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FACULDADE DOM ALBERTO ASPECTOS CULTURAIS E SOCIAIS REGIONAIS SANTA CRUZ DO SUL – RS 2 1 MULTICULTURALISMO O multiculturalismo é conhecido como um fenômeno que estabelece a coexistência de várias culturas em um mesmo espaço territorial e nacional. Ele é muito comum em nossa época, pois graças aos importantes avanços tecnológicos, ao desenvolvimento das comunicações e da interligação de diferentes partes do mundo, todas as sociedades podem receber informação sobre outras. Ao mesmo tempo, o crescimento das migrações e a travessia legal das fronteiras colaboram com a mistura de culturas e sociedades. As relações entre esses ‘’grupos’’ podem ser aceitação e tolerância ou de conflito e rejeição. Isso vai depender da história da sociedade em questão, das políticas públicas propostas pelo Estado e, principalmente, do modo específico como a cultura dominante do território é imposta ou se impõem para todas as outras. A convivência entre culturas diferentes não é uma questão nova, mas que se se intensificou nos últimos anos devido a acontecimentos marcantes. Para Tomaz Silva (2000) o chamado “multiculturalismo”, em geral, apoia-se em um vago e benevolente apelo à tolerância e ao respeito para com a diversidade e a diferença. Não é possível entender o multiculturalismo fora do contexto do fenômeno da globalização. O desenvolvimento acelerado dos meios de transporte e das tecnologias de comunicação aproximaram diferentes regiões do mundo, criando redes industriais e financeiras complexas e uma economia multinacional, interdependente e insubmissa às fronteiras nacionais. Com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos passam a hegemonizar culturalmente todo o planeta. Seus produtos, filmes, músicas e formas de ver as coisas se espalham globalmente gerando o que se chama de “americanização” do mundo. Mariela Pitombo (2007) afirma que o multiculturalismo se tornou a ideologia acionada pela Unesco, em 1991, no Fórum sobre Cultura e Democracia, dado que para a instituição ele promoveria de forma melhor o exercício da diversidade e a autonomia das sociedades. Ainda segundo a autora, as críticas ao multiculturalismo advindas das correntes teóricas que compõem os Estudos Culturais foram muitas, e atualmente a Unesco, no que tange à questão da diversidade cultural, oscila entre a universalidade e o particularismo. O multiculturalismo democrático defende o diálogo dentro da multiculturalidade das sociedades plurais. Ele visa o desenvolvimento humano e a justiça social. A diversidade (UNESCO, 2002) é compositora de tais sociedades em uma dimensão complexa. Imbuídos AULAS 11 A 20 3 dessas certificações é situado o eixo vertebrador do multiculturalismo: a diferença. Esta, por sua vez, alocada em um âmbito de tolerância. O reconhecimento da diferença implica, portanto, em uma revisão do tratamento dispensado às identidades nas democracias tradicionais (LUCAS, 2002; KYMLICKA, 1995; KUKATHAS, 1993; TAYLOR,1992, ALVAREZ e FERNÁNDEZ, 2003; TOURAINE, 1998; WALZER 1997). O multiculturalismo configura-se como política de gestão da multiculturalidade e/ou movimentos culturais demandados pela valorização da diferença como fator de expressão de identidade(s). Este, enquanto movimento de ideias, resulta de um tipo de consciência coletiva para a qual as orientações do agir humano se oporiam a toda forma de centrismos (SEMPRINI, 1999). Assim, esta política afronta as concepções monoculturais das sociedades etnocêntricas. Charles TAYLOR (1992:08) é um nome central das políticas de reconhecimento. A obra “Multiculturalism and the politics of recognition” situa os postulados dos direitos das minorias. O contexto de formulação das teses é o da província do Québec no Canadá. As demandas por reconhecimento centram o multiculturalismo no campo político. Dessa forma, este movimento se encaminha frente a políticas de identidade(s). No cerne dessas considerações, a(s) identidade(s) está(ão) ligada(s) a processos articulados com a dignidade humana. A tese de TAYLOR encontra respaldo nas discussões e ações da democracia no contexto presente. Democracia como um conceito transparente às transformações do mundo presente. Um conceito onde a igualdade é diferente do sentido de semelhante, de padronização, uniformização. Mas, como o direito de ser igual na diferença. Uma análise complexa quando a definição de igualdade tende ao seu sentido comum ou literal, simplista. No Brasil é disputado o reconhecimento da diferença através de políticas compensatórias (índios, negros, portadores de necessidades especiais, mulheres, jovens, idosos, gays, etc.). Não obstante, este reconhecimento é marcado por contradições próprias da formação política e cultural expressa em desigualdades sociais. 4 2 CULTURA POPULAR, ERUDITA E DE MASSA E SUAS RELAÇÕES COM A APRENDIZAGEM Sergio Paulo Rouanet (1992, p. 130): [...] a alta cultura e a cultura popular são as duas metades de uma totalidade cindida, que só poderá recompor-se na linha de fuga de uma utopia tendencial. No meio tempo, elas têm de manter-se em sua autonomia, pois seria tão bárbaro abolir a cultura popular, onde habita a memória da injustiça, como abolir a alta cultura, onde habita a promessa de reconciliação. 2.1 Cultura erudita O termo cultura erudito está, então, associado às representações ideológicas e artísticas de uma parcela minoritária da sociedade de classes: as elites. E é essa parcela mínima da sociedade que estabelece e impõe as diversas regras do jogo. Utilizamos a palavra jogo para definir o conjunto de relações entre os grupos e os diferentes componentes da estrutura social. A oposição entre cultura popular e cultura erudita está presente durante os diversos estágios culturais. Assim, a história cultural sempre foi marcada por essa polarização, ou seja, o erudito considerado por muitos como a única forma de cultura, e o popular, classificado pela “classe aristocrática” como sendo a contramão, a não-cultura, ou ainda, a ausência completa de civilização (BIZZOCCHI, 1999, p. 74). No entanto a cultura erudita tem como defesa a arte feita pensada, elaborada de forma racional e, portanto, consegue se manter intacta. No caso específico da cultura erudita, trata-se da chamada cultura livresca, detentora do conhecimento, associada às elites, apresentando-se no interior 36 das universidades e, ignorando, portanto, as manifestações do povo. Como afirma Bosi (2001, p. 326), a cultura erudita é aquela que se desenvolve, principalmente, nas classes mais altas e em outros segmentos “mais protegidos da classe média: ela cresce com o sistema escolar”. Quando a cultura letrada passa a fazer parte do cotidiano das aldeias alguns séculos depois ela tem de conviver com um analfabetismo ainda majoritário, o que torna usual e imprescindível as leituras em voz alta, o que intensifica a absorção de elementos da cultura erudita por parte de membros das camadas populares e transforma, por outro lado, meios 5 próprios da cultura letrada em instrumentos de transmissão de elementos da cultura popular. Conforme Bizzocchi (1999), a cultura erudita, tradicionalmente, pode ser entendida como aquela consumida pela elite cultural e econômica, sendo claramente um sinal de status para essa parcela minoritária da sociedade. “Ela reforça o poder opressivo da classe dirigente, e sua fetichização enfraquece o poder e silencia a maioria” (KUPER, 2002, p. 291). Desde sempre, elementos da cultura popular derivaram, muito freqüentemente, da cultura erudita, possuindo origens religiosas, traduzindo crenças cosmológicas, sendo extraídos de narrativas letradas que encontraram eco profundo e secular na literatura oral. A relação entre cultura erudita e cultura popular induz, por outro lado, a uma questão: até que ponto a cultura popular mantém oposição e autonomiaem relação à cultura erudita, até que ponto a cultura erudita a domina, sendo a cultura popular uma reinterpretação de elementos eruditos, sendo mesmo questionável sua existência autônoma? Segundo Le Goff (1994:129), “a cultura erudita manipula a cultura ‘popular’, mas esta ‘recebe’ e ‘larga’ cultura erudita e cria seus próprios bens imaginários”. Fica, então, a pergunta de Rudé (1988:227) referente ao contexto europeu do século XVIII: “Existiria, porém, uma música popular ou uma literatura popular que não tivesse sido transmitida pela tradição ou to mada de empréstimo de outros grupos sociais?” Ao contrário da cultura erudita, a cultura popular é vinculada ao conhecimento obtido e praticado no seio das comunidades, ou seja, junto à parcela majoritária da população, com suas práticas formadas sem um saber científico, surgidas das atividades vivenciadas pela própria população. 2.2 Cultura Popular A Cultura Popular tem sido classificada como não oficial, subalterna, simples diversão, vinda do povo, inculta, caricatural e simplista, constituída a partir de uma situação de dominação. Segundo Cuche (2002), a cultura popular não é inteiramente dependente, nem autônoma. Nem pura imitação, ou criação. É baseada em valores práticos e originais que dão sentido a existência, levando em conta os conflitos culturais. Em contraposição, a 6 cultura erudita é privilegiada pelos meios acadêmicos, de comunicação e oficiais. É associada ao domínio da escrita, da leitura e do cientificismo. Racional e progressista e produzida pela elite política, econômica e cultural. Para Cuche, o mais correto é considerar a cultura popular como um conjunto de “maneiras de viver com” esta dominação, ou mais ainda, como um modo de resistência sistemática à dominação. Cita ainda, a afirmação de Karl Marx e Max Weber de que em todo espaço cultural existe sempre uma hierarquia cultural e que a cultura da classe dominante é sempre a cultura dominante. E, completa dizendo que falar de cultura “dominante” ou “dominada” é então recorrer a metáforas. O que ocorre realmente é a existência de grupos sociais que vivem em relação de dominação ou de subordinação uns com os outros. Como pode-se observar, as culturas populares são heterogenias, mais marcadas pela dependência em relação à cultura dominante em alguns aspectos, e mais independente em outros. E, segundo Cuche, isto se dá porque os grupos populares não estão sempre e em toda parte confrontados ao grupo dominante. O que torna possíveis as atividades culturais autônomas para as classes populares é justamente o esquecimento da dominação e não a resistência à mesma. “Os lugares e os momentos subtraídos da confrontação desigual são múltiplos e variados: é a folga do domingo, a arrumação da casa de acordo com o gosto do seu proprietário, são os lugares e os momentos de socialização com seus pares nos cafés, jogos...” (CUCHE, 2002, p.156). Sendo assim, pode-se afirmar que cultura urbana popular conserva alguns traços da cultura folclórica e sofre interferência de outras culturas como a nacional, a religiosa, a política e principalmente da cultura industrial. Do mesmo modo, a cultura de massa recebe influências da cultura culta e da popular. Essa construção do “tradicional” é feita da mesma na maneira que a “cultura popular”. Com a necessidade de fazer essa tradição, seja por algum momento histórico vivido pelo lugar como um pós-guerra, inserção de determinada localidade no mercado de turismo, exaltação de um país frente a uma crise econômica ou política, ou qualquer que seja o motivo, é feita uma seleção e justaposição de símbolos que darão origem às tais tradições. Para dar “credibilidade histórica” ou, ainda, cultural, esses símbolos são retirados da “cultura baixa”, denominada então como popular. O que, na visão da elite, representa o 7 povo, será eleito como tradição e, por consequência, como parte integrante da cultura popular. 2.3 Cultura de Massa A entrada das massas é o fenômeno social que subjaz à teoria da cultura de massa. Esse ingresso significa que aqueles que antes não estavam plenamente integrados ao centro da sociedade agora estão. Dwight Macdonald afirma que foi “apenas para os fins do século XVIII, na Europa, que a maioria do povo começou a desempenhar parte ativa quer na história quer na cultura” (MACDONALD, 1971, p. 80). Com efeito, esse processo de incorporação das massas ao centro da sociedade se torna mais visível nas primeiras décadas do século XX, especialmente naqueles anos que separam as duas guerras mundiais. De repente a multidão tornou-se visível, instalou-se nos lugares preferenciais da sociedade. Antes, se existia, passava despercebida, ocupava o fundo do cenário social. Agora antecipou-se às baterias, tornou-se o personagem principal. Já não há protagonistas: só há coro (ORTEGA Y GASSET, 2002, p. 43). O “centro” da sociedade significa o lugar do poder, dos privilégios, da voz, daquilo, em suma, que antes era restrito a poucos. “Há um fato que, seja para o bem ou para o mal, é o mais importante na vida pública europeia no momento. Esse fato é o advento das massas ao pleno poderio social” (ORTEGA Y GASSET, 2002, p. 41). Ortega y Gasset caracteriza esse ingresso das massas com eventos concretos aparentemente triviais: as cidades estão cheias de gente, os hotéis, cheios de hóspedes, os trens, cheios de gente, os espetáculos, cheios de espectadores, as praias, cheias de banhistas. A TV e os demais produtos da cultura de massa são fenômenos, sem dúvida, controversos e complexos. Ora manipulam, ora servem como resistência frente a uma 8 cultura do status quo. Ora educam, segundo uma lógica hedonista, ora educam para a emancipação (Kellner, 2001; Thompson, 1995; Martín-Barbero, 2003). A cultura de massa segue normas capitalistas, na qual a criação é submetida à técnica e à burocracia e busca atingir o maior público possível. Por exemplo, a partir da multiplicação ou democratização de algumas das obras de Beethoven, Bach, Shakespeare e outros clássicos através da produção de CD, da execução dessas obras no rádio, a distinção entre a cultura de massa e a cultura culta passa a ser puramente formal. As obras cultas são simplificadas e modernizadas para tornarem-se consumíveis pela massa. O surgimento do disco revolucionou o repertório dos concertos do passado e as formas de escutar música. Tornou possível, por exemplo, ouvir um homem comum assoviar uma canção de Beethoven porque a ouviu no rádio, o que no passado seria uma experiência reservada às classes abastadas nos concertos sinfônicos. O contato entre as pessoas através de meios de comunicação de massa se torna superficial, isto é, já não é mais motivado por valores comuns. A união passa a ser momentânea, fortuita, e destituída de sentido. Caracterizando esse processo em uma fase mais avançada, correspondente ao que ocorre nos nossos dias, escreve Peter Sloterdijk: As massas atuais (...) entraram num regime no qual o caráter de massas não se expressa mais na reunião física, mas na participação em programas de meios de comunicação de massa. (...) A consequência disso é que as sociedades de hoje (...) não mais se orientaram primariamente pelas suas próprias experiências corporais, mas se observam apenas por meio de símbolos das comunicações de massa, de discursos, modas, programas e celebridades (SLOTERDIJK, 2002, p. 19-20). Para Eco (2008, p.54), o problema da cultura de massa é que hoje, ela é manobrada por grupos econômicos que objetivam lucro e realizada por executores especializados em fornecer ao consumidor “produtos” que julgam mais vendáveis, sem a participação dos 9 “homens de cultura” na produção. Propõe o tema de uma cultura de massa como “cultura exercida ao nível de todos os cidadãos”, sem excluir a presença de um grupo culto de produtores e de uma massa de fruidores,só que a relação entre eles passaria de paternalista para dialética. “A cultura de massa é, sem dúvida, a primeira cultura da história mundial a ser também plenamente estética. Isso significa que, apesar de seus mitos e seus engodos religiosos (como o culto a estrelas de cinema), é uma cultura fundamentalmente profana. [...]” (MORIN, 1975, p.67). 3 A RELAÇÃO SOCIEDADE, CULTURA E EDUCAÇÃO Fonte: adnmorelos.com O termo Sociedade (do latim: societas), que assume significado de associação amistosa com outros, vem a ser a interpretado na proposição de conjunto de pessoas que comungam objetivos, gostos, preocupações e costumes. Desse modo, interagem entre si, constituindo aquilo que se denomina comunidade. 10 Oriundo do latim (colere), o termo cultura assume diversos significados, tornando, de certo modo, complexa a tarefa de defini-lo. À guisa de definições, o termo alude sentidos, sendo comum associações relacionadas a manifestações artísticas, sociais, linguísticas e até mesmo comportamentais. A título de exemplo, pode-se dizer que se trata da música, dramaturgia, rituais religiosos, danças, entre outros. Conforme Bocock (1995); Canen e Moreira (2001), ao envolver tantos significados, ao longo dos tempos, o termo sofreu variações. Na literatura do século XV, cultura se refere a cultivo da terra, de plantações e de animais. No início do século XVI, ocorre a ampliação da ideia de cultivo da terra e de animais para a mente humana. No século XVIII, o caráter classista da ideia de cultura se evidencia, ou seja, assinala a concepção de que somente as classes privilegiadas da sociedade europeia atingiriam o nível de refinamento que as caracterizaria como cultas. Para Moreira e Candau (2007, p. 27), [...] a palavra cultura implica, portanto, o conjunto de práticas por meio das quais significados são produzidos e compartilhados em um grupo. São os arranjos e as relações envolvidas em um evento que passam, dominantemente, a despertar a atenção dos que analisam a cultura com base... na idéia de que cultura representa um conjunto de práticas significantes. Frow e Morris (1997, p. 345), referem-se à cultura Não como uma expressão orgânica de uma comunidade, nem como uma esfera autônoma de formas estéticas, mas como um contestado e conflituoso conjunto de práticas de representação ligadas ao processo de composição e recomposição dos grupos sociais. Outra concepção sobre cultura, verifica-se no posicionamento assumido por Costa, Silveira e Sommer (2003, p. 38): A cultura não pode mais ser concebida como acumulação de saberes ou processo estético, intelectual ou espiritual. A cultura precisa ser estudada e compreendida tendo-se em conta a enorme expansão de tudo que está associado a ela, e o papel constitutivo que assumiu em todos os aspectos da vida social. Por educação (do latim: educere), que significa conduzir para fora, comumente falando, no seu sentido mais amplo, o termo se agrega à concepção de um meio no qual são disseminados hábitos, costumes e valores de uma comunidade, que por sua vez, são repassados de uma geração para a outra. Vista por essa ótica, a educação contorna concepções que lhes aferem um sentido técnico. Em outras palavras, o desenvolvimento 11 das faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano, que propositalmente se delineia à finalidade de integrar a sociedade. No entendimento de Brandão (1986), educação é todo conhecimento obtido mediante as experiências na vida em sociedade. Desse modo, o ato educacional não se limita à escola, propriamente dita. Contudo, ocorre tanto em locais propositalmente definidos como não. Dessa forma, assegura, que Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação? Educações (BRANDÃO, 1985, p. 7). Nessa linha de raciocínio, fica explícito o posicionamento de que para o autor, há múltiplas formas de educar, de modo que a educação passa a se constituir um fenômeno que se faz real, a partir do momento em que o indivíduo se torna capaz de observar, entender, imitar e, portanto, aprender. Nessas considerações, a aprendizagem não se efetiva única e exclusivamente no ambiente da sala de aula, o que pressupõe a existência de um professor, habilitado para educar. Sendo assim, a aprendizagem se manifesta de várias maneiras. Corroborando com Brandão, o autor Libâneo (2002), ao denominar a educação como fenômeno plurifacetado, podendo se concretizar em muitos lugares, seja em ambientes institucionalizados ou não, e sob várias modalidades, acentua que a prática pedagógica ocorre em variados meios. Dessa forma: Em várias esferas da sociedade surge a necessidade de disseminação e internalização de saberes e modos de ação (conhecimentos, conceitos, habilidades, hábitos, procedimentos, crenças, atitudes), levando a práticas pedagógicas. Mesmo no âmbito da vida privada, diversas práticas educativas levam inevitavelmente a atividades de cunho pedagógico na cidade, na família, nos pequenos grupos, nas relações de vizinhança (LIBÂNEO, 2002, p. 27) Assim conceituada, a educação se associa, segundo esse autor, a processos de comunicação e interação entre os membros de uma sociedade. Cabe acrescentar, que o que justifica esse posicionamento, diz respeito ao processo de assimilação de saberes, habilidades, técnicas, atitudes, valores culturalmente organizados. Libâneo (1994) afirma, que por intermédio da ação educativa, o meio social exerce influências sobre os indivíduos. Mas como se dá esse processo? [...] Tais influências se manifestam através de conhecimentos, experiências, valores, crenças, modos de agir, técnicas e costumes acumulados por muitas 12 gerações de indivíduos e grupos, transmitidos, assimilados e recriados pelas novas gerações. Em sentido amplo, a educação compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem socialmente; neste sentido, a prática educativa existe numa grande variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização econômica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes, das formas de convivência humana. Em sentido estrito, a educação ocorre em instituições específicas, escolares ou não, com finalidades explícitas de instrução e ensino mediante uma ação consciente, deliberada e planificada, embora sem separar-se daqueles processos formativos gerais (LIBÂNEO, 1994, p. 17). Outro importante ponto a levantar, levando em consideração a indissociável relação sociedade e educação, vem tratar do conhecimento escolar. Desta feita, considerando que o conhecimento se constrói mediante as experiências que tornam o indivíduo apto a atuar na vida em sociedade e, desse modo, transformar o seu espaço em função de suas necessidades básicas, questiona-se o grau de comprometimento entre os objetivos postulados no campo formal da educação. A esse respeito, Moreira e Candau (2007, p. 21) Que devemos entender por conhecimento escolar? Reiteramos que ele é um dos elementos centrais do currículo e que sua aprendizagem constitui condição indispensável para que os conhecimentos socialmente produzidos possam ser apreendidos, criticados e reconstruídos por todos/as os/as estudantes do país. Daí a necessidade de um ensino ativo e efetivo, com um/a professor/a comprometido(a), que conheça bem, escolha, organize e trabalhe os conhecimentos a serem aprendidos pelos(as) alunos(as). Daí a importância de selecionarmos, para inclusão no currículo, conhecimentos relevantes e significativos. Outro ponto muito merecedor de debate no cenário educacional,diz respeito à estrita ligação entre educação e cultura. Declara Perez Gomez (1993, p. 80), que a escola é um espaço de “cruzamento de culturas”, daí o caráter peculiar atribuído a essa instituição, de “exercer uma função de mediação reflexiva daquelas influências plurais que as diferentes culturas exercem de forma permanente sobre as novas gerações” (Idem, p. 80). Com base nessa exposição, fica explícita a ideia de uniformidade, que finda por diferençar a clientela escolar, em face às suas principais funções, daí as diferentes expectativas e movimentos que se formulam para/no trabalho escolar. Desta feita, pensar a formação do cidadão, excede à simples aspiração de uma formação para o enfrentamento do vestibular, por exemplo, ou seja, para uma terminalidade formal: a “certificação”. Embora entre as exigências mais presentes, esteja a meta de uma melhor preparação para o mercado de trabalho, urge pensar uma educação que, tal como vem rezando a Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 205: 13 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. No que tange à cultura, o Artigo 215 reza: O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. § 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. Expostos esses amparos legais, fica veemente o lugar legalmente constituído que a educação e a cultura recebem na Carta Magna do país. Em linhas gerais, uma vez considerada a indissociável relação entre cultura e educação, portanto, cabe aos educadores, o desenvolvimento de uma prática de trabalho contornado pela apreciação da cultura, riqueza essa que não deve se perder em meio ao caminho, para que as novas gerações tomem conhecimento de suas raízes, costumes e a partir dessa formação passem a valorizar o outro, pelos seus costumes e tradições diversificadas, que fizeram do país pluri e multicultural. Assim, é mister que os educadores tenham clareza sobre a identidade da escola, da sociedade, do histórico cultural do seu povo, enquanto preocupações fundamentais e novas funções a serem impreterivelmente incorporadas ao ensino. Candau (2002, 141), ao refletir sobre o tema “Sociedade, cotidiano escolar e cultura”, chama atenção para as formas de manifestações, em nível de linguagem, hoje, fortemente utilizadas pelos jovens. A despeito disso, recomenda que: ... Em relação à cultura da sala de aula diz respeito à centralidade que nela ocupa a linguagem escrita e oral e sua dificuldade de incorporar, a partir de sua finalidade específica, a pluralidade de novas linguagens hoje presentes na sociedade e com as quais os jovens têm grande familiaridade. Entre as mediações culturais e tecnológicas utilizadas pela escola e aquelas presentes hoje na sociedade e utilizadas pelos diferentes grupos sociais e culturais, existe uma distância bastante acentuada. Certamente um dos desafios em busca de uma escolarização mais em sintonia com os desafios da sociedade atual é repensar a cultura da sala de aula e romper com o “congelamento” que sofreu através do tempo, tanto nos seus aspectos de configuração espaço-temporal, quanto no modo de se conceber e desenvolver o processo de ensino-aprendizagem e as mediações utilizadas, assim como na concepção do(s) saber(es) a ser(em) privilegiado(s) e articulado(s). 14 O posicionamento levantado por essa autora acena para que se pense que se o lugar privilegiado da cultura escolar é a sala de aula, para que os conteúdos ali trabalhados alcancem contemplação além daquilo esperado como “certificação”, ou seja, atribuições de notas e conceitos que justifiquem a passagem do aluno de uma série/ano/período para outro. Desta feita, é imperativo que se tenha como referência fundamental para a cultura da escola, conteúdos nem sempre contemplados nos livros didáticos. Assim, o conhecimento e a aproximação da cultura de certa localidade, as atividades extraclasse, surgem como espaços específicos para observar e analisar “ritmos, ritos, símbolos, linguagens e características próprias” (FORQUIN, 1993, p. 167), uma vez que mediante tais encaminhamentos é possível penetrar espaços e tempos escolares menos “controlados” e “rotinizados”, que é a sala de aula, propriamente dita. Ao que as reflexões pontuam considerações no sentido de que a sala de aula é espaço peculiar ao direcionamento do ensino, em outras passagens encontram-se posicionamentos explicitam que a educação ocorre formal, informal e não formalmente (LIBÂNEO (1994); BRANDÃO (1985)). Isso dá entender a gama de oportunidades que podem ser criadas no sentido de estreitar a relação educação e cultura aos pilares da vida em sociedade, ou seja, diz respeito à criação de eventos extrínsecos à sala de aula e, que via planejamento docente, possam surtir efeitos satisfatórios na formação do cidadão. Urge pensar, portanto, em ações que possam movimentar o público universitário à proposição de atividades além do espaço delimitado da sala de aula. O cenário das universidades, principalmente pelo nível de ensino ali desenvolvido, pela faixa etária do seu público, pode se envolver em atividades mais diretamente relacionadas com a comunidade. Isso implica na assunção de um ensino respaldado pela preocupação em proporcionar momentos de produção acadêmica que possam ir além dos referentes no cotidiano da instituição, propriamente dita. Todavia, importa questionar: que se faz necessário para que esse movimento ocorra? Com base nas articulações mais presentes no ofício docente, são, em primeiro lugar, indispensáveis conhecimentos prévios do(s) professor(es) sobre os níveis de atividades a propor. Ao lado disso, entende-se, por certo, que uma compreensão acurada da realidade em que está inserido possibilite a segurança de um planejamento que corresponda à construção específica da ação a ser proposta. Importa frisar, que uma ação nessa envergadura não pode fugir dos princípios e valores velados pela educação; desse modo, deve se pautar por ações e objetivos 15 relacionados àquilo que se afirma como âmbito de referência do currículo, correspondendo, de sobremaneira, com a produção do conhecimento científico. Nesse sentido, os eventos e atividades, por mais simples que possam ser, devem se organizar com fins à aquisição de objetivos que se coadunem ao mundo do trabalho, aos desenvolvimentos tecnológicos, às atividades desportivas e corporais, à produção artística, alcançando, dessa maneira, as formas diversas de exercício da cidadania. Algo a ser, impreterivelmente, pontuado nessas considerações, é que não se pode, de forma alguma, ao propor quaisquer ações que sejam, estando elas vinculadas ao nome de uma instituição, divergir dos seus parâmetros curriculares. Importa lembrar, que nesses espaços, à guisa de intenção, organizam-se de modo racional pensamentos voltados para a produção dos diferentes saberes, dos quais derivam os conhecimentos específicos, oriundos de diferentes âmbitos – o currículo formal –, para constituir o que se ensina e se aprende nas salas de aula. Daí a necessidade de um planejamento balizado pela contextualização do espaço em que dada atividade será desenvolvida, bem como o público-alvo, suas expectativas e impressões mediante o vivido.
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