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A formulação de perguntas é uma habilidade essencial para a prática da saúde. Compete ao profissional da saúde se manter atualizado na prática através de literatura baseada em evidências e aprendizagem ao longo da vida. Sem as habilidades necessárias para fazer perguntas adequadas, os profissionais de saúde podem não ser capazes de avaliar e aprender criticamente com suas experiências. Eles também podem perder um tempo valioso buscando informações e talvez não consigam recuperar a informação específica que eles querem na vastidão de informações disponíveis. Em geral, profissionais da saúde têm mais de 5 perguntas por dia que podem ser respondidas pelas melhores evidências atuais. Os profissionais precisam saber fazer as perguntas, tanto clínicas quanto de pesquisa. Em 2010, mais de 2.000 novos artigos eram lançados todos os dias, incluindo 75 ensaios clínicos e 11 revisões sistemáticas. Muitas, entretanto, podem ser de má qualidade. A pesquisa clínica envolve diretamente os seres humanos. A melhor questão de pesquisa clínica vem do próprio atendimento prático ao paciente na clínica. Incerteza sobre um problema. Todo esse processo envolve habilidades e experiência dos investigadores em transformar um problema clínico em questão de pesquisa. Na fase estudantil, é necessário um mentor para esses estudantes. Determina a arquitetura, estratégia e metodologia da pesquisa. Ajuda a selecionar o desenho adequado do estudo e os métodos mais apropriados de análise estatística e determinação do tamanho da amostra – aumenta a probabilidade de encontrar uma solução para o problema. Pode aumentar a clareza do processo de desenvolvimento do protocolo e aumentar a chance de publicação. Uma boa questão de pesquisa deve ser apropriada, significativa e proposital. Critérios FINER: utilizado para definir as propriedades de uma boa questão de pesquisa. F = feasible/viável I = intersting/interessante N = novel/nova E = ethical/ética R = relevant/relevante Existem estratégias para atingir cada um desses critérios. Dentre elas, temos: Tem tempo suficiente para responder à questão? Cada projeto de pesquisa clínica começa com um problema clínico O que é feito atualmente na prática não parece atingir os resultados desejados Os pesquisadores examinam possíveis opções, com o objetivo de investigar se as opções que existem podem ser melhores do que a prática atual. Formulação de boas questões de pesquisa. Pode-se fazer um estudo piloto antes? Existem colaboradores? Há desfechos comuns? É interessante para os pesquisadores? É interessante para os colaboradores e gestores de saúde? Está familiarizada com a literatura? Existem tutores ou mentores para dizer se ela é nova ou não? Está de acordo com a Declaração de Helsinki? Está de acordo com as boas práticas clínicas? Tem familiarização com a literatura mais recente? Existem tutores ou mentores para nos guiar? Desenvolver uma boa questão de pesquisa é a parte mais importante do processo de pesquisa. Resumindo o critério FINER, deve-se: A pesquisa proposta deve cumprir importantes objetivos profissionais e sociais e ser realizada com os recursos disponíveis em um prazo razoável. A questão de pesquisa orienta a busca na literatura, o desenvolvimento do protocolo de pesquisa e a condução do estudo a ser realizado. Existe uma tendência entre os investigadores de fazer múltiplas questões em um estudo clínico. As questões primárias e secundárias precisam ser feitas antecipadamente. Isso garante que as questões sejam orientadas pelas hipóteses (ou seja, com base nas previsões sobre o que acontecerá), em vez de dados orientados (isto é, feito após os resultados do estudo, especialmente para explicar achados que podem ser simplesmente jogo do acaso). É crucial a distinção entre as questões primárias e secundárias: apenas a questão principal será capaz de fornecer uma resposta definitiva. Quaisquer respostas obtidas das questões secundárias devem ser consideradas tênues ou geradora de hipóteses. Como energia e recursos são gastos fazendo pesquisas, esta energia deve primeiro ser gasta para obter uma boa questão de pesquisa. Desenhos de estudos errôneos. Pode criar confusão e dificultar o processo de pensamento. Impede o desenvolvimento de um protocolo claro. Pode prejudicar os esforços para publicação. Torna difícil para o leitor determinar se a resposta da questão de pesquisa é relevante. Pode dificultar a interpretação dos resultados do estudo. Torna-se difícil determinar se um estudo cumpre os critérios de inclusão para revisão sistemática e meta-análise. Leitores do estudo podem deixar de entender o seu objetivo, o que pode afetar negativamente a probabilidade de citação por outros pesquisadores. Faça perguntas interessantes Selecione a melhor pergunta para a pesquisa Transforme a questão de pesquisa em uma hipótese testável Questão de pesquisa Objetivo de pesquisa Existem várias estratégias para a formulação de uma questão de pesquisa, a depender dos tipos de estudos. Efeito pretendido de uma intervenção. Ex: taxa de cicatrização de um curativo. Objetivo: avaliar a eficácia de uma determinada intervenção em termos do seu impacto nos desfechos. Desenho do estudo: Estudos experimentais (ensaios clínicos randomizados – ECR); quase- experimentais (sem uma randomização verdadeira) e estudos observacionais (acompanhamento de pacientes) . = Ao se utilizar uma população, se deve descrever certos critérios de elegibilidade, qualificar a condição de interesse ou informação demográfica, idade, sexo, grupo étnico, perfil de risco ou outros traços importantes. A população deve ser muito bem definida. Ex: pacientes com úlceras venosas. = Se aplica não só para medicamentos, mas também para intervenções cirúrgicas, medidas profiláticas, dietas, programas educacionais e até mesmo telefonemas. = Grupo de indivíduos que receberam uma intervenção que serve como um contraste para avaliar a utilidade relativa da terapia experimental. Passivo: placebo, sem tratamento ou tratamento padrão. Ativo: variação da intervenção, um medicamento ou tipo de terapia. Se há um tratamento chamado de padrão ouro, ou seja, intervenções já utilizadas, este tratamento deve ser o controle para que se possa fazer o comparativo. = É uma variável mensurável em um tempo específico para avaliar a eficácia ou efetividade e/ou segurança da intervenção. É importante especificar o desfecho e evitar termos genéricos como eficácia, segurança, tolerabilidade e aplicabilidade. A escolha dos desfechos deve considerar as perspectivas relevantes para o paciente e para a sociedade. Ex: cicatrização final da úlcera venosa. = Refere-se quando os desfechos serão avaliados. Tempo de estudo definido e tempo esperado para a realização do estudo. = Pesquisa básica: É orientada para o aprofundamento de um conhecimento científico que já foi estudado. Normalmente, o pesquisador que faz um estudo com essa finalidade busca complementar algum aspecto ou particularidade da pesquisa anteriormente feita. Pesquisa aplicada: Ao contrário da pesquisa básica, a aplicada visa produzir um conhecimento que possa ser efetivamente aplicado na vida real, ajudando a alterar uma situação, fenômeno ou sistema. Pesquisa quantitativa: Esse tipo de metodologia é caracterizado por usar técnicas e ferramentas estatísticas como principal meio de análise dos dados obtidos em uma pesquisa. O pesquisador se limita a coletar informações que sejam quantificáveis e aplicá-las em softwares (ou Templates (regras mnemônicas): PICO/PICOT/PICOTS outras ferramentas técnicas) que analisam esses dados. O investigador é um observador e não deve analisar subjetivamente os números obtidos. A sua função selimita em apresentar os resultados de modo estruturado, com ajuda de tabelas e gráficos, por exemplo. Para obter os dados necessários em uma pesquisa quantitativa, o pesquisador utiliza questionários de múltipla escolha ou outras opções que garantam respostas objetivas e claras. Pesquisa qualitativa: Nesse tipo de pesquisa o responsável por fazer a análise das informações coletadas é o próprio pesquisador. Se caracteriza por atribuir interpretações de natureza subjetiva. As técnicas e métodos estatísticos são dispensados nesse modelo, visto que o investigador se foca em características mais complexas e não-quantificáveis, como o comportamento, as expressões, os sentimentos, etc. Neste caso, os meios de obter os dados são menos rígidos e objetivos. Os questionários, por exemplo, podem ter espaços para respostas subjetivas, flexíveis e de múltiplas interpretações. Pesquisa mista ou Pesquisa quali-quantitativa: É uma mistura entre as características da pesquisa qualitativa e quantitativa. Nesse caso, o estudo pode ser dividido em duas partes. A primeira consistindo na recolha de dados e análise estatística destes; e a segunda numa análise subjetiva de determinada problemática. Pesquisa descritiva: Esse tipo de pesquisa pertence a classificação que tem como parâmetro o tipo de conhecimento que o investigador deseja produzir. A pesquisa é descritiva quando o objetivo é esclarecer ao máximo um assunto que já é conhecido, descrevendo tudo sobre este. Neste caso, o pesquisador deve fazer uma forte revisão teórica envolvendo o seu objeto de estudo, analisar e comparar as informações. Por fim, cabe ao autor da pesquisa traçar a sua conclusão sobre as diferentes variáveis analisadas. Pesquisa exploratória: A proposta da pesquisa exploratória é identificar algo, ou seja, um possível objeto de estudo ou problematização que poderá ser alvo de futuras pesquisas. Por norma, esse tipo de pesquisa serve para aproximar a comunidade científica de algo (fenômeno, sistema, objeto, etc) desconhecido ou pouco explorado, assim como tudo o que está relacionado com ele. Ao contrário da pesquisa descritiva, o assunto analisado na exploratória não é sistematizado. Isso significa que representa uma pesquisa mais inovadora e pioneira. A pesquisa exploratória é útil quando não há muita informação disponível sobre o objeto de estudo, fazendo com que o investigador misture o máximo de referências bibliográficas com outros métodos, como entrevistas, pesquisa documental, etc. Pesquisa explicativa: Esse é um tipo de pesquisa mais complexa, normalmente o "amadurecimento" de uma prévia pesquisa descritiva ou exploratória. Por esse motivo, costuma ser mais comum em teses de doutorado ou mestrado. O principal objetivo é explicar e racionalizar o objeto de estudo. Busca a construção de um conhecimento totalmente novo. Para isso, é preciso a junção de uma grande quantidade de dados bibliográficos e resultados obtidos a partir de pesquisas experimentais, por exemplo. Pesquisa bibliográfica: É considerada obrigatória em quase todos os moldes de trabalhos científicos. Consiste na coleta de informações a partir de textos, livros, artigos e demais materiais de caráter científico. Esses dados são usados no estudo sob forma de citações, servindo de embasamento para o desenvolvimento do assunto pesquisado. É um método teórico e que se foca em analisar os ângulos distintos que um mesmo problema pode ter, ao consultar autores com diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto. Pesquisa documental: Similar à pesquisa bibliográfica, a documental não se restringe apenas a coleta de informações de caráter científico. Na pesquisa documental qualquer documento com conteúdo informacional útil para a pesquisa pode ser usado, como jornais, revistas, catálogos, fotografias, atas, etc. Estudo de caso: Ao contrário da pesquisa documental e bibliográfica, esse procedimento é empírico. Isso significa que não se restringe apenas ao levantamento de informações teóricas, mas também de observações e experiências. Consiste em uma profunda investigação sobre algum aspecto específico de determinado tema (indivíduo, fenômeno, ambiente, etc). Pesquisa experimental: Também é uma pesquisa empírica. Normalmente, na pesquisa experimental o pesquisador compara diferentes variáveis com o objetivo de traçar um perfil, refutar hipóteses ou aprovar teorias. Pesquisa de campo: Ao contrário da pesquisa laboratorial, nesse caso o pesquisador vai até o ambiente natural do seu objeto de estudo. O investigador deixa de ter total controle sobre as variáveis, se limitando a observar, identificar e coletar informações sobre o seu objeto de estudo no seu contexto original de vivência. Pesquisa ex post facto: Esse é um tipo de pesquisa feito após a ocorrência de alguma das variáveis/fenômenos. O seu propósito é entender como aquele fato que ocorreu no passado, por exemplo, foi capaz de alterar determinado grupo no presente e/ou no futuro. Nesse caso, o pesquisador não tem controle da variável, visto que ela já aconteceu. Pesquisa levantamento: Nesse tipo de pesquisa, o investigador se limita a verificar o comportamento/interação de determinado grupo. O uso de questionários é comum como meio de coleta de dados. Ao contrário do estudo de caso, a pesquisa levantamento busca generalizar um resultado com base nas respostas obtidas na pesquisa. Consiste numa pesquisa quantitativa, visto que não há o detalhamento dos dados, apenas a apresentação de seus aspectos gerais. Pesquisa-Ação: É um tipo de pesquisa de campo em que o investigador se envolve diretamente com o objeto de estudo. Em outras palavras, há a interferência do pesquisador para que ocorra uma mudança no meio. Para isso, o autor da pesquisa precisa identificar um problema (prático), criar um plano de ações para solucionar essa questão e, depois, analisar as alterações que o seu projeto trouxe para o ambiente. Pesquisa participante: Ao contrário da pesquisa- ação, na participante o investigador não precisa ter um plano para interferir com a realidade do ambiente. Esse tipo de pesquisa é baseado na máxima integração do participante com o ambiente natural que envolve o seu objeto de estudo. Assim, o pesquisador consegue absorver melhor conhecimentos mais complexos e profundos sobre o assunto pesquisado. – Favorece o rigor metodológico e a viabilidade de responder à pergunta. Alguns estudos mostraram que questões de pesquisa não estruturadas e muito amplas estão associadas à falta de rigor metodológico. É uma recomendação dos especialistas em epidemiologia clínica e pela colaboração Cochrane para formular questões de pesquisa para suas revisões sistemáticas. É mais comum que a questão de pesquisa venha descrita diretamente no Objetivo. A questão de pesquisa também costuma ser o título do artigo científico. Estudo de ensaio clínico randomizado. Estudo em pacientes com psoríase. Intervenção não medicamentosa, mas um modelo de assistência (será descrito no método). Questão de pesquisa: O modelo online de assistência à saúde resulta em melhorias equivalentes na gravidade da doença em comparação com o atendimento pessoal em pacientes com psoríase? Seria interessante também ter o T, para sabemos depois de quanto tempo depois da intervenção levou a melhorias. Certamente essa informação está no Método. A PICO é aplicável a Estudos de intervenção e comparativos para comparar eficácia; Estudos de associação entre exposição e desfecho(s). A PICO não é aplicável a todas as situações, como por exemplo, construção de teorias. Mecanismo fisiopatogênico: Qual é o mecanismo que liga a ingestão de colesterol à aterosclerose? Pesquisa qualitativa: Como as pessoas lidam com o diagnóstico de hipercolesterolemia familiar? Existe uma variedade de estruturas para ajudar a estruturar a questão depesquisa. estudos qualitativos. P = população I = fenômeno de interesse Co = contexto Estudo qualitativo. análises de prevalência e incidência. Co = condição Co = contexto Pop = população Deixa claro o objetivo do estudo. avaliações de precisão de teste de diagnóstico. P = população I = teste índice R = teste de referência D = diagnóstico de interesse Testes novos em relação aos que já existem. revisões de etiologia e fatores de riscos.. P = população E = exposição de interesse P = pacientes com psoríase I = modelo online de assistência C = atendimento pessoal O = melhorias na gravidade da doença Exemplo: Qual é experiência durante a recuperação dos pacientes adultos acima de 18 anos durante a sua estadia em uma unidade de tratamento de queimados? P = pacientes adultos acima de 18 anos I = experiência durante a recuperação Co = unidade de tratamento de queimados Exemplo: Qual é prevalência de depressão peri-natal entre mulheres no brasil? Co = depressão peri-natal Co = no Brasil Pop = entre mulheres Exemplo: Qual a precisão do diagnóstico de testes laboratoriais atualmente disponíveis para gripe suína (H1N1) em comparação com cultura viral entre pessoas que apresentam suspeita de gripe? P = pessoas que apresentam suspeita de gripe I = testes laboratoriais R = cultura viral D = gripe suína (H1N1) O = outcome ou resposta A formulação da pesquisa é o primeiro passo da pesquisa Realize perguntas que são clinicamente relevantes e respondíveis Antes, realize uma busca dos estudos que já existem na literatura Desenvolva a questão de pesquisa primária de forma estruturada (formato PICO) e seguindo os critérios FINER A fragmentação da questão de pesquisa em seus componentes facilita a identificação de informações relevantes – PICO O processo de formulação de questões é fundamental para a vida cotidiana de um profissional de saúde e é uma característica determinante da competência profissional e da aprendizagem significativa Exemplo: As crianças que foram expostas ao tabagismo materno durante a gravidez têm maior risco de obesidade na infância? P = crianças E = tabagismo materno durante a gravidez O = obesidade na infância
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