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THIAGO GOIANA COSTA BESSA (8092178) Bacharelado em Filosofia ANALISE CRÍTICA DO FILME: ‘’O PALHAÇO’’ Orientador: Prof. Alessandro Reina Claretiano - Centro Universitário BOA VISTA/RR 2021 ANALISE CRÍTICA SOBRE O FILME: O PALHAÇO O longa-metragem ‘’O Palhaço’’, Brasil/2011, duração: 88 minutos, dirigida pelo ator/diretor Selton Mello, Interpretado por Paulo José (Valdemar / Palhaço Puro Sangue) e Selton Mello (Benjamim / Palhaço Pangaré) retrata a história de pai e filho com o mesmo ofício em envergarem-se como artistas de circo, onde o personagem principal Benjamin, este infeliz, angustiado e em crise existencial, em busca de respostas que o atormentam durante a sua trajetória pessoal e profissional. Uma obra singular, com direção de arte de Cláudio Amaral Peixoto, trilha sonora composta por vários clássicos do popular nacional Brasileiro e com produção de Plínio Profeta. Trata-se de um longa-metragem, que apesar de não conter humor exacerbado, denota- se de um discurso crítico ao sistema, através do rompimento do papel social vivido pelo personagem principal, e pela sua luta para estabelecer uma identidade plena numa sociedade estimulada pelo consumismo, enfraquecendo a sua própria identidade através da injustiça, somadas a uma crise existencial. Uma mistura de drama pessoal, onde sonhos se mesclam com a vida sofrida em torno da vida profissional, ambas vividas dentro e fora da atividade circense. Neste contexto, temos a problematização filosófica, onde existem referências e questionamentos a respeito do ‘’SER’’ enquanto figura da sua própria existência, mantendo uma relação intrínseca com a filosofia através do longa-metragem. Descobre- se um pouco do perfil psicológico de cada personagem que compõem a trama, referenciando-se a sua condição humana, regrada a tragédias, descasos, desejos, angustias e sonhos, adicionados ao ‘’belo’’ e ao ‘’estético’’, O longa não faz a reconstrução, ou seja, não há, por parte do realizador, a intenção de construir uma teoria sobre o problema vivido no contexto fílmico, apenas de problematizá-la. Em primeiro lugar, é necessário afirmar que há um ponto de encontro entre a filosofia e o longa-metragem em questão, como via de possibilidade ao construir a narrativa fílmica, permitindo ao espectador, um sujeito privilegiado ao vivenciar uma experiência estética e reflexiva através da arte, problematizando e dando caminho a interpretações e constru- ções individuais. Quando o personagem principal é indagado que este deveria possuir um objeto, este começa a sentir ainda mais que, precisava buscar as respostas para as suas angústias, apesar do ofício, este ainda convive com a inquietação da alma, diminuídas quando adquiri tal objeto. Segundo Descartes, “A admiração nos parece a primeira de todas as paixões, e ela não tem oposto, porque se o objeto que se apresenta não tem em si nada que nos surpreenda, nós não somos afeiçoados por ele e o consideramos desapaixonadamente”. Deste modo, na admiração, o personagem principal transpassa a subjetividade que o aprisiona e se aproxima da realidade na sua radiante presença, pois, a sua perceptual consciência, não pode ser definida como a experiência que a mente tem da realidade externa, ou seja, do mundo circundante do seu próprio corpo, esta consciência introspectiva, no que lhe concerne, é reflexão da autoconsciência. A própria busca existencial desta consciência, mostra coisas horrendas em sua trajetória, a opressão, o medo e a dor da perda, o fez submeter-se a uma vasta tomada de decisões trazidas por alheios fora do meio envolvente ao qual era submetido. Este por sua vez, toma um novo rumo na vida, buscando outra atividade, sentindo assim, a necessidade de “dar um tempo”, afastando-se da atividade de ofício para repensar o sentido da sua vida, longe do meio envolvente ao qual sempre residiu, que fora deste, encontra um sorriso ‘’amargo’’, quando em um diálogo meramente indireto, involuntariamente lhe é mostrado a morada do pensamento, onde as trevas e a luz se encontram e dialogam, pois, viviam estranhamente mútuos, até porque, como dizia Heidegger, ‘’o permanente do pensamento é o caminho’’. Deste modo, o pensamento se atira no real e se torna evidente. Isto quer dizer que, a realidade, por ele interrogada, a quisesse na sua luz, guiando-te e mostrando-o caminho e a essência do poder de interrogar-se, é quando se tem uma resposta coerente a interpretação posta. Logo percebe-se, que as experiências e as vivências, tornam o indivíduo em certos momentos, angustiado, e nesta buscar por algo, não se dar por satisfeito, resultando em um fardo para se carregar, e que muitas vezes, a beira de extrapolar e de explodir sentimentos que nem mesmo compreendia, o indivíduo tem consciência que era possível ‘’existir em si’’, não sendo necessário que haja um perigo eminente, para que desperte em nós a angústia, mas que esta, emerja nas mais tranquilas situações mundanas, por isso, embora o ‘’SER’’ constantemente retome ao problema, se a angústia é força de libertação de nossa fuga, esta defronta o indivíduo em várias situações no decorrer do longa-metragem, impondo ao mesmo, a necessidade em voltar a “retornar a ti... Desperta’’ (Marco Aurélio). Que durante essa trajetória, o indivíduo viaja como peregrino dentro de si, buscando a cura para arrumar a desordem e o barulho interno vivido. É como se precisasse convencer a sua própria mente, que a qualquer hora isso tudo iria passar. Neste sentido, é como um tapete que vamos tecendo, com paciência, amor e alegria, e até mesmo com pressa, com amargura e revolta. Quem pode negar que ela se faz de passo a passo é ‘’agonia’’ e ‘’êxtase’’ em simultâneo. As batalhas da vida são, de modo geral, as mesmas para todos nós, enfrentamos dificuldades semelhantes, desavenças, conflitos, enfermidades, mortes, catástrofes e acidentes como acontecimentos comuns, a felicidade que não significa ausência destes elementos, pois são felizes aqueles que reconhecem estes acontecimentos como parte da condição humana e não se deixam abater por elas. Na maioria das vezes, acreditamos serem as coisas e as pessoas que nos fazem felizes ou infelizes, enquanto pensamos assim nunca alcançaremos a felicidade, pois o fato de sermos felizes ou infelizes se liga basicamente aos nossos pensamentos e as nossas atitudes. Mas o que busca o indivíduo em sua plenitude?. Apenas voltar a achar graça, sentido a sua própria existência, percurso que, inicialmente é de afastamento e de negação, transforma-se num reencontro consigo mesmo, somente a filosofia explanada de forma fílmica faz que o indivíduo tenha esta reflexão, onde o começo será o ponto de chegada de quem, já sofreu ou convive em meio a esse desespero. A volta do indivíduo ao ponto zero, é o retorno de sua própria existência. *Thiago Bessa Funcionário Público, Militar, Aluno do Curso de Investigação Forense e Perícia Criminal - Estácio, Aluno do 8º semestre do Curso de Graduação em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano.
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