adultos que contam histórias, que aparecem em filmes diversos chegaram na Europa, passando por uma tradução árabe, de uma produção indiana. Será possível concluir que estas produções europeias chegaram ao Brasil colonizado pelos portugueses e que será o tema seguinte: a trajetória histórica da leitura infantil desde sua origem até os dias de hoje no Brasil. Vamos avançar na leitura? Literatura Infantojuvenil 24 Trajetória histórica da literatura infantojuvenil no Brasil INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de identificar a trajetória histórica da literatura infantojuvenil desde a sua origem até os dias de hoje, no Brasil. Isto será fundamental para a sua compreensão sobre o legado que a humanidade nos ofereceu, com encantadoras obras para serem oferecidas as crianças e aos jovens, no Brasil. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A influência da colonização portuguesa na trajetória histórica da literatura infantojuvenil A colonização portuguesa trouxe ao Brasil, a partir do começo do século XVI, o universo literário em pleno desenvolvimento em Portugal. Esta influência vai desde as produções que tinham o livro Calila e Dimna como protótipo, com as suas fábulas com príncipes e animais falantes até os romances de amor, que encontraram na Europa alguns confrontos com o moralismo cristão à época, no século XIV, e questionavam a origem árabe ou indiana de tais produções. Tais produções do oriente chegaram via Espanha e foram impondo, nestas famosas fábulas, desde o seu aparecimento em solo europeu, predominantemente, uma aposta utilitária, repassando conceitos de vida esperados para as crianças e jovens incorporarem, neste intenso momento de transição entre os tempos medievais e a Idade Moderna. Para entender a literatura neste momento é preciso compreender o processo de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna ocorrido nos séculos XV e XVI e que teve como características fundamentais o surgimento do movimento renascentista, a reforma religiosa protestante e Literatura Infantojuvenil 25 a consolidação da economia burguesa. A Europa passou por um período de organização política dos estados e deu início à época das Grandes Navegações, que buscavam novas relações comerciais e terras a serem conquistadas e exploradas. Isso, toca na nossa história brasileira! O Extenso processo de civilização ocidental (do começo da Idade Média ao fim do século XIX) reformulou os códigos de comportamento, era necessário saber se vestir, ter bons modos, boas maneiras, cabendo aos professores serem os promotores do que a literatura moderna chamava de saber viver (savoir-vivre) e saber fazer (savoir-faire), destinado às elites, além do aprender a ler para continuar sendo um leitor e escritor, pelo resto da vida. Assim, foi possível dar conta das existências dos ricos, na Idade Moderna, lendo os seus diários, suas autobiografias, com exaustivos relatos da vida cotidiana. Bakhtin (1993) lembra que as literaturas paródicas medievais são literaturas recreativas, criadas durante os lazeres das festas com uma atmosfera de licença e liberdade. Comenta que as recreações escolares e universitárias foram impulsoras de tais paródias, ocorridas nas festas com grande liberdade de rir e brincar. Distante dos regulamentos escolares aos quais usavam como inspiração para criar suas brincadeiras jocosas. A paródia medieval converte em jogo alegre e totalmente desregrado tudo o que era considerado como sagrado e importante aos olhos da ideologia oficial. E isso vai mudar drasticamente no decorrer da Idade Moderna. Tal literatura renascentista (entre os séculos XIV e XVI) aglutina as imagens do jogo, das profecias paródicas, dos enigmas e imagens das festas populares, do carnaval e juntos contribuem para modificar a sombria idade média, em festiva escrita, até que surjam os colégios para colocar regras aos mais jovens. É a ousadia de humanizar o processo histórico, produzindo um conhecimento lúcido e ousado dele, que vai marca este período. Mas com o avanço da Idade Moderna e tantas influências dos jesuítas (que já aparecem no Brasil no século XVI) ficará menos alegre e carnavalesco ser jovem, nos colégios. A palavra Infância vem da palavra Infans que significa sem voz. Neste tempo as ideias avançadas determinavam a necessidade de ensinar as novas gerações. O que deveria ser concluído até o 7.º ano de Literatura Infantojuvenil 26 vida, na chegada da chamada Idade da Razão. A literatura moderna vai trazer novos entendimentos, não bastará às crianças ensiná-las a falar, serão imperativas as habilidades da ler e escrever. Infantil passa a ser tudo relacionado ao iletrado. Uma criança medieval era vista com o sentimento de linhagem, pertencente a um clã e não dissociado dele. O que ela é por si própria, sua singularidade, suas diferenças, típicos modos de agir e ser, ainda, não interessavam em nada. Do fim da Idade Média até o século XIX, atravessando a Idade Moderna e indo além dela, surgem novos modos de sentir, perceber e conceituar a infância como uma categoria, os pais já não aparecem como indiferentes aos filhos. A criança, na Modernidade, será fruto de uma intenção e contenção de maus condutas. O caminho percorrido foi sair dos excessivos castigos e intimidações para uma busca, tão menos invasiva, de controlar internamente às mentes infantis. Natural que a literatura infantil fosse atingida por este novo cenário e modo de pensar a infância: A partir do século XVII desenvolve-se uma preocupação com as distinções para a educação das crianças – ou pelo menos dos filhos dos burgueses e Aristocratas. A ótica individualista e a constituição de novas sociabilidades favorecem o afeto e o cuidado com a infância, que se expressa, por exemplo, num maior empenho em planejar o futuro profissional dos filhos seja para assumir cargos administrativos, para seguir uma profissão autônoma ou continuar os negócios da família”. (VEIGA, 2007, p. 38) Esta literatura humanística (no século XVI, data da chegada no Brasil dos portugueses) será muito lida e está repleta de dicas para diminuir a paparicação com as crianças, que era, então, o sentimento dos adultos relacionados à infância, surgindo um consistente conjunto de normas e Literatura Infantojuvenil 27 padrões que os adultos deveriam seguir para ter filhos bem-educados. Um caso destas dicas é o livro de Erasmo de Rotterdam, o De Pueris que expressa como os humanistas não poupavam críticas aos excessivos afagos, em detrimento de poucos esforços para educá-los. Este universo medievaleuropeu, trazido em parte ao Brasil, dentro das primeiras embarcações e pelos anos seguintes, principalmente no decorrer da permanência no Nordeste, a partir de 1535, já em Pernambuco era composta Por uma copiosa literatura narrativa vinda de fontes distintas: uma popular e outra culta. A de fonte popular é a prosa narrativa “exemplar”, derivada das antiquíssimas fontes orientais ou greco-romanas. A de origem culta é a prosa aventuresca das novelas de cavalaria, de inspiração ocidental. Nesta, são realçados um idealismo extremo e um mundo de magia e de maravilhas completamente estranhas à vida real e concreta do dia a dia. Naquela, afirmam-se os problemas da vida cotidiana, os valores de comportamento ético-social ou as “lições” advindas da sabedoria prática. (COELHO, 2010, p. 25) Foram os nossos colonizadores portugueses que trouxeram, a partir do século XVII, a um conjunto vasto de novelística medieval espalhada em todo o país, apesar de termos que esperar 1840 para vê-lo editado, pela 1.ª vez no solo brasileiro, na língua portuguesa do colonizador. Tal literatura teve grande repercussão, perpetuando-se na memória popular e encantando também às crianças, certas novelas de cavalaria, condensadas, perduram no acervo popular nordestino (enquanto em Portugal já́ praticamente desapareceram). Literatura Infantojuvenil 28 Figura 4: Romances ibéricos chegaram ao país com os colonizadores Fonte: Kobo ACESSE: Leia a reportagem da BBC Brasil: Família nordestina guardou séculos de romances medievais de mais de 700 anos na memória, no link: https://bbc.in/2LX4GFU. Lidos, memorizados e cantados romances ibéricos se entranharam na cultura popular nordestina até hoje. Chegou ao Brasil emergente estes romances que tratam originalmente das lutas dos árabes e que permaneceram na Península Ibérica entre os séculos VI e XV, sendo os ancestrais de alguns dos colonizadores, como é o caso dos primeiros governantes da capitania de Pernambuco, liderados por Duarte Coelho e Jerônimo de Albuquerque. Como nem todos sabiam ler, aprenderam a cantar tais romances e que ainda hoje são cantados por muitas gerações de brasileiros. Coelho (2010) ressalta o trabalho de Luís da Câmara Cascudo, folclorista do Rio Grande do Norte, que encontrou cinco novelas famosas, Literatura Infantojuvenil 29 vindas do velho mundo e que persistiram vivas no século XX, entre elas estavam a: [...] Donzela Teodora; Roberto do Diabo; Princesa Magalona; Imperatriz Porcina; História do Imperador Carlos Magno e Os Doze Pares de Franca. Como diz o eminente folclorista: São contos tradicionais pela persistência. Quase todos têm versões poéticas, em quintilhas e sextilhas que são entoadas pelos “cantadores” profissionais no Nordeste Brasileiro, talvez a única região do mundo onde essa atividade se conserva com caráter permanente e grande números de profissionais”. (COELHO, 2010, p.41) VOCÊ SABIA? Até hoje são cantados versos que vieram para o Brasil com os colonizadores Quer conhecer um dos dramas cantados ainda em circulação no Brasil, em uma bem humorada encenação? Grupo Quatro Ventos: Romance de Jorge e Juliana. Veja no link: https://bit.ly/35pdI6a Outra contribuição importante, na investigação deste legado, deixado pelos colonizadores foi o trabalho preciso de Florestan Fernandes. Ele estudou a relevância da cultura infantil e seu destacado papel mediador e de transmissão folclórica, revelando, na ocasião de suas pesquisas, que nas brincadeiras das crianças estavam elementos dos antigos romances, as novelas de cavalaria, transformados em dramatizações infanto-juvenis. As pesquisas acontecerão em São Paulo, entre 1942 e 1959, sendo uma excelente contribuição sobre as inter-relações entre o folclore, na grande diversidade cultural paulistana, formada por tantos migrantes e a cultura popular, sendo que todos estes elementos são profundamente tocados pelas intensas transformações pelas quais passavam a cidade e a sua população, nas primeiras décadas do século XX. Boa parte dos elementos constitutivos da cultura infantil são restos de romances velhos, hoje transformados em jogos Literatura Infantojuvenil 30 cênicos como “A Noiva”, “Organdão”, “Juliana”, etc.; ou antigas danças coreográficas, como “A Canoa Virou”, o “Picoton”, “Passei pela Barca”, “Ciranda a Roda”, etc. Todas essas composições são antigas. Os romances velhos datam do século XVI, mas há composições anteriores e outras mais recentes (danças coreográficas) do século XVIII. (FERNANDES, 2004, P. 246) Este reconhecido pesquisador da USP, Florestan Fernandes, defendeu que as composições que encontrou nas ruas paulistanas, nas horas de brincadeiras infantis, eram no passado circunscritos aos adultos e com o passar dos tempos caíram nos interesses das crianças e as crianças ensinavam umas às outras nas ruas. Da longínqua tradição ibérica aos cantares e brincares infantis do século XX, na emergente capital paulista, iam sendo preservadas. Este autor considerava tais antigos romances trazidos pelos colonizadores, desaparecidos das vidas adultas tanto em Portugal e no Brasil também e estarem sobrevivendo nas ruas e nas horas do brincar infantil. SAIBA MAIS: Leia mais sobre o que é literatura e sobre a origem da literatura no Brasil e no mundo. E ainda conheça uma discussão contemporânea na área de literatura infantojuvenil no Brasil, relacionada a Racismo, literatura infantil e a construção da identidade de criança negra. No seguinte link: https://bit. ly/2rMEVRu Trajetória histórica da literatura infantojuvenil brasileira A literatura infantil brasileira foi guerreira! Enfrentou dificuldades intensas e inúmeras até conquistar sua hegemonia e seu reconhecimento, com sua pujante produção artística. Ao longo do tempo, nas batalhas necessárias para ter seu lugar ao sol, percorreu-se um longo caminho, Literatura Infantojuvenil 31 partindo da importação e tradução para o português dos textos tradicionais até a sua consolidação atual: No início, importaram-se os textos tradicionais e, com eles, o mesmo caráter didático e redutor decorrente da associação da literatura com os valores de um grupo social hegemônico. Usou-se o texto infantil como difusor de preceitos e de normas comportamentais, doutrinando-se as crianças. Uma retrospectiva voltada para o surgimento do gênero no Brasil permite estabelecer quatro fases, cada uma delas limitada pelas concepções ideológicas que se evidenciaram nas produções mais conhecidas.” (BECKER, 2001, p.35) A literatura infantil brasileira foi impulsionada com a criação da Imprensa Régia, no ano de 1808, possibilitando a publicação de nossos primeiros livros, destacando-se a obra: As aventuras pasmosas do Barão de Munchausen e, em 1818, a coletânea de José Saturnino contendo uma coleção de histórias morais relativas aos defeitos ordinários às idades tenras e um diálogo sobre geografia, cronologia, história de Portugal e história natural. (LAJOLO; ZILBERMAM, 1986, p.23) Becker aponta a existência as fases importantes da História da Literatura Infantil Brasileira e que você verá agora: Primeira fase: do final do século XIX ao início do século XX O foco neste período foram as primeiras tentativas de formação de um público leitor infantil brasileiro. E isso foi planejado utilizando o caráter norteador advindo da Europa. Isso já é visível em uma das primeiras Literatura Infantojuvenil 32 publicações brasileiras que foi intitulada como Leitura para meninos. Era uma coleção: De histórias morais relativas aos defeitos ordinários às idades tenras e um diálogo sobre geografia, cronologia, história de Portugal e história natural. O compromisso pedagogizante, que marca a produção dessa época, revela a posição assumida pelos intelectuais, preocupados, nesse momento histórico, com um projeto: a modernização do país. (BECKER, 2001, p. 36)O foco era a defesa de que a escola seria um espaço para estimular valores patrióticos entre os brasileiros, e a infância seria bom momento de começar este trabalho. Neste caminho alguns autores brasileiros poderiam facilitar este percurso nacionalista. Citam-se, entre as produções de autores nacionais com essa finalidade, Contos Pátrios e Através do Brasil (Olavo Bilac e Coelho Neto), Era uma vez (Júlia Lopes de Almeida) e Saudade (Tales de Andrade). Permeável às solicitações da sociedade, a literatura infantil integrou-se aos esforços de instalação da cultura nacional, vinculada à escola e à valorização do nacionalismo”. (BECKER, 2001, p. 36) ACESSE: Conheça esta inaugural obra da Literatura Infantojuvenil ficada no objetivo nacionalista: BILAC, Olavo & NETTO, Coelho. Contos Pátrios. Francisco Alves, RJ, 1931, 27ª ed. (ilustrado por Vasco Lima), no link: https://bit.ly/2YO5Cl7 E permaneciam as famosas traduções e adaptações de obras estrangeiras realizadas por Carlos Janssen e Figueiredo Pimentel, no século XIX. É considerado como o 1.º escritor de obra infantil no Brasil, Alberto Figueiredo Pimentel, com o livro Contos da Carochinha, de 1896. Levou alguns anos para acontecer a 1.ª publicação de literatura própria, Literatura Infantojuvenil 33 não versão de obras estrangeiras, com a obra A filha da floresta, de autoria de Thales Castanho de Andrade, em 1918. Entre famosas obras, deste período do final do século XIX ao início do século XX, estavam destacadas as seguintes obras: Contos das Mil e uma noites, Viagens de Gulliver, Robinson Crusoé, Contos, D. Quixote de La Mancha, Contos de Perrault, Anderson e Irmãos Grimm, Contos da Carochinha, Histórias da baratinha, entre outros. Tais obras foram feitas para o público europeu, com precárias traduções e adaptações a realidade brasileira, demonstrando a distância entre a realidade onde foram escritas e a nossa realidade linguística, identidades culturais e regionais, e nossas representações do mundo. (BECKER, 2001, p. 36) Figura 5: Capa do livro de Figueiredo Pimentel Fonte: Acervo Puc Rio Literatura Infantojuvenil 34 Segunda fase: de 1920 até 1945 - período de intensa movimentação política, intelectual e artística brasileira Fase bastante influenciada pelo modernismo (1.ª metade do século XX). O modernismo foi marcado pela busca pelo moderno, pelas originalidades e aberto ao polêmico, apreciando de forma extensa o nacionalismo, a volta às origens, a valorização dos Povos Originários, os indígenas e da língua falada espontaneamente pelo povo brasileiro, foram marcantes neste período. A excluída cultura popular, as falas espontâneas do povo brasileiro e o folclore serão do interesse de autores como Mario de Andrade, famoso modernista paulista. E neste intenso e questionador cenário, em 1921, de aturada movimentação histórica e cultural, aparece Monteiro Lobato. Quem foi Monteiro Lobato? O precursor da literatura infantil brasileira? José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, estado de São Paulo, nasceu em 1882 foi um importante escritor brasileiro. Ele editou e traduziu muitos livros. Este trabalho de edição e tradução já era conhecido no brasil e realizado por Figueiredo Pimentel (“Contos da Carochinha”). Monteiro Lobato foi imortalizado por sua grande contribuição à literatura infantil brasileira, que corresponde à metade de suas publicações além de artigos, contos, crônicas críticas, prefácios, livros não focados em temas da literatura infantil. Popular entre as crianças e apreciado por sua escrita clara e de fácil entendimento aos pequenos leitores. O público brasileiro conhece a irreverente, falante e independente boneca de pano, o menino Pedrinho, sua avó Dona Benta e a irmã Narizinho. E quem não tem medo da Cuca? Monteiro Lobato, o nosso precursor da literatura infantil brasileira, foi notável em oferecer uma nova roupagem e impulsionar a produção de livros infantojuvenil no Brasil. Incentivando a produção editorial dedicada às novas gerações. Um escritor voltado para este público, um inovador Literatura Infantojuvenil 35 de temáticas e narrativas, preocupado em aproximar a linguagem e o tom cotidiano, as falas típicas brasileiras. O que se resultou deste trabalho do autor foi a instauração de uma nova perspectiva, mudando as mentalidades “em relação ao tipo de texto que se produzia para crianças. A criação literária do autor paulista dirigida às crianças centrou- se no receptor e, nessa trajetória, seguia os passos da elite artística, que buscava uma identidade de tipos e de linguagem na produção literária. (BECKER, 2001, p.36) Impulsionados por este movimento foram adaptadas e ganharam versões na nossa língua, das produções consideradas como clássicos da literatura infantil, a valorização do folclore nacional foi considerada como fonte de pesquisa para produções que ficaram perpetuadas nas mentes brasileiras que leram Monteiro ou viram produções televisivas baseadas em suas obras. Mesmo com as inovações, observa-se, em algumas obras, a permanência do caráter pedagógico, especialmente naquelas que aproveitavam temas históricos. Situa-se nesse caso, por exemplo, Aventuras de Hans Staden, de Monteiro Lobato, que materializa a proposta educativa do autor. Com seu trabalho, procurava arejar a metodologia da escola tradicional, buscando espaço, dentro do contexto da narrativa, para a discussão de pontos polêmicos relacionados com a História do Brasil. Com a ética e com o comportamento humano. Monteiro Lobato acreditava que a mudança de mentalidade das novas gerações possibilitaria o avanço rumo ao tão desejado alinhamento do Brasil com os países desenvolvidos. (BECKER, 2001, p. 37) SAIBA MAIS: Conheça um pouco mais sobre a vida e obra Monteiro Lobato, a repercussão de tal obra na cultura brasileira, no século XX, na Televisão. Documentário sobre Monteiro Lobato realizado e produzido pela Cátedra UNESCO de Leitura e PUC-Rio. Roteiro: Gilda Carvalho e Manoel Caetano, no seguinte link: https://bit.ly/2rQkUtj. Literatura Infantojuvenil 36 Terceira fase: 1946 a 1960 - período democrático No momento da saída e superação dos horrores da Segunda Guerra Mundial, encontra-se o cenário interno brasileiro vendo a derrocada do autoritarismo de Getúlio Vargas, sob a égide de um tempo de democracia, a geração de escritores, a partir de 1946, sobreviveu aos tempos de maior bonança política. Apesar de o cenário internacional ser marcado pela Guerra Fria entre os Estados Unidos e antiga União Soviética, o Brasil era governado por Juscelino Kubitschek. A literatura brasileira ganhará novo fôlego com uma preocupação apurada com a forma literária, tanto na prosa quanto na poesia, em um movimento de pesquisa e busca por novos conteúdos. Desse período da história contemporânea de nossa literatura brasileira, podemos destacar os seguintes nomes: Lúcia Machado de Almeida, já notável com sua obra No Fundo do Mar, lançada 1943, lançará Lendas da terra do ouro, em 1949. Outra reconhecida escritora é Maria José Dupré, com a sua obra A Ilha Perdida, publicada em 1946, tais escritoras são precursoras. Vinha surgindo um gênero ficção científica brasileiro, além de romance policial, com o precursor Jerônimo Monteiro, com a sua obra A Cidade Perdida, publicada em 1948. Tratam perfeitamente sobre este momento histórico a obra de Lajolo e Zilberman publicada em 1985 que: [...] traduzem a ótica da classe burguesa, enriquecendo com a modernização do país, mas identificada com valores tradicionais, quais sejam, o culto à autoridade (legitimada pelo pedagogismo das histórias) e ao passado. Por essa razão, as personagens urbanas, oriundas de um meio rico, convivem harmonicamente com o ambiente rural, efetuado entre grupos tradicionais e grupos emergentes, assim como as regras que estabelecem entre si. (BECKER, 2001, p. 40) Lajoloe Zilberman (1985) refletem sobre a importância da década de 1960 e multiplicam-se, nos anos 60, a criação de algumas relevantes Literatura Infantojuvenil 37 instituições e valorosos programas relacionados à promoção da leitura e ricas discussões a respeito da literatura infantil brasileira. São criações desta importante época a Fundação do Livro Escolar (1966), a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (1968). Quarta fase: de 1970 até 1989 - da Ditadura Militar aos tempos de redemocratização Lajolo e Zilberman (1985) destacam que, na década de 1970, o Instituto Nacional do Livro, fundado em 1937, iniciou um trabalho de coedição, desenvolvendo convênios e publicando inúmeras obras infanto-juvenis, o que promoveu uma circulação significativa de obras voltadas às escolas. Nesta última fase e mais próximas dos dias atuais, a linguagem usada por muitos escritores infanto-juvenis reencontram-se com os movimentos do Modernismo de 1922 e de Monteiro Lobato. Distanciando-se do padrão formal culto, privilegiou-se o coloquialismo marcante da oralidade e registrou-se a presença de gírias, dialetos e falares regionais. A narrativa infantil dessas duas décadas produziu obras diversificadas, modernos contos de fadas e de ficção científica, narrativas de cunho social e policial. Além do abandono da postura didático-pedagógica, ao mostrar personagens e enredos livres do estigma de modelos exemplares, as produções inovaram pela representação do protagonista: crianças desajustadas e/ou frustradas. O ambiente urbano em que ocorrem as histórias revelou uma sociedade marcada por problemas socioeconômicos, pobreza, miséria, injustiça e marginalização. Discutiram-se as fontes e o contexto dos valores que tradicionalmente caracterizaram as histórias infantis. (BECKER, 2001, p. 41) Lajolo e Zilberman pontuam que os livros infantis passam a ser um pujante segmento editorial. Os autores e obras nacionais passam a receber espaço considerável. Entre os anos 1975 e 1978 era possível Literatura Infantojuvenil 38 contabilizar entre 1.890 títulos, era possível somar 46,6% de textos exclusivamente nacionais. Esta quantidade era um avanço considerável, comparativamente ao que informou, na década de 1940, o estudioso da educação brasileira Lourenço Filho que as produções nacionais não iam além 30%, sendo que as traduções ultrapassavam 70% do total. São destaques desta produção brasileira contemporânea: Marcelo, marmelo, martelo (Ruth Rocha), O soldado que não era (Joel Rufino dos Santos), História meio ao contrário (Ana Maria Machado), Chapeuzinho amarelo (Chico Buarque de Holanda), Os colegas, A casa da madrinha, Corda bamba (Ligia Bojunga Nunes) e Um dia toda azul (Marina Colasanti). (BECKER, 2001, p.41) Como chegamos ao século XXI com relação a literatura infantojuvenil no Brasil? Muitos desafios precisarão ainda ser vencidos para que consigamos promover futuros leitores entre as crianças e jovens que estão nas escolas brasileiras. Transmitir, mais do que transmitir – mostrar a verdade da literatura como ‘lugar’ de encontro, de aprendizado. Tornar o Brasil um país de leitores, não só combatendo o analfabetismo. Deverão ser profundos os compromissos dos governos brasileiros e dos educadores na formação de leitores: formar-se como leitor é adquirir cultura literária, definir preferências de gêneros literários, de autores, ousar conhecer escritores desconhecidos, explorar temáticas inatuais, fazer um catálogo de ‘clássicos pessoais’. Magda Soares, reconhecida pesquisadora brasileira, trouxe conhecidas contribuições inovadoras para o entendimento de temas amplos sobre a alfabetização inicial. Esta autora reconhece a importância do letramento literário. E o que seria letramento literário das crianças? Letramento literário seria o processo de apropriação da literatura enquanto uma importante linguagem. Este processo começa quando a criança ouve Literatura Infantojuvenil 39 sua mãe cantar canções de ninar e que ouviu na infância dela e seguirá pela vida da criança, nos equipamentos educacionais, sociais e culturais em que passa. É evidente que a escola brasileira vem assumindo um papel mais preponderante deste o final do século XX, instituindo o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNDE), objetivando principalmente a democratização do acesso às obras de literatura infarto- juvenil, nacionais e estrangeiras. Este programa ampliou o atendimento, levando às escolas publicações para alunos da Educação Infantil ao ensino médio. Estas obras reúnem incluem produções editorias de prosa (contos, novela, memórias, biografias, crônicas e teatro), em verso (poemas, cantigas, advinhas, parlendas), bem como produções de livros de imagens e histórias em quadrinhos. Este acervo diversificado de livros leva às escolas públicas brasileiras a oportunidade de ter livros disponíveis e que poderão colaborar de forma lúdica para a formação de futuros leitores brasileiros das crianças. A partir de 2008 foi programada uma maior distribuição de livros para as crianças que estavam matriculadas na Educação Infantil (antes dos seis anos de idade) e nas séries iniciais (a partir dos seis anos de idade). Estas conquistas brasileiras são muito significativas para um pais como o Brasil. Nosso país é reconhecidamente um país com poucas e precárias bibliotecas, não dispomos de um número considerável de livrarias. E os livros são bem caros para a grande parte da população empobrecida. Quais os caminhos da literatura infantil brasileira contemporânea, no século XXI, baseados na nossa produção editorial infantil? Ainda representa interesse intenso de muitos professores brasileiros de Educação Infantil e de ensino fundamental, oferecer, nas suas escolhas para os seus alunos livros de contos de fadas ou de animais, temas tradicionais e consagrados como os que mais agradam às crianças. Antes que você fique indagando se seriam somente estas as escolhas dos professores, é importante destacar que existe, no Brasil, uma crescente produção “literária” para Literatura Infantojuvenil 40 crianças, iniciada na última década do século XX, os temas transversais, cada vez mais apreciados pelos professores e pela escola. A produção editorial brasileira para crianças já é considerável com sugestões interessantes com narrativas que apresentam como conteúdos a serem ensinados às crianças, temas como ecologia, inclusão social, preservação do meio ambiente, respeito às diferenças em geral, entre tantos outros, maior a possibilidade de assimilação dos valores pretendidos. E outra vertente em menor escala, mas existente, são lançados livros com: Temas que põem em relevo experiências cotidianas, vivenciadas por qualquer ser humano, independente da idade, como a morte, o medo, o abandono e a separação. É comum designarmos esses temas como temas delicados quando pensamos no público infantil e, com frequência, oferecermos resistência em abordá-lós, especialmente no ambiente escolar. (SOARES, 2004, p. 37) SAIBA MAIS: Conheça um pouco mais sobre as políticas públicas brasileiras e Planos Nacionais de Livro Didático, do século XX aos dias atuais, no relato da Prof.ª da USO, Circe Fernandes Bittencourt. Disponível no seguinte link: https://bit.ly/2RTr86o. RESUMINDO: Você fez um percurso sobre a extraordinária trajetória histórica da literatura infantojuvenil desde sua origem e suas influências nos dias atuais, no Brasil. Você será capaz de refletir, partindo dos dados lidos até aqui, que a literatura que ainda hoje é oferecida às crianças, contidas nos livros, nas mentes dos adultos que contam histórias, você percorreu os quatro mais significativos momentos: Do final do século XIX ao Literatura Infantojuvenil 41 RESUMINDO: (continuação) início do século XX. Na Segunda fase, de 1920 até 1945, foi possível entender um período de intensa movimentaçãopolítica, intelectual e artística brasileira. Em seguida, chegou a você a Terceira fase: 1946 a 1960, um período caracteristicamente democrático. E, por fim, percebeu importantes fatos da Quarta fase: De 1970 até 1989, da Ditadura Militar aos tempos de redemocratização. E, ainda foi possível refletir como a literatura infantojuvenil chega ao século XXI, no Brasil. Vamos avançar na leitura? Literatura Infantojuvenil 42 Função da literatura infantojuvenil INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de definir a função da Literatura infantojuvenil e refletir sobre os seus usos devidos e indevidos na vida e na escola. Existe uma correlação entre a natureza e a função da literatura. O uso de qualquer literatura está intrinsicamente relacionado a sua natureza, interessa aquilo que a literatura representa verdadeiramente, aquilo que ela é. Mas a função de uma determinada literatura é essencial, se uma determinada forma de literatura perder a sua função será destinada a um valor e uso secundário. Para melhor entender, pense em antigos objetos que tinham seu valor e função destacados e deixaram de tê-los e viraram peças de um museu atualmente. A literatura desenvolve um trabalho, possui um uso, permanece a milênios e percorreu muitas diferentes épocas e povos. Possui o seu valor singular, sua utilidade e seriedade na vida das pessoas, é uma forma de conhecimento, carregando de obra a obra um grau especifico de generalidade ou particularidade. Este tema da função da literatura percorre longamente a vida de muitos estudiosos ocidentais, desde Platão, na Grécia antiga aos dias contemporâneos. Os que leem poesias estão mais preocupados com a beleza dos poemas do que em buscar as razões em si mesmas. E esta experiência estética contagia os leitores no seu contato com os mais diversos poetas da literatura brasileira e universal. Regina Zilberman (2008) defende que o “ensino pode mostrar-se mais agradável e interessante, tanto para estudantes quanto para professores, se incluir um pouco mais de poesia no cardápio”. Os leitores não estão menos preocupados com os encantos que sentem com os livros que caem às suas mãos do que com explicações detalhadas e racionalistas sobre a literatura que os deixam maravilhados. Literatura Infantojuvenil 43 São preocupações menos dos leitores e mais dos preocupados com valores, arbitrariedades, utilidades e moralidades que podem estar presentes nas discussões sobre as obras de literatura, em todos os tempos. As indagações sobre o deleite do leitor deveriam ficam em segunda plano? Uma resposta seria informar que a literatura possui inúmeras funções possíveis. E entre elas e como a mais essencial e importante das funções estaria a função de fidelidade à sua própria natureza. Evidentemente para os adultos que educam as crianças e adolescentes, em casa e nas escolas, deverá ficar claro que a literatura infantojuvenil possui funções significativas ligadas a educação, instrução e distração. Sendo que a fruição não pode ficar fora, o prazer de ler não pode ser menosprezado pela fixação em fazer algo para crianças e adolescentes lerem sobre as ideias que julgam que as novas gerações devem absorver. Zilberman (2008) recomenda que não se aprende o que não se gosta, de modo que dirige a ação pedagógica primeiramente para a apreciação de textos literários, com os quais começa os ensinamentos. Algo que não poderá ficar fora da experiência escolar com a literatura infantojuvenil é a função lúdica intrínseca a ela. Ao propor uma forma de leitura homogênea, são deixadas de lado outras formas literárias que os alunos, nas escolas, já conhecem nas suas casas ou comunidades, carregadas das variações linguísticas que possibilitam sentidos de identidade, de pertencimento a uma cultura, de divertimento, de ludicidade, e que por preconceitos linguísticos não deveriam ficar fora das escolas para crianças, jovens e adolescentes. É verdadeiro afirmar que o literário e o pedagógico estão relacionados na literatura infantojuvenil a muitos tempos. É delicado, nas escolas, uma escolha que determine a prioridade do didático em prejuízo do lúdico em textos para crianças, transforma a leitura em função Literatura Infantojuvenil 44 pedagógica. Entretanto, arte e educação podem ser parceiras na fruição literária, se a escola fornecer às crianças os estímulos adequados à leitura. É fator preponderante aos que escrevem ou escolhem um livro de literatura infantojuvenil não perder de vista a expressão lúdica e artística. O adjetivo infantil e mais recentemente o juvenil atrelados à literatura caracterizam o público a que se destina essa produção cultural: a criança e o jovem (adolescente). A construção dessas fases da vida está diretamente relacionada ao modelo burguês de família e à escola moderna. A função que foi atribuída à literatura infantil e juvenil pode ser melhor compreendida através da análise da forma como a relação entre infância, e mais tarde adolescência, escola e literatura foi sendo estabelecida. (PAIVA, 2004, P.69) A função de instrução da literatura infantojuvenil é muito relevante, sendo capaz de despertar o interesse pela leitura nas crianças e adolescentes, acordando às mentes das novas gerações para a curiosidade e descobertas interessantes, que não deixam de lado o prazer de ler. A função de educação da literatura infantojuvenil deverá primar pelo desenvolvimento da sensibilidade e do senso crítico dos pequenos leitores. A literatura não deve ter por função facilitar ou pacificar, pelo menos quando se fala em literatura ‘para valer’, e não nessa literatura de escape, escamoteadora, de consumo rápido, que pode até emocionar, mas até essa emoção é evasiva. É necessário ter uma cautela antes de cobrar que a literatura infantojuvenil tenha uma nítida e infalível função pedagógica e que haja como inibidora de um acesso à arte, livremente. Zilberman afirma que a literatura infantil continuaria a ser vista como uma colônia da pedagogia, trazendo inúmeros prejuízos, não é aceita como arte, por ter uma finalidade pragmática e a presença do objetivo didático faz com que ela participe de uma atividade comprometida com a dominação da criança. Seriam inúmeras as funções e até as razões de lermos livros para as crianças e ofereceram aos adolescentes e jovens. De modo que nossas Literatura Infantojuvenil 45 razões para ler são tão estranhas como nossas razões para viver. E a ninguém se concedeu poder para nos pedir contas sobre essa intimidade. Colomer (2017) entende que existem três funções da literatura feita para as crianças e para os jovens: a. Iniciação ao imaginário socialmente compartilhado da sociedade onde vivem; b. Desenvolvimento do domínio da linguagem narrativas, poéticas e dramáticas do discurso literário; c. Conhecimento de uma articulada representação do mundo, capaz de ser um instrumento suficientemente para a socialização deste específico público. A escritora espanhola Colomer (2017) discute uma antiga mania de trazer padrões de bom comportamento nas escritas para crianças ou a certeza de que fazer as crianças lerem seria fator determinante para que escrevam bem no futuro. Esta importante especialista espanhola defende que não é necessário fixar as escolhas com o foco estritamente em concepções utilitaristas. Teresa Colomer (2017) defende a literatura infantojuvenil abre as portas ao imaginário coletivo. E um conjunto potente de acessos as formas poéticas, dramáticas e narrativas promoverão um considerável domínio da linguagem, oportunizando aos mais jovens as reais possibilidades de posicionamentos diante do mundo em que vivem, com consciência da realidade ao redor deles e com capacidade de enxergar o outro e suas diferenças (alteridade), com poderosos efeitos de promoção e desenvolvimento da subjetividade. Uma atenção apropriada e aberta à percepçãoou capacidade leitora dos meninos e meninas é igualmente importante. Colomer ainda ressalta a questão sexista e os distintos papeis destinados aos homens e mulheres. A literatura também possui uma função socializante e pode ajudar a conservar ou questionar os modelos femininos e masculinos na sociedade. E não podem ficar esquecidos que existem na história da literatura extensos casos em que a literatura Literatura Infantojuvenil 46 serviu para passar ideologias de manutenção de lugares privilegiados aos homens em detrimentos das mulheres. Pode agora, neste instante da história, realizar o contrário, socializar os seres humanos e questionar os estereótipos para homens e mulheres. É inegável que a literatura infantil seja fonte de estimulação da mente, de percepção intensa do real e suas amplas significações, oportunizando formas de consciência de alteridade e si mesmo, possibilitando inúmeras leituras de mundo, abrindo caminhos para o conhecimento da língua que já conhece desde que nascemos. A literatura infantojuvenil desperta a imaginação dos seus leitores, é promotora da criatividade, faz as novas gerações conhecerem o mundo em que vivem e a vida humana, revelando a possibilidade de integração entre o real e o imaginário. Na busca pelas funções da literatura infantil-juvenil é sempre bom ter em mente que a Literatura Infantojuvenil é incontestavelmente literatura ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, as ideias e sua possível\impossível realização. SAIBA MAIS: “Literatura nunca tem uma função didática”, diz a escritora Ana Maria Machado: Veja o esclarecedor vídeo, no link: https://bit. ly/2PTtaB4. A literatura não deve ser vista como uma produção que carrega uma obrigação com relação ao conhecimento, isso não quer expressar que não promova novos conhecimentos. E a literatura ensina algo novo as crianças e adolescentes? Ensina, já que oferece e traz tanto os conceitos morais e as atitudes desejáveis, e ainda amplia a capacidade de conhecimento do leitor, facilitando o acesso a novas experiências que poderão auxiliá-lo Literatura Infantojuvenil 47 na elaboração de novas informações, ou ainda na reformulação do que já possui. RESUMINDO: Você fez um percurso sobre a função da Literatura infantojuvenil, e munido dos conceitos relacionados às funções será capaz de refletir sobre os seus usos devidos e indevidos na vida e na escola, a partir de funções significativas ligadas a educação, instrução e distração. E, ainda, ao imaginário, domínio da linguagem e representação do mundo. Literatura Infantojuvenil 48 Análise das obras infanto-juvenis a partir das teorias estudadas INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo você será capaz de analisar obras infanto-juvenis a partir da aplicação das teorias estudadas, o que representará uma importante estratégia para a formação de um educador de crianças, adolescentes e jovens. O futuro educador precisa entender que deverá ser um hábil crítico de obras infantojuvenil, as quais serão oferecidas aos seus futuros alunos. Já não mais vivemos em um tempo que somente os especialistas em literatura para as novas gerações são capazes de analisar as obras disponíveis no mundo editorial brasileiro. Neste momento atual, oferecer obras infanto-juvenis às novas gerações requer pedagogos e professores, suficientemente, capazes de realizar uma rigorosa análise das obras disponíveis no mercado atual de publicações destinadas a este público. Tudo começa com a própria especialização dos futuros mestres como hábeis leitores, e bons conhecedores da nossa língua portuguesa, falada e escrita no Brasil. É necessário um sério compromisso em formar futuros, apoderados, críticos e autônomos leitores. E uma tarefa é essencial e anterior: formar-se a si mesmo como um bom leitor. A obra literária não é um mero reflexo das palavras do autor reproduzidas na mente do leitor, mas o resultado de uma interação ao mesmo tempo receptiva e criadora e profundamente dependente da mediação da escola para auxiliar o leitor a preencher as lacunas deixadas pelo autor, para auxiliá-lo a entrar no jogo do texto, a mergulhar no mundo da imaginação e da ficção, a dominar a linguagem literária para reconstruir Literatura Infantojuvenil 49 o universo simbólico contido nas palavras. (DALLA-BONA; FONSECA, 2018, p.45) Evidentemente, as teorias aprendidas ao estudar literatura infantojuvenil colaborarão para a formação de um educador de crianças e adolescentes capaz de realizar apuradas analises de obras e não um buscador de listas já prontas e acabadas que poderão não falar à realidade de uma escola específica, encravada dentro de uma realidade socioeconômica determinada. Cada educador deverá ser capaz de compor a cada ano a sua atualizada lista de títulos, amplamente avaliados, para serem oferecidos aos seus alunos. Figura 6: Ilustração de Dom Quixote de la Mancha Fonte: Freepik As teorias aprendidas ao estudar sociologia e História da infância, psicologia e literatura infantil auxiliaram aos professores, nas horas de fazer a sua lista de livros para seus alunos lerem durante o ano letivo. Tais leituras terão que consolidar e estar apoiada em uma ideia contemporânea de infância e adolescência, firmemente na mente de educadores das crianças e adolescentes, apoiados nestas certezas teóricas deverá ser Literatura Infantojuvenil 50 examinada cada obra de literatura infantojuvenil, na hora de escolha de livros para seus alunos lerem. O educador deverá examinar as definições de infância e literatura presentes em cada obra pesquisada. Isso exige o exame consistente dos espaços em que formam estabelecidos os vínculos entre o ser da criança e o que deverá ler, bem como as estratégias e as normas que os textos propõem, as formas de acesso aos textos ou aos relatos, as relações que estes estabelecem ou proporcionam com outros discursos e entre os diferentes atores sociais. Outros elementos consideráveis deverão entrar no cômputo geral, na hora de escolha de um livro, para determinada criança. É importante visualizar, apuradamente, o material usado na confecção da obra, o formato de manuseio nas obras físicas e a acessibilidade nas obras virtuais. O educador deverá entender um pouco sobre as impressões mais favoráveis para a faixa etária que trabalha (é diferente escolher livros para crianças pequenas da Educação Infantil e para os que estão concluindo o Ensino Fundamental), observando a inteligibilidade sintática e lexical do texto, a elaboração imagética das ilustrações em termos de cores e formas, e outros tantos elementos em um mar de publicações. Apoiando esta fina percepção das características do leitor para a escolha de obras de literatura infantojuvenil, de forma muito bem- humorada, o autor do celebre livro Alice no País das maravilhas, afirmou: E agora, minha ambição (seria vã) é ser lido por Crianças de 0 a 5 anos. Ser lido? Não, nem tanto! Mais justo é dizer: ser manuseado, babado, ter as páginas dobradas, ser amarfanhado, beijado por aqueles pequenos leitores, desconhecedores da gramática, aqueles Queridos, cheios de covinhas, que enchem de alegria o Quarto de feliz algazarra, e o nosso coração de apaziguada alegria! (CARROL, 2015, p. 7) Esta capacidade de fazer escolhas acertadas, baseadas em uma formação teórica e consistente do docente, será essencial aos futuros profissionais que irão trabalhar na educação infantil (contação de histórias Literatura Infantojuvenil 51 pela professora) e no Ensino fundamental (formando leitores para a autonomia para ler). O formador de leitores e o contador de histórias, papeis essenciais dos professores, nas escolas, na educação básica no Brasil, requerem que eles sejam antes de tudo habilidoso leitor de muitas obras, deverãoconhecer os clássicos, antes de recomendá-los as crianças e aos adolescentes. O conhecimento destas obras ajudará nos seus usos em sala de aula para atrair a curiosidade e o desejo de ler dos seus futuros alunos. E, não desprivilegiar os livros atuais. Quando perguntamos a uma pessoa se ela já leu um determinado livro clássico e coincide com um livro que tenha apreciado é como ouvir alguém falando de uma deliciosa comida que comia na cozinha da sua avó, na infância. (MINUZZI, 2017, p.117) Os futuros professores não deverão ficar atentos somente aos aspectos de ampliação de vocabulário, assimilação de regras da boa escrita e preparação para exames, ao desenvolver atividades de leitura de obras literárias, nas escolas. E deverão ter o cuidado de evitar a substituição da leitura como uma prática realmente significante por exercícios situados em reconhecer informações, impedindo, assim, que os alunos participem da descoberta do real que o poder imagético do texto desencadeia e do prazer da exploração dos recursos da linguagem que todo texto estético mobiliza. Examinar as obras de literatura infantojuvenil exige dos professores uma capacitação teórica que os habilitem para serem capazes de emitir seus próprios julgamentos críticos. E, assim, evitaram fazer parte de um grupo equivocado de professores que caminham no: [...] modismo dos temas e adotam obras elaboradas por encomenda de editoras, concebidas a partir de fórmulas e modelos estereotipados, graficamente atraentes, em que o mundo instituído e o tratamento da linguagem privilegiam o Literatura Infantojuvenil 52 valor mercadológico em detrimento do estético. (SARAIVA, 2008, p.25) A palavra literária precisa evocar as verdades e, ao agir assim, consegue nos dissipar das tediosas existências, trazendo para o nosso cotidiano os sentidos que buscamos. De fato, o que levaria uma pessoa a criar ficção e poesia se não fosse a sua profunda insatisfação com a vida, naquilo que ela tem de informe, incompreensível, desumanizante? Rebeldia contra o próprio uso inautêntico da palavra, no cotidiano? Dessa forma, os educadores devem analisar as obras disponíveis e recolher as que sejam mais necessárias aos seus pequenos leitores. https://bit.ly/36A3fF4. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Neste capítulo você fez um percurso sobre os necessários atos de analisar obras infanto-juvenis aplicando a teoria estudada, que deverão ser bem realizados pelos professores que iniciam as novas gerações no gosto pela literatura infantojuvenil. Antes, nesta mesma unidade I, estudou a trajetória histórica da literatura infantojuvenil desde sua origem e suas influências nos dias atuais, mundo, e posteriormente, no Brasil. Depois analisou a função da Literatura infantojuvenil, conheceu as funções significativas relacionadas a educação, instrução e distração. E, ainda, ao imaginário, domínio da linguagem e representação do mundo. Literatura Infantojuvenil 53 REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento – O Contexto de François Rabelais, São Paulo, Hucitec, Brasilia, Universidade de Brasília, 1993. BECKER, Celia Doris. História da literatura infantil brasileira. In: SARAIVA, Juracy Assmann (org.). Literatura e Alfabetização, do plano do choro ao plano da ação. Porto Alegre, 2001. p.35-41. BOTO, Carlota. A Liturgia Escolar na Idade Moderna, Campinas, Papirus, 2017. CALDIN, Clarice Fortkamp. A leitura como função pedagógica: o literário na escola. Revista ACB, [S.l.], v. 7, n. 1, p. 20-33, ago. 2005. ISSN 1414-0594. Disponível em: <https://revista.acbsc.org.br/racb/article/ view/371/443>. Acesso em: 10 nov. 2019. CARROL, Lewis. As aventuras de Alice no País das Maravilhas. Tradução de Ricardo Gouveia. São Paulo, Martins Fontes, 2015 COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infantil/ juvenil: das origens indo-europeias ao Brasil contemporâneo / Nelly Novaes Coelho – Barueri, SP: Manole, 2010. COELHO. Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria análise e didática. São Paulo: Moderna, 2000. COLOMER, Teresa. Introdução à literatura infantil e juvenil atual. Tradução de Laura Sandroni. São Paulo: Global, 2017. COSSON, Rildo. A formação do professor de literatura – uma reflexão interessada. In: PINHEIRO, Alexandra Santos; RAMOS, Flávia Brocchetto (org.). Literatura e formação continuada de professores. Desafios da prática educativa. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2013. p. 11-26. DALLA-BONA, Elisa Maria; FONSECA, Jair Tadeu da. Análise de obras da literatura infantil como estratégia de formação do pedagogo/ professor: saber ler, saber escolher. Educ. rev., Curitiba , v. 34, n. 72, p. 39- 56, Dec. 2018. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ Literatura Infantojuvenil 54 arttext&pid=S0104-40602018000600039&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 nov. 2019. FERNANDES, Florestan. Trocinhas do Bom Retiro – Contribuição ao Estudo Folclórico e Sociológico da Cultura e dos Grupos Infantis. Revista Pro-posições, v.15, n.º I (43) – jan/abr.2004, Unicamp, São Paulo, 2004. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ proposic/article/download/8643855/11332/>. Acesso em: 28 nov. 2019. FERNANDES, Florestan. Folclore e mudança social na cidade de São Paulo. Petropólis, Vozes, 1979. HALFON, Daniel Goldin. Os dias e os livros tradução: Carmem Cacciacarro. São Paulo: Editora Pulo do Gato, 2012. JÉLVEZ, Julio Alejandro Quezada. História da educação. Curitiba, Intersaberes, 2012 Minuzzi, Luara Pinto. Textos fundamentais da literatura universal. Porto Alegre: Sagah, 2017. PAIVA, Aparecida. Literatura – saberes em movimento / organizado por Aparecida Paiva, Aracy Martins, Graça Paulino, Hércules Corrêa, Zélia Versiani . 2. ed. — Belo Horizonte: Ceale; Autêntica Editora, 2014 LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Um Brasil para Crianças: Para conhecer a Literatura Infantil brasileira: Histórias, autores e textos. São Paulo:Global ed., 1986. LOJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira. História e Histórias. São Paulo. Ática, 1985. MICHELETTI, Guaraciaba. Existe uma estética específica da Literatura Infantil? In: SEMINÁRIO ESTADUAL DE LITERATURA Infantojuvenil, LIVRO DIDÁTICO E PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE NA FORMAÇÃO DE Literatura Infantojuvenil 55 LEITORES, 1990, São Paulo. Anais. São Paulo: Faculdades Tereza Martin, 1990. PERISSÉ, Gabriel. Literatura & educação / Gabriel Perissé . 2. ed. — Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2014. SARAIVA, Juracy Assman. Literatura na Escola - Propostas para o Ensino Fundamental. Saraiva, Juracy Assmann; Mügge, Ernani. Literatura na escola: propostas para o ensino fundamental/ porto Alegre, Artmed, 2008. SARAIVA, Juracy Assman (Org). Literatura e Alfabetização: Do Plano do Choro ao Plano de Ação. Porto Alegre: Artmed, 2008. SILVA, Danúbia Jorge. Resenha do livro de Teresa COLOMER, Introdução à literatura infantil e juvenil atual. Polyphonía, v. 29/2, jul./dez. 2018. SILVA, Aline Luiza da. Trajetória da Literatura Infantil: Da origem Histórica e do Conceito Mercadológico ao Caráter Pedagógico na Atualidade. Regrad - Revista Eletrônica de Graduação da UNIVEM, v. 2, n.º 2. jul/dez, 2009. Disponível em: <https://revista.univem.edu.br/REGRAD/ article/view/234/239>. Acesso em: 23 nov. 2019. SOARES, Magda. A leitura e democracia cultural. In: PAIVA, Aparecida et al. (Org.). Democratizando a leitura: pesquisas e práticas. Belo Horizonte: Ceale/Autêntica, 2004 WELLEK, René; WARREN, Austin. Teoria da Literatura e Metodologia dos Estudos Literários. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2003. VEIGA, Cynthia Greive. História da educação. São Paulo, Ática, 2007 ZILBERMAN, Regina.
Compartilhar