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Acta Psicossomatica

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Acta Psicossomática 
 
 
Acta Psicossomática 
 
Reitor Prof. Anderson José Campos de Andrade 
Volume 2 - Janeiro/Julho 2019 
 
 
Pró-Reitor Administrativo 
Prof. José Campos de Andrade Filho 
Diretor Acadêmico 
Prof. Alan Almario 
Coordenadora do Programa de Pós-graduação 
em Psicologia 
Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno 
Editor-Chefe 
Prof. Dr. Pedro Eduardo Silva Ambra 
 
COMISSÃO EDITORIAL 
Prof. Dr. Beethoven Hortencio Rodrigues da Costa 
Profa. Dra. Cibele Mariano Vaz de Macedo 
Profa. Dra. Cristina Keiko I. Merletti 
Prof. Dr. Edgar Toschi Dias 
Profa. Dra. Juliana Carlota Soares 
Profa. Dra. Maria Fernanda Costa Waeny 
Profa. Dra. Maria Geralda Viana Heleno 
Profa. Dra. Miria Benincasa 
Profa. Dra. Mônica Carolina de Miranda 
Prof. Dr. Ricardo Borges Machado 
 
CONSELHO EDITORIAL 
Profa. Dra. Ana Cristina Limongi-França 
 – Universidade de São Paulo 
Profa. Dra. Ana Maria Peçanha — Université Paris 
Descartes - Sorbonne 
Prof. Dr. Avelino Luiz Rodrigues – Universidade de 
São Paulo 
Profa. Dra. Eliana Marcelo De Felice - Universidade 
de São Paulo 
Prof. Dr. Elias Barbosa de Oliveira - Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro 
Profa. Dra. Eulália Maria Chaves Maia - Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte 
Profa. Dra. Fátima Aparecida 
 Caromano – Universidade de São Paulo 
Prof. Dr. Francisco Jiménez Bautista – Universidad 
de Granada 
Prof. Dr. José Carlos Zanelli – Faculdade Meridional 
Profa. Dra.Patrícia Câmara - Sociedade Portuguesa 
de Psicossomática 
Prof. Dr. Rodrigo Sanches Peres — Universidade 
Federal de Uberlândia 
ASSISTENTE EDITORIAL 
Victor Hugo Peretta Leite Silva 
EQUIPE TÉCNICA 
Prof. Ricardo Feliciano, Diagramação e 
Administração do SEER 
ÁREAS DE INTERESSE DA REVISTA 
Psicologia, Medicina, Psicanálise, Ciências 
Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Humanas e 
Ciências Sociais 
 
 
Sumário 
ESTRESSE: UM FATOR (DES)ENCADEANTE DA PSORÍASE 
Maria Aparecida do Nascimento Silva, Izabela Paiva Monteiro de Barros, Cristina Keiko Inafuru de 
Merletti 
ADOÇÃO INTER-RACIAL: ASPECTOS PSICODINÂMICOS A PARTIR DE UM CASO CLÍNICO 
Mariana Rodrigues Festucci Grecco 
ÉDIPO NEGRO: ESTRUTURA E ARGUMENTO 
Rafael Alves Lima 
PSICOSE E INVENÇÃO: APORTES TEÓRICOS E CONCEITUAIS 
Ivy França Carvalho; Lucas Guilherme; Marina Alonso de Rezende Gripp; Bruna Pinto Martins Brito 
CORPO E DESTINO: O SUJEITO NAS MALHAS DO SENTIDO 
Clarice Pimentel Paulon 
NOTAS SOBRE O SILÊNCIO NO FENÔMENO PSICOSSOMÁTICO 
Mariana Anconi 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDITORIAL 
 Ao seguir o espírito de interdisciplinaridade que marca a aposta metodológica das pesquisas do programa 
de Mestrado em Psicossomática da Universidade Ibirapuera, o presente volume congrega resultados de 
diversas pesquisas realizadas no Brasil que expandem os limites do conhecimento na área da psicologia e 
da psicossomática. 
Contamos com um artigo que discute a relação entre stress e afecções psicossomáticas a partir de uma 
revisão de literatura que demonstrou a função de desencadeamento que o stress teria face à psoríase. 
Ainda na esteira de uma discussão clínica mais próxima aos chamados fenômenos psicossomáticos, há 
também reflexões sobre o lugar do silêncio na cena analítica nesse tipo de sofrimento. 
O leitor encontrará, também, um texto marcado pela discussão empreendida na fronteira da psicanálise e 
da linguística sobre o lugar da noção de narrativa junto às relações entre sensação, sentido e corpo. A 
proposição de um horizonte de tratamento da psicose por meio de uma invenção singular é o tema de outro 
artigo que realiza um apanhado das principais propostas teóricas e clínicas da psicose em Freud e Lacan. 
Temos ainda dois artigos abordam a temática racial a partir de diferentes perspectivas. A partir de um relato 
de experiência de um atendimento clínico, avalia-se as contradições, impasses e sofrimentos no interior de 
uma adoção inter-racial. A questão da maternidade e da raça é também a preocupação de um outro artigo 
que discute as bases teóricas e históricas da noção de “Édipo Negro” na psicanálise. 
Uma ótima leitura! 
Prof. Dr. Pedro Eduardo Silva Ambra 
Editor-Chefe 
 
 
 
 
Artigos científicos / 
Scientific articles 
 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
 Estresse: Um fator (des)encadeante da psoríase 
¹Maria Aparecida do Nascimento Silva, 2Izabella Paiva Monteiro de 
Barros, ¹Cristina Keiko Inafuku de Merletti 
¹Universidade Ibirapuera 
2Universidade Federal do Pará 
barrosizabella23@gmail.com 
 
Resumo 
Pesquisas atuais vêm aprofundando estudos a respeito da relação existente entre corpo e mente e seus 
modos de interligação e de execução de complexas funções tanto no que se refere à saúde quanto ao 
adoecimento do ser humano. Com relação à psoríase, embora haja elementos desta patologia ainda não 
elucidados, estudos apontam para interações de aspectos imunológicos associados à dinâmica dos 
aspectos psicológicos, especialmente as desencadeadas pelo estresse. O objetivo geral deste artigo é 
apresentar um breve recorte de fundamentos teórico-clínicos que destacam os aspectos estressores 
envolvidos no surgimento e na manutenção das manifestações da psoríase. Para tanto, foi realizada uma 
revisão da literatura a partir de autores clássicos na área da Psicossomática, assim como de artigos 
científicos disponíveis nas bases de dados da “Scielo”, “PePsic” e “Google Acadêmico”, com o intuito de 
obter material atualizado acerca do assunto. Foram utilizados os descritores estresse, psicossomática, pele, 
mecanismos imunológicos, aromaterapia e psoríase. A análise decorrente deste estudo teórico circunscrito 
aponta que os fatores estressores funcionam como gatilho para a manifestação e para a cronificação da 
psoríase e esta, por sua vez, retroalimenta um contexto estressor para o sujeito, fundamentalmente ligado 
à sua imagem narcisicamente afetada pela doença e aos estigmas sociais. Destaca-se por fim a importância 
de práticas psicoterápicas, assim como do tratamento medicamentoso e das terapias integrativas, como a 
aromaterapia, no controle da psoríase e, consequentemente, na melhoria da qualidade de vida das pessoas 
acometidas por essa doença psicossomática. 
Palavras-chaves: Psicossomática, Psoríase, Pele, Estresse, Aromaterapia. 
 
Stress: A Triggering Factor of Psoriasis 
Abstract 
Current research has been deepening studies about the relationship between body and mind and their modes 
of interconnection and the execution of complex functions, both with regard to health and the sickness of the 
human being. Regarding psoriasis, although there are elements of this pathology not yet elucidated, studies 
point to interactions of immunological aspects associated with the dynamics of psychological aspects, 
especially those triggered by stress. The general objective of this article is to present a brief description of 
 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
the theoretical-clinical foundations that highlight the stressful aspects involved in the emergence and 
maintenance of psoriasis manifestations as a psychosomatic illness. For this purpose, a review of the 
literature was carried out from books by classical authors in the subject areas of this work classical 
psychosomatic authors, as well as from scientific articles available in the databases of “SciELO”, “PePsic” 
and “Google Scholar”, in order to obtain updated material about the subject. We used the descriptors stress, 
psychosomatic, skin, immunological mechanisms, aromatherapy and psoriasis. The analysis from this 
theoretical study shows that stressors act as a trigger for the manifestation and chronification of psoriasis, 
and this, in turn, feeds back a stressful context for the subject [stress – psoriasis – stress], fundamentally 
linked to his narcissisticallyaffected by the disease and social stigmas. Finally, the importance of 
psychotherapeutic practices, as well as drug treatment and alternative therapies in psoriasis control and, 
consequently, improvement in the quality of life of people affected by this psychosomatic illness is highlighted. 
Keywords: Psychosomatic, Psoriasis, Skin, Stress, Aromatherapy 
Estrés: un factor (des)encadenante de la psoriasis 
Resumen 
Las investigaciones actuales vienen profundizando estudios acerca de la relación existente entre el cuerpo 
y la mente y sus modos de interconexión y de ejecución de complejas funciones tanto en lo que se refiere a 
la salud en cuanto a la enfermedad del ser humano. En cuanto a la psoriasis, aunque hay elementos de esta 
patología aún no elucidados, estudios apuntan a interacciones de aspectos inmunológicos asociados a la 
dinámica de los aspectos psicológicos, especialmente las desencadenadas por el estrés. El objetivo general 
de este artículo es presentar un breve recorte de fundamentos teórico-clínicos que destacan los aspectos 
estresores involucrados en el surgimiento y en el mantenimiento de las manifestaciones de la psoriasis como 
enfermedad psicosomática. Para ello, se realizó una revisión de la literatura a partir de libros de autores 
clásicos en las áreas tema de este trabajo, así como de artículos científicos disponibles en las bases de 
datos de “Scielo”, “PePsic” y “Google Académico”, con el fin de obtener material actualizado sobre el asunto. 
Se utilizaron los descriptores de estrés, psicosomática, piel, mecanismos inmunológicos, aromaterapia y 
psoriasis. El análisis resultante de este estudio teórico circunscrito apunta que los factores estresores 
funcionan como gatillo para la manifestación y para la cronificación de la psoriasis y ésta, a su vez, 
retroalimenta un contexto estresante para el sujeto [estrés – psoriasis – estrés], fundamentalmente ligado a 
su imagen narcisicamente afectada por la enfermedad y los estigmas sociales. Se destaca por fin la 
importancia de prácticas psicoterápicas, así como del tratamiento medicamentoso y de las terapias 
alternativas en el control de la psoriasis y, consecuentemente, mejora en la calidad de vida de las personas 
acometidas por esa enfermedad psicosomática. 
Palabras clave: Psicosomática, Psoriasis, Piel, Estrés, Aromaterapia 
Introdução 
 Desde Breuer e Sigmund Freud em seus “Estudos 
sobre a histeria” (Freud, 1974), pesquisas tais como 
as de Mello Filho (2002), Oppermann, Alchieri e 
Castro (2002), Silva e Muller (2007), Mingorance, 
Loureiro, Okino e Foss (2001) e Silva e Silva (2007), 
por exemplo, dentre outros privilegiados no decorrer 
deste artigo, vêm aprofundando estudos a respeito 
da relação intrínseca, existente entre o corpo 
humano e a mente, e como ambos estão ligados 
exercendo as mais complexas funções. 
 O ser humano busca respostas para os dilemas 
acerca das causas de doenças, o que reforça a 
importância de investigações sobre os possíveis 
sinais e sintomas de uma (psico) patologia. 
9 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
Atualmente já se pode mesmo dizer, conforme 
sustenta Mello Filho (2002), que uma somatória de 
fatores impactam diretamente na saúde do ser 
humano e, assim, “toda doença é psicossomática” 
(Zorzanelli, 2011). 
 De acordo com Silva e Muller (2007) o corpo físico 
está constituído por várias dimensões tais como a 
psíquica, a social, a econômica e a cultural as quais 
estão interligadas e podem igualmente afetar o 
equilíbrio do estado de saúde e doença. 
 Dentre os mecanismos da doença ainda não 
elucidados, como no caso da psoríase, estudos 
apontam para interação de aspectos imunológicos 
associados à dinâmica dos aspectos psicológicos, e 
o estresse (Lima, Cunha, & Oliveira, 2013). Neste 
ponto vale destacar a importância do hormônio 
cortisol como mediador das repostas imunológicas 
(Margis, Picon, Cosner, Formel, & Silveira, 2003). 
 Segundo Oppermann, Alchieri e Castro 
(2002), os efeitos do estresse sobre o sistema imune 
ocorrem na interface mente e corpo, 
privilegiadamente pela ação do Sistema Nervoso 
Simpático (SNS) e o eixo Hipotálamo-Hipófise-
Adrenal (HHA): o estresse é responsável pela 
ativação do SNS e do eixo HHA, com liberação do 
hormônio glicocorticóide (cortisol) que está 
associado à diminuição das funções imunes. A partir 
da necessidade de entendimento sobre a inter-
relação destes fatores, a medicina psicossomática 
considerada como uma ciência está fundamentada 
no estudo e compreensão do ser humano de maneira 
holística, considerando a interação entre mente, 
corpo biológico e o ambiente, ou seja, em seus 
aspectos biopsicossociais (Mello Filho, 2002). 
 Muitos dos sintomas psicológicos podem de alguma 
forma se mostrar evidentes no corpo, como exemplo 
os sinais que aparecem na pele, maior órgão que 
envolve o organismo humano. Estes sinais podem 
muitas vezes ser reflexo do que se passa nessa 
relação entre o psíquico e o somático (Mingorance et 
al., 2001). 
 Para Moreira, Fernandes e Magalhães (2016) a 
interação entre a mente e a pele faz com que haja 
comunicação de sentimentos desconhecidos da 
consciência, o que aponta para o fato de que 
aspectos psicológicos inconscientes estejam na 
origem de algumas lesões de pele, 
sobredeterminando-as. Para Silva e Silva (2007) a 
psoríase é definida como uma dermatite que 
acomete a pele, definida como uma doença 
psicossomática desencadeada pelo estresse físico 
e/ou emocional. Embora sua causa mais específica 
ainda seja desconhecida, acredita-se na perspectiva 
da causalidade multifatorial: aspectos ambientais, 
genéticos, imunológicos e psicológicos 
sobredeterminam-se. Corroborando o mesmo 
pensamento, Moreira et al. (2016) apontam o 
estresse como forte indicador no desencadeamento 
ou recidivas da psoríase. 
 O aparecimento das lesões na pele acaba causando 
impacto emocional, afetando a autoestima e a 
qualidade de vida associando-se ao estresse, tanto 
no que concerne ao seu surgimento como também à 
piora das lesões (Moreira et al., 2001). 
 Para que se possa beneficiar o indivíduo com a 
diminuição do surgimento de alguma doença dessa 
ordem, ou ainda, contribuir para que a mesma não 
evolua, é necessária a aplicação de programas de 
atendimento visando obter cuidados adequados no 
que se refere aos aspectos emocionais e melhor 
qualidade de vida possível, buscando-se a 
diminuição dos níveis de estresse (Lyra, Nakai, & 
Marques, 2010). 
 De acordo com Paganini, Flores e Silva (2014) as 
chamadas terapias complementares ou alternativas 
vêm ganhando campo na área da saúde, com intuito 
de oferecer cuidado integral ao ser humano, com 
propostas de recuperação da saúde e do bem-estar 
geral dos indivíduos, visando a diminuição do uso de 
fármacos ou de intervenções tradicionais à medicina. 
Em 2006 foi criada no Brasil a Política Nacional de 
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). 
Após 10 anos, em 2017, foram incorporadas 14 ativi- 
10 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
dades, chegando a 19 práticas disponíveis 
atualmente à população no Sistema Único de Saúde 
(SUS): ayurveda, homeopatia, medicina tradicional 
chinesa, medicina antroposófica, plantas 
medicinais/fitoterapia, arteterapia, biodança, dança 
circular, meditação, musicoterapia, naturopatia, 
osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, 
shantala, terapia comunitária integrativa, termalismo 
social/crenoterapia e yoga (Ministério da Saúde, 
2006). 
 Inserida neste contexto, a aromaterapia é uma das 
práticas terapêuticas que, por meio do uso de óleos 
essenciais extraídos de plantas aromáticas, visa agir 
de forma ampla sobre os sintomas corporais ligados 
aos estados emocionais, contribuindo para a 
diminuição de agravos à saúde. Esta atuação é 
possível graças ao que se define comoneurofisiologia ou bases neurais da emoção (Barreto 
& Silva, 2010), ou seja, o sistema olfatório, por 
exemplo, está ligado às estruturas do sistema límbico 
e, assim, pode haver modulação dos circuitos 
efetuadores do estresse. Vale ressaltar que os 
estímulos aferentes olfatórios chegam a diferentes 
partes do sistema nervoso central (SNC) por vias 
neuronais, envolvendo receptores e nervos 
periféricos (Barreto & Silva, 2010; Girardi, Llobet, 
Suchecki, & Tiba, 2018). 
 O objetivo geral da pesquisa que resultou neste 
artigo girou em torno da apresentação de um breve 
recorte de fundamentos teórico-clínicos que 
destacam a psoríase como impacto de aspectos 
estressores sobre a unidade mente e corpo. 
 Paralelamente, como objetivos específicos, 
pretendeu-se listar alguns aspectos estressores, 
mecanismos imunológicos associados e processos 
psicossomáticos, além de apresentar brevemente 
alguns apontamentos sobre os benefícios das 
intervenções terapêuticas de psicoterapia, 
medicamentosa e da prática integrativa de 
aromaterapia, como auxiliares na diminuição dos 
níveis de estresse. 
Metodologia 
 Foi realizado um estudo teórico circunscrito a partir 
de autores clássicos no campo da psicossomática, 
da imunologia, da aromaterapia e da psicologia. 
Artigos científicos disponíveis nas bases de dados da 
“Scielo”, “PePsic” e “Google Acadêmico” também 
foram consultados, com o intuito de obter registros 
específicos sobre o tema de pesquisa. Para tanto, 
foram selecionados os artigos decorrentes da busca 
com os descritores estresse, psicossomática, pele, 
mecanismos imunológicos, sistema límbico, 
emoções, aromaterapia e psoríase, destacando-se 
apontamentos relativos à relação mente e corpo, 
saúde e doença, estresse, psoríase e emoções que 
estiveram presentes nas publicações estudadas. 
Foram selecionados 20 artigos e 9 livros a partir dos 
quais buscou-se uma análise das informações, 
norteando-se pelos objetivos gerais e específicos, ou 
seja, dando-se destaque às informações referentes 
ao estresse no desencadeamento da psoríase, bem 
como às relações entre estresse, psicossomática, 
fatores imunológicos, e os benefícios das 
intervenções terapêuticas de psicoterapia, 
medicamentosa e da prática integrativa de 
aromaterapia, como auxiliares na diminuição dos 
níveis de estresse. Os recortes dos dados 
evidenciados nos textos pesquisados serão 
apresentados e discutidos a seguir. Vale ressaltar 
que foram considerados na categoria artigo, teses, 
dissertações, documentos e monografias pelo fato de 
estarem disponíveis on line na íntegra. 
Bases neurais da emoção: (des)integração corpo 
e mente e estresse 
 A psicossomática é uma ciência que estuda a 
interação entre a mente e o organismo do ser 
humano em um contexto biopsicossocial. Ou seja, 
aspectos psicológicos, biológicos e sociais juntos ou 
separadamente, podem influenciar a saúde de um 
sujeito (Riechelmann, 2002). 
 Torna-se relevante observar o conceito 
estabelecido, de acordo com Organização mundial 
da Saúde (OMS), que define o estado de saúde, 
considerando-o não apenas como ausência de 
doenças, mas a integração de um bem-estar físico, 
mental e social. Ou seja, “as condições gerais com o 
corpo, qualidade de vida emocional e convivência em 
sociedade são condições fundamentais para 
promoção a saúde” (Mello Filho, 2002, p. 20). 
 De acordo com Moreira et al., (2016) as células que 
originam a pele têm uma ligação muito próxima com 
as células nervosas, por esse motivo observa-se nos 
estudos destes autores que muitas doenças da pele 
têm relação com o estado emocional da pessoa e a 
maneira como se afetam pelos acontecimentos 
diários. Vale destacar que, não raras vezes, é gerado 
11 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
um ciclo “retroalimentado” no qual ocorre um evento 
estressor, uma ação de enfrentamento e uma 
resposta ao evento ocorrido, o que pode funcionar 
por sua vez como pressão psicológica contribuindo 
para um quadro de desiquilíbrio físico e emocional 
(Riechelmann, 2002). 
 Para Moreira et al., (2016) a interação que se dá 
entre a mente e a pele faz com que ela comunique 
sentimentos desconhecidos pela consciência, o que 
torna os aspectos psicológicos desencadeantes dos 
distúrbios das lesões de pele (Moreira et al., 2016). 
Por outro lado, pode-se considerar que há um 
interjogo que busca regulação entre corpo e mente e 
muitas vezes, aparentemente de forma contraditória, 
essa busca por regulação aparece na forma de crise, 
doença e sintomas que fazem com que o sujeito 
precise rever sua maneira de ser estar no mundo, 
suas escolhas e relações. 
 Rosa (2016) afirma que o aumento dos níveis 
plasmáticos de cortisol, hormônio responsável pela 
regulação de diversos processos metabólicos do 
corpo está diretamente relacionado com a exposição 
do organismo a agentes estressores: 
Momentos de estresse psicológico ou físico 
são capazes de desencadear no organismo 
reação fisiológicas que visam à proteção do 
corpo contra o agente estressor, porém essa 
exposição contínua tem a capacidade de 
desenvolver enfermidades no organismo por 
estar diretamente ligada a regulação de 
processos metabólicos” 
(Rosa, 2016, p. 40) 
 Assim, o estresse é apontado como fator sig- 
nificativo e responsável por desestabilizar o equilíbrio 
da homeostase do organismo, e ele ocorre como 
resposta automática frente a situações que exijam 
uma resposta que às vezes compromete o 
organismo causando abalos na qualidade de vida, 
tornando vulnerável a saúde física e psicológica do 
ser humano (Paganini, Flores, & Silva, 2014). 
 De acordo com Lyra, Nakai e Marques (2010) o 
estresse pode se entender como reação fisiológica 
normal do organismo iniciado pelo sistema nervoso 
central, alterando toda homeostase do organismo. 
Moreira, Fernandes e Magalhães (2016) acreditam 
ser importante a maneira como se lida com as 
situações de estresse e sua interação consigo 
mesmo e com o meio em que vive (Lyra, Nakai, & 
Marques, 2010; Spielberger, 1981). 
 Segundo Valle (2011), os agentes estressores 
podem ser classificados em externos e internos. 
Dificuldade econômica, problemas de 
relacionamento, pressões no ambiente de trabalho, 
são alguns exemplos de estressores externos e 
sentimentos, crenças e valores, vulnerabilidades, 
qualidade dos relacionamentos e a forma como cada 
pessoa percebe o mundo, são ilustrações de agentes 
que agem internamente. 
 O estresse pode ser caracterizado, ainda, como 
estado de alerta permanente. Quando essa alteração 
não cessa, no organismo há um acúmulo de tensão, 
trazendo sinais de patologias, além do fato de que o 
estresse excessivo é apontado como o principal 
responsável pela suscetibilidade às doenças, 
contribuindo para seu aparecimento ou agravamento 
(Silva & Silva, 2007). 
 Para Spielberger (1981) e Paganini et al. 
(2014) a maneira como o indivíduo enfrenta as 
situações do cotidiano é de grande relevância pois a 
não adaptação a essas adversidades pode torná-lo 
vulnerável ao estresse, afetando seu bem-estar 
global. As reações ao estresse dependem da 
circunstância de uma situação ser ou não 
considerada ameaçadora ou potencialmente 
perigosa, o que é em última instância uma avaliação 
subjetiva. 
Psoríase: doença psicossomática 
 Na área da saúde a Psoríase é considerada uma 
dermatite crônica da pele, e acomete cerca de 1 a 2 
% da população (Lima, Cunha, & Oliveira, 2013). Sua 
causa específica é ainda desconhecida, sendo então 
atribuída a múltiplos fatores. Caracteriza-se pelo 
aparecimento de placas avermelhadas que se 
formam sobre a superfície da pele em função de um 
defeito na produção celular, o que faz com que as 
células da pele se repliquem num curto intervalo de 
tempo (aproximadamente 4 a 5 dias), resultando num 
processo inflamatório (Lima,Cunha, & Oliveira, 
2013). 
 As lesões se disseminam por regiões como 
tronco, joelhos, cotovelo, e, preferencialmente o 
couro cabeludo, podendo acometer também as 
articulações. São classificadas de acordo com o local 
em que surgem: psoríase gutata, numulares, em 
placas, eritrodérmica, pustulosa e artropática sendo 
esta última a mais severa (Hassun, 2003). 
12 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
 A lesão causada pela doença decorre em importante 
impacto emocional tendo em vista que afeta a 
autoestima e a qualidade de vida do sujeito. A 
psoríase está frequentemente associada ao estresse 
tanto como fator desencadeante, como também 
variável envolvida na piora das lesões (Mingorance 
et al., 2001). Verificou-se ainda que a condição 
emocional do indivíduo com psoríase é de grande 
relevância para estabilização da doença (Mingorance 
et al., 2001; Loureiro et al., 2001). 
 De acordo com pesquisas na área da saúde, a 
psoríase afeta mais adultos entre o sexo feminino. 
Segundo os autores pesquisados não há cura para 
este acometimento, o que caracteriza sua 
cronicidade. No entanto, a partir de tratamentos 
devidamente prescritos é possível que se mantenha 
estável a doença, incluindo tradicionalmente a ação 
de medicamentos imunomoduladores e de terapias 
biológicas indicados conforme a dimensão das 
lesões (Martins & Arruda, 2004; Silva & Silva, 2007). 
 Há muitas doenças crônicas que são 
desencadeadas por uma soma de fatores, dentre 
estes estão os emocionais, ou seja, os referentes à 
vida psíquica de um sujeito, os quais, em geral, 
mostram seus efeitos no corpo. A psoríase é assim 
considerada um tipo de adoecimento que evidencia 
a interação entre processos psicológicos e sistema 
nervoso central, fazendo com que surjam, por 
exemplo, lesões tópicas na pele (Calmon, Gerami, & 
Sebastiani, 2000). 
 Pensando numa forma mais abrangente e 
interdisciplinar de se estudar a dinâmica das 
patologias e como chegar a um diagnóstico mais 
confiável, e, acima de tudo, desenvolver tratamentos 
mais efetivos no que se refere à melhoria na 
qualidade de vida do paciente, a medicina 
psicossomática tem se ocupado da investigação de 
sintomas orgânicos articulados aos aspectos 
emocionais (Mello Filho, 2002). 
 Considera-se que a somatização manifesta um 
desgaste emocional com frequência associado ao 
estresse, como uma manifestação do ser humano ao 
encontrar grande dificuldade em expressar ou 
suportar suas insatisfações e desconfortos, fazendo-
o sob a forma de produção de doenças 
psicodérmicas, por exemplo, decorrentes da 
sintomatologia ligada ao próprio estresse (Moreira, 
Fernandes, & Magalhães, 2016). 
 Corroborando com esta ideia, Silva e Silva 
(2007) apontam que a somatização pode aparecer 
para alguns sujeitos como decorrência da não 
elaboração de eventos/acontecimentos indesejáveis 
ao longo de sua vida ou que coloquem em jogo seu 
bemestar físico em determinada ocasião, alterando 
de modo significativo a homeostase de seu 
organismo. Esta última ideia será apresentada um 
pouco mais detalhadamente mais adiante no subitem 
Psoríase e estresse. 
 A pele é considerada o maior órgão do ser humano, 
aquele que envolve todo o corpo e exerce a função 
básica de separação e proteção com relação ao meio 
externo. Além disso, é responsável por diversas 
funções específicas no organismo, como as de 
proteção contra danos mecânicos, regulação da 
temperatura corporal, percepção sensorial, dentre 
outras. A pele se encontra disposta em três 
camadas: epiderme, derme e hipoderme (Lima, 
Cunha, & Oliveira, 2013). 
 Autores destacam ainda que a pele está 
intimamente associada a estruturas próximas pelas 
quais recebe nutrição necessária. Em virtude de sua 
localização, exerce uma íntima relação com o meio 
externo e, por essa razão, “é facilmente afetada por 
doenças gerais ou locais do organismo” (Robbins, 
1975, p. 1241). 
 De acordo com Steiner (1997), embora a pele 
cumpra uma função de separação e de proteção 
entre o ser humano e o mundo exterior, há também 
uma forte ligação da função da pele com as 
emoções, ou seja, com um mundo interior do sujeito. 
Corroborando essas ideias, Stanley (1975) já 
destacava a importante influência psicogênica na 
origem das patologias de pele. 
 Há considerável evidência mostrando que a 
interpretação individual do prurido pode ser 
consideravelmente influenciada por fatores 
psicogênicos. O limiar para o prurido 
experimentalmente produzido é mais baixo quando o 
paciente está emocionalmente perturbado do que 
quando está relaxado (Stanley, 1975, p. 1.245). 
 Para Mingorance et al. (2001), o funcionamento 
mental de pacientes com psoríase tem sido 
associado a diversos estados psicológicos, ou seja, 
há importante impacto emocional envolvido no 
surgimento e na evolução da doença: aumento de 
preocupações, ansiedade e depressão estão 
associados à velocidade da disseminação e piora 
das lesões. 
Psoríase e estresse 
 
13 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
 O estresse é apontado como um dos principais 
responsáveis por desestabilizar o equilíbrio, a 
homeostase do organismo, e ele ocorre como 
resposta do organismo frente às situações que 
exijam uma resposta mais intensa ou frequente por 
parte do sujeito, podendo as referidas situações 
serem tanto internas como externas. Configura-se 
assim um contexto que acaba por comprometer a 
qualidade de vida, tornando vulnerável a saúde física 
e psicológica das pessoas (Paganini, Flores, & Silva, 
2014). 
 A psoríase é considerada uma dermatite crônica 
(Mingorance et al., 2001) e seu desenvolvimento 
pode variar de acordo com uma multiplicidade de 
fatores. Ainda que, segundo os autores, não possua 
cura definitiva, verifica-se atualmente que com 
tratamentos é possível mantê-la estável, com o 
auxílio, inclusive, de tratamento psicológico e de 
outras terapêuticas para abordar e auxiliar na 
elaboração dos aspectos emocionais, do estresse, 
dentre outros fatores envolvidos no surgimento e na 
dimensão das lesões (Silva & Silva, 2007). 
 O aparecimento das lesões na pele, por sua vez, 
acaba causando um impacto de ordem emocional, 
afetando a autoestima e a qualidade de vida, 
deixando o indivíduo em condição tipicamente 
estressante, decorrendo na piora da doença (Moreira 
et al., 2001). Nota-se que a relação [estresse – 
psoríase – estresse] configura um círculo vicioso na 
vida do sujeito. O trabalho com as variáveis 
emocionais torna-se, portanto, fundamental para 
pacientes com psoríase que, como apontaram os 
estudos, sofrem com frequência um forte impacto 
psicológico por lidar com as lesões da pele que lhe 
causam, desde um certo incômodo, até o isolamento 
social, tendo comprometido assim sua qualidade de 
vida e suas relações sociais de modo global (Moreira 
et al., 2016). 
 Alguns autores apontam essencialmente os 
aspectos sociais e culturais agravantes da doença. 
Pela exigência que a sociedade ocidental 
contemporânea impõe aos aspectos da imagem, 
como padrão ideal de beleza, evidencia-se a 
insatisfação de pacientes com a aparência das 
lesões na pele, levando-os a sofrer preconceitos e 
gerando ainda mais situações estressoras (Silva & 
Muller, 2007). 
 Mesmo quando ainda não havia o diagnóstico 
preciso da psoríase na medicina, já eram notáveis os 
aspectos estigmatizantes no paciente adoecido, 
dificultando sua inserção psicossocial. Os efeitos dos 
estigmas da doença de pele, como citado 
anteriormente, parecem agravar-se em contextos 
sociais, como os atuais, nos quais a imagem e os 
atributos físicos de um sujeito adquirem importante 
valor, sofrendo os efeitos de ideais normatizantes de 
beleza e de aceitação (Lima, Cunha, & Oliveira, 
2013). 
 A psoríase é também considerada uma doença 
autoimune, pelo fato de haver a ativação de 
processosinflamatórios gerado pelo defeito na 
proliferação das células da pele, fator pelo qual as 
células internas chegam num curto intervalo de dias 
à camada superficial, favorecendo o surgimento das 
lesões (Lima, Cunha, & Oliveira, 2013). 
 Dentre os mecanismos da doença ainda não 
elucidados, consideráveis estudos apontam para 
interação de aspectos imunológicos associados à 
dinâmica dos aspectos psicológicos, e o estresse 
(Lima, Cunha, & Oliveira, 2013). 
 De acordo com Moreira et al., (2016) os aspectos 
genéticos são fortes indicadores do desenvolvimento 
da psoríase em ambiente familiar, devido às falhas 
do gene antígeno leucocitário humano (HLA) 
participante na resposta imune. Assim, essa falha 
representa maiores chances do desencadeamento 
da doença (Moreira et al., 2016). 
 Segundo Lima, Cunha e Oliveira (2013) as células 
que compõem a pele possuem um tempo útil de vida, 
logo passam por processo de renovação celular que 
normalmente ocorre em cerca de 28 dias. Na 
psoríase processo de renovação celular ocorre em 
um intervalo de 4 a 5 dias, por um defeito na 
proliferação celular. 
 Na resposta imunológica as células do linfócito T são 
responsáveis por iniciarem um processo inflamatório 
na pele (Martins & Arruda, 2004), tornando visível a 
insatisfação com as marcas causadas por essa 
patologia (Moreira et al., 2016). 
 O cuidado com a condição emocional do indivíduo 
com psoríase torna-se, por isso, de grande 
relevância para a melhora de seu bem-estar geral, 
visto que os aspectos psicológicos podem funcionar 
não apenas como gatilhos, mas também como 
mantenedores de um quadro crônico da doença 
(Mingorance et al., 2001). O estudo realizado por 
Lyra, Nakai e Marques (2010) apontou que os 
agravos emocionais são a grande causa no 
desenvolvimento do estresse e da ansiedade, 
causando desiquilíbrio no organismo e 
14 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
manifestando-se sob diversas formas de doenças. 
Para Silva e Muller (2007), com relação à qualidade 
de vida, é desejável que o ser humano esteja em 
condições e com disposição para as interações 
diversas com o seu meio e com a sociedade, 
considerando tanto os aspectos de sua moral 
cultural, bem como os espirituais e emocionais. 
Porém, alertam os autores que, quando ocorrem 
influências significativamente negativas por parte do 
ambiente, há grandes chances de isso resultar em 
importante sofrimento psíquico para o sujeito e, desta 
forma, desencadearem-se doenças e sintomas que 
acometem diretamente o corpo e seu funcionamento. 
Diante do exposto, os autores afirmam que é 
extremamente importante considerar as formas 
particulares que cada sujeito encontrará para 
enfrentar tais conflitos, sejam eles de cunho 
orgânico, psicológico ou cultural. Sobretudo neste 
contexto, deve ser considerada relevância de equipe 
multiprofissional no atendimento do paciente com 
psoríase em todos os setores da área da saúde. 
Aromaterapia como prática integrativa na área 
da saúde 
 Para que o indivíduo possa se beneficiar de distintas 
formas para evitar o surgimento de alguma doença, 
ou de intervenções diversas que contribuam para a 
não evolução de uma patologia, é necessária a 
criação de programas de atendimento que visem 
ações preventivas e de promoção da saúde, 
buscando a diminuição de níveis de estresse na vida 
de um sujeito (Lyra, Nakai, & Marques, 2010). 
 A aromaterapia é conhecida como um método 
terapêutico que se utiliza de óleos essenciais 
extraídos de plantas aromáticas com intuito de 
promover, por meio das funções específicas de cada 
aroma, uma terapia que beneficie a saúde e o bem-
estar do ser humano, buscando prevenir ou tratar 
consideráveis problemas físicos, psicológicos e 
emocionais (Gnatta, Kurebayashi, Turrini, & Silva, 
2016). 
 Deve ser realizada por meio de um uso controlado e 
consciente dos óleos essenciais das plantas, os 
quais desempenham importantes funções nas 
emoções, por conta da inter-relação do aparelho 
olfativo e o centro emocional do cérebro, o sistema 
límbico (Price, 2006; Neves, 2011). Segundo 
Paganini et al. (2014), os óleos essenciais estimulam 
as células nervosas olfativas, ativando o sistema 
límbico. O sistema olfatório tem vários substratos 
neurais em comum com o sistema límbico. 
 Segundo Silva (2001), o processo tem início a partir 
de uma reação química que origina impulsos 
elétricos enviados para o cérebro por meio dos 
neurônios olfativos e com a estrutura do bulbo 
olfativo são transmitidos, por vias sinápticas, os 
efeitos dos óleos essenciais. 
 René Maurice Gattefossé, um químico francês, foi o 
pioneiro a descobrir a ação benéfica do óleo de 
lavanda: após queimar acidentalmente a mão, a 
emergiu em uma vasilha com óleo de lavanda, 
observando em seguida uma melhora significativa na 
cicatrização pela ação anti-inflamatória do óleo 
(Domingos & Braga, 2013). 
 Para Gnatta et al., (2016) a ação da aromaterapia no 
organismo ocorre por meio de interação de 
moléculas químicas do óleo essencial, as quais 
podem ser absorvidas por meio da aplicação tópica, 
sistema respiratório e sistema límbico, este último, 
responsável pelas emoções. Assim, a aromaterapia 
como prática integrativa pode atuar na diminuição 
dos sintomas do estresse a partir de sua atuação no 
sistema límbico. 
 De acordo com o estudo realizado por Lyra, Nakai e 
Marques (2010) os agravos emocionais são a grande 
causa no desenvolvimento do estresse e da 
ansiedade, causando desiquilíbrio ao organismo. A 
aromaterapia tem configurado uma proposta 
relevante para alguns destes casos, promovendo 
efeitos positivos na diminuição do estresse e 
considerada eficaz, fundamentalmente como medida 
preventiva e paliativa, possibilitando além da melhora 
emocional, melhoras físicas por sua ação de fundo 
farmacológico, conforme explicita anteriormente 
quando foram apresentados os mecanismos 
neurofisiológicos do processo olfativo. 
 Para Paganini et al. (2014) a aromaterapia é 
considerada uma prática inovadora na área da 
saúde, por sua ação terapêutica ampla e seus 
benefícios terapêuticos na promoção da saúde, 
tornando-se um forte aliado nos cuidados holísticos 
do ser humano. 
Considerações Finais 
 Por meio de um primeiro estudo teórico circunscrito 
na literatura sobre o tema, foi possível obter 
informações de alguns autores e pesquisadores na 
15 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
área consultada. Foi apresentado um panorama e 
alguns eixos norteadores para a investigação das 
principais variáveis biopsicossociais relacionadas ao 
estresse e sua relação com o surgimento e a 
manutenção da psoríase como manifestação 
psicossomática. A psoríase ilustra um fundamento 
da psicossomática, a indissociável relação entre 
corpo e mente, tendo como uma das manifestações 
dessa interação a comunicação de um mal-estar sob 
a forma de adoecimento evidenciado na pele, como 
resposta ao estresse e seus componentes 
emocionais. Por esta razão, o título deste artigo 
aponta o estresse como um fator (DES)encadeante 
da psoríase, ou seja, dialeticamente ao desencadear 
resposta patológica evidencia a unidade corporal 
como integração dos aspectos psíquicos e 
orgânicos, denunciando uma resposta única frente 
ao mal estar causado pelo estresse: o sofrimento 
denunciado, dado a ver, na pele. 
 A somatização, por sua vez, implica em considerável 
desgaste emocional retroalimentado [estresse – 
psoríase – estresse], visto que muitos sujeitos 
expressam sua dificuldade em suportar a 
insatisfação e o desconforto emocional, decorrentes 
da sintomatologia do próprio estresse, sob a forma, 
por exemplo, de doenças de pele, como a psoríase. 
 Assim, para além dos tratamentos medicamentosos 
tradicionais na área médica, nos casos de psoríase, 
faz-se relevante escutar os modosde representação 
de sofrimento do sujeito, considerando a sua 
condição psíquica e emocional, e, paralelamente 
abrindo espaço para algumas terapias como 
alternativas à farmacológica industrial vigente. 
 Ações integrativas na área da saúde tornamse 
urgentes para a promoção da saúde integral e 
melhoras no bem-estar do sujeito, pois, verificou-se 
que aspectos psicológicos podem funcionar não 
somente como gatilhos, mas também como 
elementos cronificadores da doença, causando ou 
mantendo danos físicos, sociais (relacionais) e 
abalos psicológicos em função do desconforto e do 
impacto na autoestima, tendo em vista afetação 
narcísica de sua imagem diante do outro. 
 A aromaterapia, aceita e considerada uma das 
práticas integrativas e complementares do SUS no 
Brasil, mostra-se como um coadjuvante terapêutico 
relevante para os quadros psicossomáticos, 
demonstrando efeitos positivos na diminuição do 
estresse, e como prática considerada eficaz, 
preventiva e paliativamente, possibilitando, além da 
melhora emocional, melhoras físicas por sua ação de 
fundo farmacológico. O presente estudo teórico 
sugere, no entanto, aprofundamento nas pesquisas 
de campo e de cunho experimentais destinadas à 
verificação dos efeitos específicos da aromaterapia 
em casos de psoríase. Espera-se que o breve 
recorte teórico aqui apresentado incentive o 
prosseguimento de pesquisas neste campo e auxilie 
especialmente os pacientes com psoríase, 
aprofundando o conhecimento acerca dos 
mecanismos estressores envolvidos, dos aspectos 
psicossomáticos da doença e da possibilidade do 
uso terapêutico da aromaterapia, visando a 
diminuição dos níveis de estresse pela via da 
equilibração das respostas neuro químicas e melhora 
na qualidade de vida integral do sujeito, 
considerando a sua saúde física e mental. 
 Faz-se urgente um aprofundamento da discussão 
dos modelos etiológicos vigentes acerca dos 
fenômenos patológicos uma vez que há, por um lado, 
uma menos valia do sofrimento, e, por outro, uma 
polarização entre biológico (físico), emocional 
(psíquico) e volicional (moral), o que aponta para a 
necessidade de novos modelos clínico-conceituais 
para a abordagem, entendimento e tratamento de 
fenômenos que se desenrolam na interface corpo e 
mente. 
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Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 18-25 
ADOÇÃO INTER-RACIAL: ASPECTOS 
PSICODINÂMICOS A PARTIR DE UM CASO CLÍNICO. 
Mariana Rodrigues Festucci Grecco 
Universidade de São Paulo 
 Contato: marianafestucci@usp.br 
 
Resumo 
Este trabalho constitui um relato de experiência de atendimento clínico a uma criança negra em processo 
de adoção por uma mulher branca. Posto que a criança não aceitasse o alimento apenas quando este lhe 
eraoferecido por esta mulher, alimentando-se regularmente em situações em que esta não era a agente da 
oferta ou não estava presente, sustentamos a hipótese de que a não aceitação do alimento constituía uma 
resposta da criança à mulher que negara a sua diferença de cor a fim de não revelar o ato de adoção. 
 
Palavras-chaves: Adoção inter-racial; constituição do sujeito; caso clínico; Lacan; racismo. 
Interracial adoption: psychodynamic aspects from a clinical case. 
Abstract 
This paper is an account of experience of clinical care for a black child in the process of adoption by a white 
woman. Since the child did not accept the food only when it was offered by this woman, feeding regularly in 
situations where it was not the agent of the offer or was not present, we support the hypothesis that the non-
acceptance of the food constituted a response to the woman who had denied her color difference in order 
not to reveal the act of adoption. 
Keywords: Interracial adoption; constitution of the subject; clinical case; Lacan; racism. 
Adopción interracial: aspectos psicodinámicos a partir de un caso clínico. 
Resumen 
Este trabajo constituye un relato de experiencia de atención clínica a un niño negro en proceso de adopción 
por una mujer blanca. Puesto que el niño no aceptó el alimento sólo cuando éste le era ofrecido por esta 
mujer, alimentándose regularmente en situaciones en que ésta no era la agente de la oferta o no estaba 
presente, sostenemos la hipótesis de que la no aceptación del alimento constituía una respuesta del niño a 
la mujer que negara su diferencia de color a fin de no revelar el acto de adopción. 
Palabras clave: Adopción interracial; constitución del sujeto; caso clínico; Lacan; racismo. 
 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 7-17 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 18-25 
20 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 18-25 
Introdução 
 Pesquisas recentes, tais como a do Cadastro 
Nacional de Adoção produzido pelo Conselho 
Nacional de Justiça (CNJ) (2016) e a de Andrade, 
Hueb e Alves (2017), sugerem o aumento do índice 
de adoção de crianças negras no Brasil na última 
década. 
 Em artigo de revisão da literatura sobre o tema, 
Rufino (2002) constatou que o preconceito racial, 
herdeiro do passado escravagista no país, constituía 
o principal entrave “quanto à escolha do adotado” 
(Rufino, 2002, p. 79), relegando a criança negra à 
institucionalização. 
 Passos (2011) supôs, a partir da consideração 
freudiana de que os pais atualizam seus desejos 
narcísicos através dos filhos, que “quando as 
diferenças físicas são gritantes, a descontinuidade 
biológica é evocada com frequência, e pode haver 
dificuldades em sentir a criança como filho legítimo” 
(Passos, 2011, s.p.). A autora investigou se a 
evitação de uma frustração estabeleceria um 
impedimento para a adoção inter-racial e concluiu 
que tal hipótese constituía um mito, arrematando, 
ainda, que os problemas enfrentados por famílias 
brancas na adoção de crianças negras não são 
“maiores ou mais significativos” (Passos, 2011, s.p.) 
do que aqueles enfrentados por uma família 
composta por filhos biológicos, independentemente 
da raça. Passos (2011) ratificou sua conclusão 
afirmando que a quantidade de crianças brancas e 
de crianças negras adotadas era semelhante em 
Campo Grande (MS), mas sem mencionar os dados 
nos quais se baseou. 
 O Centro de Estudos das Relações de Trabalho e 
Desigualdades (CEERT) (2012) destacou que, no 
ano de 2011, as crianças negras constituíam “mais 
da metade das que estavam aptas para serem 
adotadas e aguardavam por uma família” (CEERT, 
2012, s.p.) no Brasil. Em contrapartida, dentre as 26 
mil famílias que compunham a fila de adoção, mais 
de um terço desejava somente crianças brancas, 
sendo que o principal argumento utilizado por elas 
em desfavor da adoção inter-racial era a suposição 
de que “viessem a sofrer preconceito pela diferença 
da cor de pele” (CEERT, 2012, s.p.). 
 O CEERT (2012) considera que este argumento era 
de natureza projetiva, ou seja, que o preconceito 
estava na base da família que manifestava interesse 
em adotar, constituindo um entrave à concretização 
do processo no país, dado que, enquanto o tempo de 
espera por uma criança com padrão clássico 
(branca, menor de um ano) era de até oito anos, este 
período poderia ser reduzido para três meses no 
caso de aceitação de uma criança negra. 
 Dados do Cadastro Nacional de Adoção produzido 
pelo CNJ (2016) informam que das 252 adoções 
concretizadas de janeiro a abril de 2016, 47% (119 
adoções) foram de crianças negras. Andrade et al. 
(2017) destacam que a partir da promulgação da 
nova lei de adoção (12.010/2009) houve mudanças 
na composição da filiação adotiva, pois a lei instituiu 
que o processo de adoção deve ser finalizado em no 
máximo dois anos, o que diminuiu o tempo de 
institucionalização das crianças e transformou a 
cultura de adoção: 
“Se antes era vista de maneira preconceituosa, 
encoberta por medos, silêncios e mitos do senso 
comum (Vargas, 1998), atualmente a mídia aponta 
que a população está superando os preconceitos. Os 
brasileiros estão aceitando adotar crianças maiores 
de dois anos ou de diferentes raças. (Andrade et al., 
2017, p. 174)” Situações de preconceito sofrido por 
famílias inter-raciais de grande repercussão midiática 
– tais como: a do casal composto pelo ator Bruno 
Gagliasso e pela atriz Giovanna Ewbank, que 
adotaram uma criança negra proveniente do Malaui 
e prestaram queixa na Delegacia de Repressão a 
Crimes de Informática, no Rio de Janeiro, após 
postarem uma foto com a filha nas redes sociais e 
receberem ofensas racistas (Pragmatismo Político, 
2016); da atriz Monica Duarte, que, adentrando com 
a filha negra a cafeteria Ofner do Shopping Eldorado, 
em São Paulo, presenciou a criança sendo advertida 
por uma funcionária de que ali ela não poderia 
mendigar (Correio Brasiliense, 2015); ou, ainda, do 
casal composto por Tatiane e Jorge Timi, 
paranaenses que estavam a passeio na capital 
paulista e que, estando com a filha negra em uma 
das filiais da cafeteria Starbucks, chamaram a 
polícia, pois a filha, ao sair do banheiro, foi abordada 
pelo segurança do estabelecimento que, supondo 
que se tratasse de uma pedinte, solicitava que a 
criança se retirasse (O Dia, 2017) – levaram-nos a 
constatar que se, por um lado, houve um aumento na 
quantidade de adoção de crianças negras graças a 
uma suposta receptividade de famílias brancas ao 
processo interracial, a democracia racial ainda 
constitui um mito que sustenta o racismo à brasileira, 
conforme defende Munanga (2017). 
21 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 18-25 
 Ou seja, ainda que não haja preconceito por parte 
da família que adota, este é patente por parte da 
sociedade brasileira, que não reconhece como 
legítima a família inter-racial. Tal situação fez-nos 
questionar acerca da psicodinâmica da adoção 
interracial e se ela é atravessada pelo preconceito 
racial presente nos laços sociais. 
Objetivo 
 Este estudo visa compreender aspectos 
psicodinâmicos da adoção inter-racial a partir de um 
caso clínico. 
Método 
 Trata-se de um relato de caso clínico de uma criança 
atendida durante quatro meses em psicoterapia de 
orientação psicanalítica. 
 O relato é constituído por vinhetas dos atendimentos 
onde constam somente os elementos necessários 
para ilustrar os aspectos psicodinâmicos envolvidos 
na adoção inter-racial, ou seja, além da adoção de 
nomes fictícios não foi citado qualquer outro 
elemento que permitisse a identificação, localização 
e/ou exposição da criança envolvida. Esclarecemos 
que o atendimento psicoterápico não foi iniciado 
visando o desenvolvimento de um estudo de caso, 
todavia, as observações suscitadas no transcorrer no 
atendimento motivaram as reflexões que oraapresentamos aqui. Enfatizamos ainda que se trata 
de um caso clínico encerrado. 
 Entendemos que tal caso, em sua singularidade, é 
expressivo dos aspectos psicodinâmicos que podem 
estar implicados na adoção inter-racial. Jacques 
Lacan, pelas contribuições teóricas que apresenta no 
que tange à constituição psíquica do sujeito, 
Françoise Dolto, pela teorização desenvolvida a 
partir da práxis no atendimento às crianças oriundas 
de processos de adoção, e Neusa Santos Souza, 
psicanalista brasileira que se dedicou a estudar as 
implicações psíquicas do preconceito racial, foram as 
referências escolhidas para analisar tal caso. 
Relato do caso 
 ¹Blanca foi encaminhada para atendimento 
psicoterápico aos quatro anos de idade, tendo sido 
trazida por aquela que se apresentava como sua 
mãe, ²Joana , a qual relatava que a filha apresentava 
um “quadro de anorexia”. Joana dizia estar 
preocupada com a possibilidade de que o 
comportamento de Blanca envolvesse risco de 
morte, o que contrastava com a aparência saudável 
da criança, que estava corada, bem-disposta para 
brincadeiras e não apresentava qualquer alteração 
na saúde física além de um ligeiro decréscimo de 
ferro, que o pediatra explicara à mãe como sendo 
previsto para a idade e passível de ser corrigido 
facilmente através de suplementação alimentar. 
 Em anamnese, Joana revelou que o seu esposo 
tivera um casamento anterior durante o qual fora pai 
de duas filhas que já eram adolescentes, e que 
durante esta união se submetera à vasectomia. O 
esposo revelou sobre o procedimento à Joana 
quando ainda a namorava e mostrou-se disposto a 
uma reversão – que Joana afirmou não ser 
necessária, aventando a hipótese de adoção. Vale 
ressaltar que Joana não era mãe de filho biológico ou 
adotivo e que este casamento foi a sua primeira 
união estável. 
 Blanca foi adotada sem passar pelos trâmites legais, 
uma vez que foi gerada por uma empregada da 
família de Joana que não poderia criá-la por 
impedimentos financeiros. Ao dar à luz, a genitora 
solicitou que o nome da criança fosse Samantha e 
advertiu Joana para o fato de que o genitor era negro, 
mas Joana, também a despeito da advertência da 
pediatra, que lhe avisara que a bebê, apesar da 
aparência branca, poderia sofrer um processo de 
escurecimento da pele por conta da ascendência 
paterna, decidiu acolhê-la (mesmo tendo o desejo de 
que a filha fosse parecida com ela), pois temia que o 
processo de adoção pelas vias legais fosse 
demorado. Joana não respeitou o desejo da genitora 
e solicitou que o marido registrasse a criança com o 
nome de Blanca. Blanca foi retirada da genitora dois 
dias após o nascimento, não voltando a ter contato 
com ela. Após este período, passou a ser alimentada 
com leite artificial, sendo que Joana, antes de levar a 
bebê para casa, solicitou ao esposo que o fato da 
adoção jamais fosse mencionado. Esclarecemos 
aqui, embora não possamos entrar em detalhes por 
conta da brevidade do relato, que o esposo jamais 
ofereceu barreira ao que quer que fosse que Joana 
fizesse de Blanca. O desenvolvimento de Blanca se 
deu sem intercorrências até esta completar três anos 
e meio e ser levada para um período de férias em 
uma cidade do litoral paulista, onde Joana a 
acompanhava à praia todos os dias, não sem a 
22 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 18-25 
precaução de protegê-la do sol, pois temia “que a sua 
pele ficasse mais escurinha”. Ocorre que Joana 
sofreu um mal da coluna, que não especificou, mas 
que a impediu de sair da sua casa de veraneio por 
mais de uma semana, sendo que foi o seu esposo 
quem passou a levar Blanca para a praia nestes dias, 
expondo-a ao sol por mais tempo do que o desejado 
por Joana. Ao fim de quatro ou cinco dias, Joana 
percebeu que a cor da pele de Blanca estava 
escurecendo, e comunicou ao esposo que este havia 
“sujado” a criança. Chegou a levá-la ao pediatra, que 
afirmou que se tratava de um processo de 
bronzeamento natural, mas que a cor da criança 
estava se alterando em função da sua raça. Vale 
ressaltar que Joana também colava as orelhas de 
Blanca junto à cabeça com fita adesiva e apertava o 
nariz da criança em vários momentos do dia, em uma 
espécie de massagem com a finalidade de que este 
“não se esparramasse”. Após a volta destas férias, 
Blanca notou que a sua cor de pele era diferente 
daqueles que tinha por pais e, questionando sobre 
esta diferença, teve a resposta da mãe de que “não 
era nada, não havia diferença alguma”. Joana se 
refere a estes acontecimentos com naturalidade. A 
fase de anamnese foi encerrada após duas sessões. 
 Em seguida começaram as sessões de atendimento 
psicoterápico com Blanca. Desde o início, Blanca 
mostrou-se interessada em brincar e conversar, 
contando sobre a admiração que sentia pelo pai e 
pela professora da escola que frequentara, onde 
referia ter vários amigos com quem compartilhava 
refeições e jogos. Blanca interessava-se 
especialmente por brinquedos da caixa lúdica que 
remetiam à comida (tais como panelas, fogão, 
feirinha, supermercado, etc.), desenvolvendo cenas 
em que fazia compras, preparava o alimento para 
oferecer ou solicitava o preparo do alimento para dar 
a ela. Após cerca de um mês nesta dinâmica, Blanca 
chegou para a sessão referindo fome e solicitando 
“comer comida de verdade”. Alguns biscoitos foram 
oferecidos a ela, que comeu com avidez. Nas 
sessões seguintes, Blanca sempre questionava se 
havia algo para comer. 
 Tendo sido convocada para nova conversa com a 
terapeuta, Joana descreveu em detalhes o que 
nomeava como sendo a “anorexia” de Blanca. 
No entanto, tratava-se de um comportamento de 
recusa seletiva da criança em se alimentar, 
apresentado somente em relação à Joana, sendo 
que Blanca alimentava-se regularmente na escola ou 
em outras situações em que Joana não estivesse 
presente ou não oferecesse o alimento. Para fazer 
com que Blanca aceitasse alimentar-se em casa, 
Joana tinha que passar o prato ao marido, a sua mãe 
ou à sogra, que o repassavam à criança. 
 Joana foi questionada sobre quando tal 
comportamento de Blanca começara a se 
apresentar, respondendo que há cerca de seis 
meses, começando com situações esporádicas que 
se intensificaram até que Blanca recusasse todos os 
alimentos ofertados por ela. 
 No decorrer das sessões seguintes, Blanca 
questionou sobre a sua diferença de cor em relação 
à da terapeuta (branca), que lhe respondera que os 
ancestrais das duas provinham de raças diferentes. 
Joana foi convocada novamente para conversa, na 
qual se aventou a possibilidade de que Blanca viesse 
a saber a verdade sobre a sua origem, o que a levaria 
a compreender sobre a diferença de cor daquela que 
nomeava como mãe e poderia constituir uma 
possibilidade de reaproximação de Joana, de quem 
a criança estava cada vez mais afastada. Joana nega 
tal possibilidade à Blanca, afirmando que jamais 
falará sobre a adoção. Após tal conversa com a 
terapeuta, Joana acompanhou a criança em mais 
duas sessões, ao fim das quais afirmou que, devido 
à falta de melhora de Blanca, encerraria o 
tratamento, sendo irredutível às tentativas de 
sensibilização para a demanda de Blanca 
empreendidas pela terapeuta. O acompanhamento 
psicoterápico se encerrou, portanto, após quatro 
meses, sendo que neste relato sintetizamos os 
elementos que julgamos serem essenciais para 
atender ao objetivo proposto neste trabalho. 
Discussão 
 Visamos, para atender ao objetivo proposto, levantar 
os seguintes elementos: que o eu (moi) é constituído 
corporal e imaginariamente a partir da coleta de 
traços identificatórios do Outro (a partir do conceito 
de estágio do espelho desenvolvido por Lacan); que 
a partir de então se apresenta uma demanda de 
reconhecimento do outro na sustentação do sujeito 
(Je); que o atravessamento que o idealdo sujeito 
branco pode realizar no processo de identificação do 
sujeito negro (partindo dos desenvolvimentos 
teóricos de Neusa Santos Souza (1983) em Tornar-
se negro: as vicissitudes da identidade do negro 
brasileiro) pode levar a um processo de 
23 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 18-25 
estranhamento; que há uma recusa da criança em se 
alimentar enquanto resposta perante uma tensão no 
reconhecimento do outro, e que é de suma 
importância não faltar com a verdade à criança 
supondo que esta não terá capacidade de 
compreendê-la ou aceitá-la, pois, de acordo com 
Françoise Dolto (1999), as lacunas na história da 
criança podem ser fonte de angústia ou sofrer 
enquadres fantasmáticos que limitem as suas 
possibilidades de existência. Outrossim, a negação 
do saber sobre a origem pode comprometer a saúde 
psíquica da criança. 
 Lacan (1949/1999), partindo da conceituação de 
narcisismo desenvolvida por Freud, introduz o 
estádio do espelho enquanto formador da função do 
eu (moi), acentuando que a constituição do eu é 
corporal. O corpo, entretanto, não constitui de saída 
uma unidade enquanto realidade psíquica – não 
correspondendo, portanto, à unidade anatômica em 
seu estado fragmentado (corps morcelé ), 
necessitando compor uma gestalt a partir de traços 
identificatórios que colhe do Outro e com os quais vai 
se recobrindo sucessivamente para compor um eu 
(moi). Sem esses traços, ele se decompõe tal como 
uma cebola. Assim é que o eu se constitui a partir do 
outro, ou, como bem sintetizou o estádio do espelho 
sem o saber o poeta Rimbaud, “Eu é um outro”. 
 Se um ato de alienação é fundador do eu, como 
podemos pensar a estrutura psíquica de atravessada 
por uma negação, racismo e/ou preconceito? Souza 
(1983) nos responde que a constituição do eu de 
uma pessoa negra a partir de um ideal branco pode 
levar a um estranhamento quanto ao próprio corpo. 
Em outras palavras, a violência da introjeção de um 
ideal branco que leve ao desejo de um futuro 
antagônico à realidade do próprio corpo. Sendo o eu 
uma representação corporal, o vir-a-ser de um sujeito 
que tem no corpo traços que visa apagar será 
marcado pelo sofrimento psíquico. Ao pensar a 
adoção inter-racial, portanto, sustentamos a 
importância de um ato de reconhecimento do outro 
em sua diferença. Não foi o que ocorreu no caso 
clínico apresentado, o que supomos que esteja na 
origem da tensão entre a mulher branca e a criança 
negra adotada. 
 Lemos a recusa em se alimentar dirigida 
àquela que tomava como mãe como uma resposta 
de Blanca ao não reconhecimento da sua diferença, 
e, por conseguinte, da negação de sua origem. 
Lacan (1956-1957/1995) nos traz a recusa em se 
alimentar como um modo de o sujeito obter 
satisfação em substituição às tensões na dimensão 
simbólica da realidade psíquica: 
Já lhes disse que a anorexia mental não é um 
não comer, mas um comer nada. Insisto: isso 
quer dizer comer nada. Nada, isso é 
justamente algo que existe no plano simbólico. 
[...] Esta ausência saboreada como tal, ela a 
emprega diante daquilo que tem à sua frente, a 
saber, a mãe de quem depende. Graças a este 
nada, ela faz a mãe depender dela. Se não 
compreenderem isso, não poderão 
compreender nada, não só sobre a anorexia 
mental, mas também sobre outros sintomas, e 
irão comer os maiores erros. (Lacan, 1956-
1957/1995, p. 188). 
 Lacan (1956-1957/1995) ressalta, ainda, que, no 
estádio do espelho, como um modo de reagir à 
impotência imposta pelo outro que protagoniza a 
relação especular (em geral, quem exerce a função 
materna), a criança diz não: 
Todavia, chamo a atenção para o fato que a 
experiência nos demonstra, e não sem razão, 
que não é no nível da ação e sob a forma de 
negativismo que se elabora a resistência [...], 
no nível do objeto anulado como simbólico que 
a criança põe em xeque a sua dependência, e 
precisamente alimentando-se de nada. É aí 
que ela inverte sua relação de dependência, 
fazendo-se, por esse meio, o mestre da 
onipotência ávida de fazê-la viver, ela que 
depende da onipotência. A partir daí, é ela [a 
mãe] quem depende por seu desejo, é ela 
quem está sua mercê, à mercê das 
manifestações de seu capricho, à mercê da 
onipotência de si mesma. (Lacan, 1956-
1957/1995, p. 190). 
 Blanca reagiu, portanto, ao “não” recebido daquela 
que tomava como mãe com um “não como o que me 
ofereces”, girando a roda do desejo, como podia, a 
seu favor, para se haver com a impotência sentida 
diante da sua realidade corpórea. Tal impotência é 
acentuada por aquele que Blanca toma como pai, e 
que não faz barreira às atitudes de Joana. Lacan 
(1969/2003) esclarece que: 
A distância entre a identificação com o ideal do 
eu e o papel assumido pelo desejo da mãe, 
quando não tem mediação (aquela que é 
normalmente assegurada pela função do pai), 
deixa a criança exposta a todas as capturas 
24 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 18-25 
fantasísticas. Ela se torna o “objeto” da mãe e 
não tem outra função senão a de revelar a 
verdade desse objeto. (Lacan, 1969/2003, p. 
369). Cabe esclarecer que, ao longo do relato 
clínico, tomamos o cuidado de nos referirmos à 
Joana enquanto mulher que adotara, e não 
enquanto mãe de Blanca, pois nos apoiamos 
na consideração de Winnicott (1956/2000) de 
que “uma mãe adotiva, ou qualquer mulher que 
possa ficar doente no sentido de apresentar 
uma preocupação materna primária pode ser 
capaz de se adaptar suficientemente bem, por 
ter alguma capacidade de se identificar com o 
bebê” (Winnicott, 1956/2000, p. 151). 
 Joana demonstrou sinais, conforme revelou na 
anamnese, de, desde os primeiros contatos com 
Blanca, não se identificar com ela, negando-lhe o 
nome dado pela genitora e, inclusive, escolhendo um 
nome que remetia a uma característica que se 
contrapunha à cor de pele, a qual tinha consciência 
de que a criança iria assumir. 
 Acentuamos que, conforme defende Dolto 
(1982/2013), uma criança é capaz de suportar todas 
as verdades, mesmo aquelas que os adultos 
consideram mais difíceis de serem comunicadas. 
Dolto (1999) nos lembra de que a verdade pode ser 
elaborada, ao passo que a omissão dá lugar aos 
fantasmas. Quanto ao processo de adoção, Liaudet 
(1988/2000), sustentado em Dolto, exemplifica: 
“Hay que decir la verdade al niño. Decirle que 
nacio del amor de un hombre y de una mujer 
que son sus padres de nacimiento y que éstos 
no tuvieron la posibilidad de criarle, por 
razones sin duda válidas. Lejos de suponer un 
castigo para el niño, esa noticia le aportará 
dinamismo, al permirirle situarse claramente 
em su origen. Si se habla de ello desde el 
mismo dia de la adopción, se evitará tener que 
recurrir más tarde a uma revelación . (Liaudet, 
1998/2000, pp. 
152-153)” 
 Dolto (1982/2013) acentua, ainda, que a negação da 
origem por aquela que desempenha a função 
materna fragiliza o psiquismo da criança: 
Uma criança pode morrer porque não lhe 
deram sua cena primitiva e, portanto, seu 
orgulho de estar no mundo. Não é 
desvalorizante o fato de ter pais que não 
puderam ir mais longe do que assumir uma 
criança até seu nascimento e, depois, 
abandoná-la. Mas a criança é objeto das 
projeções desvalorizantes das outras pessoas. 
(Dolto, 1982/2013, p. 17). 
Considerações finais 
 Consideramos que todas as crianças, 
independentemente de conterem ou não o material 
genético daqueles que se nomeiam seus pais, foram 
adotadas por eles, uma vez que necessitaram do 
olhar/ palavra que as legitimasse. No processo de 
adoção inter-racial, o aspecto psicodinâmico de 
reconhecimento da criança pelo outro pode ser 
prejudicado se aqueles que se apresentam como 
pais não sustentarem a diferença de cor enquanto 
possibilidade, que pode se tornar mais acessível de 
compreensão para a criança na medida em quelhe 
é comunicada a verdade sobre a sua origem. 
 A negação das características do corpo biológico da 
criança pelo outro poderia levá-la a um 
comprometimento na sua apropriação psíquica deste 
corpo, e, por conseguinte, na constituição do seu eu. 
O eu é uma composição realizada pelo psiquismo da 
criança a partir da apropriação de seu corpo 
enquanto unidade e que é referendada pelo olhar do 
outro. Se o olhar daquela que assume a função 
materna não legitima a imagem da criança enquanto 
tal, esta última, por sua vez, poderá sofrer 
tensionamentos para situar-se nos laços sociais, o 
que, em um país marcado por um passado 
escravagista e pela incidência de preconceitos 
raciais – tais como nos episódios citados na 
introdução do presente trabalho –, pode gerar 
sofrimento psíquico. 
 Blanca, no entanto, mais do dar sinais que poderiam 
ser interpretados enquanto manifestados enquanto 
expressões de estranhamento quanto à gestalt do 
próprio corpo, mas que, pela brevidade do tempo de 
acompanhamento do caso, não podemos afirmar 
com suficiente segurança se tratar de tal (asma, 
psoríase, primeiro queda depois o ato de arrancar os 
próprios cabelos), posicionou-se com uma recusa 
(anorexia) pelo lugar que lhe era atribuído por aquela 
que estava se apresentando para cumprir a função 
materna. 
 Tais considerações foram formuladas a partir 
de elementos da teoria psicanalítica em interlocução 
com as reflexões que o caso clínico nos provocou. 
Neste o reconhecimento não se deu a contento, e a 
criança reagiu da forma que pode (negando a se 
25 
Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 18-25 
alimentar) ainda que isso limitasse as suas 
possibilidades de existência. Lamentavelmente, não 
foi possível explorar que dimensões a resposta da 
criança poderia assumir em seu posicionamento nos 
laços sociais, posto que o atendimento psicoterápico 
foi interrompido. 
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Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39 
ÉDIPO NEGRO: ESTRUTURA E ARGUMENTO 
Rafael Alves Lima 
Universidade de São Paulo 
Contato: rafaelnego@gmail.com 
 
Não esqueci da senhora limpando o chão desses boy cuzão 
Tanta humilhação não é vingança, hoje é redenção 
Uma vida de mal me quer, não vi fé 
Profundo ver o peso do mundo nas costas de uma mulher 
(Emicida – “Mãe”) 
Resumo 
O presente artigo apresenta uma interpretação da proposição do conceito de Édipo Negro, da antropóloga 
Rita Segato. Por meio da reconstrução das estratégias argumentativas e autores de referência da autora, 
busca-se sublinhar especificidades do conceito e marcar diferenças deste em relação a outras proposições 
que lhe são vizinhas. A organização do campo a que se destina o conceito de Édipo Negro visa reforçar a 
importância e a pertinência do conceito para iluminar este elemento central que organiza o campo social no 
Brasil que é o exercício da maternidade transferida da mãe legítima para a babá, compreendida como 
herdeira da ama-de-leite da história escravagista brasileira. Contemplando os desdobramentos imediatos 
dessa formulação na psicanálise e na experiência clínica, por fim, procura-se incluir o conceito no interior de 
uma paisagem comum a outros autores que se relacionam lateralmente a ele, incluindo-o no debate geral 
da interseccionalidade, que torna indispensável a articulação entre os níveis de classe, raça e gênero na 
crítica social brasileira e no debate contemporâneo da psicanálise no Brasil. 
Palavras-chave: Édipo Negro; Rita Segato; psicanálise; maternidade; Brasil; racismo. 
Black Oedipus: structure and argument 
Abstract 
This article presents an interpretation of the proposition of the concept of Black Oedipus by the anthropologist 
Rita Segato. Through the reconstruction of the argumentative strategies and authors of reference of the 
author, it is sought to emphasize specificities of the concept and to mark its differences in relation to other 
propositions that are neighbor to it. The organization of the field to which the concept of Black Oedipus is 
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Acta Psicossomática, v. 2, n. 1, 2019, pp. 26-39 
intended aims to strengthen the importance and relevance of the concept to illuminate this central element 
that organizes the social field in Brazil, which is the exercise of motherhood transferred from the legitimate 
mother to the nanny, understood as direct heir of the wet nurse of Brazilian slavery history. Contemplating 
the immediate unfolding of this formulation in psychoanalysis and

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